domingo, 26 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18953: Os 54 sargentos que tombaram no CTIG (1963-1974), por doença (n=24), em combate (n=17) e por acidente (n=13) (Jorge Araújo)


Lisboa (Cais da Rocha Conde de Óbidos), 6 de Outubro de 1964, 3.ª feira. Desfile de despedida do contingente da Companhia de Caçadores 726 [CCAÇ 726], momentos antes do embarque a bordo do N/M «Uíge»,  rumo a Bissau, unidade comandada pelo capitão Martins Cavaleiro [foto de autor desconhecido editada no cmjornal em 05.06.2010, in: http://www.cmjornal.pt/mais-cm/eu-reporter-cm/correio-do-leitor/detalhe/cacadores-726-convivem (com a devida vénia)].




Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil Op Esp  / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974);
 coeditor do nosso blogue; tem mais de 180 referências



OS 54 SARGENTOS QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974] (POR ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA) 
(Jorge Araújo)


1. INTRODUÇÃO

Este projecto de actualização das listas dos camaradas que tombaram no CTIGuiné durante a «Guerra do Ultramar» ou «Guerra Colonial» (1961-1974), estruturado por patentes segundo a tríade em que foram agrupadas as causas das suas mortes – acidente, combate e doença – teve o seu início com os «Alferes» [P18860], seguindo-se depois os «Furriéis» [P18925, P18927 e P18935].

Hoje, apresento ao Fórum a lista dos camaradas «Sargentos» dos três ramos das Forças Armadas, organizada segundo a metodologia anterior, os mesmos quadros de categorias e ordem cronológica.

Continuamos a considerar a hipótese desta lista estar incompleta, tal como as já publicadas, na justa medida em que existem casos de militares que tombaram nos diferentes TO que estão ainda por registar e/ou recensear.

Quanto aos camaradas «Sargentos do Exército», que faleceram em combate na Guiné, recordo os nomes dos três primeiros casos, por sinal os únicos ocorridos ao longo do ano de 1965, ou seja, dois anos após o início do conflito, e que foram:

● Em 28FEV1965 – o 1.º Sargento Inf Joaquim Lopo Covas Balsinhas, da CCAÇ 726,

● Em 19JUL1965 – o 2.º Sargento Inf Leandro Vieira Barcelos, da CCAÇ 763,

● Em 11AGO1965 – o 2.º Sargento CMD Rodolfo Valentim Oliveira, da 4.ª CCAÇ.


Guileje, na manhã a seguir ao 1.º ataque (30NOV1964), vendo-se a cozinha, o refeitório, a GMC e a armação de uma das tendas, onde o 1.º sargento Joaquim Balsinhas está identificado com a letra “A”.



Idem. Em “A” continua a ser o 1.º sargento Joaquim Balsinhas; “B”: o fur enf Manuel Rodrigues; “C”: o 2.º sargento José Bebiano; “D”: o fur trms Carlos Cruz e “E” elementos da CART 495 [fotos do camarada António Pires (Teco), com a devida vénia (P2360)].


2. AS PRIMEIRAS TRÊS BAIXAS EM COMBATE NO EXÉRCITO

2.1. A 1.ª BAIXA:  1.º SARGENTO INF JOAQUIM LOPO COVAS BALSINHAS, DA CCAÇ 726, EM 28FEV1965

Da História da CCAÇ 726 [Guileje, Mejo e Cachil, 1964-1966] consta que esta Unidade foi mobilizada pelo Regimento de Infantaria 16 [RI 16], de Évora, tendo desembarcado em Bissau a 14 de Outubro de 1964, 4.ª feira, rendendo a CART 676 no dispositivo e manobra do BCAÇ 600. Sob a orientação da CCAÇ 508, fez a adaptação operacional na zona de Quinhamel, perto da capital. Em 28 de Outubro e 17 de Novembro de 1964, foram destacados para Guileje o 1.º GrComb e o 2.º GrComb, respectivamente.

Em 25 de Novembro de 1964, 4.ª feira, todo o colectivo da CCAÇ 726 estava colocado no Sector de Guileje, então criado [daí ser considerada a primeira Companhia a ocupar Guileje], primeiro na dependência do BCAÇ 513, depois na do BCAÇ 600 e ainda na do BCAÇ 1861. Anteriormente Guileje esteve ocupado por um GrComb da CART 495 [Fev1964-Jan1965].

