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sábado, 6 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25344: Reordenamentos Populacionais (4): Uma perspetiva mais "securitária", no final do mandato de Arnaldo Schulz: em março e abril de 1968, foram deslocadas e reagrupadas cerca de 3 mil pessoas do "chão balanta"

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT, s/d. Imagem da coleção do Alfredo Reis, ex-alf mil, hoje  veterinário, reformado, vivendo em Santarém.  Nesta imagem, retrata-se o com-chefe e governador-geral gen Arnaldo Schulz (o militar em primeiro plano, do lado esquerdo, ladeado pelo comandante militar, que era brigadeiro). A "nova tabanca" , reordenada, ainda tem casas com cobertura de colmo...

Foto: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Zona Oeste > Região do Óio > Sector 03(A) (Mansoa) > Porto Gole > Fevereiro de 1967 >  À despedida: em segundo plano, o  gen Arnaldo Schulz ao lado do piloto do helicóptero;  no banco de trás, duas caixas de cerveja, Sagres e Cristal; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e, à direita, o fur mil Viegas, do Pel Caç Nat 54,  com camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966.

Foto (e legenda) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Já aqui dissemos que nos 3 livros da CECA (Comissão para o  Estudo da Campanhas de África), sobre a atividade operacional no CTIG (de 1963 a 1974), não há qualquer referência a reordenamentos no primeiro (que vai até ao final de 1966, ou seja até meados do mandato do gen Arnaldo Schulz, como Com-Chefe e Governador do território) (*). 

É já só no final do mandato (1.º semestre de 1968), que aparecem as primeiras referências a reordenanentos, mas sempre associados a deslocamentos de populações, realojamentos, controlo, segurança, autodefesa... Ainda não é suficientemente explícito o binómio reordenamento populacional/desenvolvimento socioeconómico (que é uma marca spinolista). 

 Já no  livro 2 (1967-1970) há  cerca de 70 referências ao descritor "reordenamentos". No 3º (último) livro da CECA sobre a atividade operacional na Guiné (1971/74) são 63 as referências.

O brig Spínola assumirá funções, como Com-Chefe e Governador da Guinél, em 24 de maio de 1968, e logo em 3 de junho, na sequência de uma reunião no QG/CTIG, é publicada a Directiva n.° 2/68, que "ordena o estudo imediato da remodelação do dispositivo na área de Aldeia Formosa por forma a obter o rápido reordenamento e instalação das tabancas em autodefesa, respeitando o princípio da concentração de meios", a ser concretizada "antes da época das chuvas".

Em 30 de setembro, sai outra importante diretiva,   Directiva n.º 43/68 ("Porque o reordenamento das populações e a sequente organização das tabancas em autodefesa é um problema complexo e que requer técnica especializada, é determinado o seu estudo num dos departamentos do Gabinete Militar do Comando-Chefe "(...). E em 16 de outubro, a Directiva n.° 49/68 (Relações da Divisão de Organização e Defesa das Populações  com o CTIG e Autoridades Administrativas).

 No essencial, a doutrina do novo Com-chefe sobre sobre o assunto ("Reordenamento das populações e organização da autodefesa") é definida nesta época (1968/70).

Nesse 2.º semestre de 1968 saem dezenas de diretivas Directivas do Comandante-Chefe. Eis algumas das mais relevantes, por tema e número:

- Dispositivo (zona sul): números 1 a 6, 9, 10, 14, 15 e 40

- Defesa de Bissau - números 8, 16 e 21

- Operações - números 24, 25 e 35

- Contrapenetração: números 7, 22, 26 a 29, 32, 37, 52 e 54

- Remodelação do dispositivo: números 17, 20, 36, 42, 51 e 56

- Defesa das populações e autodefesa: números 39, 41, 43, 47 e 53

- Assuntos diversos: números 30, 45, 48, 57 a 59

- Reordenamento e defesa das populações: números 43 e 49

- Operações Psicológicas: "Alfa" e número 60


II. Nos últimos meses do mandato de Schulz, ainda em época seca (março e abril de 1968),  parece ter havido um incremento das deslocações e realojamentos de populações sobre controlo do IN ou sob duplo controlo, nomeadamente no "chão balanta", no Sector Oeste 3(A), Mansoa, e Sector Oeste 01, Bula.

Terão sido da ordem das 3 mil as pessoas deslocadas e regrupadas nos primeiros reordenamentos em construção na Zona Oeste (Enxalé, Bissá, Infandre, Braia, Rossum, Bindoro, Biambe).

Aqui fica um excerto do livro 2 da CECA (pág. 160): 

(...) "Para controlo e segurança das populações, estas foram reordenadas, segundo missões atribuídas aos Comandos de Sector.

