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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22947: Em busca de... (316): Furriel Silva que em 1973 deu escolinha aos meninos de Chugué. Procura-o o cidadão guinnense, radicado em Itália, Vasco Na Nena que lhe quer prestar o seu reconhecimento. Ponto da situação (Carlos Silva, Cor Tir na Reforma)

Localização de Chugué. Infogravura da Carta de Bedanda 1:50.000. © Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Mensagem do senhor Coronel Tirocinado na Reforma Carlos Cação da Silva, com data de 26 de Janeiro de 2022:

Meu caro Carlos Vinhal,
Espero que se encontre bem de saúde e em “pleno” no cumprimento da sua tarefa no vosso Blog.

Venho dar-lhe conta da evolução positiva deste assunto pois neste momento estamos em vias de estabelecer contacto com o Fur Silva.

Na sequência do esforço de pesquisa destaco:

- 1.ª Pista: A vossa triagem das sub-unidades presentes no Chugué no període de 1972/1974 apontando para as CCAÇ’s 3477 e 4143;

- O Arquivo Geral do Exército na sua pesquisa não encontrou qualquer referência ao Fur Silva em ambas as Companhias mas identificou o Fur. Enf. Faria na CCAÇ 4143 que teria também apoado a Escolinha do Chugué. Deu-nos assim a 2.ª pista.

- Com o nome completo deste Furriel Enfermeiro e as indicações de um outro aluno da mesma escola e naquela época, que localizámos, hoje como médico no Hospital de Beja, estamos a aproximarmo-nos do Fur Silva que, não pertencendo àquelas Companhias, está confirmada a sua presença na escola do Chugué.

- Estamos confiantes de que o nosso objectivo foi conseguido mercê do vosso empenho e interesse que sempre manifestaram e que nos proporcionaram os primeiros e fundamentais elementos para que fosse conseguido um desfecho que, acreditamos, irá ser positivo.

Só tenho que, mais uma vez, enviar os meus sentidos agradecimentos aos Srs. Dr. Luis Graça, Carlos Vinhal e também a todos aqueles que tiveram que envolver nesta pesquisa.
Estarei sempre ao vosso dispor para o que julgarem necessária e nas minhas possiblidades.

A melhor saúde para todos
Cordiais cumprimentos
Um grande abraço amigo
Cação da Silva


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2. Mensagem resposta enviada ao senhor Coronel Cação da Silva no mesmo dia:

Senhor Coronel Cação da Silva,
Muito obrigado pela sua mensagem dando nota da evolução da tarefa que assumiu levar até ao fim.
Se não se importar darei notícia no nosso Blogue desta sua mensagem. Fico a aguardar a sua autorização.
Pela nossa parte também estamos ao seu inteiro dispor, assim lhe possamos ser uteis.
Retribuímos o abraço com votos de que esteja bem.

Pelo Blogue LG&CG
Carlos Vinhal


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3. Ainda no mesmo dia recebemos do senhor Coronel a seguinte mensagem:

Meu Caro Carlos Vinhal,
Não tem que pedir autorização alguma. Faça a publicação que melhor entender pois também penso que é importante para os nossos combatentes na Guiné e que participam no Blog terem conhecimento do sucesso da nobre tarefa a que todos deitámos mão. Um reencontro, passados quase meio-século, destes “jovens” que se conheceram no Chugué em condições nada fáceis será certamente emotivo e vivenciado com muitas recordações. O Vasco Na Nema está presentemente na Guiné onde está a tratar de assuntos familiares e aguarda-se a sua passagem por Lisboa onde ficará uns dias antes de seguir para Veneza.
Estou esperançado de que tudo irá correr bem e disso lhe darei oportunamente conhecimento.

Um abraço amigo e sempre ao vosso dispôr.
Cação da Silva

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Nota do editor

Vd. poste de 21 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22737: Em busca de... (315): Furriel Silva que em 1973 deu escolinha aos meninos de Chugué. Procura-o o cidadão guinnense, radicado em Itália, Vasco Na Nena que lhe quer prestar o seu reconhecimento (Carlos Silva, Cor Tir na Reforma)

domingo, 21 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22737: Em busca de... (315): Furriel Silva que em 1973 deu escolinha aos meninos de Chugué. Procura-o o cidadão guinnense, radicado em Itália, Vasco Na Nena que lhe quer prestar o seu reconhecimento (Carlos Silva, Cor Tir na Reforma)

1. Mensagem de Carlos E. M. C. da Silva, Coronel Tirocinado na Reforma, com data de 17 de Novembro, dirigida ao nosso editor Luís Graça:

Camarada Combatente na Guiné Prof Luís Graça,

Sou Cor.Tir. na Reforma e estive também na Guiné de Out1970 e Ago1973. As funções desempenhadas no Comando Chefe permitiram-me conhecer todo o TO pois, para além de participar na elaboração dos Programas Anuais de Desenvolvimento Sócio-Económico das Populações, fazia contactos frequentes com os Comandos de Batalhão e suas Sub-Unidades para, “in loco”, acompanhar a evolução dos trabalhos de construção das Escolas, Postos de Socorros, Apoio à produção nas bolanhas com novas e melhores sementes do arroz, Captações de água, etc. Tudo isto em passo acelerado dado os ventos de mais intensa tempestade que se já vislumbravam no horizonte...

Estou agora a tentar dar resposta a um pedido que me foi apresentado por um Cidadão da Guiné, Vasco Na Nena, e que ouso levar ao seu conhecimento:

1. É natural de Tchugué, na margem direita do rio Cumbijã e situada a montante de Cufar e consegue lembrar-se que a unidade de Catió era o BCaç 4510.

2. Em 1973, ainda miúdo analfabeto, frequentou a Escolinha construída e gerida pelas NT, tal como era política seguida pelo Programa acima referido, mencionando como seu professor o Furriel Silva.

3. Aquando da retirada das NF após o 25Abr74, o miúdo a quem, entretanto, tinha morrido o pai, foi apoiado por um Padre italiano de uma Missão Católica da área, onde continuou a estudar.

4. No regresso daquele Padre a Itália, este levou-o consigo e ali continuou a estudar conseguindo boas qualificações e estabelecendo a sua vida em Veneza, após ter ido à Guiné em busca duma menina de que se lembrava dos seus tempos de miúdo com a qual casou e levou para Itália onde agora vivem. Mantêm ligações com a sua família alargada na Guiné a quem vai ajudando na sua sobrevivência.

5. Este miúdo de então, agora Vasco Na Nena, fez um pedido para que fosse possível encontrar-se com o primeiro professor Furriel Silva para lhe manifestar a sua gratidão pois a ele deve a base educativa que o levou a chegar à situação de vida que hoje tem, vencendo as agruras da guerra e os escolhos do caminho europeu.

- O Chugé que fica na zona de Fanhe, Fatim e Dugal é outra povoação com o mesmo nome mas fica no centro da Guiné, a cerca de 250 Km do Chugué e de Cobumba, estas sim aldeias juntas e no sul (rio Cumbidjã). Esta povoação terá sido fundada por pessoas vindas do Chugué do centro do país já referido, que se situa junto ao Rio Zeba, era uma família que fazia a ligação com as autoridades portuguesas e era conhecida por NANDINGNA. Os contactos eram feitos com eles que, por sua vez, falavam o criolo com a restante população.

- Neste Chungué (Tchuguê ou Xoquê na versão balanta) terá havido tropa portuguesa nos anos sessenta (anterior ao Vasco) mas que se ausentou até à instalação da Companhia que reocupou a povoação, tudo indica que em 1973. O dispositivo português tinha-se retraído, concentrando em Bedanda, Cafur e Catió, tendo voltado a haver guarnição em 1973. A povoação ficava no meio e em redor ficavam as instalações militares, tudo indica que em separado(por pelotões?), fazendo o quadrado em volta da povoação. Foram os militares portuguesas que construíram a escola, que ficaria perto do campo de futebol, perto da floresta onde estavam também os Fuzileiros. Muita gente frequentou a escola, aparentemente de várias idades, em principio correspondentes à 1.ª e 2.ª classes. Pela ideia do Vasco a escola funcionava a seguir à apanha do arroz, pelo que situa entre dezembro e março, logo final de 1973 e primeira parte do ano de 1974 (parece ser a data mais lógica após situarmos no tempo vários acontecimentos, nomeadamente a proximidade com o 25 de abril).

- Para além do formador Furriel Silva, ele lembra-se de um outro elemento, presumo que soldado, de nome Martins, que estava na instalação que dava acesso ao porto, cerca de 100 metros mais abaixo da família Nandingna. Este Martins era alto e tinha cabelo castanho claro. Eram ainda muito conhecidos da sua relação com a população, um outro a quem chamavam "Coimbra" e o conhecido por "Montanha", que dava ginástica aos mais pequenos.

Portanto e sem certezas absolutas relativamente à relação dos factos com o tempo, tudo indica que a sessão escolar ocorreu entre dezembro de 1973 e março de 1974, pelo menos para as referências do Vasco Na Nema.

- A referência ao Batalhão 4510 é da minha iniciativa e não do conhecimento do Vasco, na sequência da procura de qual a unidade militar na zona no período de tempo considerado, pelo que, parecendo ser verdadeira, nasceu especulativamente pois o seu blogue não é acessível e não há informação suficiente sobre a localização das suas Companhias.

