Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
Guiné 61/74 - P18958: Notas de leitura (1095): Nó Cego, por Carlos Vale Ferraz; Porto Editora, 2018 (4) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Julho de 2018
Queridos amigos,
Depois de um repouso na ilha de Moçambique, algo que nos lembra, transviado, o episódio da Ilha dos Amores, inicia-se o derradeiro ato da vida daquela Companhia de Comandos que acabará desmembrada, a operação Nó Cego, a convicção do general K que encontrara uma poção mágica para varrer a Frelimo do Planalto dos Macondes. Tudo vai correr às avessas e a guerra mudará de rumo.
Como numa trágica comédia em imenso palco, homens mansos descobrirão a bravura, serão forjados alguns falsos heróis, um comissário político da Frelimo avisará o capitão da inutilidade do que por ali andam a fazer e o general K está em impante de alegria, considera que houve uma retumbante vitória.
É nesta feira cabisbaixa que Carlos Vale Ferraz escreve esta obra imponente, um clássico na justa medida em que fica esculpida, em toda a sua inutilidade, aquela guerra já sem sentido.
Um abraço do
Mário
Nó Cego, a obra maior de toda a literatura da guerra colonial (4)
Beja Santos
"Nó Cego", por Carlos Vale Ferraz, Porto Editora, 2018, impôs-se ao longo de 35 anos, como leitura obrigatória, é a obra mais universal da nossa literatura da guerra colonial, o romance mais poderoso, melhor arquitetado e de dimensão clássica. E, prova provada, inultrapassável.
Chegou a hora de uma certa quietude, a Companhia vai fazer uma pausa na ilha de Moçambique, encruzilhada nas viagens da carreira da Índia. Vamos conhecer o funcionamento da administração colonial, o castigo das palmatoadas, os conflitos entre a fação do administrador e a do juiz da comarca. Como na Ilha dos Amores, haverá o repouso idílico do capitão, com senhoras de vária idade. É este o prólogo do quarto e último andamento, chegou o momento da operação desenhada pelo impante general K, sempre seguido pelo séquito de ajudantes de campo, ele sonha com o dia histórico em que se vai dar a estucada de morte na Frelimo em todo o Planalto dos Macondes. É a operação Nó Cego, estariam localizadas com exatidão as suas três grandes bases: a Gungunhana, a Moçambique e a Nampula. Um coronel do Estado Maior sumariza o que se vai passar:
“Cerca-se esta zona – o coronel apontou –, aproveitando as estradas existentes e construindo com engenharia as que faltam, para fechar um quadrado de cerco que será guarnecido com emboscadas permanentes realizadas por tropas normais e patrulhamentos regulares com esquadrões de reconhecimento. Quando a ratoeira estiver montada, quando ninguém puder entrar ou sair, lançaremos ao assalto das bases as nossas companhias de tropas especiais: os comandos para a Base Alfa, nome de código da Gungunhana, os paraquedistas para a Bravo, da Moçambique, e os fuzileiros, em segunda fase, para a Charlie, da Nampula.”
E o general K declamou eufórico:
“Dentro deste quadrado tudo o que mexer é inimigo, será a guerra total! Esta é uma luta de vida ou de morte. Mas nós vamos ainda dar uma oportunidade às populações enganadas na sua boa-fé. Assim, durante este mês, faremos uma gigantesca operação de acção psicológica: as populações serão avisadas das consequências do apoio aos terroristas, serão convidadas a apresentarem-se voluntariamente nas nossas guarnições militares”.
E um outro coronel apresentou o plano de ação psicológica e social:
“Além dos panfletos serão lançados vários objetos que demonstrarão a nossa boa vontade, uma técnica que desde as Descobertas tem dado muito bons resultados no contacto com os nativos. Serão lançadas duas toneladas de roupa interior de mulher, tais como soutiens e calcinhas, canetas, sapatilhas, óculos escuros, bandeirinhas nacionais. Paralelamente serão difundidos programas de rádio a prometer terras e a vinda para o Sul. Paz e trabalho a todos os que se apresentarem. Este programa será realizado aproveitando os antigos terroristas capturados e recuperados pela DGS”.