A CCAÇ 726, ao longo da sua permanência neste Sector, só ou em conjunto com outras subunidades, tomou parte em diversas operações, patrulhamentos e emboscadas no chamado "Corredor de Guileje". Por períodos variáveis forneceu, também, Gr'sComb para reforçarem, temporariamente, as guarnições de Gadamael e Cacine.

Em 30 de Março de 1965, 3.ª feira, na sequência da «Op. Arpão» ocupou a povoação de Mejo, aí ficando instalados dois GrComb. Em 27 de Janeiro de 1966, 5.ª feira, destacou dois GrComb para o Cachil, para reforçar a CCAÇ 1424, então na zona de acção do BCAÇ 1858. Em 2 de Julho de 1966, sábado, passou a integrar o dispositivo do BCAÇ 1858, por rotação com a CCAÇ 1424, assumindo a responsabilidade do subsector de Cachil, mantendo ainda um GrComb em Mejo.

Em 16 de Julho de 1966, sábado, foi substituída pela CCAV 1484, do Capitão Cav Rui Pessoa de Amorim, seguindo para Catió, onde se manteve até à chegada da CCAÇ 1587, do Capitão Mil Inf Pedro Reis Borges. Em 6 de Agosto de 1966, sábado, seguiu para Bissau, onde no dia seguinte embarcou a bordo do Paquete «Rita Maria» de regresso à Metrópole.

A CCAÇ 726, durante a sua comissão de vinte e dois meses, teve três comandantes: o Capitão Martins Cavaleiro, o Capitão Inf Arménio Teodósio e o Capitão Art Nuno Rubim. [vidé P2360 e P10576].

Entretanto, numa das missões de contra-penetração efectuadas no «Corredor de Guileje», morre em combate, em 28 de Fevereiro de 1965, domingo, por efeito de explosão de uma armadilha IN, o 1.º Sargento Inf Joaquim Lopo Covas Balsinhas, natural de S. Brás e S. Lourenço, Elvas.

A morte de Joaquim Balsinhas, considerada a segunda baixa do contingente da CCAÇ 726 [a 1.ª foi a do Furriel António Gonçalves da Silva, natural de Penude, Lamego (P18927), ocorrida em 29NOV1964, durante um ataque à tabanca e ao quartel de Guileje (P2360)], ficou grafada na historiografia da Guerra no CTIG como a primeira em combate de um Sargento do Exército, numa altura em que o conflito armado somava, então, vinte e cinco meses.


2.2. A 2.ª BAIXA: - 2.º SARGENTO INF LEANDRO VIEIRA BARCELOS, DA CCAÇ 763, EM 19JUL1965

A morte do 2.º Sargento Inf Leandro Vieira Barcelos, natural de Porto da Cruz, Machico (Madeira), ocorrida em 19 de Julho de 1965, 2.ª feira, é considerada a segunda na cronologia dos Sargentos do Exército falecidos em combate no CTIG, e a primeira da CCAÇ 763 [Cufar, 1965-1966].

Da História da CCAÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra") consta que esta Unidade foi mobilizada pelo Regimento de Infantaria 1 [RI 1], Amadora, Oeiras, tendo embarcado a 11 de Fevereiro de 1965, 5.ª feira, a bordo do T/T «Timor» rumo a Bissau, onde desembarcou seis dias depois, em 17 de Fevereiro de 1965, 4.ª feira. Aí chegada, a CCAÇ 763 ficou instalada em Santa Luzia no BCAÇ 600, aguardando ordens para seguir para Cufar, região de Tombali, na Frente Sul, de modo a reforçar o BCAÇ 619, sediado em Catió. O seu regresso à metrópole aconteceu a 26 de Novembro de 1966, sábado, a bordo do N/M «Niassa».

Quanto à descrição do contexto onde ocorreu a morte do 2.º Sargento Leandro Vieira Barcelos vamos encontrá-la no livro de memórias "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" do nosso camarada Mário Vicente [Mário Fitas, ex-fur mil op esp da mesma companhia], o qual faz parte do riquíssimo espólio deste blogue.

