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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P25156: Capas da Ilustração Portugueza - Parte XI: as "campanhas de pacificação e ocupação" do sul de Angola; o desastre do Vau do Pembe (em 25 de setembro de 1904)

 


Tropas portuguesas da guarnição de Angola, a caminho do interior,  preparando um bivaque (segundo um croquis)


Capa da Illustracão Portuguesa, I Ano, nº 49, 10 de outubro de 1904 (Edição semanal, Empresa do Jornal O Século, Lisboa; editor, José Jourbert Chaves) (Cortesia de CM Lisboa / Hemeroteca Digital) (*)


1. O semanário dedica a capa e as duas páginas centrais às "Guerras de África: alguns oficiais portugueses na guerra dos cuanhamas" (pp. 0776/0777), que se traduziu por um "terrível desastre":


"A notícia deste terrível desastre impressionou vivamente o país e veio lançar o luto sobre as armas portuguesas. Habituados a constantes vitórias em África, vitórias que têm colocado os nossos soldados entre os melhores do mundo, a derrota agora sofrida cai sobre nós como uma calamidade e vem demonstrar a razão que tinha a imprensa, quando, com o Século à frente, achava insuficiente o número de expedicionãrios. Para demais s já desde 1896 se sabia as forças de que dispunham esses inimigos, pois tendo ido em comissão o capitão Luna de Carvalho teve ocasião de dizer algumas coisas sobre




a situação dos cuanhamas. O régulo Jula vivia em Oujiva e em sua residência havia mobiliário europeu, e ele vestia à europeia, como os seus grandes, Os cuanhamas tinham cerca de 10.000 guerreiros, armados à moderna, dispunham entre eles de bons cavaleiros e esse número deve ter aumentado consideravelmente até agora, calculando-se em 50.000 homens as forças atuais.

Foi por isso uma temeridade atacar esses vizinhos dos herreros, famosos guerreiros que nouttros encontros tèm batido as tropas alemães; porém decerto os nossos teriam vencido se fosse



mobilizado maior número, como tantas vezes se aconselhou. O destacamento que ia ao encontro dos cuanhamas, era composto de dois pelotões de infantaria europeia, quatro pelotóes de infantaria indígena, duas bocas de fogo e uma secção de artilharia, na totalidade de 409 homens, dos quais foram mortos 254, contando entre eles 16 oficiais e 13 sargentos.

O corpo principal da coluna não entrara em fogo e concentrou-se no dia seguinte no Humbe, tendo-se dado a chacina pela noite na margem do Cuneme, sendo os atacantes os cuamatas, povo aliado


dos cuanhamas e como eles dispondo de forças importantes. O comandante das tropas era o capitão de engenharia João Maria d' Aguiar, governador da Huila, que se encontrava com a coluna, pois do contrário teria sido vítima com os seus camaradas.

Oficial valente e distinto, sem dúvida tirará uma brilhante desforra deste desastre que tanto vem enlutar a pátria portuguesa.

Fonte: Excertos de Illustracão Portuguesa, I Ano, nº 49, 10 de outubro de 1904, pp. 0776/0777)

(Revisão / fixação de texto: LG)


1. Uma efeméride trágica: foi em 25 de setembro de 1904, vai fazer agora 121 anos, que o exército português sofreu uma sério revés nas campanhas de pacificação e ocupação do sul de Angola.


A cerca de 500 quilómetros da costa, uma coluna comandada pelo governador da Huíla, o capitão de engenharia João Maria de Aguiar (de que fazia parte Gomes da Costa, mais tarde líder do golpe de estado militar do 28 de maio de 1926), internou-se para lá do rio Cunene, através do vau do Pembe.  Portugal estava decidido a bater o pé aos alemães que que estavam a expandir, para norte, a sua colónia do Sudoeste Africano Alemão (1884-1915) (hoje Namíbia, indepoendente da África do Sul, desde 1990). (**)

(..) "Só em 1904 é que os portugueses lançaram a primeira grande campanha além-Cunene, para ocupar o Reino do Cuamato Pequeno, do Cuamato Grande e o Reino Cuanhama mas esta redundou numa derrota na Batalha do Vau do Pembe

"O 'Desastre do Pembe' galvanizou os ovambos, em particular os cuamatos, que começaram a atacar tribos sob a protecção de Portugal e até a ameaçar fazendas na margem norte do Cunene mas galvanizou também a opinião pública portuguesa, que forçou o governo português a intervir na região." (...) (Vd. Wikipedia > Campanhas de Pacifiocação e Ocupação).


Os Portugueses, apanhados numa emboscada, caíram às mãos de outra tribo do grupo dos Ambós, os Cuamatos, e deixaram no local duas centenas e meia de mortos (mais de cem,. de origem metropolitana), o que representou, à escala africana, uma trágica surpresa para a Europa colonizadora (Portugal, Alemanha, Grã-Bretanha).

A ermboscada do Vau do Pembe (um ponto de travessia do rio Cunene) foi descrito pela "Ilustraçáo Portuguesa",  duas semanas depois (na edição de 10 de outubro de 1904) como um desastre  para as tropas portuguesas lideradas pelo capitão Luís Pinto de Almeida, que trouxe imensa dor e luto para a pátria portuguesa.

 João Roby (1875-1904), oficial da armada, é uma das figuras centrais da memória da Batalha do Vau do Pembe (também conhecida como Combate de Umpungo).
 
(Imagem à esquerda:  foto de João Roby,  "IIustração Portuguesa",I Ano, nº 49, 10 de outubro de 1904, pág. 0776).
 
