Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 2533. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 2533. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26050: E as nossas palmas vão para... (25): Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, de Viseu, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71)...Pela sua pronta e generosa colaboração na cedência de imagens do T/T Niassa



Viseu > 2014  > A Jessica Nascimento, que vive em Viseu, é neta do Luís Nascimento (ex-1.º Cabo Cripto na CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71) e sua "secretária particular" (é ela que nos manda, através do seu email, a correspondência do avô).  Ela tem muito orgulho em dizer que é, naturalmente, a "a melhor neta do mundo"...Avô e neta são dois membros da Tabanca Grande,o que é caso raro... 

Foto (e legenda): © Jessica Nascimento (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Tudo começou, em meados de agosto passado, com um pedido da investigadora Maria José Lobo Antunes (ICS-ULisboa):

terça, 20/08/2024, 15:12

Caro Luis Graça,

Espero-o bem.

Sou investigadora da Universidade de Lisboa e faço parte da equipa da Confederação, colectivo de investigação teatral do Porto, que está a trabalhar no projecto Memoratório... Miragaia foi à guerra. Em pesquisas no vosso blogue, deparámo-nos com esta fotografia do navio Niassa e gostariamos de saber se vos é possível ceder-nos uma digitalização de boa qualidade.

Muito obrigada pela vossa ajuda.

Cumprimentos, Maria José Lobo Antunes

ICS-ULisboa
últimas publicações | latest publications Ninguém faz a guerra sozinho, Topoi (Rio J.) 2023 | Curating the Past, Photography in Portuguese Colonial Africa, 2023 | Instantes da guerra, Mensário do AHS, 2023| A crack in everything, History and Anthropology 2022.



2. Resposta do nosso editor Luís Graça:

22/08/2024, 10:47

Olá, Maria José... (Devemos ter-nos encontrado na Escola Nacional de Saúde Pública, há muitos anos, não ?!)

Quanto ao seu pedido... Temos mais de 60 referências ao N/M Niassa, um ícone da guerra colonial...(também fui nele para a Guiné, em 24 de maio de 1969, eu e mais 1700 militares, entre eles o futuro dirigente do PCP, o Jerónimo de Sousa)... Vou ver se lhe arranjo duas ou três boas fotos...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/11/guine-6174-p20365-album-fotografico-de.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/11/guine-6174-p22722-nossa-guerra-em.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/12/guine-6374-p10864-efemerides-114-22-de.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/02/guin-6374-p2533-o-cruzeiro-das-nossas.html

... Mas, se calhar, a melhor foto ainda é deste sítio sobre antigos navios da marinha mercantes:

https://www.geocities.ws/naviosvelhos/niassa.jpg


Boa saúde, bom trabalho, Luís Graça



3. Resposta da investigadora:

2 set 2024, 11:54

(...) Muito obrigada pela sua pronta resposta e desculpe a demora na minha reacção, mas estive de férias.

É verdade, cruzámo-nos na Escola Superior de Saúde Pública, provavelmente em 2003 :-)

Para os filmes nos quais estamos a trabalhar, interessar-nos-iam fotografias que mostrem o navio com soldados.

Acha que será possível obter cópias digitaliizadas de boa qualidade das fotos 1 e 2 desta página e a 2ª foto desta página?

Obrigada e um abraço, Maria José

4. Esclarecimento posterior de Luís Graça:

27 set 2024, 16:43

Maria José: logo por azar essa foto é uma reprodução de uma outra, de má qualidade, numa brochura fotocopiada, "Histórias da CCAÇ 2533"... 

Tente entrar em contacto com a Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, o editor do livro, que vive em Viseu... A Jéssica pode agora viver fora de Viseu, na altura era estudante. Há anos que não contacto com ela (o avô não tinha email quando entrou para o blogue, ela é que é/era o elemento de contacto). Dou-lhe conhecimento desta mensagem. Ela se puder, ajuda-nos. (...)


5. A Jéssica Nascimento, respondeu-nos logo de imediato, às 22:23:



(...) Olá, boa noite! Espero que se encontrem bem.

Amanhã com mais calma vou ver se consigo arranjar a foto. Obrigada! (...)



6. No dia seguinte, 28, às 9:49, respondi à Jéssica Nascimento, que é membro da nossa Tabanca Grande desde 29/10/2014:


Obrigado, minha querida. Um xicoração para ti, um alfabravo para o avô. Luís Graça.


7. E logo nesse dia, às 14:20, a Jessica responde, mandando-nos as imagens pretendidas:

(...) Juntamente com o meu avô, conseguimos encontrar a foto no livro Histórias da C.CAÇ. 2533. A qualidade não é a melhor, mas espero que ajude. (...)



8. Abreviando a troca de emails (ao todo são 21 os emails trocados...), um elemento da equipa da Confederação, o Miguel Ramos, entrou em contacto com a Jéssica, neta do nosso camarada Luís Nascimento (foto à esquerda)":

30 set 2024, 09:30

Olá, Jéssica.

Daqui o Miguel (faço parte da equipa do "Miragaia foi à Guerra").

Antes do mais, muito obrigado pelo cuidado.

Como está a fazer com estas imagens? Está a digitalizar as mesmas ou a fotografar? Pergunto isso, pois, a qualidade está bem melhor do que a que tinhamos, mas nos parece que fotografou e não digitalizou. Estou certo?

Caso isso lhe seja complicado, nós podemos tentar encontrar o livro e digitalizar as imagens.

Lhe deixo [AQUI] link para anteriores Memoratórios nossos, para que melhor entenda a nossa necessidade de boas digitalizações.

Muito grato por todo o seu cuidado. Miguel Ramos

CONFEDERAÇÃO

Morada Rua de Costa Cabral, nº 120, 4200-208 Porto, PORTUGAL
Site http://www.confederacao.pt
Facebook facebook.com/confederacao.pt | Youtube (Click aqui) | VIMEO (click aqui)





Fotos do T/T Niassa, digitalizadas pelo Miguel Ramos / Confederação, com base no livro "Histórias da CCAÇ 2533" (ed. autor, s/l, s/d)



Capa da brochura "Histórias da CCAÇ 2533, ed. de autor, s/l, s/d, elaborada sob a coordenação de Joaquim Lessa, ex-1º cabo quarteleiro, e impressa na tipografia Lessa (Maia); esta publicação é uma obra coletiva, feita com participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

Como tantas outras publicacões, esta brochura faz parte da "literatura cinzenta da guerra colonial" (que não chega, infelizmente, à Biblioteca Nacional de Portugal, nem à PORBASE - Base de Dados Bibliográficos Nacionais):  um exemplar em papel e em formato digital, chegou-nos às mãos através do empenho do Luís Nascimento.  

Com a autorização do editor e autores demos a conhecer aos nossos leitores as andanças do pessoal da CCAÇ 2533 (Canjambari e Fararim, 1969/71)... Recordo que a minha CCÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12), e a CCAÇ 2533, do Nascimento e do Lessa, viajaram, juntas no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969, tendo nós regressámos juntos, a 17 de março de 1971, no T/T Uíga, uma incrível coincidência!... (LG)

9.  Sempre amável e prestável, a Jéssica sugeriu ao Miguel Ramos o empréstimo  do livro para efeitos de digitalização:

30 set 2024, 21:07:

Boa noite Sr. Miguel.

