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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20629: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte VII


Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC colocando uma mina", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43786 (com a devida vénia)


Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC colocando uma mina antipessoal num trilho.", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43129 (com a devida vénia).


Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC montando uma mina", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44195 (com a devida vénia).




O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, indigitado régulo da Tabanca de Almada e da Tabanca dos Emiratos; tem 230 registos no nosso blogue.GUINÉ



ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA – PARTE VII


1. - INTRODUÇÃO

Continuamos a levar ao conhecimento do colectivo da «Tabanca Grande» os resultados da investigação que encetámos, titulada de «Ensaio sobre as mortes de militares do Exército, no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutores auto rodas"», tendo por principal fonte de consulta e análise o universo das "Baixas em Campanha" identificadas na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército.

Para a estruturação do presente fragmento – o sétimo – partimos do contexto abordado no anterior (P20576), que tinha por cenário Cumbijã – "um deserto cheio de minas" – e onde o colectivo da CCAV 8351 (os Tigres do Cumbijã), do ex-Cap Mil Vasco da Gama, contabilizou o levantamento de mais de três dezenas de engenhos explosivos durante o mês de Abril de 1973.

Porque a acção do levantamento desses engenhos é "causa e efeito" da sua existência, onde o primeiro acto (colocação) é responsável pelo segundo (levantamento), quem sabe se na "árvore de minas", ronco e obra do colectivo da CCAV 8351, apresentada no poste anterior, está alguma que as imagens acima documentam/comprovam. Ou se, na pior das hipóteses, foram accionadas, provocando dor, sofrimento e perdas humanas.


2. - ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)

Recordamos que a análise demográfica que comporta esta investigação, e as variáveis com ela relacionada, continuam a incidir sobre os casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), e identificados nos "Dados Oficiais" publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).

No presente fragmento, a análise demográfica foi estratificada a partir da naturalidade do universo dos casos (n=191), primeiro por Distrito (dezoito no continente), Ilhas do Atlântico (Arquipélagos da Madeira e dos Açores) e CTIG (Recrutamento Local). Seguiu-se a sua organização pelas três Regiões Continentais (Norte, Centro e Sul), mais as duas Regiões Autónomas (Madeira e Açores) e o CTIG (Recrutamento Local).

São de salientar dois casos particulares. No continente, o Distrito de Setúbal não registou qualquer baixa na especialidade de "condutor auto rodas" durante o conflito. Igual resultado foi apurado na Região Autónoma da Madeira.

Para conhecimento do vasto auditório, abaixo de apresentam os diferentes quadros elaborados para o efeito, seguido do mapa do território nacional à data do conflito.







3. - MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERAM MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO DE REBENTAMENTO DE "MINAS"

Neste ponto, reservado à caracterização de cada uma das ocorrências identificadas durante a realização do estudo, apresentamos mais dois "casos" (de um total de trinta e três). Em cada um deles, recuperamos algumas memórias, consideradas relevantes, extraídas das diferentes fontes de informação consultadas, em particular o vasto espólio do nosso blogue, enquadradas pelos contextos conhecidos.

3.20 - O CASO DO 1.º CABO 'CAR' JÚLIO FERNANDO ANTUNES FERNANDES, DO PREC FOX 1101, EM 19.MAI.1967, ENTRE ALDEIA FORMOSA E MISSIRÁ

A nona morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina, foi a do 1.º Cabo Júlio Fernando Antunes Fernandes, natural da freguesia de Vilarinho, Município da Lousã, Coimbra, ocorrida no dia 19 de Maio de 1967, 6.ª feira, no decurso de uma coluna militar, no itinerário entre Aldeia Formosa e Missirá (ver mapa abaixo), na qual participavam, também, elementos da CCAÇ 1622.


