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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19305: Tabanca Grande (472): Carlos Silvério, natural de Ribamar, Lourinhã, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73)... Senta-se finalmente à sombra do nosso poilão no lugar nº 783, o número (azarento) do seu tempo de recruta na EPC, em Santarém...


Oeiras > Algés > 35.º almoço-convívio da Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 > "O Carlos Silvério, meu amigo, camarada, vizinho e conterrâneo... Veio com a prima Zita. O casal é lourinhanense, vive em Ribamar... 'Periquitos', na Tabanca da Linha. Ele, furriel miliciano, da CCAV 3378, andou pelo Olossato e por Brá (Bissau), entre abril de 1971 e março de 1973. A Zita viveu com ele em Bissau, de agotso de 1972 a março de 1973.

Foto: © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Carlos Silvério Silva, que passa a ser o grã-tabanqueiro nº 783 :

Data: 14/12/2018, 17:22

Assunto - Formalização do pedido de entrada para a Tabanca Grande

Camarada e amigo Luís Graça, aqui vai o texto prometido.

Tendo vindo a participar em alguns "Encontros Tabanqueiros", nomeadamente o último da Tabanca Grande em Monte Real e vários outros da Tabanca da Linha, chegou a hora de solicitar ao Tabanqueiro-Mor a minha adesão formal.

Sou o ex-fur mil Carlos Silvério Silva, com o seguinte percurso militar:

(i) EPC, Santarém (destacamento): Recruta do CSM. Abril - junho/70;

(ii)  CISMI, Tavira: Especialidade de atirador. Junho - setembro/70;

(iii) RI 5, Caldas da Rainha: Monitor de recruta do CSM.  Setembro - dezembro /70;

(iv) RC 3,  Estremoz: Monitor de especialidade de atirador. Janeiro - fevereiro/71;

(v) BCAÇ, Portalegre: Formação da Companhia de Cavalaria 3378 [, CCAV 3378,]  com destino à Guiné;

(vi) Embarque no Paquete Angra do Heroísmo em 3  de abril de 71 , [viajando com o  BCAV 3846, composto pela CCAC 3366 (Susana, Cumeré), CCAV 3364 (Ingoré, Cumeré) e CCAV 3365 (S. Domingos, Cumeré); a  unidade mobilizadora era também  o RC 3; o Comando e a CCS ficarm em Ingoré. Cmdt do batalhão: ten cor cav António Lobato de Oliveira Guimarães]; 

(vii) Desembarque em Bissau a 9 de abril de 71;

(viii) Estadia no Cumeré de 9 de abril a 13 de maio 71 a cumprir o IAO;

(ix) Chegada ao Olossato em 13 de maio de 71;

(x) Saída do Olossato para Safim, João Landim e Brá (Combis) em 26 de maio de 72;

(xi) Embarque no Uíge em 24 de março de 73 de regresso a Lisboa;

(xii) A CCAV 3378, mobilizada pelo RC 3,  teve 2 Eugénio Manuel Bilstein de Meneses Sequeira; e Cap QEO Carlos Alberto de Araújo Rollin e Duarte.



Guiné > Região do Oio > Olossato [?] > c.  1971/73 >  CCAV 3378 >  O fur mil at cav Carlos Silvério.

Fotos: ©  Carlos Silvério (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

As primeiras semanas na Guiné não foram fáceis. Apesar de alertados para algumas dificuldades climatéricas, aquela temperatura, e principalmente aquela humidade, que quase não nos deixava respirar, foi um choque brutal.

Psicologicamente fomos marcados por dois episódios:

1º - A morte do capitão graduado 'comando' João Bacar Jaló, comandante da 1ª companhia de comandos africanos, ocorrida precisamente uma semana após a nossa chegada. Não se falava noutra coisa em Bissau. Toda a gente queria saber as circunstâncias e as consequências desta perda.

2º - Mais dramático que o anterior, pois tocava-nos directamente. Tínhamos dezanove dias de Guiné. Estávamos em pleno IAO, estacionados em círculo numa clareira duma mata próxima de Nhacra. Cada homem da companhia tinha cavado o seu abrigo. Após o jantar muitos de nós ficámos a conversar com o vizinho do lado ou em pequenos grupos no interior do estacionamento.

Por volta das 22 horas [, do dia 28 de abril de 1971,] alguém abriu fogo e só parou depois de disparar a última bala do carregador. Gerou-se uma grande confusão porque ninguém entendeu o que se estava a passar. Deste incidente resultou a morte do nosso camarada alf mil cav João Francisco Synarle de Serpa Soares (filho de um antigo comandante da EPC, coronel Serpa Soares). Quando a situação acalmou, chegámos à conclusão que o alferes Serpa Soares tinha resolvido fazer uma ronda pela periferia do estacionamento levando a G3 nos braços como se de um bebé se tratasse.

Um dos soldados que estava de sentinela viu aparecer um vulto e sem tentar perceber de quem se tratava, crivou a G3, o tórax e o abdómen do alf Soares provocando-lha a morte imediata. Digamos que não foi um começo auspicioso.

