Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Candoz. Páscoa 2024 > A Natureza pujante, em nosso redor... O fotógrafo fez estas "aguarelas" que oferece aos nossos leitores, com votos de uma feliz e santa Páscoa.
1. Este ano a casa de Candoz não abre as suas portas ao compasso pascal, na segunda-feira, dia 1 de abril... Não se acende o forno, não há o tradicidonal "anho assado com arroz de forno", iguaria da região e da festa pascal.
A família ainda está de luto, pela morte da nossa querida Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares, 'Nita' (1947-2023).
Mas no passado dia 23, a Quinta de Candoz lançou um vinho, seleção da colheita de 2023, em sua homenagem, com o seu petit-nom 'Nita« no rótulo.
As primeiras cinquenta garrafas, numeradas, foram oferecidas aos familiares e amigos que se quiseram juntar para lembrá-la e homenageá-la. A irmã, Alice Carneiro, 'Chita', dedicou-lhe as palavras que a seguir se reproduzem (cortesia do blogue A Nossa Quinta de Candoz),
24 de março de 2024: Homenagem à nossa Nita (1947-2023)
pela Chita
Há um ano que partiste…para a viagem mais solitária, que todos temos de fazer um dia, mais cedo ou mais tarde, a da despedida da Terra da Alegria…
Tu partiste, maninha… E deixaste cá tudo, o que não precisavas, para essa tua última viagem, incluindo a Quinta de Candoz…
Tu partiste, mas deixaste-nos o espírito de Candoz, que tu sempre viveste e representaste como ninguém, ao longo de quase quatro décadas… Esse espírito continua vivo e a inspirar-nos.
Tu partiste, Nita, mas podes continuar a ter orgulho no teu Gusto, nos teus filhos e noras, nos teus sobrinhos, em todos nós que aqui estamos: enquanto secamos as nossas lágrimas, e suspiramos por ti, prometemos também nunca te esquecer, e manter vivo o teu testemunho, o teu exemplo de vida, o teu amor a este cantinho que é Candoz.
Tu partiste, mas sempre personificaste o dom, a doçura, o prazer e a alegria de dar e receber.
Tu partiste, minha querida mana, mas todos nós tentámos dar a volta à nossa dor, elegendo-te como a nossa deusa tutelar, protetora e inspiradora.
Tu partiste, mas continuamos a fazer, juntos, coisas lindas como este vinho na tua/nossa Quinta de Candoz…
Foi um sonho lindo, sobretudo do teu filho Tiago. Ele quis, e nós todos quisemos, fixar uma parte de ti, o melhor de ti, a tua “alma”, no rótulo e no conteúdo das garrafas deste nosso vinho, colheita especial de 2023, o ano em que partiste!
Na Quinta de Candoz, tu foste, comigo (e claro o teu homem), a mais entusiástica do projeto de modernização da cultura da vinha, há 40 anos.
Agora, com outras condições tecnológicas e com o apoio de enólogo, temos a primeira colheita e a primeira garrafa com o teu nome, o teu “petit-nom”, Nita.
Para além dos sabores e cheiros que o enólogo tão bem identificou, nós acrescentamos: tem também uma lágrima tua, uma pitada da tua alegria de viver, da tua felicidade na terra, muita da tua essência, do teu perfume, da tua generosidade, das tuas memórias e referências, que são também as nossas…
Fazer este vinho (e agora prová-lo neste dia tão especial) deu-nos vida e, acima de tudo, reforçou a nossa vontade de continuar a cuidar do teu legado..
Nita, tu partiste apenas, não “morreste” (nos nossos corações)…
Deixo aqui também um álbum com os versinhos e as orações que te dedicámos, eu e a minha família, e também uma seleção de fotos dos nossos melhores momentos.
Vou também agora brindar, com muita emoção, à tua memória, mas também à nossa vida, aos teus amores e aos teus amigos, incluindo os do ISEP, dos coros e do cavaquinho, que quiseram estar aqui contigo e connosco.
Um brinde também aos nossos descendentes, filhos e sobrinhos, que admiravelmente estão a manter vivo e a reinventar o espírito de Candoz.
Lá no alto, lá na tua “estrelinha”, querida Nita, continua a proteger-nos, a velar por nós e a inspirar-nos!
Todos aqueles que já me leram sabem que eu considero o vinho como a melhor droga estimuladora da criatividade, moderado, claro está. Um copinho de tintol, ou mesmo de branco fresco, nestes dias de verão, é uma bênção do céu, admitindo que existe Céu.
Gostaria que nesta extemporânea reflexão coubesse tudo o que há de bom no mundo, mas infelizmente há mais de mau do que de bom, o suficiente para levar à extinção do ser humano, a espécie que, apesar de tão infinitesimal no Universo, mais tem envergonhado a natureza e mais tem dado cabo de tudo o que poderia criar o equilíbrio e a harmonia.
O vinho, como disse, é uma espécie de fio-de-prumo que equilibra o nosso pensamento. O pensamento é o resultado de triliões de neuro-transmissões, e não é grosseira metáfora dizer que o vinho é uma espécie de óleo que lubrifica os nossos canais neuronais. Quem quiser que acredite, quem não quiser acreditar que beba água. Sem pretender colidir com a maravilha, com a ética e a estética da existência, penso que um copinho permite chegar mais depressa à interface que eu considero como fronteira entre a condição antropológica e a condição universal do ser humano. Só aí, calmamente sentados em qualquer tosca pedra, poderemos olhar o infinito e sentirmo-nos capazes de reconhecer a merda que somos.
