Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 7 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23414: Blogpoesia (773): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (2)
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.
Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva
ERA AQUELA COMPANHIA
Parte I - (2/2)
Santos era o Sargento
Era um pouco desordeiro
Mas era excelente pessoa
E muito bom corneteiro.
Fernando Guerreiro Nunes
Outro Sargento então
Na CCS como nós
A cumprir sua Missão.
Sargento Alfredo António
Na Oficina a trabalhar
Como era bom mecânico
Punha os motores a roncar.
O Furriel Moreira
Era Rádiomontador
Fazia o que sabia
Mudava bem o transístor.
O Nunes era mecânico
E Furriel também
Com rajadas na bolanha
Vendo se tudo estava bem.
Como era mecânico de armas
Para ver se estavam zeladas
Mandava fazer ensaios
Tiro a tiro e rajadas.
O Furriel Garrido
Um militar verdadeiro
Não ligava puto à tropa
E era ele Enfermeiro.
Como era responsável
Lá naquela Enfermaria
O trabalho que era dele
Era eu que o fazia.
Furriel Guimarães
Aquele bom bracarense
Em Teixeira Pinto então
Na CCS Amanuense.
Era bom camarada
Todo o soldado dizia
Estivesse ou não de serviço
Ou mesmo de sargento dia.
O Aires bom Furriel
Brincalhão bem humorado
Cumpria bem seu dever
Andava por todo lado.
O Furriel Carvalho
Miliciano e bom
Era ele o responsável
Pela nossa alimentação.
No seu Depósito de Géneros
Onde ele tudo guardava
Quando mais nada havia
Na bolanha ele pescava.
Ele era bom brincalhão
Se podia desenrascava
Quantas vezes em canecas
O vinho que ele me dava.
O Furriel Ribeiro
Sapador a comandar
Nos mais variados serviços
Cumpriu bem a trabalhar.
Com serviços no Quartel
Sua equipa comandar
Com ele estive na Ponte
Quando a fomos guardar.
Coimbra N. Furriel
De Amanuense fazia
Era bom miliciano
Lá na nossa Companhia.
Até o Furriel Freitas
No Pelotão de Reconhecimento
Mais tarefas praticava
Sempre que tinha um momento.
Nosso Furriel Rodrigues
Comandava as Transmissões
Recebia e transmitia
Em várias ocasiões.
Furriel Miliciano Sena
Reconhecimento e Informação
E quando jogava à bola
O Sena era mesmo bom.
O Furriel Fernandes
Comandava secção
Como era Sapador
Na CCS era bom.
Também o Silva Rodrigues
Sapador a comandar
Em tantos e mais serviços
Cumpriu sempre a trabalhar.
Na CCS o Lima Pereira
Era outro Furriel
Lá em sua secção
Fazia bem seu papel.
Havia outro Amanuense
O Furriel Amaral
Pertencia à CCS
E como nós era igual.
O Furriel Almeida
No Reconhecimento lá estava
Procurando tudo aquilo
Que no Quartel faltava.
O Furriel Ferreira
Na CCS do Batalhão
Dizia o que mais sabia
Pois era da informação.
Depois de Oficiais e Sargentos
Muitos Cabos lá haviam
Uns que faziam tudo
Outros que nada faziam
Com Alferes e Tenentes
Furriéis muitos havia
Sargentos e muitos Cabos
E Soldados da Companhia
Gostando de falar da Tropa
Porque dela não esqueci
Numa espécie de brincadeira
Assim isto escrevi.
Foi escrito sem maldade
Com todos brinquei assim
Lembrei Oficiais e Sargentos
Tudo escrito por mim.
Tenho mais para escrever
Continuar na brincadeira
Pois lembrar bons Camaradas
Acho ser boa maneira.
É dos Cabos que vou começar
Depois passarei ao Soldado
Depois de fazer isto tudo
Dou meu trabalho acabado.
Parte um e parte dois
E como na Guiné dizia
Com o mesmo nome que dei
Era aquela companhia.
FIM DA 1ª PARTE
Segue com Cabos e Soldados
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23411: Blogpoesia (772): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (1)
terça-feira, 5 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23411: Blogpoesia (772): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (1)
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.
Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva
ERA AQUELA COMPANHIA
Parte I - (1/2)
Desembarcados no Cais
Quando ao Canchungo chegámos
E a terra da Guiné
a primeira vez nós pisámos.
Foi-nos dado uma Caserna
Para toda a comissão
Junto ao arame farpado
Bem pertinho da Prisão.
Eram tantas as mulheres
Pois havia a Tabanca à beira
Cada uma delas só queria
Ser a nossa lavadeira.
Havia muitas Bajudas
Lavadeiras para a farda
Todos escolhemos uma
Só para lavar e mais nada.
O Quartel conhecemos
Tudo quanto lá havia
Cantina, Casernas, Cozinhas
As camas onde se dormia.
Estava junta a CCS
a Companhia formada
dando início à missão
naquela terra azarada.
Comandava o Batalhão
Um Coronel porreiro
O Martiniano Gonçalves
Depois Aristides Pinheiro.
