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terça-feira, 21 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27338: Casos: a verdade sobre... (59): Quatro mortos e treze feridos, e mais dois mortos do grupo do Marcelino da Mata: subsetor de Buba, 5 de maio de 1973 (Armando Ferreira, ex-fur mil at cav, CCAV 8353/72, Bula, 1973/74)


Armando Ferreira, ex-fur mil at cav, CCAv 8353/72 (Bula,  1973/74)


Foto (e legenda): © Armando Fonseca (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A propósito da emboscada que provocou 4 mortos e 13 feridos entre as NT, em 5 de maio de 1973, entre Dungor e Choquemone, a nordeste de Bula  (Carta de Bula. 1953 / Escala 1/50 mil), um dos quais foi o ex-1º cabo at cav J.j. Marques Agostinho (*), constatámos que há ainda pouca informação disponível sobre esta ocorrência. Para todos os efeitos, foi um revés para as NT, mesmo que tenha havido baixas prováveis do lado do IN.



1.1. Esta ação de 5/5/1973, é referida no livro da CECA, sobre a atividade operacional dos anos de 1971/74,  em termos sucintos:

Acção - 05Mai73

Forças dos Pel Mil 291, 293 e 341 (BCav 8320/72) realizaram patrulhamento conjunto com emboscada na região do Choquemone, 01-A. Tiveram três contactos com o ln, sendo o último à tarde, de que resultou no segundo, 3 mortos e 1 desaparecido do Pel Mil 293.

Naquela altura acorreram em auxílio forças de 1 Gr Comb / 1ª C/BCav8320/72 e 2 Gr Comb / CCav 8353/72, que realizavam um patrulhamento em Ponta Mátar, l Pel (-) / ERec 3432 e APAR (apoio de artilharia).

Quando as NF se dirigiam de Ponta Mátar para a região da emboscada, em Petabe, o 2° Gr Comb / CCav 8353/72 estabeleceu contacto com o ln em Bula 2H2.80, sofrendo 4 mortos, 5 feridos graves e 3 ligeiros.

Na batida feita posteriormente foram recolhidas peças de equipamento e fardamento, munições de armas ligeiras, géneros alimentícios e detida l mulher. O ln teve baixas prováveis comprovadas por grandes manchas de sangue.


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 300/301 (Com a devida vénia...).



O ex-fur mil at cav Serafim
 de Jesus Lopes Fortuna, natural
da Madalerna, V.N. Gaia,
mortoem 5/5/1973-
Fotograma do vídeo
"A ternura dos 20 anso",
do Armando Ferreira (2015)



1. 2. O Armando Ferreira, na altura furriel, e hoje um conhecido escultor e figura pública (nasceu em Alpiarca, a 14 de maio de 1951, e é membro da nossa Tabanca Grande desde 25/10/2015)  fez um emocionada homenagem aos seus camaradas de companhia caídos entre Dungor e Choquemone, por ocasião dos 42 anos da trágica emboscada, e ao mesmo tempo a denúncia de uma guerra insensata.  E, de entre eles, o seu camarada ex-fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos (tendo ambos feito a recruta e a especialidede na EPC, em Santarém).

O vídeo. "A ternura dos 20 anos"  está está disponível no You e no nosso blogue,  no poste P15291 (**)

Mais recentemente recebemos dele esta mensagem por email, em resposta ao nosso pedido de 
esclarecimento sobre a hora da emboscada:



Armando Ferreira
Data - Domingo, 19/10/2025, 19:34 

Caro camarada de guerra, a emboscada foi por volta das 15 e 30, 16 horas, fuso hprário de Bissau. 

Eu não usava horas e a situação não deu para isso, tínhamos pouco mais de um mês. 

Quatro mortos em emboscada e treze feridos, e mais dois mortos do Marcelino (da Mata).  Na mata do Choquemone, entre S. Vicente e Bula. 

Spínola e a sua equipa sabia o que ia acontecer, o seu propósito nestas situações era sempre idêntico, embora suas palavras para os governantes fossem muito diferentes. Vi e constatei coisas que me fazem dizer o que digo. 

Meu caro camarada, coloquei o furriel Fortuna na viatura. Ajudei os outros camaradas, fomos para Bula, ainda fui lavar os corpos, na capela, e depois tivemos de formar para ouvir o Grande Chefe: "Isto não foi uma derrota, mas, sim uma vitória, a nós dobram qualidades, aos outros faltam"...

Enfim,  a lengalenga do costume, o pessoal estava chorar como é natural mas o tipo deu uma chapada à pessoa errada que não era da nossa companhia. 

Bom estendi-me um pouco, ficamos assim camarada. Isto não valeu de nada.

 Um grande abraço 

Armando Ferreira

3. Comentário do editor LG:

Ficamos a saber que o gen Antónioi Spínola fez questão de estar presente em Bula, quartel de cavalaria, a sua arma, para homenagear os seus soldados acabados de ser "sacrificados no altar Pátria". Ficamos também a saber que nesta operação partiparam o Marcelino da Mata e o seu grupo (irregular), "Os Vingadores" (e que estes terão tido 2 mortes).

Enfim, seria importante ouvir outros testemunhos sobre estes acontecimentos (***).