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1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 17 de Junho de 2022:
O VINHO NOSSO DE CADA DIA
Alcobaça é uma cidade hoje muito aquém da vitalidade de outros tempos em que era uma vila pulsante das suas gentes na sua indústria e comércio. Era o epicentro de uma região agrícola e vinícola, que inundavam as feiras e mercados semanais e a praça de produtos hortícolas diária. Esse movimento desaguava numa troca de bens e serviços entre o campo e a vila, onde o comércio de roupas, ferragens, casas pasto e cafés era exuberante e rentável.
Nas aldeias onde pontuam as pequenas quintas de subsistência, o cultivo era variado desde a fruta temporã mais para oeste e legumes batatas e cenouras mais para os campos da Cela e Valado dos Frades que Alcobaça dividia a meias com a Nazaré.
Mas não havia agricultor por pequeno que fosse, que não guardasse um cantinho para a vinha legado dos Monges de Cister. Era um sítio sagrado, onde os garotos criavam água na boca a olhar para os cachos doirados, mais proibidos que o fruto proibido do Eden. Eram para fazer o vinho por isso intocáveis.
Era motivo de orgulho o vinho que cada um fazia e dava a provar aos amigos, não faltando as comparações mais ao menos críticas, com o de outros, que não estavam presentes.
Mas Alcobaça tinha fama nos vinhos da Adega Cooperativa. (visitar o Museu do Vinho). Os brancos e tintos muito apreciados e até a serem incluídos no Grande Livro de Pantagruel.[*]
Eu, oriundo de família operária sem terra, só despertei para vinho na Guiné onde nos era servida uma coisa parecida que vinha em bidons de 200 litros. Inicialmente intragável, logo me fui habituando à beberagem que comparava com Dão bem fresco, quando almoçava no Libanês em Bafatá. Eram memoriais essas idas a Bafafá, onde nos dávamos aos excessos que o magro pré nos permitia uma vez por mês.
Quando regressei e passei a conviver com o meu sogro, homem do campo que também era afinador de teares e que fazia da sua terra um autêntico jardim. Também fazia o seu vinho ou água pé, que invariavelmente se bebia bem quando era novo, mas depois eu desviava-me dele pouco tempo depois. Dizia ele muito eufórico “que aquilo é que era vinho real” e sabemos nós que na época se fez muito a “martelo”.
Mas eu não sabendo fazer mas sabendo, que havia outras formas de o fazer, lá lhe fui soprando aos ouvidos que ele deveria ir há junta Nacional dos Vinhos mandar analisar a terra e eles, que o aconselhassem o tipo de castas, que deveria usar numa vinha virada a nascente por isso de terra fria. E assim ele fez para minha estranheza. De lá veio com os conselhos e os bacelos das castas em percentagem para o vinho ficar bom. Não me lembro das castas mas pelo menos uma era de Bordeaux. Assim quando fez o vinho ninguém parou de o elogiar pela “pomada”, que tinha produzido, era na verdade um excelente vinho e passou a ser enquanto ele cuidou da fazenda e da vinha.
Há dias fiquei surpreendido com folheto de super-mercados onde eram publicitados como sendo grandes e caros vinhos, que o enólogo aconselha por exemplo: - um “Douro e Cor Violeta de Concentração e Persistência Elevada. Intensidade e Acidez média com sabor a ameixa, caril e baunilha, - ou um Alentejo Cor Rubi/ Granada, de Concentração Elevada e Acidez Média. Com Sabor a Especiarias, Ameixa e Carne, - ou outro Alentejo com cor, concentração, intensidade e acidez média. Com Sabor a Ameixa, Baunilha, Coco, Caril e Café”
Meus caros camaradas, é caso para perguntar para onde foram as uvas? Onde estão as Tourigas nacional, o Fernão Pires, o Trincadeiro que faziam o aclamado vinho do meu sogro como “vinho real”?
Isto leva-me ao velho dito, que o armazenista de vinhos dizia ao filho; “Meu filho, fica sabendo que até de uvas se faz vinho”.
Hoje bebo um copo à vossa saúde e agradeço a todos os que me desejaram bom aniversário.[1]
Um abraço 17/06/2022
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[*] - Os Monges da Abadia de Cister deixaram legado também na doçaria e licores de onde sobressais a Ginja de Alcobaça que não tem igual.
[*] No Grande Livro de Pantagruel reza assim;
Alcobaça. Nesta região - a Al-cacer-bem-el-Abbaci dos antigos mouros - caracterizada por uma grande diversidade de terrenos e de climas, existem admiráveis vinhos, cuja fama já vem do Século XII, devendo principalmente os leves e muito aromáticos tintos, de cores brilhantes e suave sabor, das castas João-de-Santarém, Grand-Noir, Tintinha e Trincadeira. Os brancos de Alfeizerão – de uvas Fernão-Pires, Rabo de Ovelha e Tamarez - também merecem especial atenção. “Tais vinhos reais do meu sogro”.
