sábado, 7 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26244: Os nossos seres, saberes e lazeres (657): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (182): From Southeast to the North of England; and back to London (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Agosto de 2024:

Queridos amigos,
Confesso que a minha vida profissional continua a marcar o olhar que deito pelos ambientes que me são menos familiares, ou que revisito: como conversam as pessoas na via pública, quando se encontram, o preço dos alimentos e das bebidas, os dados sobre a vida cultural, o número de crianças, o número de velhos, as creches e as ocupações dos seniores, bisbilhoto a biblioteca pública, faço perguntas sobre os serviços públicos, vejo que os britânicos não estão muito melhor do que nós, os caminhos de ferro desmantelados, manda-se correio em lojas que podem ser papelarias, as transações bancárias decorrem online, não vi uma caixa ATM a não ser no hipermercado do Tesco. Como cá, os edifícios reparam-se, o alcatrão degrada-se, as listas de espera na saúde são impressionantes. E de Faringdon vou matar saudades para o Peak District e depois rever a minha adorada Leeds.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (182):
From Southeast to the North of England; and back to London – 2


Mário Beja Santos


É a despedida de Faringdon, ver o que já foi visto, benefício de um mês de junho com temperaturas amenas, a humidade não é sufocante, há flores por toda a parte, Faringdon cresce, acolhe gente que trabalha na cidade de Oxford, aqui a habitação é mais em conta. Se bem que a vida cultural não seja intensa, Oxford monopoliza o cinema, o teatro, a música, os principais entretenimentos, andei a bisbilhotar o que faz a autarquia, cheguei mesmo a estar à porta de uma aula de ginástica para rapazes e raparigas de 80 e 90 anos num espaço de convívio dentro da antiga Bolsa dos Cereais, ali perto funcionam creches, as reuniões para seniores são frequentes. A rede de transportes públicos liga Faringdon a Oxford e a Swindon, e há mesmo algumas carreiras para locais próximos, como Lechlade.
Morreram o correio e a delegações bancárias, não vi uma caixa para levantar dinheiro, a não ser dentro de um grande supermercado.
E continua a surpreender-me o número de crianças, 2-3 filhos por casal, há muita imigração, como em Portugal vão tomando conta dos serviços públicos, desde os lares de terceira idade ao matadouro. Despeço-me com vontade de voltar em breve, de manhã cedo vamos partir para a região do Peak Districk, dela tenho muitas lembranças, e do que vi e revi vos vou contar.

Por aqui se entra para a Igreja de Todos os Santos, a construção principal data dos séculos XII e XIII, gosto imenso do diálogo entre a pedra, a porta e o seu ornamento. Tudo correu bem à igreja até aos tempos da guerra civil, os adeptos de Carlos I resistiram aqui em Faringdon, vieram as tropas de Cromwell, uma canhonada deu cabo da agulha da torre, nunca se fez qualquer restauro
Caixa de correio com monograma de Eduardo VII, é um milagre como escapou a antigas atualizações, o que é mais frequente encontrar são caixa de correio com Elizabeth Regina
Inglaterra é um país de rosas, com muitas hibridações, exposições, destaques nos jardins, nos canteiros das casas, em inesperados espaços públicos. Talvez na hora da manhã e de uma inusitada luminosidade, o que me atraiu é esta mistura de branco e amarelo em belíssimo botão
Fachada principal do Great Coxwell Tithe Barn, data do reinado de João Sem Terra
Interior longitudinal do celeiro principal
Pormenor da construção mais antiga do celeiro
Se dúvidas subsistem de que esta obra é genuinamente medieval, atenda-se a esta porta lateral e ao lajedo e ao tipo de janela
À saída do Great Coxwell Barn vim sentar-me num banco em frente de uma velha casa, com outra ao fundo. Há nestes ambientes rurais um sentimento de eflúvio romântico, uma clara nostalgia do passado, uma paisagem que atraiu notáveis pintores e ocorreu-me pensar num pintor romântico do meu culto, John Constable.
Passeio à Folly, talvez a obra mais excêntrica do excêntrico Lord Berners, feita exclusivamente para dar trabalho a desempregados, construção de 1935, não tive ensejo de subir à torre, as visitas estão sujeitas a marcação prévia no centro de informação
Para que o visitante não esqueça que isto é obra de Lord Berners, 14.º barão, e de nome Gerald Hugh Tyrwhitt-Wilson
É tempo dos Hollyhock (em português, Malva-rosa), crescem por toda a parte, os jardineiros misturam esta flor com outras mais odorosas, mas o que me fascina são os cromatismos que elas produzem
A rua principal de Faringdon dá pelo nome de London Street, e efetivamente ligava Faringdon a Londres. Dentro das crepitantes alterações comerciais, restam sinais do passado, o que vemos aqui são mosaicos arte nova, terá sido uma alfaiataria para gente com posses, hoje é um estabelecimento de tatuagem, pedi licença para fotografar esta entrada de loja que terá mais de um século
Nos baixos do velho edifício da Câmara Municipal faz-se preito a quem caiu pela pátria, é assim em qualquer localidade do Reino Unido onde se perderam vidas em duas guerras mundiais
No caminho entre Faringdon e Witney pedi para parar em Clanfield, senti-me atraído por esta igreja que tem como patrono Sto. Estevão, o seu interior não me impressionou muito, mas parei junto de uma lápide, aí sim, um baque de comoção, o jovem tinha 18 anos, pertencia à infantaria ligeira, deu a vida pela pátria, em 1917, chamava-se J. Monk, morreu talvez em França ou na Flandres, ali me detive, há sempre uma lembrança para os meus mortos em combate.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26217: Os nossos seres, saberes e lazeres (656): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (181): From Southeast to the North of England; and back to London (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26243: Lembrete (51): Apresentação do livro "Encruzilhadas no Império", de Paulo Cordeiro Salgado, dia 9 de Dezembro de 2024, pelas 18 horas, na UNICEPE, Praça de Carlos Alberto, 128 - Porto


Comecei a escrever este livro durante a pandemia. Pelo meio escrevi outros.

São mesmo encruzilhadas, pretendendo eu tirar das gavetas fundeiras o POVO, a "ARRAIA MIÚDA", que habitualmente os compêndios não contemplam, somente alguns estudiosos historiadores universitários. E de alguns frades, escravos e homens de bem, também de andarilhos por este Império se Império houve.