Caro Camarada Prof Luís Graça! Esta é a questão que me foi posta e na qual estou a empenhar-me para conseguir o objectivo: Identificar e localizar o Fur Silva que deu aulas na Escolinha de Tchugué em 1973.
E atrevi-me a incomodá-lo com este caso pois, alguns Camaradas que conhecem o vosso Blog, e do qual tecem os maiores elogios, me sugeriram contactá-lo nesse sentido, pois tem vindo a difundir de forma bem apelativa e atraente a vossa experiência vivida e os conhecimentos adquiridos no TO da Guiné pelos vossos Blogers, assim mantendo vivos os momentos, uns bons e outros dramáticos, que lá vivenciaram. Poderá dar-se o caso de algum eco poder vir a surgir desse universo de combatentes na Guiné-Bissau que dá vida ao vosso Blog.
Porque é raro ouvir a voz de cidadãos dos PALOP a manifestarem a sua gratidão às coisas boas que receberam do “colonizador”, creio que este caso não pode ser ignorado. Daí solicitar a sua possível ajuda.

Grato pela atenção dispensada, aceite os meus cordiais cumprimentos,
Carlos Eduardo Mendes Cação da Silva


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2. Em 18 de Novembro foi enviada esta resposta ao Senhor Coronel Carlos Silva:

Senhor Coronel Cação da Silva
Pede-me o editor, Prof Luís Graça que dê resposta ao senhor Coronel.

Consultados os livros da CECA, consegui estes elementos:
(...)
A CCAÇ 4143/72 assumiu a responsabilidade do subsector do Chugué, então criado, em 07Abr73, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCAÇ 4510/72. Foi rendida em 07Mar74 pela CCAÇ 4747/73, também integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 4510/72, e mais tarde do BCAÇ 4510/73.

Com respeito ao Batalhão 4510 referido pelo amigo Vasco Na Nena, julgo ser o BCAÇ 4510/72 (Guiné, 20Jun72/15Jul74), que assumiu a responsabilidade do sector S3 em 21Ago72, com sede em Catió mas que só em 01Fev74 viu a sua zona de acção alargada aos subsectores de Chugué e Cobumba, então retirados ao S4.
Este Batalhão foi substituído no mesmo S3 pelo BCAÇ 4510/73 (Guiné, 01Jul74/14Out74) em 10Jul74.
Ambos os Batalhões foram para a Guiné compostos só por Comando e CCS.

Inclino-me para a hipótese de o Furriel Silva ter pertencido à CCAÇ 4143/72 que foi a unidade que esteve em Chugué entre 1973 e 1974.
Não temos nenhum registo no nosso Blogue da CCAÇ 4143/72. 
Vou publicar a mensagem do senhor Coronel assim como esta minha resposta. Pode ser que alguém tenha conhecido o tal Furriel Silva no Chugué e nos contacte.
Em anexo a Ficha da CCAÇ 4143/72

Ao dispor
Carlos Vinhal
Coeditor

Localização de Chugué. Infogravura da Carta de Bedanda 1:50.000. © Luís Graça & Camaradas da Guiné

Reprodução, com a devida vénia, da pág 414 do 7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - Publicação do Estado-Maior do Exército.

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3. Hoje mesmo recebemos esta mensagem do Coronel Tir Carlos Silva...:

Senhor Carlos Esteves Vinhal,
Foi com agradável surpresa que recebi, de forma tão rápida e esclarecedora, os elementos sobre o dispositivo das NT na zona de Catió em 1973 e 1974. É com apreço que manifesto, desde já, os meus agradecimentos pelo empenho dispensado na obtenção de elementos bem necessários para a possível identificação e localização do Fur Silva da escola do Chugué, em 1973. As iniciativas que refere levar a cabo no vosso Blogue poderão trazer ainda novos dados que permitam desfiar a meada e atingir o objectivo proposto.
Esse apreço e agradecimentos são extensivos ao Sr. Prof Luis Graça que tão rapidamente encaminhou o meu pedido para a pessoa certa e empenhada.
Concordo também que a CCAÇ 4143/72 deverá ser o foco para prosseguir o esforço de pesquisa e seria extraordinário que aparecesse alguém do vosso grupo da Tertúlia que se lembre do Fur. Silva.
Estou a contactar o Arquivo Histórico Militar e o Arquivo Geral do Exército para colaborarem nesta pesquisa. Sei que nessa época de 1973 era obrigatório todas as Unidades e Sub-Unidades mobilizadas entregarem no final da comissão a História da Unidade. Se estas duas Companhias o fizeram talvês a sua História se encontre no Arquivo Geral do Exército e nela constem os daos que procuramos.

Meu Caro Camarada e Combatente no TO da Guiné-Bissau, Carlos Vidal
Iremos certamente manter o contacto até ao final do “combate” que esperamos seja de sucesso.
Aceite mais uma vez os agradecimento pelo vosso extraordinário trabalho e os meus cordiais cumprimentos,
Carlos Eduardo Mendes Cação da Silva


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4. ...Que mereceu esta nossa resposta:

Senhor Coronel Carlos Silva
Muito obrigado pelos seus comentários que nos insentivam a continuar a nossa tarefa de manter o Blogue LG&CG activo.
Se fosse possível ao senhor Coronel entrar em contacto com o nosso jovem Vasco Na Nena, perguntava-lhe em que parte do ano de 1973 ele frequentou as aulas, se tem ideia da fisionomia do Fur Silva. Ele refere o BCAÇ 4510/72, tudo levando a crer que o dito Fur Silva poderá ter pertencido à 4143/72, adstrito a este batalhão.
Isto tudo são conjecturas até encontramos alguém que nos desfaça estas dúvidas.

Continuamos ao dispor do senhor Coronel e receptivos a qualquer novidade que obtenha.
Os nossos melhores cumprimentos e votos de excelente saúde
Carlos Vinhal


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5. Comentário do editor CV:

É difícil porque na tertúlia não temos camaradas da CCAÇ 4143/72, mas poderá algum dos nossos leitores ter conhecimento com antigos Combatentes desta Companhia para se poder confirmar se havia algum Furriel Silva que desse aulas no Chugué.
Abradecemos toda a ajuda possível.

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Notas do editor

Este poste foi reformulado pelo editor em 24 de Novembro face a novos elementos colhidos, tais como haver duas Tabancas com o nome de Chugué, uma pertencente à zona de Tite e outra à zona de Bedanda.

Último poste da série de 16 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22285: Em busca de... (314): Camaradas da minha CCAÇ 4544/73 (Cafal, 1973/74), o Coelho (de Alcobaça), o Rosete (de Cantanhede), o alf mil Quintela (de Torres Vedras) (Eugénio Ferreira, ex-1º cabo, 2º pelotão)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19414: Notas de leitura (1142): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (69) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Maio de 2018:

Queridos amigos,

Se há imagens que valem por mil palavras há também palavras que ganham eloquência e permitem refletir uma dada situação histórica, com um grau apreciável de fidedignidade. Será o caso deste documento em que o responsável em Bissau pela Sociedade Comercial Ultramarina descreve o que está a acontecer no Sul, um quase desmantelamento geral de postos de abastecimento.

O gerente do BNU em Bissau irá enviar para Lisboa até ao primeiro trimestre de 1964 informações preciosas, como ele próprio observa o Comando Militar é lacónico, não dá informação sobre o evoluir da situação, o gerente tem fontes que o habilitam a enviar informações preciosas, de tal modo que percebemos que para março/abril de 1964, mesmo com um número crescente de unidades militares a chegar à Guiné, a subversão foi bem sucedida no Sul, estendeu-se para o Corubal e começa a inquietar o chamado setor de Bafatá e posicionou-se de pedra e cal no Oio, cortando estradas e desinquietando toda a região circundante.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (69)

Beja Santos

Em julho de 1963, está instalado o alarme. O “Diário Popular”, na sua edição de dia 17 dera relevo a uma entrevista com o Ministro da Defesa, a Administração do BNU entendeu pôr-se imediatamente em contacto com o gerente de Bissau, agradecendo tudo quanto tinha vindo a ser exposto sobre a escalada da luta armada. O que viera no “Diário Popular” fora silenciado pela maior parte da imprensa nacional, e como escreve a Administração do BNU, o ministro dissera textualmente que no Sul da Província “grupos numerosos e bem armados de terroristas penetraram em território nacional numa zona correspondente a 15% da superfície da Província” e a Administração em Lisboa previne a gerência de Bissau:

“Achamos prudente que estejamos atentos ao desenvolvimento da situação, para o caso de ela vir a agravar-se. E assim devem V. Sas. ter bem presente o que dispõe a circular reservada n.º 760, de 7/5/1931, para o que confiamos plenamente em V. Sas., no sentido de, se necessário, dar-lhe execução.

Agirão, em primeiro lugar, sem nervosismos nem precipitações, pois mesmo com a violação verificada das fronteiras, as nossas tropas cumprirão o seu dever, como o estão fazendo.
Só se procederá à inutilização das nossas notas em última extremidade, quando as autoridades militares o julguem conveniente.

A inutilização poderá ser por perfuração ou por queima, conforme a rapidez que a gravidade dos acontecimentos posteriores porventura imponha.

Como medida de providência, é conveniente mandar relacionar as notas existentes na Casa Forte ou Cofres, reduzindo ao mínimo indispensável as existências na Tesouraria.

O relacionamento será feito por maços, correspondendo a cada maço uma relação, a fim de que, quando os maços transitem para a Tesouraria, as respectivas relações individuais possam ser inutilizadas.” 

Em 20 de agosto, Luiz Vianna, da Sociedade Comercial Ultramarina em Lisboa envia ao administrador do BNU, Castro Fernandes, uma fotocópia da carta confidencial, datada de 6 desse mês remetida pela gerência de Bissau à sede da Sociedade Comercial Ultramarina, cujo teor é o seguinte:

“Situação política:

1 – No dia 4 do corrente veio a Bissau de avião o nosso empregado Manuel da C. Cunha Viana para nos avisar de que o Pelotão que estava no Xugué ia ser retirado para Bedanda, o aviso partiu de um capitão amigo do nosso empregado que o fez em atenção a favores recebidos, mas debaixo de grande sigilo.

