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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15041: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (32): O "making of" de um projeto de ajuda ao Hospital de Cumura (João Martel e Ana Maria Gala)


1. Mensagem de João Martel, com data de 19 de fevereiro de 2014, que não foi publicado na devida altura (*) e que nos parece agora relevante para perceber melhor o projeto deste jovem médico, João Martel, com quem já falei ao telemóvel duas ou três vezes... 

[foto á esquerda, João Martel com Ana Maria Gala; são os dois mais recentes membros da Tabanca Grande (**)]


Boa tarde, caro Luís Graça

O meu nome é João Martel.

Em primeiro lugar, e ainda sem me conhecer, aceite os meus sentimentos pela partida do Carlos Schwarz, "Pepito", para a Casa do Pai. O Senhor o recompensa já, por certo, pelas suas grandes e boas obras. A luta desse grande homem, que pude conhecer pelo seu blog, também me motivou a falar consigo hoje.

Cheguei até si pela leitura do seu blog "Luís Graça e Camaradas da Guiné" e pelo site da ENSP (já agora, perdoe-me a invasão de tantos endereços de e-mail, tentei apenas acautelar as falhas do digital).

O seu blog aparece sistematicamente em tudo o que são pesquisas sobre a Guiné-Bissau e tenho ficado cada vez mais motivado para contactar consigo, dado que tenho um interesse cada vez maior neste país e neste povo.

Mas começando do início:

Estou actualmente a terminar o curso de Medicina na FCML. Vim a aperceber-me que comecei o curso no ano de término do seu filho João, em 2008, cujo relato de Cumura também li com interesse.

Há já bastantes anos que vegeta em mim a vontade de poder aplicar algum do meu tempo (e, quiçá, saber) a um povo que sinta precisar especialmente de auxílio no esforço para o desenvolvimento. Como é próprio dos maçaricos, o tempo de partir parece que nunca chega mas circunstâncias da vida e dos estudos obrigam a um adiamento. Este tempo serve para maturar, claro, e tornar a nossa visão um pouco mais clara, mais informada, mais consciente de nós e dos outros, o que não pode ser senão positivo.

Estando actualmente a terminar o 6º ano, penso que chega a altura de soltar amarras! Mas para onde, como?

Através de alguns contactos com os Franciscanos Portugueses, soube da existência da Missão de Cumura e do trabalho do Frei Vitor Henriques, médico, na missão, durante vários períodos.

Falei o ano passado com ele, falei de raspão com a drª Alice, pediatra que também lá esteve.. As coisas foram-se ligando...

Nas pesquisas on-line, como lhe disse, o seu blog, a vossa Tabanca, aparece sistematicamente. Através dele, pude completar melhor o meu olhar sobre este país e as aventuras e desventuras de tantos que por ele tanto têm feito. Nomeadamente (e terei que usar o tom coloquial) o Carlos Schwarz e a AD Bissau, o seu filho João Graça, o Zé Teixeira e o seu filho Tiago, o dr. Francisco Silva, ortopedista e tantos outros... são personagens que, ainda que só dentro da blogosfera, já habitam a minha ideia da Guiné-Bissau e me motivam a seguir em frente.

Na verdade, falo em nome de um grupo de três pessoas, eu próprio, uma colega de medicina e uma professora do ensino primário, trio que pretende partir em conjunto, em princípio no ano de 2015, dado que ainda estamos a terminar a nossa formação base.

Não querendo maçá-lo muito mais com este testamento, gostava de lhe pedir se poderia falar consigo um pouco sobre a Guiné e algumas perspectivas para o futuro dos nossos trabalhos. Igualmente, e abusando, sem querer abusar, se poderia facilitar-me alguns contactos, que adivinho muito úteis, do seu filho João e do José e Tiago Teixeira, ou outros contactos que ache importantes para nós.

Agradeço desde já a sua atenção e, logo em primeira mão, todo o sonho que já me fez viver com as suas escritas e de tantos Tabanqueiros!

Com as minhas desculpas por este rolo de texto, com amizade

João Martel (e Ana Maria e Rita)



Guiné-Bissau > Bissau > Estrada de Prábis, a 10 km de Bissau > Cumura > Missão Católica e Hospital de Cumura > Cortesia da página da União Missionária Franciscana.


2. Resposta de Luís Graça,. com data de 24 de fevereiro de 2014:

João: Vejo que é um homem crente, com sentido de coerência, e solidário. A Guiné-Bissau precisa de todos nós, e de pessoas jovens e generosas como você e as suas amigas.

