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sábado, 10 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25155: O(s) segredo(s) que o Amadu Djaló (Bissau, 1940 - Lisboa, 2015) não quis ou não pôde contar no seu livro (1): A revolta da CCAÇ 21, em 16 de agosto de 1974, em Bambadinca, e as suas exigências "milionárias": 300 contos por cabeça (50 mil euros, a preços de hoje), antes de entregar a arma e passar à "história" (isto é, à "peluda")

Guiné > s/l [Bambadinca?] > s/d [c. 1971/73] > A Força Africana... O major inf Carlos Fabião, na altura (1971/73),  comandante do Comando Geral de Milícias, e o gen António Spínola, passando revista a uma formatura de novos milícias.

In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola,  Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autor da foto: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia)

1. Há segredos que não se partilham, por uma razão ou outra. Este, que envolve o Amadu Djaló, pode ter sido por uma de quatro razões (especulativas, acrescente-se): 

(i) o Amadu Djaló não estava lá nesse dia, em Bambadinca  (ele vivia em Bafatá, com as suas duas mulheres e restante família, incluindoa a amada mãe): 

(ii) o Amadu Djaló terá achado indigno o comportamento dos seus camaradas e subordinados, e escamoteou, esqueceu ou  branqueou este episódio, grave, que foi a insubordinação da CCAÇ 21 (no seu todo ou em parte)

(iii) o Amadu Djaló já se desligara, disciplinar e afetivamente, dos seus antigos camaradas e subordinados da CCAÇ 21, que era comandado pelo ten graduado 'cmd' Abdulai Jamanca (a companhia seria dissolvida e extinta dois dias deppois, em 18 de agosto de 1974);

(iv) "last but not the least" (isto é: não menos importante...), a ser verdade que cada militar da CCAÇ  21 só aceitava entregar a arma e passar à disponibilidade por 300 contos "per capita", estávamos perante uma exigência "milionária":  na época,  300 contos (da Guiné, 1 escudo a valer 0,90 de 1 escudo da metrópole) seriam qualquer coisa como cerca de 50 mil euros (a precos  atuais); multiplicando por 150 homens (=1 companhia,  só de guineenes) daria qualquer coisa como 7,5 milhões de euros (que não poderiam caber na mala de nenhum governador-geral, ainda para mais na véspera do reconhecimento do independência e da saída do território por parte de Portrugal; o Amadu Djaló não podia deixar de estar a par destas reivindicações, para mais sendo um alferes graduado da companhia; mas será que ele tinha a noção exata ou aproximada dos valores que estavam em jogo ? 

2. Vamos reconstituir o que se passou nesse "dia de todas as emoções" (como escreveu, no seu diário, o senhor cor cav CEM Henrique Manuel Gonçalves Vaz, 1922-2001).

Repete-se aqui a mensagem do nosso leitor (e camarada) Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518/73 (1973/74):


Data: 11 de Maio de 2012 22:30

Assunto: Bambadinca 1974

Boa noite, Luís

Fui furriel miliciano com a especialidade de mecânico de armamento e fui incorporado no Batalhão [de Caçadores] 4518/73 para a Guiné...  

Após o 25 de abril de 1974, fui destacado para Bambadinca para receber material militar, viaturas, armas, etc.


Em agosto de 1974 (não consigo memorizar o dia), os militares presentes no destacamento de Bambadinca (eu incluído), foram surpreendidos com a presença de dezenas de militares do denominados Comandos Africanos (tropas nossas aliadas).

Todos nós (talvez duas dezenas),  ficámos perplexos... Primeiro pensámos que vinham entregar as armas (o que nos facilitava o regresso a Portugal), mas não!... Fomos encostados à parede e deram um prazo de 48 horas para serem pagos da indemnização a que tinham direito, ou então, seríamos fuzilados... 

Cerca de 40 horas após o sequestro, o brigadeiro Carlos Fabião chegou num helicóptero com duas malas carregadas de dinheiro... Terminou o sequestro!

Se através do teu blogue for possível reencontrar esses camaradas de armas, ficarei muito agradecido.

Até sempre, um abraço | 
Fernando Gaspar


2. Comentário de L.G.:

Na altura manifestámos a nossa gratidão e apreço ao Fernand0 Gaspar pela  coragem de vir, a público, num blogue de antigos combatentes, revelar esse segredo, que possivelmente guardava, enterrado  há muito na sua memória... 

De qualquer modo, o  que ele  contava - ao fim de quase 4 anos todos - e que deve ter isso um pesadelo para ti e para os demais camaradas que foram feitos reféns, já não era segredo para mim... Já aqui transcrevi, ao de leve,  uma conversa que tive, em Monte Real, por ocasião do nosso VII Encontro Nacional, com o último comandante do Pel Caç Nat 52, o alf mil Luís Mourato Oliveira [foto à direita].

Ele também estava em Bambadinca, sentado tranquilamente no bar de oficiais, a beber o seu copo, quando ocorreram os graves incidentes aqui  referidos, sem grandes detalhes..  Foi igualmente sequestrado como o Fernando Gaspar  e mantido como refém até à chegada do brigadeiro Carlos Fabião, que, vindo de Bissau,  resolveu o problema (havia um vazio legal, com a CCAç 21 e a CCAÇ 20, que estaria ainda por resolver,  mais de um ano deppois da sua criação).

Isto ter-se-á passado não com os "Comandos Africanos" (que pertenciam ao Batalhão de Comandos da Guiné, com sede em Brá, Bissau)  mas com o pessoal da CCAÇ 21, que era comandada pelo tenente 'cmd' graduado Abdulai Queta Jamanca, e onde havia antigos militares da formação inicial da CCAÇ 12 do nosso tempo (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)...  

Disse-nos o Mourato Oliveira que, depois da negociação com o Carlos Fabião, houve grande ronco...

Semelhantes incidentes (graves) deram-se em Paúnca, pela mesma altura, com a malta da CCAÇ 11 (antiga CART 11), já relatados pelo nosso camarada J. Casimiro Carvalho. (*)

De qualquer modo, esperávamos que tanto o Fernando Gaspar como o Luís Mourato Oliveira nos pudessem, na altura,  fornecer mais pormenores destes tristes acontecimentos que poderiam ter originado um tragédia imensa,  se as ameaças de fuzilamento dos reféns fossem levadas a série pelos militares revoltosos da CCAÇ 21, em caso de falharem as "negociações"!. 

3. O alferes 'cmd' graduado Amadu Bailo Djaló [foto à direita] também pertenceu a essa companhia, que era inteiramente constituída por pessoal do recrutamento local (incluindo os graduados e os especialistas). No entanto, nas suas memórias (Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português: 1º volume: comandos africanos, 1964-1974. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, 299 pp., il), não são narrados, referidos ou sequer evocados os "incidentes" de Bambadinca (vd. pp. 276 e ss.). 