Apresentação no Porto no dia 9.12.24 na UNICEPE - Praça de Carlos Alberto, 120

Paulo Salgado

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Nota do editor

Último post da série de 30 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26218: Lembrete (50): Lançamento do livro "Lavar dos Cestos - Liturgia de Vinhas e de Guerra", da autoria de José Brás, a levar a efeito amanhã, dia 1 de Dezembro, pelas 15h00, na Casa do Alentejo, Rua das Portas de S. Antão, 58 - Lisboa

Guiné 61/74 - P26242: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte III: Dois amargos Natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > CCAV 8352/72 (1972/74) > Vista aérea do futuro aquartelamento


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > 2014 >  Perímetro defensivo, em esquema aproximado, sobre imagem atual, do Google Earth (com a devida venia...). CCaboxanque fican maragem esquerda do Rio Cambijá: vd. infografia abaixo)


Fotos do álbum do nosso grão-tabanqueiro, nascido em Angola, Lobito, Rui Pedro Silva, que foi sucessivamente:

(i)  alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971);

(ii)  ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72);

(iii) cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74). 

Passou 3 Natais no mato (em Angola, 1971, e na Guiné, Caboxanque, em 1972,  e Cadique, em 1973).


Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça E Camaradas da Guiné ] (*)




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bedanda, Cobumba, Cufar, Caboxanque, rio Cumbijã e seu  afluente, o rio  Bixanque.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné   (2024).

 *


 Dois amargos natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973)

por Rui Pedro Silva


A 21 de dezembro de 1972 a CCav 8352, que eu comandava, desembarcou em Caboxanque, no âmbito da operação Grande Empresa (**), iniciada a 12 de dezembro, a qual tinha como objetivo a ocupação do Cantanhez.

A IAO no Cumeré durou 15 dias e logo marchámos para Cufar,  divididos em dois grupos: o  primeiro grupo deslocou-se de Noratlas a 19 de novembro de 1972 e o segundo de LDG a 21, e  com ele todo o equipamento para a instalação de uma companhia: do equipamento de cozinha às tendas e colchões pneumáticos, das viaturas ao gerador, das armas e munições às rações de combate, etc.

Para todos nós era seguro que não íamos render uma outra companhia e, ao chegar a Cufar, desde logo ficou claro que não seria aquele o nosso destino. Logo no desembarque recebi instruções para conservar o material carregado nas viaturas e tudo o resto guardado num improvisado “armazém”.

Nesse momento ainda não sabíamos da operação a que estávamos destinados. Nas quatro semanas que estivemos em Cufar realizámos operações de patrulhamento da zona, segurança à pista e ao porto e à construção da estrada Cufar - Catió. 

Da sede do batalhão, em Catió [BCAÇ 4510/72, Sector S3, em 1/7/73], vinham insistentes recomendações para nos concentrarmos na segurança da estrada. Havia um claro desentendimento entre os responsáveis em Cufar e a sede do Batalhão. 

A segurança na estrada mantinha-se 24 horas por dia,  rodando por todos os grupos de combate da companhia de Cufar  [CCAÇ 4740/72, em 1/7/73] e da minha  [CCAV 8352/72 ] e portanto não se percebia a insistência.

A preocupação de Catió resultava do facto de estar em curso uma manobra de diversão procurando atrair o PAIGC para aquela zona,  levando-o a mobilizar os seus efetivos para Cufar e assim garantir uma menor resistência à entrada das nossas tropas no Cantanhez. 

Esta manobra teve pleno êxito. O PAIGC foi surpreendido com a entrada das nossas tropas em Cadique [CCAÇ 4540/72, em 1/7/73, rendida em 22/7 pela 1ª C/BCAÇ 4514/72 mas só regressou a Bissau em 17/8]  e Caboxanque,  não oferecendo qualquer resistência nos primeiros dias.

 A Op Grande Empresa foi muito bem descrita no livro “A Última Missão”,  do sr. cor pqdt Moura Calheiros. Como tive oportunidade de lhe dizer na altura da publicação:

“A sua narrativa permite ao leitor ter uma visão mais abrangente da guerra na Guiné e, ao mesmo tempo, navegar consigo no seu PCA, progredir com os seus bigrupos nas missões mais arriscadas, partilhar a angústia das decisões mais difíceis, confrontar-se com a orientação estratégica do Comando-Chefe, conhecer a atuação da guerrilha, viver a vida de um militar naqueles duros tempos e cumprir a nobre missão de resgate dos militares portugueses falecidos e sepultados na Guiné. 

"Ao ler as páginas deste seu livro revejo e identifico pessoas com quem partilhei uma parte importante da minha vida e situações em que a minha companhia esteve também envolvida e que constituem pedaços da história dos paraquedistas, das forças armadas portuguesas e do nosso país.”

Recomendo vivamente a leitura deste livro a quem ainda não o fez porque nele revemos, cada um de nós, ex-combatentes, uma parte da nossa história. Cerca de seis meses depois,  e em resultado da Op Grande Empresa,  existiam 7 novos aquartelamentos
 [no Cantanhez] :

  • Cadique,
  • Caboxanque,
  • Cafal,
  • Cafine,
  • Jemberem,
  • Chugué
  • e Cobumba.

O COP 4, comandado pelo sr. ten-cor pqdt Araújo e Sá, comandante do BCP 12, coadjuvado pelo seu segundo comandante e oficial de operações, maj pqdt Moura Calheiros,  foi a unidade operacional responsável pela operação.

Mas fiz esta longa introdução para abordar o tema do Natal.

Os quatro dias que mediaram desde a nossa entrada em Caboxanque até ao Natal de 1972, foram preenchidos em ciclópicas tarefas de instalação da companhia, segurança no perímetro defensivo e reconhecimento da zona operacional.

O perímetro tinha cerca de 3,5 km  (Fotos  nº 1 e 2) e só foi possível garantir a segurança de Caboxanque instalando os grupos de combate e cada uma das suas secções ao longo da linha de defesa, ficando a CCav 8352 instalada em metade do perímetro virado a norte e a CCaç 4541 na metade virada a sul. 

Instalados em valas cavadas em contrarrelógio, sem arame farpado e apenas separados da mata do Cantanhez por um largo espaço que as maquinas da engenharia terraplanaram, com a ração de combate a alimentar a nossa fome, a noite escura a servir de cobertor e a angústia de podermos ser surpreendidos pelo PAIGC nessa nossa tão frágil posição, assim se encontravam os militares sob meu comando, carregando sob os meus ombros a enorme responsabilidade do que lhes pudesse acontecer naquelas difíceis circunstâncias.

No dia de Natal a companhia estava dispersa pelo perímetro de Caboxanque, um grupo de combate tinha saído com um bigrupo paraquedista, em patrulhamento, e em Cufar ainda permaneciam alguns militares da companhia, guardando todo o material que lá tinha ficado. 

Sem meios frio a funcionar e portanto sem géneros frescos,  as refeições limitaram-se às rações de combate e a uma sopa improvisada com o pouco que diariamente se trazia de Cufar.