2 – Como devem calcular, ficámos indignados com tal procedimento, pois a nossa Sociedade tem sido para o Comando Militar um manancial de facilidades e não está certo uma atitude destas, pois a economia da Província, a manter-se tal disposição, sofreria um prejuízo na ordem dos 1.500 contos, sem contar os imóveis.

3 – No que diz respeito à nossa Sociedade e pelas informações agora chegadas, temos naquela localidade os seguintes valores: 200 toneladas de arroz em casca, 70 contos de mercadorias, imóveis e utensílios diversos. Deslocámo-nos imediatamente ao Comando Militar para ver das possibilidades de suster, pelo menos por 10/15 dias, esta medida que prejudicava não só a nossa Sociedade como a economia da Província. 

4 – Depois de várias tentativas e intermediários militares, era domingo, conseguimos falar com o Sr. Major, que nos disse para esperar, pois ia pôr o assunto ao Sr. Brigadeiro Louro de Sousa, que disse textualmente o seguinte: nada podia fazer, pois havia um mês que o assunto do abandono do Xugué tinha sido posto ao Sr. Governador e por conseguinte nada tinha com tais problemas, o movimento tinha que se fazer como estava previsto. Avistámo-nos com o Chefe do Estado-Maior que nos ouviu e depois de várias hipóteses, mandou-nos regressar ali no outro dia para nos dar uma resposta definitiva. 

5 – Fomos lá à hora marcada na companhia do gerente da Casa Gou   veia que também tem no Xugué vários valores e depois de estarmos ali à espera quase duas horas, resolveram dar-nos os 15 dias pedidos para retirar todos os valores existentes no Xugué, antes de a povoação ser abandonada. 

6 – Já tomámos as providências necessárias e contamos ter tudo recolhido até ao princípio da próxima semana. 

7 – Sabemos que na realidade tem havido diversos problemas naquela área e tal situação é insustentável. 

8 – Em Catió, quase todos os dias tem havido tiroteio sem consequências de maior. 

9 – Em Salancaur soube-se que os terroristas estavam a negociar na nossa Casa Gouveia, vendendo não se sabe o quê, possivelmente coisas roubadas, a aviação foi lá e bombardeou aquilo tudo, e é de prever que as Casas tenham ficado bastante danificadas. 

10 – Sabe-se também que os terroristas estão instalados nas nossas Casas de Caboxanque, qualquer dia a aviação vai lá e dá cabo de tudo.

É esta a situação, quanto mais tropa vem, menos faz, por este andar os nossos imóveis vão desaparecendo e qualquer dia todas as Casas abandonadas estão desfeitas pela aviação.
A Casa de Cafine já quase não tem telhado e as 40 toneladas de arroz e mercadorias que lá ficaram já não existem com toda a certeza.”

Em 31 de agosto, o gerente de Bissau informa o BNU em Lisboa:

“A entrevista concedida pelo Senhor Ministro da Defesa e publicado no “Diário Popular” na tarde de 17 de Julho foi nesta Província transcrita no jornal “O Arauto” do dia 25.

As declarações do Senhor Ministro não tiveram aqui a repercussão inquietante de que se revestiram na Metrópole, de tal modo que choveram em grande número para a Guiné, quer por correspondência, telefone ou telegrama, os mais desencontrados e por vezes horripilantes boatos das lutas travadas pela posse desta cidade, com umas dezenas de mortes e de feridos à mistura.

Aliás, as palavras proferidas por aquele membro do Governo confirmam apenas as informações que há meses vimos prestando a V. Exas.

A população citadina, diga-se em abono da verdade, não isenta de preocupações, continua a fazer a sua vida normal, confia que com os reforços há semanas desembarcados, as forças militares operem o tão desejado volte-face da situação passando, finalmente, à contraofensiva nas zonas infestadas pelo terrorismo.

É convicção geral que só desta forma, lutando com as mesmas armas e no campo do inimigo, será possível senão eliminar pelo menos abrandar a violência dos últimos ataques.

Depois de previamente instaladas como as actuais condições permitem, as nossas tropas desenvolveram ultimamente grande actividade no sector compreendido entre Mansoa, Mansabá, Bissorã e Olossato, relativamente perto de Bissau.

Precedidos de intensos e arrasadores bombardeamentos aéreos nos refúgios do inimigo no mato, as tropas de terra, apertando o cerco, lançam ataques contra os terroristas em fuga, infligindo-lhes, segundo consta, severas baixas que uma emissora de um território vizinho aqui captada cifrou no número 200 só numa operação.

Não podemos confirmar estes números, visto que o Quartel-General do Exército é avaro de informações e nem sequer fornece comunicados das operações realizadas.

Assim, limitamo-nos a transmitir as informações de fontes não oficiais e que, possivelmente, nalguns casos, não correspondem inteiramente à verdade.

Contudo, não obstante as acções militares, não deixam os terroristas assinalar a sua presença e, como prova da sua actividade, na estrada Mansabá-Bissau, num troço das proximidades daquela povoação, esteve esta semana obstruída com troncos de árvores.

Anteriormente à vinda dos reforços militares, num ataque levado a cabo em 20 de Julho por um numeroso grupo constituído por argelinos distintamente identificados pelo vestuário e tez mais clara, negros e cabo-verdianos a uma coluna militar à distância de dois quilómetros de Mansabá, resultaram sete feridos do nosso lado.

No Sul, autenticamente abandonado, à excepção de alguns pontos ainda guarnecidos pela tropa, os terroristas continuam livremente senhores da maior parcela do terreno e controlam as vias de comunicação.

Nesta área, os nossos soldados limitam-se à defensiva dentro de redutos de arame farpado, visto que, segundo dizem, os efectivos de que dispõem são em número reduzido em relação ao território a cobrir.”

O gerente do BNU irá manter esta correspondência confidencial muito intensa, ao longo de todo o ano de 1963. Iremos verificar que o Leste entra em cena no final do ano, ataques a Amedalai e na região do Xime, em frente, na outra margem do Geba, resistiu-se em S. Belchior, os terroristas foram postos em fuga.

Quando se fizer o balanço de 1963, verificar-se-á que a situação no Sul vive em crescente turbulência, e daí a tentativa de sustar a subversão através de uma formidável operação, a Tridente, para reocupar a ilha do Como; a subversão chegara ao Corubal, grupos do PAIGC instalavam-se nas matas densas de Tabacutá, Galo Corubal, Mina, Poidon, Ponta Luís Dias, e muito mais, a Frente de Leste, ainda que timidamente, passara a ser uma realidade; e em território que o PAIGC classificará como Frente Norte, são constantes os ataques provenientes das matas do Oio, designadamente do Morés.

(Continua)


Mapa da Guiné constante no “Novo Atlas Escolar Português”, de João Soares, 4.ª edição, Sá da Costa, 1951. O que surpreende é a flagrante desatualização das localidades, noutro mapa que em breve publicaremos, referente a 1948, haverá muito mais rigor. Quem olhar para este mapa, ficará com a ideia que quase metade da Guiné era maioritariamente constituída por Fulas Pretos e depois por Biafadas, Balantas e Manjacos. Define-se a região do Gabu, mas não se precisam os limites, aquilo que é o Forreá e o Tombali também não tem nenhuma precisão, escreve-se que há Beafadas e Nalus. Foi por este mapa que a minha geração teve notícia do que era a Guiné…


A Imagem retirada do álbum “Guiné – Alvorada do Império”, 1953, trata-se de uma homenagem ao governador Raimundo Serrão.


Travessia do Corubal
Imagem publicado no Jornal “O Comércio da Guiné”, na sua edição de abril de 1931.
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Nota do editor

Poste anterior de11 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19395: Notas de leitura (1140): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (68) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de14 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19404: Notas de leitura (1141): “Vozes de Abril na Descolonização”, a organização é de Ana Mouta Faria e Jorge Martins e os entrevistados dos três teatros de operações foram Carlos de Matos Gomes, José Villalobos Filipe e Nuno Lousada, edição do CEHC – Centro de Estudos de História Contemporânea do Instituto Universitário de Lisboa, 2014 (2) (Mário Beja Santos)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11011: Efemérides (119): Diário de George Freire, ex-comandante da 4ª CCAÇ (Bedanda, 1962/63): o início da guerra no sul do CTIG (jan / mar 1963)...Recordando topónimos que nos são familiares: Cabedu, Caboxanque, Cacine, Cadique, Cafal, Cafine, Catió, Chugué, Jemberém, Mejo, Salancaur...



Guiné > Região de Quínara (parte sul) e Região de Tombali > Sítios referidos por George Freire no seu dário (1/3 a 23/3/1963), e onde a sua 4ª CCAÇ, colocada em Bedanda, ou outras unidades do exército (como a CCAÇ 273, por ex.) , estiveram em ação, logo no início da guerra...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)

1. Ainda a propósito dos 50 anos do início da guerra no TO da Guiné - a 23 de janeiro de 1963, segundo os nossos historiógrafos (mas também os da Guiné-Bissau) - achamos oportuno reproduzir, aqui, mais uma vez, o diário do cap inf Jorge Freire (,hoje cidadão americano, George Freire), que comandou a 4ª CCAÇ, e que esteve, já em cenário de guerra, em Bedanda, desde novembro de 1962 até ao fim da sua rendição individual em maio de 1963 (*)...

