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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27183: "Una rivoluzione...fotogenica" (10): Vítima de napalm ou um caso de vitiligo ? Mais uma foto polémica do húngaro Bara István (1942-2025), alegadamente tiradas nas "áreas libertadas" do PAIGC em 1969

 


Foto nº 1A


Foto nº 1


Fotpo nº 1B
Ex-Guiné Portuguesa > s/l > 1969 > Uma das 7 dezenas de fotos da visita do foto jornalista húngaro István Bara (1942-2025), da agência noticiosa estatal MTI (Magyar Távirati Iroda), que esteve alegadamente embebbed com forças do PAIGC, no mato, em 1969/70, em "áreas libertadas".

Nesta imagem, da sua fotogaleria, mostram-se "os efeitos do napalm"... Pelo menos, a legenda (em húngaro) é isso que diz explicitamenmte: " István Bara: Napalm áldozata. Guinea-Bissau, 1969" (em português: "István Bara: vítima de napalm. Guiné-Bissau, 1969").

O fotojornalista da MTI (a agência noticiosa estatal húngara na época)  não diz onde foi exatamente tirada a foto (podia ter sido na Guiné-Conacri). A sua página (comercial) foi descontinuada há uns largos anos, sendo entretanto   capturada em 2009 pelo Arquivo.pt.

O fotógrafo morreu recentemente aos 83 anos.

Numa análise mais atenta e detalhada da imagem, com a ajuda da IA, concluimos que estamos perante um caso aparentemente de grosseira ignorância (clínica): tudo indica que se trataria de um caso de vitiligo (despigmentação da pele, comum em pessoas de pele escura, deixando manchas brancas), confundida intencionalmente ou não com queimaduras por napalm (que em geral atingem também outras partes do corpo, com o peito, o pescoço, a cara, o coro cabeludo... e não apenas as mãos... e deixam marcas profundas)

Temos de admitir o princípio da presunção da inocência, neste caso, da santa ignorância ... Mas a nós "cheira-nos", no mínimo, a aproveitamento propagandístico (*)... 

Sabemos que o PAIGC e sobretudo o seu líder histórico, Amílcar Cabral (Bafatá, 1924- Conacri, 1973) sempre beneficiou de uma "boa imprensa", a nível internacional, e nomeadamente nalguns países europeus, como a Suécia, a Itália ou até a França. Sem esquecer os países da Europa de Leste...

Foto: Foto Bara (com a devida vénia...)


1. Perguntámos ao assistente de IA / ChatGPT:
 
Pele escamada, despigmentada, branca, nas mãos de um africano, guineense de Bissau... Doença dermatológica ? O fotógrafo diz que foi vítima de napalm, em 1969... A vítima não foi atingida na cara, só nas mãos. O que é estranho... Ignorância ? Encenação fotográfica ? É mais que provável... O fotógrafo, húngaro, oriundo de um país do bloco soviético, esteve em 1969, nas "regiões libertadas" do PAIGC.  Não seria o primeiro caso de um fotojornalista manipulador, sem ética, usando encenações. 

A foto está aqui: 

https://blogueforanadaevao
tres.blogspot.com/2008/04/guin-6374-p2723-poemrio-do-jos-manuel-6.html
2. Resposta do Chat Português:

O caso que descreves levanta várias questões interessantes, tanto médicas como históricas e políticas.

(i) Aspeto dermatológico

  • Pele esbranquiçada e descamada nas mãos pode corresponder a várias condições:

    • Vitiligo (perda de pigmento, comum em pessoas de pele escura, deixando manchas brancas);

    • Ictiose (pele muito seca e escamosa);

    • Dermatite crónica (por contacto ou alergia);

    • Cicatrizes de queimaduras (mas estas costumam deixar pele lisa, brilhante e retraída, não apenas esbranquiçada).

  • Napalm: provoca queimaduras gravíssimas, destrói tecidos até ao osso; é pouco provável que atingisse apenas as mãos e deixasse a cara completamente intacta, sobretudo num conflito; além disso, as sequelas típicas são cicatrizes grossas, quelóides e retrações, não simplesmente pele branca e escamosa.

(ii) Contexto histórico e propaganda

  • Em 1969, o fotógrafo húngaro István Bara,a partir de Conacri, esteve nas "zonas libertadas" do PAIGC, num contexto de guerra colonial e guerra de propaganda.

  • Fotógrafos do bloco soviético muitas vezes produziam imagens com grande carga ideológica, destinadas a mobilizar a opinião pública internacional contra  Portugal.

  • Há registos de encenações e manipulações em várias coberturas de guerra, e o facto de o fotógrafo ter "fama de manipulador" reforça a suspeita.

(iii) A foto em questão

  • Na imagem, o que se vê parece mais compatível com vitiligo ou outra doença dermatológica crónica do que com sequelas de napalm.

  • A narrativa do fotógrafo (registo de um sobrevivente de napalm que ficou apenas com mãos brancas) é pouco verosímil clinicamente.

  • O objetivo pode ter sido produzir um símbolo visual de “crueldade colonial” para consumo internacional.

Portanto, a explicação médica mais provável é vitiligo ou ictiose

A explicação histórica mais plausível é que se trata de uma manipulação narrativa (ou mesmo encenação) feita pelo fotógrafo para reforçar a propaganda do PAIGC e do bloco soviético.

