Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Sem legenda: "Confeitaria", café-esplanada... Av da República (hoje Av Amílcar Cabral) (?)... O Jorge Pinto tem uma foto igual, tirada uns dois ou três dias da regresso da 3ª C/BART 6520/72.
Foto: © Fernando Carolino (2025). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O Fernando Carolino já aqui publicou, há uns largos anos (*), um poste com fotos do seu álbum, relativas a Fulacunda, onde fez a sua comissão de serviço, como alf mil, de rendição individual, na 3.ª CART/BART 6520/72, "Os Serrotes" (Fulacunda, 1972/74).
Afinal,ele é contemporâneo (e conterrâneo!) do nosso Jorge Pinto, também ele alf mil, desta subunidade, e membro da nossa Tabanca Grande.
Para já vamos publicar um primeiro texto, nesta série, com título provisório, "Memórias de um Serrote". Também já lhe sugerimos outros títulos:
O Fernando Carolino, que é natural de Alcobaça, mas vive em Valado de Frades, Nazaré, mandou-nos, através do seu cunhado, o Juvenal Amado, um primeiro texto e fotos da Guiné.
Estou a aguardar o seu OK em relação à sugestão que lhe fiz para criar uma série com o seu nome, e à sua aceitação do nosso convite (que já vem de 2016) para integrar a Tabanca Grande.
(i) "Em rendição individual, colocado no fim do mundo (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";
(ii) "Des(a)venturas de um alferes miliciano (Fernando Carolino, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";
(iii) "Memórias de Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)".
(*) Vd. poste de 17 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15761: Memória dos lugares (334): Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Alcobaça, a viver em Valado dos Frades, Nazaré)
Recorde-se que a 3ª C/BART 6520/72 publicava um jornal de caserna, mensal, "O Serrote", de que era diretor o Jorge Pinto.
Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau,
em relação à pragmática da tropa...
por Fernando Carolino
Primeiro episódio de uma passagem pela Guiné
Pleno inverno, talvez novembro, muito frio em Lisboa, quando embarquei em avião da TAP rumo à Guiné.
Ia em rendição individual, preencher o lugar deixado “vago” por outro alferes miliciano no aquartelamento de Fulacunda, que seria para mim na altura um qualquer fim de mundo.
Chegado o aparelho voador ao aeroporto de Bissau, porta aberta e vamos sair. O impacto do ar exterior deixou-me quase em choque: o corpo ficou de imediato molhado com a roupa a colar-se ao corpo, numa sensação de enorme desconforto.
Refleti: será que vou aguentar isto…. ?
Lá fui andando de indumentária número dois (ou um) com sapato fino, boné de pala e galões de alferes a condizer.
Levava comigo uma guia de marcha que mencionava QG e Fulacunda, se bem me lembro, mas que eu não sabia bem o que eram ou onde as encontrar.
Fui seguindo de mala de viagem na mão, não sabendo bem para onde, esperando encontrar talvez um militar que me pudesse dar uma ajuda.
Não era difícil afinal encontrar militares. Havia muitos pela rua para onde quer que olhasse. Mas, comecei a sentir-me deslocado: é que todos que vi estavam vestidos de camuflado e eu com fatinho “chique”.
Pleno inverno, talvez novembro, muito frio em Lisboa, quando embarquei em avião da TAP rumo à Guiné.
Ia em rendição individual, preencher o lugar deixado “vago” por outro alferes miliciano no aquartelamento de Fulacunda, que seria para mim na altura um qualquer fim de mundo.
Chegado o aparelho voador ao aeroporto de Bissau, porta aberta e vamos sair. O impacto do ar exterior deixou-me quase em choque: o corpo ficou de imediato molhado com a roupa a colar-se ao corpo, numa sensação de enorme desconforto.
Refleti: será que vou aguentar isto…. ?
Lá fui andando de indumentária número dois (ou um) com sapato fino, boné de pala e galões de alferes a condizer.
Levava comigo uma guia de marcha que mencionava QG e Fulacunda, se bem me lembro, mas que eu não sabia bem o que eram ou onde as encontrar.
Fui seguindo de mala de viagem na mão, não sabendo bem para onde, esperando encontrar talvez um militar que me pudesse dar uma ajuda.
Não era difícil afinal encontrar militares. Havia muitos pela rua para onde quer que olhasse. Mas, comecei a sentir-me deslocado: é que todos que vi estavam vestidos de camuflado e eu com fatinho “chique”.
Senti-me terrivelmente mal, a ponto de decidir imediatamente alterar a situação. Lá consegui encontrar uma espécie de “café”, entrei, devo ter pedido qualquer coisa para beber (não me lembro), e procurei uma casa de banho para mudar de farda. Abstenho-me de descrever a qualidade ou o estado do local.
Mudei-me e voltei para a rua muito mais confiante. Estava como todos os outros: fato de
trabalho…quer dizer de combate.
Percorridos uns poucos metros parou junto de mim uma viatura da PM. Mostraram intenção de falar comigo e parei. Pediram-me a identificação e mostrei-lhes tudo o que tinha, nomeadamente a guia de marcha. Logo verificaram que se tratava de um oficial, fizeram a respectiva continência e… de forma muito correcta informaram:
Mudei-me e voltei para a rua muito mais confiante. Estava como todos os outros: fato de
trabalho…quer dizer de combate.
Percorridos uns poucos metros parou junto de mim uma viatura da PM. Mostraram intenção de falar comigo e parei. Pediram-me a identificação e mostrei-lhes tudo o que tinha, nomeadamente a guia de marcha. Logo verificaram que se tratava de um oficial, fizeram a respectiva continência e… de forma muito correcta informaram:
− O meu alferes desculpe mas está em trânsito, não está de serviço, e não pode por isso estar de camuflado.
Não queria acreditar!
Não queria acreditar!
− Acabei de mudar-me agora mesmo − expliquei.
− Pois, mas não pode. Se quer ir para o QG é melhor vir connosco na viatura.
− Pois então calha bem. Não terei que ir a pé para um sítio que não sei onde fica.
E lá fomos. Chegados ao local, apresentações num gabinete, explicação da situação e, em pouco tempo tudo se resolveu. O superior hierárquico ali presente decidiu:
E lá fomos. Chegados ao local, apresentações num gabinete, explicação da situação e, em pouco tempo tudo se resolveu. O superior hierárquico ali presente decidiu:
− Como o senhor é novo aqui, fica de oficial de dia e, estando de serviço, já a farda fica a condizer.
E assim já não tive que voltar a mudar de indumentária.
Foi um primeiro episódio de uma longa estadia por terras da Guiné.
Gostaria que todos os episódios que se seguiram fossem tão pacíficos.
E assim já não tive que voltar a mudar de indumentária.
Foi um primeiro episódio de uma longa estadia por terras da Guiné.
Gostaria que todos os episódios que se seguiram fossem tão pacíficos.
(Revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do editor: