sexta-feira, 22 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1868: Força Aérea Portuguesa: Cor Pil Av Moura Pinto, um grande comandante, um grande líder (Victor Barata)

Guiné > Bissalanca > Base Aérea nº 12 > Clube de Especialistas > 1973 > Festa de aniversário de um camarada da FAP > Principais convidados: o comandantes da Base, Cor Pil Av Moura Pinto (á esquerda) Ten Cor Pil Av Lemos Ferreira (à direita).

Foto: © Victor Barata (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Victor Barata (ex-Especialista da Força Aérea Portuguesa, MELEC de Aviões e Instrumentos de Bordo, Bissalnaca, 1971/73). Vive em Vouzela, onde é empresário.


O Grande Comandante! (1)

Camaradas, há personagens na nossa vida que, pela sua conduta, actos praticados ou simples acções, nos marcam para sempre.

Obviamente que nem todos nós podemos compartilhar da mesma ideia, mas uma das virtudes do ser humano é saber respeitar-se mutuamente.

A foto que te envio recorda um aniversário no Clube de Especialistas, na Base Aérea nº 12, em Bissalanca, em que os convidados eram ao comandantes da Base, o da esquerda, Cor Pil Av Moura Pinto, o da direita , Ten Cor Pil Av Lemos Ferreira.

Pois bem,vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas, sisudo,alto, magro com grandes qualidades humanas.

Isto passa-se no ano de 1973, quando entre Março e Abril, a nossa Força Aérea estava a perder Grandes Homens na frente de combate, companheiros do diaa dia que lutavam pela mesma causa que nós mas que o destino quis que partissem mais cedo: Ten Cor Pil Av Brito, Maj Pil Av Montovani e Furriéis Pil Av Baltazar e Ferreira (2).

A instabilidade estava instalada, o receio - principalmente em quem operava com aeronaves de pequenas velocidades - apoderou-se por se desconhecer o tipo de arma utilizada para abater os nossos aviões.

É nestas ocasiões que se distinguem os grandes COMANDANTES, o coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes na Base e, com a serenidade que lhe era virtude, foi dizendo (3):

Havia garantia de que a arma utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil. Em seguida afirmou ter duas certezas,uma fruto das suas convicções pessoais, outra, resultado da sua experiência como oficial.

A primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase: só é atingido pelo míssil quem tiver esse destino traçado. A segunda também se dizia em poucas palavras: ninguém pode ter medo do míssil, porque o piloto que vai voar com medo está mais vulnerável e acaba por ser atingido.

Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino:"A sorte protege os audazes". Estas afirmações no ambiente tenso que pairava na sala, tiveram um impacto extraordinário. Gerou-se uma descompressão colectiva, embora estivessem todos ainda apreensivos.

Faltava na sala o único piloto, furriel Santos, por se encontrar de serviço às operações. Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta, pedindo licença para falar. Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção. O comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura, o furriel Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um batalhão do Exército que tinha sido atacado. Vinha pedir instruções. Diz-lhe o Cor Moura Pinto:

-Responda que se vai fazer a evacuação. Mande preparar o helicóptero, quem vai fazer a evacuação sou eu.

Voltou-se para a assistência e perguntou:
- Meus senhores, quem quer colocar alguma questão? - Reinou o silêncio entre toda a gente.
- Se não têm perguntas, eu já disse tudo e, como há coisas mais importantes a fazer,vou-me embora. Foi fazer a evacuação.

O desfecho desta reunião teve um impacto fortíssimo no moral dos pilotos, o ânimo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios do medo natural.

Descanse em paz, meu COMANDANTE!

Victor Barata
__________

Notas de L.G.:

(1) Há uma outra versão publicada em 17 de Junho de 2007 > Blogue do Victor Barata > Especialistas da Base Aérea 12 (Guiné, 1965/74)


(2) Vd. post de 21 de Junho de 2007 Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

(3) Fonte: A Força Aérea na Guerra de África, de Luís Alves de Fraga, Coronel da FAP na reserva. Lisboa: Editora Prefácio. Vd. blogue Fio de Prumo, de Luís Alves de Fraga

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