O condutor Júlio Fernandes pertencia ao Pelotão de Reconhecimento FOX 1101 [PEL REC FOX 1101], uma unidade formada no Regimento de Cavalaria 8, de Castelo Branco. O contingente do PREC 1101 cumpriu a sua comissão entre 12Mai66 (chegada a Bissau) e 17Jan68 (regresso a Lisboa). Sobre a História desta unidade não foi possível obter qualquer informação, apenas sabemos que os seus dezanove meses de missão foram passados em Aldeia Formosa.

De referir que a morte do condutor Júlio Fernandes ocorreu oito meses e meio depois da primeira baixa registada pelo Pel Rec Foz 1101, pelos mesmos motivos, como foi o caso do soldado Arnaldo Augusto Fernandes Clemente, natural da freguesia de Chacim, Município de Macedo de Cavaleiros, Bragança. Esta verificou-se no decurso de uma coluna militar, no itinerário entre Aldeia Formosa e Cumbijã (P20576).

Quanto à CCAÇ 1622 [18Nov66-18Ago68, do Cap Mil António Egídio Fernandes Loja], assumiu, em 18Nov66, a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa, em substituição da CCAÇ 764 [17Fev65-20Nov66, do Cap Inf António Jorge Teixeira (1.º), Cap Inf José Domingos Ferros de Azevedo (2.º) e Ten Inf José Alberto Cardeira Rino (3.º)], destacando um Gr Comb para Cumbijã e, depois, outro para Chamarra, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 [23Ago65-17Abr67, do TCor Inf Alfredo Henriques Baeta] e depois do BART 1896 [18Nov66-18Ago68, do TCor Art Celestino da Cunha Rodrigues].

Em 09Fev67, deslocou um Gr Comb para Colibuia, a fim de colmatar a saída da CCAÇ 1488 [26Out65-01Ago67, do Cap Inf António Manuel Rodrigues Cardoso] até à instalação da CART 1613 [18Nov66-18Ago68, do Cap Mil Grad Art Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz (1.º) e Cap Art Eurico de Deus Corvacho (2.º) e de onde saiu em 28Mai67, a fim de guarnecer, temporariamente, a localidade de Contabane.

Em 18Jun67, após rotação com a CCAÇ 1591 [04Ago66-09Mai68, do Cap Inf Luís Carlos Loureiro Cadete], foi instalada em Mejo, no mesmo sector, com vista à realização continuada de emboscadas e patrulhamentos no corredor de Guileje, em coordenação com a actividade de outras subunidades do sector e onde se manteve até ser substituída pela CCAÇ 2316 [24Jan68-08Nov69, do Cap Inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (1.º), do Cap Inf António Jacques Favre Castel Branco Ferreira (2.º), …], em 22Mar68, após o que se deslocou para Bolama, mantendo, no entanto, um Gr Comb em Catió até 16Mai68, em reforço do BART 1896 [18Nov66-18Ago68, do TCor Art Celestino da Cunha Rodrigues].

Após um período de descanso e recuperação em Bolama [vinte e cinco dias], então como subunidade de reserva do Comando-Chefe, foi transferida para Jolmete em 17Abr68, onde substituiu a CCAÇ 1683 [02Mai67-16Mai69, do Cap Mil Cav José Manuel Pontífice Mancoto Monteiro], ficando então integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1911 [o seu, do TCor Inf Álvaro Romão Duarte (1.º), …] e depois do BCAÇ 2845.

Em 05Jun68, foi substituída em Jolmete pela CCAÇ 2366 [06Mai68-03Abr70, do Cap Mil Art Fernando Lourenço Barbeitos], por troca, seguindo para Teixeira Pinto, no mesmo sector, onde se manteve até 22Jun68, colaborando na realização de patrulhamentos, emboscadas e na segurança do aquartelamento. Em 23Jun68, recolheu a Bissau, onde se manteve a aguardar o embarque de regresso.