Prefere que lhe envie o livro para a morada em baixo indicada? Talvez seja mais útil. Quando não precisar mais, envia para a minha morada. (...)


10. E assim aconteceu: a Jéssica cedeu o livro, em papel, "Histórias da CCAÇ 2533" (que não existe na Biblioteca Nacional...) e foram feitas as devidas digitalizações:

3 out 2024, 11:32

Bom dia,  cara Jéssica.

Livro recebido e digitalizado.
Partilho abaixo as fotografias:

FOTO 1 [AQUI]
FOTO 2 [AQUI]
FOTO 3 [AQUI]

Hoje mesmo o livro regressa a Viseu com um pequeno souvenir:)

Quando chegar nos avise sff.

PS: estamos em contactos com Viseu, a tentar levar aí o Caderno e as Photo-conversa em 2025.

Abraço nosso desde o Porto, Miguel Ramos (...)
11.  Da nossa parte, podemos dizer que levámos a "carta a Garcia"...
Temos consciência de que o nosso blogue é (ou pode e deve ser também) fonte de informação e conhecimento, prestando, de algum modo, um "serviço público" a todos os antigos combatentes, mas igualmente a todos/as aqueles/as que se interessam pelo estudo da guerra do ultramar / guerra colonial. 
Na medida dos nossos escassos recursos humanos,  financeiros e técnicos (o blogue é uma iniciativa "pro bono", e vive da carolice de alguns de nós),  vamos dando resposta aos pedidos que nos chegam, desde produtores de cinema e televisão a jornalistas, de doutorandos e mestrandos  e demais investigadores (em ciências sociais e humanas) a familiares de antigos combatentes, etc.
A nossa Jéssica Nascimento (e, por tabela, o seu avô) merece as nossas palmas pela forma célere e generosa  como respondeu ao nosso pedido.
Daremos oportunanente notícia do evento “Memoratório… Miragaia foi à Guerra” – Confederação & Maria José Lobo Antunes, a realizar no Porto:
  • Data: Sábado, 4 de novembro de 2024
  • Horário: 17:00
  • Local: Auditório do Grupo Musical de Miragaia
  • Endereço: R. da Arménia, 10-18, Porto
  • Entrada: Gratuito
________
Notas do editor:
Último poste da série > 5 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25037: E as nossas palmas vão para... (24): Nuno Rubim (1938-2023), autor do Diorama de Guileje, uma pequena obra-prima, que levou dois anos de trabalho, paixão, rigor... Foi oferecido, em 2008, ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23517: Notas de leitura (1474): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Agosto de 2022:

Queridos amigos,
Mais vale tarde do que nunca, mesmo em edição de reprografia. Combateram e construíram bem-estar para a população, marcaram presença em Canjambari e noutras paragens. O Capitão Sidónio (hoje coronel) teve um papel fulcral na coesão, no sentido de ver que soube imprimir à sua unidade militar. Recebeu-se um quartel em estado de lástima, legou-se obra asseada, não se virou a cara aos corredores de infiltração, aceitou-se o trabalho dos reordenamentos. Transferidos para Farim, não desapareceu a aspereza operacional, há testemunhos a recordar o que era ir até à ponte de Lamel. Não esquecer a série de corredores de pontos de passagem regularmente utilizados pelo PAIGC entre o Senegal e o interior da Guiné. Agora, décadas depois, exulta-se com bom convívio as penas do passado. E o documentário fotográfico aqui fica, em substituição das palavras.

Um abraço do
Mário



Os belos testemunhos das gentes da CCAÇ 2533 (2)

Mário Beja Santos

A curiosidade desta obra é que não é uma história de uma unidade militar, trata-se de um punhado de testemunhos com uma boa articulação de imagens, é claramente trabalho de reprografia e o seu destinatário também não deixa ilusões, é todo aquele que andou a combater em Canjambari e na região de Farim entre 1969 e 1971, a malta da CCAÇ 2533. Testemunhos pessoais, umas vezes intensos, outras vezes eivados de humor ou de boas ou más recordações nas situações vividas. É o caso de José Tomás Costa que escapou por pouco a uma mina antipessoal:
“Em 17 de novembro de 1969, eu ia na frente do pelotão e pareceu-me ver uma tábua velha no chão da picada. Pensei dar-lhe um pontapé, mas fez-se luz no meu espírito e mandei parar o grupo. O Furriel Sousa, depois de analisar a situação, disse-me que se tivesse dado aquele pontapé teria dado no mínimo sem um pé. Tratava-se de uma mina antipessoal. Fiquei aliviado e agradeci a Deus. No dia seguinte, ao chegar ao quartel, recebi um telegrama com a notícia de que era pai de mais um rapaz”. O mesmo José Tomás Costa confessa que gostava de voltar a Canjambari, para percorrer alguns daqueles carreiros e bolanhas com paisagens de sonho, e desabafa: “Hoje, doente com problemas psicológicos cujas consequências sofrem a mulher e filhos, reconheço que tirei algum proveito da minha ida à tropa. Fui incorporado como analfabeto, fiz a instrução primária na tropa e isso foi muito bom para mim, pois como veem tenho muito gosto e orgulho em colaborar nesta escrita”.

Há quem recorde que alguém a seu lado puxou o gatilho e disparou a arma, podia ter sido grave, tudo operação de rotina a puxar a culatra da G3, há recordações de festas de aniversário, há quem nunca esqueceu o embarque para a Guiné naquele dia 24 de maio de 1969, e depois a viagem de Bissau para Farim e depois Canjambari, no meio do mato a cerca de 16 quilómetros a Sul de Jumbembem. Há também quem não esqueça que deu o corpo ao manifesto para construir ou reconstruir abrigos, trincheiras e vales. Havia quem tivesse sofrido de problemas do foro mental. E há também quem venha debitar que em Farim nem tudo era fácil, montar proteção às operações de campinagem na zona da ponte de Lamel tinha muitos riscos.

O Capitão Sidónio não transigia na disciplina mas embarcava numa boa brincadeira, como alguém conta a história da distribuição de isqueiros oferecidos pelo Movimento Nacional Feminino em 1970, alta madrugada por ali andava o corneteiro a acordar muita gente e o capitão, prestimoso, a entregar as ofertas contendo o riso.

Há igualmente quem não esqueça que andou perdido, não faltam histórias de abelhas e o Corredor de Lamel é motivo de várias histórias. O Furriel Tavares recorda a picagem da estrada numa coluna de reabastecimento, as viaturas vinham de Cuntima, Jumbembem e Canjambari até Farim. Minucioso trabalho a picar mas já com a ponte de Lamel à vista, acionou-se um fornilho com muito fogo do inimigo. E fala de atos de heroísmo. Há as memórias de um cabo-cantineiro e de um cabo-quarteleiro.