(Revisão / fixação de texto: LG)

________________

Notas do editor LG:


(*) Vd. poste de 19 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27332: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (6) José João Marques Agostinho (Reguengo Grande, 1951 - Bula,1973): era 1º cabo at cav, CCAV 8353/72 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

domingo, 19 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27332: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (6) José João Marques Agostinho (Reguengo Grande, 1951 - Bula,1973): era 1º cabo at cav, CCAV 8353/72 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)





Guião da CCAV 8353/72 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)




Guiné > Zona Oeste > Regiãode Cacheu > Carta de Bula (1953) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bula, Binar, Capunga, Pete... E a nordeste, Choquemone, Pelabe, Dungor...O lourinhanense, 1º cabo at cav José João Marques Agostinho morreu entre Dungor e Choquemone,  no  dia 5/5/1973, sábado.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


I. Continuamos a reproduzir, com a devida vénia, alguns excertos do livro recente do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp.189-190. (*)




JOSÉ JOÃO MARQUES AGOSTINHO
(24.12.1951 - 05.05.1973)

Localidade do falecimento - Guiné
1º Cabo atirador cavalaria nº E – 151117/ 72
Naturalidade - Reguengo Grande
Local da sepultura - Cemitério do Reguengo Grande, Lourinhã



1. REGISTO DE NASCIMENTO

José João Marques Agostinho nasceu a 24 de dezembro de 1951, às vinte e duas horas e vinte minutos no lugar e freguesia de Reguengo Grande. 


Filho legítimo de Francisco Ribeiro Agostinho de 26 anos, casado e com a profissão de moleiro, natural de Roliça, concelho de Bombarral e de Maria Augusta Ferreira Marques de 21 anos de idade, casada, doméstica e natural de Reguengo Grande e domiciliados no lugar de Reguengo Grande. (...)


A declaração do registo de nascimento foi feita pelo pai, às dez horas do dia vinte e um, de janeiro de 1952 no Posto do Registo Civil de Reguengo Grande. Teve como testemunhas João Ferreira Marques, solteiro, maior, jornaleiro, Maria do Carmo Hipólito casada, doméstica e Narcisa Silva Boavida Rocha, casada, doméstica e todos residentes em Reguengo Grande.


O Registo foi lavrado, em substituição do Conservador, por Diamantina do Carmo Salvador, não tendo o declarante e as testemunhas assinado por não saberem escrever. Registo realizado a 21 de janeiro de 1952 na Conservatória do Registo Civil da Lourinhã

2. REGISTO MILITAR

Recenseamento: o José João Marques Agostinho foi recenseado pelo DRM 5 em 1969 com 18 anos. Solteiro, com a Profissão de Pintor de construção civil, tinha como habilitações literárias o exame do 2º Grau (4º classe do ensino primário).


Inspeção Militar: apresentou-se a 22 de julho de 1971. Tinha 1.57 de altura, pesava 68 kg. Foi “apurado para todo o serviço Militar”, tendo sido alistado na mesma data e sendo-lhe atribuído o Número mecanográfico: E – 151117 /72. 


A 2 de janeiro de 1973 marcha para Estremoz a fim de se apresentar no Regimento de Cavalaria 3, para onde foi transferido, para frequentar a IE/4º T/72, sendo colocado na CCAV 8353/72,  com o nº 1785/72 (OS 8). 

A 21 de fevereiro termina com aproveitamento a IE /4º T/72 (OS 84) e, a 25 de fevereiro de 1973, finaliza com aproveitamento e com a classificação de 15.30 valores a Escola de Cabos na especialidade de Atirador de Cavalaria (OS 48).

2.1. Comissão de serviço no ultramar, Guiné

Mobilizado a 26 de fevereiro de 1973, é nomeado por imposição para servir no CTIG, nos termos da alínea c) do artº 20 do Dec.49107, de 07.07.69, com destino à CCAV 8353 / RCAV 3 (OS 50).


Embarque: a 16 de março de 1973, pelas 07H00, fazendo parte da CCAÇ 8353, marcha para Lisboa a fim de embarcar para o CTIG por via marítima (OS 73). É promovido nesta data ao posto de 1º Cabo.


Desembarque: a 22 de março de 1973 desembarcou na Guiné, desde quando conta 100% de tempo de serviço.


Data do falecimento: 5 de maio de 1973.


Causas da morte: ferimentos recebidos em combate.


Local do acidente: Entre Dungor e Choquemone


Abatido ao efetivo: a 5 de maio de 1973 foi abatido ao efetivo da CCAV 8353 por ter falecido por ferimentos recebidos em combate.


Despacho do Comando Militar: 23 de maio de 73, por despacho do Exmo Brigadeiro Comandante Militar do CTI Guiné foram considerados como adquiridos em combate os ferimentos sofridos e que motivaram a sua morte em 5 de maio. (Nota nº 7372, de 30 de maio, SJD/QG/CTI Guiné).