_______________

Notas do editor LG:


(**) Com a ajuda do ChatGPT, apurei o seguinte sobre este "protetorado alemão" (1884-1915):

(i) em 1884, a  Alemanha (com o chanceler Otto von Bismarck, o pai-fundador Alemanha Moderna),no contexto da “Partilha de África” (Conferência de Berlim, 1884-1885), declarou protetorado sobre a região costeira do atual Namibe/Namíbia, a pedido de comerciantes e colonos alemães, nomeadamente Adolf Lüderitz (1834-1886), que já tinha adquirido, de maneira fraudulenta,  terras aos chefes locais;

(ii) a colónia foi chamada Deutsch-Südwestafrika (Sudoeste Africano Alemão) e foi a primeira e a mais importante colónia de povoamento alemã em África.

(iii) tinha, desde 1891, a capital em  Windhoek;  o número de colonos alemães andava à volta dos  15 a 20 mil (antes da Primeira Guerra Mundial);

(iv) a economia colonail assentava sobretudo na criação de gado, na agricultura e, a partir de 1908, importantes minas de diamantes descobertas em Lüderitz;

(v) o "protetorado" encontrou forte resistência por parte das populações locais:  Herero, Nama (também chamados Hotentotes, povo nómada), Damara e San;

(vi) 1904-1908: genocído dos Herero e Nama: rebeliões contra a ocupação alemã, foram reprimidas de forma extremamente violenta; o general Lothar von Trotha aplicou  uma política de extermínio; como resultado: dezenas de milhares de pessoas (entre 65% e 80% dos Herero e cerca de 50% dos Nama) morreram em massacres, perseguições no deserto, inanição, envenenamento de poços  e campos de concentração (no que foi considerado mais tarde, pela ONU,  o primeiro ou um dos primeiros genocídios do séc. XX).

(vii) extinção do protetorado: em 1915, no decurso  da Primeira Guerra Mundial, forças da União da África do Sul (do Império Britânico) invadiram e ocuparam o território;

(viii) em 1919, pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha perdeu todas as suas colónias; o Sudoeste Africano passou a estar sob  mandato da Sociedade das Nações (antecessora da ONU), administrado pela África do Sul, situação que se prolongaria até à independência da Namíbia em 1990. 

(Condensação, revisão/fixação de texto: LG)

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26880: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte VII: Os "turras" têm agora um míssil que abate aviões e helicópteros




"Diário Notícias  de 31/3/1973  


A notícia da queda do Fiat G-91, nº 5419, pilotado pelo ten cor pilav Almeida Brito, comandante do Grupo Operacional 1201, da BA 12, em Bissalanca, abatido por um míssil Strela, foi dada, surpreendentemente, pelo "Diário de Notícias", em caixa alta. (Não consta, por exemplo, do "Diário de Lisboa".)

Imagem: Cortesia do blogue do Victor Barata > Especialistas da BA12, Guiné 65/74 > Terça-feira, 31 de Julho de 2007 > Ten Cor Pilav Almeida Brito: Única vitíma mortal do Strela, por Arnaldo Sousa

O Comandante Almeida Brito tinha nascido em 1933 e concluído em 1953 o curso de aeronáutica militar na Escola do Exército (antecessora da Academia Militar). O seu desaparecimento (o corpo nunca chegriara a ser encontrado) causou profunda consternação na BA12 e em Bissau, onde era um militar muito conceituado e muito querido entre os seus subordinadas e amigos.


Guiné Bissau > c. 1973 > Cortejo fúnebre para embarque de urnas


Guiné > Bissau > c. 1973 > instalações da UDIB onde havia um cinema cujo salão era utilizado para o Congresso do Povo. (O início da construção da nova sede da UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau data de fevereiro de 1969; a primeira pedra foi lançada pelo então brigadeiro António Spínola.)



1. Continuação da publicação da série do nosso camarada Carlos Filipe Gonçalves (*)

Recordações da Guiné de um Furriel Miliciano. 

No extracto de hoje, o primeiro de grandes acontecimentos que a partir de agora iriam marcar o fim da guerra na Guiné… Hoje, sabemos, que foi assim… mas, no final de março de 1973, vivíamos normalmente o dia a dia no QG em Santa Luzia, eu, completava o meu primeiro mês de Comissão, ainda era um «periquito», ou seja, na gíria militar eu era um «novato» que ainda estava a adaptar-se ao ambiente de guerra e ao clima, como descrevi no post anterior. 

Passados 51 anos, para além da descrição «naïf» de como um jovem de 23 anos viveu os acontecimentos, descrevo o ambiente de guerra que se vivia. Apresento também uma visão do outro lado (afinal sou jornalista), procuro, pois, dar aos nossos filhos e netos uma visão clara dos acontecimentos. 






Carlos Filipe Gonçalves (Kalu Nhô Roque, como consta na sua página no facebook):

 (i) nasceu em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde; 

(ii) foi fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74; 

(iii) ficou em Bissau até 1975; 

(iv) radialista, jornalista, historiógrafo da música da sua terra, escritor, vive na Praia; 

(v) membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, nº 790;

 (vi) tem 25 referências no nosso blogue.(*)



Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) 

 Parte VII: Os "turras" têm agora um míssil que abate aviões e helicópteros



Pouco depois da minha chegada a Bissau, a grande notícia foi o derrube de aviões Fiat ! A notícia não foi dada na rádio, mas circulava entre os militares. Dizia-se que um avião não voltou de uma missão, foi outro à procura para ver o que aconteceu, também foi abatido. 