E chega-se à história do grupo que organizou este punhado de testemunhos. Quem depõe é o Furriel Nuno da Conceição. Alguém tinha que pôr em letra de forma o que se passara com a CCAÇ 2533 que andara por Farim, Nema, Jumbembem, Cuntima e Canjambari, entre maio de 1969 e março de 1971. Ele recorda que Canjambari tinha uma área mais ou menos equivalente a dois campos de futebol, ali viviam cento e sessenta e tal militares. Havia embaraço da escolha, recordações brejeiras, outras de caráter íntimo, não se encontrava com facilidade o fio condutor. Juntou-se um grupo com a missão de dar uma estrutura a todo o material que se pretendia coligir. E após jornada chegou-se ao almoço com o plano da obra: testemunhos, imagens alusivas, relação de todos aqueles que incorporaram a CCAÇ 2533 e o documentário fotográfico. E para que a História não esqueça, abre-se com o louvor dado pelo comandante-chefe em abril de 1971:
“Colocado inicialmente em Canjambari, realizou, a par da missão de contrapenetração num dos habituais corredores de infiltração do IN, uma intensa atividade operacional, alicerçada num elevado espírito de missão e numa firme vontade de bem servir”. Recordam-se várias operações onde inclusivamente houve captura de armamento e material. E adianta o louvor:
“A par da atividade operacional, remodelou totalmente as instalações militares de Canjambari e realizou ainda tarefa de muito mérito no âmbito da promoção social das populações, na construção de reordenamentos e organizações de terreno, tendentes à defesa dos mesmos”. Louvor pelo espírito de disciplina e de corpo, pelo elevado sentido de dever. Seguramente que o capitão Sidónio estava por detrás de tão elevado feito.

____________

Notas do editor:

Poste anterior de 8 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23506: Notas de leitura (1472): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 10 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23506: Notas de leitura (1472): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Agosto de 2022:

Queridos amigos,
É uma edição de amigos, não tem data, nem o nome do organizador, nem de tipografia, terá sido obra a pensar nos elementos da Companhia, uns carolas juntaram-se para coligir texto e imagens, o resto foi trabalho de reprografia. E no entanto, que estupendo depoimento de uma Companhia de Caçadores que esteve em Canjambari e Farim entre 1969 e 1971 e que deixou legado, cimentou amizades. Um testemunho que merece a nossa reflexão, não há para ali nada de farronca nem bravura exaltada, contam-se pilhérias, bebedeiras e não se escondem saudades de casa. Que bom, ter descoberto esta pérola na Biblioteca da Liga dos Combatentes.

Um abraço do
Mário



Os belos testemunhos das gentes da CCAÇ 2533 (1)

Mário Beja Santos

Em 2016, o blogue deu notícia desta edição, publicando alguns fragmentos e imagens. Só agora, e graças à Biblioteca da Liga dos Combatentes, é que tive acesso à integralidade do documento. Toca-nos pela singeleza, são muitos os depoimentos, são muitas as ilustrações, e logo o então Capitão Sidónio Martins Ribeiro da Silva fala da sua nomeação, da preparação da companhia e não esconde as suas exigências: “Estava consciente da minha falta de experiência e de conhecimentos sobre uma guerra de guerrilhas. Capitão recém-promovido tinha, na prática, passado de comandante de pelotão para comandante de companhia em zona de guerra”. E tomou a decisão de dotar com a melhor instrução possível os seus homens: “Estava determinado em cumprir à risca a velha máxima: mais suor e lágrimas e menos sangue”. Os problemas começaram a surgir quando foi recebendo os quadros da companhia. Chegou um aspirante a oficial com a especialidade de minas e armadilhas, informou-o de que era Objetor de Consciência. “Aquando do julgamento, tive então a oportunidade de informar o coletivo de juízes da minha convicção de que o acusado agia por imperativo de consciência. Mais declarei que toda a sua conduta e por sua expressa vontade foi determinante para que a situação não transvazasse para o domínio público. Ainda hoje desconheço a decisão do tribunal militar. Pela coragem demonstrada e pela convicção das suas ideias, este episódio constituiu o exemplo de um HOMEM que não vacila perante uma lei que não reconhece a razão da consciência”.

A CCAÇ 2533 embarca no Niassa, o capitão vai mais tarde, tudo uma questão de vacinas. Vão rapidamente para Canjambari, de nome completo Canjambari Morucunda. Encontrou um quartel em estado lastimável, legou instalações completamente remodeladas, uma enfermaria para duas companhias, um heliporto e uma nova povoação constituída por vinte moranças e escola, tudo dentro de um perímetro de defesa anexo ao aquartelamento. Para além de pequenas obras que foram do matadouro aos paióis, tudo à custa de mão-de-obra do pessoal da Companhia. O estado das viaturas não era nada animador: das vinte viaturas recebidas apenas três estavam operacionais. Procurou manter do princípio ao fim hábitos assentes em disciplina e acuidade, as formaturas e toques de corneta nunca foram dispensados. Houve acidentes no percurso, ossos do ofício, um minitornado deixou o aquartelamento num estado desolador.

Quem diz Canjambari é só uma questão de olhar para o mapa e pensar nos riscos à volta. O Capitão Vasco Lourenço estava em Norte-Cuntima, havia Fajonquito, Farim e diferentes pontos de passagem utilizados pelas gentes do PAIGC. Toda esta área era coordenada por um Comando Operacional, um major, que apareceu no aquartelamento com obus e que se fartou de bombardear uma certa área, terminado o bombardeamento, despediu-se com uma certa ironia:
Agora aguenta! “Está claro que não demorou muito tempo que o nosso quartel fosse também bombardeado”. Ali estiveram catorze meses e depois foram transferidos para Farim. Recorda o malogrado alferes Ambrósio falecido em combate, durante uma interdição no Corredor de Lamel. Invoca os falecidos e contabiliza os ensinamentos: “Longe de mim a ideia de que a guerra foi um mal que veio por bem. Muitos foram os que ficaram a padecer de males físicos e psicológicos. Mas a guerra preparou-nos para enfrentar os problemas da vida. Aprendemos a graduar o nosso sofrimento. Ensinou-nos o que é a solidariedade vivida dia a dia”.

E prosseguem os testemunhos ingénuos, parece que arrancados à literatura oral, fala-se de praxes, há as recordações da chegada a Canjambari, tudo ressaltado por imagens concludentes; há as recordações também dos aniversários, das primeiras patrulhas e dos primeiros contatos. Ali relativamente perto, em Canjambari Praça, havia a presença do PAIGC; há lembranças de cobras e de um espetáculo com o artista Horácio Reinaldo, de alguém que escapou por pouco com uma mina antipessoal; há as pilhérias como o roubo de um galo do 1.º Sargento Pinheiro, até se fala de um porco que estava doente e foi enterrado e alguém da população foi desenterrar e se regalou com o repasto.

O Alferes Armando Mota agradece ao Capitão Sidónio por ter mantido, sem desfalecimentos, as preocupações com a disciplina. Há uma emotiva página dedicada ao Soldado Condutor Guilherme, com uma fotografia tirada momentos antes da sua morte, contado também pelo Alferes Armando Mota:
“Passados alguns quinze minutos chegámos ao Bolumbato, onde avistámos a equipa da picagem. Decidi que a coluna esperaria ali, pois era mais seguro do que seguir em andamento lento atrás do pelotão da picagem. Lembro-me de tirar uma fotografia ao Soldado Guilherme, condutor da minha viatura, a Berliet que seguia à frente. Seriam umas 9h20 quando se ouviu uma grande explosão seguida de vários rebentamentos. Percebi que os nossos camaradas haviam caído numa emboscada. O nosso pessoal subiu rapidamente para as viaturas e arrancámos a toda a velocidade.
Recordo-me do Guilherme às tantas me dizer que não se avistava a segunda viatura, mas dadas as circunstâncias disse-lhe para não se preocupar e acelerar, pois sabia que vinham logo atrás. Entretanto continuava a ouvir-se intenso tiroteio e rebentamentos. Disse ao Guilherme que quando o mandasse parar, metesse a viatura no mato fora da estrada, por segurança.
Só próximo do fim da reta que antecede a rampa para Lamel, avistei o último dos elementos do 3.º pelotão que nos fazia sinais para encostar. Pedi para parar e entrar no mato à direita, pois o IN estava a atacar do lado esquerdo.