Talvez o nosso camarada Virgínio Briote [foto à esquerda,] que o ajudou a escrever o livro (como "copy desk") e privou muito com ele, nos seus últimos anos de vida, possa ainda esclarecer o que se passou exatamente nesses dia 16 de agosto de 1974 em que a CCAÇ 21 (ou parte do seu pessoal, possivelmente até à revelia do seu comandante, Abdulai Jamanca) tomou como reféns cerca de duas dezenas de militares metropolitanos que ainda restavam em Bambadinca, a aguardar o fim da comissão.

4. Estes factos já eram conhecidos do nosso blogue, ainda antes do final de 2011. Terminamos este poste,  já longo, com um dos  excertos dos registos pessoais, manuscritos, do cor cav CEM, Henrique Manuel Gonçalves Vaz (1922-2001), no ano de 1974, no TO da Guiné (foto a seguir, à direita).

A recolha e a transcrição são  da responsabilidade do seu filho Luís Gonçalves Vaz que estava, nessa época (1973/74), com a sua família, em Bissau (é hoje  professor de matemática e ciências da natureza numa escola da zona de Braga; é membro da nossa Tabanca Grande). 

Recorde-se que a CCAÇ 21, de vida efémera (e que não tem história da unidade) foi dissolvida e extinta dois dias depois, em 18 de agosto de 1974.

(...) 16 de Agosto de 1974

... Este foi um dia tremendo de trabalho e emocionante com as notícias de Bambadinca, em que a Companhia  de Caçadores nº 21 a tomar conta do aquartelamento e a exigirem 300 contos por homem, para entregarem a arma e passarem à disponibilidade!

Foi para lá o Governador Brigadeiro Fabião e ao fim da tarde foi recebida a notícia de que tudo estava resolvido. ..."

Coronel Henrique Gonçalves Vaz (Chefe do Estado-Maior do CTIG) (...)

Este valor (300 contos, 300 mil escudos ultramarinos) era uma exorbitância! Tem de ser confirmado. (Nesta altura, em meados de 1974, já depois do 25 de Abril, um Fiat 127, que era o carro mais vendido em Portugal, custava 95 contos, o litro da gasolina andava nos 7$50, e o salário mínimo nacional acabava de ser fixado em 3300$00 mensais)...

Nunca o pobre do Amadu Djaló ganhou 300 contos  em toda a guerra. Nem sequer um oficial general ganhava isso numa comissão de dois anos!...Pode ter havido um erro de audição e/ou transcrição, se calhar há um zero a mais: vamos ter de pedir ao Luís Gonçalves Vaz que  releia com atenção o "manuscrito" do seu querido pai. 

No nosso tempo, um soldado da CCAÇ 12, do recrutamento local, uma praça de 2ª classe (!) ganhava 600 escudos por mês, mais o "per diem" de 24$50 por ser desarranchado: comia na tabanca e no mato, em operações, não tinha direito a ração de combate (levava um lenço atado com um mão  cheia de arroz cozido) ... Em suma, recebia em média 1300 escudos ("pesos") mensais (em 1969/71).

Os militares da CCAÇ 21 devem ter recebido em 16/8/1974, aliás como o disse o Amadu Djaló (não no livro mas noutra fonte), o dinheiro a que tinham direito até fim do ano de 1974.  O Amadu Djaló foi oficial do Exército Português até essa data. Depois teve que optar por uma das nacionalidados... Recuperaria mais tarde a nacionalidade portuguesa,  mais tarde,; quando vem para Portugal em 1986, juntamente com outros antigos comandos...

Infelizmente estas "pequenas grandes histórias " não vêm nos livros da CECA nem  na historiografia militar oficiosa,  oficial ou académica.   São "anedotas"...
__________



(**) Vd. poste 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9190: O último Chefe do Estado-Maior do CTIG, Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (Jan 1973/ Out 74) (Parte II): Agosto de 1974: rebelião da CCAÇ 21 (Bambadinca) e do BCAV 8320/72 (Bula)

terça-feira, 5 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23412: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (5): Então o comandante do navio não assinou o recibo de entrega do preso?... (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 2732, Mansabá, 1970/72)

1. Os pobres dos editores deste blogue mal têm tempo para se coçarem, quanto mais escrever as suas próprias histórias e editar os seus próprios postes... Há material (sobretudo os textos com montes de fotografais...) que pode levar algumas horas a editar...

Mas a verdada é que eles, editores,  também sabem escrever e até têm, além de memória, sentido de humor... Hoje fomos recuperar um comentário do nosso querido Carlos Vinhal, esquecido ou escondido na "montra traseira" (a caixa de comentários) do nosso blogue, no poste P23391 (*).

Afinal, é uma história (aliás, são duas) com "princípio, meio e fim", e que encaixa na perfeição na nossa nova série "A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra" (**)

Recorde-se que o nosso camarada, amigo e coeditor Carlos Vinhal (um histórico da Tabanca Grande, à qual pertence desde 25 de março de 2006)  foi  furriel miliciano atirador de artilharia  com a especialidade de minas e armadilhas. Incorporado como instruendo do CSM em Abril de 1969 nas Caldas da Rainha (RI5), tirou a a especialidade de atirador de artilharia em Vendas Novas (EPA), tendo passado ainda, em novembro, por Tancos (EPE) onde tirou o XXXIII Curso de Minas e Armadilhas... 

Em dezembro de 1969 rumou ao Funchal onde ajudou a dar a especialidade de atirador a um grupo de militares madeirenses com os quais se formaram as duas primeiras Companhias da Bateria de Artilharia de Guarnição n.º 2 (BAG2, a partir de 1970, GAG2) a irem para o Ultramar: a CART 2731 foi para Angola, e a sua, a CART 2732, embarcou no cais do Funchal para a Guiné no dia 13 de abril de 1970, onde chegou a 17. 

Como quase quase toda a malta, esteve "hospedado" uns dias, 
no Depósito de Adidos, em Brá, e  no dia 21 do mesmo mês seguiu, com os seus madeirenses da CART 2732,  para Mansabá (que ficava na região do Oio, entre Mansoa e Farim).  Aqui permanceu em quadrícula até finais de fevereiro de 1972.

Mas estas duas histórias, que metem 1.ºs cabos milicianos e presos (e que, por isso, têm o seu quê de pícaro), não se passam exatamente nos Adidos, nem em Lisboa, nem em Brá,  mas uns tempos antes, no GAG2 (Grupo de Artilharia de Guarnição nº 2), no Funchal... (O BAG2 /GAG2 teve origem nas unidades de artilharia estacionadas na Madeira pelo menos desde 1661; hoje está integrado no Regimento de Guarnição nº 3.)



O soldado do GAG2, Funchal, que foi 'repescado' nas águas do Tejo pela Polícia Militar...