Os "turras", diziam os meu camaradas militares, têm agora um míssil que abate aviões e helicópteros. Na conversa sobre este este assunto na repartição o alferes explicou: o novo míssil procura uma fonte de calor e corre atrás! 

Foi assim que fiquei a saber que os helicópteros tinham uma turbina, para os impelir para a frente e que a grande hélice horizontal apenas servia para os manter no ar. 

Os helicópteros voam agora baixinho a rasar a copa das árvores e não podem deslocar-se a todos sítios! Anos mais tarde depois da guerra, vim a saber que se tratava de mísseis antiaéreos Strela, de fabrico soviético. 

Manuel Amante explicou que, depois da entrada desta nova arma do PAIGC, “passou-se a utilizar muito mais o transporte terrestre e marítimo, eu sei disso, porque o meu pai tinha barcos nessa altura, que faziam o transporte de coisas… principalmente para Xime e Bambadinca. (…) A navegação no rio fazia-se, com alguma precaução principalmente de noite porque havia sempre ataques em Mato Cão. Aliás um dos navios de transporte do meu pai, foi atacado nessa altura a uns 20 minutos antes de chegar a Xime.” 

Manecas Santos, comandante do PAIGC, em entrevista à rádio DW,  comentou anos mais tarde esta situação: 

“Em 1973, eu era o chefe de um grupo que foi treinado na União Soviética para manusear armas antiaéreas eficientes: foguetes. (…) A partir do momento que nós começámos a usar estas armas antiaéreas, o exército colonial português ficou completamente na defensiva.(…).”  (##)

Depois da minha chegada a Bissau, aprendi com os veteranos a distinguir o som dos bombardeamentos/flagelações lá longe e se ouvia perfeitamente em Bissau. Aconteceu numa noite, estava eu no Café Império ao lado da Praça de mesmo nome (atualmente Praça dos Heróis Nacionais); depois de se ouvir bombardeamentos ao longe, disse-me um amigo, militar mais experiente: 

“Quando se ouve «Buuum" depois de uma breve pausa, «Buuum» um pouco mais longe, são obuses da tropa, ou canhão dos «turras». Quando se ouve simplesmente «Buuum» e não há retorno, são mísseis dos «turras».” 

Os veteranos colocavam a palma da mão no ouvido para orientar e diziam: 

“Daquele lado é Bula… ou, Binar? Deste lado, é muito perto só pode ser Tite… Cumeré?”

Quando os helicópteros passavam insistentemente, já se sabia, houve feridos em combate, estão a decorrer evacuações. 


Guiné > Bissau > 1974 > Café Império, já na antiga Praça do Império, ao cimo da Av da República, do lado direito de quem subia...


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Sentado no Café Império em dias de folga, fui algumas vezes surpreendido pela passagem de cortejos militares fúnebres, a caminho do cais para o embarque de restos mortais para a metrópole. À frente, ia um jipe com soldados de luvas brancas, todos perfilados, atrás os camiões com as urnas, tudo em silêncio, devagar…. Então, levantávamos e ficávamos em sentido, aqueles que estavam fardados faziam continência.

Um dia, a propósito do ataque a uma localidade qualquer, o Demba contou a sua história. Antes, de vir para a ChefInt trabalhava numa enfermaria algures mato, num quartel como ajudante de enfermeiro. Teve azar, quando uma granada atingiu a enfermaria, explodiu um garrafão de álcool, o líquido incandescente atingiu-o! Com queimaduras graves, foi evacuado para Bissau, depois evacuado para o Hospital Militar em Lisboa. Esteve meses em coma! Felizmente – dizia – muitas pessoas lhe deram pedaços de pele que lhe foram sendo enxertados. E apontava para a cara: 

“Estão a ver! Tenho pele de muitos brancos… e também de pretos! Deram pele e me ajudaram! Passei mais de dois anos no hospital em Lisboa. Graças a Alá, sobrevivi!” 

Arregaçou as mangas para vermos os braços todos queimados, abriu a camisa e mostrou o peito, onde se viam manchas brancas entre a pele preta e múltiplas cicatrizes.

Fiquei impressionado, mas não comentei. Percebi, agora,  porque tinha a cara desfeita! Começava a ter contacto com os horrores da guerra.

Naquele mês de Abril de 1973, houve uma reunião da Assembleia Legislativa , foi acontecimento badalado na rádio. Aqui, chama-se Congresso do Povo, reúne deputados locais, chefes tribais e régulos de diferentes etnias.

 As sessões decorriam no salão do cinema da UDIB , um clube desportivo com belíssimas instalações sociais na avenida principal da cidade. Claudino tinha um radiozinho que ele colocava sobre a mesa, ouvíamos baixinho a ERG que fazia as reportagens em direto, ou transmitia discursos, uns em crioulo, outros em línguas das etnias, mas para mim, era tudo igual ao litro… não entendia nada.

Pouco depois, foi a morte de um líder muçulmano em Nova Lamego, Gabú para os locais. Spínola ordenou um funeral com pompa e circunstância. Demba andava entusiasmado e quando os discursos eram em «fula»,  ele comentava nessa língua com o Issa e com o Claudino. No dia do funeral do tal imã, o Demba não compareceu no serviço. Dias depois, quando regressou, contou o que se tinha passado nas exéquias, falou do discurso de Spínola etc. etc. 