É impressionante como um só companhia podia, na época, operar em quase todo o sul da Guiné, compreendendo parte da região de Quínara  e a região de Tombali, o celeiro da Guiné... Todos estes topónimos são-nos familiares, para muitos de nós: Bedanda, Cabedu, Caboxanque, Cacine, Cadique, Cafal, Cafine, Catió, Chugué, Jemberem, Mejo, Salancaur... Ainda não se falava de Guileje nem de Gadamael...Repare-se que há tabancas que vão ser logo de imediato abandonadas (caso de Iemberém, cuja população fula é transferida pelo exército pata Bedanda), Da leitura do diário depreende-se que houve um rápido alinhamento da população local, com os fulas a mostarem-se leais às autoridades portuguesas e os balantas (e outros: beafadas, nalus...) a ficarem do lado do PAIGC... Houve seguramente terror e contraterror nestas ações de ambos os lados. Mas repare-se que os prisioneiros feitos pela 4ª CCAÇ são entregues ao batalhão (o George Freire não o identifica,  claramente, não sei se era o BCAÇ 236 ou o BCAÇ 356). Por outro lado, um dos alvos da ação da guerrilha são as casas comerciais, a Ultramarina, a Gouveia... A produção de arroz vai decrescer drasticamente nos anos seguintes. A importação de arroz mais do que triplica de 1962 (c. 9 mil toneladas) para 1964 (c. 30 mil toneladas). A Guiné nunca mais será a mais a mesma, depois do ataque de Tite, em 23 de janeiro de 1963. (LG)



O meu Diário da Guiné, por George Freire (EUA)

Como história, transcrevo partes de um diário que encontrei no meio de papelada antiga numa gaveta da minha secretária. A primeira entrada no diário foi no dia 31 de Janeiro de 1963 e a última, no dia 28 de Maio do mesmo ano.

31/1/63:

Ataque de terroristas aos Fulas de Jemberém. Mataram o chefe da tabanca e outros 6 Fulas.

2/2/63:

Acção em Boche Falace pelas minhas forças de Jemberém. Um grupo de terroristas balantas em fuga deixou grande quantidade de arroz cozido (!).

6/2/63:

O nosso destacamento em Salancaur foi atacado às 00:30. Tivemos baixas: um furriel e um soldado foram mortos do nosso lado e vários terroristas foram abatidos. Nesta mesma noite, também atacaram o nosso destacamento em Cacine, mas felizmente não houve baixas a assinalar.

8/2/63:

Fui a Bissau tratar de vários assuntos da Companhia [4ª CCaç].

9/2/63:

Volta de Bissau. Manga de trabalho em atraso devido as acções dos últimos dias. Recebemos informação de que vários terroristas passaram ao largo, vindos de Catió para a zona de Cacine. As instalações da Ultramarina foram assaltadas e o encarregado europeu foi morto.

10/2/63:

Lista de material extraviado em combate: 1 capacete em Chugué, 1 espingarda Mauser e1 pistola-metralhadora em Jemberém.

Esta madrugada as instalações da Gouveia em Salancaur foram atacadas. Os terroristas levaram cerca de 10 toneladas de arroz e outros géneros de comida.

11/2/63:

Efectuámos acções em Jemberém, Salancaur e Cadique. Vários elementos terroristas que tinham tomado parte no assalto aos Fulas de Jemberém foram aprisionados e enviados para a sede do Batalhão.

12/2/63:

Um alfaiate mandinga, Mamude Djassi, que tinha sido aprisionado em Chacual pelos terroristas e que passou vários dias num dos seus acampamentos, conseguiu fugir e apresentou-se ao nosso destacamento do Chugué. Foi transportado para o nosso quartel em Bedanda. Enviei um rádio para o Batalhão para que este Mandinga possa ser aproveitado como guia na acção que está a ser preparada pelo Batalhão.

13/2/63:

Enviei um pelotão para Salancaur para proteger o embarque de arroz da Ultramarina e da Gouveia.

14/2/63:

Patrulhamento feito em Jemberém e Cadique. Nesta última povoação tivemos contacto com terroristas Balantas que puseram alguma resistência mas acabaram por fugir. Três foram abatidos.

15/2/63:

O nosso quartel em Bedanda foi visitado por 3 directores da CUF, procurando informações do que se está a passar na região. Nessa mesma altura, terroristas rebentaram um pontão na estrada de Catió junto de Timbo. Houve também grande tiroteio em Chugué e algumas explosões na estrada próxima da área. Os 3 directores ficaram bem informados do que se está a passar...

16/2/63:

Chegou o Pelotão de acompanhamento da Companhia 273. Uma patrulha das nossas forças do Chugué foi atacada por um grupo armado de pistolas-metralhadoras. Não sofremos baixas mas 2 terroristas foram abatidos.

Regressou à base o Pelotão destacado em Salancaur. Foi rendida por novas forças a Secção que se encontrava destacada em Jemberém.

17/2/63:

Continuaram a chegar mais elementos da companhia 273.

18/2/63:

Reconhecimentos feitos a Salancaur, Jemberém e Cadique. Aprisionámos alguns dos elementos que tinham atacado o nosso destacamento de Salancaur.

22/2/63:

Fomos visitados aqui em Bedanda pelo Comandante Militar e pelo Major Mira Dores, durante a altura em que tínhamos começado uma acção no mato de (Nhairom?), com 2 pelotões da CCaç 273 e 1 Pelotão da minha Companhia.

23/2/63:

Regresso da acção. Pobres resultados. Foram encontrados vários acampamentos terroristas, abandonados mas com indícios de terem sido ocupados recentemente. Foi rendida a secção de Jemberém.

25/2/63:

Reconhecimento feito em Salancaur e Mejo. O Capitão Delfino, comandante da Companhia que substituiu a CCaç 74, visitou-nos, para discutirmos colaboração.

26/2/63:

Outra visita pelo Comandante Militar e o Comandante da Força Aérea, para discussão sobre a colaboração da FA na próxima operação que iremos executar. Pormenores foram discutidos em detalhe.

27/2/63:

O Capitão Relvas veio da sede do batalhão visitar-nos em Bedanda. Aparentemente, o comandante do Batalhão está chateado por não ter sido consultado nos detalhes de apoio pela FA. e tomou a decisão de fazer a operação sem esse apoio. (Incompreensível!).

A acção começará esta noite a partir das 00:04. A acção terminou pelas 15:00 do dia 28/2/63. Os resultados que poderiam ter sido bastante satisfatórios, foram praticamente nulos, pois vários grupos de terroristas conseguiram, (devido a configuração e extensão do terreno de acção), fugir e dispersar. Se a FA tivesse colaborado os resultados teriam sido tremendos, pois o número de terroristas que conseguiram infiltrar-se entre as nossos forças foi considerável. (Esta foi a opinião de todos os comandantes de pelotão directamente envolvidos na acção. Na área onde a minha companhia actuou, notamos exactamente os mesmos resultados).

É evidente que os terroristas foram avisados da operação a tempo de poderem debandar. Nada me admira, pois temos um número considerável de soldados nativos, incluindo Balantas...


1/3/63:

Hoje pela 09:30 e mais tarde pelas 14:30, pessoal do pelotão do Cabedú sofreu emboscadas respectivamente entre Cafal e Cafine e no cruzamento de Cabante. Na segunda emboscada sofremos um morto e um ferido. Uma viatura Chaimite foi destruída na primeira emboscada. Seguiram dois pelotões reforçados para os locais das emboscadas.

Em Impungueda uma patrulha da CCaç 859 travou contacto com os terroristas e feriu alguns e os outros conseguiram fugir.

2/3/63:

Durante parte do dia de ontem e durante todo o dia de hoje as nossas forças percorreram todo o terreno nas zonas das emboscadas. Encontraram vestígios dos atacantes, fizeram um prisioneiro que tinha tomado parte numa das emboscadas, mas nada mais. O soldado ferido seguiu de avião para Bissau e o morto foi enterrado no cemitério de Bedanda.

O prisioneiro foi interrogado mas poucas informações conseguimos. Foi enviado para o Batalhão para ser interrogado.

3/3/63:

O Comandante Militar veio cá hoje de avião com o segundo Comandante do Batalhão 356. Depois de informados dos acontecimentos dos últimos dias, seguiram para Catió.

4/3/63:

Recebemos informação do batalhão de um possível ataque planeado pelos terroristas a Caboxanque e Jemberém. Enviei dois pelotões para Jemberém e Cadique, ponto de onde, segundo a informação, os terroristas se estavam a organizar para os ataques. Em Caboxanque executámos acções por um pelotão da minha companhia e outro da CCaç 273.

6/3/63:

Fizemos um reconhecimento à zona de Jemberém. O alferes Gonçalves encarregou-se de falar aos chefes Fulas de Jemberém e discutir a possível mudança das suas tabancas para Bedanda. Há toda a vantagem dessas mudanças para incrementar a protecção da população Fula. Poderemos também formar aqui e em Bedanda um pelotão de uns 40 Fulas, o que nos poderá ajudar substancialmente na segurança da área e aliviar as nossas forças. Os chefes Fulas aceitaram a nossa oferta de braços abertos.

7/3/63:

Começámos o transporte da população Fula de Jemberém. Usámos 10 viaturas neste movimento. Calculamos que serão necessárias 3 mais viagens semelhantes.

8/3/63:

Continuação do transporte dos Fulas. Seguiram dois pelotões da CCaç 273 para a região de Salancur.

9/3/63:

Continuação do transporte dos Fulas. Os pelotões da CCaç 273 continuaram a operar na região de Salancur.

Elementos Fulas de Jemberém conseguiram aprisionar um nativo que sabiam estava ligado ao movimento terrorista. Quando este nativo (Balanta) foi interrogado aqui na companhia, deu-nos a informação de que elementos terroristas estão no mato de Boche Falace a prepararem um ataque àquela povoação. Enviámos um pelotão da CCaç 273 para a área.

Recebemos também informação, por elementos do Chugué, que um grupo de terroristas bem armado estava concentrado do outro lado da fronteira com a Guiné Francesa, perto da zona de Banta-Sida.