No P17130 é referido: […]

"Em 8 de Julho de 1965 [5.ª feira], a Companhia [CCAÇ 763] embarca em Impungueda a fim de levar a efeito a «Op Satan». Pelas quatro horas da madrugada as três LDM que transportam a CCAÇ [763] encontram-se frente a Caboxanque. Detectadas, as forças do PAIGC abrem fogo contras as NT, as lanchas conseguem acostar e o primeiro GrComb a desembarcar contra-ataca, desalojando os guerrilheiros.

Conseguindo progredir através de Caboxanque e depois Flaque Injã, pelas 07h00 consegue-se detectar e assaltar um acampamento, o qual foi destruído bem como várias instalações e uma grande escola do PAIGC, onde é apreendido bastante material e documentação. Entre a documentação são encontradas várias fotografias, uma das quais de "Nino" [Vieira, 1939-2009] em Pequim.

Na descida de Flaque Injã para Caboxanque somos emboscados. Reagindo bem, a Companhia consegue abater seis guerrilheiros, capturar uma espingarda automática e diverso equipamento. No cais de Caboxanque, onde se nos juntara a 4.ª CCAÇ de Bedanda, enquanto se aguardava o embarque, fomos de novo fortemente atacados, mas o IN foi repelido. Sofremos um ferido grave que foi evacuado de helicóptero para Bissau. […]

[Em 18 de Julho de 1965, domingo] voltámos a Cabolol. O guia vindo do Batalhão [BCAÇ 619] garante-nos haver um novo acampamento, mas não encontramos nada. Leva-nos ao antigo acampamento que verificamos continuar destruído. Divergimos para a tabanca de Cantumane que verificamos encontrar-se deserta. Procedimento normal em termos de anti-guerrilha, proceder à revista de todas as moranças e depósitos de arroz.

Quando o grupo destinado executava essa tarefa, a CCAÇ 763 foi violentamente atacada por um numeroso grupo IN que se encontrava emboscado na mata a norte. Três ataques sucessivos cor armas ligeiras e RPG, verifica-se a impossibilidade de utilização de morteiros, resultante da proximidade em que as forças se encontram.

Nessa ocasião é-nos dada a oportunidade de contactarmos com um novo, para nós, método de
emboscada: a utilização de abelhas.

[imagem de cortiço de abelhas africanas]. Fonte: iStock, com a devida vénia.

Os cortiços são postos em pontos estratégicos e, ao desencadearem a emboscada, fazem fogo sobre os 
referidos cortiços. As abelhas "lassas" saem lançando-se enfurecidas sobre os nossos homens, desarticulando completamente o dispositivo dos grupos de combate, ficando muita gente incapacitada para o combate, e para responder à emboscada [vidé P7674].

Com algum esforço, consegue-se fazer o envolvimento do IN provocando-lhe várias baixas confirmada. Por parte das NT sofremos mais um ferido grave que não viria a resistir, o nosso "Madeira". O 2.º sargento Leandro Vieira Barcelos é atingido no fígado por uma bala depois de lhe ter perfurado o rádio. O Barcelos não se aguentou e fina-se no dia seguinte no HM241, em Bissau. A CCAÇ 763 sofre mais três feridos graves por picadelas de abelhas, que foram também evacuados para o Hospital. E assim termina a denominada «Op. Trovão»" [P17130].


2.3 .  A  3.ª BAIXA: - 2.º SARGENTO CMD RODOLFO VALENTIM OLIVEIRA, DA 4.ª CCAÇ, EM 11AGO1965

A morte do 2.º Sargento Cmd Rodolfo Valentim Oliveira, natural de Santiago, Tavira, ocorrida em 11 de Agosto de 1965, 4.ª feira, é considerada a terceira na cronologia dos Sargentos do Exército falecidos em combate no CTIG.

O sargento Rodolfo Valentim Oliveira pertencia à estrutura orgânica da 4.ª CCAÇ [Companhia de Caçadores Nativos (ou indígenas) constituída por praças africanas de Recrutamento Local, que eram enquadrados por oficiais, sargentos e praças especialistas oriundos da Metrópole.