________________

Notas do autor:


(#) Um primeiro avião Fiat foi abatido em 25 de Março de 1973 por um míssil. O segundo avião do mesmo tipo foi abatido em 28 de Março de 1973 também por um míssil. Foram abatidos mais aviões deste tipo em 1 de Setembro de 1973, 4 de Outubro de 1973 e 31 de Janeiro de 1974.

Fonte: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné > 21 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

(##) Manuel Santos, "Manecas", nascido em S. Vicente, Cabo Verde, 1943. Estudante de Engenharia em Lisboa, aderiu ao PAIGC em 1964. Foi ministro em vários Governos na Guiné-Bissau.

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26856: S(C)em Comentários (69): A maldição de...Bissássema, no setor de Tite, região de Quínara (Cherno Baldé, Bissau)




Guiné-Bissau > Regiãods e Quínara > Tite > 2019 > Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) 

Foto de Assana Sambú.  Jornal Odemocrata 04/08/2019. (com a devida vénia...)



1. Comentário de Cherno Baldé, ao poste P26839 (*):

Bissássema é um paradoxo, tão perto de Bissau, a capital, e tão longe da civilização.

 Desde a independência do território que nesta localidade,  situada no Sector de Tite,   acontecem, quase todos os anos, crimes e ajustes de contas com acusações de feitiçaria e outras barbaridades típicos de sociedades dominadas pelo obscurantismo.

Não conheço, nunca lá estive e é das zonas mais abandonadas do país, pois nunca se houve falar  dela a não ser pelos piores motivos.

Cdte, Cherno AB


2. Não é fácil encontrar notícias sobre Bissássema, setor de Tite, região de Quínara, Guiné-Bissau, por bons ou mais motivos... Nem com a ajuda de um assistente de  IA - Inteligência Artificial... 

No jornal da Guiné-Bissau "O Democrata" encontrámos uma(e única) referênmcia a Bissássema, mas já é antiga, de 2019, anterior à pandemia... Merece, mesmo assim, ser citada. (**)


Esquadra de Polícia de Tite é um "lixo que espelha a banalidade" do Estado Guineense.
 Jornal Odemocrata, 04/08/2019.

 Texto e foto: Assana Sambú


[Reportagem, julho 2019] O edifício da Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) do setor de Tite, região de Quinará, no sul da Guiné-Bissau, encontra-se em avançado estado de degradação (...).

(...) A Esquadra cobre todo o setor de Tite e conta com 15 agentes, dos quais apenas três são efetivos, nomeadamente: o comandante, o seu adjunto e o responsável da logística. As restantes 12 pessoas são todas auxiliares recrutadas internamente, sem salários nem subsídios, porém são elas que fazem todo o serviço da esquadra.

(...) O comandante da Esquadra, Sete Djassi, reconheceu na entrevista a O Democrata a situação de degradação daquela Esquadra.

(...) O subinspetor (alferes) Sete Djassi reconheceu igualmente que a Esquadra não está nada bem e precisa de uma intervenção das autoridades competentes, de formas a servir condignamente as forças policiais que dão as suas vidas para servir o país e a população todos os dias.  

(...)  “O edifício onde funciona a esquadra é uma antiga loja no período colonial e até hoje tem aquela zona do balcão. Tem ainda um salão, um quarto e na parte lateral tem uma sala que foi adaptada para funcionar como o Gabinete do Comandante. A Esquadra dispõe de cela que éuma espécie de túnel, aproveitado para cela”, contou.

(...) Em termos de meios de transporte para a mobilidade dos polícias, explicou que dispõem de uma viatura (Jeep) descapotável adquirido já há alguns meses do Comando da Província Sul e uma motorizada que receberam no quadro das eleições legislativas de março deste ano. Lembrou que trabalhavam sem nenhum meio de transporte e que as missões eram feitas a pé, sobretudo no concernente à caça aos gatunos ou pessoas que tenham cometido algum crime.

“Andávamos a pé até ao interior das tabancas mais longínquas do setor para ir buscar as pessoas que recusam obedecer às ordens do comando, mesmo notificadas. A mesma coisa acontece com as pessoas que cometem crimes de roubos ou de homicídio e muitas vezes corremos risco de vida ao sermos confrontados. Felizmente sempre cumprimos a nossa missão.  

(...) Djassi revelou que as deslocações das forças policiais para as operações no interior do setor são asseguradas pelos queixosos, ou seja, são essas pessoas que compram o combustível para a viatura, porque, conforme disse, a esquadra não tem meios para garantir o combustível todo o tempo para a viatura.

Sobre o famoso caso de “feiticeiria” que se registava com frequência na secção de Bissassema e que acabava sempre em morte de pessoas acusadas da prática de feiticeira, disse que atualmente os casos diminuíram muito e que agora trabalham em colaboração com algumas pessoas naquela aldeia para denunciar as que tentam acusar outras sem fundamento. 

Sublinhou ainda que os casos de roubo de gado também diminuíram, porque, de acordo o polícia, neste momento toda a gente está preocupada mais com os trabalhos do campo, razão pela qual não se regista com frequência casos ligados a roubo de animais.

Contudo, ressalvou que no momento a grande preocupação tem a ver com a questão do conflito de posse de terra para a produção dos pomares de caju. Frisou que apenas no período da seca é que se registam mais problemas de roubo e de agressões. (...)


Por: Assana Sambú | Foto: A. S. (com a devida vénia...)

