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sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27255: Felizmente ainda há verão em 2025 (39): Quem se lembra do vinho verde branco, "Gatão, em garrafa de cantil com argola, que depois servia para fazer candeeiros de mesa de cabeceira nos nossos "resorts" turísticos ?



Foto nº 1 > Vinho verde Gatão, da Sociedade Portuguesa dos Vinhos Borges & Irmão Lda (passe a publicidade): a garrafa em forma de cantil, com uma argola, foi lançada em 1950. Foi esta garrafa e este rótulo que conhecemos nos nossos bares, messes e cantinas na Guiné...


Foto nº 2 > Vinho verde Gatão, da Sociedade Portuguesa dos Vinhos Borges & Irmão Lda.. Um rótulo histórico.

Fonte: Cortesia de sítio oficial da marca Gatão


1. Felizmente que ainda há verão em 2025 (*)... Ou vai havendo. Até ao São Martinho, se Deus quiser.  Ou até quando a gente... puder!

Não conhecia a história do vinho verde Gatão (**)... Lembrava-me que se vendia e bebia em Bambadinca, no meu tempo, no bar e messe de sargentos (1969/71).  Já não me lembro do preço: mas devia andar à volta dos 20, 25 "pesos", como as outras marcas mais populares (Casal Garcia, Três Marias, Gazela, etc.). Mais caro nos restaurantes (Bafatá, Bissau...), c. 30/35 "pesos" (o "patacão" da Guiné).

A garrafa e o rótulo eram originais: a garrafa era (e continua a ser) "em cantil, com argola"; o rótulo, um gato, um gatão, felpudo, de  botas e pingalim na mão esquerda, segura com a mão direita uma garrafa... (Depois, por volta de 1990, estilizaram o gato: eu gostava mais do rótulo original e da garrafa; havia quem fizesse candeeiros de mesa de cabeceira com a garrafa, nas nossas casernas de mato).

 Já não me lembrava que a marca era comercializada pela Borges & Irmão. Nem sabia que a Sociedade Portuguesa dos Vinhos Borges & Irmão Lda  era, originalmente,  de dois irmãos tripeiros que fundaram o Banco Borges & Irmão. E que hoje já não existem, nem a empresa de vinhos nem o banco... Ou melhor: continua a existir a Sociedade Portuguesa dos Vinhos Borges & Irmão Lda, embora integrada desde 1998 no Grupo JMV - José Maria Vieira SA (passe a publicidade...).

Num caso e o noutro, seja vinho, seja banca, são ativos de outras empresas... De qualquer modo as marcas vivem sempre mais do que as empresas... As marcas são como as almas, dizem que sobrevivem aos corpos...

 Enfim, outras histórias. Como diria o Teixeira de Pasdoaes,  as coisas são como são, são possibilidades realizadas contendo inúmeras possibilidades realizáveis...

A marca Gatão e a marca Borges... continuam no mercado. Eu é que nunca mais bebi Gatão.  Desde 1969/71, quando estive na Guiné a cumprir o meu dever cívico, o serviço militar obrigatório (quase 3 anos, de meados de 1968 a março de 1971). 

Agora, tenho, na Quinta de Candoz, as mesmas castas, Pedernã, Azal, Trajadura, Avesso, Loureiro... Candoz pertence à subregião de Amarante, da Região Demarcada dos Vinhos Verdes...Estamos ali a 30 km de distância... Em suma, somos vizinhos.

Há dias lembrei-me desta marca, Gatão, quando, em Amarante, fui visitar uma exposição sobre o espólio, a vida e a obra do escritor amarantino Teixeira de Pascoaes (1877-1952).


Amarante, Gatão > Casa de Pascoaes.
Cortesia de Wikimmedia Commons.


Sabia que existia a Casa-Museu Teixeira de Pascoais, nos arredores de Amarante, sito na  Casa de Pascoaes , da família Teixeira Vasconcelos (o topónimo Pascoaes vai o escritor adotá-lo como pseudónimo literário, juntando-o ao apelido Teixeira). 

Ora essa casa, onde o autor viveu a maior da vida e onde morreu, aos 75 anos, fica na antiga freguesia de Gatão, ali mesmo, nos arredores de Amarante.

Nunca fui a Gatão,  que tem uma bela igreja, dos séc. XIII/XIV, monumento nacional desde 1940, e que faz parte da Rota do Românico. 

Bolas, nunca fui a Gatão, ali mesmo ao lado de Amarante, embora conheça uma boa parte da Rota do Românico (um projeto turístico-cultural, que reúne, atualmente, 58 monumentos e dois centros de interpretação, distribuídos por 12 municípios dos vales do Sousa, Douro e Tâmega: Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Resende).