Obrigado, antes de mais, por me contactar. Obrigado pelas referências elogiosas ao nosso blogue. Terei todo o gosto em poder ajudá-lo, eu e outros amigos da GB e do seu povo que se acolhem à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande...

Espero que possa concretizar, em 2015, os seus sonhos de,, uma vez concluído o mestrado integrado de medicina, na nossa FCM/UNL [, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa], possa partir para a GB em missão humanitária ou de cooperação ou em regime de simples voluntariado. Vou pô-lo em contacto com as pessoas que referiu.

Para já fique com os meus contactos pessoais (...)

Um alfabravo (ABraço), em linguagem dos antigos combatentes... Luís Graça

PS - Gostaria de poder publicar um pequeno texto seu, no nosso blogue, a partir desta mensagem. Caso ache oportuno, adequado e pertinente.

3. Informação sobre os promotores do projeto:

Ana Maria Gala

Formada em Educação como professora do 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico. Com 25 anos sobre este planeta, actualmente a trabalhar no Serviço Educativo do Museu Calouste Gulbenkian. No entanto, tem como grande paixão o Ensino e desde cedo desejou fazer um período de trabalho missionário,  pondo ao serviço a sua formação.

João Martel

Formado em Medicina pela Universidade Nova de Lisboa, actualmente a realizar o Ano Comum (o antigo Internato Geral). Igualmente com 25 anos, uma boa parte deles com o sonho de ser útil na construção do diálogo entre os povos. Aceita os desafios de uma medicina pobre, com múltiplas carências básicas.

O João e a Ana veem na Acção Missionária uma forma de honrar as ligações fraternas de Portugal com o Mundo Lusófono, contribuindo para o caminho do desenvolvimento. Encontraram na Ordem Franciscana uma estrutura organizada e coerente para o fazer.

(Fonte: PPL | Crowdfunding Porttugal > Causas > Um pé na Guiné)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14640: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (31): Em busca das minhas raízes nalus / In search of my Nalu family origins (Nigel Davies, historiador britânico, originário da Serra Leoa / British historian, specialising in the study of Sierra Leone Creole people)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14733: Ser solidário (185): Regressei de Bissau e trago um abaixo-assinado de 12 filhos, com as respetivas cópias do BI. A Associação "Fidju di Tuga" quer sensibilizar os deputados portugueses que passaram pelo TO da Guiné (Catarina Gomes, jornalista)

1. Mensagem da jonalista do "Público", Catarina Gomes, autora da reportagem "Filhos do Vento"e do livro "Pai, tiveste medo ?" (Lisboa, Matéria Prima Edições, 2014):


Data: 9 de junho de 2015 às 10:33

Assunto: Filhos

Bom dia,  professor Luís Graça,

Estou de regresso. Como descrever o que senti durante estes dias? Presenciei a uma reunião da associação "Fidju di Tuga", ofereci-lhes o gravador do Tiago Teixeira e a máquina fotográfica de João Sacôto, que os vai ajudar a registar as suas histórias.

O Pepito tinha-lhes prometido tempo de antena nas rádios comunitárias da AD e uma motorizada para que fizessem o levantamento dos filhos pelo país, mas infelizmente a nova AD não deu continuidade à promessa.

Constato que os filhos que eu conheci há dois anos não são os mesmos da associação, que outros novos se lhe juntaram, que há cada vez mais. Acompanhei o presidente, Fernando Hedgar da Silva [. foto à esquerda,] , e constato que a associação vai sendo cada vez mais conhecida na Guiné, e que reforçou laços entre pessoas que tiveram o mesmo destino e que agora já não estão sós, estão a forjar uma identidade em conjunto. As reuniões são tristes e alegres ao mesmo tempo.

Fiquei muito feliz com a sondagem do blogue, sobre o aparente consenso em torno da questão da nacionalidade. Acho que tem de haver mais a fazer por estas pessoas. Espero que a reportagem de dia 18 de Junho, do pai que voltou a Angola para conhecer o filho, ajude a despertar consciências adormecidas!

Não havendo possibilidade de reencontros entre pais e filhos, acho que chega a altura de o Estado português fazer alguma coisa por estas pessoas que vivem em condições muito parecidas com as que os ex-combatentes conheceram há 40 anos.

Será que me pode mandar o mail dos dois deputados que foram passaram pelo TO da Guiné ?  Falei neles ao Fernando e será ele a mandar o mail.