Guilhermino Militar
Um Major mal humorado
Só dizia não há figos
Era mau para o soldado.
Era Segundo Comandante
E por Vacas conhecido
Rabugento muito mau
Ele era destemido.
Tinha outro Major
Se chamava Milheiriço
Ameaçava tudo à chapada
Era Oficial castiço.
Deu uma chapada a um militar
E dessa cena quem viu
O soldado ficou de pé
E foi o Major que caiu.
O Nelson Santos
Como oficial era bom
Com nós em Teixeira Pinto
Onde era Capitão.
O Tenente Paulo Dias
Fazendo o que mais sabia
Por gostar de escrever
Era chefe de Secretaria.
Era Alferes de Transmissões
E disso bem ele sabia
O António S. Ferreira
Lá na nossa Companhia.
O Alferes Leite Faria
Oficial bem aplicado
A comandar a "ferrugem"
Andava sempre borrado
Foi sempre bem estimado
Era um Alferes verdadeiro
Trabalhava na oficina auto
Mas por fora era um lateiro.
Havia em Teixeira Pinto
Uma Igreja para a oração
Francisco da Costa e Silva
Era o Alferes Capelão
Era bom Capelão
E até a bajuda rezava
Passava o tempo connosco
E na Tabanca pregava.
Como era militar
Era nosso Capelão
Com eles todos rezavam
E a cantar era bom.
Maximino Vaz da Cunha
Alferes Médico Miliciano
E o Sargento Ajudante
Era o António Maria Mano.
Era o Alferes Lamares
Quase com a nossa idade
Ele também Miliciano
Chefe da Contabilidade.
Outro Alferes era o Corais
Com um pouco de mania
Era ele o Tesoureiro
Lá na nossa Companhia.
Bessa de Melo outro Alferes
Era Médico que mal o vi
Ele tinha a nossa idade
Por isso não o esqueci.
Alferes Miliciano Médico
O Maymone Martins então
Excelente militar aplicado
Tudo o que fazia era bom.
Como nós era Periquito
Mas com ele se aprendia
Grande Médico corajoso
Em tudo quanto fazia.
Era amigo e ensinava
E muito a gente aprendeu
Bom camarada e gentil
A malta não o esqueceu.
Com prazer tudo fazia
Fosse no Quartel ou não
As consultas que ele dava
Para todo o Batalhão.
Via e ouvia o doente
Quando estava a consultar
Depois fazia a receita
Para o doente tomar.
Companhia de Comando e Serviço
Lá na Guiné era assim
Era aquela companhia
Do principio até ao fim.
O Comandante da CCS
Aquele que mais dava a voz
Era o nosso Capitão
António Rodrigo Queiroz.
Era um Homem cumpridor
Como Oficial era bom
Zeloso com a Companhia
Um excelente Capitão.
Comandava muito bem
Pois exigia respeito
Gostava que todos cumprissem
Fazendo tudo bem feito.
O Alferes Vidal era forte
Dos Sapadores comandante
Punha-os a abrir trincheiras
Que faziam num instante.
No Reconhecimento o Sanches
Era Alferes entendido
Até de Oficial Dia
Ele era bem recebido.
Era a nossa CCS
Eram nossos oficiais
Em quem tanto confiámos
Pois eram todos iguais.
O Nosso Primeiro Mestre
A quem via dia a dia
Até altas horas da noite
Em sua Secretaria.
O Nosso Primeiro Mestre
Um homem bem educado
A todos tratava bem
Fosse Oficial ou soldado.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23406: Blogpoesia (771): "Amor e Vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887)
sábado, 4 de setembro de 2021
Guiné 61/74 - P22512: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XII: Alfredo Ambrósio Ferreira (Vila Real, 1893 - França, CEP, 1918), alf inf
Nome: Alfredo Ambrósio Ferreira
Posto; Alferes de Infantaria
Naturalidade: Vila Real
Data de nascimento: 7 de Setembro de 1893
Incorporação: 1916 na Escola de Guerra (nº 363 do Corpo de Alunos)
Unidade: 4ª Brigada de Infantaria, Regimento de Infantaria n.º 8
Condecorações: Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada (a título póstumo) | Cruz de Guerra de 2ª classe (a título póstumo) | Promoção a Tenente por distinção (a título póstumo)
TO da morte em combate: França (CEP)
Data de Embarque: 20 de Junho de 1917
Data da morte: 9 de Abril de 1918
Sepultura: (?)
Circunstâncias da morte: Na batalha de 9 de Abril, comandou o seu pelotão com valentia e acerto na 2ª linha, para onde recebera ordem para retirar, oferecendo tenaz resistência ao envolvimento inimigo eempenhando-se no combate com valentia até cair vitimado pelos fogos dos atacantes.
1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).
Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.