(Seleção, excertos, revisão/fixação de texto, negritos, edição de foto: LG) 
_________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer

(**) Último poste da série > 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26826: S(C)em Comentários (68): Fome, camaradas ?!.... Não, em Nova Lamego, São Domingos, Bissau (Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, 1967/69): sim, "aos poucos de cada vez" na Ponta do Inglês, Xime (Manuel Vieira Moreira, 1945-2014, ex-1º cabo mec auto, CART 1746, 1967/69)

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26836: Tabanca da Diáspora Lusófona (34): João Crisóstomo reconhecido, pela "Tribuna Portuguesa / Portuguese Tribune", da Califórnia, como "Personalidade do Ano 2024"... Outras nomeações: a Sousa Mendes Foundation foi a "Associação do Ano 2024" , e a inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, o "Evento Cultural do Ano 2024".




Recortes de imprensa >  "Tribuna Portuguesa",  de 15 janeiro de 2025 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. (Reproduzido com a devida vénia...)


1. Pelo muito que fez (e continua a fazer) pela causa da reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes e a consagração do "Dia da Consciência" mas também pelo aumento da visibilidade, mediática, social e cultural,  da comunidade luso-americana, o nosso amigo e camarada, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, a viver em Nova Iorque, foi considerado  "Personalidade do Ano de 2024" pelo prestigiado jornal, bilingue, "Tribuna Portuguesa" / "Portuguese Tribune", que se publica na Califórnia, desde 1979.(Quinzenal, independente, é o único jornal  que se publica hoje, em português, na costa oeste dos EUA; foi fundado em setembro de 1979 pelo açoriano João P. Brum. )

(...) "Em 2004, este jornal iniciou o reconhecimento anual dos “Melhores do Ano”. Depois dos primeiros anos serem uma simples lista com poucas categorias que ocupavam apenas uma página, a atual lista já ocupa agora cinco páginas desta edição. Como um jornal comunitário, tentamos o nosso melhor para dar a conhecer os eventos comunitários, novas caras e talentos, para assim – juntos – valorizarmos a nossa 'prata da casa' ".

No editorial da edição de 15 de janeiro de 2025, Miguel V. Ávila destaca três personalidades do ano de 2024, um dos quais o nosso João Crisóstomo (vd. recorte acima). A iniciativa tem já 2 décadas.

(...) Não posso deixar de realçar as três “Personalidades do Ano”:

Tony Goulart, o reconhecido líder comunitário, continua a deixar um legado da “experiência luso-americana” por terras da Califórnia. Logo depois de escrever e publicar um importante livro sobre as filarmónicas portuguesas e os 125 anos da sua presença na Califórnia, coordenou a publicação do livro que faltava – Nossa Senhora da Assunção da autoria de Maria Cunha Carty. 

Lembro-me que nos anos 1990s, as comunidades portuguesas da Califórnia viviam sob as sombras das comunidades da Costa Leste; havia a sensação que seríamos inferiores e que a distância nos faria quase invisíveis para com o nosso país de origem. 

A liderança de Tony Goulart e de outros líderes comunitários muito mudaram essa perspetiva e agora as nossas comunidades luso-californianas são reconhecidas como exemplos na Diáspora portuguesa.

Ana Vargas-Smith tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do auto-estima da cidade de Santa Clara. Reconheceu que uma antiga tradição de 50 anos – o Desfile dos Campeões – tinha cessado durante 24 anos e que havia uma lacuna nos habitantes daquela cidade e que a antiga baixa da cidade merecia ser revitalizada. Colocou mãos à obra, criou uma associação sem fins lucrativos e lá reiniciou essa tradição que tinha sido criada por um luso-americano – Ed Cunha – para reconhecer os combatentes da Segunda Guerra Mundial quando regressaram à sua cidade em 1945.

Ana coordena as angariações de fundos e o desfile que agora conta também com um festival de rua. E a Ana tem a certeza que a comunidade portuguesa e associações portuguesas de Santa Clara desfilam... porque não podemos ser uma comunidade invisivel na sociedade americana." (...)

2. Já na edição de 1 de agosto de 2024, fora dado grande destaque à inauguração do Museu Aristides Sousa Mendes, sendo depois considerado, na edição de 15 de janeiro de 2025, como o "acontecimento cultural do ano", enquanto a Sousa Mendes Foundation  foi a "Associação do Ano 2024" .

Reproduz-se a seguir o belíssimo editorial do Miguel Ávila sobre "o museu que faltava para que a memória não falhe", a propósito da inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, na sua terra natal, Cabanas de Viriatos, Carregal do Sal, no passado dia 19 de julho de 2024. 

O evento foi na altura também noticiado por nós (*). E na ocasião o nosso amigo e camarada João Crisóstomo leu uma mensagem expressamente escrita pelo Papa Francisco associando-se à homenagem ao Cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes (1885-1954), que coincidia também com o seu 139º aniversário natalício.




João Crisóstomo lendo uma mensagem do Papa Francisco


O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa


Família de Sousa Mendes e famílias de refugiados que beneficiaram dos vistas passados pelo Cônsul de Bordéus


Recortes de imprensa > Tribuna Portuguesa, 1 de agosto de 2024 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. Fotos: pág. 19 (Conteúdos reproduzidos com a devida vénia..)