3.21 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' JOAQUIM CORVO TRINDADE, DA CCAÇ 2446, EM 29.AGO.1969, ENTRE GALOMARO E DULOMBI

A vigésima quarta morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, foi a do soldado Joaquim Corvo Trindade, natural da freguesia e Município de Castro Marim, Faro, ocorrida no dia 29 de Agosto de 1969, 6.ª feira, no decurso de uma coluna militar de reabastecimento, no itinerário entre Galomaro e Dulombi, na qual participava, também, o 3.º Gr Comb da CART 2339 [21Jan68-04Dez69, do Cap Mil Grad Art Arnaldo Manuel Pedroso de Lima (1.º), …], do camarada Carlos Marques dos Santos, falecido em 30 de Dezembro último (P20513).

Este episódio aconteceu três dias depois de uma outra viatura da mesma unidade ter accionado uma mina anticarro na região de Cansissé, na estrada Madina Xaquili-Galomaro, provocando a morte do soldado Fernando Orlando Rodrigues Vasconcelos, natural da freguesia de Santa Luzia, Município do Funchal, Madeira.

O soldado Fernando Vasconcelos e o soldado "CAR" Joaquim Trindade pertenciam à Companhia de Caçadores 2446 [CCAÇ 2446], uma unidade formada no Batalhão Independente de Infantaria 19 [BII19], no Funchal, Madeira [15Nov68-01Out70, do Cap Mil Inf Manuel Ferreira de Carvalho].

Esta unidade "Madeirense" foi colocada no Cacheu, em 04Dez68, a fim de render a CCAÇ 1681 [02Mai67-16Mai69, do Cap Inf Manuel Francisco da Silva], assumindo, então, a responsabilidade do respectivo subsector em 07Dez68, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 2845 [06Mai68-03Abr70, do TCor José Martiniano Moreno Gonçalves] e depois do BCAV 2868 [01Mar69-30Dez70, do TCor Cav Carlos José Machado Alves Morgado], com um Gr Comb destacado em Bachile, desde 29Nov68 a 24Abr69. Em 24Abr69, foi substituída na missão de quadrícula pela CCAV 2485/BCAV 2868 [do Cap Cav José Maria de Campos Mendes Sentieiro], ali colocada anteriormente de reforço, recolhendo temporariamente a Bissau.

Em 01Mai69, foi deslocada para Mansabá, onde se manteve até 20Jun69. Em 21Jun69, seguiu para Bafatá, a fim de assumir a função de subunidade de intervenção e reserva do AGR 2957, tendo sido atribuída em reforço do BCAÇ 2856 [28Out68-01Out70, do TCor Inf Jaime António Tavares Machado Banazol], para a realização de operações na região de Sinchã Jobel e de emboscadas na região de Padada, tendo-se deslocado para Madina Xaquili, en 24Jul69.

Em 28Jul69, foi atribuída ao COP 7, então criado, com vista à realização de emboscadas e batidas na região de Cansissé/Madina Xaquili/Duas Fontes, estacionando em Dulombi a partir de 31Jul69, permanecendo dois Grs Comb em Madina Xaquili.

Em 19Ago69, o comando e um Gr Comb foram deslocados para Galomaro, continuando dois Grs Comb destacados em Madina Xaquili e Dulombi, respectivamente até 05Nov69 e 23Nov69. Em 07Nov69, a subunidade assumiu a responsabilidade do subsector de Cancolim, então criado com a entrada em sector do BCAÇ 2861 [11Fev69-07Dez70, do TCor Inf César Cardoso da Silva (1.º) e TCor Inf João Polidoro Monteiro (2.º)] e respectiva reformulação de limites de zonas de acção do AGR Leste, tendo transferido para aquela localidade a sua sede em 16Nov69 e guarnecido o destacamento de Sanguê Cambomba, a partir de 23Nov69.

Em 30Jun70, foi rendida no subsector de Cancolim pela CCAÇ 2699 [01Mai70-20Mar72, do Cap Mil Art João Fernando Rosa Caetano], por troca, tendo-se deslocado, por fracções, para o sector de Bissau, em 28Jun70 e 02Jul70, assumindo então a responsabilidade do subsector de Brá (Bissau).