No BAG2 / GAG2 (Funchal) havia uma cela com alguns presos. Ao domingo abria-se a porta e os presos iam com as famílias, esposas, filhos, pais, etc, dar umas voltas pelas redondezas. Ao fim da tarde regressavam à situação de presos. 

Uma situação complicada foi quando num dia em que o aspirante não foi à instrução que constava de uma progressão ao longo das levadas, um dos recrutas veio ter comigo e pediu para ir falar com o aspirante ao quartel. Anui.

Quando mais tarde voltei, estava tudo em alvoroço porque o tal recruta tinha abandonado o quartel e apanhado clandestinamente um navio para o continente. 

Fiquei mesmo atrapalhado, mas antes de manifestar a minha preocupação, perguntei naturalmente ao aspirante se o militar tinha estado com ele durante a manhã. Que tinha estado e que lhe tinha pedido para o deixar ir a casa porque morava ali perto. Só que não voltou à hora de almoço. 

Contactada Lisboa, no dia seguinte a PM estava à sua espera no cais. O recruta tendo-se apercebido da recepção que lhe estava destinada, atirou-se à água, sendo preciso algum trabalho para o capturar. A esta distância não me lembro quem era e se foi connosco.


Atão, e o recibo de entrega do preso, assinado pelo comandante do navio ?

Ainda outra história com prisioneiros. Um dos meus camaradas foi incumbido de levar um preso ao cais do Funchal para ser encaminhado sob prisão para Lisboa. Chegados a bordo, o cabo miliciano entregou o preso e os respectivos papéis. 

De volta ao quartel, o oficial de dia perguntou-lhe se o Comandante do navio tinha assinado o recibo de entrega do preso.
- Era preciso? 

Havia que voltar rapidamente ao cais antes que o navio zarpasse.

Carlos Vinhal

Notas do editor:

(**) Vd. poste de 25 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P632: Tabanca Grande: Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA da madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

(***) Último poste da série >  4  de julho de  2022 > Guiné 61/74 - P23409: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (4): peripécias de um aspirante miliciano, no Depósito de Adidos de Luanda, um mês e tal à espera de transporte para o CTIG (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt, PTE / BENG 447, Brá, 1967/71)

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23397: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (2): a minha passagem pelo Depósito de Adidos, em Brá, em 1973: como sargento de dia à Casa de Reclusão Militar, fiz uma escala de serviço para que os presos (alguns violentos) pudessem sair e entrar, "livremente", "ir às meninas" ao Pilão, petiscar em Bissau, etc. (Augusto Silva Santos, ex-fur mil, CCAÇ 3306, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/72, e Depósito de Adidos, Brá, 1973)




Guiné > Bissau > Brá > Depósito de Adidos > 1973 > O fur mil Augusto Silva Santos, de rendição individual: terminada a comissão da CCAÇ 3306, em dezembro de 1972, foi colocado no Depósito de Adidos, na Secção de Justiça. Regressou a acasa em dezembro de 1973.


Fotos (e legenda): © Augusto Silva Santos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Esta é mais uma "história pícara" (*) que fomos repescar, com a devida vénia, à série "Os fidalgos de Jó", da autoria do nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-fur mil, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, e Depósito de Adidos, Brá, 1971/73) (**)


A minha passagem pelo Depósito de Adidos, Secção de Justiça, 1973

por Augusto Silva Santos




Depois da partida do BCAÇ 3833 para a metrópole no navio Uíge, que ocorreu em Dezembro de 1972, fui colocado no quartel do Depósito de Adidos,  em Brá. Naquele Batalhão pertenci à CCAÇ 3306 colocada em Jolmete, para onde fui em rendição individual.

No Depósito de Adidos, para além do serviço na Secção de Justiça como escrivão, tinha também, periodicamente, para além dos serviços inerentes à Unidade, a missão de fazer Sargento de Dia à Casa de Reclusão Militar.

Lembro-me que no primeiro dia em que isso aconteceu, no Render da Guarda tinham desaparecido 12 reclusos, que entretanto ao longo da semana foram voltando. Na segunda vez desapareceram mais 5, que mais tarde também voltariam a aparecer.

Esta era uma situação comum com outros camaradas que faziam esse mesmo serviço, que igualmente se queixavam e viviam o problema.

Nunca ninguém (pelo menos no meu tempo) chegou a saber ao certo por onde os presos fugiam, só sei que eles saíam para ir ao Pilão a Bissau (às “meninas”) e deliciarem-se com alguns petiscos, e que mais tarde voltavam sempre (alguns obviamente eram apanhados pela PM). 

Tive alguns dissabores (ameaças de levar uma “porrada” se os reclusos não aparecessem), pelo que, a partir de determinada altura e por sugestão de outros camaradas mais antigos (inclusivé de um 1.º Sargento), combinei com um dos reclusos (o mais velho, um Fuzileiro com a alcunha de “Grelhas” e que se dizia havia tido um “confronto directo” com o cor paraquedista Rafael Durão, tendo este como consequência partido uma mão), para fazer uma “escala de saída”, com a condição de todos estarem presentes ao Render da Guarda.

Remédio santo, ou seja, nunca mais faltou nenhum recluso quando estava de serviço.
A esta distância parece caricato, mas o que é certo é que a “medida” funcionou (para mim e para os reclusos).

O meu relacionamento com a maioria dos reclusos era regra geral muito cordial e sem grandes problemas. Alguns eram considerados como “perigosos” por terem cometido crimes com alguma gravidade no teatro de operações ou no interior das suas unidades, mas sinceramente nunca observei nada que me levasse a acreditar nessa perigosidade ou a ter receio fosse do que fosse.

Relembro que, na sua maioria, eram camaradas nossos que pelos mais diversos motivos haviam caído nesta situação. De qualquer forma não deixavam de o ser (camaradas), pelo que assim sempre os considerei, embora com as limitações a que a situação obrigava.

Quando já me faltavam escassos 3 meses para acabar a comissão, por ter discordado de uma ordem mal dada por um oficial (o que viria a ser confirmado) e chegado a via de factos, fui castigado com 5 dias de detenção. Só não apanhei 5 dias de prisão porque tinha dois louvores e tive vários Furriéis e Sargentos que presenciaram os factos a testemunharem em meu favor.

Foi-me na altura dito pelo então Comandante do Depósito de Adidos, um tal Major Francisco Ferreira, de alcunha “o Galo”( por andar sempre todo emproado, usava um boné à Hitler), que eu tinha razão, mas que a democracia ainda não tinha chegado à tropa (sic), e que a ordem de um superior, mesmo mal dada, era para ser sempre cumprida.

Como consequência, fui ainda castigado com o ter de fazer a guarda de honra ao General Spínola, na sua última deslocação a este aquartelamento, o que para mim na altura até foi mesmo uma honra.

Lembro-me que, no 2º semestre de 1973, era já grande a tensão entre as NT, principalmente por acontecimentos como os de Guileje e Guidaje (entre outros), factos dos quais íamos tomando conhecimento por relatos dos camaradas que pelo Depósito de Adidos iam passando.

