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sábado, 29 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27475: As nossas geografias emocionais (60): Cape of Good Hope / Cabo da Boa Esperança, South Africa / África do Sul (António Graça de Abreu, Portugal)



Foto nº 1A e 1 > "Cape of Good Hope, the most south- western point of the 
African Continent" / O Cabo da Boa Esperança, o ponto mais a sudoeste do Continente Africano...
.
É aqui que  o Oceano Atlântico e o Oceano Índico se encontram. Hoje é um ponto turístico, conhecido pela sua beleza natural e por ser um ponto geográfico famoso na história
da navegação e da expansão marítima dos Portugueses.. Bartolomeu Dias foi  o primeiro europeu a dobrá-lo, chamou-lhe  "Cabo das Tormentas" devido às tempestades e por ser o reino do Mostrengo... 

Foi oi rebatizado por D. João II como "Cabo da Boa Esperança", pelo facto de abrir uma nova rota rota comercial  para o Oriente, destronando assim o Mediterrâneo. Mais do que  rota comercial, uma ponte para unir os povos, a humanidade.

 


Foto nº 2  > África do Sul > Cabo da Boa Esperança : Outubro de 2025 > Muito para além do fim do horizonte, a Índia, a China, os orientes extremos, pedaços imensos de um outro, o mesmo mundo.



Foto nº 3 > África do Sul > Cabo da Boa Esperança > A nau de 
Bartolomeu Dias (c. 1450-1500), na segunda viagem com Pedro Álvares Cabral em 1500, a caminho da Índia, aqui se perdeu e nunca mais ninguém soube do seu destino, dele e da má sorte dos seus homens.


Foto nº 4 > África do Sul > Outubro de 2025 > 
 A caminho do Cabo das Tormentas ou da Boa Esperança


Foto nº 5 > África do Sul > Vista de Gordon Bay,  
Krystal Beach Hotel, a 60 quilómetros da cidade do Cabo (Foto nº 5).


Fotos ( e legendas"):  © António Graça de Abreu (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Mais um "postal" enviado, com data de 30/10/205, 01:33, pelo nosso incansável, (e)terno viajante António Graça de Abreu (já nem ele sabe quantas voltas deu ao mundo, sozinho, ou com a sua adorável Han Yan, médica, mãe de dois dos seus filhos). O casal vive em Cascais.

Náo é preciso recordar que o António foi alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar, junho de 1972/abril de 1974; é sinólogo, escritor, poeta, tradutor; tem c. de 380 referências no blogue.



Cabo da Boa Esperança, África do Sul, outubro de 2025

por António Graça de Abreu


— "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto IV, 94


Três dias bem instalado, com dormida e comidinha estranha no Krystal Beach Hotel, de Gordon Bay, a 60 quilómetros da cidade do Cabo (Foto nº 5).

Tempo para descansar e avançar por chilreantes caminhadas nesta vilazinha e arredores encaixados numa baía maior que dá pelo simpático nome de False Bay, mas onde nada é falso, tudo é mais do que verdadeiro.

O tempo está frio, Inverno austral, 18 graus, a praia do Bikini aqui ao lado não convida para grandes banhos e dizem-me que há tubarões por perto, o olho do peixe bem aberto para a carne e pele, branca ou negra, do mergulhador distraído. Avisado, fui apenas molhar os pés.

Depois, o adeus a Gordon Bay. Quase um dia inteiro, açambarcando uma centena de quilómetros em funcional carrinha alugada, subindo e descendo por montes, pelo espairecer da terra no beijo do mar, por praias e enseadas no quase extremo meridional de África (Foto nº 4).

A Baía Falsa não é o meu chão, mas será lugar para adivinhar maravilhas e deixar cair o olhar no ondular do encanto.

Alcandorar-me em falésias que mergulham no mar, quase voar sobre o rasgar da pedra e o azul intenso do Oceano, na costa recortada a caminho do Cabo das Tormentas ou da Boa Esperança. Ao chegar, imaginar os pendões silenciosos da História, as efemérides, o testemunho de uma época em que as bravas e loucas gentes lusitanas saíam do nosso humilde chão e se vinham perder, ou encontrar, ou morrer afogadas nestes mares austrais do fim do mundo.