Local da operação: Dungor – Choquemone


Tempo de serviço:1972, 69 dias.1973, 124 dias


Local da sepultura: Cemitério Paroquial de Reguengo Grande


Unidades onde prestou serviço: BCAÇ 8, 24.10.1972. RCAV 3, 03.01.1973


Contagem do tempo de serviço: 1972, 69 dias. 1973,124 dias

2.2. Registo disciplinar: condecorações e louvores

Medalha: segunda classe de comportamento (Artº 188º do RDM) é lhe atribuída em 24 de outubro de 1972

3. PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES AO ACIDENTE: ANOTAÇÕES E CONTEXTO

(No seu processo, consultado no AGE, não consta o Auto de Averiguações ao acidente que lhe provocou a morte.)


Fonte: Excerto de 


II. Até à data, o único representante do da CCAV 8353/72 na nossa Tabanca Grande é  o Armando Ferreira, ex-fur mil cav, ribatejano de Alpiarça, reconhecido artista plástico,  escultor e pintor (vd. página no Facebook).

IIa. Excerto da ficha unidade:

Unidade Mob: RC 3 - Estremoz
Cmdt: Cap Mil Cav António Mota Calado
Divisa: "Primus lnter Pares"
Partida: Embarque em 16Mar73; desembarque em 22Mar73 | Regresso: Embarque em 30Ag074

Síntese da Actividade Operacional


Após a realização da IAO, de 26Mar73 a 22Abr73, no CML, em Cumeré, seguiu em 23Abr73 para Bula, a fim de efectuar o treino operacional sob orientação do BCav 8320/72. 

Em 09Mai73, assumiu a função de intervenção e reserva do BCav 8320/72, com a sede em Bula e, a partir de 23Mai73, assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Bula, em substituição da 1ª Comp/BCav 8320/72. 

Em 16Dez73, destacou dois pelotões para realização dos trabalhos do reordenamento da Ponta de S. Vicente e promoção socioeconómica das populações.

Em 24Mar74, substituída pela 2ª Comp/BCav 8320/72, assumiu a responsabilidade do subsector de Pete, com destacamentos em Capunga, João Landim e Mato Dingal, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCav 8320/72.

Em 17Abr74, rendida no subsector de Pete pela 3ª Comp/BCav 8320/72, seguiu para Ilondé, a fim de ser integrada nas forças de reserva à disposição do Comando-Chefe, em substituição da 2ª Comp/BCaç 4516/73, tendo então efectuado escoltas a colunas de reabastecimento a Farim.

Em 29Abr74, foi deslocada para Bissau, a fim de reforçar o dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações e de manutenção da ordem pública, sob dependência do COMBIS, e onde se manteve até ao seu embarque de regresso.

Observações Tem História da Unidade (Caixa n." 107 - 2ª Div/ 4ª Sec, do AHM).

 Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 522.


IIb. Vídeo (11' 29'') do Armando Ferreira, nosso grã-tabanqueiro nº 704, disponível no You Tube > Armando Ferreira. Faz homenagem aos 4 mortos e 13 feridos da emboscada do dia 5/5/1073.


A CCAV 8353/72 veio substituirm en Bula,  a companhia do cap cav Salgueiro Maia, a CCAV 3420 (Bula, 1971/73). 

 Neste vídeo, de mais de 11 minutos, o Armando faz um emocionado e emociante relato do historial da sua companhia, declamando em "voz off" um dramático e longo texto poético, a que deu significativamente o título "A ternura dos 20 anos"...

O vídeo foi colocado no You Tube, 42 anos depois do "batismo de fogo" do Armando e dos seus camaradas, a trágica emboscada que a companhia sofreu em 5/5/1973, a nordeste de Bula, entre Dungor e  Choquemone, de que resultaram as 17 primeiras baixas da companhia, 13 feridos e 4 mortos (a seguir listados):

(i) fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos;

(ii) 1º cabo at cav José João Marques Agostinho, natural de Reguengo Grande, Lourinhã;

(iii) Sold at cav João Luís Pereira dos Santos, natural de Brejos da Moita, Alhos Vedros, Moita; e

(iv) Sold at cav Quintino Batalha Cartaxo, natural de Castelo, Sesimbra.

Mais tarde, em 4/11/1973, da mesma companhia morrerá, também em combate, Madaíl Baptista, natural de Carvalhais, Ponte de Vagos, Vagos. (Dados do portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar).

Esta ação de 5/5/1973, é referida no livro da CECA, sobre a atividade operacional dos anos de 1971/74, nos seguintes termos:

Acção - 05Mai73

Forças dos Pel Mil 291, 293 e 341 (BCav 8320/72) realizaram patrulhamento conjunto com emboscada na região do Choquemone, 01-A. Tiveram três contactos com o ln, sendo o último à tarde, de que resultou no segundo, 3 mortos e 1 desaparecido do Pel Mil  293. 

Naquela altura acorreram em auxílio forças de 1 GCombl /  1ª C/BCav8320/72 e 2 GComb  / CCav 8353/72, que realizavam um patrulhamento em Ponta Mátar, l Pel (-) / ERec 3432 e APAR (apoio de artilharia). 

Quando as NF se dirigiam de Ponta Mátar para a região da emboscada, em Petabe,  o 2° GComb / CCav8353/72 estabeleceu contacto com o ln em Bula 2H2.80, sofrendo 4 mortos, 5 feridos graves e 3 ligeiros.