Mapa da região de Bafatá e do subsector de Galomaro por onde circulou o contingente da CCaç 2446 (Madeirense) durante um ano (Jun'69-Jun'70).

Entretanto, e em face do particular agravamento da situação na zona de Pirada, foi atribuída, temporariamente, ao COP 1 em reforço dos efectivos na área, em 17Jul70, com vista a garantir a defesa de Pirada e povoações de Sissancunda, Goler e Deabugu, ali permanecendo até à chegada da CART 2762 [20Jul70-17Jun72, do Cap Art Fernando Manuel Gomes da Silva Malha], em 26Jul70, após o que regressou a Bissau, permanecendo em Brá até finais set/70.

Pela análise à síntese operacional da CCAÇ 2446, constata-se que o episódio que vitimou o soldado "CAR" Joaquim Trindade ocorreu um mês após o estacionamento da sua unidade em Dulombi.


Um dos elementos que esteve envolvido neste doloroso acontecimento foi o nosso camarada ex-Fur Mil Art Carlos Marques dos Santos (1943-2019), da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) [imagem ao lado]. Sobre esta ocorrência, a nossa testemunha ocular conta-nos o que presenciou (P9340):

"Um mês a feijão-frade, sem banho e sem muda de roupa, em Mondajane (Dulombi-Galomaro), de 27 de Agosto a 27 de Setembro de 1969, a menos de três meses do fim da comissão, onde estive com o meu pelotão em reforço do sector de Galomaro/Dulombi, mais propriamente em Mondajane. (…)

"A 27Ago69 foi recebida a notícia de que íamos para Galomaro, em reforço da CCAÇ 2405 [30Jul68-28Mai70, do Cap Mil Inf José Miguel Novais Jerónimo]. No dia seguinte (28), saímos e chegámos cerca do meio-dia com indicação de que iríamos para Mondajane, a seguir a Dulombi, o que não aconteceu nesse dia mas sim no dia seguinte (29). No cruzamento para Dulombi rebenta uma mina na GMC que segue à minha frente (nós íamos apeados, fazendo a segurança à coluna que integrava uma nova Companhia em treino operacional e que era de madeirenses, a CCAÇ 2446, a cerca de 15/20 metros, destruindo a sua frente.

"O resultado desta explosão foi um morto (desintegrado) [António Camacho da Silva, natural da freguesia de Estreito de Câmara de Lobos, Município de Câmara de Lobos, Madeira] e um ferido (condutor) [Joaquim Corvo Trindade] que faleceu nesse dia. Esta mina rebentou a cerca de 12 metros de mim e felizmente nada sofri. O soldado, pela acção da mina, desintegrou-se, literalmente. Bocados desse soldado, o relógio, roupa, etc., ficaram agarrados à árvore. Impossibilitados de prosseguir fomos para Dulombi com os reabastecimentos. Aí fomos informados que deveríamos seguir a pé para Mondajane (a sudoeste de Dulombi), que atingimos e onde nos instalámos." (…).

Em comentário à narrativa do Carlos Santos, publicada no P9340, Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ
3491 (Dulombi e Galomaro, 1971/1974) refere:

"A minha companhia foi render a CCAÇ 2700 [01Mai70-22Mar72, do Cap Inf Carlos Alberto Maurício Gomes], no Dulombi, em Janeiro de 1972 (…). Passado aquele tempo todo [dezasseis meses], um pouco a seguir ao cruzamento da picada entre Galomaro e Dulombi, com a picada para Mondajane, ainda existiam vestígios nas árvores dessa mina A/C que tu referes. A tabanca de Mondajane terá sido abandonada, após uma forte ataque do PAIGC já em 1970".