É um momento alto em que Carlos Vale Ferraz esboça estereótipos inesquecíveis, como aquele capitão Vouzela que se compraz com as campanhas de pacificação de Mouzinho de Albuquerque, a arengada do general comandante-chefe às tropas a caminho da operação, os comentários brejeiros às senhoras do Movimento Nacional Feminino. E a Companhia de Comandos saiu à frente para assaltar a base Gungunhana. O foguetório começa cedo, explode uma mina no esquadrão de cavalaria do capitão Vouzela, o capitão está morto.
Um alferes de cavalaria justifica-se:
“Vínhamos à confiança, sem esperar minas. Está aí toda essa tropa a montar emboscadas…Rebentou a primeira e a autometralhadora da frente foi pelos ares, o nosso capitão mandou avançar a dele para a proteger e foi também pelo ar…”.
O poder narrativo espraia-se em pequenos flashes de estados de alma de oficiais, sargentos e praças, entrara-se na floresta de árvores a pingarem cacimbo, iam furando o capim ainda húmido, encontram-se trilhos, o cansaço alastra-se, inicia-se um brutal golpe de mão, a brutalidade toma conta do texto, uma jovem negra é sistematicamente violada. Queima-se tudo, há que continuar, a base de Gungunhana deve estar perto, há tiros, morteiradas, as tropas da Frelimo estão a reagir, recolhem-se vários feridos e um morto, irá morrer o alferes Fernandes, o capitão segue condoído, aquele seu alferes era de todos o mais frágil e normal. “Um miúdo de vinte e um anos… - o capitão cerrou os lábios -, tão zeloso que até as últimas palavras foram ordens para tratarem das suas cartas, apenas lhe escapou a derradeira, o apelo irreprimível à mãe, que parece ser o chamamento final dos homens que partem para a viagem de regresso às origens”.
Nestes tiroteios, é capturado o comissário político da zona, Alberto Chinavane, é duríssima a conversa travada entre o comissário e o capitão, mas o comissário morre devido aos ferimentos. E prossegue o caminho para a base, a Companhia de Comandos é recebida com silêncio, ninguém lá estava, todos tinham fugido. E, súbito, estoira o fogo inimigo, o capitão é ferido, na manhã seguinte chega a nova Companhia de Comandos, a base está completamente queimada. “O general comandante-chefe desembarcou do helicóptero seguido da comitiva. Vinha barbeado, de camisa e calças verdes, de boné de pala, como usava no seu quartel-general. A única concessão que fazia nas suas visitas às unidades em operações era calçar umas botas em vez de sapatos”. O capitão é exibido aos órgãos de comunicação social, o teatro e a política convergem no mesmo ato. E o capitão é evacuado. O general K dará uma conferência de imprensa anunciando que na operação Nó Cego se joga o futuro do Ocidente.
A Companhia de Comandos irá ser desmantelada, haverá ainda mais reação das forças da Frelimo, todos aqueles homens estão a mudar, há mansos transformados em lobos, há quem mude em herói por múltiplas razões do acaso. A dissolução daquela força de tropa especial é irreversível, alguém comenta: “Uma Companhia só é uma boa Companhia quando tem um bom capitão, um bom enfermeiro e um bom transmissões, esta já não os tem”.
Lá longe, no Algarve, gozando férias, o capitão medita: “Condecoraram, promoveram, graduaram, transferindo, reclassificaram, recompletaram. A nossa velha Companhia desapareceu”. O general K está eufórico, grita a todos os ventos que houve uma retumbante vitória. Como se sabe, a Frelimo saiu fortalecida, vão ficar para a História as explicações daquela guerra insana e destes mártires que, no Nó Cego, foram os mártires da mais dementada guerra que Portugal alimentou, um Nó Cego que só o 25 de abril desapertou.
Documento e monumento literário, este Nó Cego devia pelo menos ser livro obrigatório em todas as bibliotecas públicas, nenhum outro livro assume esta capacidade explicativa do que foi, no seu todo, a mais inútil das guerras em que Portugal participou. Salvou-se a comunicação entre todas as parcelas do Império, mas duro foi o seu preço.
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Notas do editor:
Vd. postes de:
6 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18901: Notas de leitura (1089): Nó Cego, por Carlos Vale Ferraz; Porto Editora, 2018 (1) (Mário Beja Santos)
13 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18919: Notas de leitura (1091): Nó Cego, por Carlos Vale Ferraz; Porto Editora, 2018 (2) (Mário Beja Santos)
20 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18940: Notas de leitura (1093): Nó Cego, por Carlos Vale Ferraz; Porto Editora, 2018 (3) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 24 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18950: Notas de leitura (1094): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (48) (Mário Beja Santos)
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24 comentários:
Sem opinião.