Na batida feita posteriormente foram recolhidas peças de equipamento e fardamento, munições de armas ligeiras, géneros alimentícios e detida l mulher. O ln teve baixas prováveis comprovadas por grandes manchas de sangue.

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 300/301    (Com a devida vénia...).

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)
 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22198: Blogues da nossa blogosfera (159): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (4): Descrição das Operações realizadas na zona de Bula no dia 5 de Maio de 1973 (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)



Do blogue PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963-1974), que estamos a seguir e que é editado pelo nosso camarada José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML, do EREC 3432, que esteve em Bula, de 1972 a 1974.


DESCRIÇÃO DAS OPERAÇÕES REALIZADAS NA ZONA DE BULA – GUINÉ BISSAU

NO DIA 05 DE MAIO DE 1973


1 - A descrição dos factos ocorridos na Zona de Acção do Batalhão de Cavalaria 8320, sito em BULA (GUINÉ BISSAU) no dia 05 de Maio de 1973 foi em tempos motivo de publicação nas redes sociais e, a sua autoria atribuída ao então Capitão Salgueiro Maia.

Conhecendo bem Salgueiro Maia tendo tido oportunidade de com ele conviver desde 1965 na AM (Academia Militar), EPC (Escola Prática de Cavalaria) e, mais tarde na GUINÉ na qualidade de Comandante da Companhia de Cavalaria 3420 (Intervenção) colocados em BULA afirmei em comentário que mantenho e reitero:-

“ NÃO ACREDITO QUE SALGUEIRO MAIA SEJA O AUTOR DESTE ARTIGO “

“O MAIA pela sua conduta e serviços prestados na sua intensa actividade operacional não necessita de chamar a SI o protagonismo de uma Operação em que não teve intervenção, mas sim colaborou voluntariamente e de forma relevante no auxílio à recolha e evacuação de mortos e feridos”.

2 - Já este ano 2021 foi novamente publicado o mesmo texto acrescentando actividade em GUIDAGE.

Tomei a mesma posição acima descrita com a diferença de não me referir à actuacão de CCav 3420 quando da missão que lhe foi atribuída – ESCOLTAS para GUIDAGE (quando aguardava embarque por ter terminado a comissão) não porque dela não tivesse conhecimento.

Situação idêntica aconteceu ao então, também Capitão Infantaria Manuel Ribeiro de Faria. Se a elas me referisse, ou por aí enveredasse, teria que fazer referência a outros intervenientes que tiveram acções muito relevantes e, não esquecidas como tive oportunidade de o verificar pelo pedido de contacto telefónico de um camarada do meu curso Joaquim Reis (ao tempo Tenente e Comandante da Escolta de Segurança - Viaturas AML/PANHARD) por parte do hoje Coronel Manuel Ribeiro Faria.

3 - Em tempos tive oportunidade de fazer uma descrição dos acontecimentos numa página do Faceebook – AML/PANHARD e foi com alguma admiração que na sua transcrição/publicação é referido que “embora não tivesse o valor do que publicado em livro…………”.

Tal descrição (embora ligeira) teve única e simplesmente a intenção prestar a MINHA HOMENAGEM aos MILITARES da “METRÓPOLE” e naturais da GUINÉ-BISSAU que nessa Operação perderam a VIDA, foram FERIDOS e CAPTURADOS.

4 -Tendo plena consciência de que as interpretações variam com os observadores não envolvidos directamente (alguns sem conhecimento técnico-militar necessário e da situação) entendam fazê-lo “romanceando”; outros conhecedores das circunstâncias que conduzem a Operações desta envergadura, mas também desconhecendo tudo (informações, movimentação, indícios, etc, etc a que ela conduziu) decidam descrever com menos precisão a realidade.

Mesmo nestas condições o maior respeito quanto mais não seja por terem deixado uma referência a situações que NUNCA devem ser ESQUECIDAS.

Importa agora debruça-nos sobre as OPERAÇÕES realizadas no dia 05 de Maio de 1973 em simultâneo.


OPERAÇÃO GRANDE BURACO EM PONTAMATAR E OPERAÇÃO REALEZA NO CHOQUEMONE.

Não elaborando uma Ordem de Operações (que à época existiu) por forma a facilitar uma melhor e mais fácil compreensão (evitando terminologia militar com a qual nem todos estão identificados) não posso deixar de pontualmente a ter que utilizar.

1 - SITUAÇÃO GERAL

a. NT (Nossas Tropas)

Há época durante o período houve uma modificação sensível no dispositivo do Sector:-

Assim com a ida da CCav 3420 para BISSAU por haver terminado a Comissão de Serviço, a 1.ª CCav /BCav 8320 assumiu a posse do Sub-Sector de PETE destacando para os Destacamentos pertencentes a este Sub-Sector (PETE, CAPUNGA, JOÃO LANDIM), continuando os pelotões de Milicias em PONTA CONSOLAÇÃO E AUGUSTO BARROS.

Chegada da Companhia de Cavalaria 8353 (Intervenção) para rendição da Companhia de Cavalaria 3420.

b. IN ( Inimigo)

Neste período o IN mostrou-se particularmente activo aumentando os efectivos habituais nas suas bases/refúgios na Zona do CHOQUEMONE.