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Nota do editor:(*) Último poste da série > 15 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22457: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XI: Alberto Slva Matos, cap inf (Braga, 1879 - França, CEP, 1918)
domingo, 16 de setembro de 2012
Guiné 63/74 - P10390: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte VIII: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje
. Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 7 > Bar/Messe de Oficiais, possivelmente em dia de festa de aniversário: da esquerda para a direita, cap inf Parracho, alf Rodrigues, alf Cristina 8cmdt do 5º Pel Art) e alf Cunha. Tudo indica que a foto tenha sido tirada pel alf mil José Orlando Almeida e Silva.
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 27 > Uma alegre confraternização entre oficiais... No topo da mesa, o cap inf Parracho.
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Nota do editor
Último poste da série > 12 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10370: CCAÇ 3325,Cobras de Guileje (1971/73): Parte VII: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje
quarta-feira, 21 de março de 2012
Guiné 63/74 - P9634: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (8): Os Oficiais do Corpo do Estado Maior (CEM) no TO da Guiné em 1973/74 (Luís Gonçalves Vaz)
O CEM consistia num corpo, formado apenas por oficiais de elite, que recebiam uma formação especial para exercerem funções nos estados-maiores das grandes unidades do Exército Português.
A sua formação passou a ser feita na Escola Central de Oficiais - mais tarde, Instituto de Altos Estudos Militares. Ao receberem a sua formação, os oficiais abandonavam as suas armas de origem e ingressavam no Corpo de Estado-Maior.
O CEM foi novamente criado em 1938 e mantido até ao 25 de Abril de 1974. Pelo art.º 6º do Decreto 28.401 de 31 de Dezembro de 1937, passou a ter a seguinte constituição: 12 coronéis, 12 tenentes-coronéis, 20 majores e 40 capitães, num total de 84 efectivos. Considerado muito elitista, o corpo foi extinto a seguir ao 25 de Abril de 1974.
[Mais informação disponível em: http://www.cies.iscte.pt/projectos/ficha.jsp?pkid=433. ]
As tácticas e técnicas para este tipo de conflito foram” importadas” da Inglaterra, com base nos problemas ligados com a Malásia, o Quénia e a ameaça soviética. Segundo este oficial, os Militares Portugueses não foram surpreendidos em África, pois a partir de 1960 os oficiais do Corpo do Estado Maior já saíram com preparação para este tipo de Conflito não convencional.
Curso complementar do Estado Maior, 1958/59. Capitão Henrique Gonçalves Vaz com os camaradas, no Instituto de Altos Estudos Militares em 1959. O Tenente-coronel, Cunha Ventura é o oficial sentado á direita e o Coronel Henrique Vaz é o oficial de óculos a pé frente á porta, na altura capitão.
Apresentação de trabalhos no Curso do Estado Maior no IAM, curso de 1958/59, frequentado por dois oficiais do CEM, presentes no TO da Guiné em 1973/74, o coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz (CEM/CTIG) e o Tenente-coronel do CEM, Cunha Ventura, Chefe da 1ª Repartição do QG do CTIG nesse mesmo ano.
O coronel Henrique Gonçalves Vaz, como Chefe do Estado-Maior da RMP, acompanhando o Brigadeiro Comandante da Região Militar do Porto, Eduardo Martins Soares, na visita ao Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego no ano de 1971.
Nota de MR:
sexta-feira, 22 de junho de 2007
Guiné 63/74 - P1868: Força Aérea Portuguesa: Cor Pil Av Moura Pinto, um grande comandante, um grande líder (Victor Barata)
Foto: © Victor Barata (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem de Victor Barata (ex-Especialista da Força Aérea Portuguesa, MELEC de Aviões e Instrumentos de Bordo, Bissalnaca, 1971/73). Vive em Vouzela, onde é empresário.
O Grande Comandante! (1)
Camaradas, há personagens na nossa vida que, pela sua conduta, actos praticados ou simples acções, nos marcam para sempre.
Obviamente que nem todos nós podemos compartilhar da mesma ideia, mas uma das virtudes do ser humano é saber respeitar-se mutuamente.
A foto que te envio recorda um aniversário no Clube de Especialistas, na Base Aérea nº 12, em Bissalanca, em que os convidados eram ao comandantes da Base, o da esquerda, Cor Pil Av Moura Pinto, o da direita , Ten Cor Pil Av Lemos Ferreira.
Pois bem,vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas, sisudo,alto, magro com grandes qualidades humanas.
Isto passa-se no ano de 1973, quando entre Março e Abril, a nossa Força Aérea estava a perder Grandes Homens na frente de combate, companheiros do diaa dia que lutavam pela mesma causa que nós mas que o destino quis que partissem mais cedo: Ten Cor Pil Av Brito, Maj Pil Av Montovani e Furriéis Pil Av Baltazar e Ferreira (2).
A instabilidade estava instalada, o receio - principalmente em quem operava com aeronaves de pequenas velocidades - apoderou-se por se desconhecer o tipo de arma utilizada para abater os nossos aviões.
É nestas ocasiões que se distinguem os grandes COMANDANTES, o coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes na Base e, com a serenidade que lhe era virtude, foi dizendo (3):
Havia garantia de que a arma utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil. Em seguida afirmou ter duas certezas,uma fruto das suas convicções pessoais, outra, resultado da sua experiência como oficial.
A primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase: só é atingido pelo míssil quem tiver esse destino traçado. A segunda também se dizia em poucas palavras: ninguém pode ter medo do míssil, porque o piloto que vai voar com medo está mais vulnerável e acaba por ser atingido.
Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino:"A sorte protege os audazes". Estas afirmações no ambiente tenso que pairava na sala, tiveram um impacto extraordinário. Gerou-se uma descompressão colectiva, embora estivessem todos ainda apreensivos.
Faltava na sala o único piloto, furriel Santos, por se encontrar de serviço às operações. Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta, pedindo licença para falar. Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção. O comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura, o furriel Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um batalhão do Exército que tinha sido atacado. Vinha pedir instruções. Diz-lhe o Cor Moura Pinto:
-Responda que se vai fazer a evacuação. Mande preparar o helicóptero, quem vai fazer a evacuação sou eu.
Voltou-se para a assistência e perguntou:
- Meus senhores, quem quer colocar alguma questão? - Reinou o silêncio entre toda a gente.
- Se não têm perguntas, eu já disse tudo e, como há coisas mais importantes a fazer,vou-me embora. Foi fazer a evacuação.
O desfecho desta reunião teve um impacto fortíssimo no moral dos pilotos, o ânimo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios do medo natural.
Descanse em paz, meu COMANDANTE!
Victor Barata
__________
Notas de L.G.:
(1) Há uma outra versão publicada em 17 de Junho de 2007 > Blogue do Victor Barata > Especialistas da Base Aérea 12 (Guiné, 1965/74)
(2) Vd. post de 21 de Junho de 2007 Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)
(3) Fonte: A Força Aérea na Guerra de África, de Luís Alves de Fraga, Coronel da FAP na reserva. Lisboa: Editora Prefácio. Vd. blogue Fio de Prumo, de Luís Alves de Fraga
segunda-feira, 11 de junho de 2007
Guiné 63/74 - P1834: O Capitão de Op Esp Bordalo Xavier, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73) (Joaquim Mexia Alves)
1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves (1):
Caro Luis Graça
Li com atenção o último post sobre o encontro da CCAÇ 12 (2) e, se tivesse sabido antes(3), tinha lá dado um salto.
A sala de que fala o Vitor Alves, frequentei-a muitas vezes, aliás, para mim era a sala que eu frequentava nas minhas visitas a Bambadinca.
O Cap Bordalo Xavier, meu particularissimo amigo, é e foi na Guiné um homem de extraordinárias relações humanas, para além de um fantástico operacional, que conseguiu uma união notável com todo o pessoal, não só da CCAÇ 12 mas de outras unidades, como o meu 52.
Reside em Lamego, é Major, obviamente na reserva, e é a alma da Associação de Operações Especiais. Infelizmente há muito que não contacto com ele, mas quero fazê-lo brevemente.
Retenho na memória, há uns anos em Monte Real, eu estava ao fim da tarde a jogar ténis no campo à frente do Hotel das Termas e vejo para um carro e dele sair uma pessoa que me pareceu o Cap Bordalo.
Achei que não podia ser, mas roído pela curiosidade pedi desculpa ao meu parceiro e fui perguntar ao porteiro do Hotel quem era a pessoa que tinha chegado. A resposta deu como certa a minha suposição. Não o via desde a Guiné.
Imediatamente pedi ao porteiro que ligasse para o quarto e pedisse ao capitão para vir à rcepção por um motivo qualquer. Quando nos vimos, literalmente num abraço como que lhe peguei ao colo, (o Cap Bordalo Xavier é bem mais baixo do que eu, o que não é de espantar), e ficámos ali não sei quanto tempo abraçados.
O hall do Hotel estava cheio de gente que ficou muito espantada de me ver assim abraçado a um homem de barbas.
Foi dos encontros mais emocionantes da minha vida!!!
As histórias que tenho com ele e com a CCAÇ 12 nesse tempo....
Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3492 > 1972 > "No jeep. Da frente para trás: Alf Canas, Alf Novais, Alf Lima (Secretaria?), Alf Rodrigues (meu camarada de curso, também que era da CCS e veio depois para o Xitole, por troca com o Alf Gonçalves Dias se não me engano), Alf Martins (CART 3493, Mansambo) e eu" (4).
Foto e legenda: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados.
Outro assunto. Penso, a não ser que tenha havido dois Alf Mecânicos com o mesmo nome, seguidos em Bambadinca, que o Canas a que se refere o Vitor Alves era do BART 3873 e não do Batalhão que ele refere [, o BART 2917].
Se assim for, nalgumas fotografias que te enviei e publicaste, mormente em Bolama, ele está presente.
Estou a preparar um novo texto mas o tempo falta-me!!!
Abraço forte e amigo do
Joaquim Mexia Alves
_________
Notas de L.G.:
(1) Ex- Alf Mil Op Esp Joaquim Mexia Alves esteve na Guin, entre Dezembro de 1971 e e Dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa). Nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca). Ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, do Cap Xavier Bordalo.
