domingo, 22 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26300: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Os capitães de março de 1961 que eu conheci em Angola...


Angola > Luanda > 1961 > Desfile de tropas > O António Rosinha, beirão,  vivia já em Angola há uns anos (foi para lá adolescente e fez lá a tropa; amava Angola, pensava lá vibver poara sempre e lá morrer, quando chegasse a sua vez)...

Vemo-lo aqui a desfilar com o seu pelotão, que parece ser composto apenas por militares do recrutamento local (ele nunca nos disse a que unidade ou subunidade pertenceu, e por onde andou, em concreto; sabemos que teve uma "guerra" relativamente tranquila, apesar dos acontecimentos de 1961...). 

Foto: © António Rosinha (2006). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Era furriel miliciano aparece na foto acima: depois do alferes ( cmdt do pelotão em primeiro plano), o Rosinha,  todo garboso, na segunda fila, a dos comandantes de secção: é o primeiro a contar da direita para a esquerda, está de óculos escuros e empunha, durante o desfile, a pistola-metralhadora FBP, tal como os restantes graduados... As praças usavam, evidentemente, a velha espingarda Mauser 7,9 mm m/937 ... A farda, em 1961, era a do "caqui amarelo"... E, em plenos trópicos, os combatentes da época usavam capacete de aço. Uma foto icónica, histórica...

Topógrafo em Angola, africanista de alma e coração, regressou a Portugal em novembrto de 1974, emigrou para o Brasil da ditadeura militar (que vigortou de 1964 a 1985), e mais tarde para a Guiné-Bissau do partido único, onde trabalhou, de 1878 a 1993,  na empresa TECNIL, ao tempo do Luís Cabral e do 'Nino' Vieira, "camaradas", "heróis da liberdade da pátria",  que ele conheceu bem no poder. 

Entrou para o nosso blogue, em 2006, é um histórico da Tabanca Grande (desde 29/11/2006).  E aqui sempre foi tratada, estimado e acarinhado. Que Deus, Alá e os bons irã lhe continuem a dar saúde e ganas de viver (e de partilhar as suas memórias e opinióes sobre as nossas "blogarias").

É autor da série "Caderno de Notas de Um Mais Velho". Tem cerca de 150 referências no blogue (o que é uma marca notável para quem estava com "acanhamento" de entrar)... 

Deixem-me,  em plena época natalícia, partilhar aqui um pequeno segredo: a entrada do Rosinha foi incentivada e apadrinhado por mim, pelo Vitor Junqueira e pelo Amílcar Mendes. Se a Tabanca Grande fosse uma equipa de futebol, eu diria que foi uma grande aquisição, "a custo zero"... E a prova é que, dezoito anos depois (!), ele ainda "toca na chica" como poucos dos mais novos... Seja como autor seja como comentador... É uma alegria vê-lo nestas "peladinhas"... bloguísticas.  

Sem nunca ser chato, inconveniente, demagógico, intolerante, grosseiro... Pelo contrário: nunca os editores tiveram que o censurar ou pòr os pontos nos ii. Saber estar e saber ser,  por inteiro, neste blogue plural,  como homem, cidadão, português, "angolano" e "guineense", é uma das suas virtudes, e seguramente não a menor. 

Boas Festas, Rosinha. Está feita a tua prova de vida!.


1. Mensagem do nosso veteraníssimo António Rosinha, que ainda é do 
tempo da farda de caqui amarelo, do capacete metálico, da espingarda Mauser, da pistola metralhadora FBP e do "Angola É Nossa" (aqui à esquerda, fot0 de 2007, II Encontro Nacional da Tabanca Grande, Pombal):

 Data - terça, 17/12, 23:14 (há 4 dias)

Assunto - Os capitães de março de 1961

Agora, hoje, 50 anos que os capitães de Abril de 1974 acabaram com a Guerra do Ultramar, e sabemos em geral o que uns pensavam sobre essa guerra e outros que misturavam no mesmo saco Salazar e essa Guerra... Será que em 15 de Março de 1961, os capitães daquele tempo tinham ideias aproximadas aos dos capitães de 1974?

Não, pelo menos alguns que eu conheci.

Lembrar que os capitães de 1974, eram o máximo alferes em 1961, não vou mencionar nomes, mas podem consultar as biografias de alguns, na internet.

Estes alferes, da minha geração (eu, furriel), com 22/23 anos, a politização seria semelhante à minha, pouco mais ou menos nicles..

Pelo que vi em Angola, onde a Guerra começou em força, no norte de Angola, na zona do Café,  principalmente, pelo movimento UPA, absolutamente tribalista, racista e jamais com sentido nacionalista angolano, notava-se que os capitães estavam em geral, de acordo com Salazar, "para Angola e em força".

E provavelmente, embora alguns pouco conhecedores da vida angolana (lembrar que a Guiné era muito desigual de Angola), esses capitães traziam algumas ideias preconcebidas sobre aquela guerra.

E, aqui, vou mencionar uma ideia bem real que traziam quando desembarcaram em Luanda, logo no início, em maio/junho de 1961.

Evidentemente que não se deve generalizar, quando se fala de uma classe.

Eis a ideia:

(i) nós, militares, temos que "educar" ("obrigar") os brancos a tratar bem os pretos.

(ii) os pretos revoltaram-se porque os brancos os tratam mal..


E muitos alferes milicianos aceitavam que seria plenamente essa uma das intenções independentistas.

E surgiu, passados poucos meses, a política da psicossocial,  creio que exclusiva ideia dos militares, e creio que inicialmente seria para compensar "os maus tratos", na cabeça dos primeiros militares chegados a Angola.

Não mencionando nomes, mas dizia-se em Luanda que um capitão que teria feito o primeiro ensaio da Psico, no Norte de Angola, teria ficado alcunhado de capitão-rebuçado.

Em 1962, eu furriel, distribui muitas pomadas, muitos antipalúdicos, muito tabaco, muitas aspirinas, dentro dessa política

Como a guerra era no Norte de Angola, de onde as populações fugiram, constou que passados uns tempos algumas populações regressaram.

Seria efeito da Psicossocial?

Mas que os capitães em 1961 ainda tinham ideias de poder salvar o império, isso não se pode duvidar.

Todos os esforços eram bons, inclusive tornar os brancos mais bem comportados.-

Cumprimentos, Antº Rosinha

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24297: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): aqueles 13 anos de guerra do Ultramar deram-nos tanta ou mais divulgação de Portugal e da língua do que os 500 anos anteriores