Continua …
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Fontes Consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
31Jan2020
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terça-feira, 13 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6150: O Spínola que eu conheci (8): O Militar que foi meu Comandante-Chefe (Paulo Santiago)

1. O nosso Camarada Paulo Santiago (ex-Alf Mil At Inf do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 11 de Abril de 2010:





O MILITAR que foi meu Comandante-Chefe (*)
A primeira vez que vi o General Spínola, aconteceu na época natalícia de 1970, no quartel do Saltinho, quando ele corria todas as companhias e respectivos destacamentos, e a CCAÇ 2701 tinha três, Cassonco, Madina Buco e Cansamange.
Lembro-me que chegara uma mensagem indicando que o pessoal devia estar formado em U, e não me recordo se nesse dia o cumprimentei.
Voltei a encontrar o General, em pleno mato, junto ao Corubal, lá para os lados do Cheche, no decorrer de uma operação que durou três dias, saindo de Dulombi dois grupos de combate da CCAÇ 2700, um grupo de combate da CCAÇ 2699 (Cancolim) e o Pel Caç Nat 53, sendo esta força comandada pelo Cap Carlos Gomes, comandante da 2700.
O local, onde o heli "largou" o Caco, era altamente perigoso, mas ele estava na maior das calmas a informar-se do decorrer da operação, da qual, como é meu hábito, não recordo o nome, e hoje lamento não ter tomado essas notas.
Tempos mais tarde, voltou ao Saltinho para uma visita mais demorada. Nessa altura, o Jamil Nasser, comerciante no Xitole, começara a construir um barracão junto à tabanca do pessoal do Pel Caç Nat 53, que ficava junto à porta de armas do quartel, e o barracão destinava-se a uma nova casa comercial.
Claro que o General se apercebeu da construção e, informado dos fins e do proprietário, foi aos arames e deu de imediato ordem ao Cap Clemente para mandar demolir o que já estava construído. E acrescentava não perceber como o Chefe de Posto do Xitole autorizara a abertura de uma casa comercial em tal local, se quisesse construir, fosse para Mampatá, uma tabanca distante 2 Km e onde havia população.
O Jamil desistiu da abertura de uma casa em Mampatá, mas a ideia foi aproveitada por um outro comerciante do Xitole, o Rachid. Passou-se para o Reordenamento de Contabane, na outra margem do rio, e estou a ver a Fatemá, mulher do Régulo Sambel, mãe do meu 1º Cabo Suleimane, a "pendurar-se" ao pescoço do Spínola e a cobri-lo de beijos.
Quando da minha estadia em Bambadinca, estive três vezes com o Gen Spínola.
Em 24 de Dezembro de 1971, houve o encerramento do primeiro curso de Milícias em que fui comandante da companhia, havia um longo programa que foi reduzido à formatura e ao discurso.
Este discurso, frente à companhia, formada no campo de futebol, e com população a toda a volta, era um espectáculo bem encenado... o General proferia uma frase, parava, e o intérpete balanta reproduzi-a, seguia-se o fula, e por último o mandinga.
Neste dia 24 de Dezembro tive a sorte de uma das visitas de Natal programadas ser ao Saltinho, e assim apanhei uma boleia inesperada.
Voltei a Bambadinca em Janeiro de 72 e, durante o novo curso de milícias, tive duas visitas do Com-Chefe, uma aí pelo meio e a outra no final tendo, desta vez, sido cumprido todo o programa de encerramento, que incluiu uma deslocação de viatura à carreira de tiro, que ficava para lá do destacamento da Ponte de Udunduma, a caminho do Xime.
Na visita que o General fez a meio do curso, lembro-me que uma das coisas que queria saber era o comportamento do Fafe Nkumba, um ex-chefe de bigrupo [do PAIGC], que fora ferido e capturado, e que estava destinado a ser comandante do pelotão que iria ser colocado na Ponte Luís Dias.
O Fafe era maneta, ficara sem a mão e antebraço direitos, devido aos ferimentos.
Voltei ao Saltinho, já com a CCAÇ 3490 de má memória, e um dia pela manhã, aparece por lá o Caco.
Além de mim, que era do 53, no quartel só se encontrava um oficial daquela companhia, um Alferes que queria apanhar uma hepatite e começava o dia a beber uma bazuca acompanhada por uma banana.
Naquele dia a causa da visita era uma carta de um soldado a queixar-se do rancho, no que tinha toda a razão, acrescento.
No fim da visita o vaguemestre tinha deixado de o ser, e o Cap Ayala Botto [, ajudante de campo do Spínola,] levava um apontamento para convocar o Cap Lourenço, mal este chegasse de férias da Metrópole.
A mês e meio de acabar a comissão, recusei-me a cumprir uma ordem estapafúrdia do Lourenço. Ameaçou-me com uma porrada, e arranjei uma consulta de urgência na psiquiatria. Claro que nem sequer entrei no hospital, fiz uns contactos, livrei-me da porrada.
Terminando, gostei do MILITAR que foi meu Comandante-Chefe, e está tudo dito.