(2) Vd. post de 11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1832: Convívios (15): CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971-73), 2 de Junho de 2007, Azeitão: o 34º encontro anual (Victor Alves)
(3) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1791: Convívios (11): 32º encontro da CAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73)
(4) Referências à CCAÇ 12 e ao Mexia Alves:
13 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P958: 'Gajos das tropas africanas eram doidos' (Joaquim Mexia Alves, CART 3492, Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15)
(...) "Quando estava no Pel Caç Nat 52, junto a Bambadinca, tinha uma forte ligação à CCAÇ 12, não só operacional mas de amizade com todos eles, especialmente o Capitão Bordalo e os seus Alferes, de que infelizmente neste momento não me lembro do nome de nenhum.
"Para além das operações e outras actividades que íamos fazendo, sobrava-nos tempo para algumas loucuras, resultantes de algum cacimbo e do cansaço provocado pelo stress permanente, e por alguma incompetência, de quem deveria ser competente.
"Entre algumas de que lembro, fomos uma vez à noite, o Capitão Bordalo Xavier, os seus Alferes e eu, armados até aos dentes, de Unimog jantar ao Xime, pela estrada de todos conhecida e que naquela altura só se fazia em coluna protegida, mercê das emboscadas que nela tinham acontecido.
"Quando regressávamos, num alarde a roçar a loucura, talvez também ajudados por uns uísques, parávamos na estrada, no sítio das emboscadas, e voltados para a mata, aliviámos as bexigas.
"Foi um momento hilariante, mas muito intenso, que nos uniu ainda mais na amizade e companheirismo" (...).
17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P966: O Mexia Alves que eu conheci em Bambadinca (António Duarte, CCAÇ 12, 1973)
(5) Vd. post de 30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1473: O álbum das glórias (6): A 'dolce vita' de Bolama (Joaquim Mexia Alves, CART 3492)
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1745: Eu e o meu capitão e amigo Guimarães, morto aos 29 anos, na estrada de Geba para Banjara (A. Marques Lopes, CART 1690)
Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.
Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Alf Mil A. Marques Lopes e o Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.
Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Alf Mil A. Marques Lopes e o Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.
Guiné > Zona Leste > Subsector de Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel C. C. Guimarães e o Alf Mil A. Marques Lopes, em diversas situações. O Marques Lopes era o seu braço direito.
Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.
1. Texto do A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968) .
Caros amigos e camaradas:
Eles morreram mesmo e ficaram longe do convívio dos seus familiares e amigos. Mas ficou a lembrança e, como este caso que vos trago, a pena do estúpida situação da sua morte (como referiu o Beja Santos em relação a outro caso) (1).
O capitão Manuel Carlos da Conceição Guimarães era do quadro de Artilharia. Nas circunstâncias do regime, tinha estado como tenente na esquadra da PSP do Calvário, em Lisboa, depois de ter feito parte da Companhia de Polícia Móvel que esteve em Bissau.
Nesses contextos da juventude formou a sua mentalidade. Rigidez ideológica, fidelidade cega aos desígnios dos mandantes da guerra, alheamento total dos problemas, sentimentos e ambições das populações no terreno. Completa incompreensão das razões da guerra, nem desejo algum de as tentar compreender. Muitos houve assim naquela fase (1967). Ao longo do tempo de guerra muitos foram dando, e penso que ele também teria mudado.
Mas eu fui amigo dele e acompanhei-o desde o princípio, fui o seu braço direito. Tive a incompreensão dos outros alferes, meus amigos de coração actualmente e eu deles (há 38 anos que nos encontramos - os sobreviventes - três vezes por ano, pelo menos, no Restaurante Colina, em Lisboa). Eles compreendem, agora, as razões dessa minha actuação, pala formação que eu tinha, pelos objectivos que queria conseguir.
O Guimarães foi promovido a capitão e mobilizado para a Guiné. Conhecêmo-lo em 4 de Dezembro de 1966, no RAL1, aquando da formação da companhia (CART 1690) e durante a instrução da especialidae no GACA2, em Torres Novas (de 6 de Dezembro de 1966 a 23 de Fevereiro de 1967).
Lembro-me bem que partíamos os dois, aos fins-de-semana, no Alfa Romeo Sprint Special dele até Lisboa. Loucuras, sem auto-estrada! Grandes noites na Cave, D. Quixote, Comodoro... A experiência dele na polícia abria todas as portas (as raparigas abraçavam efusivamente o Carlinhos).
Nas vésperas de embarcarmos no Ana Mafalda (2), fomos todos ao Comodoro. Um homem, já velho, que conhecíamos por ser frequentador, administrador de um banco qualquer (não me lembro), e que costumava jogar ao par ou ímpar com as raparigas (mostrava uma nota de mil e perguntava qual era o número - par ou ímpar? -, se uma dela adivinhava entregava-lhe a nota... e muitos jogos fazia), disse-nos assim: - Vocês vão para a guerra, para se portarem bem peguem lá - deu-nos várias notas de mil - e vão com estas cinco. - E fomos (alferes e capitão) e foi uma noitada. Era assim, a guerra estava paga.