Especialmente nos meses de março e abril de 1968, foram efectuadas operações para instalar as populações em reordenamentos. Em NEP, foram dadas instruções para que se organizassem as tabancas em autodefesa.

Com a finalidade de garantir a segurança das populações nos deslocamentos para núcleos reordenados, as NT executaram as operações:

  • "Fruta de Outono" (10 e 11Mar), na região de Calicunda, Sector 03(A), 247 elementos da população para Enxalé.
  • "Fruta de Outono II" (13 a 19Mar), na região de Calicunda, Sector 03(A), população das tabancas da área para Porto Gole e de Seé e Funcor (60 elementos) para Bissá.
  • "Baloiço Nocturno" (26Mar), recolhida a população (224) de Ponta de S. Vicente, Sector 01.
  •  "Espenda" (29Mar), recolhidos 14 elementos da população de Cã Cumba, Sector 03.
  •  "Uvas Douradas" (10 a 12Abr), das tabancas de Uanquelim, Claqueiala, Inquida e Nhaé, Secto 03(A) foram deslocadas para local de reordenamento 510 elementos da população.
  • "Mudança Volumosa" (15 a 18Abr), das tabancas de Nimane, Enchanque, Encorne, Contubó e Nhenque, Sector 03(A), foram evacuados 150 elementos da população para Infandre e Braia.
  •  "Romã Amarga" (22 a 24Abr), 500 elementos da população de Ansonhe, Sector 03(A), foram deslocados para o núcleo reordenado de Bissá.
  • "Mudança a Varrer" (22 a 24Abr), da região entre Polibaque e Bindoro, Sector 03(A), foram evacuados 330 elementos da população para Bindoro.
  •  "Ananás ao Jantar" (26 a 29Abr), das regiões de Enchugal e Bissorã para Rossum, Sector 03(A), foram evacuados 600 elementos da população.
  •  "Grande Pera" (29 e 30Abr), a população de Gambia e Birribaque, Sector 03(A), recolhida para Rossum.
  •  "Barrar" (24Abr), retirados da região de Claque, Sector 01, 190 elementos da população para Biambe. "(...)

III. A preocupação era então predominantemente "securirária", a avaliar pelo teor da Nota n° 2310,  de 29 de abril de 1968,  da 3ª Rep/QG/CTIG), que se reproduz  a seguir (Anexo nº 2,  Capítulo II - Ano de 1968)

Cap II - Ano de 1968 / Anexo n° 2 - Autodefesa das Populações

"Sobre o assunto acima referido encarrega-me Sua Ex", o Brigadeiro Comandante Militar de transmitir a V. Ex". o seguinte:

1. Ao lN é indispensável o apoio da população na obtenção de alimentos e informações e no recrutamento de novos combatentes.

Torna-se assim necessário e urgente isolar o lN das populações, continuando activa e persistentemente os trabalhos de reordenamento das populações da Guiné, já encetados por algumas unidades.

Antecipemo-nos em relação às populações que não colaboram com o lN. Disputemos-lhe as populações sob duplo controlo. Retiremos-lhe as que vivem sob o seu controlo.

2. O reordenamento pode fazer-se por agrupamento ou por dispersão. O agrupamento facilita o controle das populações duvidosas ou anteriormente afectas ao ln, mas tem como limite a capacidade de protecção das guarnições militares e as possibilidades de exploração local dos meios de vida.

A dispersão das populações fiéis facilita a cobertura do território com uma malha de tabancas capazes de detectarem a presença e os movimentos do ln, mas tem como limite a capacidade deautodefesa dessas tabancas.

Os Srs. Comandantes ajuizarão para cada caso a solução local mais conveniente, considerando aqueles limites, o grau de confiança das populações e a conveniência de reduzir as suas transferências.

3. O reordenamento das populações tem como finalidade o controlo e a segurança das mesmas.

O controlo obtém-se pelo enquadramento das populações pelas autoridades locais, militares, administrativas e policiais. Estas autoridades coordenam a sua acção nos problemas de influência recíproca através do CADMIL (Conselho Administrativo Militar).

Aquele enquadramento é reforçado e completado até aos maisn pequenos núcleos populacionais pelas autoridades gentílicas (régulos, chefes de povo, de tabanca e de morança).

As autoridades gentílicas devem ser escolhidas respeitando embora as tradições indígenas mas atendendo sobretudo ao seu prestígio, capacidade de chefia e lealdade à causa nacional.

Além do recenseamento, o controlo exerce-se sobre as actividades da população, os abastecimentos, os meios de transmissão e de informação, o armamento, etc.

Os Srs Comandantes promoverão que sejam adoptadas, em colaboração directa com as AA ou através do CADMIL, todas as medidas necessárias ao cerrado controle das populações.