Ouvi perfeitamente três ou quatro tiros na nossa direção, que não nos atingiram, saltei para o chão, atravessei a estrada e instalei-me enquanto o resto do 1.º pelotão tomava também posições. Íamos começar a avançar quando o Fonseca me disse que o Soldado Guilherme estava caído e ferido. Fui buscar o nosso enfermeiro que me confirmou que era muito grave. Decidi evacuá-lo imediatamente para Farim. Desloquei-me à segunda viatura para conseguir ajuda no transporte do ferido, mas ao aperceber-se do drama e para facilitar, o Soldado Solipa ofereceu-se, pois não tínhamos condutor, para conduzir a viatura dali para Farim, e corremos os dois para junto do grupo que protegia o ferido. Ainda debaixo de fogo o Solipa manobrou a Berliet e carregámos o Guilherme já inconsciente. Partimos, eu, o enfermeiro e mais três soldados rapidamente para Farim. Recordo-me de lhe segurar a cabeça para não se magoar no chão da viatura, enquanto com a outra mão me segurava à estrutura da viatura. No outro extremo, o Evangelista segurava-lhe as pernas, também deitado e agarrado ao banco com uma mão. Acreditávamos que ia valer a pena…

O Soldado Solipa foi louvado pela atitude de solidariedade com o camarada, debaixo de fogo. Enviei à família do Soldado Guilherme uma nota de sentimento com a foto que lhe tirei vinte minutos antes de falecer, descrevendo a ação onde caiu. Não obtive resposta e nunca mais comunicámos”.


(continua)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23495: Notas de leitura (1471): "Memórias de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", por Joaquim Costa; Lugar da Palavra Editora, 2022 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23260: Consultório militar do José Martins (73): Procura-se camaradas do 1.º Cabo Atirador do Pel Caç Nat 58, Joaquim da Silva Magalhães, ferido mortalmente numa emboscada no itinerário Canjambari-Jumbembem, no dia 30 de Agosto de 1969

1. Mensagem de Joel Magalhães, com data de 26 de Abril de 2020, sobrinho do 1.º Cabo Joaquim da Silva Magalhães, natural de Santo Tirso, caído em combate no itinerário Canjambari-Jumbembem no dia 30 de Agosto de 1969:

Olá, muito boa noite.
Meu nome é Joel Magalhães.
Com as datas do 25 de abril sempre me vem à memória o meu tio Joaquim da Silva Magalhães, natural de Santo Tirso, Primeiro Cabo, morto em combate na guerra do ultramar, mais concretamente na Guiné.
A família apenas teve a informação na altura que ele terá sido morto numa emboscada! E hoje as minhas pesquisas levou-me até si.
Chegou a conviver com ele, ou conhece alguém que tenha convivido ou presenciado o acontecimento que levou a morte dele?
Desde já lhe digo que admiro e louvo o seu excelente trabalho e arquivos que vai partilhando.

Atentamente,
Joel Magalhães


********************

2. Mensagem do nosso especialista em Assuntos Militares, José Martins, em 27 de Abril:

Boa tarde para os senhores administradores.
Cá recebi a incumbência, que se me afigura difícil.
Os pelotões, salvo raríssimas exceções, não têm História da Unidade, quanto mais Pelotões de Caçadores Nativos.
Parto apenas com os dados do Volume 8, portanto, muito pouco.
Na informação não tem indicação de unidade a que estava adstrita operacionalmente.
Não há mais mortos nesta operação. Nesta data só em Fulacunda, numa unidade de comandos.
Resta, com base nos meus resumos, o COP 3, um BART e respetiva CART e uma CART independente.

Hoje já não dá para ir ao AHM, veremos amanhã.
Abraços.


********************

3. Nova mensagem do José Martins, esta com data de 29 de Abril:

Boa tarde
Viagem, em vão, até ao Arquivo Histórico.
Junto texto sobre o que consegui, consultando os elementos que tenho disponíveis em casa, os livros da CECA.

Abraço
Zé Martins


O Pelotão de Caçadores Nativos n.º 58, do Comando Territorial Independente da Guiné, foi criado em Maio de 1967, estando dependente administrativamente do Quartel-General de Bissau e, operacionalmente, da unidade que comandava o sector em que o mesmo se integrava geograficamente.
Foi constituído em Bissau e, em Junho de 1967, foi deslocado para Cacheu, em Agosto desse ano seguiu para Teixeira Pinto onde se manteve até Agosto de 1968, altura em que regressou a Cacheu. Em Abril de 1969 foi para Canjambari e em Novembro desse ano de 1969 foi para Infandre, onde se manteve até Agosto de 1974, quando foi dissolvido.

Este texto surge por nos ter sido solicitado, pelo Joel Magalhães, informação sobre a morte em combate do seu tio e nosso camarada 1.º Cabo Joaquim da Silva Magalhães, NM 01779368, que estava no Pelotão de Caçadores n.º 58, na altura estava em Canjambari, e foi numa emboscada entre Canjambari e Jumbembem.

Numa pesquisa que efectuei nos meus arquivos, tomei nota de unidades a nível de Batalhão e Companhia que poderiam ter estado na área, e consultei as respectivas Histórias da Unidade, no Arquivo Histórico Militar. Nem sempre se tem sorte, e desta vez foi isso que aconteceu: nada encontrei, que pudesse esclarecer ou dar uma pista.
Desta forma, se algum camarada souber qual o Batalhão e/ou Companhia que tenham estado no sector onde se enquadrava Canjambari, nos informe, a fim de se tentar, como sempre fazemos, esclarecer quem se nos dirige, pedindo informações.

Odivelas, 29 de Abril de 2022
José Marcelino Martins


********************

4. Comentário do editor CV:

Como refere o José Martins, o Pel Caç Nat 58 esteve destacado em Canjambari entre Abril e Novembro de 1969.
Consultando o 3.º Volume da CECA - Dispositivo das Nossas Forças - Guiné, verifiquei que a CCAÇ 2533 foi deslocada para Canjambari em Junho de 1969, onde se manteve até ao mês de Novembro do mesmo ano, altura em que foi substituída pela CCAÇ 2681.
Salvo melhor opinião, é muito provável que o Pel Caç Nat 58 estivesse adstrito à 2533 e que o seu pessoal se lembre desta emboscada, ocorrida em Agosto, da qual resultou a morte do nosso camarada Joaquim Magalhães.
Talvez o nosso camarada Luís Nascimento, ex-1.º Cabo Op Cripto da 2533, nos possa dar uma ajuda.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22487: Consultório militar do José Martins (72): Quem ainda não recebeu o cartão de antigo combatente, por favor contacte o Balcão Único da Defesa... Mais de 200 mil já receberam

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22722: A nossa guerra em números (5): o Vera Cruz, o Niassa e o Uíge foram, de um frota de 15 navios, requisitados à marinha mercante, os que asseguraram o transporte de 3/4, da tropa mobilizada para o Ultramar

 

Lourinhã > Zambujeira e Serra do Calvo > 25 de fevereiro de 2018 > "Homenagem da Zambuejira e Serra do Calvo aos seus combantentes"... Monumento inaugurado em 5 de outubro de 2013, numa iniciativa do Clube Desportivo, Cultural e Recreativo da Zambujeira de Serra Local.

Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar que parte para África. Ao canto inferior esquerdo a quadra: "Adeus, terras da Metrópole / Que eu vou pró Ultramar /, Não me chorem, mas alegrem [-me], / Que eu hei-de regressar"... No chão, em calçada portuguesa, lê-se: "Em defesa da Pátria". Abaixo do painel, há um livro metálico com os nomes de todos os nossos camaradas, naturais das duas povoações, que combateram no Ultramar.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Lisboa > Cais da Rocha Conde de Óbidos > N/M Niassa > 24 de maio de 1969 > O cruzeiro das nossas vidas... Uma imagem repetida até à exaustão ao longo da guerra colonial; o transporte de tropas era feito em navios mistos, de carga e passageiros, adaptados... As condições a bordo eram inumanas... Neste caso foram transportadas 13 companhias independentes. num total de 1735 homens. As praças eram acomodadas em beliche, nos porões, como animais. Com capacidade para 3 centenas de passageiros, além de cerca de 130 tripulantes, o N/M Niassa, de 10 mil toneladas de arqueação bruta, a caminho do TO da Guiné aumentava a "carga humana" 5,4 vezes mais (!)...

O Niassa era um dos navios da marinha mercante que foram requisitados para transporte de tropas para a guerra de África, e em especial para o TO da Guiné. Foi o navio, com o Uíge,  que mais viagens fez para a Guiné. Os grandes paquetes, como o Vera Cruz (com capacidade para transportar mais de 2000 passageiros), não podiam operar no Porto de Bissau. O T/T Vera Cruz fazia viagens para Angola e Moçambique.

Foto do livro "Histórias da CCAÇ 2533" [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



N/M  Carvalho Araújo a caminho da Guiné. A 26 de abril de 1970, avistámos à ré o N/M  Vera Cruz (a caminho de Angola ou Moçambique, presumivelmente).

Foto (e legenda): © António Tavares (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

  1. E se tivessem ido ao fundo, por acidente, ataque  ou sabotagem, estes três navios que eram a espinha dorsal da frota de navios requisitados à Marinha Mercante para o transporte de tropas durante a guerra do ultramar / guerra de África / guerra colonial?

Recorro, mais uma vez,  ao nosso "enciclopédico" Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África" (Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pp. 3906 e ss.), que tem informação preciosa sobre esta matéria no seu capítulo IV (As despesas da guerra).(*)

Escreveu ele: "Estes três navios que asseguraram 75% das viagens de ligação de Lisboa para África realizaram 146 viagens para Angola, 50 para a Guiné e 30 para Moçambique" (pag. 306). 

Analisando o período entre 1965 e 1970 (seis anos), o autor apurou que o número médio anual de viagens foi 18, 8 e 5, para Angola, Guiné e Moçambique, respetivamente (pág. 307).  A média de militares transportados (ida e volta), por ano foi a 70 mil: mínimo, 54 mil em 1966, máximo, 74,9 mil em 1969.

Discriminam-se a seguir os navios que transportaram tropas enter 1961 e 1975, por ordem descrescente do nº de viagens, com destaque para o Vera Cruz, o Niassa, o Uíge e o Ana Mafalda, com mais de duas dezenas de viagens:

Vera Cruz: 85;
Niassa: 66;
Uíge: 47; 
Ana Mafalda: 22;
Índia: 13;
Cuanza: 11;
Império: 9;
Pátria:7;
Carvalho Araújo: 5;
Total=265.

Estes nove  seriam os principais navios afetos ao transporte de tropas... Mas o autor fala num frota de 15... Há outros que fizeram viagens esporádicas: Arraiolos (em 1961, para Angola, e depois em 1974, para a Guiné); Sofala (em 1963, para a Guiné)...Cita ainda o Timor: 2 viagens para a Guiné em 1967;  outra, em 1969, para a Guiné; em 1970, para Angola; em 1971, outra para Angola e Moçambique,

Mas há mais: em 1974, os navios Bragança, Cabo Bojador e Alcobaça, fizeram uma viagem para a Guiné; e em 1975 realizaram uma viagem a Angola e Moçambique os navios Lendas, Beiras, Amarante,  Infante D. Henrique, e o Serpa Pinto. E ainda em 1975, mas só para Angola, viajaram o Papacostas, o Panarrange (duas viagens), o Lobito, o Novo Redondo e o Leixões (pág. 309), nomes de navios de que nunca tinha ouvido falar...

Mas, no caso de transportes de tropa para a Guiné (e da Guiné), há omissões, não sendo referidos o N/M Angra do Heroísmo, o N/M Rita Maria e o N/M Alenquer. O N/M Lima não sei se alguma vez foi à Guiné. Mas há ainda o N/M Alfredo da Silva (que viajava para a Guiné, era da SG / CUF)... e se calhar outros que não nos vêm à memória.

Vejam-se aqui as referências todas que temos no blogue aos navios N/M (, às vezes designados por T/T no texto), por ordem decrescente de referências:

N/M Uíge (54)

Segundo a fonte que  temos vindo a citar (Sousa, 2021, pág. 309),  o Uíge (com lotação de 571 passageiros e 139 tripulantes)  fez mais viagens (28) para a Guiné do que o Niassa (22). O Ana Malfada também fez muitas viagens para a Guiné, "sobrelotado com unidades dos Açores e da Madeira, chegando a levar duas companhia (cerca de 300 homens), apesar de a sua lotação ser apenas de 52 passageiros e 47 tripulantes".

O N/M Funchal nunca transportou tropas que eu saiba, era um navio de cruzeiro... Transportou, sim, em fevereiro de 1968,  o alm Américo Tomás, e sua comitiva na visita presidencial à Guiné, ainda no tempo do gen Schulz. Daí ter uma referência no nosso blogue.

Nunca, ao longo da nossa história secular, recrutámos, mobilizámos e transportámos tantos combatentes, para teatros de operações,  distantes, em milhares de quilómetros, em África, como durante o período de 1961/74. Basta recordar que nos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique) estiveram empenhados cerca de 800 mil militares portugueses: cerca de 70% provenientes da metrópole, e sendo os restantes do recrutamemto local (pág. 199).

Nessa época Portugal tinha uma belíssima  frota da marinha mercante, à qual podia requisitar navios para transporte de tropas, material de guerra e outros meios logísticos. Em 1971, o país aumentaria a sua capacidade de transporte por via áerea, com a aquisição de dois aviões Boeing 707, por parte dos TAM - Transportes Aéreos Militares. Começaram a operar na ligação Lisboa-Luanda, trajeto que faziam em 10 horas (, enquanto o Vera Cruz demorava 10 dias). 

É bom recordar aqui a demora média das viagens para os três teatros de operações, por via marítima:  9/10 dias, Lisboa-Luanda; 5/6 dias, Lisboa-Bissau; 19/22 dias, Lisboa-Moçambique (dependendo do porto de desembarque) (pág. 307). 