Era bom homem, o Cap Guimarães. Filho de um Sargento-Ajudante, sobrinho da Beatriz Costa (estive com ele, depois, e chorou a sua morte), morreu aos 29 anos na estrada de Geba para Banjara, a 21 de Agosto de 1967 (3). Lamentou-se-me o pai, que me visitou, estava eu ferido no hospital, que o filho (solteiro) era o sustento de duas irmãs de 14 anos que andavam a estudar, e que a vida dele estava complicada.
Todos sofreram com esta guerra. Nós sabemos e há que lembrar aos outros que não sabem, ou não os fazem saber. Todas as imagens servem para lembrar, ou fazer ver.
Abraço
A. Marques Lopes
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 8 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1740: Há mortos que nunca se enterram (Beja Santos)
(...) Naquele dia [, 7 de Fevereiro de 1970, ] não tinha chegado o correio, de modo que subi a rampa para o quartel de Bambadinca a perguntar o que de tão extraordinário vinha naquela carta. À entrada do corredor, quando íamos almoçar, o Tenente Pinheiro deu-me o meu correio e, claro está, fui logo abrir o correio da Cristina. É de lá que sai a notícia necrológica que te envio, um verdadeiro coice que me atirou à parede, fui aos urros para o meu quarto, estupidificado a ver o Carlos Sampaio, li, voltei a ler, disse que era impossível, ontem chegara a sua carta cheia de promessas para o nosso futuro como editores. Lembro ainda a entrada no quarto do Abel Rodrigues (Alf Mil da CCAÇ 12) que conversou comigo. Lá me enxuguei e fomos almoçar" (...)
(2) Vd. post de 28 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVII: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (A. Marques Lopes):
(...) "Largámos às 12h00 do dia 8 de Abril de 1967. Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejectos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde (ao menos haja regras). Mas os "despejos" começaram logo à saída da barra do Tejo. Eu, pessoalmente, nunca tinha chamado tantas vezes pelo Gregório.
(...)" Às 16h00 do dia 15 de Abril de 1967 o Ana Mafalda chegou ao porto de Bissau. A 16 de Abril a companhia passou directamente do navio para LDGs e seguiu pelo Geba acima até Bambadinca" (...).
(3) Vd. post de 5 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLVI: Em memória dos bravos de Geba
(A. Marques Lopes)
(...) "Um dia, quando ia no caminho de Geba para Banjara, fui ferido (e sortudo, mais uma vez), assim como o soldado Lamine Turé, do meu grupo de combate ; na mesma altura morreu o comandante da CART 1690, que quis ir comigo nessa viagem, o capitão Manuel C.C. Guimarães (tinha 29 anos, era filho de um sargento-ajudante e sobrinho da Beatriz Costa), e morreu o soldado Domingos Gomes, também do meu grupo de combate.
"Levei o corpo do capitão, porque me pareceu que estava ainda vivo, e o Lamine, directamente para Bafatá... porque em Geba não havia médico, vejam lá! Não levei o do Domingos Gomes, porque ficou aos bocados, não deu tempo nem tive condições para os recuperar. De Bafatá fui evacuado para o HM241 [em Bissau], primeiro, e para o Hospital Militar Principal,[em Lisboa], passada uma semana" ...).
quarta-feira, 2 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1722: Provetas, crime e castigo, louvores e punições, erros e perdões (Jorge Cabral)
Cópia do louvor atribuído pelo Comandante do CAOP2 ao Alf Mil Art Jorge Cabral (Fá e Missirá, 1969/71), comandante do Pel Caç Nat 63, transcrito na Ordem de Serviço nº 188, de 9 de Agosto de 1971, do Batalhão de Artilharia 2917 (pag. 774). Classificação Reservado.
Foto: © Jorge Cabral (2007). Direitos reservados
1.Mensagem do Jorge Cabral, de 20 de Abril de 2007:
Amigo Luís,
Continuo a acompanhar o teu / nosso blogue, o qual me ajuda a reconstituir um tempo demasiado importante da minha vida. Claro que escrevemos de nós para nós, sendo muito difícil a quem nunca foi a África, fez a tropa ou viveu a Guerra, entender.
Os meus alunos às vezes espreitam... mas não percebem nada. Como explicar-lhes o que era habitar Missirá?
Há anos, o meu irmão Carlos visitou a Guiné e quis ver Missirá. Conseguiu que o levassem e, lá chegado, imaginando-me ali, chorou...
Fui sempre um paisano incorrigível, desalinhado, marginal, mais do que crítico, um gozador... com óbvia falta de vocação militar. Para que serviam os Serviços Psicotécnicos do Exército? Com que critérios me classificaram como Atirador e depois me fizeram Comandante de Destacamentos?
Devia ter sido Alferes - Básico, e o certo é que se tivesse sido incorporado um ou dois anos mais tarde, acabaria também eu, tal como muitos dos meus Colegas, em Capitão - Proveta (1).