2 - SITUAÇÃO PARTICULAR

Em Março de 1973 assume as funções de Oficial de Operações do BCAV 8320 o então Tenente de Cavalaria Rui Santos Silva por designação do Comando do Batalhão.

Em Abril foram recebidas no Batalhão espingardas FN recondicionadas destinadas ao rearmamento dos Pelotões de Milícias.

Foram submetidas a verificação tendo sido detectadas diversas e frequentes avarias que na maioria dos casos não permitiam mais do que um tiro.

Seleccionadas as consideradas em condições foram distribuídas a um pelotão de 30 homens (Mílicias).

Quando da saída de qualquer força para qualquer tipo de acção o Comandante de Batalhão e Oficial de Operações estavam ser presentes podendo estar apenas um dependendo apenas efectivo e importância da missão.

Nesse dia coube ao Oficial de Operações que deparou com a seguinte situação. Pelas 03h00 (hora de saída) dos 30 homens do Pelotão de Milícias compareceram apenas 14 “armados” com paus de vassouras ou semelhantes. Situação resultante da desconfiança que as armas FN recondicionadas tinha provocado.

Decidi mandar abrir uma arrecadação e armar os 14 homens com o melhor armamento disponível acompanhando-os na missão.

Tratou-se da montagem de uma emboscada no CHOQUEMONE sem contacto. Retiramos do local efectuando uma pequena incursão pela zona do PETABE e HORTA DO ANANASES tendo sido recolhidos na estrada BULA – BINAR (junto a um local designado por Placa) por duas viaturas UNIMOG escoltadas por duas AML/PANHARD.

Uns dias depois sou informado pelo Senhor Comandante de Batalhão TENENTE-CORONEL ALFREDO FERREIRA DA CUNHA que nesse dia tínhamos sido observados por um Grupo do PAIGC (com efectivo de cerca de 150 homens) que só não reagiu dada a proximidade do Destacamento de CAPUNGA.

O efectivo normalmente presente no CHOQUEMONE era substancialmente mais baixo.

Tratava-se dum local de refúgio/base muito importante, um local de passagem para OESTE da GUINÉ com destino à CABOIANA e outros refúgios/bases ou para preparação de ataques a aquartelamentos do sector de BCav sito em BULA e, com alguma probabilidade a tentativa de aproximação a BISSAU fazendo a travessia no Rio MANSOA.

Equacionadas estas modalidades/intenções entendeu o COMANDO DO BATALHÃO actuar.

3 - MISSÃO

Executar acções tendo como objectivos as bases do IN no CHOQUEMONE e PONTAMATAR

À CCav 8353 atribuir a zona de PONTAMATAR. Designada por “OPERAÇÃO GRANDE BURACO”

Na zona do CHOQUEMONE actuação de tropas conhecedoras do terreno e com elevada experiência operacional. Designada por “ OPERAÇÃO REALEZA”

4  - EXECUÇÃO

OPERAÇÃO GRANDE BURACO

A CCav 8353 (a 2 pelotões) reforçada com um pelotão da 1ª CCav/BCav 8320 ( 1 ano de actividade operacional ) deslocou-se para a zona de PONTAMATAR cerca das 03h00 do dia 05 de Maio iniciando a actividade cerca das 07h00 que foi dada por terminada pelas 10h30. Não houve contacto com o IN.

OPERAÇÃO REALEZA

As informações do possível aumento dos efectivos presentes no CHOQUEMONE obrigaram ao planeamento de uma Operação de Grande Envergadura com Unidades que conhecessem muito bem a zona e tivessem grande experiência de Combate recorrendo aos Pelotões de Milícias sob a dependência do Batalhão, bem como à Companhia Africana sediada em BINAR.

A CCav 3420 comandada pelo Capitão Salgueiro Maia (ainda em quadrícula) estava a aguardar a ida para BISSAU por ter terminado a sua Comissão. A não ser em última instância é que o Comando do Batalhão a aplicaria na Operação.

Assim a missão foi atribuída aos Pelotões de Milícias 291, 293, 341 (a 35 homens cada) e à Companhia de Caçadores 17 (Africana) sita em BINAR com 2 pelotões posicionadas de forma a evitar uma possível incursão/acção sobre o Aquartelamento em Binar.

DESENROLAR DA OPERAÇÃO

Montado o dispositivo, cerca das 07h00 foram ouvidos alguns disparos e conjuntamente com o Comandante de Batalhão ( com quem me preparava para tomar o pequeno almoço) fomos de imediato para a Sala de Operações e do Posto Rádio – anexo à Sala – entrei em contacto rádio procurando saber o que se estava a passar.

O radiotelegrafista responde-me solicitando um instante porque se preparava para disparar sobre um elemento IN (elemento participante de patrulha de segurança ao Grupo IN acampado na zona).

De imediato ouviu-se um tiroteio de alguma intensidade fruto do contacto com o Pelotão de Milícias 341 (coord. Bula 5 B4.51) sem consequências para as NT. IN resultados desconhecidos. Pelas 07h30 novo contacto com IN desta vez com enorme intensidade em consequência da fuga para Norte do Grupo IN (em acampamento provisório com um efectivo calculado em cerca de +/- 100 elementos ) que deparou com o Pelotão de Milícias 293 ( coord. Bula 5 A4.64 ).