3. Excerto de mensagem do João Crisóstomo, com data de sábado, 12/04/2025, 08:33, dirigida aos filhos, Cristina e John, e com conhecimento ao nosso editor LG e a um amigo comum. o Rui Chamusco, também ele membro da nossa Tabanca Grande:


(...) Recebi , enviada por e- mail, uma mensagem dum bom amigo e proeminente português na Califórnia, Miguel Ávila, que entre outros lugares de destaque ocupa o de editor do prestigioso jornal bilingue “Portuguese Tribune”/ “Tribuna Portuguesa” e é também membro da "Sousa Mendes US Foundation”, e vice-Presidente do “ Comité Dia da Consciência”.

E porque vocês são meus filhos (e aos outros dois se fossem meus irmãos eu não lhes poderia querer mais ou melhor, sem intuitos de ridículas presunções), partilho o que me enviou que não podia ser mais gratificante:

Primeiro um artigo que escrevi e enviei em novembro passado sobre o problema das armas nucleares. Pensei que não o tinham considerado relevante para ser incluído no jornal, mas afinal não só foi publicado como verifico que dele fizeram "artigo de opinião” (*)

E o segundo a "reportagem da inauguração do museu que deu origem às nomeações para Melhores do Ano 2024.” 

Em ambos os casos a minha colaboração e contributo não foram insignificantes pois que me valeram a distinção de "Homem do ano 2024." (...)

 4. A Tabanca Grande associa-se, com regozijo, ao reconhecimento público feito pela "Tribuna Portuguesa" ao nosso amigo e camarada, "régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona"  (**) que, depois de amanhã,  dia 25, vai estar no Convento de Varatojo, Torres Vedras, a partir das 10h00, num convívio com a família, os Crispins e os Crisóstomos, bem como com os amigos e camaradas da Guiné.  Convívio para o qual estamos todos convidados: é só aparecer: A missa é às 10h30, a que se seguirá um convívio no claustro do convento do séc. XV. O padre Vitor Melícias estará presente.

Quinta feira, dia 29, o João estará também no 61º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, a partir das 12h30, em Algés, no restaurante Caravela de Ouro.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26798: Recortes de imprensa (145): José Claudino da Silva (ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/73, nosso grão tabanqueiro nº 756): "O 25 de Abril deu-me voz, deixei de ter medo" (entrevista recente ao jornal "A Verdade", do Marco de Canaveses)... Um camarada que tem um espólio de c. 1800 cartas e aerogramas, escritos e recebidos, durante a comissão.


Foto: O nosso camarada José Claudino da Silva durante a entrevista.  Jornal "A Verdade" (2025), com a devida vénia...



José Claudino
da Silva.
Arquivo pessoal,
1. Com a devida vénia, ao entrevistado e ao jornal, transcrevemos alguns excertos (só texto, excluindo vídeos e fotos, a não ser a de cima) da entrevista que o nosso camarada José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) deu ao jornal "A Verdade",  com sede no Marco de Canaveses. 

Disponível no Facebook do Jonal A Verdade,. 25
de Abril de 2025, 21:46
, bem como na página do facebook do nosso camarada, membro da Tabanca Grande com o nº 756. Tem 63 referências no nosso blogue. Natural de Penafiel, trabalhou em Amarante, vive hoje na Lixa, Felgueiras. 





Informação diária on-line da região do Tâmega e Sousa, com cerca de um milhão de visualizações mensais. Cobertura informativa dos municípios das regiões de Douro, Tâmega.


entrevista a José Claudino da Silva


Penafiel, 25 abril 2025, 21:00

Entre junho de 1972 e junho de 1974, José Claudino da Silva escreveu 1108 cartas enquanto cumpria o
serviço militar na Guiné. Recebeu 692. Estão quase todas guardadas, como um diário da vida em tempo de guerra e de mudança.

José Claudino da Silva, hoje com 74 anos, recorda com lucidez e emoção os tempos em que foi mobilizado para a guerra colonial. Aprovado na inspeção militar em 1971, ingressou nas Forças Armadas em janeiro do ano seguinte, começando uma viagem que o levaria da recruta no Porto até Fulacunda, na Guiné, onde esteve até junho de 1974.

Sem medo, mas com um firme sentido de dever, Claudino foi preparado para “defender Portugal e o regime”. Apesar da perda de um amigo próximo na guerra, manteve-se firme na missão:

“Estava preparado, não senti medo, mas estranhei estar rodeado de arame farpado, daí as minhas inquietações, e só depois percebi que não tinha liberdade”, diz. 

Foi como condutor de viaturas que encontrou o papel no terreno, ajudando a resgatar carros presos, em zonas minadas e perigosas.

Mas foi fora do campo de batalha que Claudino encontrou uma forma de resistir ao isolamento: a escrita. Escrevia diariamente, mais do que uma carta por dia, e não apenas para si, mas também para os colegas que não sabiam escrever. 

“Cheguei a escrever cartas de amor para as namoradas deles, copiando o que dizia à minha”, conta com humor.

Ao todo, redigiu 1108 cartas e recebeu 692. Hoje, guarda-as como um tesouro: um retrato íntimo e honesto da vida de um soldado, dos medos silenciosos e da paixão pela palavra. É, para ele, a forma de manter viva a memória de um tempo que moldou uma geração. O 25 de Abril chegou quando Claudino ainda estava na Guiné. Sentiu, de imediato, uma diferença no comportamento dos seus superiores: mais respeito, menos distância. “Foi a primeira vez que senti que algo estava mesmo a mudar".

De regresso a Portugal, mergulhou nas transformações da nova liberdade: frequentou comícios, escreveu para jornais, inclusive em protesto contra o modo como os soldados eram retratados e tratados. Após o regresso da guerra na Guiné, encontrou um país diferente e com mais liberdade. 