3. Pedimos ao ChatGPT, em português ( a IA dos pobrezinhos... que é por enquanto de borla) para fazer uma análise detalhada da fotografia em si (textura da pele, marcas visíveis, consistência com queimaduras vs. doenças dermatológicas). Aqui vai a resposta.

 Fiz uma análise cuidada da fotografia (link do blogue que me enviaste). Eis alguns pontos técnicos e médicos:

(i)  Textura da pele nas mãos

  • A pele aparece esbranquiçada, seca e descamada.

  • Não se observam cicatrizes espessas, retrações ou deformações, típicas de queimaduras graves.

  • O formato dos dedos mantém-se normal: em queimaduras profundas de napalm, é quase inevitável haver retracção cicatricial e perda de elasticidade.

(ii) Distribuição das lesões

  • Afeta principalmente o dorso das mãos, enquanto a face e os braços parecem poupados.

  • Isto é muito estranho para queimaduras de combate: o napalm adere à pele e espalha-se rapidamente, atingindo zonas expostas como a cara, pescoço e tronco.

  • A distribuição é muito mais compatível com vitiligo (que costuma atingir mãos, face, pés) ou ictiose/dermatite.

(iii) Consistência fotográfica

  • O contraste exagerado da foto (preto/branco) pode ter sido usado para acentuar o branco das mãos, criando um efeito dramático.

  • Nada indica lesões recentes; parecem condições crónicas e não traumáticas.

(iv)  Contexto político

  • A legenda sobre “vítima de napalm” não corresponde ao aspeto clínico real.

  • É altamente provável que tenha sido uma encenação ou interpretação manipulada pelo fotógrafo, István Bara, reforçando a narrativa de propaganda anticolonial.

Conclusão:

A fotografia não mostra sequelas de napalm, mas sim uma doença dermatológica crónica (provavelmente vitiligo). A explicação de queimadura é insustentável do ponto de vista médico e serve apenas a um propósito propagandístico.

4. Segue-se uma comparação lado a lado com imagens reais de queimaduras de napalm vs. vitiligo, para visualizar melhor as diferenças

 

Aqui tens um conjunto de imagens que ajudam a visualizar melhor a diferença entre queimaduras de napalm e alterações típicas de vitiligo:

  1. Primeira imagem: mostra uma vítima com queimaduras graves:  pele irregular, com áreas aparentemente destruídas e retrações visíveis, características compatíveis com lesões profundas por napalm ou substâncias semelhantes.

  2. Segunda imagem: retrata vitiligo nas mãos: manchas bem delimitadas, brancas e lisas, sem cicatrizes ou retrações.

  3. Terceira imagem: imagem histórica da Kim Phuc, a “Napalm Girl”, a menina do napalm, com queimaduras extensas acompanhadas de cicatrizes e áreas deformadas.

  4. Quarta imagem: outra representação de queimaduras de napalm, com textura visceral e evidente sofrimento físico. 

Comparação clínica

(i) Aparência das queimaduras de napalm

A ação do napalm envolve queimaduras profundas de segundo a terceiro grau, a temperaturas entre 800 e 1 200 °C, causando destruição extensiva da pele e dos tecidos subjacentes. Resultam frequentemente em escaras, ulceras, formação de queloides e contraturas, que impedem o movimento das articulações e deixam cicatrizes espessas e deformantes Wikipedia  Reddit.
  • Um testemunho histórico descreve vítimas com pele em “crosta púrpura”, ausência de orelhas ou lábios, olhos opacos — um quadro extremamente grave Reddit.

  • Vítimas como Kim Phuc passaram por anas de cirurgia profundas, com mobilidade reduzida, dor crónica e necessidade de tratamento durante dezenas de anos hrw.org | People.com | Wikipedia | The Guardian   l  Medium.

(ii) Aspecto do vitiligo

  • O vitiligo é uma condição autoimune crónica que destrói melanócitos, levando à formação de manchas bem delimitadas, lisas e esbranquiçadas, frequentes em mãos, pés, rosto e outras áreas expostas Wikipedia | MSD Manual | saafp.org.

  • Essas áreas não são doloridas nem apresentam cicatrizes; são simplesmente despigmentadas e se mantêm estáveis ou progridem lentamente patient.info | aafp.org.

  • Frequentemente aparecem em padrões simétricos, com bordas nítidas e ausência de textura alterada aafp.org.


Conclusão comparativa

CaracterísticaQueimaduras de NapalmVitiligo
Aparência
da pele

Cicatrizes espessas, deformações, retrações 

Manchas brancas, bem delimitadas, lisas
Textura / mobilidadePele rígida, retração, limitação de movimentoPele suave, sem alteração de textura

Tempo
de evolução
Lesões traumáticas
e agudas
Condição crónica, evolução gradual

A fotografia que mencionaste — mãos brancas, escamosas, mas com estrutura normal e sem sinais de cicatrização grave — corresponde muito mais às características do vitiligo do que a queimaduras de napalm.

Isso reforça a suspeita de que a legenda de “vítima de napalm” é, no mínimo, clinicamente questionável e possivelmente parte de uma encenação ou narrativa manipulada. (**)

(Pesquisa: LG | Assistente de IA / ChtaGPT) (Revisão / fixação de texto, negritos: LG)
___________________

Notas do editor LG:

(*) Vd.  poste de 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27179: Casos: a verdade sobre... (54): Napalm, fósforo branco e outros incendiários no CTIG - Parte I: O que diz a IA / ChatGPT

Guiné 61/74 - P27182: Felizmente ainda há verão em 2025 (30): A "política de terra queimada": a guerra peninsular (1807-1814) e a guerra colonial no CTIG (1963/74) - II (e última) Parte



PAIGC > "O Nosso Livro 2ª Classe".  Reprodução da Lição nº 8 - Morés, pp. 28-29. O manual era também um instrumento de propaganda e doutrinação política.  É óbvio que o PAIGC nunca poderia ter, a céu aberto, um tabanca no Morés (ou no Cantanhez ou no Fiofioli)....Mas a lição era também para ser "lida" pelos amigos suecos e outros... E quem elaborava estes manuais não tinha verdadeiro conhecimento do terreno nem da luta de guerrilha, procurando sobretudo glorificar o Partido (sic) e dar um retrato idealizado, heróico e até romântico da vida nas "áreas libertadas"...  

Sabemos, infelizmente, como eram "as escolas, os hospitais e os armazéns do povo" nas áreas sob controlo IN... Mas também sabemos que a guerra de contraguerrilha (ou antissubversiva) era implacável... A palavra de ordem era sempre, para nós, operacionais: (i) aniquilar o inimigo; (ii) destruir todos os seus meios de vida; e (iii) recuperar/ aprisionar a população sob o seu controlo... Como em todas as guerras, em todos os tempos...


Um exemplar deste manual escolar do PAIGC, "O Nosso Livro - 2ª Classe", foi-nos remetido em 2007,  pelo correio, pelo Paulo Santiago (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72).  O livro foi elaborado e editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)...  (Só faltava o SPM, quer dizer, o código postal.)

A  primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Não é novidade para ninguém que a Suécia (a par da Noruega,  Holanda e outros países da Europa do Norte) foi o país ocidental que mais apoiou o  PAIGC, durante a guerra de guerrilha, não só política e diplomaticamente, como em termos financeiros e logísticos  (nomeadamente, no campo da educação, saúde, alimentação, transportes e comunicação).

Foto: © Luís Graça  (2007). Todos os direitos reservados. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Na Guiné-Bissau, as queimadas faziam (e ainda fazem)  parte de uma prática ancestral: eram utilizadas sobretudo para renovar a fertilidade dos solos e criar novas zonas de pastagem para o gado. Era uma técnica agrícola comum em várias regiões de África, adaptada ao clima de estação seca e às necessidades das comunidades locais.

Todavia, durante a guerra colonial (e em especial entre 1963 e 1974), essa prática assumiu um carácter diferente. Tanto o PAIGC como o Exército Português recorreram à chamada “política da terra queimada”. 

Nada, afinal,  que não se tenha visto antes em outras guerras do século, ou até mesmo no passado (como a guerra peninsular, 1808-1814) (*).

No caso da Guiné, as práticas de "terra queimada", utilizadas pelos dois contendores,  incluíam:
  • Fogo posto no capim (ervas altas e secas), no tempo seco, dificultando a movimentação, aproximação e/ou ocultação do inimigo, eliminação de possíveis pontos de emboscada, etc ;
  • Bombardeamentos (recorrendo inclusive a bombas, granadas e balas  incendiárias) que destruíam aldeias, plantações e meios de subsistência (de um lado e do outro);
  • Criação de zonas devastadas para privar o adversário de apoio logístico e alimentar (por exemplo bolanhas, esconderijos, hortas ou pontas, poços, cais acostáveis, pontões, poços, linhas de telefone...);
  • Abate indiscriminado de gado vacum,  suino e caprino  bem como de todos os animais de criação (galinhas e até cães);
  • Destruição de culturas (mancarra) e de  todas as reservas alimentares (arroz) ...
Este uso da terra queimada teve consequências graves:
  • Ambientais e geográficas: destruiu importantes extensões de savana arbustiva, floresta e biodiversidade;
  • Sociais e demográficas: obrigou populações inteiras a deslocarem-se; riscou do mapa muitas tabancas (veja-se as cartas militares elaboradas na década de 50, antes do início da guerra; compare-se as tabancas que existiam e as que desapareceram com o início da guerra);
  • Económicas: dificultou a agricultura, com o abandono de bolanhas, e limitou a criação de gado, levando à desnutrição e à fome.

Algo que era uma prática tradicional de uso agrícola, já de si devastadora para o ambiente, com  degradação dos solos, etc.,  transformou-se, no contexto da guerra, numa estratégia militar destrutiva.

O uso do napalm (e/ou outras bombas incendiárias como o fósforo branco), por parte da FAP, terá sido limitado.   Contrariamente ao que aconteceu, por exemplo,  na Argélia e no Vietname... De resto, a escala era outra.

Mas também temos falado aqui pouco do tema, o uso de napalm e outras bombas incendiárias na Guiné, no contexto da política  de "terra queimada". 

O assunto está, de resto,  mal documentado e prestou-se no passado  (e ainda hoje) a relatos fantasiosos e propagandísticos.