NT 03 mortos e 01 desaparecido e desmembramento do pelotão.

IN mortos prováveis e feridos confirmados.

Conseguiu-se novo contacto rádio e fui informado pelo radiotelegrafista que estava sozinho, mas avistando ainda alguns camaradas.

Informei-o de que se deviam dirigir ao SOL (Sul) e aguardassem recolha na Estrada para BINAR.

Com a concordância do Comandante do Batalhão foi solicitado o apoio ao ESQUADRÃO AML/ PANHARD para que se dirigisse à Estrada BULA-BINAR que de imediato se deslocou para o local.

Dado o distanciamento do Posto de Comando em BULA sugeri que fosse criado um Posto de Comando Avançado (PC 2), sito em CAPUNGA – aquartelamento de um dos pelotões da CCav 3420 a uma distância da área de acção de cerca de 3 km e, por decisão e delegação do Comando do Batalhão desloquei-me para o local onde permaneci até ao final da Operação.

Em coordenação com o PC 1 e, como conhecedor do posicionamento das NT (coube-me o planeamento da Operação com a aprovação do Comando) iniciei as acções necessárias por forma a ter uma noção o mais exacta possível das NT tendo como intenção o pedido de utilização da Artilharia o que se tornou impossível após os contactos já referidos e ao desmembramento do Pelotão de Milícias 293.

Pelo Pelotão 341 foi localizado o acampamento da Força IN ( entre as coordenadas Bula 5 B4.51 e Bula 5 A4.64 ).

Informando o PC 1 foi solicitado o apoio da Força Aérea (Fiat’s), mas como à época já era utilizado o míssil Terra-Ar STRELA a nossa Força Aérea dava apoio a 5.000 pés de altitude.

Chegados ao local estabeleceu-se dialogo com um dos pilotos a quem dei as coordenadas e me solicitou informação de que não haveria NT num raio de 3 Km em relação ao OBECTIVO.

Foi efectuado um único lançamento (penso de bomba de 750 libras) que foi observado no PC 2. Da eficácia falarei mais à frente.

Entretanto os contactos já com menos intensidade iam acontecendo havendo necessidade de reforços.

Assim pelas 10h30 da manhã o Comando do Batalhão deu por terminada a Operação GRANDE BURACO em PONTAMATAR e com o apoio uma vez mais do Esquadrão AML/PANHARD foram recolhidos na Estrada BULA – S. VICENTE com destino a CAPUNGA.

Pelas 13h00 compareceu em CAPUNGA o 2.º Comandante de Batalhão (MajCav César Monteiro) que recebeu a CCav 8353 comandada pelo Capitão Miliciano Calado.

O estado de espírito da Companhia depois de uma Operação que apesar de não ter tido consequências não deixou de ser o primeiro contacto com a mata e a realidade da Guerra não era o melhor para enfrentar uma situação de risco elevado. É tomada a decisão de um Grupo de Combate entrar em acção perto de um local denominado Horta dos Ananases.

Em situações desta natureza em que o IN se encontra “encurralado” é sabido que para se protegerem se aproximam das NT ou dos nossos Aquartelamentos procurando evitar a acção da Artilharia e Morteiros.

Também quando em retirada após emboscada nunca fugiam na perpendicular, mas sim para as zonas laterais (esquerda ou direita).

Cerca das 13h30 chega a CAPUNGA o Capitão Salgueiro Maia vindo de PETE (sede da Ccav 3420) que comandava. Atento, Solidário e Incapaz de se manter como observador veio fazendo jus à sua experiência operacional dar o apoio possível à situação que se vivia que se veio a tornar imprescindível e muito relevante.

Pelas 14h00 o Grupo de Combate da Ccav 8353 inicia o movimento para o local atrás indicado. A distância era pequena com pouca arborização e deparam com um Grupo com pessoal branco e camuflados idênticos aos nossos (NT).

Os segundos de hesitação e infelizmente a inexperiência foram fatais. Tratava-se de um Grupo IN que de imediato reagiu causando 04 mortos (1 furriel) e 08 feridos (05 graves).

IN com mortos e feridos prováveis.

O Capitão Salgueiro Maia foi com 2 Unimog’s resgatar os feridos e mortos. Procurámos por todos os meios fazer um garrote a um dos feridos, mas todos os esforços foram em vão.

Mais uma vez a Força Aérea esteve presente com 3 Heli-Canhões, mas nada puderam fazer.

A evacuação de feridos fez-se a partir da pista ou heliporto de BULA.

A OPERAÇÃO continuava e cerca das 16h30 novo contacto em Bula (Coord. A4.64) após entrada no acampamento (bombardeado pela Força Aérea) onde foram recolhidos peças de fardamento e equipamento, utensílios, diversos documentos, munições de armas ligeiras e acessórios de armamento.

Encontrados também muitos géneros alimentícios que foram destruídos e observadas grandes manchas de sangue.

Na ausência de evacuações pela Força Aérea da mata deslocou-se à zona integrado num Grupo de Combate o médico do Batalhão, Alferes Ribeiro que assistiu no local o ferido resultante do contacto acima referido. Com o aproximar do fim do dia foi decidido fazer regressar todos os efectivos empenhados dando como terminada a OPERAÇÃO REALEZA.