Adivinhei Bartolomeu Dias (cuja nau, na segunda viagem com Pedro Álvares Cabral em 1500, a caminho da Índia, aqui se perdeu e nunca mais ninguém soube do seu destino, dele e da má sorte dos seus homens),Vasco da Gama,

 Luís de Camões e mais uns tantos cinquenta, cem mil portugueses da era de quinhentos dilacerando este mar nas suas casquinhas de noz, descobrindo meio mundo, naufragando no sonho e na aventura, em convulsões trágico-marítimas. Sobrevivendo, era a heroicidade e o pranto, sulcar as águas infindáveis do mar, navegar na insensatez, no desvario, na cobiça e no sonho dos sinuosos caminhos dos homens. Cabo das Tormentas, Cabo da Boa Esperança (Fotos nºs 1, 2 e 3).

Hoje, nestes dias do fim da Primavera a sul, a Boa Esperança, o Oceano Atlântico avassaladoramente calmo, as pequenas enseadas pedregosas na carícia requintadamente azul, a crista das ondas faiscantes debruada a branco.

O Cabo da Boa Esperança. A leste, o mar calmo e limpo. Muito para além do fim do horizonte, a Índia, a China, os orientes extremos, pedaços imensos de um outro, o mesmo mundo.
 
Recordo o encontro do homem do leme, na nau de Bartolomeu Dias em 1488, enfrentando o Adamastor, dono e senhor de naufrágios e tempestades, no poema de Fernando Pessoa, para a memória futura. O poeta assim escrevia:

O MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

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sexta-feira, 20 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26942: As nossas geografias emocionais (53): Arábia Saudita, Mar Vermelho, Jeddah, "a porta de Meca", 2023 (António Graça de Abreu, Cascais)





Arábia Saudita > Mar Vemelho > Jeddah (ou Gidá) > 2023... Nas duas fotos de cima, a esposa do nosso camarada, Hai Yuan. médica.


(...) Gidá se chama o porto aonde o trato / De todo o Roxo Mar mais florescia, / De que tinha proveito grande e grato / O Soldão que esse Reino possuía. / Daqui aos Malabares, por contrato / Dos Infiéis, fermosa companhia / De grandes naus, pelo Índico Oceano, / Especiaria vem buscar cada ano. (...)



(Luís de Camões, "Os Lusíadas, canto IX, estrofe 3. Fonte: Luís de Camões: Diretório de Camonística)

Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu  (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Mais um "postal" enviado pelo nosso  incansável, (e)terno viajante António Graça de Abreu (aqui na foto à direita com a sua Hay Yuan).

(Publicado originalmente na sua página do Facebook em 2 de junho de 2025, 20:36, enviado no dia seguinte,  3/06/2025, 15:42.)





Jeddah, Arábia Saudita, 2012

por Antóni0 Graça de Abreu


Na esteira das palavras de Claude Roy (1915-1997), grande senhor das letras francesas, concluo que já viajei por tantos países que sou capaz de falar estrangeiro na perfeição.

Nesta passagem por Jeddah, segunda maior cidade da Arábia Saudita com quase cinco milhões de habitantes, centro económico e logístico deste país, vou conversar com quem, em que língua, eu que do árabe tenho na memória uns lampejos de meia dúzia de palavras? 

Talvez seja melhor eu permanecer calado, e olhar simplesmente para Jeddah.


Posição relativa de Jeddah no Mar Vermelho.
 Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)
Debruçada sobre o Mar Vermelho, a cidade tem sido ao longo dos séculos um importante porto de comércio e a porta de entrada para muçulmanos vindos de todo o mundo que se dirigem à sagrada cidade de Meca, situada a apenas 88 quilómetros de distância. Chegam para cumprir um dos cinco pilares do Islão.

A importância de Jeddah está assim intimamente ligada a esse caminho terrestre, às estradas que daqui abrem para Meca. Todos os anos, todos os meses, todos os dias,  milhões, centenas de milhares, milhares de muçulmanos procuram a divina Meca, a Kaaba, o imponente edifício no centro de Meca a rodear em marcha apressada ou mais lenta por sete vezes, circundar o cubo em pedra negra erigido em outras eras que se crê ter sido inicialmente levantado pelo profeta Abraão há três mil e oitocentos anos atrás, restaurado por Maomé no século VII e casa sagrada, desde sempre, onde reside o espírito de Alá, o Deus Supremo.