Vinheta de propaganda da ARA,
referente à sabotagem do navio
de mercadorias Cunene, Lisboa,
em 26 de outubro de 1970.

Mas, fazendo aqui um parêntesis: felizmente que nunca ocorreu nenhum acidente, ataque ou sabotagem
aos navios de transporte de tropas, entre 1961 e 1975... O que podia perfeitamente ter ocorrido, dada as enormes distâncias, a percorrer, nos oceanos Atlântico e Índico, entre Lisboa, Guiné, Angola e Moçambique, a par do contexto geopolítico hostil a Portugal durante esse período.

O único navio que foi alvo de sabotagem, quando atracado no porto Lisboa, foi o Cunene, em 26 de outubro de 1970. Mas o alvo inicial, ao que parece,  seria o Vera Cruz, atracado ao lado.  O Cunene sofreu um rombo, no costado, atrasando a sua partida por alguns dias. Não era um navio de transporte de tropas, era um navio de carga, de 16 mil toneladas, construído na Polónia, e que se preparava para partir para África, com material de guerra e outros meios logísticos, Era considerado o mais moderno cargueiro das linhas de África, e pertencia à SG - Sociedade Geral, do grupo CUF.

Houve ainda, por parte da ARA,  duas ações,  contra navios, o Muxima e o Niassa, que transportariam também material de guerra para a África. Mas as cargas explosivas foram detonadas no sítio errado.  

Entretanto, a sabotagem, com maior impacto, mediático e político (, pela ousadia e os avultados prejuízos materiais) foi a levada a efeito pela ARA contra a Base Aérea nº 3, em Tancos, em 8 de março de 1971. Não afetou, porém, a capacidade de transporte aéreo entre Portugal e os territórios ultramarinos. 

A Acção tinha como nome de código "Aguia Real". Resultados: num total de 28 aeronaves atingidas, 12 ficaram totalmente destruídas: dois helicópteros Puma (SA-330) e outros quatro Alouettes III; e seis aviões de vários modelos (quatro Cub, um Auster e três Dornier DO-27); um outro aparelho ficou “irrecuperável”, havendo mais 15 atingidos, ainda que recuperáveis, segundo balanço feito, no dia seguinte, por um relatório secreto da Secretaria de Estado da Aeronáutica,

Há ainda notícia de uma acção das Brigadas Revolucionárias (BR), a  9 de Abril de 1974, contra o navio Niassa, que se preparava para sair de Lisboa com tropas para a Guiné. "A bomba foi colocada no porão adaptado a dormitório dos soldados e estava preparada para explodir às 18 horas. Uma hora e quinze minutos antes, as Brigadas telefonaram para o Porto de Lisboa a reivindicar a colocação da bomba e a alertar para o navio ser evacuado, o que permitiu que não houvesse acidentes maiores ou danos mortais. Os danos acabaram por ser apenas materiais e depois de reparado o rombo provocado, o navio partiu para a Guiné. Poucos dias depois dá-se o 25 de Abril." (Fonte: Ana Sofia Matos Ferreira, "Luta Armada em Portugal (1970-1974)", Tese de doutoramento em História Contemporânea. Lisboa: Universidade NOVA de Lisboa, 2015, pág. 300).

2. Excerto extraído da página CD25A / UC - Centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra, relativamente aos transportes de tropas, marítimos e aéreos, durante da guerra colonial (com a devida vénia...) (P1299)(**)

(...) As guerras de África implicaram a manutenção da maior força armada no exterior, que Portugal alguma vez formou ao longo dos seus oito séculos de história. (...) O seu simples transporte e apoio logístico era problema de grande envergadura para um país das dimensões de Portugal e com os seus recursos, mas sem esse problema ser resolvido não podia haver guerras de África.

Podemos dizer que a solução começou a ser pensada logo após a Segunda Guerra Mundial. Em 1939-45, tornou-se evidente que um dos pontos que criavam maiores dependências do país em relação ao exterior, em alturas de crise, era a falta de uma marinha mercante e de ligações regulares com o império. Durante a guerra, por exemplo, os produtos de Angola apodreciam nos portos e, embora fosse possível comprar petróleo, não se conseguia assegurar o seu transporte.

O Governo decidiu dar prioridade à resolução desse problema. Logo em 1945 foram aprovadas duas medidas que implicaram vultosos investimentos nesse sentido. A primeira foi o despacho de 10 de Agosto do ministro da Marinha, onde se previa a ampla renovação da marinha mercante nacional por meio da construção de 70 navios, com apoio do Estado, entre os quais nove grandes paquetes. A segunda foi a decisão de criar uma companhia aérea do Estado (a TAP), com a prioridade de iniciar as operações da chamada linha imperial, de ligação regular com Angola e Moçambique.

Em finais dos anos 50, depois de investimentos públicos de grande envergadura, a marinha mercante portuguesa teve o seu desenvolvimento máximo. Contava, nomeadamente, com 22 paquetes, no total de 167 000 toneladas. Entre eles estavam os quatro gigantes: Santa Maria, Vera Cruz, Príncipe Perfeito e Infante D. Henrique, com cerca de 30 000 toneladas cada, capazes de transportar mais de 1000 passageiros ou mais de 2000 soldados.

Muitos destes paquetes foram requisitados em diversas ocasiões para transporte de tropas, muito especialmente na fase inicial da guerra, e as restantes unidades da marinha mercante seriam essenciais para manter o esforço em África. Os paquetes mais requisitados na ligação a África foram o Vera Cruz, o Niassa, o Lima, o Império e o Uíge.

O Niassa foi o primeiro paquete afretado como transporte de tropas e de material de guerra, por portaria de 4 de Março de 1961, mas seria o Vera Cruz a fazer mais viagens, chegando a realizar 13 num ano. Em 1961, efectuaram-se 19 travessias por nove paquetes em missão militar e o ritmo aumentou à medida que a força expedicionária em África crescia (...).

Até 1974, o mar era a grande via de ligação ao império, tendo mais de 90 por cento da carga e de 80 por cento do pessoal metropolitano empenhado na guerra sido transportado em navios.

A linha aérea imperial começou a funcionar em 1947, mantida inicialmente pelos velhos Dakotas da TAP, que asseguravam a ligação a Luanda e a Lourenço Marques (5). Em 1948, os bimotores foram substituídos pelos quadrimotores DC-4 Skymaster, com os quais se conseguiu, pela primeira vez, a ligação semanal regular com o império.

Mais tarde, os DC-4 foram substituídos pelos Constellation e, desde, 1955, pelos Super Constellation, que transportavam 83 passageiros para Luanda em menos de 24 horas. Só em 1965 estes aparelhos foram substituídos na TAP pelos Boeing 707, os primeiros aviões a jacto de longo curso usados por Portugal.

O esforço de guerra não podia ser mantido só com a linha da TAP e assim a Força Aérea, desde muito cedo, tentou desenvolver os transportes aéreos estratégicos, missão entregue aos TAM (Transportes Aéreos Militares), que começaram a operar na primeira metade dos anos 50 a partir do AB1, em Lisboa, para o que usaram dois C-54 (o equivalente do Skymaster), cedidos pelos americanos para uso nos Açores. Em 1955, os TAM contavam já com uma frota de 11 C-54 ou DC-4, mas todos antiquados.