Um abraço, Paulo Santiago.


Texto e fotos: © Paulo Santiago (2010)
Ex-Alf Mil At Inf, Pel Caç Nat 53
(Saltinho, 1970/72)





Foto 1 > Saltinho > À direita o Alf Mil Médico Martins Faria, Major Azeredo, 2 militares não identificados, Alf Mil Santiago, General Spínola e Cap Clemente

Foto 2 > Bambadinca > 24.12.1971 > Apresentação da Companhia de Milícias

Foto 3 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Comandante do CAOP 2, Polidoro Monteiro, General Spínola, Intendente de Bafatá, Ten-Cor Tiago Martins e Paulo Santiago
Foto 4 > Bambadinca > Março de 1972 > Conversa no fim da cerimónia > Ten Cor Polidoro Monteiro, General Spínola, Alf Mil Santiago, parte da cara do 1º Cabo Cristovão Mantudo dos Santos (Pel Caç Nat 53) e de costas o Fur Mil Dinis (Pel Caç Nat 53
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sábado, 9 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3124: O Nosso Livro de Visitas (23): Vasco Joaquim, 1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Juvenal Amado/Carlos Vinhal)

1. Mensagem de Juvenal Amado com data de 1 de Agosto de 2008:

Caros camaradas Carlos Luis Virgilio e restante Tabanca.
Recebi este e-mail deste camarada que me deixou muito feliz, como é de prever.

Ele pede-me contactos de malta do BCAÇ 2912, eu penso que nada melhor que o blogue para os encontrar.

Um abraço para todos
Juvenal Amado


2. Mensagem de Vasco Joaquim de 31 Julho de 2008, dirigida a Juvenal Amado e reenviada por este nosso camarada ao Blogue:

Caro amigo Amado,
Permite que te trate por tú, pois fomos companheiros de armas, ou antes... tive o privilégio de ser substituído por alguém que preencheu uma vaga no mato, para que eu regressase à Metrópole. Pois bem, certamente que contactámos naquele espaço de tempo em que a CCS do 3872 rendeu a CCS do 2912 sita em Galomaro, já lá vão 36 anos.

Eu era na altura o 1.º Cabo Escriturário, Vasco de Jesus Joaquim com o NM 08190469, fazendo parte do BCAÇ 2912, formado em Abrantes (RI2), IAO em Santa Margarida e embarcado para a Guiné em 24 de Abril de 1970, no célebre "iate" CARVALHO ARAÚJO.

Ao analisar a tua corrida pelos locais que percorreste pelas terras da Guiné, dos quais a maioria conheço, agradeço o facto de me teres recordado através das fotos os locais por onde passei, tantas e tantas horas de solidão e saudade (pois na altura já era casado).
Reconheci o Restaurante Morte Lenta, os abrigos, a metralhadora destruída que infelizmente estava ao meu cuidado (embora fosse Amanuense), o morteiro 81 onde também tive instrução, o "Estádio", onde tantas caneladas apanhei, pois jogava pelos Sapadores.
A Cantina, onde tantas "81 e 60" emborcava... enfim o local que me servia de trabalho, pois era eu que fazia a Ordem de Serviço do Batalhão. Bons tempos.