Foto nº 3
Estes foram dias muito difíceis para todos. Numa fotografia que aqui junto (Foto nº 3)  podem verificar como eram feitas as distribuições das refeições ao longo do perímetro. Quando o Unimog que fazia este serviço chegava junto da última secção já a refeição que transportava estava fria.

Um ano antes, no 
Natal de 1971, estava em Angola, nos Dembos, na sede do BCAÇ 3840 sediado em Zemba e na escala de serviço coube-me ser o oficial de dia. (...)

Natal de 1973 foi passado em Cadique para onde a CCav 8352 tinha sido enviada, por um mês, no âmbito da Op Estrela Telúrica que envolveu entre outras forças o Batalhão de Comandos. (Vd. o que escreveu, no seu "Diário da Guiné", o nosso camarada António Graça de Abreu, então em Cufar, no CAOP1).

 Instalados em condições muito precárias, sempre com grupos de combate em acção, principalmente junto à estrada Jemberem – Cadique, este foi o terceiro e o nosso pior Natal em guerra.

Dois dias antes do Natal um grupo de combate da minha companhia e outro da companhia de Cadique foram emboscados quando vinham render outros 2 grupos de combate da CCav 8352 que eu naquele dia comandava. 

Em resultado da emboscada houve mortos e feridos entre os militares da companhia de Cadique.

A moral do pessoal de Cadique estava a um nível muito baixo e assistimos a alguns actos de desespero, como a recusa a sair para operações ou tentativas de acionar uma granada defensiva junto do comando. (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto,  parênteses retos, título: LG)


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Notas do editor:
 
(*) 25 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)

(**) Último poste da série > 5 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26236: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte II: O BCP 12, o "112" do Com-Chefe

Guiné 61/74 - P26241: Humor de caserna (85): "Ai, não caia, senhora, não caia!"...(responde um guerrilheiro do PAIGC, capturado, ferido, quando ela lhe perguntou o que lhe fariam os seus camaradas se o avião caisse e ela fosse apanhada à unha...): uma história de (†) Maria Ivone Reis, enfermeira paraquedista, maj ref graduada


Angola > Base de Negage > Agosto de 1961 > As enfermeiras paraquedistas Maria Arminda e Maria Ivone, em missão de apoio no âmbito de uma operação na Serra da Canda

Foto: Cortesia de um nosso leitor, devidamente identificado, mas que prefere o anonimato (trata-se de antigo oficial paraquedista do BCP 12 e BCP 12).



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Uma enfermeira paraquedista no meio dos "Lassas"... Muito oportunamente o nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III (1968/70), identificou-a como sendo a Maria Ivone Reis (Em 1968 era graduada em tenente, reformou-se com o posto de posto de major)


Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A Maria Ivone Reis pertence ao grupo das 6 Marias, nome pelo qual ficou conhecido o 1.º curso de Enfermeiras Paraquedistas portuguesas feito em 1961, curso esse que é também o da Maria Arminda Santos (n. 1937), nossa grã-tabanqueira, e agora a matriarca das antigas enfermeiras paraquedistas (é à sua "base de dados" que recorro sempre que tenho uma dúvida ou uma pergunta sem resposta sobre o "curriculum vitae" das suas colegas).(*)

As outras quatro Marias eram a Céu (Policarpo), a Lourdes ("Lurdinhas"), a Nazaré (†) e a Zulmira (†). Sobre a Maria Ivone Reis temos 33 referências no nosso blogue:

(i) conclui em 1958 o Curso de Enfermagem Geral na Escola das Franciscanas Missionárias de Maria;

(ii) começou a trabalhar em 1959, no hospital da CUF;

(iii) fez o curso de enfermeira paraquedista em Tancos, em junho-agosto de 1961;

(iv) na Força Aérea, nos paraquedistas, já havia mulheres, civis, na parte administrativa,  informa-nos ela;

(v)  a relação com os paraquedistas foi sempre  muito cordial;

(vi) partiu para Angola, em 23 de agosto de 1961, com a Maria Arminda;

(vii) esteve 3 vezes na Guiné: em 1963, 65 e 69;

(viii) o seu maior desgosto foi o de ter sido saneada em  17 de abril de 1975, no Hospital da Força Aérea onde trabalhava (e onde voltou mais tarde, depois de reintegrada).

Mas voltemos à sua experiência como enfermeira paraquedista:

(...) "No quartel nós podíamos sair do avião, mas na zona de combate nós não devíamos sair do avião ou do helicóptero. Era uma circunstância de muito risco. Se houvesse ataque do inimigo o helicóptero teria de levantar voo imediatamente ficando a enfermeira em terra em grande risco, sem meios nem ambiente para tratar dos feridos. Eventualmente fizemos isso em situações muito excecionais, bem medidas, porque podia tornar-se um altruísmo muito arriscado para a vida dos outros. 

"Nesse aspeto é muito importante a questão do medo, porque ajuda ao raciocínio e ao controlo. O importante é perceber como controlar o medo, para termos oportunidade de perceber a razão do medo e para que possamos ultrapassá-lo." (...)

A história que se segue é sobre isso mesmo: como lidar com o medo e a consciência do risco... Em todas as profissões de risco ou de maior risco, o profissional tem que criar mecanismos de defesa contra a ansiedade, a angústia, o medo de falhar, de cometer,  de ter um acidente, de ser capturado, de morrer, etc. As enfermeiras paraquedistas estão nessa lista das profissões de risco. 

A história merece figurar na série "Humor de caserna"... A autora não pondera a hipótese de o avião cair e ela morrer, mas sim, a de ser capturada pelo inimigo... E racionaliza, e muito bem: "Sou enfermeira, mas também sou mulher: não me vão fazer mal, posso ser muito útil para tratar os seus feridos...". 

Mas depois é confrontada com a opinião de um guerrilheiro (nunca lhe chama "turra", como era corrente na Guiné; curioso o nome, Armand, devia ser do outro lado, da Guiné-Conacri ou do Senegal, é um nome francófono)...


Humor de caserna (85): "Ai, não caia, senhora, não caia!"...

por Maria Ivone Reis (1929 - 2022)



A então ten enf pqdt Ivone Reis,
em Cacine, 12/12/1968.
Foto: António J. Pereira
da Costa
 (2013)



Sempre estive bem consciente de que o trabalho que executava quando fazíamos evacuações sanitárias, tinha alguns riscos. Estes eram elevados e bem patentes quando elas eram feitas desde os locais de combate. Mas, mesmo nos outros casos, o simples facto de sobrevoarmos zonas por vezes controladas pelo inimigo, incutia em nós alguma sensação de insegurança.