Virgilio Teixeira
O blogue Mário Beja Santos & Camaradas da Guiné no seu melhor.
Sem comentários, chega!...
As opiniões são livres.
Virgilio Teixeira
Aliás não tenho opinião, nem faço comentários, pois nem me dou ao trabalho de ler, porque simplesmente não me interessam estas coisas. E pelos vistos ninguém mais comenta, porque como eu, a maioria não comenta porque não lê.
António G Abreu disse:
O blogue Mário Beja Santos & Camaradas da Guiné no seu melhor.
Então o blogue é de Luís Graça & Camaradas da Guiné, ou de Mário Beja Santos?
Estou a ficar confuso, continuo a achar uma 'publicidade' excessiva aos artigos de uma só pessoa - Livros, textos, fotografias sem interesse, crónicas que nunca mais acabam, etc., e que por isso tem o maior numero de referencias no nosso Blogue, ou seja tantas como a soma de todas as outras, daí a minha confusão e desinteresse!.
Porquê?
Virgílio Teixeira
Virgilio Teixeira
Então já ninguém chama nomes ao Carlos Matos Gomes? O mau da fita agora é o Beja Santos? :-)
Bem hajas, Mário Beja Santos, por nos chamares a atenção para um dos maiores romances que já se escreveram sobre a guerra colonial, talvez o maior de todos. Manda sempre.
Fernando de Sousa Ribeiro
Pois é!
O Mário Beja Santos é um malandro. Escreve, escreve... Mas escreve sobre o que pensa do que lê (porque lê). E do que viaja, mesmo que nada tenha a ver com a Guiné. Aliás, como outros.
Aqui lhe deixo uma sugestão: - Deixa de escrever, porque isso de escrever cansa a cabeça. Não é que eu goste de tudo o que escreves (e aqui publicas e tens a coragem de publicar), mas é muito melhor publicares somente as tuas fotos: desde que entraste para a tropa, quando, depois, chegaste à Guiné, fotos da tua lavadeira, dos teus passeios em Bissau, etc., etc., acompanhadas de legendas assim: "Eu aqui", "Eu quando fui ali", "Eu quando vinha de lá", "Eu com o meu amigo Zé, mais outro de que não me lembro o nome", etc., etc.
Insisto: continuemos todos a falar do nosso umbigo... e SÓ do nosso. (Quer-se dizer: daquele que escreve ou daquele que só manda fotos).
Deste que se assina,
Alberto Branquinho
Segundo A.G.Abreu este blogue seria bem mais interessante se abandonado por todos os leitores que näo abdicam dos seus valores e se atrevem a näo aceitar alguns dos seus estados de alma quanto a adversarios de estimacäo.
O termo ”chega”,quando seguido de um (!) mais ou menos patrioteiro traz-nos recordacöes de outros tempos.
Tempos em que...
Gostei do livro,tive alguns ideais politicos muito semelhantes aos do autor, tendo-o por Camarada militar e Amigo.
Näo ter este direito?
Nem antes nem hoje, meus caros compatriotas.
J.Belo
E,para os que tiveram oportunidade de assistir a reuniöes muito semelhantes,de ”sublimacöes” feitas.......
O plano de acäo psicologica e social : ”Alem dos panfletos seräo lancados varios objectos que demonstraräo a nossa boa vontade,uma tecnica que desde as Descobertas tem dado muito bons resultados no contacto com os nativos.
Seräo lancadas duas toneladas de roupa interior de mulher,tais como soutiens e calcinhas, canetas,sapatilhas,oculos escuros,bandeirinhas nacionais”.
J.Belo
Caro Alberto Branquinho.
Na tua abrangedora lista esqueces as fotos com macaquinhos ao ombro.
Ombro direito? Ombro esquerdo?
A escolha dependia do patriotismo do militar fotografado.
J.Belo
José Belo
Caríssimo!
Não! Nem ombro direito nem ombro esquerdo.
Sugiro aos camaradas: Macaco ao colo! Bem ao "centro", agarrado com a mão direita e, também, com a esquerda. ("Com o meu vestido preto, nunca me comprometo").
