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terça-feira, 23 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27245: (in)citações (279): Por favor, cuidem-se (Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto)


1. Mensagem do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66), com data de hoje, 23 de Setembro de 2025:

Olá companheiros

Obrigado por se lembrarem.
Continuamos a fazer anos. Quantos? Muitos, mesmo muitos. É uma história de vida já longa.
Nascidos nos anos quarenta do século passado e ainda crianças, iniciámos esta “tarefa da vida” e…, vindos pela mão da saudosa avó Agar assistir à missa ao domingo na igreja da então vila de Águeda, de entre as pessoas (quase todas vestidas de cores escuras e as senhoras de lenço na cabeça, quase encobrindo o seu rosto), tentando sempre olhar para cima, porque em frente e dado que éramos crianças, era impossível ver o senhor padre lá no altar, que ia lendo a epístola.

E nas paredes havia aquelas imagens dos ANJOS. Vendo-as, ficávamos na dúvida. Porquê? Porque tinham asas e não sabiam voar, pelo menos nunca tínhamos visto nenhum a voar lá na nossa aldeia. E mais, a saudosa avó Agar dizia-nos que estavam no céu e não pertenciam à terra.

Talvez fosse verdade, porque uma vez, lá naquela maldita guerra colonial, nas savanas e pântanos do golfo da então Guiné Portuguesa, debaixo de um ataque furioso do inimigo, num estado de sofrimento onde havia medo e angustia, com a mente toldada pela fúria do combate e da sobrevivência, pensando que íamos mesmo morrer, olhámos o céu e vimos um ANJO, (daqueles cuja imagem estava lá na parede da igreja), que estava voando na nossa frente, sempre a fugir de nós, para fora do pântano, em direção ao terreno seguro e…, cremos mesmo que nos salvou.

Eram outros tempos, em que se acreditava que as crianças vinham embrulhadas e penduradas no bico de uma cegonha e, não eram o resultado do amor entre os humanos, que dá lugar à multiplicação e..., elas que iam nascendo talvez fossem mais felizes, porque pensavam que os adultos e os ANJOS, as protegiam de todos os males. Infelizmente hoje, em algumas partes do mundo, ainda morrem abandonadas ou pelos estilhaços das bombas que vão explodindo junto de si e…, algumas até à fome, porque os seus pais, olhando à sua volta dizem: “Agora não temos nada, só bombas".

Enfim, nós éramos crianças que despertávamos e ainda acreditávamos, talvez perdidas no nosso tempo e hoje…, principalmente pela avançada idade, somos vozes apagadas pelo pó dos anos.

Mais uma vez obrigado do coração por se lembrarem e…, por favor, cuidem-se.
Tony Borie

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Nota do editor

Último post da série de 9 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27199: (in)citações (278): Dos nossos “males” sabemos, pelo visto. E dos “males” dos outros? (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Operações Especiais)

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