O facto de o PAIGC possuir os mísseis terra-ar Strela, passou a ser um grande problema para a nossa força aérea. Também me recordo de Bissau começar então a ser cercada de arame farpado e da colocação de minas nalgumas zonas da sua periferia, e de nos ter sido comunicada a possibilidade de podermos vir a sofrer em qualquer altura um ataque por terra ou por ar, por também constar que o IN já possuía os famosos MiG.

Isto passou-se perto do final de Dezembro de 1973, altura em que terminei a minha comissão e regressei a Portugal.

Esclareciment posteriro do autor, em comentário a este poste P23397:

De: Augusto Silva Santos

Olá, Luís e restantes Camaradas!

A propósito desta republicação, importa agora esclarecer que o nosso camarada "Grelhas" não era Fuzileiro, como na altura me fizeram acreditar, mais sim Soldado de uma CCaç., que agora não consigo identificar. 

[O "Grelhas" pertencia à CCS/BCAÇ 2930, Catió, 1970/72, segundo informação do camarada Rolando Rodrigues, no Facebook da Tabanca Grande, 29/6/2022] 
 
Através do nosso camarada Albino Jorge Caldas, que pertenceu à CCaç 3518, "Marados de Gadamael", (1971/74) e, por mero acaso, vim a tomar conhecimento que o famoso "Grelhas", de seu nome próprio Armando, era taxista no Porto, tendo-me inclusive facultado o seu contacto telefónico.
 

[ No Facebook da Tabanca Grande, 29/6/2022, o Albino Jorge Caldas confirma que o "O Grelhas hoje é taxista na cidade do Porto, sempre em forma e pronto para umas confusões se necessário."]

Após animada conversa relembrando velhos tempos e peripécias, o nosso amigo Armando "Grelhas" acabou por me confidenciar que as "saídas" eram conseguidas através de uma chave falsa de uma porta não controlada, da qual era portador. Era também ele que se encarregava de elaborar a "escala" de saídas (poucos de cada vez, para não dar nas vistas).

Embora sem ter total conhecimento do "esquema" montado, confesso que na altura foi algo que, após duas situações menos agradáveis, me deixou mais confortável (se assim se pode considerar), pois o amigo "Grelhas" nunca mais permitiu que algum recluso faltasse aquando do render da guarda, sempre que eu estava de serviço.

Forte Abraço para todos!

29 de junho de 2022 às 22:29




Guiné > Bissau > Brá > Depósito de Adidos > Casa de Reclusão Militar > Março de 1973 > O "carcereiro" em alegre e franco convívio com alguns reclusos por ocasião de um aniversário. "O camarada ao fundo, de óculos e barba, é o Carlos Boto, já aqui referenciado por outros camaradas"... Vê-se que está de gravador na mão, recolhendo declarações de outro camarada, possivelmente o aniversariante e ambos... reclusos. O Carlos Boto deve seguido depois para Cabuca, onde animaria a rádio local "No Tera" (A nossa Terra)... Ainda hoje os seus camaradas desse tempo (2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74) andam à procura do seu paradeiro...


Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23395: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (1): Luanda, Depósito de Adidos de Angola, o oficial de dia e o preso cabo-verdiano (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, 1972/74)

(**) Vd. poste de 22 de setembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12070: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (14): A minha passagem pelo Depósito Geral de Adidos, em Brá

(***) Último poste da série > 13de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18313: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (48): Clube de Cabuca

(...) Na Guiné e, também, em teatro de guerra, se viveram grandes momentos de paródia guerreira, relatados na Rádio “No Tera”.

(...) O seu grande dinamizador foi o despromovido Carlos Boto, que, condenado disciplinarmente, cumpria a sua 3ª comissão de serviço.

Foi ele quem pediu ao Cap Vaz o aparelho de rádio RACAL que, devidamente afinado, passou a transmitir em onda curta 25 M, nas bandas dos 12.900 e 13.700 KHZ/s. Transmitia ainda em 31 M na banda dos 9.200, na onda marítima e na onda média.

A rádio era liderada por Carlos Boto (Produção, Direcção e Montagem), e contava com a colaboração de Zé Lopes (Discografia),Toni Fernandes (Sonoplastia), Arménio Ribeiro (Exteriores) e Victor Machado (Locução). (...)


Vd. também poste de 15 de março de  2012 > Guiné 63/74 - P9607: O PIFAS, de saudosa memória (9): Dois terços dos respondentes da nossa sondagem conheciam o programa e ouviam-no, com maior ou menor regularidade...

(...) No redescobrimento do PIFAS, cujos artigos tenho lido com alguma sofreguidão, pois sempre que possível lá o conseguíamos sintonizar, não posso deixar de recordar que também nós, no “buraco” que era Cabuca, também tínhamos uma estação de rádio, que com alguma dificuldade era ouvida em Bissau!

Na verdade, fruto de um engenhoso camarada, de nome CARLOS BOTO, com a excepcional ajuda do Fur Mil de Transmissões Henriques, também a 2ª Cart/Bart 6523 tinha a sua estação de rádio que transmitia em ONDAS CURTAS nas frequências 41m - na banda dos 8000 Khc/seg e 75m - na banda dos 4100 Khc/seg, que emitia directamente de Cabuca todos os dias das 19h30 às 23h00.

Tal só foi possível, graças a um generoso e eficaz trabalho de antenas, apoiadas num “Racal”, pelo pessoal das Transmissões, tendo-se então criado um estúdio improvisado, que com o recurso a um gravador de fitas e a um velho microfone difundia um excelente programa diário.

A estação chamava-se NO TERA. Tinha a discografia do Zé Lopes, a sonoplastia do Toni Fernandes, os exteriores do Arménio Ribeiro, a locução do Quim Fonseca (este vosso camarigo) do Victor Machado e esporadicamente do António Barbosa e a produção, montagem e apresentação estava a cargo do CARLOS BOTO.

Dos programas emitidos, relembro os seguintes :

- Publicidade em barda ;
- Serviço noticioso ;
- Charlas Linguísticas ;
- O folclore da tua terra ;
- Espectáculos ao Vivo ;
- Concursos surpresa e,
- MÚSICA NA PICADA, entre outros.

E, como nota de rodapé, gostaria que algum dos Camarigos, designadamente os que ainda estão hoje ligados á rádio , nos ajudassem a descobrir o CARLOS BOTO, já que todas as nossas diligências para o encontrarmos, se têm mostrado infrutíferas.

Finalmente e com a promessa de voltar à carga sobre a nossa Rádio NO TERA, gostaria de referir ainda um episódio que nos encheu de alegria, já no distante ano de 1973, quando ao ouvirmos o PIFAS, a nossa rádio foi referida como tendo sido audível em Bissau! O pessoal rejubilou de alegria e sentimo-nos então muito mais motivados para melhorar os nossos programas, já que corríamos o risco de sermos ouvidos, quem sabe, pelas bandas do QG…!