Mais informações recebidas do pelotão de Jemberém: cerca de 300 elementos terroristas estavam a preparar um ataque à nossa companhia em Bedanda na madrugada de amanhã.

Dei ordens para que todo o nosso pessoal, (estávamos um pouco desfalcados pois tínhamos 2 pelotões em operações longe de Bedanda), estar em alerta em posições defensivas, já há muito preparadas para eventualidades semelhantes. Foi uma longa noite de nervos, mas o ataque nunca se deu.

10 e 11/3/63:

Acabámos o transporte dos Fulas de Jemberém para Bedanda, contudo ainda teremos que transportar abastecimentos e víveres que ainda lá ficaram, em especial uma grande quantidade de arroz. Os Fulas fizeram um outro prisioneiro que, após interrogado, nos deu boas informações sobre o grupo terrorista que tem actuado na zona de Boche Falace: nomes de comandantes, armamentos e locais aproximados do grupo. Este prisioneiro foi enviado para o batalhão.

13/3/63:

Recebemos novas informações sobre um outro possível ataque ao nosso aquartelamento no dia 16 ou 17.
O Benfica venceu o Dukla de Praga para a taça dos campeões europeus. Ouvimos o relato no rádio.

15/3/63:

Chegou um pelotão da CCaç 417 que seguirá para Caboxanque. Enviei uma grande coluna de 10 viaturas para Jemberém para trazer o resto dos víveres pertencentes aos Fulas.

16/3/63:

O pelotão da CCaç 417 seguiu para Caboxanque para render o Pelotão 859.

18/3/63:

Chegou o Pelotão 859 que seguirá para Bafatá. A CCaç 273 partiu para Jemberém em operações, não se sabendo por quantos dias.

19/3/63:

Visita do major Pina para discutir os pormenores do movimento dos pelotões 859, 870 e 871 para Bafatá. Eu irei a comandar a coluna e voltarei para Bedanda de avião.

20/3/63:

O alferes Mendes seguiu com um pelotão para o Chugué dentro do novo plano de ordenamento dos dispositivos.

22/3/63:

Cabedú enviou uma mensagem informando que os terroristas estavam a planear uma emboscada às viaturas da CCaç 273 que se tinham deslocado para a região de Darsalame. Enviei imediatamente um rádio para o capitão Gaspar com todos os detalhes da informação.

23/3/63:

Chegou outro pelotão da CCaç 417. Seguirá amanhã para Cabedú para render o Pelotão 871, que virá para Bedanda e depois para Bafatá na minha coluna.

[.-..] O meu diário, cobrindo os acontecimentos que se passaram entre a minha partida para Bafatá com a coluna, a minha vinda de retorno a Bedanda e as semanas até ao dia 18 de Maio, extraviou-se, infelizmente.

Lembro-me de alguns detalhes de possíveis ataques a Bedanda que, felizmente, nunca se concretizaram. Nós estávamos muito bem preparados, com todo o terreno à volta do aquartelamento (cerca de uns 150 metros), completamente limpo de arvoredo e vegetação.

Tínhamos os morteiros de 60 todos treinados nas áreas prováveis de ataque, além de explosivos enterrados e comandados à distância. Bem no fundo, eu estava com esperança de que os terroristas tentassem um ataque, pois seriam totalmente aniquilados, mas nunca aconteceu, possivelmente porque eles sabiam que tal acção seria muito difícil e arriscada.

No dia 18 de Maio, o capitão Nelson (meu colega de curso) veio render-me. Durante os 4 dias seguintes fiz a entrega da 4ª CCaç ao Nelson e no dia 21 de Maio segui de avião para Bissau.

Ai estive à espera de transporte e finalmente no dia 27 de Maio parti de volta a Portugal no navio da CUF “Ana Mafalda”.


Tenho ainda mais algumas histórias para contar, (entre os primeiros dias de Abril, até a altura em que fui rendido, 20 de Maio de 1963).

Um abraço,
George Matias Freire

________________

Notas do editor:

(*) vd. postes de:

24 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10996: Efemérides (117): O início da guerra no CTIG há 50 anos: Nova Lamego, Bissau, Bedanda... O paraíso... perdido (set 62/mai 63): filme de George Freire, ex-cap inf QP, a viver nos EUA há meio século (Virgínio Briote / Luís Graça)
29 de dezembro de 2008 >  Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda, 1961/63)

(**) Último poste da série > 25 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11003: Efemérides (118): Data da Operação Irã (José Martins)

sábado, 9 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4311: No 25 de Abril eu estava em... (10): Chugué, num buraco com um tecto de quatro toros (José Pedrosa)

1. Mensagem de José Pedrosa (*), ex-Alf Mil Inf/Minas e Armadilhas da CCAÇ 4747, Chugué/Bedanda, 1974, com data de 26 de Abril de 2009:

Caro Amigo,

Com um abraço a todos, remeto a postagem de hoje no meu Blogue.

http://cerrodocao.blogspot.com/2009/04/onde-e-que-estavas-em-26-de-abril.html

Cumprimentos,
Zé Pedrosa


2. Assim, com a devida vénia ao nosso camarada, reproduzimos o seu poste

Há 35 anos eu estava onde, precisamente, esta hora do dia se chamava "hora sexual". Durante duas horas tinha de estar pronto para a acção, pois, se elas viessem, não podia estar desprevenido: tinha de reagir imediatamente, caso contrário, era o fim ...


Estava em Chugué, na vala de acesso ao meu abrigo de guerra (um buraco no solo com um tecto de quatro toros de árvore pau sangue), aguardando vigilante que passassem as duas horas de prevenção total - cumprindo as regras militares e as do bom senso, face à permanente iminência de ataques e bombardeamentos das tropas do PAIGC na zona do Tombali - Guiné Bissau.

Posto o sol, a descompressão ia ganhando ânimo entre aquele monte de gente de morte encomendada. O meu hábito de tentar saber notícias pelas ondas curtas da rádio teve sorte. Numa emissora de lingua francesa consegui ouvir as notícias do meu país.

Assim que as percebi (sabedor que já era do Março em Caldas da Rainha) gritei para a minha gente: "pessoal, há reviravolta em Lisboa, parece ser coisa grande, se calhar, vamos saír daqui com vida..."

Depois, seguiram-se horas angustiantes tentando confirmações por todas as ondas da rádio, por tudo quanto eram comunicações militares. A cinco minutos da meia-noite, finalmente, o Menezes dos fuzileiros "abriu o livro" na primeira página: o 25 de Abril e o MFA foram sucintamente explicados e assim resumidos: "a guerra vai acabar, vamos pra casa !"

E, mesmo sem o cessar fogo ordenado, para todos nós, os de infantaria, de artilharia e fuzileiros que ali estávamos, a partir desse dia: "guérra cába pâ nôs".
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3590: O Nosso Livro de Visitas (48): José Pedrosa, ex-Alf Mil da CCAÇ 4747 (Guiné, 1974)
e
17 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3639: Blogues da Nossa Blogosfera (11): Do Cerro do Cão, em Peniche, ao Apocalipse Now (José Pedrosa / Luís Graça)

Vd. último poste da série de 4 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4280: No 25 de Abril eu estava em... (7): RI 15, Tomar, à espera de ir para a Guiné (Magalhães Ribeiro)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3258: PAIGC: Instrução, táctica e logística (16): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Itinerários de abastecimento (A. Marques Lopes)


Guiné > PAIGC > Algures numa região libertade do sul, presume-se > Foto do inevitável e incontornável Bara István, reporter fotográfico da agência de notícias húngara MTI > 1970 > "Csendes dzsungel folyó, Guinea-Bissau, 1970" (segundo o meu fraco húngaro, "Guiné-Bissau, 1970: o silêncio da floresta e do rio"...). Esta e outras fotos fazem parte da sua fotogaleria, disponível - aparentemente copy left - no seu sítio comercial (em húngaro): Fotó Bara Fotográfiai és számítástechnikai szaküzlet. Em 1969/70 ele andou pela Guiné-Conacri e pelas regiões do sul controladas pelo PAIGC. Esta e outras fotos fazem parte da sua fotogaleria.

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria / Photogalery (com a devida vénia / by courtesy )


1. Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, através de mais de um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma, que é residente da Tabanca de Matosinhos, a maior das tabancas da nossa Tabanca Grande...

Este texto já circulou pela nossa tertúlia, através de mensagem de 29 de Setembro de 2007. Esta série tem vindo a ser publicada, com alguma irregularidade, desde há um ano, e está longe de ter chegado ao fim.

Como temos dito e redito, a divulgação deste e doutros documentos sobre a organização e o funcionamento do PAIGC é meramente ididáctica, não implica, por nossa parte, qualquer juízo de valor. E, não é de mais referi-lo, não é um documento do PAIGC (embora utilize fontes escritas e orais ligadas à guerrilha que então nos combatia); pelo contrário, tem como origem o próprio Com-Chefe da então província portuguesa da Guiné. Trata-se de Supintrep que foi distribuído aos comandos das unidades do CTIG em Junho de 1971.(Supintrep: Do inglês, Supplementary Intelligence Report, ou seja, Relatório de Informação Suplementar.) (LG)


PAIGC: Instrução, táctica e logística (16) > Itinerários de abastecimentos


Revisão e fixação de texto: AML/LG. Notas, em itálico, de AML.
[ Estes são dados muito interessantes e importantes para cada um de nós poder comparar com a sua experiência pessoal quando esteve no terreno.]


a. ITINERÁRIOS DE ABASTECIMENTOS

(1) Generalidades

É a partir de Conacri que, sem quaisquer condicionamentos na utilização dos itinerários da Rep Guiné e com algumas restrições nos da Rep Senegal, são abastecidas as principais bases e, a partir destas, o interior do TO.