Quando a luta armada rebentou em Angola, os Constellation da TAP foram requisitados e fizeram viagens como transportes de tropas, enquanto os C-54 dos TAM tentaram manter a ligação regular com Luanda, em voos que demoravam 22 horas. As dificuldades eram muitas para os velhos aviões e quatro deles perderam-se em acidentes. (...)

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra (2006)



Ministério do Eército > Direção do Serviço de Transportes > Ordem de Transporte nº 20, de Lisboa para o CTIG... Total de militares: 1735. Cópia de documento gentilmente cedida pelo nosso camarada Manuel Lema Santos, 1º ten RN 1965/72, Guiné, NRP Orion, 1966/68.



3. Diz o ten cor (na reserva), doutorado em história e ex-professor da Academia Militar, Padro Marquês de Sousa, no livro supracitado, que no transporte de militares,  "era sempre excedida a lotação de passageiros dos navios" (pág. 306), o que todos nós sabemos pro dura experiência própria... 

E dá, como exemplos o Vera Cruz e o Niasssa. Este, com lotação de 322 passageiros e 132 tripulantes). "chegou a transportar oito companhias e outras unidades mais pequenas, o que implicava cerca de 1500 homens"... 

Na realidade, em 24 de maio de 1969 partiram de Lisboa, com destino a Bissau, 1538 militares, conforme relação  da Companhia Nacional de Navegação (, referente à viagem nº 101), que a seguir se transcreve... Mas, no Funchal, no dia 26, de manhã, embarcou mais um companhia, a CCAÇ 2529 / BII 19, ou seja, mais 158 homens, como aliás estava previsto na Ordem de Transporte nº 20, já atrás reproduzida. (**)

Em resumo, a "lata de sardinhas" viu aumentada em 5,4 vezes mais a sua "lotação", passando dos habituais 322 passageiros para os 1739 (!).(***)

E lá fomos nós, "cantando e rindo", com partida de Lisboa, do Cais da Rocha, no dia 24 de maio de 1969, às 11h05, e chegada da a Bissau a 29, às 22h50... O navio esteve fundeado nessa noite e só atracou no dia seguinte, às 8 da manhã...

Garante-nos o Manuel Lema Santos que  T/T Niassa foi escoltado na ida (e na volta), entre Bissau e o Farol do Caió, pela LFG Cassiopeia.




Companhia Nacional de Navegação > N/M "Niassa > Viagem nº 101 > Relação dos militares embarcados em Lisboa, com destino a Bissau > Cópia de documento gentilmente cedida pelo nosso camarada Manuel Lema Santos, 1º ten RN 1965/72, Guiné, NRP Orion, 1966/68. (**)



Alguns dos nossos T/T... Cortesia de Carlos Pinheiro (2012) /  Sítio Navios da Marinha (que não já existe, alojado no Sapo).

Ver aqui o Álbum dos Navios da Marinha Mercante Portuguesa
Publicado pela Junta Nacional da Marinha Mercante em Junho de 1958


(...) No final da década de 60 do século XX a Marinha Marcante Nacional atingia o seu apogeu, quer em número de navios existentes (mais de 100), em construção e em compra a outras marinhas e/ou estaleiros, quer em transporte de passageiros (com uma capacidade superior a 8.000) quer ainda de carga (com uma arqueação total superior a 1 milhão de T.A.B) o que fazia dela, Marinha Mercante, mas apenas de per si, uma das melhores da Europa e das mais reconhecidas, quer pelas qualidades dos seus profissionais, quer pela apresentação e qualidade dos seus navios.

Logo no início da década de 70 do século passado, o crescimento abrupto, inesperado, mas eficiente e ultra rápido do transporte aéreo de passageiros, com a ocorrência dos motores a jacto, tornaram o transporte marítimo de passageiros rapidamente obsoleto, quer em tempo (7 dias de Lisboa a Luanda via marítima contra 7 horas via aérea) quer em preço, conseguindo as companhias aéreas oferecer valores de transporte aéreo inferiores aos do marítimo. 

Assim e de uma assentada, ainda antes da fracturante data de 1974, praticamente todos os paquetes foram vendidos (“Santa Maria”, “Vera Cruz”, “Pátria”, “Império”, “Uíge”, “Angola”, “Moçambique” “Índia “, “Timor”, Angra do Heroísmo”, “Amélia de Melo”, ficando a agonizar os “flâmulas” “Infante FDom Henrique”, “Príncipe Perfeito” e “Funchal” (este o último e único existente, mas de duvidoso futuro…) (...).

___________

(**) 21 de novembro de  2006 > Guiné 63/74 - P1299: Antologia (54): Transporte de tropas, por via marítima e aérea (CD25A / UC)

quarta-feira, 25 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20774: O que é feito de ti, camarada ? (11): o que é feito dos mais de 1700 camaradas que fizeram o "cruzeiro das suas vidas", no T/T Niassa, com partida em 24/5/1969, incluindo o Jerónimo de Sousa, hoje deputado e secretário-geral do PCP ?



Torres Novas > 25 de maio de 2019 >  Cinquentenário da partida da CART 2520, para o CTIG, em 24/5/1969 > Reconhecemos: (i) o José Nascimento, o primeiro, a contar da esquerda, na 2ª fila (de pé) ; e (ii) na mesma fila, de pé,o terceiro, a contar da esquerda, é o Manuel Viçoso Soares (hoje empresário, no Porto), ex-fur mil armas pesadas: esteve em Monte Real, em maio de 2017, por ocasião do XII Encontro Nacional da Tabanca Grande; na altura em que foi convidado para se  sentar à sombra do nosso poilão...

Foto (e legenda): © José Nascimento (2019). Todos os direitos resevados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



 T/T Niassa > A caminho da Guiné > c. 24-29 de maio de 1969 > Quadros metropolitanos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), na viagem de Lisboa-Bissau (24 a 29 de Maio de 1969). Da esquerda para a direita: 2º sargento Videira (já falecido) , furriéis milicianos António Branquinho (já falecido), Tony Levezinho, Humberto Reis, Joaquim Fernandes, Luís M. Graça Henriques e Almeida  já falecido). Na mesa de trás, ao fundo, receonhece-se o fur mil enf  João Carreiro Martins.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lourinhã > Zambujeira e Serra do Calvo > 25 de fevereiro de 2018 > "Homenagem da Zambuejira e Serra do Calvo aos seus combantentes"... Monumento inaugurado em 5 de outubro de 2013 (e não em 2015, segundo lapso do nosso colaborador permanente José Martins.). Foi uma patriótica iniciativa do Clube Desportivo, Cultural e Recreativo da Zambujeira de Serra Local.

Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar que parte para África. Ao canto inferior esquerdo a quadra: "Adeus, terras da Metrópole / Que eu vou pró Ultramar /, Não me chorem, mas alegrem [-me], / Que eu hei-de regressar"... No chão, em calçada portuguesa, lê-se: "Em defesa da Pátria". Abaixo do panel, há um livro metálico com os nomes de todos os nossos camaradas, naturais das duas povoações, que combateram no Ultramar.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Ministério do Exército > Direção de Serviço de Transportes > 19 de maio de 1969 > Ordem de transporte nº 20. Cortesia de Manuel Lema Santos (2007) (*)



1. Mais de 1700 camaradas partiram no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969, para o CTIG, incluindo minha CCAÇ 2590 / RI 2 [, mais tarde, CCAÇ 12), entre outras companhias independentes, nove ao todo,  e ainda 2 Pel Mort e 1 Pel Canhão s/r, mais pessoal de saúde e do Depósito Geral de Adidos (DGA)... 