 (i) Contexto histórico

O nosso blogue,
 outros testemunhos de antigos combatentes, bem como fontes académica reportam que tanto os guerrilheiros do PAIGC quanto as forças portuguesas recorriam ao fogo, tanto através de bombardeamentos aéreos (FAP) e artilharia  como pela queima deliberada de capim e vegetação seca, para dificultar as movimentações adversárias e destruir infraestruturas. 

O ataque a tabancas fulas, com balas incendiárias, por exemplo, era vulgar por parte do PAIGC no meu te,mpo (1969/71).
  
 
(ii)  Destruição de recursos e animais domésticos

Além das queimadas e bombardeamentos, tanto o Exército Português como o PAIGC recorreram a métodos que visavam privar o inimigo e as populações civis de recursos básicos.

Entre essas práticas destacavam-se:

  • abate indiscriminado de gado bovino, suino e caprino,além de criação doméstica ( galinhas, etc.) que representavam a riqueza e sustento das tabancas  (nas chamadas "áreas libertadas");

  • destruição de arrozais, "pontas" (hortas) e palmeirais,  pilares da subsistência alimentar;

  • O incêndio de celeiros e depósitos de arroz, essencial na dieta guineense.

(iii) Consequências imediatas
  • Fome generalizada, desnutrição: ao destruir  o gado e os alimentos, a guerra atingia diretamente os mais vulneráveis, mulheres, crianças e idosos;
  • Deslocações forçadas: aldeias inteiras foram obrigadas a abandonar as suas terras para procurar sobrevivência noutras zonas;
  • Colapso económico local: ao destruir os animais e colheitas, a base produtiva da sociedade rural guineense foi desmantelada.
(iv) Exemplos e relatos

Testemunhos de ex-combatentes portugueses e relatórios de operações como a Op Lança Afiada, lembram que as operações de “limpeza” incluíam não só a queima do capim, mas também o abate sistemático de animais e destruição de outros víveres, como arroz, deixando as tabancas devastadas.

Um antigo guerrilheiro do PAIGC relatou que muitas vezes, depois de uma ofensiva da tropa, regressavam às tabancas e encontravam os celeiros queimados e os animais mortos, como forma de pressão psicológica para afastar a população do apoio à guerrilha.

Nas memórias orais recolhidas em comunidades guineenses, ainda hoje se recorda o período da guerra como “o tempo da fome e do fogo”.
 

2. A Operação Lança Afiada (8–19 de março de 1969, Setor L1, Bambadinca)

(i) Contexto e Objetivos

Operação Lança Afiada foi uma das grandes operações de “limpeza” executadas pelo Exército Português no setor Leste (L1), região de Bambadinca, em março de 1969. Contou com cerca de 1 300 efetivos (incluindo oficiais, sargentos, praças, milícias e carregadores)  sob comando do coronel Hélio Felgas blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

O objetivo declarado era eliminar, capturar ou expulsar o IN (inimigo), aprisionar a população sob o seu controlo,  e também destruir os recursos de vida com os quais as populações ali se sustentavam, forçando seu retorno sob controle português.

(ii) Impacto sobre gado e arroz

Durante a operação, foram destruídas numerosas tabancas,  queimados arrozais e mortos milhares de animais,  incluindo gado e animais domésticos, como parte da estratégia de terramoto na subsistência.

(iii) Condições e consequências humanas

A operação decorreu sob calor extremo ( entre 39 °C e 44 °C à sombra, e até 55–70 °C ao sol) com os soldados frequentemente revoltados com as rações fornecidas (classificadas como "intragáveis"), gerando uma sede extrema e problemas alimentares sérios; após o segundo dia, muitos já não conseguiam comer, e havia sinais de desnutrição e esgotamento.

Muitos soldados foram evacuados:  110 foram retirados por desidratação, desnutrição, esgotamento físico ou stress psicológico.

(iv) Resultado tático e retaliações

Combatentes do PAIGC e populações civis conseguiram atravessar o rio Corubal juntamente com um mínimo de víveres  (como cães, porcos e galinhas), escapando da operação (não havia tropa na margem esquerda do rio, nomeadamente fuzileiros e paraquedistas, como tinha sido recomendado pelo cérebro da operação, o cor inf Hélio Felgas).

Além disso, conforme relatos posteriores, o PAIGC retaliou com flagelações, embora a distância e furtando-se ao contacto directo,  mostrando desse modo que a operação esteve longe de  neutralizar os seus bigrupos ( o número de baixas foi escasso face aos meios utilizados pelas NT). E dois meses e meio depois, em 28 de maio de 1969,  o quartel de Bambadincs, sede do BCAÇ  2852, foi atacado em força. 

Resumo sintético: abate de gado 
e destruição de arroz


Aspecto | Detalhes

  • Abate de gado e animais: morte em massa de bovinos e outros animais domésticos, visando destruir os meios de sustento das comunidades

  • Destruição de arrozais: arroz, celeiros e culturas queimadas, comprometendo gravemente a produção local de alimento. (Foram destruídas muitas toneladas de arroz.)

  • Condições extremas: altas temperaturas, rações de combate inadequadas, esgotamento e elevada necessidade de água resultaram em evacuações de soldados (cerca de 15%) .

  • Resposta do IN: populações fugiram com alguns dos seus parcos haveres, atravessando o Rio Corubal para a região de Quinara, e o PAIGC manteve, no essencial, a mobilidade e a capacidade de reação.