“Bebe sempre o vinho mais puro que possas adquirir, porque o verdadeiro vinho anima e fortalece”.
Baião > Mosteiro de Ancede > Exposição "Ver do Bago nos Mosteiros" > Maio de 2021 > "Através do mergulho em quatro espaços expositivos totalmente distintos (o Rio, o Mosteiro, a Adega e o Lagar), descobriremos peças preciosas, como o tesouro nacional que é o tríptico de São Bartolomeu, só exposto há quase um século (Exposição do Mundo Português, anos 40 do século XX), e experimentaremos duas verdadeiras experiências imersivas." Fonte: Câmara Municipal de Baião,com a devida vénia
Segundo o portal da Rota do Românico, "trata-se de uma pintura a óleo sobre madeira de carvalho, sem autoria atribuída, produzida
no primeiro quartel do século XVI, de importação, proveniente talvez da região da Flandres". (...) "No
primeiro painel, Santo André representado com o instrumento do seu martírio (a cruz em aspa),
no painel central, São Bartolomeu segurando na mão esquerda um livro, na direita uma faca
(utilizada no seu escalpelado) e a corrente com que encadeia o demónio (figura grotesca, espécie
de ave, que assoma atrás do taumaturgo); e, no terceiro painel, Santo António na sua iconografia
habitual: com a mão segura uma cruz e com a direita um livro fechado sobre o qual pousa o
Menino Jesus" (...)
1. Exposição > Ver do Bago nos Mosteiros
De 13-05-2021 a 12-09-2021 Local: Baião, Ancede, Mosteiro de Santo André de Ancede Rua Padre Lima, Ancede, Baião, Porto
Mail: visitasrr@valsousa.pt Horário: Quarta-feira a domingo: 09h-13h e 14h-17h. [A partir de 2 de junho: 10h30-13h30 e 14h30-18h].
O Promotor e coautor é a Rota do Românico. É cofinanciado pelos Municípios que integram a Rota do Românico e pelo Norte 2020, Portugal 2020 e União Europeia, no âmbito da operação “O Vinho, a Arte e os Homens”. Conta com o apoio de diversas entidades, entre as quais a Diocese do Porto, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, a Direção Regional de Cultura do Norte, o Turismo do Porto e Norte de Portugal
A Rota do Românico reúne, atualmente, 58 monumentos e dois centros de interpretação, distribuídos por 12 municípios dos vales do Sousa, Douro e Tâmega (Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Resende), no Norte de Portugal.
As principais áreas de intervenção da Rota do Românico são a investigação científica, a conservação do património, a dinamização cultural, a educação patrimonial e a promoção turística.
O Ciclo Ver do Bago terá continuação em mais outras duas exposições:
2ª exposição > Ver do Bago nos Santos
Igreja de Santo António dos Capuchos, Penafiel, setembro de 2021 a janeiro de 2022
3ª exposição > Ver do Bago no Sangue
Centro de Interpretação do Românico, Lousada, fevereiro de 2022 a junho de 2022
Um dos painéis interpretativos (aqui remontado, com a devida vénia...).
Foto: Luís Graça (2021)
2. Sinopose: Ver do Bago, um Brinde entre Deus e os Homens
A Rota do Românico é a protagonista e coautora desta viagem em que o território é a ideia e a cultura o instrumento, propondo um ciclo de três exposições que celebra a relação material e simbólica entre a vinha e a paisagem cultural e humana dos vales do Sousa, Douro e Tâmega.
(...) A primeira exposição deste ciclo, chamada Ver do Bago nos Mosteiros, convida-nos, a partir do Mosteiro de Santo André de Ancede, em Baião, a celebrar um verdadeiro brinde entre Deus e os Homens em torno do diálogo entre escultura, pintura e arqueologia, num roteiro interpretativo que evidencia a importância que a cultura da vinha e o consumo do vinho tiveram em todos os momentos da vida destas gentes.
Através do mergulho em quatro espaços expositivos totalmente distintos (o Rio; o Mosteiro; a Adega; e o Lagar), descobriremos preciosas peças, como o tesouro nacional que é o tríptico de São Bartolomeu, só exposto há quase um século (Exposição do Mundo Português, anos 40 do século XX), e experimentaremos duas verdadeiras experiências imersivas.
Já se imaginou a literalmente entrar num copo de vinho? E há quanto tempo não pisa num lagar? E quando antes folheou, leu e coescreveu um livro digital interativo, que nesta exposição começa agora a ser construído e que só terminará com o fim do ciclo das três exposições, daqui a mais de um ano?...
Agora que, finalmente, podemos estar juntos, queremos mesmo estar juntos. Connosco. Com Deus. Com o Homem. Com o Vinho. E com a Arte.
3. Sobre a tradição e a continuidade da cultura do vinho (verde) e das vindimas na Quinta de Candoz (, a escassos 10 km de Ancede), vd. aqui dois postes recentes:
(...) A vindima é agora, nos tempos que correm, um ritual mais técnico, sem o sabor bucólico e festivo doutros tempos, sem o mesmo esforço, a mesma "freima". (...)