“Antes da Revolução escrevi um pequeno texto para o Século Ilustrado, fui censurado pelo meu capitão”, recorda.

“O 25 de Abril deu-me voz. Deixei de ter medo"


“O 25 de Abril deu-me voz. Deixei de ter medo. Passei a escrever sobre tudo e ainda hoje escrevo”, afirma Claudino, que guarda desses tempos não só as cartas, mas também os poemas e textos que continua a produzir, com uma visão crítica sobre o país, sobretudo no que toca à educação e ao futuro da juventude. Em criança lembra como foi colocado na última fila da sala de aula por ser de uma zona pobre, e como, mesmo assim, nunca deixou de querer aprender e escrever.

Com o 25 de Abril, também o contacto com a cultura e a liberdade de expressão se transformaram. “Antes não podia ler Marx. Depois comecei a ir a comícios e a ler tudo o que antes era proibido".

Num testemunho emocionado, Claudino alerta, ainda, para os perigos da regressão social:

 “Temo não por mim, mas pela minha neta. A liberdade de hoje existe, mas não sabemos interpretá-la".

Num paralelo com a infância, refere que Portugal continua a liderar negativamente no número de crianças institucionalizadas, como há 50 anos. “Isso não é liberdade. Há problemas que resistem à revolução".

Esta história é um testemunho vivo de um tempo difícil, mas também de esperança e transformação. As cartas que escreveu, e que hoje guarda, são mais do que palavras, são pedaços de história, de vida e de liberdade.


(Seleção, negritos, revisão e fixação de texto para efeitos de publicação no blogue: LG)

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Nota do editor:

domingo, 11 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26790: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (11): Enfermeiras & paraquedistas!... Que desaforo, terão pensado os "velhos do Restelo" do "Estado Velho", em 8 de agosto de 1961...











Ilustração Portuguesa, nº 1021, Ano 55, 29 de setembro de 1961. (Diretor: Guilherme Pereira da Rosa; propriedade da Sociedade Nacional de Tipografia). Preço: 1$00. Cortesia de Hemeroteca Digital / Câmara Municipal de Lisboa


1.  Foi um acontecimento social, militar, político e até religioso, que deu direito a títulos de caixa alta na imprensa portuguesa da época. 

O então Secretário de Estado da Aeronáutica, o ten-cor eng Kaúlza de Arriaga,  tinha conseguido a competente e devida autorização de Salazar para criar o Quadro de Enfermeiras Paraquedistas integrado no pessoal da Força Aérea, equiparado a militar.  A guerra em Angola (1961) a isso obrigava...

Recrutadas nos hospitais civis, as candidatas a enfermeiras paraquedistas deviam cumprir os seguintes requisitos: 

(i) nacionalidade portuguesa;
(ii) idade entre os 19 e os 30 anos;
(iii) curso de auxiliar de enfermagem ou curso geral de enfermagem;
(iv) solteiras ou viúvas sem filhos;
(v) sem cadastro;
(vi) com boa formação moral.

Mas em nenhum diploma legal desse tempo se fala em "enfermeiras paraquedistas"!... O que não deixa de ser curioso...

Alargou-se o quadro de pessoal de  tropas paraquedistas  (batalhão, criado em 1955, mais tarde regimento), para elas poderem caber em 1961, mas só se fala em "enfermeiros" (sic)... quando a profissão era (e continua a ser) maioritariamente  feminina (vd. Decreto-Lei nº 42073, de 31/12/1958, Dec-Lei nº 42792, de 31/12/1959, e  Dec-Lei nº43663. de 5/6/1961;  Portaria n.° 18462., de 5/5/1961.

Assim, o
 Dec-Lei nº43663. de 5/6/1961, vem definir quem era o "pessoal equiparado a militar pára-quedista":

  • 1 major ou capitão graduado médico
  • 2 capitães ou subalternos graduados médicos
  • 1 capitão graduado médico veterinário
  • 1 subalterno graduado médico veterinário
  • 1 tenente graduado enfermeiro
  • 5 alferes graduados enfermeiros
  • 5 sargentos graduados enfermeiros.

Não se percebe por que razão é que na altura não se abriram as portas do batalhão de caçadores paraquedistas também às mulheres médicas, mas tão só às  enfermeiras... 

A  primeira seleção foi feita pela Escola das Franciscanas Missionárias de Maria (criada em 1950, hoje Escola Superior de Enfermagem São Francisco das Misericórdias), em Lisboa.  Era então diretora (e professora), a irmã Emaús, a madre superiora da congregação em Portugal.

Pode-se dizer que foram escolhidas a dedo as primeiras 11 candidatas (ou "convidadas"),  as quais frequentaram depois o 1º curso de enfermeiras-paraquedistas, a convite da FAP.  Só chegaram ao fim e receberam o brevet (ou brevê)  e a boina verde seis delas, ultrapassadas as provas de aptidão, médicas, psicotécnicas, físicas e militares. Ficaram conhecidas como as "seis Marias", graduadas em alferes  (e uma em sargento) (vd. aqui vídeo da RTP Ensina, de 2009):

  • Ivone  (†)
  • Arminda
  • Nazaré (†)
  • Lourdes ("Lurdinhas") (graduada em sargento)
  • Céu (Policarpo)
  • Zulmira  (†)

O 1º curso de enfermeiras paraquedistas iniciou-se em 6 de julho de 1961, em Tancos, no Regimento de Caçadores Paraquedistas, e terminou a 8 de agosto, com a imposição do brevê e da boina verde (a cinco das seis: a Maria da Nazaré, por se ter magoado num salto, só terminaria o curso uma semana depois).