Hoje, o acesso a Meca está proibido a todos quantos não são muçulmanos. 

Fiquemo-nos então pela Cidade Velha de Jeddah e pela Porta de Meca, tudo Património Mundial pela Unesco. Comecemos com a ruína bem conservada mas desinteressante do portão do burgo, aberto para Meca e logo depois avancemos para os antiquíssimos casarões com três ou quatro andares, alguns mal se sustentando em estacas para não cair. 

Numa arquitectura não muito trabalhada são edifícios com varandas, sacadas e janelas de madeira, as portas abertas para permitir a entrada e visita rápida do turista de passagem, conforto no interior da casa, poucos móveis, tapetes, alfombras, tapeçarias cobrindo as paredes. 

Na rua, os homens, quase todos vestem o thobe, uma túnica branca com um lenço na cabeça chamado shemagh, um turbante que tradicionalmente protege os sauditas, do vento, do calor e das areias do deserto. 

As mulheres, que quase não vemos percorrendo as velhas ruelas, usam a abaya preta que as tapa da cabeça aos pés.

Depois Jeddah espraia-se por quilómetros e quilómetros, a cidade cresceu aos poucos em cima da areia dos desertos, tendo hoje por horizonte, bem mais para leste, os 142 poços de petróleo que fazem destas terras inóspitas, abrasadas em calor,  lugares onde vicejam algumas das maiores fortunas da terra. 

Que o diga o futebol e o nosso Cristiano Ronaldo, há anos a chutar a bola e a marcar muitos golos no campeonato da Arábia Saudita. E a encher merecidamente o bolso no seu Al-Nassr, de Riade, a capital do petróleo, da bola e dos ricaços. 

Nassr, a equipa do Ronaldo significa “Vitória”. Estão a ver como eu, de tão viajado, quase falo todas as línguas?

António Graça de Abreu

(Revisão / fixação de texto,  título: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26915: As nossas geografias emocionais (52): Welcome to New York (António Graça de Abreu, Cascais)

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26913: Efemérides (459): Discurso de Lídia Jorge, Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do 10 de Junho de 2025, em Lagos

Lídia Jorge, Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do 10 de Junho de 2025, em Lagos

Discurso de Lídia Jorge no Dia 10 de Junho em Lagos:

«Os países escolhem datas de referência para celebrarem a sua história, contemplando memórias de batalhas, ações de independência, encontros civilizacionais, momentos importantes em torno dos quais concitam a unidade dos cidadãos e promovem o orgulho patriótico.

Mas, em Portugal, é a data da morte de um poeta que protagoniza o nosso momento cívico de unidade mais relevante.

Muito se tem discorrido sobre o significado desta nossa singularidade e, muitas vezes, é difícil explicar que não se trata de um sinal de melancolia, mas sim do seu oposto.

Há a assunção de que um poeta do século XVI nos legou uma obra tão vigorosa que acabou por ser adotada no seu conjunto como exemplo da vitalidade de um povo e que a própria biografia do seu autor se oferece como exemplo não só de um percurso português, mas se transformou em símbolo universal da nossa peregrinação prometeica sobre a terra.

A fidelidade que Camões manteve em relação à pátria, quando se encontrava em paragens remotas, alimenta a simbologia que lhe é atribuída como exemplo da proximidade que os portugueses que se encontram longe mantêm com a sua cultura de origem.

O país retribui-lhes, reconhecendo, desde há muito, que as comunidades portuguesas são o corpo essencial do nosso ser identitário.

Mas as celebrações deste ano de 2025 têm um cunho muito particular. Em primeiro lugar, porque voltam a ter lugar na cidade de Lagos. No século passado, foi cidade anfitriã em 1996.

Passados 29 anos, esta cidade do Algarve continua a ser democrática, livre, próspera.

O que mudou e o que justifica que, de novo, tenha sido escolhida para ser palco das celebrações foi a nova consciência de que Lagos passou a representar um lugar obrigatório quando se pretende avaliar as relações entre os povos ao longo dos séculos.

É sabido que Lagos, lugar de saída para a África e lugar do comércio prático, tem como símbolo complementar o Promontório de Sagres.

A escassos 40 quilómetros de distância, Sagres e Lagos representam historicamente uma dualidade contrastiva cujo papel se encontra em avaliação.