Guiné-Bissau > Região de Gabu > Ponte Caium > Ao lado de um memorial aos mortos do 3º Gr Comb da CCAÇ 3546 (1972/74) , ainda existia em 2010, no tabuleiro da ponte, esta base de um nicho com a inscrição "Nem só de pão vive o homem. [Guiné] 72-74".
Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a descarregar garrafões de vinho, alguns dos quais têm o rótulo do Cartaxo (presumivelmente, da Adega Cooperativa do Cartaxo).
1. Nem só de pão vive o homem... Também precisa de poesia para viver (e hoje, 21 de março, até é o Dia Mundial da Poesia, um dia que foi criado, em 1999, na 30.ª Conferência Geral da UNESCO; também é Dia Internacional das Florestas...).
Mas não vamos falar de poesia, mas de vinho, se bem que um bom vinho seja "poesia engarrafada": "wine is bottled poetry" [a autoria da metáfora é a tribuída a um poeta, que não era francês nem português, mas da terra do "Scotch", Robert Louis Stevenson (1850-1894), o conhecido autor de "A Ilha do Tesouro": quem não o leu na adolescência ? É uma obra da literatura universal que faz parte do plano nacional de leitura, 7º ano].
“NAU – Ensino e Formação Online para Grandes Audiências” é um projeto online, pioneiro a nível nacional, de suporte ao ensino e formação, dirigido a grandes audiências.
(...) "É um serviço desenvolvido e gerido pela Unidade FCCN da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) que permite a criação de cursos em formato MOOC (Massive Open Online Course), ou seja, cursos abertos e acessíveis a todos, produzidos por entidades reconhecidas e relevantes na sociedade, que contam com a participação de milhares de pessoas."
Integra-se na missão (nacional) de promover: (i) o desenvolvimento digital, (ii) a inclusão e a literacia digitais, (iii) a educação e (iv) qualificação da população ativa.
3. Mas vamos ao curso, que o tempo escasseia:
(i) promovido pelo Turismo de Portugal;
(ii) é gratuito;
(iii) tem uma carga horária de duas horas e meia;
(iv) termina no fim deste mês;
(v) tem avaliação e certificado de aproveitamento (respostas certas a mais de 50% do teste final); e
(vi) é um dos cursos da plataforma NAU com maior número de matriculados (já cerca de seis mil).
Público-Alvo
Iniciação à Prova dos Vinhos é um curso promovido pelo Turismo de Portugal direcionado para profissionais do setor, estudantes e o público em geral que tenham interesse em conhecer mais sobre esta área.
Objetivos de Aprendizagem
Após a realização deste curso o formando deve ser capaz de:
1 - Descrever as etapas metodológicas do exercício de degustação; 2 - Selecionar o copo ideal e organizar a sala de prova; 3 - Explicar os principais fatores que contribuem para a correta avaliação da cor do vinho; 4 - Descrever o que são vinhos cristalinos, límpidos e turvos, estabilidade biológica; 5 - Executar os principais métodos no exame olfativo e gustativo; 6 - Descrever Potencial de persistência aromática, adstringência, causticidade e efervescência; 7 - Descrever e explicar a consistência do vinho; 8 - Aplicar a correta adequação do vinho à iguaria.
Atividades
Neste curso, o promotor pretende ir muito mais além do "gosto ou não gosto", ou do “sou como o Jacinto, tanto faz branco como tinto”, conseguindo dar resposta a perguntas como:
Que estilo de vinho?
Apresenta a tipicidade do seu terroir e da sua casta?
Estará no momento ótimo para ser servido?
Como devo servi-lo?
A que temperatura?
Decantar?
Com que copo?
Será adequado ao gosto das pessoas a quem se destina?
II. A vindima é agora, nos tempos que correm, um ritual mais técnico, sem o sabor bucólico e festivo doutros tempos, sem o mesmo esforço, a mesma "freima". (*)
A marcação da vindima é já feita em função do grau de maturação das uvas, da disponibilidade do pessoal da casa (poucos chegam) aos fins-de-semana. Já não há festa – também já não há os convidados citadinos para assistir e tudo se processa de uma forma mais racional.
Porque as videiras estão armadas em bardos baixos – portanto mais expostas ao sol –, porque as operações da poda verde (espoldra ou desladroamento, desponta, desparra ou desfolha) permitem uma melhor exposição dos cachos de uvas, a colheita é mais fácil e célere. Rapidamente os cestos (agora de plástico) ficam cheios e o seu transporte para a adega é de imediato feito através do tractor.
Agora – os tempos são outros! – a plantação é de videiras de uvas brancas originando vinho branco de bica aberta. O verde tinto é mais complicado de trabalhar, mais complexo, mais demorado e com menos aceitação e saída, a não ser localmente.
Na adega as uvas são imediatamente esmagadas com a desengaçadora, jorrando o mosto assim obtido para uma dorna e de imediato para as cubas de aço, onde é feita a sulfitação apropriada, aí repousará até à sua defecação nas próximas 24 a 48 horas para depois iniciar a sua fermentação.
A prensagem, um pouco mais demorada, pois a prensa hidráulica – que até uma criança pode facilmente accionar – precisa de algum tempo para esmagar o mais possível o cangaço. Contudo ao fim de algumas horas – ao início da manhã seguinte – já estará pronta para ou levar mais uma carga ou ser limpa.