Um grande abraço.
Alberto Branquinho
Como diria o camarada Pereira da Costa, isto está a aquecer.
Desnecessariamente.
O Virgílio, provavelmente, não conhece bem os vários temas tratados neste nosso
blogue.
Só para dar uma ideia temos muitos postes de:
-Viagens pela América do Norte, de Tony Borie
-Viagens pela Suécia incl. Lapónia, de José Belo
-Viagens e Notícias (extravagantes) à Volta do Mundo, de António G. Abreu
-Viagens pela Europa, de Beja Santos
-Viagens à Guiné-Bissau, de vários.
Não vou ao ponto de dizer quem não quer ler não lê, pela razão de que tudo o que é publicado no blogue dever ser lido, nem tão pouco achar que são muitos postes do mesmo autor, sendo assim não teria lido todas a Notícias (extravagantes) à Volta do Mundo -XXXVII, de António G. Abreu, devemos sim estar todos gratos pela dedicação e publicação na nossa Tabanca Grande.
Pena tenho eu não ser dotado para a escrita, mas mesmo com fracos dotes ainda um dia vou contar a História do Cão Que Só Tinha Uma Perna.
Ab. a todos
Valdemar Queiroz
Caros leitores: atingimos há dias a cifra (notável) de 10 milhões e meio de visualizações... em 14 anos. Ninguém reparou. Nem tem que reparar. Não estamos aqui para bater recordes mas é bom saber que continuamos a ser lidos... É verdade que não é possível publicar todos os dias material de 1ª água... Escrever é uma tarefa penosa, mesmo para os profissionais da escrita... Ter material permanentemente em carteira, há 14 anos, é um motivo de origlho para os editores deste blogue...
O que também nunca ninguém reparou (nem tem que reparar) é que este blogue publica-se há 14 anis, todos os dias, quer faça sol, quer faça chuva, de janeiro a dezembro... E há gente que "nunca tem férias" nem feriados.. E que às vezes se levanta pra "acender a luz" da Tabanca Grande...
As vossas cr+iticas serão sempre bem vindas. São elas que nos permitem afinar o tiro...
Da Quinta de Candoz, onde há uma vinha para tratar, com um alfabravo do editor Luís Graça
Camaradas.
Tenho evitado vir aqui à caixa de comentários expressar a minha repugnância por alguns ditos acerca do Blogue e acerca dos escritos do Beja Santos, neste caso, numa obsessão que dura há anos. E tenho evitado porque me constrange. Tanto, como me constrange não reagir.
Todavia, quase sempre alguém vem aqui dizer aquilo que me fica, calado, de engulho. Como aconteceu agora com o primeiro comentário do Alberto Branquinho, tão sábio e certeiro, o qual subscrevo completamente e, por razão dele, lhe envio um fraterno abraço.
É justo referir, pelas mesmas razões, os comentários do José Belo, Valdemar Silva, Luís Graça e Fernando de Sousa Ribeiro.
Não queria contribuir para a má nota e baixo nível que perpassa às vezes pela caixa de comentários, por oposição ao nível e prestígio do nosso Blogue. Menos ainda que as minhas palavras, como pedras atiradas fora da mão, encorajem alguns, cheios de soberba, diga-se, a ameaçar abandonar esta fraternal Tamanca.
Sincero abraço a todos.
António Murta.
Obrigado, António Murta, pelo teu comentário, sempre bem vindo. Como eu costumo dizer, tu és um dos nossos "contruibuintes líquidos"... Tens 73 referências no nosso blogue, inúmeros fotos e textos de grande qualidade... Nâo precisas de te pores em bicos de pés, és avaro em comentários... Mas apareces, e bem, nas alturas certas...
Não sou tão severo na tua crítica... Já picardias antigas, que me aborrecem, em comentários que não elimino, porque acho que temos de saber (e temo-lo sabido) lidar com as nossas pequenas diferenças... Afinal, a Tabanca Grande é isso: não tem que ser um "irmandande" ou um "igreja"... mas é o sítio onde camaradas da Guiné cabem todos com tudo o que os une e até com o que os separa...
O facto de se chamar Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné é irrelevante. O nome ficou por "razões circunstanciais": nasceu de um blogue eu tinha (e tenho...) chamado Blogue-Fora-Nada, criado em outubro de 2003...