4. O reordenamento tem de completar-se com a segurança das populações. Só a população defendida pode resistir às acções de intimidação e de força do lN. Não é possível, porém, destacar tropas para a protecção de todas as tabancas, nem concentrar todas as populações junto das guarnições existentes. Daí a necessidade de organizar em autodefesa as tabancas afastadas das guarnições militares.

5. Para sobreviverem, as tabancas têm de possuir a capacidade de resistência suficiente até ao seu socorro pelas NT ou por grupos móveis de tabancas vizinhas.

Para tanto, convém que estejam localizadas em zonas com condições de defesa, junto de um itinerário de socorro, picado e vigiado pela própria população, e que a sua organização do terreno e o seu armamento sejam tanto mais fortes quanto mais demorada for a chegada das forças do socorro.

Apesar disso, para uma resistência eficaz, não é indispensável que a autodefesa tenha armas idênticas às do lN (mort, mp, lgfog, etc.). A defesa usa-se para economizar meios e, por mais armas que tenhamos, o lN pode sempre reunir mais porque escolhe a tabanca e o momento de a atacar.

Contra os fogos lN, incluindo os de mort e lgfog, basta construir um espaldão à volta da tabanca e abrigos protegidos para o pessoal da defesa e população não válida.

Contra o assalto lN, é necessária uma cintura de rede de arame farpado com avisadores sonoros (garrafas e latas com pedras), batida eficazmente de posições de tiro de espingarda bem distribuida a toda à volta, granadas de mão e alguns dilagramas.

Contra a surpresa, uma vigilância permanente, noite e dia, com as sentinelas suficientes e a população laborando protegida pelos nhomens válidos com as armas à mão.

Contra a reunião de meios lN, há que responder com o socorro oportuno pelas NT ou por grupos móveis das tabancas vizinhas. Com efeito, quando o número de elementos válidos o permitir, poderá constituir-se, com o excedente da autodefesa, grupos móveis, de reacção ou de socorro, que procurarão envolver e cortar a retirada ao ln.

6. Tal como para o reordenamento, as populações têm de ser micialmente compelidas e depois insistentemente mentalizadas para a organização em autodefesa, até à sua adesão voluntária e colaborante pelo reconhecimento da eficácia do sistema, aliviando-se então progressiva e gradualmente a protecção directa pelas NT. Compelir, fazer e demonstrar depois.

7. Uma acção social bem orientada pode facilitar extraordinariamente o trabalho de mentalização das populações para a autodefesa, ganhando a sua confiança e tomando-as receptivas e colaborantes.

Assim, as tabancas em organização ou já organizadas em autodefesa devem ter a prioridade na assistência sanitária, educativa e económica a prestar pelas NT.

8. A autodefesa tem de acompanhar o reordenamento e começar desde já pelas populações mais colaborantes.

Para o efeito, cada Companhia poderá destacar uma força para junto de uma das tabancas fiéis e já reordenadas a fim de:

  • seleccionar o pessoal válido para a defesa;
  • distribuir armas e instruí-lo no tiro e na conduta da defesa;
  • de entre os mais aptos e de maior confiança, seleccionar os chefes de grupo e o responsável geral da defesa;
  • definir claramente as responsabilidades de cada um;
  • estimular a colaboração de todos e o prestígio dos elementos activos da defesa, em particular dos chefes com atribuição de poderes especiais, de armas melhores, etc.
  • instituir um sistema eficaz e, se possível secreto, de aviso e socorro;
  • mentalizar a população para a autodefesa e prestar-lhe toda a assistência sanitária, educativa e económica possível;
  • obrigar toda a população, com aptidões para tal, a participar nos trabalhos de organização do terreno, repartindo contudo as tarefas por forma a não afectar sensivelmente as suas condições de vida;
  • treinar com toda a população, até completa eficiência e automatismo, as medidas de vigilância, de alarme e de defesa.

A operação será depois repetida até à organização em autodefesa de todas as tabancas reordenadas.

9. Só às populações de confiança ou psicologicamente recuperadas se pode distribuir armas e munições sem o risco das mesmas serem entregues ao ln.

A protecção das populações duvidosas tem de ser feita pela guarnição militar mais próxima.

Em caso algum, as populações serão incluídas no perímetro defensivo das unidades. Poderão quanto muito, ser incluídas no seu perímetro exterior de vigilância, garantidos os campos de tiro do reduto da defesa e a saída fácil das forças de reacção.

10. Os Srs. Comandantes informarão o QG das tabancas em trabalhos de autodefesa, com a organização concluída e dos resultados obtidos.