Oportunamente enviarei mais alguns episódios não tão dramáticos como este.

Abraço,
Carlos Silvério.

PS - Seguem três fotos do tempo da tropa e da Guiné


Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de novembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas", do ten gen ref António Martins de Matos > Dois representantes da Tabanca do Porto Dinheiro, Lourinhã, à direita o régulo, o Eduardo Jorge Ferreira (ex-alf mil da Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre); e à esquerda o Carlos Silvério, já na altura assinalado como "o nosso próximo grã-tabanqueiro nº 783"...

Fotos: © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário de LG:

Carlos, meu amigo, camarada,  conterrâneo e... primo:

Tenho um triplo ou quádruplo prazer em te acolher na Tabanca Grande. Há muito que esperava por este gesto. Respeitei o teu "timing", imposto por razões que já antes havias partilhado com o Carlos Vinhal e comigo: querias sentar-te à sombra do nosso poilão no lugar nº... 783 (*).

Custou mas foi. O lugar é bem merecido (**). E este blogue é teu, é nosso. Sei que és um leitor fiel. E nós ficamos à espera das prometidas histórias que ainda tens na tua memória.

Ficas a saber que és o primeiro representante da tua companhia a integrar formalmente a Tabanca Grande. Tens a responsabilidade, acrescida, de divulgar o blogue e de trazer mais camaradas para se sentarem contigo e connosco debaixo do nosso poilão, mágico, fraterno e protetor.

Sobre a tua CCAV 3378 sabemos pouco, temos poucas referências no nosso blogue. Mais uma razão para continuares a escrever sobre ti e os teus camaradas.

Quanto ao nosso parentesco (por afinidade)... Estás casado com a Zita, e a Zita e eu temos em comum dois bisavós, que eram irmãos, nascidos na década de 1860, em Ribamar, Lourinhã, pertencentes ao "clã Maçarico":

(i)  o bisavô dela chamava-se  Joaquim Filipe Maçarico, casado com Maria Feliz, que tiveram quatro filhos, incluindo a Iria da Conceição, que será avó paterna da Zita;

(ii) a minha bisavó paterna, irmã do Maçarico (só os rapazes é que tinham o apelido Maçarico) chamava-se Maria Augusta (1864-1920), que foi casar na Lourinhã com Francisco José de Sousa (1864-1939): o casal teve 7 filhos, incluindo a minha avó, paterna, Alvarina de Sousa [que morreu de tuberculose em 1922, tinha o meu pai, Luís Henriques (1920-2012),  dois anos].

Portanto, as nossas avós (paternas) eram primas direitas, a Iria  e a Alvarina.. Não vale a pena ir mais longe, mas sabemos pelo menos os nomes dos pais e dos avós dos nossos bisavós, ou sejam, os nossos trisavós (nascidos por volta de 1830) e os nossos tetravós (nascidos por volta de 1800)...

Um alfabravo fraterno, um beijinho para a Zita.  Feliz e Santo Natal para toda a família. LG
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18904: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (108): O Carlos Silvério, nosso futuro grã-tabanqueiro... n.º 783... Encontrei-o na Lourinhã e ele contou-me o seu... "segredo" ... Também me disse que morou em Bissau, na rua do "Chez Toi", quando lá esteve, casado, com a Zita, em 1972/73...

(...) O 783 era o seu número de soldado-instruendo na recruta, em Santarém. Acabada a recruta, e quando ele se preparava para ir uns dias de férias, andava a passear com a sua Zita nas ruas de Santarém, quando passa rente a um major de cavalaria... Distraído com a namorada, mal deu conta dos galões amarelos do oficial superior que lhe fez a tangente... Mas ainda foi a tempo de se virar e de lhe bater a pala... O major continuou o seu caminho, mas, matreiro ou sacana, foi dar uma volta e, logo mais à frente, virou em sentido contrário para o apanhar de frente. O Carlos desta vez não foi apanhado desprevenido e fez-lhe, corretamente, a devida continência... Mas o senhor oficial estava mesmo determinado em lixá-lo. Tirou-lhe o número (o 783) por causa da desatenção anterior.

Resultado: quando o Carlos Silvério chegou ao quartel, já tinha a participação do major... Enquanto o resto do pessoal (cerca de 400) foi gozar uns merecidos dias de licença em casa, o Carlos ficou de castigo no quartel... Seguindo depois diretamente, de Santarém para Tavira, para o CISMI, numa penosa viagem de comboio que levou toda a noite, ...

Compreensivelmente, o Carlos Silvério "ficou com um pó" aos oficiais de cavalaria, em geral, e aos majores, em particular, nunca mais se esquecendo do seu azarento n.º 783 da recruta em Santarém. Ele é primo do tenente general reformado Jorge Manuel Silvério, nascido em Ribamar, em 1945, e já lhe contou em tempos esta peripécia que o deixou desgostoso em relação à instituição militar. (...)