 Naqueles momentos, e enquanto olhava para a paisagem que lá em baixo ia passando sobre os  meus olhos, pensava em muitas coisas... 

Uma, recorrrente, era: "O que me fariam os guerrilheiros, se o avião fosse abatido, e nós  feitos prisioneiros ?".

Pensava muito na minha condição de mulher, que talvez agravasse a situação. Mas, por outro lado, tinha esperança de que, pelo facto de ser enfermeira e os guerrilheiros saberem que nós também tratávamos dos seus feridos, me não fariam qualquer mal.

Por conveniência ou não, quanto mais pensava nisto mais me convencia de que eu beneficiaria dessa proteção pelo simples facto de ser enfermeira!

Até que um dia as minhas dúvidas se  desfizeram!

Uma vez, na Guiné, quando socorria um guerrilheiro que estava ferido e que tinha sido capturado, perguntei-lhe se, por acaso um dia o meu avião caísse no meio do mato com enfermeiras a bordo, se eles nos fariam mal. Eu tinha a ilusão  de que ele diria que nenhum mal nos aconteceria.

Então o Armand   – era assim que ele se chamava   abriu muito os olhos e respondeu-me:

– Não caia, senhora, não caia!

E ali acabaram as minhas ilusões sobre tal assunto!


Fonte: Excertos de Ivone - "Aspetos humanos da nossa atividade: Não caia, senhora...". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág.333  (com a devida vénia) (Imagem à direita, a seguir: Capa do livro)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, introdução: LG) (**)


Coautoras (das 30 da lista, com a Rosa Serra,  editora literária,  18 são Marias...): 

Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes (Pessoa) | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.

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Notas do editor:

(*) Vd., postes de:^

18 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23275: (In)citações (206): Maria Ivone Reis (1929-2022), a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci, em 1967, no Porto (Rosa Serra)

16 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23267: In Memoriam (435): Maria Ivone Reis, Major Enfermeira Paraquedista Reformada (1929-2022), falecida no dia 15 de Maio de 2022

13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21764: (De)Caras (168): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte I

13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21766: (De)Caras (169): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte II (e última)

5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8998: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (28): Comemoração dos 50 anos dos cursos de 1961 das Tropas Pára-quedistas (Rosa Serra / Maria Arminda)

26 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6900: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (20): Uma foto histórica: as Alferes Arminda e Ivone, em Angola, Negage, Agosto de 1961

5 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4318: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (10): Ivone Reis, Anjo da Guarda na Guiné, Angola e Moçambique (António Brandão)

20 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26240: Notas de leitura (1752): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
O que este autor nos permite conhecer é que a ocupação é débil, os efetivos militares irrisórios, as rebeliões eclodem aqui e acolá, muitas vezes associadas à recolha do imposto da palhota; a indefinição das fronteiras vai permitindo a intromissão da França e dos seus comerciantes, com todos os inconvenientes de uma presença portuguesa sempre diluída; Abdul Injai, a quem se prometera um regulado no Oio, anda por ali a roubar e matar, é deportado para S. Tomé, regressará e pôr-se-á ao serviço de Oliveira Muzanty nas operações do Cuor, será mesmo nomeado régulo desta região, onde também provocará desgraça; o governador Soveral Martins deixou currículo minguado na Guiné, ao contrário de Muzanty que se lança em operações militares e, como veremos adiante, com resultados seguros; haverá a expulsão de negociantes estrangeiros; há um ministro que decide mandar vadios para a Guiné e propõe a criação de um quadro de polícias para os vigiar, parece um quadro de revista.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (5)

Mário Beja Santos

Convém recordar que Oliveira Muzanty fizera parte da delegação portuguesa para a delimitação de fronteiras em 1904. Teve a oportunidade de revelar a sua valentia quando alguns régulos se recusaram a colaborar, as tropas francesas reagiram com 50 atiradores senegaleses que intimaram os insubmissos. Oliveira Muzanty foi atacado perto do Cabo Roxo, a coluna de Oliveira Muzanty e do seu colaborador, o tenente Fortes, reagiram com sucesso, e a missão de demarcação de fronteiras continuou.

Estamos agora na governação do capitão Carlos d’Almeida Pessanha, tomou posse em fevereiro de 1905, Lapa Valente, o governador interino, e em diferentes momentos, é posto em causa sobre a sua tomada de posição sobre o regime de concessões de terrenos; Almeida Pessanha não teria as mesmas preocupações que Lapa Valente relativamente a companhias estrangeiras. Escreve para Lisboa dizendo que a Guiné seria por muito tempo um encargo para a metrópole. A Guiné tinha “suficientes elementos próprios de desenvolvimento”, mas era preciso aproveitá-los devidamente; caso contrário “as vizinhas possessões francesas sufocar-nos-ão; é mister, portanto, que, feita a delimitação, saibamos aproveitar o pouco que nos resta da Senegâmbia".

A cobrança de impostos de palhota decorria sem grandes atritos. Alegando razões de saúde, Almeida Pessanha parte para o reino, Lapa Valente, Chefe do Estado-maior, assume novamente o cargo de governador interino. Restabelece-se o comércio no Oio, aparentemente estavam dissipadas as mais graves hostilidades. Ocorrem desacatos na Costa de Baixo, Lapa Valente denuncia a sua impossibilidade de acorrer em ajuda dos comandantes militares. A força militar da província resumia-se ao tempo a 157 oficiais e praças, 23 em Bolama, 24 em Farim, 15 em Bissau, 12 em Geba, 10 em Cacheu, 1 em Buba e 4 em Cacine. O governador interino aproveita para tecer as suas considerações quanto às guerras havidas em Bissau, Oio, Jufunco e Churo, não houvera ocupação das regiões batidas, agravara-se a situação económica da província, era tudo difícil na praça de Bissau e nulo o domínio no Oio, no Jufunco e no Churo. Almeida Pessanha regressa e parte pouco depois. É por este tempo que Abdul Injai obriga a tomar medidas. Era um chefe seruá, tinha servido como auxiliar na campanha do Churo, fora-lhe prometido um regulado no Oio, região que ele atacava por meio de razias, nas suas operações roubava e matava os indígenas. Almeida Pessanha manda-o prender, será enviado para S. Tomé, no início da governação de Oliveira Muzanty. Acontece que por ocasião da visita do príncipe real D. Luiz Filipe àquela província, em junho de 1907, Abdul recebeu do príncipe permissão para regressar à Guiné, irá então auxiliar o mesmo Oliveira Muzanty nas campanhas de Badora e Cuor, vindo a ser por este feito régulo do Cuor.