Criada e instalada primeiramente em Bolama em finais de 1959, mudou-se em Julho de 1964 para Bedanda, por necessidades operacionais, uma vez que um dos objectivos intrínsecos para a sua criação foi/era a segurança e/ou a defesa das suas populações, estando assim implícito o conceito de "missão" ou "actividade operacional" na luta contra os grupos da/de guerrilha armados. Três anos após a instalação dos seus primeiros efectivos em Bedanda, esta Unidade é renomeada, em 1 de Abril de 1967, passando a designar-se por Companhia de Caçadores n.º 6 [CCAÇ 6 - "Onças Negras"] (vidé: P18387 e P18391).

Na sequência da actividade operacional da CCAÇ 763, caracterizada pelo camarada Mário Fitas no livro acima referido, da qual resultou a morte do 2.º sargento Leandro Vieira Barcelos, já descrita no ponto anterior, encontrámos uma primeira referência à 4.ª CCAÇ, onde dá-se conta de missões conjuntas envolvendo as duas Unidades.

É a partir dessas vivências colectivas anteriores, partilhadas em palcos comuns, que se vem a saber da morte do 2.º sargento Rodolfo Valentim Oliveira. Por ausência de informações mais precisas quanto aos detalhes que originaram a sua morte em combate, citamos o que foi possível apurar neste âmbito:

"Voltamos a caminhos de Cabolol mas seguindo a estrada, passamos nas bordinhas da mata e vamos atá à tabanca de Cobumba, numa acção punitiva, por a sua população dar guarida a um grupo de guerrilheiros, que teria causado várias baixas à 4.ª CCAÇ estacionada em Bedanda, entre as quais se contava um sargento [Rodolfo Valentim Oliveira]" [P17130].

Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como costumamos afirmar, eis os quadros estatísticos dos 54 (cinquenta e quatro) sargentos [Ajud., 1.ºs e 2.ºs], nossos camaradas dos três ramos das Forças Armadas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guerra no CTIG, sendo 13 em acidente (24.1%), 17 em combate (31.5%) e 24 por doença (44.4%).

3. QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA












Fontes consultadas [com cruzamento]:

http://www.apvg.pt/

http://ultramar.terraweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm (com a devida vénia)

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
24AGO2018.
_______________

Nota do editor:

Vd postes relacionados com este último:

19 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18935: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - III (e última) Parte: Por doença (n=14) (Jorge Araújo)

16 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18927: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte II: Em combate (n=139) (Jorge Araújo)

15 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18924: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte I: Por acidente (n=68) (Jorge Araújo)

20 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18860: Os 81 alferes que tombaram no CTIG (1963-1974): lista aumentada e corrigida (Jorge Araújo)



26 de4 agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18953: Os 54 sargentos que tombaram no CTIG (1963-1974), por doença (n=24), em combate (n=17) e por acidente (n=13) (Jorge Araújo)

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Luís,

Boa Noite.

Obrigado pelo teu apoio na publicação deste meu trabalho.

Por lapso, o quadro nº 5 foi reproduzido em duplicado. Caso ainda seja possível, podes retirá-lo.

Boa semana.

Ab. Jorge Araújo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre a vida e a morte do nosso camarada Cipriano Mendes Pereira, srgt mil enf, CCAÇ 5, "Gatos Pretos, de Canjadude, temos pelo menos 5 referências:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Cipriano%20Mendes%20Pereira%20%28srgt%20mil%20enf%29

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Havia duas enfermeiras paraquedistas com o mome de "Maria Celeste":


(i) a Maria Celeste Ferreira da Costa, aqui referida nesta lista de sargentos mortos no TO da Guiné (neste caso morta em acidenet na BA 12, Bissalanca, em 10 de Fevereiro de 1973)

(ii) e a Maria Celeste Lopes Guerra, que era do 2º curso. Em 2011, vivia em Algueirão, Sintra, o seu nome completo, actual, era Maria Celeste Lopes Guerra Palma. ESperem,os que esteja viva e de boa saúde.


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/01/guine-6374-p7550-facebookando-6-as.html

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... Jorge Alves Araújo, deixou escrito que:
- «existem casos de militares que tombaram nos diferentes TO que estão ainda por registar e/ou recensear» (P18953);
Solicito, e desde já agradeço, consubstancie aquelas afirmações ("ainda por registar e/ou recensear").
Saudações veteranas.