Conclusão

A Operação Lança Afiada, em março de 1969, foi um marco na guerra colonial e um exemplo claro de como a política de "terra queimada" se manifestou de forma devastadora. 

Ao dizimar  o gado e destruir dezenas de toneladas de arroz, as NT militares visavam desestruturar a base económica e alimentar das populações. 

De qualquer modo,  as dificuldades enfrentadas pelas NT,  aliadas à resiliência da guerrilha e população sob o seu controlo (estimada em alguns milhares) demonstraram os limites transversais dessa estratégia. Deixaram-se, de resto, de fazer  grandes operações como esta,  pelo menos no sector L1 e no meu tempo.

Tratou-se de uma operação onde se foi a lugares míticos (ou mitificados desde o início da guerra, como a mata do Fiofioli, junto ao Corubal), mas ninguém encontrou médicos e enfermeiras cubanas... Hospitais (?) de campanha, sim (ou melhor, pequenos postos e toscos postos sanitários),  mas já abandonados, uns meses antes. 

Destruíram-se muitas toneladas de arroz, mataram-se milhares de animais, queimou-se tudo o que era tabanca e "barracas"... 

Em contrapartida, houve 24 flagelações do IN, mas os guerrilheiros seguiram a regra básica da guerrilha: primeiro, retirar quando o inimigo, ataca: segundo, e quando possível, atacar, quando o inimigo retira...

 O autor do relatório, irritado, queria que os tipos do PAIGC se apresentasse de peito feito às balas e dessem luta...

O mais caricato (e hilariante, se fosse caso para rir) desta operação é que o pessoal deitou fora... as intragáveis rações de combate e desatou a comer... leitão assado no espeto!... E até poupou algumas vacas, que trouxe para os seus aquartelamentos...

Este é um cínico relato da dura condição da guerra da Guiné, vista pelo lado da hierarquia militar. O relatório tem a chancela do então Cor Hélio Felgas, já falecido como maj gen ref, Torre e Espada, considerado um dos mais brilhantes oficiais da sua geração.  

Tem  críticas veladas, se não mesmo picardias,  ao Comandante-Chefe, ao Quartel General, à Marinha e à Força Aérea...

 O seu relatório é uma peça de antologia.  Dizia-se que o Hélio Felgas sempre se batera ao lugar de Spínola. O desastre de Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, manchou a sua reputação.  O falhanço da Op Lança Afiada foi outra machadada no seu prestígio.  Tornou-se um azedo crítico do spinolismo. 

 
 (Revisão / fixação de texto: LG)
 
________________


sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27164: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (8): a pequena burguesia urbana guineense, de origem cabo-verdiana, na génese e desenvolvimento do PAI / PAIGC e do PAICV

 


Capa do livro de memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009), "Crónica da Libertação", Lisboa, "O Jornal", 1984, 464 pp. (Capa: de João Segurado segundo foto de Bruna Polimeni)

 Capa do livro  de Daniel dos Santos, "Amílcar Cabral:   um outro olhar" (Lisboa, Chiado Editora, 2014). Com a devida vénia ao blogue "Baía da Lusofonia"



1. Cremos que está por estudar o papel  dos  cabo-verdianos na colonização e administração da Guiné...A frase é dita com cautela: não somos especialistas nesta matéria, e muito menos na história do PAIGC, da Guiné-Bissau, de Cabo Verde...

Além de comerciantes, os "colonos" cabo-verdianos foram "ponteiros" (donos de pontas, pequenas explorações agrícolas nas zonas férteis das bacias hidrográficas, outrora postos comerciais...), mas também, um ou outro,  grandes proprietários agrícolas (produção de arroz), fabricantes de aguardente de cana,  donos de embarcações que faziam as ligações fluviais, pequenos e médios funcionários públicos (em áreas como a administração civil, o ensino, a saúde,  os correios, a banca, etc.).

Enfim, fizeram parte também da elite intelectual e social do território (por exemplo, foram dirigentes associativos), mesmo tratando-se  de uma pequena comunidade que nos anos 50/60 não devia ultrapassar as 1500 pessoas, mas que era maior e tinha mais importância do que a dos sírio-libaneses (*).

Com base no nosso blogue e e com ajuda da IA (Gemini, Perplexity, ChatGPT), vamos explorar  algumas  pistas e identificar alguns exemplos, sobretudo no século XX. 

É um pequeno contributo para a série "Os 50 anos da independência de Cabo Verde"(**), país lusófono a que nos ligam fortíssimos laços históricos e afetivos, tal como a Guiné- Bissau.
 
  • muitas famílias cabo-verdianas ocupavam empregos intermédios nas grandes casas comerciais (como a Casa Gouveia, do grupo CUF, a Sociedade Comercial  Ultramarina, do grupo BNU, a Barbosas & Cia, e Ed. Guedes Lda, e outras firmas de importação/exportação instaladas em Bissau e Bolama, incluindo as francesas SCOA e NOSOCO);
  • eram também funcionários administrativos (chefes de serviços, administradores, chefes de posto), bancários, professores primários, empregados dos correios, etc, nomeadamente em setores onde a oferta local guineense era muito mais reduzida devido às barreiras coloniais no acesso à educação ( até tarde, não havia ensino médio nem secundário no território).
  • este grupo  formava uma pequena burguesia urbana, com maior escolaridade, que servia de “almofada” entre os colonizadores portugueses e a maioria da população guineense;
  •  até 1961 o guineense ("não- assimilado") tinha o estatuto de "indígena", enquanto o cabo-verdiano era cidadão português; 
  • curiosamente não sabemos se os comerciantes sírio-libaneses, ou de origem sírio-libanesa, já tinham nos anos 50/60, a cidadania portuguesa; parece-nos que sim, pelo menos os já nascidos no território, face à legislação em então em vigor.

