sábado, 1 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18970: Os nossos seres, saberes e lazeres (282): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
No início, o projeto tinha muito ambição: calcorreava-se de Aix-en-Provence até Marselha, na fase seguinte o passeio seria pela terra dos Cátaros e Albigenses, de Toulouse até Montpellier, juntavam-se as pontas da Gália ao tempo dos Romanos.
Houve que ser mais modesto, na 2.ª fase aterrou-se em Toulouse (entre nós Tolosa) à procura de joias preciosas da arte românica, seguiu-se para Albi, Carcassone, Pirenéus franceses, Pau, de novo Toulouse.
Não foi empreendimento arrojado, mas deu para ver e sentir belezas incomparáveis, se a Provença é magnífica a Occitânia não lhe fica atrás.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (1)

Beja Santos

O viandante faz-se acompanhar de um Guia Michelin datada de 1989, certo e seguro com desatualizações, à cautela procurar-se-á invocar o que o valor patrimonial é insuscetível de estar alterado. A viagem aqui começa, antigamente falava-se em Languedoc Roussillon Midi Pyrénées, hoje o termo da região administrativa é Occitanie (Occitânia, em português). Toulouse é uma aglomeração de grandes proporções, aqui teve origem a indústria aeronáutica francesa, e recordam-se dois nomes que a literatura do século XX acolhe no seu panteão: Saint-Exupéry, o autor do Principezinho e Jean Mermoz, o pioneiro da aviação que estabeleceu a primeira ligação com a América do Sul. Toulouse é uma cidade com muito tijolo. O viandante vem com o propósito de ver alguns monumentos de renome mundial, antes de partir para Albi, e no final da viagem reservou tempo para uma deambulação mais cuidada.



A primeira impressão é o colorido do tijolo, o viandante começa o passeio à volta do Canal du Midi, um empreendimento gigantesco que permite a ligação do rio Garona ao Mediterrâneo, projetado no século XVII, entra pelos boulevards e procura o centro histórico.



A primeira escultura tem a ver com o resistente que morreu num campo de concentração na Alemanha, a segunda fala por si, glória aos heróis de vários bairros da velha Tolosa do Império Romano, quem foi martirizado pelas suas ideias e pelo seu patriotismo, quem caiu de arma na mão na trincheira ou no campo de batalha não pode ser esquecido.



O monumento emblemático de Toulouse é a Basílica Saint-Sernin (poderemos traduzir por São Saturnino), primeiro bispo de Toulouse. Houve uma modesta basílica no século V, mas a excecional popularidade do mártir tolosano falou mais alto, a afluência dos peregrinos era enorme. E foi assim que apareceu entre os séculos XI e XII o mais espetacular templo românico que há na Europa. A sua nave central é impressionante, ao fundo há um magnífico claustro. Felizmente que em meados do século XIX andou por aqui o famoso arquiteto Viollet-le-Duc, que procedeu a uma série de restauros que garantiram a formosura primitiva do templo.



As obras de Saint-Sernin duraram de 1070 até ao século XVI, mas as torres ocidentais jamais foram acabadas. Vê-se que é um edifício perfeitamente coerente, é um caso raro em que se respeitou integralmente o projeto inicial. Pela sua estrutura, Saint-Sernin pertence à família das igrejas chamadas “de relíquias e de peregrinação”, e por isso tem esta ampla nave flanqueada por naves laterais, um amplo cruzeiro, um couro majestoso e profundo rodeado de um deambulatório de onde irradiam capelas. Tem 115 metros de comprimento e 64 de altura, medida pelo cruzeiro. É por isso que é a maior igreja românica do mundo.