11. A presente Circular adita as NEP-OP/CAP IV-l da 3a Rep/QG.

(Nota n° 2310 de 29 de Abril de 1968 da 3a Rep/QG/CTIG) (CECA; 2015, pp 260/263)

Fonte: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 2 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014, 604 pp.)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de abril de  2024 > Guiné 61/74 - P25341: Reordenamentos Populacionais (3): Na construção de casas usa-se, como vigas, as rachas de palmeira (de cibe, mas também de dendém) (Cherno Baldé, Bissau)

terça-feira, 23 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24335: Acção Psico-Social: algumas diretivas do Com-Chefe (1): Directiva 48/68 (Operações Psicológicas Alfa) e Directiva 60/68 (Campanha Psicológica de Recuperação)

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT, da coleção do  Alfredo Reis, ex-alf mil, CART 1690 (Geba, 1967/69). É veterinário, reformado, vivendo em Santarém. (*)

Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Informação selecionada e coligida pelo nosso colaborador permanente José  Martins, para a área da História Militar e Arquivos. É autor, entre outras, da série "Consultório Militar". É um dos históricos do nosso blogue. Tem mais de 460 referências. Nasceu em Leiria, em 5/9/1946. Vive em Odivelas. Trabalhou como contabilista. Está reformado. Serviu como Fur Mil Trms Inf, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, Junho de 1968/Junho de 1970).

Directiva 48/68 > Operações psicológicas Alfa  (**)


Generalidades

1.
 Os temas que se apresentam deverão ser adequadamente desenvolvidos e «personalizados» com elementos respeitantes a cada área, recorrendo, especialmente, a factos actuais. No Apêndice I a este anexo apresenta-se um exemplo elucidativo.

2. O CTIG deverá remeter ao GABMIL todos os elementos que possam auxiliar o desenvolvimento dos temas constantes deste anexo, a fim de serem utilizados na informação e propaganda radiofónica a conduzir.

3. Os temas difundidos na Directiva Propaganda n.° 1, do COMCHEFEGUINÉ, de 30SET68, deverão continuar a utilizar-se nas Op. Psic. Alfa. II. Temas a utilizar.

1. Visando preservar as populações sob nosso controlo:

a) A tropa portuguesa luta por uma Guiné melhor, onde todos tenham paz, progresso e bem-estar.

b) A tropa branca veio da Metrópole à Guiné ajudar os seus irmãos pretos a defender o seu chão contra os terroristas. Os pretos estão a combater juntamente com os dos brancos, contra os terroristas.

c) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão destruir os terroristas.

d) Os terroristas raptam as populações e obrigam-nas a trabalhar eles.

e) No chão da Guiné, portugueses pretos e brancos vão construir uma vida melhor.

f) Os terroristas trouxeram a guerra e querem a desgraça dos povos da Guiné.

2. Visando dissociar o binário Pop/In:

a)
 Os terroristas protegem-se com a população. Não se importam que a população sofra com os tiros e as bombas lançadas por causa deles.

b) Os terroristas enganam o povo com promessas que não são capazes de cumprir (concretizar no desenvolvimento do tema).

c) Os chefes terroristas estão vendidos aos estrangeiros que lhes fornecem armas. Querem vender a Guiné.

d) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.

e) Os chefes terroristas vivem bem, no estrangeiro, gastando o dinheiro do povo, enquanto que o povo sofre, na mata, com doenças e fome.

f) Os terroristas levam o arroz e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.

g) A tropa vai acabar com os bandidos para ganhar a paz e o bem-estar para o povo da Guiné.

h) Quem não quiser sofrer com as bombas dos aviões, com os tiros da artilharia e com a guerra, deve separar-se dos bandidos.

i) O pessoal que vive na mata tem muita doença; quando se apresenta, é tratado pelas autoridades, passando a viver melhor.

j) Quem quiser continuar a sofrer, fica com os terroristas na mata; quem preferir viver em paz, apresenta-se às autoridades.

3. Visando captar as populações sob duplo controlo:

a)
 Os terroristas estão a perder a guerra e, para esconder a sua derrota, prometem coisas que não podem dar. Nunca cumpriram o que prometeram.

b) O terrorista explora o povo. Rouba e nunca paga.

c) Os terroristas querem a confusão, para poderem roubar à vontade a terra, os bens e as mulheres de cada um.

d) Os terroristas só querem a guerra e a desgraça do povo da Guiné.

e) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.

f) Aqueles que vivem na mata, com os terroristas, têm má casa, más culturas e muita doença.

g) Os terroristas levam o arroz, as mulheres, os filhos e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.

Bissau, 29 de Outubro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro


Directiva 60/68  > Campanha psicológica de recuperação (**)

1. Como vimos afirmando, o aspecto de fundo de um «plano de contra-subversão» não se projecta no campo imediato da força das armas, mas sim no campo da promoção social e cultural das populações. 

Por outras palavras, a guerra da Guiné não se ganha pela força das armas, mas sim pela força da razão. E a razão conquista-se na medida em que a Província atinja um nível de bem-estar social que satisfaça os anseios imediatos das populações, anseios que lhes foram instigados pelo inimigo e que estão na base da sua propaganda, constituindo a sua principal força.