O itinerário principal, como que a “espinha dorsal” da cadeia logística montada pelo PAIGC, é aquele que, saindo de Conacri, segue por Boké, Koundara, Kolda, Tanaff e Ziguinchor, estabelecendo uma “cinta” à volta da nossa Província, da qual partem itinerários secundários para o reabastecimento das regiões fronteiriças e daqui para o interior do TO, utilizando os chamados “corredores” de infiltração. Veja-se anexos I e J [mapas inseridos no fim - LG].

É, pois, o conjunto de itinerários que o IN utiliza, tanto no interior como no exterior, para concretização da sua actividade logística, que vai ser apresentado no presente capítulo.


(2) INTER-REGIÃO SUL


Existem em apoio à Inter-Região Sul duas Bases Logísticas de grande importância: Kandiafara e Boké, sendo a primeira orientada para apoio das Frentes de Buba/Quitafine, Catió, Quínara e Bafatá/Xitole e a segunda mais orientada para a Frente Bafatá/Gabu Sul, muito embora seja ponto de desembarque, passagem e controle de reabastecimentos detinados a Kandiafara e dos detinados à Inter-Região Norte. A maioria dos reabastecimentos chegados a Kandiafara, e provenientes de Conacri, são transportados em viaturas, via Boké, ou nos barcos do PAIGC directamente ou também via Boké.

Uma vez em Kandiafara, os abastecimento são armazenados nas instalações do Partido a eles destinados (5.f deste documento) até serem distribuídos pelas diferentes Frentes.

A partir de Kandiafara são os seguintes os itinerários utilizados:


- Para a fronteira




O itinerário Kandiafara-Kansambel é percorrido por viaturas para reabastecimento dos efectivos sediados na região de Kansambel/Mampatá-Bacirgo. Durante a época das chuvas fica intransitável mesmo para viaturas ligeiras visto que a enchente do rio Gudiagol impede a passagem na região entre Sintchuro e Kansambel. Quando isto sucede nem por isso o reabastecimento deixa de se fazer, sendo então o material e os víveres transportados a dorso por carregadores vindos para o efeito de Kasembel.

O itinerário Kandiafara-Bissamaia é utilizado para reabastecimento das unidades sediadas na região de Sansalé e Sector de Quitafine.

A existência e a recente ampliação de instalações do PAIGC em Bissamaia leva a concluir da existência de um complexo logístico para apoio do Quitafine, sendo o material dali trabnsportado em canoas com motor fora de bordo, sempre de noite, através do rio Baraban e rio Carach até Cambom.

Do antecedente era utilizado o porto de Kadinié (Rep Guiné) como ponto de passagem para a ilha de Canefaque, onde existia a principal “arrecadação” do Quitafine.

As limitações impostas pela Rep da Guiné à utilização desse porto pelos barcos do PAIGC vieram alterar o estado de coisas, pelo que os barcos passaram a dirigir-se, como se refreriu, a Cambom.

Como se disse, Boké é uma base logística de passagem, controle e armazenamento que, ao mesmo tempo, apoia a Frente Bafatá-Gabu Sul. Esta Frente, cujo comando se encontra na Base de Kambera, é abastecida por três itinerários que se dirigem a Nhantafará/Dalabare, Kambera e Lela/Vendu Leili, onde está referencida a presença deforças do IN.



- Para o interior

As colunas de reabastecimento para o interior, quer se destinem à Frente do Quínara ou Bafatá/Xitole, quer se destinem a Buba ou à Frente de Catió, uilizam para a infiltração de material o “corredor” de Guileje (**). A utilização deste “corredor” é feita por colunas apeadas e por viaturas, que, partindo de Kandiafara para Simbéli, seguem por TN até Porto Balana, onde o IN terá um hipotético “porto” e donde os reabastecimentos seguem por canoas através do rio Balana ou a dorso até à região de Salancaur/Unal.

No entanto, a maioria das colunas não se limitam a ir a Porto Balana aguardando a chegada do material em viaturas, indo a Simbéli a maior parte das vezes e mesmo a Kandiafara.

Pode esquematizar-e o itinerário seguido pelos reabastecimentos até à região de Salancaur/Unal do seguinte modo:





Em Salancaur/Unal as colunas irradiam para as várias Frentes conforme os itinerário que a seguir se descrevem:



- Para a Frente BAFATÁ/XITOLE


Do antecedente está recortada a linha de reabastecimento entre esta Frente e a fronteira sul, pelos seguintes itinerários:



Os carregadores que vão buscar material à fronteira são recrutados nas tabancas sob controle IN e reunidos normalmente na área de Cancodeia de onde partem. A cambança do rio Corubal é feita de acordo com o itinerário seguido. Se seguem por Portugal-Ualé, cambam na área compreendida entre Mina e Satecutá, se seguem o itinerário Gã Gregório-Bantael Silá o rio Corubal é cambado na área entre Fiofioli e Cancodeia Beafada.

As colunas que utilizam este último percurso logo que chegadas a Bantael Silá cambam o rio Cumbijã e seguem de canoa ou apeadas até à área de Salancaur. A partir de Salancaur tnto um como outro itinerário têm seguimento pelo “corredor” de Guilege até Simbéli, da maneira já descrita.

As colunas gastam dois dias para fazerem o percurso de dia e dois para o regresso, tendo sido referenciado o seguinte itinerário para uma coluna que utilizou o itinerário de Bantael Silá:

- Às 12h00 partida da região de Cancodeia, chegando à noite a Bantael Silá onde comeram e pernoitaram; saída de Bantael Silá no dia seguinte ao romper do dia, com chegada a Simbéli às 12H00;

- Partida de Simbéli na manhã do dia seguinte, tendo pernoitado em Bantael Silá;

- Saída de Bantael Silá na manhã seguinte, com passagem no cruzamento de Buba às 12H00 e chegada a Cancodeia ao anoitecer.

Verifica-se, assim, que as colunas para a Frente Bafatá/Xitole vão até Simbéli onde aguardam o material vindo de Kandiafara.

Após o regresso, o material é depositado na região Mina/Fiofioli, onde existe a principal “arrecadação” da Frente.

Do antecedente está recortada a intenção do IN em abrir uma linha de reabastecimento entre esta Frente e o Boé, o que evitaria a ida das colunas à fronteira sul por um itinerário onde a acção das NT nas sua zonas fulcrais (cruzamento de Buba e Uané) se fez sentir.

Assim, em meados de Setembro de 1969 saíram do Sector 2 (hoje Frente Bafatá/Xitole) dois bigrupos a fim de irem buscar reabastecimentos ao Boé (possivelmente Tourdoutala), os quais, no regresso, accionaram armadilhas colocadas pelas NT junto do itinerário Mansambo/Xitole. O percurso efectuado por este bigrupos foi o seguinte:

- Mina-Galo Corubal– estrada Xitole/Mansambo (a norte do rio Pulom)–Duá– Salifo–Barquege (A)–Láli Buaro (A)–Porto Djarga (onde cambaram o rio Corubal)–Madina Dongo-Tourdoutala, fazendo no regresso o itinerário inverso.

Após esta data, este itinerário, a que se chamou “corredor do Quirafo”, não voltou a ser utilizado, admitindo-se no entanto que o IN venha a procurar utilizá-lo como alternativa.


- Para a Frente do QUÍNARA

O recrutamento e reunião do pessoal é feito nas regiões de Gã Pará e Gã Formoso, após o que as colunas se dirigem ao Injassane pelo seguinte itinerário:

Gã João – Canjeque – Binhalom – Uaná Porto – Farená – Injassane

Em Injassane, as colunas escoltadas por um bigrupo deste Sector deslocam-se através do “corredor” de Missirá (já esquematizado) até à região de Sambaso, onde o bigrupo da escolta regressa ao seu Sector no dia imediato à chegada. Os caregadores dormem em Sambaso e no dia seguinte, ao romper da manhã, saem para a fronteira sem escolta, utilizando dois procedimentos:
- Se há canoas na região do Unal, seguem a via fluvial até Porto Balana e daqui, apeados, até à fronteira pelo “corredor” de Guileje;

- Se não há canoas na região do Unal, os carregadores cambam o io Lenguel para o rio Nhancobá, cambam o rio Cumbijã para Chim-Chim Dari e daqui para Simbéli, através do “corredor” de Guileje.

No regresso é utilizado o mesmo itinerário até Sambaso, local onde os carregadores dormem. Na manhã seguinte seguem para Uané, sendo escoltados no percurso Sambaso-Uané por um bigrupo do Sector de Buba. Uma vez em Uané é novamente o bigrupo de Injassane que toma à sua responsabilidade a segurança da coluna.

A partir de Injassane o itinerário para a região de Gã Formoso é inverso do que já se referiu.

Os itinerários utilizados pelas colunas de reabastecimento da Frente do Quínara podem ser esquematizados do seguinte modo:



- Para a Frente de CATIÓ

Na esquematização dos itinerários seguidos pelas colunas de reabastecimento para esta Frente há a considerar os vários sectores em que ela se divide. Assim, para o Sector de Cubisseco e o Sector de Tombali as colunas convergem em Chugué (1510 1120 E9-92) seguindo por Chacoal - Bantael Silá – Salancaur - Chinchin Dari e daqui pelo “corredor” do Guileje até Simbéli.

No regresso as colunas seguem o itinerário inverso até Chugué, donde irradiam aos seus destinos. Se a coluna se destina a Cubisseco podem ser utilizadas duas linhas de reabastecimento, a saber:



Se a coluna se destina a reabastecimento às unidades de Tombali o itinerário a partir de Chugué segue para Bária, onde se encontra o comando do Sector e possivelmente a arrecadação principal.
O aparecimento de muitas canoas na região de Chugué/Flaque Umbaná denuncia a existência de um “complexo logístico” de apoio à Frente de Catió, o qual se completa com as instalações de Salancaur. Os reabastecimento serão transportados por via fluvial desde Porto Balana, com movimentos normalmente efectuados de noite para Flaque Umbaná-Chugué.