Penso que seria importante que os ex-combatentes se mobilizassem nesta causa, o professor tem feito por isso. Eu trouxe um pequeno abaixo-assinado, com as respectivas cópias dos bilhetes de identidade de 12 filhos.

Assim que descarregar as fotos do meu telemóvel mando-lhas. (**)

Até breve

Catarina Gomes
Jornalista
Jornal PÚBLICO
(+351) 21 0111179 (Directo)
cgomes@publico.pt
www.publico.pt

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Notas do editor:


terça-feira, 11 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12825: Agenda cultural (304): Tiveste medo, pai?... Lançamento do livro de Catarina Gomes, jornalista do Público, com a participação de Lídia Jorge... Lisboa, FNAC Chiado, 27 de março, 18h30... Doze histórias de ex-combatentes e dos seus filhos, incluindo a do Tiago Teixeira & José Teixeira e a de um filho do João Bacar Jaló



Convite para o lançamento do livro da Catarina Gomes, "Pai, tiveste medo?", com a apresentação da escritora Lídia Jorge... Lisboa, FNAC Chiado, 5ª feira, 27 de março de 2014, às 18h30. Editora: Matéria-Prima Edições, Lisboa



1. Mensagem de Catarina Gomes, jornalista do Público, com data de 6 do corrente:



 Bom dia,  professor Luís Graça,

Não sei se se lembra mas a primeira vez que o contactei por causa destas lides da guerra,  foi há muito, muito tempo, com a intenção de fazer um livro sobre a forma como a guerra chegou à geração dos filhos. 

Chegou ao fim este processo. O meu livro vai ser finalmente lançado. Nada tem a ver com os "filhos do vento"  mas foi durante a pesquisa para este livro que nasceu a minha curiosidade por eles. 

Este livro é feito de 12 histórias de filhos de ex-combatentes, uma delas é a do Tiago Teixeira e a forma como a história de guerra do seu pai, José Teixeira, chegou até ele e o influenciou, a ponto de ter ido fazer voluntariado para a Guiné.

Outra é de um filho de João Bacar Jaló. Seis das 12 histórias são de filhos de pais que estiveram na Guiné. 

Pedia-lhe divulgasse o lançamento do livro no blogue e, claro, gostava muito que estivesse presente, assim como todos os tabanqueiros a quem este assunto possa interessar.

Gostava muito que o livro fosse o ponto de partida de debates entre estas duas gerações, entre quem foi à guerra e quem ouviu falar dela em casa, ou não. Estou disponível para participar com o pouco que fui aprendendo na recolha destas 12 histórias. 

Escrevi este livro também para que estas perguntas se façam, enquanto é tempo. O que acha de ser organizado um debate a este propósito? 

A pergunta podia ser “Como é que a Guerra Colonial chegou à geração dos filhos de ex-combatentes?

Deixo-lhe um resumo do projecto.

Um abraço, Catarina

2. Sinopse:

Quarenta anos depois do fim da guerra colonial, a memória do conflito continua viva em muitos portugueses. Não só pelas marcas deixadas nos militares que combateram, mas pela forma como ela se estendeu às suas famílias, nomeadamente aos filhos. Para os que tiveram um pai a combater em África, a guerra também foi deles.

Essa memória partilhada foi sendo construída pelos filhos ao sabor das emoções que iam experimentando: uns sentiram-se fascinados pelas aventuras heróicas de um pai em guerra; outros sofreram na pele o pesadelo interminável do qual o pai nunca se libertou; e outros ainda deixaram perguntas por fazer com medo das verdadeiras respostas.

Este livro é feito de 12 histórias. São experiências de guerra vividas por filhos de combatentes que,  de forma muito pessoal e única, aprenderam a juntar os pedaços de uma memória que não é a sua. Entre álbuns de fotografias, cartas antigas de madrinhas de guerra, malas empoeiradas, cabeças e peles de animais e relatos distantes, cada uma destas pessoas herdou uma história,; algumas foram atrás do passado para perceber um pouco melhor o pai que regressou ou que nunca chegaram a conhecer.

Em Pai, tiveste medo?, descubra uma nova perspectiva sobre um conflito que marcou Portugal. Um livro sobre a memória e a inquebrável ligação entre pais e filhos.
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Nota do editor:

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12740: In Memoriam (179): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (José Teixeira): A AD está de luto. Caminho silenciosamente ao lado de tantos amigos que fui ganhando nesta família – a verdadeira família do Pepito e da Isabel e sofro com eles esta tremenda perda.



Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Liosbnoa > 6 de setembro de 2007 >  Engº Agrº Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito', (Bissau, 1969-Lisboa, 2014). "Tive a felicidade de caminhar várias vezes a seu lado pelo interior da Guiné. Impressionava-me vivamente a forma como era acolhido em festa. Como os mais velhos e os mais novos se acercavam dele, em grupo ou isoladamente, para lhe darem conta dos resultados dos projetos em desenvolvimento", escreve o José Teixeira,dirigente da Tabanca Pequena ONGD, e seu grande amigo e admirador. "Havia sempre razão para um sorriso de esperança. Havia sempre uma mão estendida num cumprimento afetuoso. Havia sempre uma palavra amiga e de estímulo. O Pepito acreditava naquela gente, mais que ninguém porque conhecia pessoa a pessoa e chamava-a pelo nome."

Foto e legenda: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Medjo > 2 de maio de 2013 > O nosso querido Zé Teixeira com o régulo de Medjo, na sua última  viagem à Guiné-Bissau.









Guiné-Bissau > 2012 > Imagens do Pepito e dos filhos do Zé Teixeira, Joana e Tiago. O Tiago, que é médico, esteve em missão humnitária a trabalhar no Hospital de Cumura.

Fotos: © José Teixeira  (2014). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Zé Teixeira, da Tabanca Pequena ONGD, publicada ontem na página do Facebook da AD - Acção para o Desenvolvimento

A Guiné-Bissau acaba de perder um filho e eu acabo de perder um amigo que,  sendo dos mais recentes, era dos mais queridos que eu tinha e o último a querer perder.

Marcou-me pela positiva logo no primeiro encontro em 2008 no Simpósio de Guiledge, onde nos conhecemos. A sua presença com uma alegria esfuziante, uma esperança profunda no povo da Guiné e nas suas capacidades para concretizar os sonhos de bem-estar. A sua forma de ser e estar no meio daquele povo que o idolatra porque sente o Pepito a caminhar a seu lado, a viver os seus problemas, a procurar de mãos dadas com esse povo as soluções ideais e possíveis num país continuamente adiado. 

Em suma cativou-me pela sua forma de pensar, ser e estar com os povos da Guiné-Bissau e eu deixei-me cativar.
Obrigado, Pepito,  pelas grandes e inesquecíveis lições de amor e dedicação à causa de um povo, que recebi de ti.

Entregou toda a sua vida num projeto para ajudar os mais frágeis da Guiné-Bissau, nas tabancas mais afastadas dos grandes centros, no sul e no norte, sem olhar a etnias, raças ou credos.  Entrava pelas Tabancas dentro. Dialogava com as pessoas sobre as suas carências. Estudava com os habitantes os seus problemas e formas de os solucionar. Envolvia-os nos projetos de mudança ou valorização. Empenhava-se em arranjar as verbas necessárias. Organizava as populações em associações locais, para gerir os seus próprios projetos e com elas avançava apoiado na sua equipa técnica.

Ainda há dias me dizia já com uma voz cansada pela doença que o minava velozmente que precisava de vir a Lisboa para festejar os 99 anos da sua mãe a D. Clara e ser internado para os médicos se debruçarem sobre a sua doença, mas antes ainda tinha de ir ao Sul ao Cantanhez levar máquinas costura e dinamizar o projeto de Associação de bajudas em várias tabancas para promover a aprendizagem de costurar roupa. Um dos objetivos da AD com o apoio da Tabanca Pequena para ajudar as populações do interior. Ainda tentou, mas teve de regressar no mesmo dia. Creio que foi o último esforço e que enorme esforço !

Tive a felicidade de caminhar várias vezes a seu lado pelo interior da Guiné. Impressionava-me vivamente a forma como era acolhido em festa. Como os mais velhos e os mais novos se acercavam dele, em grupo ou isoladamente, para lhe darem conta dos resultados dos projetos em desenvolvimento: 

(i) eram as rádios locais; (ii) as Tvs locais; (iii) as Escolas de Valorização Ambiental [EVA]; (iv) as escolinhas de pré-primário; (v) as mulheres das salinas; (vi) os homens e mulheres dos projetos agrícolas; (vii) as comissões de mulheres que geriam os Centros Materno-infantis; /viii) era a dinamização de projetos de desenvolvimento local para melhorar a produção; (ix) a promoção de feiras e intercâmbios com os povos vizinhos; (x) era os acampamentos das crianças das escolas, (xi) era a assistência á população nas mais variadas vertentes.