Os repastos (pequeno almoço, almoço, jantar e merendas) são mais triviais, mais avantajados. Já incluem sobremesa, café e digestivos.
O mosto já está nas cubas à espera de um novo ciclo – agora o ciclo do vinho – as alfaias estão limpas e arrumadas, os cestos já estão lavados.
Terminou a vindima! O ciclo da videira chegou ao seu fim.
A nossa vida já começa a contemplar muitos ciclos completos da videira.
Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Quinta de Candoz > Vindimas de 1979 > "De calças arregaçadas até ao joelho ou em cuecas, lá vão eles [, amigos, vizinhos e familiares do dono] pisando e repisando os cachos das uvas tintas até que a grainha comece a boiar no cimo do mosto. Às mulheres era interdita esta função: "estragavam o mosto", diziam os antigos. Era um tabu que, a custo, só hoje foi esquecido e ultrapassado." ...
No foto nº 3, vê-se, de perfil, ao canto direito, o dono da casa e da quinta, o José Carneiro (1911-1996). (Faria 109 anos, se fosse vivo, depois de amanhã, dia 26.). O lagar já não existe, a casa, com paredes de granito de 200 anos, foi reconstruída... Os campos, em solcalcos, outrora de milho, deram origem a uma moderna vinha... É hoje a sede da Tabanca de Candoz. E já não se produz tinto, só branco... Que este ano deu 13 graus... Castas principais: pedernã (arinto) e azul...Outras: loureiro, avesso, alvarinho... Subregião de Amarante...O grosso das uvas são entregues à Aveleda, Penafiel...
Legenda: da esquerda para a direita, os seguintes familiares e amigos do dono: Luís Graça (genro), Gusto (genro), Quim (genro), Manel (filho), António (filho) e Fernando (amigo da família, cunhado do Manel)
1. Num país em que, quando nós nascemos, o vinho dava de comer a um milhão de portugueses, é quase um insulto perguntar, à rapaziada da nossa geração, quem é que nunca "foi às vindimas"...
"Pisar a uva", no lagar, já é outra coisa: nem todos nós pisámos uvas... Mesmo os citadinos, como eu, que "vivia na vila", tinham avós ou tios no campo, e iam nas férias grandes à "festa das vindimas"... (Quando as férias escolares eram mesmo férias grandes, duravam três meses...). Tratava-se realmente de uma festa, fechando o solstício do verão, ou seja, um ciclo nove meses de trabalhos e canseiras no campo...
A vindima era o parto da vinha.
Na região do Oeste, na altura uma das regiões do país com mais produção vitivinícola (até aos anos 60), vinham ranchos de homens e mulheres das Beiras, os "ratinhos" ou "bimbos", vindimar os milhares de hectares de vinha que havia espalhados pela Estremadura e Ribatejo... Deslocavam-se em grupo, com um capataz, e dormiam nos palheiros, como animais... Depois, os homens foram para a guerra ou a salto para França, arrancaram-se as vinhas, mecanizou-se a agricultura, a vinha (e o trigo) deu lugar a outraser culturas mais rentáveis (nomeadamente hortofrutícolas) ...
Mais tarde, a partir de 1976, descobri as vinhas e as vindimas do Norte, na região do vinho verde, e ainda a tempo de "apanhar o passado", a vinha de enforcado, as latadas, o milho, os engenhos (moinhos), as tradições comunitárias como as "serviçadas", a matança do porco, os carros de bois "a chiar pelos montes acima", a parceria agrícola e pecuária, as feiras de gado, as romarias, os bailes mandados, etc.... E, pela primeira vez (e única) na minha vida também ajudei a pisar a uva (tinta, sim, porque o branco faz-se "de bica aberta")...
São tradições que se perderam, mas que ainda hoje perduram na memória dos "antigos" (e que em Candoz de algum modo procuramos preservar) ...Aqui fica um texto, que vai ser dividido em duas partes, sobre as vindimas de outrora. Foi publicado no blogue A Nossa Quinta de Candoz.
É uma descrição primorosa das vindimas de antigamente, na freguesia de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, onde fica situada hoje a Quinta de Candoz... É da autoria do meu amigo, cunhado e hoje sócio da Quinta de Candoz, que nos coube em herança, e que modernizámos, juntamente com mais dois herdeiros, nossos cunhados... (*)
É, enfim, um texto delicioso pelos regionalismos usados, parte dos quais nem sequer ainda hoje estão grafados nos nossos dicionários : freima, ausio, serviçada, vinha de enforcado, cantaréu, chia, mula, etc.
O "Gusto" foi alferes miliciano de administração militar, com a especialidade de contabilidade e recebedoria, tirada na EPAM, no Lumiar, Lisboa, e é dos pouco da minha geração (, ambos somos de 1947) que, por mérito próprio (e também sorte), não foi mobilizado para o ultramar, sendo o primeiro do seu curso. Se a memória, não me erra, fez a tropa em 1970/72. Licenciado em economia, foi gestor em empresas, nacionais e estrangeiras, da indústria de calçado.