Tristezas? Algumas.
Mortos em emboscada nas Duas Fontes (1) às 3 da madrugada, o Mecânico Auto Laranjina, o Sapador Barreto, o homem do rádio, Oliveira, e mais dois camaradas adidos, o Bolinhas e o Monteiro, bem como o meu amigo Milícia, Iderissa Candé.


Enfim... recordações que só são avaliadas por aqueles que palmilharam por aqueles locais.

Quanto aos castigos, eu também tive alguns (56 reforços à "benfica") e não sei quantas patrulhas nocturnas - e tudo por faltar às formaturas da refeição - e o capitão que era alentejano - que não me gramava, aplicava-me logo o "código ", só que quanto aos "reforços" fazia alguns porque o camarada Escriturário que fazia a Escala retirava alguns, pois dormiamos no mesmo abrigo.

Gostei de ver a foto do Filipe com a lavadeira, que também "era a minha", suponho que era fula ou balanta e que se chamava Binta?... não tenho a certeza... mas que me levava 50 pesos por mês lembro-me muito bem.

Quanto ao "Regala", conheci-o bem. Até lhe dediquei uns versos numa prosa que fiz do qual me recordo este:

Junto da nossa unidade
O Regala bem regalado
Pois não tem piedade
De tão caro vender ao soldado

A foto do Filipe com Esofe está boa. Gostei. Eu também tenho com ele, pois ele era funcionário do Regala e servia no bar/restaurante que eles tinham lá em baixo ao fundo.

Pois meu amigo, daqui a uns tempitos já cá não anda ninguém, daqueles que deram o coiro em terras desconhecidas para nós, mas que tivemos orgulho em cumprir a nossa missão.

Eu pelo meu lado, já estou reformado, traballhei na CP, como Chefe de Estação durante 32 anos, findos os quais me reformei aos 55 anos (já lá vão quase 5). Resido em Ovar onde trabalhei imensos anos, embora a minha naturalidade seja perto de Lamego.

Pronto meu amigo e camarada, obrigado por teres despertado em mim um pouco daquilo que eu já julgava ter esquecido, mas que num instante recordei com saudade, ao ponto de dizer aos meus filhos já casados:

-Olha por aqui andei eu.

Bem hajas e obrigado.
Um grande abraço e manda notícias.
PS. Se souberes de algum endereço da CCS do BCAÇ 2912, agradeço.



3. Mensagem enviada ao Vasco Joaquim em 8 de Agosto de 2008, com conhecimento a Juvenal Amado:

Caro Vasco Joaquim
O nosso camarada Juvenal Amado, elemento activo do nosso Blogue para o qual ficas desde já convidado a aderir, reenviou-nos a tua mensagem.

Sobre a CCS do BCAÇ 2912, à qual pertencias, não temos nada, mas temos alguns tertulianos das outras Companhias do teu Batalhão. Por exemplo o Fernando Barata da 2700, Tony Tavares e Manuel Melo da 2701.

No nosso Blogue podes encontrar muito sobre o teu Batalhão, basta escreveres na janela de pesquisa bcaç 2912 e aparecerá muita coisa para leres.

Entretanto fui à Página do nosso camarada Jorge Santos e no seu Ponto de Encontro encontrei camaradas teus a pedir contactos. São eles:

da CCAÇ 2699 - Adelino Fernandes (*)
da 2700 - Timóteo (*)
da 2701 - Manuel Melo, Tony Tavares e Lourenço (*)

Ficamos à espera de notícias tuas sobre os contactos que possas vir a concretizar.