Este itinerário por via fluvial substitui com vantagem o apeado Chugué - Bantael Silá - Chinchin Dari, já referido.

Para o Sector do Cubucaré as colunas passam por Cadique Nalú/Lauchandé - Uangané/Boche Palace - atravessam a estrada Bedanda/Mejo em Bedanda 8 I2-22 - seguem a estrada para Salancaur Cul, a qual abandonam na região do ponto de cota 27 em Bedanda 8 I1-42 - passam a sul do braço W do rio Demba Chiudo – atravessam a vau o braço Leste do mesmo rio – Salancaur – Chinchin Dari e daqui pelo “corredor” do Guileje até à fronteira.

No regresso da fronteira é normalmente feito o itinerário inverso, podendo, no entanto, também ser efectuado o percurso Simbéli – Uali Sachá – Afiá – Quebo – cambança do rio Jabel e rio Jarendioul – Ameda-Lai – Jemberém – Cadique Nalu – Calaque Balanta.

Aproveitando o “complexo logístico” montado no rio Cumbijã, já referido, as colunas para este Sector podem seguir até Salancaur e daqui, em canoas, até Porto Balana, fazendo no regresso o itinerário inverso.

- Para o Sector do Como as colunas seguem via Tobali por:

Chugué – Timbó – Cansalá – Guelache – Cachanga – Gantonaz – Tambacunda – cambança do rio Cobade em Catió 4 F1-33 – cambança do rio Como em I, Caiar 6 H2-98 – Como

ou via Cubucaré por:

Calaque Balanta – cambança do rio Cumbijã em Cacine 3 E9-14 – Camelonco – ilhéu de Caiame – Como


- Para a Frente BAFATÁ – GABU SUL (INTERIOR)


Os grupos dependentes do comando desta Frente, e que actuam no interior do TO (regulados de Bassi, Paiai e Binafa), são reabastecidos a partir de Kambera (comando da Frente) através dos seguintes itinerários:



(3) INTER REGIÃO-NORTE


Para o reabastecimento da Inter-Região Norte o PAIGC utiliza viatura que, a partir de Conakry ou Boké, seguem os seguintes itinerários:




Koundara é o complexo logístico da Inter-Região Norte, sendo a partir daí que são reabastecidas directamente todas as bases das Frentes de Bafatá/Gabu Norte e S. Domigos/Sambuiá e, indirectamente, todas as bases e acampamentos das Frentes Canchungo/Biambe e Morés/Nhacra.

Para concretização de toda a actividade logística da Inter-Região Norte no exterior do TO, são referidos os itinerários que se referem:


- Para a Frente BAFATÁ-GABU NORTE


- Para a Base de Foulamori por:

Koundara – Kifaia – Gaouai – Koumbia – Doumbiagui – Kambambolou – Kankodi – Kitiara – Foulamory

Este itinerário é o normalmente utilizado para o reabastecimento de Foulamory, muito embora esteja detectado um outro que, saindo de Koundara, segue para Sare Bodio – Sare Modi – Soutumourou (até aqui em viatura) – Koumbagni – Foulamory (este último troço apeado), cosiderando-se, contudo, de menor utilização.

- Para a região de Foulamansa/Missirá/Djalajã por:

Koundara – Sambailo – estrada central 18 – Kaorané – Foulamansa/Missirá

Este é o itinerário de abastecimento da base de Foulamansa, havendo indícios que denunciam a abertura de um itinerário que a partir de Missirá conduz à região de Djalajã (Rep Senegal), passando pela região de Niji, em Território Nacional, com o fim de mais facilmente se abastecerem as forças eventuialmente sediadas nos acampamentos de Lengael Serenaf e Banguri.

- Para a região de Suco, Sare Kanta e Sare Djanque:

Para reabastecer as unidades sediadas nestas regiões as viaturas utiizam o itinerário Koundara – Velingara – Pakourou – Kaoné (Sare Kanta). A partir daqui, e dado que a travessia do rio Geba não pode ser feita por viaturas, é necessário organizar colunas apeadas para atingir a região de Sare Djanque.

- Para a região de Sambolecunda:

É utilizado o itinerário Koundara – Linnkirinc – Velinga – Rá – Kounkané – Dabo – Kolda – Dioulacolom – Guiro Bocar – Sale – Quinhé (Sambolecunda)

Está referenciado também o uso de bicicletas para a efectivação das colunas de reabastecimentos ao longo da linha de fronteira, presumindo-se que isso aconteça devido não só ao mau estado dos itinerários durante a época das chuvas, mas também às restrições impostas ao trânsito de viaturas carregadas com material pelas Autoridades Senegalesas.

- Para a Frente S. DOMINGOS/SAMBUIÁ


[Tenho, naturalmente, procurado informar-me mais particularmente sobre a implantação do PAIGC nesta Frente S. Domingos/Sambuiá. Segundo a "História do Batalhão n.º 3846", que esteve no Norte da Guiné de 09ABR71 a 01MAR73 no Sector 06 (S. Domingos), o PAIGC tinha, al´m daquelas que eu conhecia, como SANO e SAMINE, as seguintes bases naquela zona

- Base de SIKOUM (no Senegal, longitudinalmente entre S. Domingos e Ingoré), comandada por Tenda Intabe, com um Bigrupo;

- Base de Poubosse/Campada, onde estava sediado o Corpo do Exército n.º 199-A/70, comandado por Quecuta Mané, e constituído por: 03 Bigrupos, 02 Grupos, 01 Grupo de Morteiros 82, 01 Grupo de Artilharia (canhões s/recuo), o1 Grupo Especial de Bazookas. Segundo a informação INDIO 1 C-4, esta base teria um efectivo de 450 homens. Abaixo um esquema incluído no SUPINTREP N.º 31, referindo, no entanto, o Corpo do Exército n.º 195:




Luís Cabral, cofirma, em "A Crónica da Libertação", que era o CE 199-A, comandado por "Quemo"(e não Quecuta) Mané que actuava na zona de S. Domingos/Sambuiá. Segundo ele, a bandeira deste Corpo do Exército "era toda vermelha, com uma grande estrela vermelha ao centro; ao alto do canto esquerdo tinha uma pequena bandeira do PAIGC; no canto direito, em baixo, a indicação do Corpo do Exército 199-A. Diz ele, no mesmo livro, que havia um Corpo de Comando formado para dirigir a luta no Norte, enquadrado pelos " "peitos vermelhos" (combatentes que se destacaram em acções especiais)". Seria o "Comando da Inter-Região [Norte]" referido na imagem do SUPINTREP N.º 31 (acima)? ou haveria dois Corpos do Exército, o 195 e 199-A, a actuar naquela Inter-Região?...;

- Base de M'Pack, com 01 Bigrupo e 01 Grupo de Morteiro 82;

- Base de Kassoum/Kaguit, com 01 Bigrupo, comandado por Gorgui Unfalde e depois por Malan Djata.

Diz também a História do BCAÇ 3846 que havia as seguintes "linhas de infiltração":

- PIRGUI/UERECHOLI:/Rio GUNAL/Rio PORTO MADEIRA/JOL:

- SIKOUM/SEDENGAL/APILHO/Rio CHURRO:

- BESSOLUM/Rio SAPATEIRO/MATA GAUNHA/Rio CURRO:

- BOUTOUPA/Rio CATEI./Rio POII.ÁO DE LEÁO/CAMBOIANA:

- POUBOSSE/Rio CAMPADA/Rio POll.ÀO DE LEÁO/CAMBOIANA:

- BARRACA BATATA/MAMBAIÁ/Rio JUGUL/CAMBOIANA:

- BABONDA/SUNCUTOTO/Rio BACHAMOR/CAMBOlANA;

- KAGUlT/BUNHAQUE/MATO COLAGE/CAUSSO/CAMBOlANA:.

- KASSOUM/MATO ELIA/Rio BULIGUTE/RI0 DEFENAME/RIO BOLOR/Rio CACHEU:

- KASSOUM/Rio URAMUAI/Rio DEFENAME/Rio BOLOR/Rio CACHEU;

- KASSOUM/Rio URAMUAI/Rio BULIGUTE/Rio DEFENAME/Rio BOLOR/Rio CACHEU;

- SANTIABA MANJAK/Rio COLE/Rio DEFENAME/RIO BOLOR/Rio CACHEU.

A. Marques Lopes]



O IN utiliza para movimentar as suas viaturas de reabastecimento às bases desta Frente a chamada “Estrada Grande”, isto é, a estrada que, a partir de Koundara, segue por Linnkiring – Velingará – Dabo – Kolda – Bantankoutou – Sonco – Sare Tening – Tanaf – Ierã – Samine – Ziguinchor. É pois a partir deste itinerário principal que saem ramificações que conduzem às diferentes bases. Assim,

- Para Faquina:

Kolda – Bantankoutou – Sonco – Lenquerim – Faquina

As viaturas vão apenas até Bantankoutou. Os reabastecimentos a partir daqui são transportados por carregadores que em Lenquerim cambam a bolanha de canoa para passarem à base de Faquina.