É natural do Porto mas, enquanto trabalhador-estudante, conheceu bem a zona da origem da sua mulher (e minha cunhada), onde tinha raízes (da parte dos pais), e inclusive ajudava o futuro sogro, nas férias e aos fins de semana, a "fazer as contas" da compra de uvas por conta de empresas vinícolas da região, como o Moura Bastos, ou a Sociedade dos Vinhos Borges, que engarrafavam e comercializavam vinhos brancos nossos comnhecidos na Guiné... (Aliás, foi na Guiné que muitos de nós começaram a apreciar o vinho verde branco: quem ainda não se lembra de marcas históricas como o Gatão, as Três Marias, o Casal Garcia, o Lagosta, e outras ?!)
Este texto é também uma homenagem também à antiga Casa de Candoz a cujas vindimas os amigos e vizinhos gostavam de ir porque, em troca da "serviçada", a patroa, Maria Ferreira (1912-1995), gostava de servir o melhor que tinha na salgadeira e no fumeiro. (**)
Marco de Canaveses > c. 1947 > As vindimas...
Marco de Canaveses > c. 1947 > O típico carro de bois
Fonte: Aguiar, P. M. Vieira de - Descrição Histórica, Corográfica e Folclórica de Marco de Canaveses. Porto: Esc Tip Oficina de S. José. 1947. (Com a devida vénia).
I. Tempos que já lá vão, ou, como se diz agora, por influência do slogan publicitário, a tradição já não é o que era!
Com efeito, um bom par de anos atrás, as vindimas eram uma festa para alguns – os convidados, familiares ou amigos, citadinos – e azáfama e preocupação para a maior parte {, "freima", diz-se aqui]:
(i) os pobres caseiros ou rendeiros na expectativa do terço que lhes poderia caber;
(ii) os pequenos proprietários, sempre na incerteza da colheita que iriam ter e fazendo contas à vida, incluindo alimentação (um peso grande em tempos de míngua – era o tempo da sardinha para três) que haveria de se dar ao pessoal que ajudava à vindima.
Era o tempo em que a data da vindima era marcada de acordo com as disponibilidades dos outros lavradores do lugar ou das proximidades, para que, os pais e os filhos (normalmente mais de seis por família) pudessem distribuir-se na ajuda a prestar uns aos outros. Era o sistema comunitário, a "serviçada", a funcionar.
Então era ver, manhã cedo, homens e rapazes com escadas de madeira (até 12 passos) às costas, com a cesta de vime com o cambito pendurado ao ombro, em romaria às várias propriedades onde a vindima se ia realizar.
Iniciado o corte das uvas, após um frugal mata-bicho – bagaço com açúcar e um naco de broa de milho e centeio –, as conversas, os ditos, as interjeições iam-se sucedendo entre os homens e as mulheres, procurando assim animar os espíritos e dar algum intervalo às dores de costas dos homens, que para além de constantemente terem de mudar as escadas pesadas entre as uveiras altas – as vides como que serpenteavam os choupos que serviam de armação: a tradicional vinha de "enforcado" – ainda tinham, quantas vezes, de se encarrapitar para fora da escada de forma a chegar a um cacho de uvas que teimava em ficar a amadurecer por mais algum tempo.
As mulheres, essas, no seu corrupio entre as leiras e a adega com os cestos de vime pesados à cabeça e com o sumo das uvas, de tão calcadas, a escorrer-lhes pela cara e costas abaixo chegavam afogueadas e com o suor adocicado.
Até as crianças e moçoilas, ainda sem idade para acartar cestos, tinham o seu quinhão na azáfama da vindima. Como diz o ditado, “o trabalho do menino só não o quer quem não tiver tino “, e então era vê-las, cada qual com o seu açafate, empenhadas na sua válida tarefa de apanhar todo e qualquer bago que caísse ao chão, pois desperdiçar era proibido e muitos bagos (envolvidos em terra ou sem ela) sempre davam mais uns quantos litros de vinho.
Aqui e ali ouviam-se os "cantaréus", ao despique, efectuados por 3 ou 4 moças que se juntavam junto às bordas, no intervalo de mais um carreto de cestos e que, ecoando vale abaixo, indicavam aos vizinhos que ali se vindimava e qual o seu estado de alma.
(i)
Lá vai o comboio, lá vai Lá vai ele à’sobiar, Lá vai o meu rico amor Par’à vida militar.
Par’á vida militar, Par´áquela triste sina Lá vai o comboio, lá vai Leva pressa na subida.
Leva pressa na subida, Leva pressa no andar, Lá vai o meu rico amor Par’à vida militar.
(ii)
Deitei meus olhos ao rio, Para ver teu brio. Estavas a lavar.
Lava, lava, lavadeira Estás na brincadeira, Estás a namorar.
Deitei meus olhos ao rio, Para ver teu brio. Estavas a torcer.
Torce, torce, lavadeira Tua roupa branca, Que se pode ver.
Deitei meus olhos ao ar, Para ver de que lado O sol estav’à dar.
Para nesse lindo arame, Estender tua roupa, Para a ver secar.
(iii)
Tenho no meu agulheiro Agulhinhas de bordar Para dar ao meu amor Quando ele aqui chegar.
Borboletinha olaré meu bem Borboletinha olaré quem tem
(iv)
Tenho uma toalha branca Fiada à luz da candeia. O trabalho é oração. È assim a vida d’aldeia.