2. O nosso «plano de contra-subversão» visa a rápida consecução desse nível de bem-estar, que se traduz no slogan: UMA GUINÉ MELHOR. Se atingirmos esse nível de bem-estar em tempo útil, furtaremos ao IN a força da razão, e com esta as populações - objectivo final de «um plano de contra-subversão».

3. Dentro desta linha de pensamento, que está na base da orientação do Governo da Província - e que constitui a nossa principal «ideia-força» - é natural que o inimigo combatente e as populações da Guiné, presentemente desorientadas, se desequilibrem para o lado da razão, isto é, para o lado da nossa causa.

4. Neste pressuposto, torna-se absolutamente necessário rever o nosso procedimento à luz de nova conduta, agindo em conformidade com os princípios morais e civilizadores que estão na essência da nação portuguesa e informam a sua estrutura jurídica. 

Há que esquecer aspectos tristes do passado - para os quais, temos de reconhecer, também contribuímos - e restabelecer um clima de recíproca confiança entre portugueses metropolitanos e portugueses guineenses (autóctones), condição absolutamente necessária à recuperação da Província para a vida normal e pacífica. 

Há que saber perdoar, sendo generoso para com aqueles que, respondendo ao nosso grito de UMA GUINÉ MELHOR, desejem trocar o caminho da subversão pelo da paz e da ordem. 

Neste sentido, impõe-se lançar uma campanha de mentalização das Forças Armadas, autoridades administrativas e policiais, campanha que vai ser iniciada na presente época do Natal com a libertação de vários elementos inimigos presos na ilha das Galinhas, depois de devidamente integrados na actual linha de rumo. 

Torna-se necessário que as Forças Armadas, autoridades administrativas e policiais, e em especial a Divisão de Acção Psicológica do Comando-Chefe e a PIDE, orientem, desde já, o seu esforço de acção psicológica na linha de acção expressa na presente directiva.

Bissau, 17 de Dezembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro

[Revisão / fixação de texto / negritos, para efeotos de edição deste poste: JM / LG ]
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15619: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (5): Os nossos cartazes de propaganda

(**) Vd. poste de 1  de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13555: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (3) (José Martins)

sábado, 30 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20399: Historiografia da Presença Portuguesa em África (189): I Exposição Colonial, Porto, junho/setembro de 1934: fotogaleria do encerramento...









"Vários aspetos dessa memorável jornada de fé e vibração patrióticas: em cima, Irmãs Missionárias e Combatentes das campanhas das colónias; a seguir, D. João de Castro, conduzido sob o pálio e o carro da cidade do Porto; a frente do cortejo com figuração histórica; no disco, tocadores de marimbas; campinos do Ribatejo junto do sr. capitão Henrique Galvão, que concebeu, organizou e dirigiu o cortejo; o carro dedicado à província de Angola. Fotos ALVÃO.

Fonte: Ultramar - Órgão Oficial da I Exposição Colonial, (Porto),  nº 17, 1 de outubro de 1934, p. 8 (Diretor: Henrique Galvão). 

[Cortesia de Hemeroteca Digital, Câmara Municipal de Lisboa]



1. Temos já meia dúzia de referências no nosso blogue à Exposição Colonial do Porto (junho-setembro de 1934). Recorde-se aqui um excerto de um poste de um camarada nosso, portuense, o [ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAC 3880  (Zemba e Ponte de Rádi, 1972/74),  membro nº 780 da Tabanca Grande: 


(...) A grandiosa Exposição Colonial do Porto, ocorrida no Palácio de Cristal em 1934, deverá ter sido um ensaio geral para a (ainda mais grandiosa) Exposição do Mundo Português de 1940, em Lisboa. Ainda Salazar não tinha vergonha de chamar colónias às colónias.


Feita à imagem e semelhança de outras exposições coloniais realizadas em França, Inglaterra, Alemanha, etc., a Exposição Colonial do Porto de 1934 foi organizada por Henrique Galvão, esse mesmo, o do assalto ao paquete Santa Maria, que antes de ser um feroz opositor de Salazar tinha sido um seu fervoroso admirador.

A Exposição Colonial do Porto teve como finalidade, como facilmente se compreende, exaltar o orgulho imperial dos portugueses, supostamente portadores de um mandato divino de civilizar os povos primitivos sob seu domínio, e ao mesmo tempo consolidar o regime do Estado Novo, comandado pelo pulso de ferro de António de Oliveira Salazar. A exposição teve características idênticas às das exposições coloniais estrangeiras, a começar pela redução dos povos colonizados à condição de indígenas atrasados, cujo exotismo se procurava sublinhar. Para tanto, mostraram-se seres humanos trazidos das colónias ao público visitante, como se de animais do jardim zoológico se tratasse.