- Para Sinchã Djassi (Hermancono):

Kolda – Sare Tening – Hermacono

- Para a base de Cumbamory:
Kolda – Tanaf – Ierã – Mankolecunda – Cumbamori

- Para Dungal:
Kolda – Tanaf – Dungal

- Para Sano:
Kolda – Samine – Sano

- Para Sikoum Bafatá:
Kolda – Tanaf – Samine – Goudomp – Sekoum

O material e víveres vindos da Rep. Guiné (Koundara) passa como vimos em Dinnkiring e Kolda, locais onde é feito pelas autoridades da Rep. Senegal controle das viaturas e material transportado; a partir de Kolda o material é usualmente acompanhado por pessoal do Exército Senegalês, embora em escolta à distância.

No terminal da “Estrada Grande” encontra-se Zinguinchor, sede do comando da Inter-Região Norte, mas que no quadro da logística do PAIGC não parece desempanhar papel relevante dado que, segundo os elementos disponiveis, apenas apoiará os grupos sediados em M’Pack e Kassou.

O reabastecimento das Frentes do interior da Inter-Região Norte é feito por colunas de carregadores através dos “corredores” tradicionais de infiltração e suas variantes, sendo sempre feitos em movimentos vindos do interior, razão pela qual se descrevem estes “corredores” no sentido inverso àquele em que, até aqui, se tem descrito p fluxo dos reabastecimentos.

Estão detectados os seguintes:

“Corredor” de Sitató, com início em Faquina

“Corredor” de Sambuiá, com início em Cumbamory

“Corredor” de Lamel, com início em Sinchã Djassi

“Corredor” de Sano, com início em Sano [pelo lado Este, entre Barro e Bigene - A.Marques Lopes]

“Corredor” de Canja, com início em Pirgui [pelo lado Oeste, entre Barro e Sedengal - A- Marques Lopes]


- Para a Frente de Morés/Nhacra


Para o Sector do Morés são utilizados os “corredores” de Lamel e Sitató, podendo também com menos frequência utilizar o de Sambuiá, segundo os itinerárioa que se referem:


“Corredor” de Lamel
Morés – estrada Mansabá/Farim sensivelmente em direcção a Biribão – Biribão – cambança do rio Camjambari nas proximidades da tabanca de Béssia – Bricama – cambança do rio Jumbembem – cambança do rio Lamel – estrada Jumbembem/Farim – Fambantã, seguindo depois um carreiro até um local nas proximidades da fronteira onde a coluna aguarda a chegada do material. Este vem da arrecadação existente na base de Sinchã Djassi e é transportado até ao referido local em viaturas, sendo ali entregue às colunas que o esperam. O regresso é feito pelo itinerário inverso, tendo o percurso (ida e volta) uma duração de cerca de seis dias. Os locais de pernoita pensa-se que serão em Biribão e Fambantã.

“Corredor” de SITATÓ
O percurso utilizado pelas colunas que do Morés se dirigem a Faquina é feito pelo “corredor” de Sitató segundo o itinerário que se indica:

Morés - Madina – Biribão (onde pernoitam) – Canjambari – Sare Buco – Sumabanta – Sulccó (onde pernoitam) – Faquina

Este itinerário é utilizado na ida e no regresso e leva três a quatro dias a ser percorrido, em cada um dos sentidos.


“Corredor” de SAMBUIÁ

A possibilidade de reabastecer o Morés por colunas que através do “corredor” de Sambuiá passem ao Iado e daqui ao Morés é viável, não estando no entanto referenciada a utilização deste itinerário, a não ser na entrada de algumas personalidades.


[Disse-me o Lúcio Soares, quando estive com ele o ano passado [, 2006], que, em 1968, depois de passar o comando de Sinchã Jobel para o Gazel, e quando já era comandante da base do Morés, sofreu aí uma emboscada quando se dirigia ao Senegal - até lhe disse que, se calhar, tinha sido eu...; numa outra emboscada aí também, foi referenciado o Luís Cabral, que ia de jipe - A. Marques Lopes]


As forças do Sector de Nhacra podem ser abastecidas de Norte, através do “corredor” de Sitató até Canjambari e daqui para Gussará, Uassado até Suarecunda, onde se encontra a principal arrecadação do Sector. Não é este porém o itinerário normal para reabastecer o Sector, mas sim a partir da Inter-Região Sul.

Os carregadores, utilizando canoas, aproveitam o fim da maré vazante e a maré enchente para, a partir da foz do rio Malafo, cambar o rio Geba e entrar no curso do rio Corubal que sobem até ao Injassane, a partir donde as colunas seguem apeadas o itinerário já referido do “corredor” de Missirá.

O regresso é feito novamente em canoas, aproveitando a maré vazante que as leva até meio do curso do rio Geba e daqui, empurradas pelo iníco da enchente, até à foz do rio Malafo.

Os percursos no rio Corubal e rio Geba são feitos durante a noite, sempre condicionados às marés.

Do antecedente estavam detectados dois itinerários que, saindo de Suarecunda, faziam a ligação com o Sector de Morés, conforme o seguinte esquema:





Estes itinerários, que serviam especialmente para que os elementos IN do Morés pudessem vir ao Hospital do Sara, parece contudo que estão abandonados.


- Para a Frente CANCHUNGO/BIAMBE

O Sector do Biambe pode ser reabastecido através dos “corredores” de Canja, Sano, Sambuiá, Lamel ou mesmo Sitató, portanto por todos os “corredores” actualmente referenciados.

Se as colunas vão reabastecer-se a Faquina ou Sinchã Djassi são utilizados os “corredores” de Lamel e de Sitató, a partir de Canjambari/Biribão, locais que atingem Naga por:

Insumeté – Contuba/Muno – Iador – Cossuba – Concolim – Biambe – Queré – Namedão – Morés – Coli Sare – Madina

Se as colunas vão à base de Cumbamory é utilizado normalmente, que na ida quer no regresso, o “corredor” de Sambuiá, segundo os itinerários que se descrevem, até Samoge:

Insumeté – Concolim – Jagali – cambança do rio Cacheu em Binta G3-61 – Udasse – Simbor – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Concolim – cambança do rio Cacheu em Binta 2 C6-89 – Simbor – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Sibicunto – Tancroal – cambança do rio Cacheu em Binta 5 B6-86 – Buborim – Sambuiá – Samoge

Insumeté – Concolim – cambança do rio Cacheu em Binta 2 B4-94 – Malã – Bolom – Samoge

De Samoge as colunas seguem para Cumbamory onde, após recebido o abastecimento, regressam pelos itinerários inversos.

Se o reabastecimento é feito na base de Sano as colunas de carregadores utilizam em princípio, na ida e no regresso, o “corredor” de Sano por:

Insumeté – Iador – Biur – cambança do rio Cacheu em Bigene 5 I2-47 – Suar – Limane – Bucaur – Singap – Toubakouta, onde, junto duma arrecadação do Partido, recebem o material vindo de Samine.


[Samine é no Senegal, muito perto de Barro, tal como Sano, e, segundo Luís Cabral, em "Crónica da Libertação", o PAIGC tinha aí um armazém de material de guerra - A. Marques Lopes]


Pode também ser utilizada uma variante deste “corredor” por:

Saiamcuto – Barro Grande – cambança do rio Cacheu em Bigene 5 G5-32 – Biur – Iador – Insumeté, ou mesmo o “corredor” de Sambuiá, fazendo os movimentos de ida e regresso por itinerários diferentes.

Se as colunas utilizarem o “corredor” de CANJA podem seguir os itinerários:

Insumeté – Fajã – cambança do rio Cacheu em Bugem [Bigene?...] 5 E8-23 – Ponta Nova – Mansacunda – Sinchã Mamadu – Kossi

Insumeté – Fajã – cambança do rio Cacheu em Bigene 4 D3-92 – Santana – Mansacunda – Sinchã Mamadu – Kossi

Insumeté – Brufa – cambança do rio Cacheu em Bigene 1 H9.81 – Canja – Bissabur – Kossi

Insumeté – Brufa – cambança do rio Cacheu em Bigene 1 H9.81 – Canja – Bissabur – Pirgui

[Era a Titina Silá quem dirigia a Norte o Comité da Milícia Popular e que tinha como missão organizar a passagem de pessoas e mercadorias nas cambanças do rio Cacheu, segundo diz o Luís Cabral no seu livro "Crónica da Libertação". Diz aí também que ele, Luís Cabral, mais o Chico Mendes eram os responsáveis da Frente Norte - A. Marques Lopes]


- Para o Sector de CANCHUNGO

Para os reabastecimentos deste Sector está referenciada a ida de colunas de carregadores a Sinchã Djassi (Hermacono), Cumbamory e Sano, de onde trazem o material e víveres para a região de Caboiana/Churo, onde se encontra a principal arrecadação do Sector.

Os itinerários utilizados são os que já foram descritos pelo que se faz somente referência ao percurso feito até à região de Insumeté.

As colunas partem de Caboiana/Churo, seguindo por Barme, Balem, Banhida, Gaguepe, Jopá. De Jopá partem dois itinerários que, seguindo por Ponta Vicente, Bucula e Ponta Matar ou Gipo-Ponta Neaga, se reunem novamente em Ponta Ponhasse, seguindo por Santarém, Jundum, Empabá até ao Insumeté, seguindo depois os itinerários já descritos.

Eventualmente, admite-se que este Sector possa ser reabastecido pelo “corredor” de Campada por

Caboiana/Churo - cambança do rio Cacheu em Poilão de Leão - Campada – Poubosse

Este corredor, já em tempos utilizado pelo In, não está actualmente a ser usado.





[Para melhor compreensão da organização e papel dos "corredores" , mostro esta imagem abaixo que define como o PAIGC tinha distribuídas as suas Frentes de Luta. Pertence ao SUPINTREP N.º 31 (de que, com tempo, também hei-de dar conhecimento) - A. Marques Lopes]



___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 16 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3211: PAIGC: Instrução, táctica e logística (15): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XV Parte): Os Armazéns do Povo (A. Marques Lopes)

(**) Vd. postes de:

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)