(v)
Se vires o mar vermelho! Não temas que é sagrado. São as lágrimas de sangue, Que por ti tenho chorado.
(vi)
Do lado d’além do Rio, Tem meu pai um castanheiro Dá castanhas em Abril, Uvas brancas em Janeiro.
(vii)
Oh! Erva-cidreira Que estás na varanda, Quanto mais te rego Mais tu cais pr’á banda.
Mais tu cais pr’á banda, Mais t’hei-d’eu regar. Oh! Erva-cidreira, Que t’hei-d’eu cortar.
(viii)
Deitei o cravo ao poço. Olé! Fechado, meio aberto. Dá cá, toma lá. Rapaz com’ó Chico. Não há, não há.
(ix)
Venho de cima do Douro, Num barquinho de papel. Já há muito que não ouvi, Suspiros do meu Manel.
(x)
Ana! Estava na cozinha E sua mãe a chamou. Oh! Ana! Oh! Ana! Senhora Minha Mãe, já vou!
Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Festa da família Ferreira > 7 de setembro de 2013 > Juntou mais de 100 pessoas. A festa realiza-se há cerca 40 anos. A última tinha sido em 2011. Neste vídeo mostra-se a exibição de um grupo de mulheres da família que cantam lindamente os tradicionais "cantaréus" (que só podem ou devem ser cantados pelas mulheres, e em geral nas vidnimas): Nitas , Mi, São (mulher do maior violonista da região, Júlio Veira Marques, também presente na festa, nosso camarada Guiné) e Dolores...
Eis que chegavam as 10 horas da manhã. E, com um cestinho de vime, bem composto com broa de milho da casa, azeitonas, cebola cortada numa malga ou covilhete com um fio de azeite e vinho verde tinto, um pedaço de toucinho, umas lascas de bacalhau salgado da peça e … pouco mais, coberto com um alvo paninho de linho, lá aparecia a dona da casa.
Fazia-se assim um merecido mas breve intervalo para recompor um pouco as forças já que naturalmente não faltava o garrafão empalhado, com o vinho tinto da casa que ainda sobrara da colheita anterior. Era vê-los, sentados no chão em redor da toalha de linho onde eram dispostos todos aqueles saborosos acepipes ou, quando chovia, com um saco de serapilheira à cabeça com um vértice do fundo dobrado para o interior a fazer de capote ou debaixo dos guarda-chuvas. Era a hora do "almoço" (hoje pequeno almoço).
– Ó Tio Zé! Beba mais uma pinga! Olhe que ele ainda está bô.
Digerida a bucha lá se seguia para mais uma ramada (parreira ou latada) para encher mais uns cestos, para mais uns carretos.
Ao longe já se ouvia o chiar dos carros de bois, por entre caminhos tortuosos, íngremes por vezes, na sua função estóica de levar os cestos carregados de uvas para a adega dos Senhores (ou "fidalgos"), sempre que as propriedades não tinham lagar, onde as uvas tintas de todos os caseiros, conjuntamente, seriam sovadas. Sim, porque as uvas brancas já tinham sido apanhadas e vendidas para Adegas [, Aveleda, de Penafiel, Moura Basto, de Amarante, por exemplo] pois era muito complexo fazer vinho branco de bica aberta, já que normalmente nunca calhava bem.
Meio-dia! Hora do "jantar" (hoje almoço).
Hoje, infelizmente, tem chovido intensamente, toda a manhã! Os homens e mulheres estão ensopados em água! O trabalho pouco rendeu!
– Oh Tio Zé! Parece que chove a cântaros! Pode ser que ainda venha um "ausio" (aberta) e dê para apanhar uma lagarada!
A dona da casa, afogueada e preocupada, chega a correr:
– Oh! Zé! Chego a panela pr’á frente ou afasto-a p’a trás?
– Oh! Mulher! Cheg'à pr’á frente!
Com dificuldade lá se conseguiu improvisar uma substancial refeição. Uma tachada de arroz salpicado com feijão branco com sardinhas fritas ou de macarrão com espinhas de bacalhau ou batatas cozidas com um naco de presunto ou salpicão que religiosamente foi sonegado às refeições da família durante o ano para agora poder ser servido como lauto pitéu. E naturalmente o vinho tinto da casa que ainda terá de chegar até ao vinho novo.
Sobremesa? Isso era uma fidalguia que não fazia parte dos hábitos alimentares desses tempos. Com muita sorte poderia aparecer um prato de rabanadas ou um prato de aletria que com o seu sabor adocicado merecia mais uma caneca de vinho. Mas tais doçarias raramente apareciam ao almoço, ficavam para a "ceia" (hoje jantar) ou para depois ou durante a sova.
Findo o repasto, novamente a azáfama durante a tarde em tudo igual ao que aconteceu durante a manhã. A meio da tarde, mais uma "merenda" com os mesmos ingredientes daquela que aconteceu a meio da manhã.
A noite chega. Provavelmente a vindima ainda terá que continuar no(s) próximo(s) dias. Agora é tempo de descansar um pouco, preparar as selhas onde os homens lavarão os pés para entrarem no lagar e meter as uvas a vinho. E, de calças arregaçadas até ao joelho ou em cuecas, lá vão eles pisando e repisando os cachos de uvas até que a grainha comece a boiar no cimo do mosto. Às mulheres era interdita esta função: "estragavam o mosto", diziam os antigos. Era um tabu que, a custo, só hoje foi esquecido e ultrapassado.