Com a ajuda (preciosa!) do Carlos Vinhal passou a chamar-se Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné (I Série)... Até 1 de junho de 2006...
http://blogueforanada.blogspot.com/
Beja Santos e Matos Gomes são camaradas notáveis e credores da nossa consideração.
Do primeiro ,aprecio - e estou-lhe grato - a perseverança pela actualização do nosso conhecimento, com as suas recensões; do segundo, aprecio muito o seu talento literário, mas sou crítico relativamente à substância da sua "literatura da guerra colonial".
"A maior obra de toda a literatura da guerra colonial" é OS LUSÍADAS! Luís de Camões também foi um combatente colonial (em Ceuta) e morreu na miséria - não era profissional do "Quadro"...
Desde 1415 a 1974 - durante 550 anos -, os responsáveis morais da guerra colonial portuguesa foram os Regimes, mas os seus responsáveis materiais foram os Militares...profissionais.
Em relação à guerra em Moçambique, evoco o raspanete de Samora Machel à indignidade do coronel Vasco Gonçalves, nos discursos da independência!
Se não era para serem ganhas, por que fizeram essas guerras?
O Luís vai continuar a ver a vinha, eu a ver o meu bichoso pomar e o Carlos a ver o mar.
Ah, não me despeço sem um motejo ao Valdemar: eu sei a estória do Porco que Tinha uma Perna de Pau".
Abr.
Manuel Luís Lomba
Desde 2005 que me habituei a abrir o computador para ler o nosso blogue. Repito, nosso blogue. Uma porta aberta por onde tem entrado muitos camaradas, se tem encontrado muitos amigos e firmado muitas amizades, Uma porta aberta, felizmente larga para quem quiser entrar, ler e escrever ou fazer critica construtiva, respeitando as ideias e ideais dos outros bloguistas. Por ser suficiente larga, também pode ser uma porta de saída para quem não se sinta bem cá dentro. O que me parece é que ninguém tem o direito de defender a sua verdade como a VERDADE a que todos se devem subjugar.
Não entendo o porquê das intervenções agressivas do A. Graça Abreu. Será que se sente detentor da verdade? Salazar estava orgulhosamente senhor da "verdade", e estava simplesmente só e continuava a remar contra a maré. Quem sofreu? Todos nós e os povos das ditas "províncias ultramarinas".
É verdade que alguns dos escrivas podiam estar mais atentos ao tipo de pessoas a quem se dirigem,mas no Blogue há pessoas de todas as categorias sociais, académicas e culturais. Havendo uma vertente comum que é a guerra na Guiné dita portuguesa por onde fomos obrigados - a grande maioria de nós - a passar e a sofrer os seus efeitos, poderá haver outras áreas como por exemplo a poesia, o conto, e porque não a síntese de livros para eventuais interessados. Não posso aceitar tanta agressividade um tanto doentia e desrespeitosa para com todos nós e sobretudo para os editores, só porque o Beja Santos escreveu a análise critica de um livro de um autor só porque não gostamos do autor e ou do conteúdo do livro.
Sou dos que não leio o Beja Santos nas suas Viagens no o Graça Abreu na sua Volta ao mundo, considero esses textos fora do tema a que se destina o blogue de todos nós, mas nunca me pronunciei, porque entendo que o blogue pode ser abrangente, de modo a atender determinado tipo de clientela.
Parabéns aos editores do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné pela sua capacidade de gerir em liberdade e respeito por todas as ideias esta casa de todos os que queiram aqui se sentar, para escrever, ler ou comentar com o devido respeito pela liberdade dos outros camaradas que aqui se sentem bem.
Zé Teixeira
Luís Lomba.
'O Porco que Tinha uma Perna de Pau' manda muito de filosofia, fraternidade, amizade, reconhecimento e apreço pelos outros.
'O Cão que Só Tinha uma Perna' define a obsessão do presumido.
Mas, um dia conto a história ou, se calhar, com o tempo fica contada.
Ab.
Valdemar Queiroz
Orgulhei me por ter tido o José Teixeira no meu Pelotäo na Guine.
Orgulhei-me,quando preso politico em Custoias,ao receber a visita do José Teixeira,unico a ”atrever se” entre tantos e tantos ”grandes amigos,literalmente de....ocasiäo.