No caso da Exposição Colonial do Porto de 1934, a Guiné teve um papel de particular relevo, não necessariamente pelas melhores razões. Foi instalada uma "tabanca" de bijagós numa ilha de um pequeno lago existente nas imediações do Palácio de Cristal, onde pessoas seminuas eram exibidas ao público como se estivessem no seu ambiente natural. Ora o clima do Porto é consideravelmente mais frio do que o da Guiné. Nem quero pensar no frio que essas pessoas terão passado. (...) (*)


Portugal (continental, insular e ultramarino) tinha uma superfície superior a 2,168 milhões de km2, ultrapando o conjunto europeu formado pela Espanha (continental), a França, A Alemanha, a Inglaterra e a Itália (que não chegava aos 2,097 milhões de km2). Mapa organizado por Henrique Galvão (1895-1970) que, passadas duas décadas, começa a desiludir-se com o Estado Novo e entra em rota de colisão com Salazar. Ficaria mundialmente famoso pelo inédito assalto, em 21 de janeiro de 1961, ao paquete "Santa Maria". Terá sido o primeiro ou um dos primeiros atos de pirataria naval com motivação política, no séc. XX. Henrique Galvão e o seu comando renderam-se às autoridades brasileiras, no porto de Recife, em 2/2/1961, na véspera do início da guerra colonial em Angola.


Sobre a I Exposição Colonial Portuguesa, ver mais informação disponível na Hemeroteca Municipal de Lisboa (, dossiê digital organizado em 2014 para comemorar os 80 anos deste evento; destaque na introdução para o seguinte excerto:  

(...) "Discursando no Palácio da Bolsa (então Palácio das Colónias), [Henrique] Galvão terá afirmado: 'os homens da minha geração vieram ao Mundo dentro de um país pequeno. Felizmente vê-se que pretendem morrer dentro dum império'. 

"Esta ideia, de resto, serviu de mote ao famoso mapa 'Portugal não é um país pequeno', (ver aqui) concebido por Galvão no âmbito da Exposição e amplamente divulgado pelo Secretariado de Propaganda Nacional nos anos seguintes." (...)
____________



Notas do editor:

(*) Último poste da série > 27 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20389: Historiografia da presença portuguesa em África (188): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (4): "Portugueses e Espanhóis na Oceânia", por René Pélissier (Mário Beja Santos)

sábado, 16 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15623: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (41): o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor"

Dois comentários (*) de António Rosinha: 

[, foto à direita: emigrou para Angola nos anos 50, foi fur mil em 1961/62; saiu de Angola com a independência, emigrou para o Brasil e finalmente foi topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93; é um "ex-colon e retornado", como ele gosta de dizer com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem várias vidas para contar; é membro sénior da Tabanca Grande]: 


1. O impacto destes panfletos eram de uma ingenuidade tremenda, cujos efeitos pretendidos seria mínimo (*).

Talvez em conjunto com a política de Spínola da "Guiné melhor" ajudasse um pouquinho, nas cidades e vilas. Quem sabia ler no mato em português? Alguns chefes do PAIGC. Daí a tradução era ao gosto de cada um.

Em Angola havia uma comunicação oral multilingue através de rádio, comerciantes, administrativos, fazendeiros e mesmo militares brancos que já tinham sido nados e criados nos muceques e junto de sanzalas onde se falava africanês.

Daí o insucesso político e social redundante do MPLA, UPA e UNITA, só lá foram a ferro e fogo (30 anos).

Também os cabo-verdianos do PAIGC com o crioulo se perderam naquele labirinto étnico.
Amílcar Cabral ganhou em todos os campos, mesmo em Lisboa, mas não ganhou na terra dele.
Para mal dos guineenses, e dos angolanos de quem também era fundador do MPLA. Para mal, porque a guerra continua, é uma babilónia custa a entenderem-se.
...E parecia tudo tão fácil, em 1960!

2. Eu quando digo que em Angola tínhamos a "arma do domínio das línguas tribais", sei que na Guiné não havia essa arma.

José Câmara e Torcato Mendonça, na Guiné não havia essa arma nem nas mãos do "colon" metropolitano nem do "colon" cabo-verdiano (aí o maior fracasso de Amílcar Cabral e Luís Cabral, que de uma maneira ou outra não alcançaram o objectivo pessoal a tal UNIDADE Guiné-Cabo Verde).

Devido à "invenção" do crioulo, ninguém queria saber das línguas étnicas, muitas, e com reduzido número de falantes cada uma.
O que não acontecia em Angola, onde havia muitos milhares de falantes em etnias do tamanho de meio Portugal ou mesmo do tamanho de Portugal (bailundos)
E onde muitos brancos e mestiços nascidos ou residentes tinham que assumir naturalmente essas línguas, há muitos anos.