Tenho, portanto, que ir a Gatão, ainda em vida. Há um motivo acrescido para lá ir: no cemitério local, repousam os restos mortais do poeta, que mandou inscrever como epitáfio o seguinte aforismo (ele adorava aforismos): "Apagado de tanta luz que deu, frio que tanto calor que derramou».
 
Mas já desfiz a minha  dúvida (que nada tinha de existencial): o vinho verde branco Gatão que eu bebia em Bambadinca (eu,  o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Roda, o Branquinho e outros), em garrafa em forma de cantil com argola (foto nº 1), não tem nada a ver  com a Casa de Pascoaes, em Gatão, Amarante,  mesmo que o Pascoaes tivesse vinhas herdadas do pai. Uma cruz que ele comparava à coroa do Rei Dom Carlos que, por ter nascido filho de rei, teve que ser rei... (Mas, justiça se lhe faça: além de grande  poeta de corpo e alma, Pascoaes parece que também era, pelo menos, bom podador...).



Amarante > 5 de setembro de 2025 > Casa da Cadeia, agora “Lugar Saudade – Teixeira de Pascoaes” > Exposição temporária “Teixeira de Pascoaes" (...) > Excerto de Drama Junqueiriano. Dom Carlos teria sido visita do Solar de Pascoaes...


Foto (e legenda): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



História do Gatão

O Gatão é uma marca portuguesa de vinho verde pertencente ao grupo Borges.   No sítio oficial da marca, consta que a história do Gatão começou a ser construída em 1895, altura em que a Borges usou pela primeira vez a imagem de um gato num rótulo (foto nº 2).

Em 1935 foi lançado oficialmente o vinho Gatão, inicialmente como um vinho verde tinto.  A marca foi amplamente exportada, e hoje tem  presença em cerca de 50 países nos cinco continentes. O vinho verde (sobretudo branco) é um produto de que nos devemos orgulhar.

Nos anos 90, foi lançada nova imagem e a garrafa de tipo bordalesa. Enfim, mudam-se os tempos, os gostos, as modas, etc,

Pergunta-se: qual a possível origem do nome Gatão na marca de vinho  Gatão (Borges) ?

Num sítio de vendas (Casa Portuguesa, Áustria, citado pelo sítio oficial da marca Gatão) há uma explicação, curiosa,  que nos parece verosímil:

“A designação Gatão deve-se  uma aldeia com o mesmo nome, de onde provinham as uvas que serviam de base à sua produção. 

"Fruto do aumento das vendas,  a proveniência das uvas diversificou-se. À medida que se criou uma lei que obrigava que o nome de uma marca que coincidisse com nome de uma região produtora, só pudesse usar uvas dessa região, levou os responsáveis a encontrar outra justificação para o nome.

"Dado tratar-se de uma marca já bem implantada no mercado, o Gatão passou a ser, não a designação da origem das uvas, mas um 'gato grande' "...

Em Gatão continua a existir a  Casa de Pascoaes, agora alojamento local (rés do chão) e casa-museu Teixeira de Pascoaes (1º andar). Casa que, ao que parece, também produz excelentes vinhos verdes de quinta. (Declaração de interesse: nunca os provei, nem os vi ainda no mercado.)

Também não encontrei, na Net, dados sobre a exportação ou o consumo de vinho verde branco no Ultramar Portuguguês, e muito menos na Guiné, ao tempo da guerra colonial (1971/74). Que foi um excelente mercado para os nossos vinhos, isso foi. O mercado militar e o civil.

As marcas que eu conheci (comprei, provei ou vi) na Guiné, em 1969/71, continuam a existir no mercado: Palácio da Brejoeira, Aveleda, Casal Garcia, Gatão, Lagosta, Gazela, Três Marias, Campelo, Casal Mendes, etc. Atenção: o vinho verde era só para os "dias de festa"...

Hoje, o Vinho Verde permanece como o DOC não licoroso mais exportado entre os vinhos portugueses ( historicamente, Alemanha, Estados Unidos, França, Angola, Canadá, Brasil, Suíça e Reino Unido representam mais de 80% das exportações do nosso Berdinho).

  Bibó o Binho Berde!  (Declaração de interesse: tenho mais de 18 anos,  não sou produtor de vinho verde, é a "chef" Alice...).
 
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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 23 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27246: Felizmente ainda há verão em 2025 (38): "Poema de Outono", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

(**) Vd. 20 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27232: Felizmente ainda há verão em 2025 (35): os vinhos verdes que aprendemos a gostar na guerra: Casal Garcia, Aveleda, Gatão, Três Marias, Lagosta, Palácio da Brejoeira (...sem esquecer o Mateus Rosé, da Sogrape)

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