(...) Ricardo Figueiredo (ex-Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74) (...)

Guiné 61/74 - P23395: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (1): Luanda, Depósito de Adidos de Angola, o oficial de dia e o preso cabo-verdiano (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, 1972/74)

1. Comentário ao poste P23391 (*), que o nosso editor LG considerou como uma "verdadeira história pícara" e, como tal, merecedora de ser publicada, em poste, na montra principal do nosso blogue. 

 Afinal, a nossa guerra também passou por aqui, pelas Ruas Escuras, os Bairros Altos, os Cais do Sodré, as Ilhas de Luanda, os Cupelons, os Bataclãs, os Depósitos de Adidos... , sítios por onde passou muita "malandragem" eonde também também havia "minas & armadilhas".

Histórias de "a(r)didos e mal pagos", pode ser um bom título para uma nova série, que hoje inauguramos... com uma história deliciosa, com princípio, meio e fim,  do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 (Zemba, Angola, 1972/74), membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780. História deliciosa, contendo também uma profunda lição de humanidade e de solidariedade.

E, a propósito, recorde-se aqui dois dos nossos mestres do pícaro, o saudoso Jorge Cabral e o "bandalho" do Zé Ferreira da Silva. Iremos repescar um ou outro poste, já publicado, destes e doutros autores,


A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (1): Luanda, Depósito de Adidos de Angola, o oficial de dia e o preso cabo-verdiano 

por Fernando de Sousa Ribeiro 


Os militares que se deslocassem a título individual de e para Luanda e tivessem que passar alguns dias na cidade, fosse em serviço, em consultas no Hospital Militar ou em rendição individual, ficavam no Depósito de Adidos de Angola (DAA), que era um quartel situado próximo do aeroporto de Luanda.

Não havia qualquer semelhança entre o Depósito de Adidos de Angola e o Campo Militar do Grafanil; o DAA era um quartel e o Grafanil era uma espelunca. Quando passei um mês em Luanda em consultas externas de Psiquiatria, foi no DAA que fiquei colocado. Até fiz lá um serviço de oficial de dia.

Um dia, um capitão pertencente aos quadros do Depósito de Adidos de Angola comunicou-me que eu teria que fazer um serviço de oficial de dia na unidade. Eu respondi-lhe:

— Se tiver que fazer o serviço, faço, mas olhe que eu estou aqui em Luanda a frequentar as consultas de Psiquiatria. Não sei se estou em condições mentais de desempenhar devidamente as funções.

Disse-me o capitão:

— Não ficou internado, pois não? Então está em condições de fazer o serviço.

E acrescentou, em tom apaziguador:

— Não se preocupe, porque não vai acontecer nada. Aqui nunca acontece nada. Isto não é uma unidade operacional, é um simples lugar de passagem. O que você tem que fazer é tomar nota de quem é que chega para cá ficar e quem é que se vai embora, a fim de mantermos um registo permanentemente atualizado de quem se encontra cá colocado e quem deixou de estar. Mais nada. Você até se vai aborrecer. Aqui nunca aconteceu nada e não vai ser agora que vai acontecer.

Nunca tinha acontecido nada, mas eu quase fiz que acontecesse, graças ao meu talento para me meter em sarilhos.

Estava eu sentado à secretária de oficial de dia e com a cabeça na lua quando, a meio da manhã, chegou uma escolta com um soldado, preso e algemado, para ser metido na prisão do quartel. Recebi o preso, assinei a papelada que tinha que assinar, os militares da escolta retiraram as algemas ao preso e foram-se embora. Fiquei com o preso à minha frente.

Dei uma vista de olhos pelos papéis e verifiquei que o preso tinha acabado de chegar da Metrópole, mas era cabo-verdiano. Perguntei-lhe:

— O que foi que aconteceu para você estar aqui nesta situação?

Ele respondeu-me que era de Cabo Verde, mas vivia na Metrópole e, por isso, foi incorporado no serviço militar na Metrópole. Depois de ter feito a recruta e a especialidade, foi colocado no RAP 2, em Vila Nova de Gaia, até que foi mobilizado para Angola em rendição individual.

Para se despedir da Metrópole, resolveu ir às "meninas" da Rua Escura, no Porto, apesar de estar sem dinheiro. Quando a profissional que o atendeu descobriu, no fim do serviço, que ele não lhe iria pagar, saiu para a rua e fez tamanho escarcéu, dizendo que não estava ali para trabalhar de graça, que apareceu o chulo dela, seguindo-se uma cena de pancadaria entre o chulo e o cabo-verdiano. Entretanto alguém chamou a Polícia Militar, que levou o cabo-verdiano sob detenção. E ali estava ele, diante de mim, depois de ter feito a viagem de avião de Lisboa para Luanda sempre vigiado e algemado.

Assim que me contou a sua história, o cabo-verdiano pediu-me, com todo o descaramento:

— Meu alferes, eu preciso de contactar uma pessoa que está aqui em Luanda, para que saiba que eu estou cá. O meu alferes dá-me licença que eu saia? Eu prometo que volto. Prometo. É só falar com a pessoa e volto assim que puder. Prometo.

Eu disse-lhe que sim!

Logo que se foi embora um soldado que eu não conhecia de lado nenhum, para falar com uma pessoa que eu não sabia quem era e num lugar que ele não me revelou qual era, é que me dei conta da asneira que tinha acabado de cometer. Pensei: «Bonito serviço! Então eu deixo sair livre como um passarinho um preso, que momentos antes estava algemado e sob escolta?! E se ele não voltar, o que é que me vai acontecer? Isto de nomearem um maluco para oficial de dia só podia dar mau resultado».

Não deu mau resultado. Por volta das duas horas da tarde, o cabo-verdiano apareceu-me à porta do gabinete, dizendo:

— Meu alferes, já me pode prender.

Dei um suspiro de alívio que se deve ter ouvido na cidade inteira.


Fernando de Sousa Ribeiro, 
ex-alferes miliciano da CCaç 3535 / BCaç 3880, Angola 1972-74

___________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 28 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23391: A galeria dos meus heróis: uma história pícara de três “a(r)didos” - II (e última) Parte (Luís Graça)

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22556: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte V: Ordem de serviço, nº 279, de 28 de novembro de 1970, pp. 3, 4 e 5




1. Mensagem de João Rodrigues Lobo [ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971): fez o 1º COM, em Angola, na EAMA, Nova Lisboa; vive em Torres Vedras onde trabalhou durante mais de 3 décadas como chefe dos serviços de aprovisionamento do respetivo hospital distrital; membro nº 841 da Tabanca Grande.]

Date: sábado, 3/07, 23:07 | Subject: Contributos para o blog.

Como combinado começo a enviar o que julgo serem alguns contributos pessoais para o blog, embora um pouco personalizados.