(i) Do colonialismo à resistência

Essa mesma camada social irá fornecer os primeiros quadros ao PAI (Partido Africano para a Independência) (até 1962) e depois PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde).

A família Cabral parece ser  o exemplo mais emblemático:

  • Juvenal Cabral (pai de Amílcar e Luís Cabral) era cabo-verdiano, professor primário na Guiné, teve numerosos  filhos )cerca de duas dezenas!), de, pelo menos, 3 mulheres);
  • os filhos Amílcar Cabral (engenheiro agrónomo e fundador do PAI / PAIGC) e Luís Cabral (primeiro presidente da república da Guiné-Bissau) vieram diretamente dessa pequena burguesia urbana,  escolarizada;
  • há um segundo meio-irmão de Amílcar Cabral, mais novo, que também já vimos referenciado no livro de memórias do Luís Cabral como dirigente ou militante do PAIGC, embora de 2ª linha (Tony Cabral ?);
  • as respetivas esposas também eram de origem cabo-verdiana: Ana Cabral (a segunda esposa de Amílcar Cabral); e Lucette Andrade, a esposa do Luís (era uma senegalesa, de origem cabo-verdiana, ou uma filha de pais cabo-verdianos, da ilha de Santiago, a viver em Dacar).
Fica.se com a ideia de que o PAI/PAIGC era, originalmente, um quase "negócio de família" (sob a liderança férrea, autoritária e centralizadora,  do engº Amílcar Cabral, o único que teve acesso ao ensino superior universitário na metrópole, o único teórico, o único estratega, o único diplomata, o único político, etc., do Partido).

Muitos dos primeiros militantes e dirigentes do PAI / PAIGC  (professores, pessoal de saúde, funcionários e comerciantes de origem cabo-verdiana, etc,.) tinham precisamente passado por esta experiência: servir o Estado colonial ou casas comerciais ( os verdadeiros "colonos") e acabar por romper com o sistema que os limitava social, profissional e politicamente.

  • Luís Cabralfilho de pai cabo-verdiano e mãe portuguesa (?), foi contabilista da Casa Gouveia, para onde entrou com uma "cunha" do irmão, conceituado engenheiro agrónomo formado no prestigiado ISA - Instituto Superior de Agronomia, da então Universidade Técnica de Lisboa.

  • Aristides Pereira  foi chefe da Estação Telegráfica dos CTT, e  o Fernando Fortes   o chefe da Estação Postal (na prática os "donos" dos CTT de Bissau, mesmo debaixo de olho da PIDE; se não mesmo "colaborantes" com a polícia política).


Há aqui uma contradição social  interessante:
  • por um lado, os cabo-verdianos foram peças-chave no aparelho colonial português na Guiné (quem eram os europeus que queriam vir para Guiné como administradores e chefes de posto professores, médicos, enfermeiros, bancários, empregados das alfândegas, dos correios,  das finanças, etc. ?)

  • por outro, a sua maior escolarização e contacto com ideias políticas (vindas de Lisboa, Dacar, Conacri,  Paris) deu-lhes ferramentas para enquadrar e  liderar o movimento independentista (não vamos discutir aqui a hegemonia do PAI/PAIGC e como foi conseguida);

  • essa é uma das razões porque o PAI / PAIGC se afirmou com uma liderança inicial fortemente cabo-verdiana, embora depois tenha procurado ampliar a sua base social de apoio (entre camponeses e trabalhadores urbanos guineenses, com destaque para os balantas, que foram os homens do mato. a "carne para canhão").


Faltam-nos dados biográficos e historiográficos, documentados, para identificar todos os "históricos" do PAI/PAIGC.

Uns eram cabo-verdianos ou de origem cabo-verdiana; outros  podiam ter ou não laços de parentesco, por sangue ou casamento,  com famílias cabo-verdianas.

 Ocorre-nos à memória  gente oriunda sobretudo da pequena burguesia escolarizada ou já com alguma qualificação profissiomal, que trabalhou quer na administração pública quer nas casas comerciais, vindo a desempenhar posteriormente funções de relevo, políticas e/ou e militares, no PAI/PAIGC

  • Domingos Ramos: nascido em Bissau, e, ao que parece, trabalhou como auxiliar hospitalar antes de fazer a tropa,. tendo frequentado o 1º Curso de Sargentos Milicianos da província, em 1959, com o nosso camarada Mário Dias); acabou por desertar, e passar pela Guiné-Conacri e pela China, regressando depois como comandante da Frente Leste;  iria morrer em combate em novembro de 1966, em Madina do Boé; tornou-se um dos primeiros "heróis da luta de libertação";
  •  João Bernardo “Nino” Vieira: eletricista, terá aderido ao PAI/PAIGC em 1960; rapidamente se tornou uma figura-chave na luta de guerrilha e também um "mito" ao olhos das NT (que o viam por todo o lado, dotado como Deus do dom da "ubiquidade"); depois da independência seria o primeiro-ministro no regime de Luís Cabral e, em 14 de novembro de 1980, liderou um golpe de Estado que acabou de vez com outro "mito", o da unidade Guiné-Bissau - Cabo Verde (as feridas entre guineenses e cabo-verdianos ainda hoje não estão saradas, 'Nino' foi o histórico carrasco da poderosa facção cabo-verdiana do PAIGC.