A comunicação digital que se afirmou a partir dos anos 90 permite agora uma divulgação ampla dos estudos que os arqueólogos, antropólogos e historiadores estão a realizar neste espaço geográfico designado por Terras do Infante.

Era a altura de atribuir a Lagos, de novo, o estatuto de cidade vencedora e de apoiar estas celebrações de importância ou de interesse cultural.

Mas há outro motivo para que, este ano, a celebração deste dia seja particular. Desde há dois anos que estamos a invocar o nascimento de Camões, ocorrido há 500 anos, presume-se que entre 1524 e 1525. Calcula-se que assim tenha sido, mas vale a pena refletir sobre o facto, pois, tal como não sabemos como decorreu a sua infância, nem a sua formação, também desconhecemos o local e o dia em que o poeta nasceu.

Para sermos justos sobre a sua vida inicial, apenas podemos dizer o que um certo maestro célebre disse de Beethoven: Um dia Camões nasceu e nunca mais morreu. Nunca mais morreu.

Provam-no a forma como, passados cinco séculos, tem sido revisitado ao longo destes dois últimos anos. As escolas, a academia, o mundo da edição, os vários campos das artes e das ciências humanísticas em Portugal têm dado rosto a toda uma espécie de comemoração espontânea e informal em torno do nosso poeta maior.

Novos autores têm surgido, atualizando a exegese sobre os seus poemas e o conhecimento acumulado em torno da vida de Camões.

O jovem ensaísta Carlos Maria Bobone pôs recentemente em relevo o papel decisivo que Camões desempenhou ao fixar uma língua nova à altura de um pensamento novo que resultaria definitivamente na Língua Portuguesa moderna que hoje usamos.

Demonstrou como a língua portuguesa, manobrada no seu esplendor, resultou como uma dádiva que devemos ao grande cantor do Oceano, como lhe chamou Baltasar Estaço.

Por sua vez, a biógrafa Isabel Rio Novo, numa visita recente, profusamente documentada que faz à vida de Camões, no final, não deixa de se comover com os testemunhos sobre os últimos dias do poeta, demonstrando que as histórias que correm sobre certos passos da sua vida, afinal, não são lendas, são verdades.

O receio de sermos românticos não nos deveria afastar da realidade testemunhada. E assim, a mim, não me pareceria errado que os adolescentes portugueses conhecessem o comentário que Frei José Índio redigiu na margem de um exemplar d’Os Lusíadas, presumivelmente oferecido pelo próprio autor na hora de partir. Escreveu o frade: Yo lo vi morir en un hospital en Lisboa sem tener uma sábana com que cobrisse, despues de haver navegado 5.500 léguas per mar.

Assim foi, sem um lençol. Terá sido um amigo quem lhe enviaria a sábana, já depois de morto.

Não me parece que daí se devam retirar conceitos patrióticos ou antipatrióticos. Conceitos sobre a vida humana e seu mistério, isso, talvez.

Entretanto, por contraste, sobre a obra que deixou, milhares de páginas de novo têm sido escritas, confirmando a dimensão invulgar do poeta que foi.

Hélder Macedo, um dos seus leitores mais subtis, disse recentemente numa entrevista que, se Camões tivesse continuado a viver, ninguém mais em Portugal teria sido capaz de escrever um verso. Essa hipérbole é linda.

Assim como é reconfortante saber que os professores deste país continuam a ler às crianças epigramas, redondilhas e vilancetes de Camões, como se fossem filos modernos, feitos de palavras, o que mostra que os portugueses continuam vivamente enamorados do seu poeta maior.

Mas se o patrono destas celebrações é o poeta do virtuosismo verbal e do amor conceptual, o amor maneirista, o poeta do questionamento filosófico e teológico, como é em “Sôbolos rios que vão”, e o poeta dos longos versos enfáticos sobre o heroísmo dos viajantes do mar, ao regressarmos a todos esses versos, escritos há quase 500 anos, encontramos coincidências que nos ajudam a compreender que os tempos duros que atravessamos têm conformidade com os tempos em que o próprio viveu.

Camões, tal como nós, conheceu uma época de transição, assistiu ao fim de um ciclo e, sobre a consciência dessa mudança, no conjunto das 1.102 oitavas que compõem Os Lusíadas, 22 delas contêm avisos explícitos sobre a crise que se vivia então.