Duas Ordens de Serviço de Maio e Novembro de 1970, cujos originais me foram dados por nelas constar o meu nome, mas que revelam um pouco do que foi o BENG 447, e o que foi por este Batalhão construído.

De notar que a primeira é assinada pelo Major Engº João A.Lopes da Conceição e a segunda pelo Tenente Coronel Engº João António Lopes da Conceição.(*)







Cópia da Ordem de Serviço nº 279, de 28 de novembro de 1970, do BENG 447, pp. 3, 4 r 5 )pp. 1397/8/9)

2. Comentário do editor LG
:

Em relação ao art. 5º da página 1397 (Cópia de sentença), destaque-se o seguinte, por mera curiosidade: a 4 militares do BENG 447, dois cabos e dois soldados, foi instaurado procedimento criminal pelo TMT  (Tribunal Militar Territorial) da Guiné por alegadamente , "em acção conjunta e de comum acordo", em 4 de julho de 1969, a bordo do N/M "Rita Maria", terem subtraído fraudulentamente os seguintes artigos:  

(i)  nove caixas de vinho no valor de 1687$00 (escudos),  o equivalente, a preços de hoje, a 518,25 €;

(ii) nove pacotes de 72 caixas de fósforos cada um, no valor de 178$64 (o equivalente hoje a 54,88 €).

Trata-se de um simples "fait-divers" ou dá para entender um pouco melhor o que era a "justiça militar" de então ? Claro que um "roubo" era/é sempre um "roubo"... 

Não sabemos o desfecho deste caso: o João Rodrigues Lobo guardou cópia desta Ordem de Serviço, de 28 de novembro de 1970, por nela constar a atribuição, à sua pessoa, da Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné... E estava já em fim de comissão. 

Mas é possível que os alegados quatro autores do "surripianço" de 54 garrafas de vinho e de 648 caixas de fósforos da "despensa" do N/M "Rita Maria", propriedade da Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, do Grupo CUF,  tenham recebido o "castigo exemplar": provavelmente ficaram mais uns meses na Guiné, até pagarem a totalidade da indemnização que era devida aos donos dos bens "surripiados"...LG

sábado, 7 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20422: Dossiê cap cav Luís Rei Vilar - Parte III: declarações da primeira testemunha, fur mil op esp , da CCAV 2538, José Vigia Batalha Polaco





Declarações da 1ª testemunha, fur mil op esp José Vigia Batalha Polaco, da CCAV 2538 (Susana, 1969/71) no âmbito do processo por ferimento em combate de que resultou a morte do cap cav Vilar; foi instrutor do processo o cap cav Rogério Silva Guilherme, substituto do cap cav Luís Rei Vilar, no comando da companhia.

Local e data, Susana, 26 de fevereiro de 1970.

Fonte: Cortesia de cor art ref Morais da Silva



1. Mais uma peça do processo do infausto cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva. (*)



Cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970).
Foto: cortesia de cor art ref
Morais da Silva


Sobre as circunstâncias da morte deste intrépido oficial de cavalaria, no TO da Guiné, vamos continuar a publicar, sob a forma de dossiê, os documentos que nos enviou, gentilmente, o cor art ref Morais da Silva, autor de um notável trabalho de pesquisa sobre os 47 oficiais da Escola do Exército / Academia Militar, mortos em combate, na guerra colonial, que também temos vindo a publicar, no nosso blogue (**).

Hoje reproduzimos as declarações do fur  mil op esp,  José Vigia Batalha Polaco, da CCAV 2538 ,  natural da Nazaré, no âmbito do "processo por ferimento em combate de que resultou a morte [do cap cav Vilar]".   Foi instrutor do processo o cap cav Rogério Silva Guilherme, substituto do cap cav Luís Rei Vilar, no comando da companhia.
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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série >


5 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20417: Dossiê Cap Cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941- Susana, 1970) - Parte II: declarações do ex-alf mil op esp, da CCAV 2538, Eurico Borlido

(**) 1 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20402: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXXI: Luís Filipe Rei Vilar (Cascais, 1941 - Susana, região de Cacheu, Guiné, 1970)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20410: Dossiê Cap Cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941- Susana, 1970) - Parte I: Certificado de óbito, do HM 241 (Bissau), e parecer do Serviço de Justiça e Disciplina / CTIG, mais a participação do óbito por parte da CCAV 2538 (Susana, 1969/70)







As três primeiras páginas do processo do cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970). Cortesia de Morais da Silva, cor art ref.


1. Mensagem,  com data de 1 de dezembro de 2019, 19h31, enviada pelo cor art ref Morais da Silva, membro da nossa Tabanca Grande [, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972]:

Assunto - Envio de documentos 

Viva.

Junto cópia do Processo de Averiguações elaborado quando da morte do Capitão Villar. Acrescento a Participação, Certidão de Óbito e Despacho. 

Da leitura dos documentos resulta não surgirem dúvidas sobre as circunstâncias da morte.

Abraço, Morais Silva

Cor artilheiro-infante cmdt comp em Gadamael

P.S. Estes documentos não têm classificação de segurança

2.  Comentário do editor, LG:

Obrigado, Morais da Silva. Já dei conhecimento, em primeira mão, à família, na pessoa do Miguel e do Duarte, irmãos mais novos do nosso camarada Luís Rei Vilar, ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970. No entanto, essa documentação já era do seu conhecimento.

Para esclarecimento das circunstâncias da morte deste oficial de cavalaria,no TO da Guiné, vamos publicar, sob a forma de dossiê, os documentos que nos enviou:  "Processo de Averiguações elaborado quando da morte do Capitão Villar", incluindo "Participação, Certidão de Óbito e Despacho" (10 páginas em formato digital).

A certidão de óbito, passado pelo HM 241, Bissau, com data de 21 de fevereiro de 1970, diz o seguinte, em síntese:

(i) a morte ocorreu às 19h00 do dia 18 de fevereiro de 1970;

(ii) a causa da morte foi "traumatismo torácico / tamponamento cardíaco";

(iii) entrou já  cadáver no hospital;

(iv) o médico que verificou o óbito foi o alf mil médico João Manuel Mota Horta e Vale;

(v) o corpo foi autopsiado, e encerrado em caixão de chumbo para seguir depois para a metrópole.

No despacho, de 5 de junho de 1970,  do comandante militar, constante do processo por ferimentos em combate, organizado pelo Serviço de Justiça e Disciplina do CTIG,  esta morte é considerada em combate: "este militar foi  mortalmente ferido num combate com o IN na zona de Susana durante a Operação Selva Viva" ( e não Operação Cassum, como temos visto escrito em postes anteriores).