(ii) Contexto histórico e papel das casas comerciais como a Casa Gouveia

O "massacre de Pidjiguiti" (1959) teve forte ligação à Casa Gouveia: marinheiros e estivadores em greve muitos deles associados à esta casa comercial, foram repri­midos violentamente, desencadeando uma radicalização política no seio das forças nacionalistas e independentistas. Parece todavia ser um "mito" o papel do PAI (só mais tarde PAIGC)  e a transição definitiva para a luta armada.

Outros  exemplos podem ser apontados para  ilustrar  o duplo percurso de alguns pequenos e médios  quadros cabo-verdianos: inicialmente integrados nas estruturas coloniais,  aproveitando a sua formação e contactos (inclusive com outras diásporas cabo-verdianas) para organizar, enquadrar e comandar a luta política e depois militar contra o domínio português.
 
(iii) Esquema cronológico com o papel dos cabo-verdianos na Guiné

Embora nos faltem muitos detalhes, pode-se dizer que a presença cabo-verdiana na Guiné foi ao mesmo tempo um pilar do sistema  colonial português e viveiro de resistência (ou de "subversão", como dizem as autoridades portuguesas da época),  contradição que pode explicar muitas tensões (e proximidades) entre guineenses e cabo-verdianos, mesmo até hoje.

Uma linha cronológica pode ser organizada passando por:

  • chegada e papel dos cabo-verdianos no comércio e na administração (sécs. XIX-XX),

  • formação da pequena burguesia urbana ligada às casas comerciais (como a Gouveia),

  • a viragem para a luta anti-colonial  (a partir das independências na África Ocidental, mas também do ano-charneira de 1959),

  • e a passagem dessas figuras para a liderança do PAI / PAIGC.

Século XIX

  • Até 1800/50 : cabo-verdianos (sobretudo mestiços) atuam como "lançados", comerciantes e mediadores culturais entre colonos portugueses e populações locais da Guiné;

  • 1852/59:  Honório Barreto, de ascendência cabo-verdiana, governa a Guiné em nome de  Portugal, reforçando o comércio e a presença administrativa.

Final do século XIX – início do século XX

  • 1880/1920: expansão das “pontas” (pequenas propriedades agrícolas) e do cultivo de arroz por cabo-verdianos (e outros) fixados nas margens dos rios.

1900/1930: migração de professores, funcionários públicos, bancários e empregados comerciais cabo-verdianos para a Guiné; surge uma pequena burguesia urbana que ocupa cargos intermédios em casas comerciais (Casa Gouveia, Sociedade Comercial Ultramarina, SCOA, NOSOCO...), bancos, correios e ensino primário


D

écadas de 1930/40
  • Cabo-verdianos passam a constituir a maioria dos quadros intermédios da administração colonial (estima-se mais de 70% dos postos públicos).

  • Famílias como a dos Cabral, destacam-se:

    • Juvenal Cabral, cabo-verdiano, professor primário;

    • Os filhos Amílcar e Luís Cabral recebem formação escolar diferenciada, que lhes abre  caminho para os estudos superiores (Amílcar começa a escola, faz o liceu no Mindelo e consegue uma bolsa para ir para  Lisboa).

Década de 1950
  • A pequena burguesia cabo-verdiana cresce em importância nas cidades (Bolama, Bissau, Bafatá...);

  • 1956: fundação do PAI (Partido Africano da Independência) em Bissau, por Amílcar Cabral e outros, com forte núcleo inicial cabo-verdiano;

  • 3 de agosto de 1959: "massacre de Pidjiguiti", durante uma greve de estivadores ligados à Casa Gouveia (papel controverso do administrador cabo-verdiano António Carreira),


Década de 1960

  • 1961: primeiras ações armadas (o protagonismo ainda não é do PAI/PAIGC);

  • mobilização (clandestina) de militantes e simpatizantes do futuro PAIGC ( trabalho de sapa sobretudo de Rafael Barbosa);

  • 21 de janeiro de 1963: ataque, precipitado,  a Tite (que a propaganda do PAIGC transforma noutro "mito",  o início histórico da luta armada contra Portugal);

  •  Domingos RamosJoão Bernardo “Nino” Vieira e outros futuros "comandantes" formam-se na China.

Década de 1970
  • 1973: assassinato de Amílcar Cabral em Conacri;

  • 24 de setembro de 1973: proclamação  unilateral da independência da Guiné-Bissau alegadamente na região fronteiriça do Boé (uma encenação  com forte apoio logístico e diplomático de Cuba, Guiné -Conacri, Suécia, etc.)