Temos agora a governação de Oliveira Muzanty, é nomeado em 8 de junho de 1906, tinha terminado havia pouco chefiar a comissão de delimitação de fronteiras, possuía um bom conhecimento da província. O novo governador tinha o propósito de dotar a administração de um caráter mais acentuadamente civil, decide que os seis comandos militares iam ser substituídos por residências, queria uma companhia de atiradores indígenas, o esquadrão de dragões indígenas e a companhia mista de artilharia de montanha foram extintos.

Muzanty começa a preparação das operações militares, requisita, logo no início de 1907, 250 carabinas Kropatcheck e 250 mil cartuchos. Volta a expulsar Graça Falcão, que andava a envenenar os régulos da região de Cacheu. Este turbulento ex-alferes viaja para Lisboa com bilhete de ida e volta. Tendo sido notada hostilidade na receção dos impostos na ilha Formosa, forma-se uma expedição, morre o régulo e o feiticeiro, queimam-se palhotas, pouco depois os habitantes das povoações queimadas apresentam-se pedindo perdão.

Acontecimento maior tinha sido a brutalidade com que o régulo Infali Soncó tratara o comandante militar de Geba, Muzanty escreve para Lisboa dizendo que não tinha possibilidade de tomar medidas por dispor apenas de 30 a 40 praças, não havia uma canhoneira a funcionar, era fundamental dar uma lição a Infali Soncó (régulo do Cuor), pede uma força de 500 praças europeias durante um período máximo de 4 meses e apoio de canhoneiras. Antes de partir para Lisboa elabora um relatório em que critica querer-se substituir uma soberania efetiva fazendo manobras com os variados elementos indígenas. Havia que ser exemplar nas atitudes de insubmissão, os maus-tratos a que fora sujeito o comandante militar de Geba impunham uma lição muito séria.

Em junho de 1907 ocorre um facto insólito, chega à Guiné um grupo de vadios, o ministro recomenda que eles sejam distribuídos pelas várias circunscrições e presídios na proporção que o governador entendesse. O pior é que o ministro quer enviar mais vadios para a Guiné, a oposição em Bolama é total. Em setembro, agrava-se a situação na região do Geba, o régulo de Badora revolta-se e alia-se ao régulo da região do Cuor, cortam a linha telegráfica de Bafatá a Buba. As relações entre o Governo e a Companhia Francesa da África Ocidental e Comércio Africano degradam-se. Enquanto isto se passa, Muzanty trabalha em Lisboa na organização de uma grande expedição à Guiné, é projetada a sua realização de janeiro a maio de 1908, conta-se com uma força expedicionária, duas companhias europeias de infantaria, uma bateria de artilharia e uma companhia da Marinha. Em Lisboa fazem-se contas ao custo da operação, uma campanha prevista em três fases: operações na ilha de Bissau, no Oio, e contra os povos Manjacos da Costa de Baixo, previa-se a maior resistência no Oio. Houvera como que um esquecimento para a importância das operações no Geba, sem perda de tempo, logo que regressar à Guiné, Muzanty prepara uma expedição que liquida qualquer resistência na região do Xime, fica ainda por resolver o problema do régulo do Cuor. É então que se prepara um conjunto de operações na região revoltada de Quínara, haverá muito tiroteio, em Lisboa pede-se a Angola para formar uma companhia indígena para destacar para a Guiné, sem resultado, quem vai fornecer uma companhia indígena será Moçambique. A situação em Lisboa é perturbada pelo regicídio que ocorreu em 1 de fevereiro de 1908. Continuam os preparativos para as operações, as fundamentais serão as da margem direita do rio Geba, é nessa altura que entra em cena José Rodrigues de Mello, veio de Cabo Verde e passará à história como o primeiro fotógrafo militar português, todo o seu trabalho na Guiné está consagrado em livro.


Armando Tavares da Silva
Imagens tiradas pelo primeiro fotógrafo militar português, José Rodrigues de Mello
Régulo de Fulas e seus Ministros
Teatro de Bolama
Costume de europeus estrangeiros. Aperitivo (antes do jantar)

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26213: Notas de leitura (1750): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (4) (Mário Beja Santos)

Último post da série de2 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26226: Notas de leitura (1751): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26239: Facebook...ando (68): Na morte de Lúcia Bayan, que disse numa entrevista: "Eu gosto muito, sempre, de relembrar um provérbio que eu aprendi em criança, porque eu nasci e cresci em África, que diz que enquanto o leão não tiver voz só vamos ouvir a história do caçador" (Ana Archer)

1. Excerto de postagem de Ana Larcher, na sua página do Fcebook, 26 de novembro às 15:05 (com a devida vénia):

Acabo de saber a tristíssima notícia que nos deixou uma grande amiga, a Lucia Bayan (foto à esquerda: cortesia de Fumaca.pt, podcast de jornalisno de investigação).

Uma pessoa boa, de sorriso sempre aberto e coração puro, sempre pronta a ajudar os outros, como sabem os muitos amigos que tem. 

Uma investigadora de excelência, de um rigor raro, que dedicou a sua vida ao estudo do sistema político e do povo Felupe na Guiné-Bissau. Acima de tudo, a sua vida foi movida por um compromisso profundo para com o povo Felupe e para com a Guiné-Bissau.
 
Tentando encontrar um pouco de sentido neste momento de tamanha tristeza, reli alguns dos textos da Lúcia e encontrei esta entrevista em que ela diz:

"Eu gosto muito, sempre, de relembrar um provérbio que eu aprendi em criança, porque eu nasci e cresci em África, que diz que enquanto o leão não tiver voz só vamos ouvir a história do caçador. 

"E realmente ainda hoje só continuamos a ouvir a história do caçador. É mesmo o caçador que continua a dar os nomes às coisas e a decidir o que fazer. O caçador, hoje em dia, acaba por decidir o destino do mundo em peso. E pior do que tudo: o leão sente-se castigado sem ter nada feito."

A sua missão era mesmo essa, contar a história pela perspetiva do leão. E tenho a certeza que o seu trabalho vai continuar a inspirar muita gente, muitos investigadores, e que será semente de mudança. (...) (**)


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26200: In Memoriam (518): Lúcia Bayan († 26 de Novembro de 2024): Doutorada em Estudos Africanos e colaboradora do nosso Blogue em assuntos do Chão Felupe (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 26 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26198: Facebook...ando (67): Joaquim Gregório Rocha, da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72): participou na trágica Op Abencerragem Candente (25-26 de novembro de 1970), era do 4º pelotão (do fur mil Cunha, uma das vítimas mortais), vive em França e manifestou, há dois anos, interesse em integrar a Tabanca Grande

Guiné 61/74 - P26238: Os felupes que eu conheci (1): O valente soldado Dudu: Bolama, 1969 (Carlos Fortunato)

n


Guiné > Arquipélago Bolama - Bijagós > Bolama > Centro de Instrução Militar > 1969 > O Carlos Fortunato, fur mil, CCAÇ 2591 / CCAÇ 13, e o recruta felupe Duda.


Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Seria uma pena o fabuloso "baú" do Carlos Fortunato, com as coisas & loisas da Guiné, se perder... Referimo-nos nomeadamente à página na Net, Guiné - Os Leões Negros, que esteve alojada no Sapo, até há uma dúzia de anos. Foi depois descontinuada (o "Sapo" tirou o tapete a quem "viajava" de borla...), mas felizmente foi salva, sendo capturada pelo  Arquivo.pt. 

De vez em quando eu  gosto de a revisitar e vou lá repescar algumas das "pérolas literárias" do Carlos  (fizemos juntos a viagem para a Guiné no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969, ele foi para a futura CCAÇ 13, Bissorã, e eu para a CCAÇ 12, Bambadinca; regressámos, de novo, juntos, no T/T Uíge, em 17 de março de 1971; "sãos e salvos", e com o "bichinho" da Guiné; "Guiné - Os Leões Negros", uma página ou porta, que não é um blogue, criada em 2003, é, cronologicamente, mais antiga que o nosso blogue, de 2004).

Mas dos felupes eu não sei nada. Só conheci um, na 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga e Bambadinca, o João Uloma. Em boa verdade, era o felupe mais famoso do meu tempo. E poucos de nós andaram lá pelo seu chão, no noroeste da Guiné (São Domingos, Varela, Susana...). Está na altura de juntar alguns escritos sobre esta mítica etnia da Guiné, mal conhecida (e mal amada), que nos tempos que correm está seriamente ameaçada, pelas alterações climáticas e pela pressão demográfica, na sua identidade, modo de vida e território (*).

Há cerca de um centena de referências no nosso blogue aos Felupes.



Carlos Fortunato, em Bissau, 2006.   
Foto: Arquivo do Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné



Os felupes que eu conheci (1) > O recruta Dudu, em Bolama, 1969




O recruta africano que surge na foto é Dudu, 2º comandante de um pelotão de milícias felupes, o 1º comandante chamava-se Ampánoa. 

Foram enviados para Bolama, para serem treinados por nós e integrado nas forças regulares, mas não irão integrar a nossa companhia, a CCAÇ 13, pois regressarão à sua região em Varela (região de Cacheu).

Adversários temíveis os felupes, possuem elevada estatura e grande robustez física. São referidos como praticantes do canibalismo no passado, são coleccionadores de cabeças dos seus inimigos que guardam ou entregam ao feiticeiro, e usam com extraordinária perícia arcos com setas envenenadas.

 

Embora se assegure que o canibalismo pertence ao passado, não era essa a opinião das restantes etnias, as quais referem igualmente que estes fazem os seus funerais à meia noite, pendurando caveiras nas copas das árvores, e dançando debaixo delas.

O felupe é conhecido como pouco hospitaleiro para com as restantes etnias, pelo que existe da parte destas um misto de animosidade e desconhecimento.

Os felupes são igualmente grandes lutadores, fazendo da luta a sua paixão. Este desporto tão vulgarizado nesta etnia, prende-os, empolga-os, constituindo o mais desejado espectáculo.

Este grupo de felupes é famoso pela sua combatividade, a qual não conhece fronteiras, fazendo incursões frequentes no Senegal.

O felupe da foto, Duda, ficaria gravemente ferido após o seu regressos a Varela, segundo me contou num encontro que tive com ele em Bissau. Um estilhaço de roquete entrou-lhe na cabeça pela testa, num inesperado encontro frente a frente e a curta distância com uma patrulha do PAIGC, em que se atirou para o chão para evitar o disparo do guerrilheiro que lhe apareceu pela frente. Apesar de atingido pelo estilhaço, não falhou o tiro com a sua bazuca, acertando em cheio no guerrilheiro.

Disse-me que já sabia que lhe ia acontecer algo mau, pois dias antes alguém tinha colocado sal no chão à saída da sua porta, e ele tinha-o pisado quando saiu.

As notícias que chegaram depois da independência é que foram todos mortos pelo PAIGC.

[ página que foi descontinuada, por estar alojada no "Sapo", tendo sido "capturada" e "salva" pelo Arquivo.pt; era administrada pelo nosso camarada Carlos Fortunato, ex-fur mil, CCAÇ 2591 / CCAÇ 13 (Bissorã, 1969/71). 

Texto publicado originalmente
publicado em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2006 por Carlos Fortunato. ]


(Seleção, revisão/ fixação de texto, título: LG)


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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26211: S(C)em Comentários (53): O drama dos felupes, que estão a perder o seu chão e a sua identidade, afetados pelas alterações climáticas (Cherno Baldé)... E que agora perderam uma grande amiga, a antropólogia Lúcia Bayan , falecida no passado dia 26

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26237: Humor de caserna (84): Para mais sendo mulher, eu tive medo de ser capturada e pedi ao piloto que me desse... um tiro! (Maria Celeste Guerra, ex-alferes graduada enfermeira paraquedista, FAP, 1962/65)


Maria Celeste [Guerra, ex-alferes graduada enfermeira paraquedista]: é do 2º curso (1962), para o qual entrou aos 19 anos. É oriunda da Escola de Enfermagem Franciscanas Missionárias de Maria. Esteve na FAP de 1963 a 1965. Cumpriu uma missão de serviço em Moçambique e duas na Guiné.

Foto:  "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (2014), pág. 389 (com  devida vénia).




Humor de caserna >  Para mais sendo mulher,  eu tive medo de ser capturada e pedi ao piloto que me desse... um tiro!

por Maria Celeste


A Maria Celeste devia ser  uma jovem encantadora e com grande sentido de humor...Já aqui foi publicado um pequeno excerto de uma das cenas "divertidas" que ela guardou da sua experiência como enfermeira paraquedista (*). 

Gosto da pessoa que, tendo passado por situações dramáticas ou até de risco de vida, sabe depois "dar a volta", e contá-las, aos outros, com graça, com leveza, com descontração, até como forma de catarse. E sem complexos, nomeadamente sem receio de ser julgada mal pelos outros ou de cair no ridículo. 

A verdade é que todos nós, antigos combatentes, e sobretudo no início da guerra, quando ainda éramos "periquitos", devemos ter passado, em "noites palúdicas", pelo pesadelo de podermos ser "apanhados à unha" no mato...Infelizmente, esses casos não foram assim tão raros, na Guiné... Mas ao fim de seis meses, já éramos "imortais"...