Orgulho -me hoje,a enormissima distancia (unicamente!)geografica,do seu comentario.
Uma continua,e segura linha de procedimento ao longo da sua vida.
Um grande abraco do J.Belo.
0s cães ladram, a caravana passa. Eu, velho rafeiro, às vezes ainda me dá para latir. Peço desculpa. Fica-me, como consolação, a certeza de que o cão é o melhor amigo do homem.
Agradeço ao Luís Graça o convite, e depois a publicação dos meus textos da Volta ao Mundo. Disse-lhe, na altura, que ultrapassavam o âmbito de um blogue sobre a Guiné, mas não é todos os dias que damos uma Volta ao Mundo.
Quanto ao resto, depois da guerra,uma verdade, paz na Terra aos homens de boa vontade.
Abraço,
António Graça de Abreu
José Belo
Que satisfação tive ao ler/saber que o Zé Teixeira esteve no teu pelotão!
Então, estivemos os três muito próximos, em 1968, quando vocês faziam colunas de abastecimento à construção de Gandembel (Bula-Nhala-Aldeia Formosa-Chamarra-Gandembel), onde estive, na minha CART 1689, durante cerca de 40 dias seguidos, na Op. Bola de Fogo.
Um abraço a ambos!!
Alberto Branquinho
Meu caro comandante J.Belo.
O que escreveste acima sobre a minha pessoa, honra-me, mas tanto lá como cá, sempre tentei dar voz à minha consciência, mesmo nos momentos de maior agrura.
Honra-me ter sido comandado por um homem como tu sobretudo em Mampatá Forreá, onde éramos só nós, o 2º pelotão. A forma como nos conduziste durante aqueles meses, mostrou àquela simpática gente que a tropa branca era gente de bem. Recordo que fomos os primeiros a fixar-nos ali. A 2382 apenas esteve lá cerca de um mês, antes de nós. Criamos amizades que se firmaram no tempo. Quem nos sucedeu, honra lhes seja feita, manteve a mesma linha e hoje somos recebidos de braços abertos. Ainda são vivos alguns dos filhos e filhas do nosso amigo Alíu, o homem para quem conseguiste uma boleia para Meca. Duas filhas estão em Lisboa, com quem contato muitas vezes. Em 2015 na minha última ida a Mampatá, veio ter comigo uma simpática velhinha que me abraçou e disse: Eu sou a única mulher do Aliu que ainda está viva.
Um forte abraço comandante.
Ao Alberto Branquinho quero dizer que quando começou a operação Bola de Fogo em 7 de Abril de 1968 ainda nós corríamos pelas calçadas de Abrantes. Partimos no dia 1 de Maio e fomos parar a Ingoré. Só viemos para o Sul em fins de Julho. Pisamos as mesmas picadas, mas em tempos diferentes. Fizemos a primeira visita a Gandembel (eu e o J.Belo) no dia 28 de Julho, dia em que vimos um Fiat que nos protegia do ar a arder mesmo ali por cima de Gandembel. Fixamo-nos em Mampatá no dia 11 de Agosto.
É bom saber que andavas lá por perto e hoje estás vivinho da costa.
Grande abraço.
Zé Teixeira
Caro Alberto Branquinho
Ao recordar-se o que significou em sacrificios,luta,camaradagem e humildade,tanto Gandembel como as colunas de abastecimento,tudo o que veio depois ....
E,neste tudo englobo verdadeiramente... Tudo.
Com tais ”recordacöes” e quando, com as nossas idades, os anos de vida se contam pelos dedos de uma mäo,alguns dos comentarios teräo o valor que lies seja dado.
Vomitar a gargalhar?
Talvez.
Obs/ Na tua lista lista de Tabancas na estrada para Gandembel falta o destacamento de Mampata
que,nem o José Teixeira nem eu vamos conseguir (ou querer!) esquecer.
Um grande abraco do J.Belo
Felizmente já estou Velho para absurdas polémicas...Nem sequer tenho um retrato com um macaquinho...Abraço! J.Cabral
Jorge
Venho dizer-te que, felizmente, do "alto" dos meus três quartos de século, não entendo:
- a invocação da tua provecta idade e
- o teu não-entendimento das "absurdas polémicas" e da causa das (in)consequências.
Abracinho
Alberto Branquinho
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