Na participação do óbito, são arroladas duas testemunhas, os fur mil op esp, José Vigia Batalha Polaco (, natural da Nazaré,) e José Manuel Teixeira (,natural de Fafe). No essencial, é referido que,  às 14h30 d0 dia 18 de fevereiro de 1970, na sequência de uma operação na zona de acção ode Susana, de dois dias,   "quando se aguardava a evacuação de um ferido (guia nativo), as NT foram atacadas  por um grupo inimigo.  Do ataque resultou a morte do capitão de cavalaria nº  31672562, Luis Filipe Rei Villar, atingido por um projéctil inimigo que lhe perfurou o tronco na região  da zona torácica esquerda e da omoplata direita".  É omitido nome da operação.

O ferido foi evacuado para Susana de helicóptero e, às, 18h30, para o HM 241 (Bissau), quatro horas depois, "já cadáver".

Neste processo não consta cópia do relatório da autópsia, se é que existe,  Já que o cor art ref Morais da Silva teve, entretanto, a gentileza de me enviar esta documentação, vamos continuar a publicá-la, para conhecimento dos nossos leitores, e nomeadamente dos camaradas que conheceram o Luís Rei Vilar. O nosso intuito é apenas o de partilhar informação e conhecimento sobre os acontecimentos ocorridos no TO da Guiné, durante a guerra colonial, não querendo de modo algum alimentar polémicas sobre um assunto, para mais  tão delicado,  como é, sempre, a morte violenta de alguém das nossas relações, familiar, amigo ou camarada. Neste caso, do bravo comandante da CCAV 2538, morto em combate  aos 29 anos (*), e que eu não conheci pessoalmente, mas era do meu tempo,  e era irmão de um amigo meu, o Duarte Vilar (**).

(Continua)
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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20333: Notas de leitura (1235): Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária (1): “Astronomia”; Publicações Dom Quixote, 2015 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2019:

Meu caro Mário Cláudio,

Saúde e um abraço de parabéns pelos cinquenta anos da sua vida literária.
"Astronomia" é um livro assombroso, junto esta pérola a outras suas, você escreve maravilhosamente. Vai seguir-se o "Tiago Veiga", quando estava a ler "Astronomia" pressenti que iria aproveitar aquele folheto sobre as doenças da Guiné algures, ou já tinha aproveitado. Lendo "Tiago Veiga", percebi que já tinha aproveitado. É sobre esse assunto que vem a recensão que se segue.

Gostava agora de saber, se me permite a franqueza, se há outras obras, outros belos parágrafos, que possam ser dados à estampa para um blogue que também lhe pertence, e onde eu escrevo regularmente: Luís Graça e Camaradas da Guiné. Este blogue é o maior acervo fotográfico de toda a guerra, supera, e de longe, o que existe no Arquivo Histórico-Militar ou em poder de qualquer instituição. Se entender que lá deve colaborar, por exemplo, publicando as fotografias da sua comissão, seria um grande orgulho para nós.

Renovando as minhas felicitações e pedindo-lhe a amabilidade de cuidar do meu pedido, receba um abraço muito fraterno do
Mário Beja Santos


Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária: 
Um notável escritor que é nosso camarada da Guiné (1)


Beja Santos


Mário Cláudio
Há uns bons meses atrás, descobri por puro acaso que o escritor Mário Cláudio fez a sua comissão na Guiné. Já estava formado em Direito pela Universidade de Coimbra, as suas competências foram aproveitadas como jurista em Bissau. Através do seu editor, chegámos à fala. Gentilmente, indicou-me títulos das suas obras onde há referências à Guiné. Comecemos por “Astronomia”, Publicações Dom Quixote, 2015, um belíssimo romance, galardoado com o Grande Prémio de Literatura 2017 e Prémio D. Diniz 2017.

É marcadamente autobiográfico e em dado passo (página 244 em diante) marcha para o destino e escreve:

“Na madrugada do aeroporto da capital do império, cumprindo um ritual que vem da Ilíada, e que se ilustra nas letras, nas artes plásticas, e na música, o rapaz abraça a noiva numa longa e lenta despedida. Não aperta ao coração o companheiro distante, a quem apenas telefonicamente diz doloroso adeus, e embarca no avião que o transporta para a guerra insólita, ignorada pelo mundo, e continuada na obstinação do instinto suicida. Escala numa outra ilha, e esta tropical, onde não chove, há décadas e décadas, povoada por cabras que se alimentam a papel de jornal, e que lhe oferece como lenitivo para a sede uma laranjada tão quente como uma canja de galinha. Sobrevoa depois o território bélico, esponja verde e saturada de águas verdes, enumeráveis que se revelam os pântanos em que boiam punhados de terra de luxuriante vegetação. E à chegada apanha o murro que excita os europeus de sempre, fantasiosamente rendidos àquilo a que chamam ‘o feitiço de África’, e que consiste em odores, o da poeira vermelha, o dos frutos que se decompõem, o do suor que abrilhanta os negros rostos, e o das explosões de morteiros, intervalados por fulgurantes derrames de napalm sobre a copa dos palmares. Previnem-no contra as atrocidades de espécies entomológicas variegadas, e contra as mais diversas castas de ofídios, e aprende assim a munir-se de chanatas de borracha durante os contínuos duches, defendendo-se de que um animalesco sinuoso, veio colado pelas linfas, se entranhe na planta do pé, e o corroa até não restar mais do que uma geringonça de olhos esburgados. Coalha-se-lhe o novo céu de helicópteros imparáveis na evacuação dos feridos em combate, ouve-se o estrondo dos rebentamentos na margem oposta do rio grosso, a correr em lamas, e esbarrondam-se-lhe à volta os exaustos camaradas, broncos na permanente borracheira, e aptos a abalar para o mato em colunas que fatalmente pisam a mina que os fazem fanicos. Sentado à mesa metálica da sua burocrática função, analisa processos e processos que se ocupam de desastres em serviço, violações de nativas, furtos de viaturas, orgias homossexuais, e actos de insubordinação, e que propõem para as mais altas condecorações da Pátria heróis que esmagam a cabeça dos meninos no capô do Unimog, ou que espetam a faca de mato na barriga das grávidas”.

E, mais adiante:

“Na Secção de Justiça, onde serve, alojada num quartel-general que fervilha de entradas e saídas de militares na sua lida de guerra, reina um misto de circunspecção e estouvamento. Mercê daquilo que se considera produto do clima dos trópicos, voam amiúde esferográficas de secretária para secretária. Propulsiona-as um ímpeto infantil de libertação, a interromper a aturada análise dos processos-crime, ou meramente disciplinares, pontuados pelas convencionais expressões tabeliónicas, ‘Chamei à minha presença’, ‘E ao ser interrogado’, ‘Em cumprimento de’. Ao longo da semana inteira, compreendendo sábados e domingos, e apenas com o breve intervalo para almoço e sesta, o rapaz labuta, partilhando com o escasso punhado de milicianos-juristas a responsabilidade da proposta de soluções para os desmandos praticados pela desorientação da soldadesca”.