 Talvez até com mais razões, as enfermeiras paraquedistas também ponderavam esse risco , mesmo subliminarmente: por avaria ou fogo inimigo, o helicóptero ou a avioneta que usavam quase  todos os dias, em evacuações no mato, podiam correr  o risco de  ser capturadas pelos "turras"... E, sendo mulheres, estavam, mais do que nós, sujeitas  a ser violadas ou sexualmente molestadas... Era o que se passava na cabeça da Maria Celeste nesta situação em que ela partilha,com ingenuidade e sinceridade, mas com muita piada, os medos que a afligiram... Ainda devia a estar a aprender a lidar com o(s) medo(s)... (LG).


(...) Em outra ocasião fui fazer uma evacuação de feridos, num dia com muito nevoeiro.O piloto ainda não conhecia bem o terreno e, às tantas, tivemos de aterrar num local desconhecido!

Sabíamos que era perigoso, mas não havia alternativa...

Como mulher, eu tinha medo de cair em mãos erradas, por isso pedi ao piloto que se, ao aterrar, visse que haveria problemas, me desse um tiro...

Aterrámos... O motor do helicóptero foi parado... Só se ouvia 'silêncio' em nosso redor!. Nós nem falávamos, apenas sussurrávamos, de um para o outro! Havia um silêncio total...

Daí a alguns minutos, ouvimos vozes a dar ordens, que não eram percetíveis para nós e que pareciam ser de indígenas. Senti medo de ser capturada!

— Afonso, por favor, faça o que lhe pedi mal eles apareçam! — disse-lhe eu.
~
Olhei para ele e vi-o de pistola na mão, muito pálido, a dizer que tinha pena... mas não seria capaz!

— Deus do céu, dê cá isso que eu trato do assunto !

Fiquei com a arma na mão à espera, fria que nem gelo... Nisto começámos a ouvir o barulho de gente a aproximar-se, gente apressada a pisar as folhas e ainda tenho nos ouvidos aquele restolhar!

— São nossos! — grita o Afonso, hilariante.


— Ai são ?! — respondo eu... e caio "redondinha" no chão!

A valentia tinha-me fugido a sete pés!... E, durante muito tempo, fui amigavelmente "gozada"... (**)


Fonte: Excertos de Maria Celeste - "Cenas do quotidiano, na guerra". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 342/343 (com a devida vénia)
(Imagem à esquerda: Capa do livro) 

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, introdução: LG)



Coautoras: Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto  | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.
 
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Guiné 61/74 - P26236: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte II: O BCP 12, o "112" do Com-Chefe


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque >  Dezembro de 1972 > CCAV 8352 >  Álbum do cap mil Rui Pedro Silva > Gen Spínola no perímetro defensivo, nos primeiros dias da Op Grande Empresa (*).


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque >  Dezembro de 1972 > CCAV 8352 >  Álbum do cap mil Rui Pedro Silva > A “messe” de oficiais  e também a minha primeira “secretária” . Da esquerda para a direita alf  Pratas e Sousa, furriel Urbano,  alf Nobre Almeida e alf Santos. Ao fundo as tendas  que nos “abrigaram” durante os primeiros meses.


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque >  Dezembro de 1972 > CCAV 8352 >  Álbum do cap mil Rui Pedro Silva > Distribuição da refeição pelos grupos de combate, secção por secção. O primeiro da fila a organizar a distribuição é o Alf Duarte.


Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva  (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Foi uma aposta tardia, a de Spínola, a de transferir para a região de Tombali, e em especial a pensínsula do Cubucaré (Cantanhez), o jogo de xadrez contra o Amílcar Cabral ( mas também contra os "ultras" do regime). 

 A reconquista do Cantanhez iria fazer do rio Cacine a principal linha de defesa contra o PAIGC, reforçando Cacine, Guileje e Gadamael. Era o que se esperava. E, de facto, na sequência da Op Grande Empresa, novos quartéis vão ser instalados no coração do Cantanhez, a "joia da coroa" do PAIGC: Cadique, Cafine, Caboxanque e ainda Jemberém. Uma estrada asfaltada vai ser construída, ligando Cadique a Jemberém...

Mas nos livros da CECA a visão que o leitor tem é a de uma sequência de informação,  telegráfica e fragmentada, sobre operações, em que o principal ator é o BCP 12, e cujos resultados parecem apenas a resumir-se a uns tantos mortos, prisioneiros e armas capturadas...  Poucos meses depois, o BCP 12 está a apagar outros fogos, Guidaje, no Norte, e Gadamael, no  Sul. 

De qualquer modo, temos de reconhecer que só uma tropa especial, com elevado espírito de corpo, disciplina, "endurance" e bravura, podia ser empenhada nesta última grande contra-ofensiva do Spínola. Infelizmente, não havia mais nenhum BCP 12, de reserva, e nem esta missão era aconselhada a ser entregue ao Batalhão de Comandos, pelo melindre do choque interétnico (Fulas contra balantas e nalus)... 

De certo modo, foi a "última missão" (militar mas também política) de Spínola. Ele precisava de tempo, meios e... "manga de patacão" para ganhar aquela guerra, e sobretudo de outra liderança política em Lisboa. Mas já era tarde demais.  Não tinha comandantes operacionais nem combatentes, de reserva. Não tinha meios para subir a parada, em termos tecnológico.  Já não terá força aérea á altura (depois do "Strela"). Ele teve, em todo caso, o mérito de ver isso, mesmo na 23ª hora... (É pena que o seu biógrafo, Luís Nuno Rodrigues,   tenha falhado a parte empolgante da vida de Spínola na Guiné, resumida a um capítulo, ou a pouco mais de 100 páginas, num livro de 9 capítulos e de cerca de 750 páginas.)
 

2. Em 12 de dezembro de 1972 foi criado o Comando Operacional nº 4 (COP 4), com sede em Cufar, e com a finalidade de:

  •  proporcionar as condições para execução dos trabalhos dos reordenamentos a estabelecer nas áreas de Caboxanque, Cadique e Cafine;
  • desenvolver a adequada atividade operacional na região do Cantanhez, em área do BCaç 4510/72 e da zona de intervenção do Comando-Chefe. (*) (CECA, 2015, pág. 133).
A Diretiva nº 19/72 de 28Nov, determinava a criação do COP 4, sob o comando do ten cor pqdt  Sílvio Araújo e Sá, apoiado pelo Cmd / BCP 12. (pág. 136).