Um abraço do camarada
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

(*) - Retirados, na edição, os números de telefone e endereços
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Notas de CV:

(1) - Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2529: PAIGC: Emboscada a forças do BCAÇ 2912, na estrada Galomaro-Bangacia (Duas Fontes), em 1 de Outubro de 1970 (Luís Graça)

(2) - Vd. postes sobre BCAÇ 2912 de:

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1494: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil Fernando Barata, CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P1796: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (5): A(s) alegria(s) do(s) reencontro(s)

12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2743: Convívios (50): Convívio da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912, em Fátima, no dia 26 de Abril de 2008 (Fernando Barata)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3117: Álbum fotográfico do Juvenal Amado (1): Imagens de Cancolim

1. Mensagem de Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74, de 6 de Agosto de 2008

Caros Carlos, Virgílio, Luis Graça e restanta Tabanca Grande.

A CCAÇ 3489 pertencente ao BCAÇ 3872 ocupou o Sector L5 em Cancolim.
Substituiu a CCAÇ 2699 em 11 de Março de 1972.
Destacou um Pelotão para Sangue Cabomba e após o reordenamento de Anambé, esse posto ficou com uma Secção de apoio a um Pelotão de Milícias.(*)

Fazia parte desta Companhia, o nosso camarada Fernando Correia natural de Romariz - Sta. Maria da Feira, a quem devo a gentileza das fotos aqui publicadas.
Primeiro Cabo Apontador de morteiro 81mm, tirou Especialidade no RI2 em Abrantes.

Esta Companhia foi efectivamente bastante flagelada e o número de mortes atestam as agruras porque passaram os nossos camaradas. A situação da 3489 era, a dada altura, de forma que teve de ser reforçada por pelotões da 3491 (Dulombi) e pára-quedistas.

(*) - Sangue Cabomba nunca foi atacada. Falava-se que o facto se devia a ser Chão Santo. Pelo o contrário Anambé, que ficava a 1000 metros na direcção de Cancolim, não tardou em ser atacada assim que se fortificou a tabanca.
O sistema de protecção era arame farpado e cavalos de frisa, que se encerravam ao anoitecer. Garrafas de cerveja duas a duas, penduradas no arame farpado completavam de forma rudimentar, os meios de vigilância.
E foi assim que uma noite um grupo de guerrilheiros entrou, pois não é novidade que os milícias, por veses, abandonavam os postos e iam ter com as bajudas.
O soldado Domingos Peixoto natural de Paredes, partilhava uma cubata com a sua Secção, a qual tinha à sua responsabilidade um posto de sentinela. O camarada estranhou movimentos e disparou contra os vultos que entravam pela aldeia dentro. No acto continuo entrou na cubata e tentou sair pela outra porta, foi quando foi atingido mortalmente.
Outro camarada que sofria de ataques epilépticos, foi julgado morto pelos atacantes. Morreram ainda os milícias Califo Baldé e Samba Seide ambos de Anambé.
O IN deixou várias granadas de mão sem retardante, que eram usadas nas armadilhas de tropeçar.

E por hoje é tudo tentei traçar um perfil desta Companhia, espero que o resultado seja satisfatório.

Um abraço para todos
Juvenal Amado



Foto 1 > Um dos famosos baga-baga

Foto 2 > O Correia tocando viola

Foto 3 > Cancolim > Uma pega de cernelha

Foto 4 > Cancolim > Convívio com as bajudas

Foto 5 > Cancolim > Em conversa com a população

Foto 6 > Cancolim > O 81 respondeu ao fogo inimigo

Foto 7 > Cancolim > Abrigo do Morteiro 81

Foto 8 > Cancolim > O Correia de reforço no seu posto

Foto 9 > Cancolim > Dentro espaldar do 81, Alves do Porto, Dias da Maia, Carneiro de Penafiel e o Correia.

Foto 10 > A minha Berliett

Foto 11 > Cancolim > Petisqueira

Foto 12 > Cancolim > Evacuação do Correia com paludismo

Foto 13 > Uma ida à água

Foto 14 > Durante as chuvas, 30 dias de isolamento. As águas levaram as pontes quando os ribeiros se transformaram em rios de águas revoltas. Os atiradores faziam um cordão, dando as mãos, para as viaturas poderem passar.

Fotos e legendas: © Juvenal Amado (2008). Direitos reservados.