Por último:

“E os aviões rasgam o pardo céu que cobre o território empapado, descolando em todas as direcções da rosa-dos-ventos, e produzindo a paisagem de aldeias carbonizadas, de mães que expiram, cingidas às crias que amamentam até à eternidade, e de velhos que expõem às varejas a chaga do incessante bombardeamento. Pelo início da sesta a lavadeira indígena, única ninfa consoladora da angústia, e do medo, do tédio, e do rancor, espreita para as trevas da casamata. Abre as firmes coxas a um alferes estremunhado e acolhe-o no lento sorriso dos lábios azuis, e na distraída queda das pálpebras acetinadas. Tombam na incandescência do horizonte os que perdem pernas e braços e genitais, e que navegam depois numa cadeira de rodas, ou naufragam na cama da mulher que não têm tempo de conhecer. E o rapaz espera, apega-se a si mesmo, e não desiste do trato epistolar com a noiva, isto como se constituísse o milagre uma banalidade, até que se apercebe ela do cadáver do futuro. Rugem os canhões das margens palustres que circundam a cidade-reduto, permanentemente transpirada, ressonando o odor da polpa dos frutos que apodrecem, e sobrevoada pelos jagudis atentos ao quadrúpede esventrado que fervilha de larvas. O rapaz interrompe a análise num processo mais, o que cuida do furto-de-uso do camião que transporta metralhadoras, e da bebedeira do soldado que o enfia pelo mato adentro, soltando o berro dos que enfrentam o descarnado rosto da morte (…). 

Traz em si uma ferida de guerra, a subir como um animal omnívoro, do abismo das entranhas, e manifestando-se nos dedos de unhas roídas. Assalta-o um tremor na presença de estranhos, e sobretudo no acto de com eles partilhar as refeições, o que ameaça produzir o derrame do vinho de um copo, ou da sopa de uma colher, quando não, a sumária queda de garfo e faca com que se escala o peixe, se corta a carne, ou se descasca a fruta. E o medo de incorrer assim numa falta irreparável impele-o progressivamente se afastar dos lugares de convívio, circunscrevendo-o à casa, e ao trato com os mais chegados, a fim de se sentir livre da tensão que se desencadeia em contextos amplamente sociais. Uma deriva sub-reptícia para o álcool assegura-lhe a temporária estabilidade das mãos, expulsando por instantes o terror que se lhe abriga no coração. E desagua a torrente de emoções em lágrimas de choro convulso, povoado por um soldado que a morte escolhe, em consequência de um acaso por que ele próprio, o rapaz, se considera responsável, e vislumbra na insónia que o toma viúva e órfãos que lhe pedem contas, e a mãe velhinha que reza às almas do Purgatório à beira do lume apagado, implorando a Deus, Nosso Senhor, que a leve também”.

(continua)

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2 - Notas do editor:

1 - Mário Cláudio, pseudónimo literário de Rui Barbot (ex-Alf Mil na Secção de Justiça/QG/CTIG), foi trazido até nós pelo ex-Cap Mil Carlos Nery[1].

2 - Breve nota biobliográfica de Mário Cláudio, pseudónimo de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, baseada em elementos fornecidos pelo próprio e/ou recolhidos pelo editor L.G, na Internet ou nos livros do escritor.

[ P - Neste momento, estou a falar com o Mário Cláudio ou com o Rui Barbot Costa? 
R - Está a falar com os dois ao mesmo tempo, embora a segunda entidade a que se referiu tenda a desaparecer cada vez mais, porque, entretanto, se avolumou o autor.

Excerto de uma entrevista, em 2/2/2009, ao JN- Jornal de Notícias ]

(i) Nasceu no Porto [, em 1941]. ["Não sou um escritor do Porto. Sou um escritor no Porto, que é uma coisa diferente".]

(ii) ["Mário Cláudio é o pseudónimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, nascido a 6 de Novembro de 1941, no seio de uma família da média-alta burguesia industrial portuense de raízes irlandesas, castelhanas e francesas, e fortemente ligada à História da cidade nos últimos três séculos"].

(iii) [Fez o liceu no Porto; em seguida, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo depois se transferido para a Universidade de Coimbra]; 
(iv) Licenciou-se, em 1966, em Direito, pela Universidade de Coimbra;

(v) É igualmente diplomado com o Curso de Bibliotecário-Arquivista, pela mesma Universidade, Master of Arts em Biblioteconomia e Ciências Documentais, pela Universidade de Londres [, em 1976];

(vi)  ["Pelo meio, a Guerra Colonial e uma mobilização para a Guiné, na secção de Justiça do Quartel General de Bissau. Antes de partir, em 1968, entrega ao pai, pronto para publicação, o seu primeiro livro de poemas, 'Ciclo de Cypris', publicado no ano seguinte".]

(vii) Ficcionista, poeta, dramaturgo, ensaísta e tradutor, é autor, entre outros, dos volumes de poesia Estâncias e Terra Sigillata, dos romances Amadeo, Guilhermina, Rosa, A Quinta das Virtudes, Tocata para Dois Clarins, As Batalhas do Caia, O Pórtico da Glória, Peregrinação de Barnabé das Índias, Ursamaior, Oríon, Gémeos, Camilo Broca e Boa Noite, Senhor Soares, e das peças de teatro Noites de Anto, O Estranho Caso do Trapezista Azul e Medeia

(viii) Tem numerosíssima colaboração dispersa por jornais e revistas, portugueses e estrangeiros. 

(ix) Está traduzido em inglês, francês, castelhano, italiano, húngaro, checo e serbo-croata. 

(x) Recebeu os seguintes galardões: 

Grande Prémio de Romance e Novela (1984), da Associação Portuguesa de Escritores;
Prémio de Ficção, da Antena 1;
Prémio Lopes de Oliveira;
Prémio de Ficção, do PEN Clube Português;
Prémio Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa;
Grande Prémio da Crónica, da Associação Portuguesa de Escritores;
Prémio Pessoa (2004);
Prémio Vergílio Ferreira (2008);
Prémio Fernando Namora (2009).

(xi) Foi galardoado pelo Presidente da República com a Ordem de Santiago da Espada [, em 2004,] e pelo Governo Francês com o grau de Chevalier des Arts et des Lettres.

3 - Carlos Nery, Rui Barbot e João Barge, levaram à cena a peça "A Cantora Careca", de Eugene Ionesco, estreada em Bissau no dia 5 de Abril de 1970[2].
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Notas do editor:

[1] - Vid. poste de 23 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6630: Tabanca Grande (227): Rui Barbot / Mário Cláudio, ex-Alf Mil, Secção de Justiça do QG, Bissau (1968/70)

[2] - Vid. poste de 4 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6935: A Cantora Careca, estreado em Bissau no dia 5 de Abril de 1970 (Carlos Nery)

Último poste da série de 8 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20324: Notas de leitura (1234): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (31) (Mário Beja Santos)