As fotos que publicamos acima  são da cerimónia do dia 8 de agosto de 1961. As mulheres portuguesas estavam a fazer história nesse dia!... Os jornais da época deram larga cobertura ao acontecimento, alguns ainda elevados de preconceitos ( para não falar em misoginia, estupidez, ignorância ou sensacionalismo,  como chamar-lhe "monjas do ar"):

  • Monjas do ar: cinco  jovens enfermeiras conquistaram ontem em Tancos o "brevet" de pára-quedistas" (Diário de Notícias, 9 de agosto de 1961);
  • As primeiras mulheres pára-quedistas portuguesas (O Século, 9 de agosto de 1961);
  • Enfermeiras pára-quedistas lançadas em Tancos receberam o "brevet" e vão seguir para Angola (Diário de Lisboa, 8 de agosto de 1961)


A revista Ilustração Portuguesa, propriedade da empresa que publicava O Século. escolheu este acontecimento para a capa edição nº 1021 (em 1961 só se publicaram dois números, este, e o nº 1020, de 29 março; a revista era semanal, I e II Séries, de 1903 a 1930; depois passou a editar 2 números por ano,  de 1931 a 1980, para garantia legal do título).

PS -  A Maria Arminda seria a terceira de quatro, a contar da esquerda, na foto de topo (inicialmente parecia-nos a segunda)... Ora a  segunda é a  Maria Ivone Reis, já falecida. Da quarta, no lado direito, não se vê a cara. Legendagem com a ajuda da Maria Arminda,  a decana das enfermeiras-paraquedistas e que honra a Tabanca Grande com a sua afável presença e ativa colaboração.

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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26787: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (10): Quando a "última" foi a "primeira"... A cap enf pqdt Maria de Lurdes Lobão, que fez história: em 16 de março de 1990, foi a primeira mulher a fazer de oficial de dia num estabelecimento militar, a Escola de Serviço de Saúde Militar (ESSM)

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Guiné 61/74: P26766: Efemérides (454): O fim da guerra do Vietname foi há 50 anos ("Diário de Lisboa", 30 de abril de 1975)

 












Recortes de imprensa, "Diário de Lisboa", 30 de abril de 1975, 2ª ed., pp. 1 e 20.

Fonte: Instituição: Fundação Mário Soares e Maria Barroso |  Pasta: 06822.172.27196 | Título: Diário de Lisboa | Número: 18752 | Ano: 55 | Data: Quarta, 30 de Abril de 1975 | Directores: Director: António Ruella Ramos; Director Adjunto: José Cardoso Pires | Edição: 2ª edição | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos | Tipo Documental: Imprensa  


1. Há 50 anos a agência Reuters e o Diário de Lisboa, de 30/4/1975, noticiavam o fim da guerra do Vietname.  Uma guerra com 3 décadas, que foi um pesadelo para todos: os vietnamitas e os outros p0vos da Indochina, os franceses, os americanos... (e demais povos e todo o mundo, já que não foi  uma mera guerra regional, desenrolou-se em pleno clima de "guerra fria"...).

Foi também uma guerra que esteve no nosso "imaginário"... Mais do que isso: também sobrou para nós... Os mísseis terra-ar Strela, por exemplo, já tinham sido testados no Vietname... bem como a passagem da guerrilha à guerra convencional (no caso, port exemplo,  da Guerra dos 3 G: Guidaje, Guileje, Gadamael)...

E havia até quem, mal ou bem, na nossa geração, comparasse a guerra da Guiné com a do Vietname... É evidente que foram duas realidades incomparáveis: pelos meios bélicos empregues, em homens e armas, pela extensão do território, pela violência, pelo nº de baixas, etc.; as nossas guerras foram de "baixa intensidade". Os militares norte-americanos tiveram cerca de 58 mil mortos, e perto de 300 mil feridos. As perdas entre os vietnamitas, civis e militares, do Norte e do Sul são impossíveis de calcular (há estimativas que apontam para 2 a 4 milhões).

Em 30 de abril de 1975 estávamos no rescaldo das eleições, realizadas uns dias antes (em 25 de abril) para a Assembleia Constituinte.  As primeiras eleições livres!... Tinha havido o 11 de março e depois a fúria das nacionalizações...Mas já antes o 28 de setembro de 1974, que alguns historiadores apontam como o  início do PREC (Processo Revolucionário Em Curso). 

O "verão quente de 1975", já estava em banho maria... E em Angola, a 6 meses da independência,  já havia crescentes sinais da brutal guerra civil que se iria desencadear depois do 11 de novembro de 1975 e  prolongar durante anos e anos até 2002 (com escassos períodos de paz podre pelo meio). 

Os últimos militares portugueses em Angola regressaram a 10/11/1975, na véspera da "dipanda". A sangria de quadros foi brutal... Um amigo meu, angolano, médico, disse-me que nesse dia, histórico, o número de médicos que restavam no território era der 26...

Cinquenta anos depois perguntamo-nos, ingenuamente: porquê ? para quê ? como foi possível ?  A guerrra do Vietname, a guerra da Guiné, a guerra de Angola... A(s) guerra(s)... 

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 26 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26732: Efemérides (453): Lourinhã, 25 de abril de 2025: cerimónia de homenagem aos combatentes da guerra do ulltramar / guerra colonial