O acesso à basílica é feito sobretudo por três portas, veja-se a beleza deste tímpano, dentro das estritas linhas românicas. Os capitéis, tanto no interior como no exterior, são de uma enorme beleza, são livros em pedra, falam dos suplícios infernais, da Ascensão de Cristo no meio dos anjos, mostram Apóstolos, leões, Adão e Eva expulsos do Paraíso, a Anunciação e a Visitação, são necessários vários dias de visita para absorver tanto esplendor românico nesta construção de fé onde os peregrinos vinham pedir consolação e salvação das suas almas.



Pode-se fazer a visita no deambulatório, andar no exterior à volta, visitar capelas ou a sacristia, pode-se andar demoradamente no cruzeiro ou a estudar os capitéis. Aqui se vê uma porta do Renascimento, a chamada fachada principal, em seu derredor decorrem obras de beneficiação, e veja-se a belíssima torre.
Voltaremos a esta igreja de peregrinação, pela sua invulgar simplicidade e porte majestoso.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18952: Os nossos seres, saberes e lazeres (281): De Aix-en-Provence até Marselha (13) (Mário Beja Santos)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há viagens que eu gostaria de fazer, mas já não irei fazer. Esta é uma delas, a do Midi, sul, de França... De Aix em Provence
era o cavaleiro franco, cristão,mercenario que ajudou dom Afonso Henriques a conquistar a minha terra
, Lourinhã, e foi o seu primeiro senhor.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valeu a telha de Tolouse para o restauro das casas de Dubrovnic, bombardeadas durante a guer nu CT julhora civil jugoslava. A

Valdemar Silva disse...

Luís
A propósito da Lourinhã.
Há alguns anos, quando me reformei de trabalhar de dia, embora continuasse a trabalhar à noite, resolvi, para ocupar o tempo, visitar ao sábado/domingo uma série de localidades do oeste e não só que não conhecia.
Na altura tinha uma mania de filmar igrejas, capelas e ermidas nas localidades que visitava. Traçava o itinerário com antecedência por forma a conhecer a localidade, a comidinha e local/edifício mais antigo lá do sítio para umas filmagens. Quase sempre, o local/edifício mais antigo era a igreja, capela ou ermida local.
Aconteceu na Lourinhã, julgo que em 2006. Almocei no restaurante do Mercado um excelente frango frito, visitei o Museu dos Dinossauros e fui filmar, lá no cimo, a Igreja Românica (tardio) da Lourinhã. A Igreja não é um grande monumento, a torre está lá a mais, e bem podia haver ao seu redor mais aglomerado populacional e não se reservar
numa simples rua por ali abaixo.
Fiz muitas viagens/visitas a localidades para almoçar o petisco lá do sítio e filmar as igrejas, por normalmente ser o edifício mais antigo, e trocar conversa para apanhar algum rapaz do tempo da Guiné. Maluqueiras, podia me dar para pior, que numa vez em Torres Novas apareceu a GNR, chamada por uma senhora, para me prender por eu andar a filmar as janelas da igreja para depois à noite a assaltar.
Ó Sr. Guarda vá lá que podia ser por amanhã haver aqui casamento, mas assalto à caixa das esmolas, com filmagem prévia, nem pensar. Isto é apenas filmar a igreja mais antiga cá da terra, parece que a da Misericórdia era mais antiga.
Andei nisto quase quatro anos e por fim ficava de sábado para domingo. Fui até ao
Alto Alentejo, Beira Baixa e Vale do Sado. Tenho centenas de filmagens de Igrejas, inclusive a mania passou além fronteiras pela Espanha, Bélgica e Holanda.
Cada maluco com a sua mania, abside, altar mor, nave central, cruzeiro, portal central, gárgulas e torre sineira tudo bem filmado. Eu que até não sou muito católico mas gostava de visitar/filmar as Catedrais de Burgos, Chartre e Notre Dame de Paris. Agora vai ser muito difícil, quase impossível.
Áh! Também gostava de ter filmado a Igreja da Penha em Guimarães, terra do meu pai.

Ab.
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Queria dizer Igreja Gótica (tardio) da Lourinhã.

Valdemar Queiroiz