As companhias ditas "independentes" foram:

CART 2520 / GACA 2 [ hoje Escola Prática de Polícia, em Torres Novas]
CART 2521 / GACA 2

CCAV 2525 / RC 7 [Ajuda, Lisboa]

CCAÇ 2527 / BII 18 [Ponta Delgada] [Concentrada no CIM]
CCAÇ 2529 / BII 19 [Funchal, onde embarcou]

CCAÇ 2531 / RI 2 [Abrantes]
CCAÇ 2533 / BC 10 [Chaves]

CCAÇ 2590 / RI 2 [futura CCAÇ 12]
CCAÇ 2591 / RI 16 [Portalegre]  [futura CCAÇ 13]
CCAÇ 2592 / R1 16 [futura CCAÇ 14]

CMP 2537 / RL 2

Outras subunidades:

PEL MORT 2116 / RI 15 [Tomar]
PEL MORT 2117 / BC 10 [Chaves]
PEL CAN S/R 2126 / BC 10

Lembro-me que passámos pelo Funchal, para embarcar mais "carne para canhão": a CCAÇ 2529...

Para a grande maioria de nós, foi "o cruzeiro das nossas vidas"... E, muito possivelmente, o "único"... Íamos todos anónimos, mas com "bilhete de embarque válido", só de ida, que o regresso só seria... quando Deus quisesse, ou na vertical ou na horizontal... 

Entre a gente anónima viajávamos alguns de nós que hoje aqui nos sentamos sob o poilão da Tabanca Grande, aqui discriminados por subunidade:

(i)  CART 2520: o José Nascimento...

(ii) CART  2521: o Constantino Ferreira d'Alva...

(iii) CCAV 2525: não temos nenhum representante...

(iv) CCAÇ 2527:  não temos nenhum representane [embora já tenhamos publicado um poste do Miguel Soares]

(vi) CCAÇ 2529: não temos nenhum representante;

(vii) CCAÇ 2531: não temos nenhum representante;

(viii) CCAÇ 2533: o Luís Nascimento...

(ix) CCAÇ 2590 / CCAÇ 12: o Luís Manuel da Graça Henriques, o Humberto Reis, o António Levezinho, o António Manuel Martins Branquinho (1947-2013),  o António Manuel Carlão (1947-2018), o José Manuel P. Quadrado (1947-2016), o José Marques Alves (1947-2013),  o José Manuel Rosado Piça, o Fernando Sousa,  o António F. Marques, o José F. Almeida, o João Carreiro Martins, o Joaquim Fernandes, o Abel Maria Rodrigues, o Gabriel Gonçalves, o António Mateus,  o José Luís Vieira de Sousa,..., entre outros (estou a citar de cor);

(x) CCAÇ 2591 / CCAÇ 13: o Carlos Fortunato...

(xi) CCAÇ 2592 / CCAÇ 14: o António Bartolomeu. o Eduardo Estrela...

(xii) CMP 2537: não temos nenhum representante,  apesar do convite público ao  ex-sold cond auto Jerónimo de Sousa,   hoje uma cohecida figura pública, secretário-geral do PCP - Partido Comunista Português, e deputado da Nação...

Dos Pel Mort 2116, Pel Mort 2117 e Pel Can S/r 2126... não temos, salvo erro, nenhum representante.

Vamos comemorar os 51  anos do nosso embarque no T/T Niassa... mas com uma terrível pandemia, que ameaça o nosso futuro, a COVID-19. Ocorre-nos perguntar: o  que é feito de vocês, camaradas ? E porque é que não dão sinal de vida ou fazem prova de vida, os que são membros da Tabanca Grande ?

Tirando a malta da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, temos tão poucos representantes do resto da maralha (1700 homens!)  que fez este "cruzeiro" (**).

2. O nosso camarada e amigo Manuel Lema Santos (1º Ten  RN 1965/72, Guiné, NRP Orion, 1966/68) fez-nos aqui uma pormenorizada, deliciosa e preciosa descrição do nosso "cruzeiro" (*)

(...) O T/T Niassa, em Maio de 1969 e conforme reza a Ordem de Transporte nº 20 do ME, transportou a CCAÇ 2590 e também as Unidades indicadas no seguinte quadro, com o itinerário e horários que mais abaixo se discriminam [vd. cópia da ordem de transporte, acima reproduzida]

Tratou- se de uma dupla viagem Lisboa–Bissau–Lisboa–Funchal–Bissau–Lisboa.

Teve início a 5 de Maio, em Lisboa, e terminou, novamente em Lisboa, a 13 de Junho de 1969.
Capitão de Bandeira: CFR Abel da Costa Campos de Oliveira.

Comandante do Niassa – Cmte Arnaldo Manuel Sanches Soares.

As partidas e chegadas em cada escala fizeram-se de acordo com as seguintes datas e horários:

Lisboa (Cais da Rocha) - partida > 071110Z Mai69
Bissau (Fundeado no Geba) - chegada > 121605Z Mai69
Bissau (Atracado) > 121835Z Mai69
Bissau (Atracado) - partida > 150733Z Mai69
Lisboa (Atracado) – chegada > 210645Z Mai69
Lisboa (Cais da Rocha) – partida > 241105Z Mai69
Funchal (Atracado) – chegada > 252357Z Mai69
Funchal (Atracado) – partida > 260135Z Mai69
Bissau (Fundeado) – chegada > 292250Z Mai69
Bissau (Atracado) – chegada > 300800Z Mai69
Bissau (Fundeado) > 021100Z Jun69
Bissau (Atracado) > 05????? Jun69 (não definido)
Bissau (Atracado) – partida > 070135Z Jun69
Caió (Fundeado) – chegada > 080135Z Jun69
Caió (Fundeado) – partida > 080830Z Jun69
Lisboa (Atracado) – chegada > 131110Z Jun69

Transportou de Lisboa, na totalidade, 52 oficiais, 187 sargentos e 1299 praças,  além de 1727 toneladas de carga, depois de corrigidos alguns desvios de última hora à previsão acima feita (...).

No Funchal embarcou a CCAÇ 2529.

O T/T Niassa Foi escoltado na ida e na volta, entre Bissau e o Farol do Caió, pela LFG Cassiopeia

Foram normalmente distribuídas as ementas das refeições servidas a Oficiais, Sargentos e Praças, sendo que havia alguma diferença nas qualidades das refeições respectivas, correspondentes às classes em que viajaram.

Durante a viagem foram exibidos, nos passatempos habituais, os seguintes filmes:

- Harper, O Detective Privado
- Ninguém Foi Tão Valente
- D. Camilo na Rússia
- Três Vezes Mulher
- A Cidade Submarina
- A Rapariga das Violetas

Foi sorteado um transistor, oferta do MNF [. Movimento Nacional Feminino],  no dia 28 de Maio, à chegada a Bissau.

Foi servido um jantar de despedida oferecido em nome do Comandante do Navio e do Capitão de Bandeira a todas as forças embarcadas, quer na ida quer no regresso, com ementas especiais. (...)