Ainda após a independência, na Guiné é necessário frequentemente tradutores/intérpretes para transmitir os discursos e palestras dos governantes em cada região.

Em Angola qualquer chefe de posto, comerciante, fazendeiro e muitos tropas, falavam uma e mais línguas.

Tive colegas de profissão, brancos e mestiços, que falavam corretamente duas e mais línguas, o que não era comum acontecer com os próprios chamados indígenas que só falavam a própria língua.

Claro que contra os canhões e morteiros russos e cubanos não há diálogo que funcione nem em balanta nem crioulo nem francês nem bailundo.

Mas para dissuadir naquele tempo as populações, fosse na Guiné ou em Angola, a melhor arma era usar a língua dessa população.

E essa arma das línguas foi usada em Angola em todas as frentes, governadores de distrito, comerciantes, pide e chefes de posto e militares, testemunhei ao vivo.

Mas também testemunhei na Guiné, pela boca do povo, que o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor". Ou seja,  o tal diálogo (e obras) com o povo, em crioulo/português, que se fosse nas línguas nativas, digo eu, o efeito desmultiplicava-se indefinidamente.

Era surpreendente a empatia das populações indígenas do interior de Angola quando contactadas por estranhos, na sua própria língua.

Era como se houvesse um efeito hipnótico, é a melhor maneira que tenho para explicar situações que vi.
E, em surdina para o PAIGC não ouvir, ouvi em Bissau, guineenses falarem de Spínola como se fosse alguém por quem podiam dar a vida.

Ainda haverá um dia algum guineense, escritor que escreva livremente, sem complexos aquilo que se passou do lado deles, sobre todos os pontos de vista, porque do nosso lado (ex-metrópole) já está ficando tudo bem esmiuçado para quem venha historiar. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15619: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (5): Os nossos cartazes de propaganda

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15619: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (5): Os nossos cartazes de propaganda

















Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT



Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do alf mil Alfredo Reis, que nos foi disponibilizado pelo seu amigo e camarada A. Marques Reis.

O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém. A seleção, a legendagem e a organização temática do álbum (cerac de 170 fotos) são do A. Marques Lopes. (*)

[ Na foto, à esquerda,  o Alfredi Reis e ao seu lado o Domingos Maçarico, em 2010]

2. Comentário dos editores:

Já agora, caros leitores, confiram estas imagens com as que já publicámos em tempos: trata-se da coleção de cartazes de propaganda do Fernando Hipólito,  um camarada que passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968, antes de ser mobilizado para Angola. Foi fur mil, CCAÇ 2544, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste de Angola, em Lumege. Está reformado da sua atividade de vendedor numa empresa de tintas de impressão.

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Nota do editor:


Postes anteriores:

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13102: Os Nossos Cartazes de Propaganda (4): Parte IV (Fernando Hipólito): Na mata (no CTIG dizia-se "no mato"...) só há fome e doenças...




Cartaz nº 12


Cartaz nº 13



Cartaz nº 14



Cartaz nº 15


Cartazes de propaganda das Forças Armadas Portuguesas, s/d, neste caso mais especificamente dirigidos a população que vivia "na mato" (na Guiné, dizia-se "no mato"), acentuando as virtudes da paz, sob o controlo das autoridadees portugueses, contra os males da "vida na mata" (doença, morte, terror imposto pelos "bandidos") ... Foram recolhidos entre 1969 e 1971, pelo nosso camarada Fernando Hipólito e por ele digitalizados. Tudo indica que tenham sido usados no TO de Angola. Na Guiné, aos novos aldeamentos chamavam-se "reordenamentos". E aos cartazes eram escritos em crioulo ou em português e crioulo.

Imagens: © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Estes cartazes pertencem à coleção do Fernando Hipólito [, foto atual à esquerda, ].

O Fernando passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968, antes de ser mobilizado para Angola. Foi fur mil, CCAÇ 2544, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste de Angola, em Lumege. Está reformado da sua atividade de vendedor numa empresa de tintas de impressão.

Estes cartazes foram recolhidos por ele entre 1969 e 1971, têm hoje um real valor documental e historiográfico. São documentos avulsos, que estamos a publicar ao longo de vários postes (*). Estetica e graficamente  eram, em geral, pobres. Não sabemos qual era a eficácia comunicacional destes cartazes: presume-se que fosse baixa. Eram provalmente feitos por gente em Lisboa que pouco ou nada comnhecida da realidade local...  O serviço de propaganda do exército tinha a obgação de fazer muito mais e melhor (*)

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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12986: Os Nossos Cartazes de Propaganda (3): Parte III (Fernando Hipólito): Soldados de Portugal!