Para se vingarem dessa interdição, elas costumavam esconder abóboras no meio das uvas para que os homens ao entrarem no lagar escorregassem nas mesmas e caíssem no meio daquela massa de uvas e mosto ou então, pediam ao homem que durante a vindima ia metendo as uvas a vinho (para muitas mais caberem no lagar) que calcasse as uvas junto a um ou mais cantos (criando assim as "mulas") para dificultar aos homens (sobretudo aos rapazes) da sova o levantamento das mesmas para as poderem arrastar e pisar com os pés.
E quando as moças se lembravam de surripiar as calças que os homens tinham tirado ao entrar no lagar cosendo as pernas das mesmas, uma à outra, rindo-se depois até ás lágrimas – riso puro, jovial, sadio, contagiante – quando depois de sair do lagar os homens tentavam, cambaleando e por vezes caindo, vesti-las?
Chegam entretanto as filhas da casa com uns pratinhos de aletria – feita com ovos caseiros, amarelinhos – bem quentinha, ainda a fumegar, salpicada com uns pozinhos de canela que sabe pela vida e se presta a mais uma rodada da caneca branca de porcelana cheia de vinho, sempre tinto!
Entremeado por ditotes, por cândidas anedotas, adivinhas, alguns cantares (por vezes ao desafio) e de quando em vez alguma música (os proprietários de mais posses chegavam a contratar uns músicos com instrumentos tradicionais), a massa que vai ficando depositada no fundo do lagar é levantada com os pés de forma a encontrar alguns bagos de uvas ainda inteiros e ser esmagados.
As pernas dos homens já escorrem mosto vermelho, qual sangue vivo que começa a brotar para uma nova vida.
O patrão dá a ordem:
– Mais uma volta e podem sair!
Está terminado o dia de trabalho
A patroa já tem pronta a "ceia" (hoje jantar). Arroz de galinha, ou talvez umas batatas cozidas com bacalhau ou. se “fizer minga” [, míngua,], uma arrozada com um bom naco de toucinho ou presunto – que sempre se foi poupando para estas ocasiões. No fim sempre se improvisava umas rabanadas para servir de final de repasto. Mais uns bons tragos de vinho para compor e…:
– Por hoje está feito, Tio Zé!
Levantada a mesa, uns entreter-se-ão a jogar as cartas (normalmente a bisca ou o burro) com a algazarra própria da batota de alguns ou das "chias" que por vezes iam acontecendo, outros na amena cavaqueira sobre os problemas da vida e da esperança que a colheita fosse boa e para que o ano que vem fosse um pouco mais farto e que um vinho, esbelto e sadio, agora em preparação, saísse para as pipas mantendo o sabor inalterável da uva até à nova colheita.
Começam a sair. As lanternas (de petróleo ou carboneto) começam a acender-se – embora a electricidade tivesse já atravessado a Serra ainda não tinha chegado ao povoado. A noite já vai longa e é preciso dormir para recuperar energias porque os dias que se aproximam serão cansativos, tal como o de hoje.
Alto Douro Vinhateiro > Alijó > Pinhão > Estação Ferroviária > Linha do Douro > 2 de março de 2019 > A caminho do Entrudo Chocalheiro, em Podence, Macedo de Cavaleiros > Alguns dos belos azulejos da estação do Pinhão. São da Fábrica Aleluia, Aveiro (, pintados em 1935, colocados em 1937; oferta do Instituto do Vinho do Porto).
1. Mensagem da Quinta Senhora da Graça - Turismo e Vinhos, 26 de fevereiro às 14:43 [, o mesmo é dizer, os nossos amigos José Manuel Lopes, poeta, vitivinicultor, grã-tabanqueiro, Luisa Valente, a matriarca, e Vasco Valente Lopes, enólogo, autor do "Pedro Milanos]
Estaremos por lá, no Campo Pequeno, em Lisboa, no Mercado Gourmet, de 8 a 10 do corrente, apareçam , provem e podem comprar os Pedro Milanos . Os dois dedos de conversa são grátis.
Lisboa > Campo Pequeno > 7ª edição do Mercado Gourmet - Vinhos e Gastronomia > 10 de março de 2019 > O nosso Zé Manel da Régua em ação...Parabéns pelo trabalho do pai, da mãe e do filho... O Pedro Milanos reserva tinto 2016 está de se lhe tirar o chapéu!...Também gostei do branco...
(...) Pedro Milanos Limited. Branco Reserva 2017 e Tinto Reserva 2016.
Esta é uma edição especial do Pedro Milanos. Está limitada a 100 unidades - duas garrafas, um branco reserva 2017 e um tinto reserva 2016, embaladas em caixa de madeira e com um dos poemas do mesmo no seu interior. (...) Aceitaremos encomendas online a partir da próxima semana. #pedromilanos#douro.
Pedro Milanos é o anagrama de Armindo Lopes, já falecido, o autor do poema, pai do Zé Manel Lopes e avô do Vasco Lopes. Três apaixonados pelo Douro.