Havia sempre razão para um sorriso de esperança. Havia sempre uma mão estendida num cumprimento afetuoso. Havia sempre uma palavra amiga e de estímulo. O Pepito acreditava naquela gente, mais que ninguém porque conhecia pessoa a pessoa e chamava-a pelo nome.

Para todos levava uma palavra de estímulo, um gesto de carinho, um sorriso. O Pepito acreditava nas pessoas, nas suas capacidades e potencialidades, mas mais que acreditar, desafiava-as e estimulava-as a caminharem a seu lado. Muito conversamos sobre este tema- pôr as pessoas a agir, a dinamizar os seus projetos e ajudá-las, mas não as substituir nunca.

Em Abril de 2013, estávamos eu, a minha esposa, o Dr. Francisco Silva e esposa em Iemberém a jantar com o Pepito, quando um grupo de mulheres da Etnia Tanda, silenciosamente nos rodearam e quando acabamos de jantar uma responsável do grupo pediu a palavra. Era só para agradecer as quatro máquinas de costura que tinham recebido e para dizer que se tinham organizado em Associação para dinamizar a escola de costura para as bajudas da tabanca e já tinham 36 associadas. Depois fizeram 
festa, houve ronco, como só o povo da Guiné sabe fazer.
Foi esta uma das últimas e maios belas imagens que me ficou do Pepito na sua ligação ao povo da Guiné. Povo que com ele aprendi a amar.

Hoje sinto-me perdido. Mal souberam em Bissau do infausto acontecimento, ligaram-me para chorarem comigo a perda deste grande amigo. A Guiné-Bissau ficou mais pobre.

A AD está de luto. Eu caminho silenciosamente ao lado de tantos amigos que fui ganhando nesta família – a verdadeira família do Pepito e da Isabel e sofro com eles esta tremenda perda.

À Isabel.  sua esposa e suas filhas, à sua mãe D. Clara que fez há dias noventa e nove primaveras, quero expressar os meus mais profundos sentimentos de pesar. 

José Teixeira
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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10256: Convívios (462): Tabanca de São Martinho do Porto, sábado, 11 de agosto de 2012 (Parte I)


Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto >  Um pormenor de um pano africano da sala de convívio da casa de veraneio da família Schwarz da Silva



Alcobaça, São Martinho do Porto  > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > A dona da casa, Clara Schwarz da Silva, com a neta Cristina... A Casa do Cruzeiro é das mais antigas de São Martinho do Porto (pertenceu a um ator de revista e foi comprada pelo Eng Samuel Schwarz para a sua filha Clara Schwarz, nascida a 14 de fevereiro de 1915).


Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto >  A dona da casa e decana da Tabanca Grande, Clara Schwarz, mãe do Pepito.


Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > Clara Schwarz, de 97 anos, lendo a dedicatória do João Graça, manuscrita na contracapa do úiltimo CD dos Melech Mechaya



Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto >  A senhora Leonor Levy Ribeiro, mãe da Isabel.



Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > Cristina da Silva, filha do Pepito e da Isabel, ex-.quadro superior da empresa que explora ao Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau. Nasceu na Guiné-Bissau, estudou psicologia social em Lisboa, no ISCTE.  Tem mais dois irmãos: a Catarina (Pepas) que está também na Guiné-Bissau, erabalha neste momento num projeto financiado pelas Nações Unidas, ligado ás questões da biodiversidade e da proteção do ambiente; e o Ivan, que vive em Portugal. 


Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > O nosso grã-tabanqueiro, e uma vez por ano nosso anfitrião na Tabanca de São Martinho do Porto...


Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > Outra grã-trabanqueira, a Isabel, esposa do Pepito,  especialista em questões de educação ambiental.


Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro >11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > O nosso Esquilo Sorridente... o Zé Teixeira, que veio expressamente de Matosinhos, com a esposa e o camarada  Eduardo Moutinho F. Santos... É presença habitual (e obrigatória) dos  encontros desta e doutras Tabancas...


Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > A esposa do Zé Teixeira... Tivemos pena que os filhos, desta vez, não tenham podido vir: Joana Teixeira, psicóloga, e Tiago Teixeira, médico, infecciologista, com forte ligação à Guiiné-Bissau e de cujo trabalho na área da cooperação e da solidariedade já aqui temos falado...