Cartaz nº 7


Cartaz nº 8


Cartaz nº 9


Cartaz nº 10



Cartaz nº 11

Cartazes de propaganda das Forças Armadas Portuguesas, s/d, neste caso mais especificamente dirigidos à formação do combatente português, *a "mentalização" e "doutrinação"  bem como ao reforço da sua motivação para combater, "com as armas e o com o coração", já que o objetivio agora é "lutar pela paz" e às conquistar as  populações..... Foram recolhidos entre 1969 e 1971, pelo nosso camarada Fernando Hipólito e por ele digitalizados.



Imagens: © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



1. É provável que estes cartazes tenham sido mais usados no TO de Angola. Pertencem à coleção do Fernando Hipólito [, foto atual à esquerda, ].

O Fernando passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968. antes de ser mobilizado para Angola. Foi fur mil, CCAÇ 2544, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste de Angola, em Lumege. Está reformado da sua atividade de vendedor numa empresa de tintas de impressão.

Estes cartazes foram recolhidos por ele entre 1969 e 1971, têm hoje um real valor documental e historiográfico. São documentos avulsos, que estamos a  publicar ao longo de vários postes (*). Esteticamente eram muito mauzinhos, tal como de resto os cartazes da chamada "oposição democrática" que constestava o regime do Estado Novo (, mas aqui havia  a desculpa da escassez de meios e de sobretudo de liberdade de expressão e de organização...).

A eficácia comunicacional destes cartazes era baixa. Eram provalmente feitos por gente em Lisboa que nunca conheceu a trilogia "sangue, suor e lágrimas"... O serviço de propaganda do exército tinha a obrigação de fazer muito mais e melhor... Não o fez, por que as Forças Armadas Portugueses, ou melhor ou seus generais e almirantes,  tinham um "problema de legitimidade" a resolver.... e sobretudo porque  a "brigada do reumático" que controlava o aparelho político-militar em Lisboa, já não conseguia convencer a juventude do nosso tempo a "morrer pela Pátria", numa guerra que se travava longe de casa e que se arrastava há demasiado tempo, sem fim à vista, num contexto internacional de crescente isolamento e de desprestígio de Portugal...

Pessoalmente, o único slogan que eu ainda hoje recordo e que sou capaz de reproduzir, de cor,  vem do tempo da minha recruta nas Caldas da Rainha, em 1968: "Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto"...

No TO da Guiné, em 1969/71, bem como na metrópole, não tenho ideia nenhum de lhes ter posto a vista em cima, a estes cartezes dirigidos aos "soldados de Portugal"...

Era interessante descobrir a sua "autoria"... (LG)

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sábado, 12 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12970: Os Nossos Cartazes de Propaganda (2): Parte II (Fernando Hipólito): O Portugal pluricontinental e plurirracial

Cartaz nº 3


Cartaz nº 4


Cartaz nº 5



Cartaz nº 6

Cartazes de propaganda das Forças Armadas Portuguesas, s/d, dirigiiridos às populações, em geral, quer da metrópole, quer dos territórios ultramarinos, nomeadamente de África.  Foram recolhidos entre 1969 e 1971, pelo nosso camarada Fernando Hipólito e por ele digitalizados.

Imagens: © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. O Fernando Hipólito é guardou religioamente estas preciosidades, utlizadas na "guerra contrassubersibva" (*)

Neste caso são cartazes de propagannda  dirigidos às populações Angola, Guiné e Moçambique, mas metrópole, às famílais dos soldados e aos combatentes.,.. 

O Fernando Hipólito [, foto atual à direita, ] é o grã-tabanqueiro nº 650... Passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968. antes de ser mobilizado para Angola. Foi fur mil, CCAÇ 2544, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste de Angola, em Lumege. Está reformado da sua atividade de vendedor numa  empresa de tintas de impressão e tem, talvez por isso, uma particular sensibilidade para este tipo de suportes em papel, impreesos. Fes questão de partilhar a sua coleção connosco, pelo que lhe estamos gratos.

Estes cartazes foram recolhidos por ele entre 1969 e 1971,  têm hoje valor documental e historiográfico. São documentos avulsos, que vamos publicar ao longo de vários postes (*).

Pessoalmente, não tenho ideia de os ter visto no TO da Guiné, no meu tempo (1969/71), com exceção talvez do cartaz nº 3,

Todos os comentários dos nossos leitores serão bem vindos. Interessa-nos saber, por exemplo, em que TO (teatro de operações) e em que época foram usados... E como eram distribuidos. Nalgunas casos, e em particular na Guiné, a FAP espalhava panfletos, folhetos e outros documentos de propaganda, sempre em português e criuoulo, nalgumas das matas mais conhecidas onde o PAIGC controlava população (por ex., Morés, Choqumone, Tancroal, esclarece o antigo ten pilav António Martins de Matos, BA 12, Bissalanca, 1972/74).