Como tu, ou o Mexia Alves, fui louvado, afirmando-se que "o (meu) trato afável e habilidade para lidar com tropa africana e populações, (me) grangearam grande prestígio".
Alguém nos ensinou essa capacidade para lidar com o outro, para o entendermos, para nos adaptarmos? Não se ensina, nem se aprende, é inata!
Tivéssemos servido entre chineses ou esquimós e os nossos louvores diriam o mesmo.
Excluindo a preparação física, muito pouco de útil, me transmitiram na Recruta e na Especialidade.
Mais ou menos Provetas éramos todos! Nos últimos meses comandei três operações. Numa delas, fui obrigado a tomar decisões complicadas. Como teria agido no início da Comissão?
Na Guerra como no Amor, só a experiência é Mestra!
Quero crer que nenhum Capitão falhou deliberadamente. Alguns obedeceram a ordens absurdas. Não tiveram coragem para desobedecer...
Erros cometemos todos. Lá e cá. Não podemos voltar atrás. Quem foi culpado de, por tibieza ou estupidez, ter contribuido para tão trágicos episódios, certamente sentiu durante todos estes anos, profundo arrependimento e enorme mágoa.
Falar hoje em perdão terá algum sentido?
Abraço Grande
Jorge
PS - Junto, muito amarfanhado, o meu Louvor.
2. Comentário do editor do blogue:
Jorge, amigo e camarada: Estou em total sintonia contigo. Não se nasce soldado. Não se nasce oficial nem cavalheiro. Não se nasce líder nem comandante. Todos fomos provetas, ou pelo menos periquitos. Todos estávamos mal preparados para compreender e fazer aquela guerra. Ou até simplesmente lidar com aquele(s) povo(s). Todos aprendemos, fazendo, errando... Com sangue, suor e lágrimas... quase sempre.
Pessoalmente, tenho dificuldade em ser juiz de quem quer que seja, o mesmo é dizer, condenar ou perdoar. Muito menos ser juiz de ex-combatentes. Só posso falar do que conheci, vivi, testemunhei... Em relação aos combatentes, de um lado e de outro, que morreram, curvo-me perante a sua memória. Outros rezarão por eles. São duas formas de respeito pelos mortos em combate. Esquecer os erros, não esqueço. Erros ou negligências graves dos nossos comandantes que estiveram na origem de morte de camaradas nossos...
Perdoar os crimes (de guerra ou contra a humanidade), tenho muito mais dificuldade, mas felizmente não participei em (nem creio ter sido testemunha de) nenhum... Mas não era sobre isso a que te querias referir, tu que és perito em direito penal.
Crime e castigo, erros, louvores, punições, perdões... Ao menos, temos uma norma (saudável), na nossa tertúlia, que é a da recusa da autoculpabilização e da responsabilidade colectiva. Crime e castigo devem ter sempre um rosto... Nem o povo português nem o povo guineense podem - ontem, hoje ou amanhã - ser acusados de crimes cometidos em seu nome, pelos seus líderes políticos e militares...
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Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1674: Efemérides (3): A tragédia do Quirafo: rezar pelos mortos e perdoar aos vivos (Joaquim Mexia Alves)
17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1669: Efemérides (1): A tragédia do Quirafo, há 35 anos (Paulo Santiago / Vitor Junqueira / Luís Graça)
23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)
21 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P976: A morte do Alf Armandino e a estupidez do capitão-proveta (Joaquim Mexia Alves)
terça-feira, 13 de março de 2007
Guiné 63/74 - P1590: O sacrifício dos oficiais do quadro permanente (Pedro Lauret)
Era uma um homem afável e civilizado no trato, como poucos, não tendo nada a ver com a imagem (negativa) que eu tinha dos oficiais do QP que eu havia conhecido até então, na Metrópole. Com os seus 37 anos, e três comissões no Ultramar (Índia, Moçambique e Guiné), foi tão explorado pelo comando do Sector L1 (no tempo do BCAÇ 2852 e do BART 2917) como os seus milicianos e os seus soldados, da Metrópole ou do TO da Guiné.
Caros companheiros e camaradas,
Sobre a proposta do João Tunes (2) também não me parece ter muito sentido.
Ainda voltarei a escrever sobre refratários e desertores, mas hoje quero fazer um comentário sobre uma frase do David Guimarães (3) quando se referia a militares que faziam quatro comissões numa mesma colónia, apontando que a sua motivação seria apenas ganhar dinheiro.
Em minha opinião é uma afirmação perigosa, pela generalização.
Qualquer oficial saído da Academia Militar em 1961 , ou nos anos imediatamente seguintes, fizeram 4 comissões na mesma colónia ou em várias.
A vida dos meus camaradas do Exército foi de enorme esforço e sacrifício. Quem fez 4 comissões tem pelo menos um ida como subalterno e duas como capitão, eventualmente uma última como major. A vida de um oficial do QP eram dois anos em comissão, um ano no continente.