Aliás, hoje é ponto assente que o poema épico encerra um paradoxo enquanto género, o paradoxo de constituir um elogio sem limites à coragem de um povo que havia resultado da criação do Império e, em sentido oposto, conter a condenação das práticas que, passados 50 anos, impediam a manutenção desse mesmo Império.

E nesse campo pode-se dizer que Os Lusíadas, poema que no fundo justifica que o dia de Portugal seja o dia de Camões, expressa corajosas verdades dirigidas ao rosto dos poderes que elogia.

É bom lembrar que, entre os séculos XVI e XVII, três dos maiores escritores europeus de sempre coincidiram no tempo apenas durante 16 anos e, no entanto, os três desenvolveram obras notáveis de resposta ao momento de viragem de que eram testemunhas.

Foram eles Shakespeare, Cervantes e Camões. De modo diferente, mas em convergência, procederam à anatomia dos dilemas humanos e, entre eles, os mecanismos universais do poder, corpus que continua válido e intacto até aos nossos dias: sobre o poder grandioso, o poder cruel, o poder tirânico, o poder temeroso e o poder laxista.

No caso de Camões, de que se queixa ele quando interrompe o poema das maravilhas da história para lembrar a mesquinha realidade que envenenava o presente de então? Queixava-se da degradação moral, mencionava “o vil interesse e sede imiga/Do dinheiro, que a tudo nos obriga”, e evocava, entre os vários aspetos da degradação, o facto de sucederem aos homens da coragem que tinham enfrentado um mar desconhecido, homens novos, venais, que só pensavam em fazer cultura. Mais do que isso, queixava-se da subversão do pensamento, queixava-se da falta de seriedade intelectual, que resultava depois, na prática, na degradação dos atos do dia a dia.

Escreve o poeta no final do canto oitavo: “Este deprava às vezes as ciências,/ Os juízos cegando e as consciências./ Este interpreta mais que sutilmente/ Os textos; este faz e desfaz leis;/ Este causa os perjúrios entre a gente/E mil vezes tiranos torna os Reis”.

Na verdade, Camões, Cervantes e Shakespeare, de modos diferentes, expuseram os meandros da dominação, envolvidos com o tempo histórico dos impérios que viveram.

Por essa altura, sobre os reis de Portugal, Espanha e Inglaterra, dizia-se que lutavam entre si pelo domínio do globo terrestre. Ou mais concretamente, dizia-se então que os três competiam para ver quem acabaria por pendurar a terra ao pescoço como se fosse um berloque.

Os três autores perceberam bem que, em dado momento, é possível que figuras enlouquecidas, emergidas do campo da psicopatologia, assaltem o poder e subvertam todas as regras da boa convivência.

Escreveu Shakespeare no ato IV do Rei Lear: “É uma infelicidade da época que os loucos guiem os cegos”.

Enquanto isso, Cervantes criava a figura genial do alucinado Dom Quixote de La Mancha, que até hoje perdura entre nós como o nosso irmão ensandecido.

Por seu lado, Camões, no corpo d’Os Lusíadas, não falou da loucura, mas a vida haveria de lhe demonstrar que as páginas escritas por si mesmo haviam sido proféticas, em resultado dela, da loucura. O desastre de Alcácer-Quibir, ocorrido em 1578, estava assinalado numa das últimas estrofes do Canto X. Era a história, como sempre, a confirmar o pressentimento experimentado pela literatura.

No entanto, o fim do ciclo, que neste caso aqui interessa, não é mais uma transição localizada que diga apenas respeito a três reinos da Europa.

Nos dias que correm, trata-se do surgimento de um novo tempo que está a acontecer à escala global. Porque nós, agora, somos outros.

Deslocamo-nos à velocidade dos meteoros e estamos cercados de fios invisíveis que nos ligam para o espaço.

Mas alguma coisa desse outro fim de século, que se seguiu ao tempo da Renascença malograda, relaciona-se com os dias que estamos a viver. O poder demente, aliado ao triunfalismo tecnológico, faz que a cada dia, a cada manhã, ao irmos ao encontro das notícias da noite, sintamos como a terra redonda é disputada por vários pescoços em competição, como se mais uma vez se tratasse de um berloque.

E os cidadãos são apenas público, que assiste a espetáculos em ecrãs de bolso. Por alguma razão, os cidadãos hoje regrediram à subtil designação de seguidores. E os seus ídolos são fantasmas.