  • Luís Cabral, cabo-verdiano, torna-se o primeiro presidente da Guiné-Bissau;

  • Antigos quadros da administração colonial cabo-verdiana passam a integrar o novo Estado, depois da saída dos portugueses em setembro de 1974; outros "retornam" a Cabo Verde, a Portugal, ou emigram,

Resumo interpretativo
  • Colónia → Cabo-verdianos eram funcionários, comerciantes e pequenos proprietários.

  • Nacionalismo → Essa posição intermédia deu-lhes acesso à educação, redes políticas e contactos (internos e externos) que permitiram a formação do núcleo dirigente do PAI / PAIGC.

  • Independência → Os descendentes dessa pequena burguesia (como a família Cabral) assumiram o comando político e estatal na nova Guiné-Bissau e em Cabo Verde.


Lista (exemplificativa) de militantes e dirigentes cabo-verdianos (ou de origem cabo-verdiana) do PAI / PAIGC

1. Amílcar Cabral

Filho de pais cabo-verdianos, nasceu na Guiné-Bissau. Formou-se engenheiro agrónomo em Lisboa e, em 19 de setembro de 1956 (data controversa), cofundou o PAI, depois transformado em 1962 no PAIGC, juntamente com Aristides Pereira, Luís Cabral, Fernando Fortes, Júlio de Almeida e Elisée Turpin (facto também por documentar com rigor).

2. Luís Cabral

Meio-irmão de Amílcar Cabral, também de origem cabo-verdiana, foi cofundador do PAI / PAIGC e tornou-se o primeiro presidente da Guiné-Bissau independente, em 1973/74.

3. Rafael Paula Barbosa

Nascido em Safim, filho de mãe guineense e pai cabo-verdiano,  participou na formação inicial do PAI, inclusive recrutando membros. Esteve a maior parte do tempo preso, sendo libertado por Spínola em 1969: exerceu ainda funções simbólicas no partido em determinados momentos críticos.

4. Comissão Nacional de Cabo Verde do PAIGC e a criação do PAICV

Após a fundação do PAI / PAIGC , foi criada em Cabo Verde uma comissão com cabo-verdianos como Pedro Pires, Abílio Duarte, Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva e Olívio Pires, membros do Conselho Superior da Luta, embora com atuação mais simbólica e clandestina em Cabo Verde (nunca guerrilha nas ilhas).

Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva e outros receberam formação militar em Cuba e na URSS antes de serem integrados como altos quadros militares nas FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo) do PAIGC. 

Mas os cabo-verdianos no mato, de armas na mão, na Guiné,  eram poucos, se os compararmos com os "internacionalistas cubanos": terão morrido 2  cabo-verdianos, contra 17 cubanos...

Em 20 de janeiro de 1981 será criado na Praia, Cabo verde,  o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV)... Diz-se hoje de centro-esquerda, de ideologia social-democrata, depois de ter aderido, em 1990, à "democracia multipartidária" (após a queda do muro de Berlim).

O PAICV nasceu da cisão com o PAIGC (e na sequência do golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, em Bissau, liderado por 'Nino' Vieira). O então Secretário-Adjunto do PAIGC (e  Presidente de Cabo Verde) Aristides Pereira tornou-se Secretário-Geral do PAICV.

5. Outros nomes entre os fundadores do PAI / PAIGC

  • Aristides Pereira:  posteriormente tornou-se presidente de Cabo Verde, foi um dos fundadores; de origem cabo-verdiana;

  • Fernando FortesJúlio de Almeida e Elisée Turpin: também mencionados entre os fundadores do PAI/PAIGC, com ligações à comunidade cabo-verdiana e à oposição ao Estado Novo.

6. Outros

Embora não sejam necessariamente cabo-verdianos, eram elementos da pequena burguesia escolarizada, incluindo professores e funcionários,  cedo integraram o PAI / PAIGC como quadros políticos, administrativos e militares. 

Exemplos como Domingos Ramos“Nino” Vieira, e Tiago Aleluia Lopes são sobretudo guineenses, mas surgiram da mesma estrutura social urbana onde muitos cabo-verdianos estavam presentes e interligados, o que ajudou à formação dos primeiros militantes e redes de ação.


Síntese em tabela
NomeOrigem / Vínculo Cabo-VerdianoPapel no PAI / PAIGC
Amílcar CabralPais cabo-verdianos, nascido na GuinéCofundador, líder intelectual e estratégico do PAIGC

Luís CabralIrmão de Amílcar, origem cabo-verdianaCofundador do PAIGC, primeiro Presidente da Guiné-Bissau

Rafael Paula BarbosaPai cabo-verdianoLigado à construção civil, recrutador inicial e dirigente simbólico
Pedro Pires, Abílio Duarte, Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva, Olívio PiresCabo-verdianos, fundadores do CNCVProcessos de mobilização e comando militar logo no início

Aristides Pereira, Fortes, Almeida, Irmãos Turpin
Cabo-verdianos (ou de origem cabo-verdiana) nos fundadores do partidoLegitimidade política e binacional da causa


(Pesquisa: Blogue | LG | Assistente de IA (Gemini, ChatGPT, Perplexity)

(Revisão / fixaçãod e texto, negritos: LG)

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Notas do editor LG:

(*) vd. poste 26 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27153: A nossa guerra em números (37): Colonos - Parte II: cabo-verdianos (uma pequena burguesia que, na Guiné, foi viveiro de militantes e dirigentes do PAIGC)