Alcobaça, São Martinho do Porto > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > O grã-tabanqueiro João Martins cujos antepassados estão fortemente ligados a São Martinho do Porto... Ele próprio sempre passou férias nesta belíssima praia... e tem lá a casa  de férias dos pais, que está a restaurar... Veio expressamente de Lisboa para poder estar neste encontro, a convite expresso do Luís Graça e do Pepito...


Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > Outra grã-tabanqueira, Alice Carneiro...


1. Esta é a terceira edição do convívio da Tabanca de São Martinho do Porto. O ano passado foi a 13 de agosto.  E há dois anos, em 25 de agosto

Marcaram presença este ano: 

 (i) o Zé Teixeria e a esposa, o Eduardo  Moutinho F. Santos, o Luís Graça, a Maria Alice Ferreira Carneiro, o João Graça, a Joana Graça, o José Eduardo Oliveira (o JERO), o João Martins;

(ii) Do lado do nosso anfitrião, o Pepito, deu-nos a honra da sua presença, a sua querida mãe, Clara Schwarz, a Isabel Levy Ribeiro, a mãe da Isabel (Leonor Levy Ribeiro), a Cristina Silva, filha do Pepito e da Isabel;

(iii) E ainda os amigos do Pepito, o médico cubano, urologista no Hospital de Aveiro, que trabalhou na Guiné-Bissau, o dr. Reynaldo Urgaleno, a esposa, portuguesa, Cecília, e ainda um irmão, que também vive e trabalha em Portugal, engenheiro naval.

Recorde-se que o  nosso anfitrião, Pepito, tem aproveitado, nos últimos três anos, as suas férias portuguesas para juntar (e conviver com) alguns dos seus amigos portugueses (uma parte dos quais são membros da Tabanca Grande, parceira da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento)... O encontro da Tabanca de São Martinho do Porto, em Agosto de cada ano, já se tornou "obrigatório"... E é sempre um grande prazer aceitar o convite dos donos da casa... 

Este ano foi possível conciliar algumas agendas: foi o caso do nosso grã-tabanqueiro João Graça (cujo grupo musical, os Melech Mechaya,  ia actuar, no dia seguinte, em Porto de Mós, curiosamente uma terra onde, nos anos 40, o pai do Pepito, Augusto Silva, exerceu advocacia).

(Continua)
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Nota do editor: 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9855: Ser solidário (126): Da mesma maneira que muitos dos ex-combatentes sentem aquela pulsão de regressar, eu também a sinto (Tiago Teixeira)

1. O nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) reencaminhou-nos esta mensagem do seu filho Tiago, médico, que está na Guiné-Bissau em missão humanitária a trabalhar no Hospital de Cumura:

"Eras meu camarada, que é uma palavra que só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura de tudo isto com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura de tudo isto com lágrimas escondidas"

in “Quarto Livro de Crónicas” de António Lobo Antunes


Hoje de tarde fui ao cemitério de Bissau, onde estão sepultados camaradas de armas do meu pai, do tempo da guerra colonial...

Da mesma maneira que muitos dos ex-combatentes sentem aquela pulsão de regressar, eu também a sinto. E talvez seja por isso que vim. Cresci a ouvir falar de tabancas, bajudas, fulas, balantas, bolanhas, bijagós, cajus, poilões, febres quartãs...

Sabia onde era Bissau, Empada, Mampatá, Bolama, Aldeia Formosa. Desde pequenino que sei distinguir um papel de um manjaco. Conheço todas as histórias das granadas que rebentaram com a vida daqueles jovens, e dos estilhaços que ainda hoje continuam nos seus corações... tudo isto a preto e branco, num álbum de memorias que em família desfolhávamos amiúde...

Não sei bem explicar porque sinto que isto é um regresso... Na verdade, nunca cá estive. Acho que é um regresso em nome do meu pai, da sua fidelidade a esta terra e a esta gente, que o marcaram para a vida, que me marcaram para a vida... Como se um linha filial marcasse estes quarenta anos de tempo, e que o meu regresso fosse o cumprir de uma tal promessa de fidelidade...

O cemitério de Bissau é triste como qualquer outro cemitério, mas é sujo, descuidado, com cabras a comer as flores apodrecidas... A campas dos militares portugueses estão ao abandono. No fundo, uma metáfora sobre a forma como o país cuida daqueles que por cá ou por lá, continuam perdidos no capim.

Tiago Teixeira








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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9818: Ser solidário (125): Jardim Infantil de Ingoré - Flor de Arroz - inaugurado no passado dia 6 de Abril (José Teixeira)