É contra isso e por isso que vale a pena que Portugal e as Comunidades Portuguesas usem o nome de um poeta por patrono. Por isso mesmo, também vale a pena regressar a Lagos.

Sobre estes areais, aconteceram momentos decisivos para o mundo.

No início da Idade Moderna, Lagos e Sagres representaram tanto para Portugal e para a Europa que à sua volta se constituíram mitos que perduram. O Promontório e a silhueta do Infante austero que sonhou com o achamento de ilhas e outros descobrimentos, como parte de uma guerra santa antiga, e tudo realizou a poder de persistência férrea e sagacidade empresarial, transformou-se numa figura de referência como criador de futuros. À sua figura anda associado um sonho que se realizou e depois se entornou pela terra inteira e a lenda coloca-o a meditar em Sagres.

Numa referência um tanto imprecisa, mas que permite a sua evocação, Sophia escreveu: “Ali vimos a veemência do visível/ o aparecer total exposto inteiro/ e aquilo que nem sequer ousáramos sonhar/ era o verdadeiro”.

Esta ideia de que, na mente do Infante, se processou uma epifania, anda-lhe associada enquanto mentor de uma equipa mais ou menos informal que teve a capacidade de motivar e dirigir. Sagres passou, assim, para a história e para a mitologia como lugar simbólico de uma estratégia que mudaria o mundo.

Mas existe uma outra perspetiva, como é sabido, e hoje em dia o discurso público que prevalece é, sem dúvida, sobre o pecado dos Descobrimentos e não sobre a dimensão da sua grandeza transformadora.

É verdade que a deslocação coletiva que permitiu estabelecer a ligação por mar entre os vários continentes e o encontro entre povos obedeceu a uma estratégia de submissão e rapto, cujo inventário é um dos temas dolorosos de discussão na atualidade.

É preciso sempre sublinhar, para não se deturpar a realidade, que a escravatura é um processo de dominação cruel, tão antigo quanto a humanidade.

O que sempre se verificou foi diversidade de procedimentos e diferentes graus de intensidade.

E é indesmentível que os portugueses estiveram envolvidos num novo processo de escravização longo e doloroso.

Lagos, precisamente, oferece às populações atuais, a par do lado mágico dos Descobrimentos, também a imagem do seu lado trágico.

Falo com o sentido justo da reposição da verdade e do remorso pelo facto de que se ter inaugurado o tráfico negreiro intercontinental em larga escala, como polos de abastecimento nas costas de África, e assim se ter oferecido um novo modelo de exploração de seres humanos que iria ser replicado e generalizado por outros países europeus até ao final do século XIX.

Lagos expõe a memória desse remorso. Mostra como, num dia de agosto de calor tórrido de 1444, desembarcaram aqui 235 indivíduos raptados nas costas da Mauritânia e como foram repartidos e por quem.

Alguém que, muito prezamos, encontrava-se em cima de um cavalo e aceitou o seu quinhão de 46 cabeças. Esse cavaleiro era nem mais nem menos do que o próprio Infante D.Henrique.

Lagos não se furta a expor essa verdade histórica.

Lagos também mostra o local onde depois levas sucessivas iriam ser mercadejados os escravos. E mais recentemente relata-se como eram atirados ao lixo quando morriam sem um pano a envolver os corpos. Até agora foram retirados desse monturo de Lagos os restos mortais de 158 indivíduos de etnia Banta.

Lagos mostra esse passado ao mundo para que nunca mais se repita. Talvez por isso estejamos aqui,no dia de hoje.

Aliás, a UNESCO criou a Rota do Escravo e inscreveu Lagos na Rota da Escravatura, para que saibamos como os seres humanos procedem uns com os outros, mesmo quando se fundamentam em religiões fundadas sob os princípios do amor e sob a lei dos direitos humanos.

Lagos mostra esse filme e faz-se parente de quem escreveu na porta de um lugar de extermínio moderno o pedido solene: Homens não se matem uns aos outros.

É verdade que só conhecemos o que sucedeu naquele dia 8 de agosto de 1444 porque o cronista do infante Dom Henrique o narrou. Eanes Gomes de Zurara não conseguiu evitar um sentimento de compaixão e comentou, de forma comovida, como a chegada e a partilha dos escravos era cruel. Felizmente que dispomos dessa página da “Crónica dos Feitos de Guiné” para termos a certeza de que havia quem não achasse justo semelhante degradação e o dissesse.

