São pequenas histórias que revelam muito do seu caráter, sentido de humor, ar brincalhão, afabilidade, mas também da sua postura como homem, cidadão e militar... Merecem ser reproduzidas aqui na série "Humor de caserna" (*).
Parafraseando um conhecido provérbio popular ("Os homens conhecem-se pelas palavras e os bois pelos cornos"), poderíamos dizer que a um bom militar também não fica mal a boa disposição e o bom humor, qualidades que não têm que ser incompatíveis com o exercício da liderança.
2. O Carlos Fabião apresentou-se no Cmd Agr 2952, em Mansoa, no dia 25mar68, com a patente de major, para ocupar o lugar de Of Op Inf (**). O António Novais era fur mil trms, trabalhando sob a dependência do alf mil trms, Luís Reis Torgal, hoje conhecido historiador e professor da Universidade de Coimbra, reformado.
Um dia chamou o fur mll Novais (era assim que o António era tratado) e entregou-lhe um "aviãozinho de papel" , pintado a cores e tudo:
− Novais, guarde-me aí na sua gaveta este aviãozinho.
− Para quê, meu major?
− Quando você tiver 53 aviões, avise-me para eu ir de férias!...
... E todos os dias lhe confiava um aviãozinho de papel, pintado às cores, até à véspera da sua ida de férias à metrópole...
3. Também era brincalhão, e gostava de pregar partidas aos seus subordinados, incluindo alferes e furriéis.
A sala de operações do Com Agr, em Mansoa, tinha um postigo de ligação ao gabinete onde estavam o Torgal e o Novais.
A secretária do Torgal estava encostada à parede que tinha o postigo, o qual, por sua vez, estava tapado com uma tampa do lado da sala de operações e com uma placa de platex perfurado, do lado do gabinete de transmissões.
O Fabião abeirou-se do postigo e disse ao Torgal:
− Torgal, chegue-se aqui ao postigo, pois que lhe quero dar uma informação.
O Torgal respondeu:
− Diga, meu major!
Ao que o Fabião lhe disse do outro lado:
− Encoste-se mais ao postigo…
O Torgal encostou a cabeça ao postigo e, do outro lado, o Fabião, que tinha preparado uma seringa com água, logo borrifou a cara do Torgal…
4. O Carlos Fabião costumava mandar aprontar uma viatura, aos sábados, e convidava alguns elementos do Agrupamento para o acompanharem em visitas às tabancas de Mansoa para conviver com a população, em ações de psicossocial. (O Novais disse-me que nunca foi.)
Nessas viagens, o Carlos Fabião, com a sua lendária coragem e empatia, costumava levar garrafas de aguardente de cana, para distribuir pelos balantas, os quais se manifestavam alegremente com exclamações de “Olha o nosso Fabião!", enquanto iam beberricando a aguardente…
5. Também desenhava muito bem... Um dia fez um "boneco" com a chegada do Nuno Tristão à costa da Guiné, em 1446...
O navegador português morreria pouco depois com uma flecha, possivelmente envenenada. Antes de morrer, o Nino Tristão ainda tem tempo, no "cartoon" do Carlos Fabião, de exclamar:
− Oh! Nem me deram tempo para fundar a Casa Gouveia…
6. Outro “cartoon” que fez, mostrava um quarto, uma mulher de joelhos na cama e com um lençol a tapar-lhe parte do corpo, bem como o seu amante a enfiar um punhal no buraco da fechadura do quarto, sendo que, do outro lado, estava o Camões a espreitar.
A legenda dizia:
− Como Luiz Vaz perdeu um olho…
7. Outra do Fabião:
O Cmd Agrup 2952 recebe uma mensagem Zulu ("Relâmpago"), secreta... O 1º cabo cripto decifrou-a, imediatamente, e logo a entrega, descodificada e em envelope fechado, ao furriel de transmissões, para ser entregue ao oficial de operações, major Fabião.
O Novais procura, a correr, o Fabião. Em vão, vasculhou tudo o que era sítio no quartel de Mansoa....
Esbaforido, já desesperado, acaba finalmente por o localizar na Secretaria do Agrupamento, onde não seria suposto estar.
Exclamou o Novais, à beira de um ataque de nervos:
− Porra, meu major, onde é que o senhor se meteu? Tenho aqui uma mensagem relâmpago para si, ando há duas horas à sua procura....
Ao que o Fabião responde:
− Novais, você sabe que a mensagem relâmpago tem o grau máximo de procedência, mas isso é para o cripto, e lá na tropa... Agora, aqui na Guiné, você tem 24 horas para ma entregar... Como só lá vão duas, ainda tem 22 horas de avanço...
Após a entrega da msg e, quando o Novais chegava à porta de saída da Secretaria, o Fabião chamou:
− Novais!
Quando este se virou para atender à sua chamada, estava o Fabião com um mata-borrão, tipo bola de rugby que, chutando, disse:
− Apanhe!...
A propósitos das mensagens... Recorde-se que a Z, de ZULU (= Relâmpago) no centro cripto passava à frente de todas as outras: grau máximo de urgência.
9. Outra ainda que me contou o António Novais Ribeiro, membro da Tabanca de Candoz (e próximo grão-tabanqueiro)...
Grandalhão de corpo e espírito, bem humorado (ou já "apanhado do clima", como todos nós...), o major Fabião chamou o alferes Torgal, comandante do pelotão de transmissões do Agrupamento, dizendo-lhe:
− Torgal, quero o pelotão de transmissões todo formado, mas o Novais forma ao lado.
− Meu major, então porque é que o Novais forma ao lado, se eu é que sou o comandante do pelotão?
− Porque eu quero correr-vos todos à chapada, mas o Novais forma ao lado porque não tem cara para aguentar duas chapadas!
[Texto: recolha, revisão e fixação: LG]
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