Pelas 18h50 BULA foi flagelada com 08 foguetões 122 com provável base de fogos localizada em Bissauzinho.

Reagimos com Artilharia 14, morteiros 10,7 e um Pelotão do Esquadrão AML/ PANHARD deslocou-se para a Estrada BULA – S. Vicente impedindo qualquer aproximação de BULA que só podia ser feita antes do km 4 ou após o km 10 ( do Km 4 ao Km 10 existia um campo de minas com 100 metros de profundidade ).

Todos os foguetões caíram na periferia do Aquartelamento provocando 05 feridos (graves) população e incendiando algumas tabancas.

À chegada ao aquartelamento em BULA tive conhecimento da permanência de uma Companhia de Paraquedistas ( enviada para reforço ), mas que não chegou a intervir.

Cerca das 0h00 fui acordado pelo Comandante de Batalhão para me deslocar novamente a CAPUNGA onde foi colocada a Companhia de Paraquedistas que aí pernoitou.

No dia seguinte 06 de Maio fomos visitados pelo Comandante do COP 1 (Coronel Paraquedista RAFAEL DURÃO), sito em MANSOA de quem o BCav 8320 dependia manifestando a sua admiração pela brilhante actuação do BCav e de todas as Forças empenhadas.

Autor
Rui Borges Santos Silva
Coronel de Cavalaria na Reforma (ao tempo Oficial de Operações do Batalhão 8320)
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Notas do editor

Poste anterior de 21 de Janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21792: Blogues da nossa blogosfera (147): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (3): Nos dias da guerra: As Panhard em Guidage (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)

Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22139: Blogues da nossa blogosfera (158): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (67): Palavras e poesia

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15331: Os nossos seres, saberes e lazeres (125): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (2)

1. Relembrando o que nos dizia a certa altura da sua apresentação ao Blogue o nosso camarada Armando Ferreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete, 1973/74):  

[...]
Nasci em Alpiarça e aos dez anos parti para Lisboa, aí estudei em escola de artes e trabalhei, e muito mais tarde regresso para ter espaço físico na realização com o meu trabalho.
Tenho dois filhos e dois netos, e estou disposto a fazer seja o que for para que a minha família e as outras, terem direito ao país onde nasceram e receberam a sua própria cultura, TER A VIDA COM FELICIDADE.
Sou escultor de profissão, o meu trabalho está entre o Realismo e Expressionismo e tenho neste Portugal muitas esculturas urbanas, representando: feitos, heróis, individualidades, conjuntos escultóricos de grande dimensão, alegorias etc.
Trabalho em pedra e em bronze. Estou representado em vários países.
[...]


Publicação do segundo grupo de fotos enviadas enviadas ao Blogue*:

Ao Senhor Jesus dos Lavradores


 Homenagem a Passos Manuel


Homenagem Nacional a Maria Lamas



Homenagem à Juventude




José Saramago - Azinhaga


 Marcolino Nobre - Rio Maior

O Oprimido
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Notas do editor

(*) Poste anterior de 3 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15321: Os nossos seres, saberes e lazeres (123): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (1)

Último poste da série de 4 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15324: Os nossos seres, saberes e lazeres (124): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15321: Os nossos seres, saberes e lazeres (123): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (1)

1. Dizia-nos a certa altura da sua apresentação ao Blogue o nosso camarada Armando Ferreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete, 1973/74):  

[...]
Nasci em Alpiarça e aos dez anos parti para Lisboa, aí estudei em escola de artes e trabalhei, e muito mais tarde regresso para ter espaço físico na realização com o meu trabalho.
Tenho dois filhos e dois netos, e estou disposto a fazer seja o que for para que a minha família e as outras, terem direito ao país onde nasceram e receberam a sua própria cultura, TER A VIDA COM FELICIDADE.
Sou escultor de profissão, o meu trabalho está entre o Realismo e Expressionismo e tenho neste Portugal muitas esculturas urbanas, representando: feitos, heróis, individualidades, conjuntos escultóricos de grande dimensão, alegorias etc.
Trabalho em pedra e em bronze. Estou representado em vários países.
[...]

O editor prometeu publicar as fotos recebidas, pequena amostra da arte deste nosso camarada. Este é o primeiro grupo, de dois, que recebemos.



Ao Ciclismo



Dr. Hermínio Paciência



Ao Povo de Alcanena




À Família Agrícola


À Liberdade - Estudo

À Liberdade




À Melhor Casta



À Solidariedade

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15317: Os nossos seres, saberes e lazeres (122): No meu tempo chamava-se Pão Por Deus, hoje chamam Halloween, não sei por alma de quem (Juvenal Amado)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15291: Vídeos da guerra (12): "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, ex-fur mil cav, CCAV 8353 (Cumeré, Bula, Pete, Ilondé, Bissau, 1973/74): uma emocionante e emocionada homenagem aos seus camaradas mortos e feridos, há 42 anos, no "batismo de fogo", em 5/5/1973, em Bula, em que "deixei de ser eu" (sic)


Vídeo (11' 29'') do Armando Ferreira, nosso grã-tabanqueiro nº 704, disponível no You Tube > Armando Ferreira.





Foto nº 1 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 2 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 3 > O fur mil at cav Armando Ferreira e mais furrieis na classe turística do navio que os levou, em março de 1973, até à Guiné

Foto nº 4 > O fur mil at cav Armando Ferreira



Foto nº 5 > P fut mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, morto em combate em 5/5/1973, mês e meio depois da companhia ter chegado ao TO da Guiné. Era um dos amigos chegados do Armando Ferreira: andaram juntos desde o primeiro dia, na recruta e especiliadade em Santarém, na EPC



Foto nº 5 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 6 > O fur mil at cav Armando Ferreira e camaradas


Foto nº 7 > Foto sem legenda...[Segundo o "olho clínico" do nosso amigo Cherno Baldé, esta foto deve deve ter sido "tirada entre junho a agosto de 1974, no período de euforia do pós-25A74, nela estão elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC"... Não se sabe o local.]

Fotos: © Armando Ferreira (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

1. O Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, foi fur mil cav, CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete (1973/74). 

Esta companhia não pertenceu ao BCAV 8320/72, era independente. Foi mobilizada pelo RC 3. Partiu para a Guiné em 16/3/1973 e regressou a 29/8/1974 (17 meses de comissão). Esteve em Bula, Pete, Ilondé e Bissau. Cmdt: cap mil cav António Mota Calado

Veio  substituir a mítica companhia do cap cav Salgueiro Maia, a CCAV 3420 (Bula, 1971/73).  Neste vídeo, de mais de 11 minutos, o Armando faz um emocionado e emociante relato do historial da sua companhia, declamando em "voz off" um dramático e longo texto poético,  a que deu significativamente o título "A ternura dos 20 anos"... 

O vídeo foi colocado no You Tube,  42 anos depois do "batismo de fogo" do Armando e dos seus camaradas, a trágica emboscada que a companhia sofreu em 5/5/1973, na região de Bula,  de que resultaram as 17 primeiras baixas da companhia, das quais 4 mortos:

(i) fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos;

(ii) 1º cabo at cav José João Marques Agostinho, natural de Reguengo Grande, Lourinhã;

(iii) Sold at cav João Luís Pereira dos Santos, natural de Brejos da Moita, Alhos Vedros, Moita; e

(iv) Sold at cav Quintino Batalha Cartaxo, natural de Castelo, Sesimbra.

Mais tarde, em 4/11/1973, da mesma companhia morrerá, também em combate, Madaíl Baptista, natural de Carvalhais, Ponte de Vagos, Vagos. (Dados do portal Ultramar TerraWeb).

As fotos acima reproduzidas foram recuperadas do vídeo.  Espero que o Armando nos ceda cópias das originais, com maior resolução (**).

Esta CCAV 8353 tem um um blogue em construção, editado pelo Nuno Esteves. Até
a data da entrada do Armando Ferreira na nossa Tabanca Grande não tínhamos qualquer referência a esta subunidade. Temos alguns camaradas do tempo do Armando, e do BCAV 8320/72, que estiveram em Bula como o Fernando Súcio, o Leonel Olhero ou o José Alberto Leal Pinto.

Não confundir este BCAV 8320/72 com o BCAV 8320/73, a que pertenceu por exemplo  o Nelson Henriques Cerveira (fur mil enf, CCS/BCAV 8320/73, Bissorã e Bissau, 1974).

O BCAV 8320/72 foi mobilizado pelo RC 3, partiu para o TO da Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve em Bula, sendo comandado pelo ten cor cav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Era composto,  para além da CCS, pelas seguintes unidades de quadrícula: 1ª C/BCAV 8320/72 (Bula, Pete, Nhamate e Bissau); 2ª BCAV 8320/72 (Bula, Nhamate); e 3ª C/BCAV 8320/72 (Bula, BIssorã, Catió, Pete).






Guiné > região de Cacheu > Bula > CCS/BCAÇ 8320/72 (Bula, 1972/74) > Casa dos geradores > O fur mil Olhero vendo os estragos causados por um míssil. O Leonel Olhero, ex-fur mil cav, e nosso grã-tabanqueiro, pertencia ao EREC 3432 (Panhard), 1971/73.

Foto: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Edição: CV]


2. Enquanto artista plástico,  e nomeadamente escultor, o nosso camarada Armando Ferreira tem participado em diversas exposições individuais e colectivas: Lisboa, Porto, Faro, Monsaraz,Torres Novas,  Alpiarça.  Está representado com obras em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Itália e Holanda. É também autor de cartazes, cenários interiores e exteriores para várias sessões comemorativas: festivais da canção infantil, encontros musicais, ilustração de livros infantis e designers for books. Tem diversas entrevistas, críticas e apreciações por nomes ligados á arte, publicadas em revistas, jornais nacionais, televisão e em várias obras literárias (Portugal e Espanha). (LG)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15287: Tabanca Grande (475): Armando Ferreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

(**) Último poste da série > 31 de outubro de  2012 > Guiné 63/74 - P10600: Vídeos da guerra (11): Sete anos no bacalhau em alternativa aos dois anos no ultramar: o filme A Outra Guerra (Portugal, 2010, 48')