3. Atividade operacional do COP 4 (1972/73)

3.1. Operação "Grande Empresa" - 12 e 13dez72

Na região do Cantanhez, Sector S3, uma força constituída pelas CCP 121 e 122,
CCaç 5, CCaç 4540, CCaç 4541 e 2 Pel/CCaç 2792 (Cabedú), levou a efeito
um heliassalto e desembarque da CCP 121 e 122 sobre objectivos na região, na qual foram estabelecidos sete contactos pelo fogo com o inimigo.

Do resultado geral da operação destaca-se a captura ao inimigo do
seguinte material:

  • 1 LGFog "RPG-2",
  • 1 Espingara semiautomática  "Simonov",
  • 33 granadas de diversas armas de grande calibre (morteiro 60 mm, de 2 LGFog e canhão s/r )
  • e ainda material e munições diversas.

As forças inimigas sofreram 5 mortos, 2 feridos e a captura de 12 elementos.

As nossas forças sofreram 4 feridos.

3.2. Op "Cavalo Alado" - 17 e 18dez72

Na região de Cachamba Balanta-Cachamba Nalu-Uangane, COP 4, uma força constituída por 2 GComb/CCP 122 e 1 Grupo de Assalto do DFE 1, levaram a efeito um heliassalto, tendo estabelecido contacto pelo fogo com o inimigo nos dias 17 e 18 por 4 vezes.

Foi capturado ao lN:

  • 1 LGFog "RPG-2";
  • 1 metralhadora ligeira "Degtyarev";
  • 1 espingarda semiautomática  "Simonov";
  • 7 granadas de LGFog "RPG-2" e 3 de canhão s/r 75 mm, 2 granadas de mão ofensivas, 
  • carregadores e outro material, munições e equipamento diverso.
O inimigo sofreu 2 mortos. (pág. 172).

3.3. Op "Dragão Bravo" - 28 a 30dez72

Na região do Cantanhez (Santa Clara-Iem-Cachamba Balanta-Nhai), COP 4, uma força constituída pelas CCP 123, CCP 122 (2 GComb), CCP 121 (2 GComb), 1 Grupo de Assalto do DFE e 2 GComb/CCaç 6, levaram a efeito um heliassalto e patrulhamento, no decurso do qual foram estabelecidos 6 contactos pelo fogo com o inimigo.

Foram capturadas:
  • 3 espingardas automáticas "Kalashnikov";
  • 3 espingardas semiautomáticas "Simonov",
  • carregadores, granadas e cargas de LGFOg  "RPG-2", 15 espoletas de LGFog "RPG--2";
  • munições diversos.
Destruido 1 acampamento e capturados 3 homens. O inimigo sofreu 4 mortos. Um deles era o comissário político. Em 29 de Dezembro foi cercado e morreu no combate que se seguiu. (Fonte: Relatório da operação nº 47/72, Operação "Dragão Bravo", do BCP 12.) (pág. 173)

3.4.  Op "Tamarú" - ljan73

Num heliassalto, na região de Timbó, 2 GComb/CCP 122 tiveram um contacto com o lN em Bedanda 3H4.25, COP 4.

Foi apreendida uma rampa completa para lançamento de foguetões 122 mm e documentação diversa. Nossas forças tiveram 5 feridos ligeiros e o lN sofreu 4 mortos.

3.5. Operação "Falcão Dourado" - 15 a 18jan73


Na região de Cacine, COP 5, uma força constituída pelas 2ª e 3ª C/BCmds, o DFE 22 e 2 GComb/CCP 122, efectuou emboscadas nocturnas na zona.

Em 16 e 17 a referida força estabeleceu vários contactos com o inimigo, de
que resultaram 11 mortos para o inimigo e 1 ferido grave e 5 ligeiros para as NT.

Ao inimigo foram capturados:
  • 5 espingardas automáticas "Kalashnikov";
  • 1 espingarda "Mauser";
  • 10 granadas de lança-granadas foguete "RPG-2" e 6 de "RPG-7".

3.6. Op o "Gato Espantado" - 30 e 31jan

Nas regiões do Cantanhez e Cubucaré, COP 4, forças das CCP 121, 122 e 123, CCaç 6 e DFE 1, executaram patrulhamentos conjugados com montagem de emboscadas nocturnas, estabeleceram contacto com o inimigo, tendo destruído dois acampamentos.

O lN sofreu 2 feridos e as NT 4, dos quais 1 em estado grave.

Foi apreendido ao inimigo o seguinte material: 

  • 8 granadas de canhão sem recuo;
  • 1 granada de LGFog  "RPG-7";
  • 1 espingarda semiautomática"Simonov";
  •  7 granadas de canhão s/r. (pág. 303)

4. A partir de 5abr73 passaram a atribuir-se ao COP 4 os seguintes meios e ZA, além do que na altura dispunha:

  • CArt 3493
  • CCaç 4143/72
  • DFE
  • Pel Canh s/r 3079
  • 1 Sec Mort/Pel Mort 4277/72
  • 2 mort 10,7 cm a ceder pela CCaç 3566, pela CCav 8350/72;
  • e CCP 123 (a título temporário).(pág. 
- Acção - 12jun

Pelas 14h45, uma força constituída por 3 GComb/CCaç 4942/72, 2
 GComb 1ª C/BArt 6521/72, 2 GComb/CCaç 4540/72 e 1 GComb / DFE 22, em
patrulhamento com emboscada, foi alvejada duas vezes na região de Cacine, COP 4, por um grupo inimigo. 

Este sofreu 1 morto e foram-lhe capturadas 2 granadas de LGFog "RPG-2". As NT sofreram 3 feridos e 1 viatura "Berliet" ficou muito danificada (pág, 305).


5. Construção de Estradas

"No quadro da manobra de contra-subversão a conduzir de acordo com a Directiva n° 4/73, a construção da estrada Cadique-Jemberém é uma das concretizações do esforço da manobra sócio-económica quese está a desenvolver na região do Cantanhez para a recuperação das populações. "

Este é o início da Directiva n.o 5/73 de 30jan, em que é determinado:

"Que na missão atribuída ao COP 4 seja dada alta prioridade à segurança dos trabalhos de construção da estrada Cadique-Jemberém em ordem a que estes trabalhos não sofram qualquer quebra de rendimento. "


6. Em 2 de julho de 1973 foi extinto o COP 4, assumindo o BCaç 4514/72 (vd. aqui a ficha de unidade) a responsabilidade da zona de acção...

.... E o BCP 12, a 3 Companhias (um autêntico "112", às ordens do Com-Chefe) lá seguiu para Gadamael Porto,  COP 5, para "apagar outros fogos" (Op Dinossauro Preto, 2jun -17jul73) (pp. 334 e ss.)


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp.. 113, 172/173, 257, 263, 285, 303, 305, 334 e 395.  (Com a devida vénia...).


(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

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