quinta-feira, 18 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19988: (Ex)citações (356): A Exposição Colonial do Porto, 1934: a balanta Rosinha, com os seus seios ao léu, foi capa de revista, num tempo e lugar em que nenhum jornal ou revista se atreveria a mostrar uma mulher branca de mamas à mostra... (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880, Angola, 1972-74)



Capa da "Civilização: grande magazine mensal", Porto, 1928-1937 (Direção de Ferreira de Castro, e Campos Monteiro) > Exposição colonial portuguesa, 1934: a Rosinha Balanta, fotografada pelo portuense por Domingos Alvão (1872-1946). Exemplar da coleção de Mário Beja Santos (2017) . [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário de Fernando de Sousa Ribeiro ao poste P17782 (*):

[ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 (Zemba e Ponte de Rádi, 1972/74), do BCAÇ 3880; é licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; vive no Porto; está reformado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018, sentando à nossa sombra do nosso poilão nº lugar nº 780.]

A grandiosa Exposição Colonial do Porto, ocorrida no Palácio de Cristal em 1934, deverá ter sido um ensaio geral para a (ainda mais grandiosa) Exposição do Mundo Português de 1940, em Lisboa. Ainda Salazar não tinha vergonha de chamar colónias às colónias.

Feita à imagem e semelhança de outras exposições coloniais realizadas em França, Inglaterra, Alemanha, etc., a Exposição Colonial do Porto de 1934 foi organizada por Henrique Galvão, esse mesmo, o do assalto ao paquete Santa Maria, que antes de ser um feroz opositor de Salazar tinha sido um seu fervoroso admirador.

A Exposição Colonial do Porto teve como finalidade, como facilmente se compreende, exaltar o orgulho imperial dos portugueses, supostamente portadores de um mandato divino de civilizar os povos primitivos sob seu domínio, e ao mesmo tempo consolidar o regime do Estado Novo, comandado pelo pulso de ferro de António de Oliveira Salazar. 

A exposição teve características idênticas às das exposições coloniais estrangeiras, a começar pela redução dos povos colonizados à condição de indígenas atrasados, cujo exotismo se procurava sublinhar. Para tanto, mostraram-se seres humanos trazidos das colónias ao público visitante, como se de animais do jardim zoológico se tratasse.

No caso da Exposição Colonial do Porto de 1934, a Guiné teve um papel de particular relevo, não necessariamente pelas melhores razões. Foi instalada uma "tabanca" de bijagós numa ilha de um pequeno lago existente nas imediações do Palácio de Cristal, onde pessoas seminuas eram exibidas ao público como se estivessem no seu ambiente natural. Ora o clima do Porto é consideravelmente mais frio do que o da Guiné. Nem quero pensar no frio que essas pessoas terão passado.

O grande êxito da exposição foi, sem sombra de dúvida, uma moça balanta de seios descobertos, a Rosinha, que deve ter povoado os sonhos eróticos de muitos homens do Porto. Além da Rosinha, teve também bastante sucesso entre o público um menino guineense que andava completamente nu, o Augusto. Mas a balanta Rosinha é que foi a grande sensação da exposição. Multidões acorreram ao Palácio de Cristal para verem ao vivo as mamas da Rosinha, além da pilinha do Augusto. Até capa de revista a Rosinha foi, com os seus seios ao léu. É claro que, naquele tempo, nenhum jornal nem nenhuma revista se atrevia a mostrar uma mulher branca de mamas à mostra, mas como a Rosinha era negra, já podiam mostrar...

Há poucos anos, encontrei na internet um blog com uma vastíssima coleção de imagens da Exposição Colonial do Porto. Dezenas e dezenas de imagens, para não dizer centenas. Não consigo voltar a encontrar esse blog. O que encontrei foi uma página de um outro blog, que faz uma referência mais resumida à exposição, mas que mesmo assim já consegue ser muito elucidativa. É a seguinte:

Porto, de Agostinho Rebelo da Costa Aos Nossos Dias > 23 de setembro de 2013 > Diverimentos dos portuenses, IX.

Também encontrei o seguinte trabalho académico:


2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há aqui escrevemos em tempos que reproduzir hoje, num blogue como o nosso, uma imagem vomo esta, a capa, de 1934, de uma revista como a "Civilização: grande mgazine mensal" (dirigida pelo escritor Ferreira de Castro, o autor de "A Selva", que chegou a ser proposto para o Prémio Nobel da Literatura...) pode ser objeto de "desconforto" e até de "censura social", para alguns do(ass nossos(asleitores/as... A fronteira entre a etnografia, a arte, o erotismo e a pornografia começa a ser estreita nas redes sociais, tal como o racismo, a xenofobia, a misoginia, a homofobia, ou o machismo...

Enfim, corre-se o risco de a nossa geração, a que fez a guerra colonial, ser acusada por outros "ismos" de... racista, xenófoba, misógina, homofóbica, machista...

No meu entender, temos que saber separar as águas: uma foto de 1934 não pode ser vista e avaliada à luz dos nossos critérios técnicos, estéticos e morais de 2019, 80 anos depois...

Por outro lado, o "pudor" não é só "natural" e "biológico", mas sobretudo "cultural" e "social", e varia de época para época...

Fernando Ribeiro disse...

Caro Luís,
À data da publicação deste número da revista "Civilização", o seu diretor não era Ferreira de Castro, mas sim um tal Dr. Campos Monteiro, Filho, que julgo ser Heitor de Campos Monteiro. É o que consta da informação fornecida por um alfarrabista de Lisboa (Livraria Castro e Silva) na sua página da internet: http://www.castroesilva.com/store/sku/1702JR072/civilizacao-exposicao-colonial-portuguesa-1934. Sobre Heitor de Campos Monteiro, a Wikipedia só tem uma página em... alemão! Está aqui: https://de.wikipedia.org/wiki/Heitor_Campos_Monteiro.