Como é sabido, o número de oficiais que entravam na Academia Militar começou a diminuir a partir de 1961. A Guerra nos três teatros de operações aumentou sempre em área operacional e em consequente número de efectivos, pelo que foi exigido um esforço muito grande aos oficiais dos QP, que a partir de certa altura já eram insuficientes, pelo que começaram a ser formadas capitães milicianos, como todos sabemos.
A tese de que havia guerra porque os oficiais dos QP a fomentavam para ganhar mais, e que praticamente a vitoória militar estava garantida, foi posta a circular pela propaganda do Estado Novo tendo tido acolhimentos diversos, nomeadamente nos colonos em Angola e Moçambique.
Não quero dizer o nosso companheiro David Guimarães tenha querido aderir a esta tese, mas considero que alguma generalização pode ser perigosa. Não quero dizer que não tenham existido casos como os que são referidos, não foram no entanto a regra, foram a execepção. A Guerra Colonial, como qualquer guerra, deu oportunidades de ganhar dinheiro a muita gente, alguns de forma legítima, outros ilegitima.
Das centenas de oficiais que fizeram várias comissões permitam-me que vos evoque dois de duas gerações: Carlos Fabião, uma comissão em Angola e, penso, quatro na Guiné; e Salgueiro Maia, que em 1974 tinha 28 anos, com uma comissão nos Comandos em Moçambique e outra na Guiné.
Caro David, estas palavras destinam-se apenas a que este tema seja abordado com alguma profundidade adicional.
Um abraço
Pedro Lauret
Capitão de Mar e Guerra, na reforma,
antigo imediato do NRP Orion, Guiné (1971/73)
2. Resposta do David Guimarães:
Nessa matéria, Pedro, peço desculpa... Efectivamente pode haver um perigo de generalização que não era a minha intenção... Perigoso, sim, quando dito alto numa caserna - muito mais quando se tratam de amigos...
Talvez que nem sempre sejamos felizes nos ditos e aí teremos que estar calados somente, ou então encobrir aqueles que o fizeram, omitindo também com receio de ferir os não culpados... Emotivamente falei... Sim, em caso conhecido. Não o deveria ter feito e, sendo certo o que penso e vi, mal é efectivamente qualquer generalização. Por aí peço desculpa... Foram palavras do entusiasmo e o sangue português que me fez falar... Desculpa então, se puderes...
Sei do esforço que todos fizemos quadros e milicianos - isso não ponho dúvidas....
Um abraço, David Guimarães
3. Comentário do Pedro Lauret:
Caro David Guimarães,
Calculei que tivesse sido o entusiasmo das palavras que provocaram o disparar daquela frase que, como todos muito bem sabemos, tem fundo de verdade. O problema único é a generalização.
Voltarei em breve ao problema das deserções e não só … ao problema dos refractários. Posso deixar este dado para a tertúlia, nos 13 anos de guerra a percentagem de refractários foi de aproximadamente de 18%, ou seja, faltaram às incorporações 18% dos mancebos convocados, não é de forma alguma um número residual.
Um grande abraço
Pedro Lauret
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1313: Estórias cabralianas (14): Missirá: o apanhado do alferes que deitou fogo ao quartel (Jorge Cabral)
(2) Vd. post de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)
(3) Vd. post de 13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1589: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (5): David Guimarães / António Rosinha
segunda-feira, 19 de junho de 2006
Guiné 63/74 - P883: Convívio de ex-cadetes da EPI, Mafra, 1 de Julho de 2006 (Paulo Raposo)
O Paulo Raposo volta pedir-me que divulgue a realização do encontro de ex-camaradas que passaram por Mafra, e de que ele é co-organizador, com o Rui Felício:
GRANDE ENCONTRO DA 2ª INCORPORAÇÃO DE 10 DE ABRIL DE 1967
Curso de Oficiais Milicianos
Escola Prática de Infantaria (EPI)
Mafra
1 de Julho de 2006
Programa
10.00 - Concentração junto da Porta de Armas
10.45 - Homenagem aos mortos
11.00 - Colocação de uma placa assinalando o encontro:
"Homenagem à EPI
Curso de Oficiais Milicianos 2ª Inc. 1967
10 de Abril de 1967
1 de Julho de 2006"
12.00 - Missa campal na Parada, em princípio presidida pelo Reverendíssimo Sr. D. Januário
12.45 - Fotografia dos presentes
13.00 - Almoço no refeitório do quartel
Preço do pessoa> 15 a 20 € (está dependente do número de participantes)
TRAZ A FAMÍLIA E PASSA PALAVRA A OUTROS EX-CADETES DESTA INCORPORAÇÃO.
TRAZ TAMBÉM UMA BOINA COM ARMAS DE INFANTARIA E O EMBLEMA DA ESCOLA
Organizadores: Rui Felício / Paulo Raposo (1)
.
Envia a tua inscrição para: abr1967epi@gmail.com
Contacto na EPI: 2º Comandante Ten Cor João Mendes
Tel > 261 815 055
Paulo Lage Raposo
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Nota de L.G.
(1) O Rui Felício e o Paulo Raposo fazem parte da nossa tertúlia e são ex-Alf Mil da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).