Aliás, sabemos que sempre houve quem repudiasse por completo a prática e o teorizasse.

O que significa que Lagos, a cidade dos sonhos do Infante de que Sagres é a metáfora, passados todos estes séculos, promove a consciência sobre o que somos capazes de fazer uns aos outros. Esta tornou-se, pois, uma cidade contra a indiferença.

É uma luta nossa, contemporânea.

Em Lagos, hoje em dia, está presente de outro modo a mensagem do cartoon de Simon Kneebone, datado de 2014, que tem corrido mundo.

A cena é nossa contemporânea. Passa-se no mar. Num navio enorme, aparelhado com armas defensivas, no alto da torre, está um tripulante que avista ao longe uma barca frágil, rasa, carregada de migrantes.

O tripulante da grande embarcação pergunta: de onde vêm vocês? Da lancha, apinhada, alguém responde: vimos da terra.

Sugiro que os jovens portugueses, descendentes de cavadores braçais, marujos, marinheiros, netos de emigrantes que partiram descalços à procura de trabalho, imprimam este cartoon nas camisas quando vão ao mar.

Consta que, em pleno século XVII, 10% da população portuguesa teria origem africana.

Essa população não nos tinha invadido. Os portugueses os tinham trazido arrastados até aqui. E nos miscigenámos.

O que significa que por aqui ninguém tem sangue puro. A falácia da ascendência única não tem correspondência com a realidade. Cada um de nós é uma soma.

Tem sangue do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou. Filhos do pirata e do que foi roubado. Mistura daquele que punia até à morte e do misericordioso que lhe limpava as feridas.

A consciência dessa aventura antropológica talvez mitigue a fúria revisionista que nos assalta pelos extremos nos dias de hoje, um pouco por toda a parte.

Agora que percebemos que estamos no fim de um ciclo e que um outro se está a desenhar, e a incógnita existencial sobre o futuro próximo, ainda desconhecido, nos interpela a cada manhã que acordamos sem sabermos como irá ser o dia seguinte.

A pergunta é esta: quando ficarem em causa os fundamentos institucionais, científicos, éticos, políticos e os pilares de relação de inteligência homem-máquina, entrarem num novo paradigma, que lugar ocuparemos nós como seres humanos? O que passará a ser um humano?

Comecei por dizer que Camões nasceu e nunca mais morreu.

Regresso à sua obra para procurar entender que conceito tinha a poeta sobre o que era um ser humano. Sobre si mesmo, toda a sua obra o revela como vítima da perseguição de todas as potestades conjugadas. A sua obra lírica é uma resposta a esse abandono essencial.

Em conformidade com essa mesma ideia, ao terminar o canto I d’Os Lusíadas, Camões define o ser humano como um ente perseguido pelos elementos: “Onde pode acolher-se um fraco humano,/ Onde terá segura a curta vida/ Que não se arme, e se indigne o Céu sereno/ Contra um bicho da terra tão pequeno”.

Nestes versos, se reconhece o conceito renascentista, o da grande solidão do ser humano e a sua luta estóica contra, centrada na confiança em si mesmo.

Mas, na prática, essa atitude representava uma orfandade orgulhosa que facilmente a fortuna não reconhecia. Curiosamente, no final da vida, o corpo nu de Camões só teve um lençol, o oferecido, a separá-lo da terra. Igual à sorte do seu corpo, essa sorte não difere daquela que mereceram os corpos dos escravos aqui em Lagos.

Mas entretanto, no século XIX, o direito à proteção beneficiada pelo Estado começou a emergir. Criaram-se documentos essenciais tendo em vista o respeito pelos cidadãos. Depois das duas guerras mundiais do século XX, foi redigida e aprovada a Carta dos Direitos Humanos e, durante algumas décadas, foi tentado implantá-los como código de referência um pouco por todo o mundo. Só que ultimamente regride-se a cada dia que passa.

O conceito de representatividade respeitável da figura do Chefe de Estado, oriundo do povo grego, princípio que sustentou a trama purificadora das tragédias clássicas, a que se juntou depois o princípio da exemplaridade colhida dos Evangelhos, essa conduta que fazia com que o rei devesse ser o mais digno entre os dignos, está a ser subvertida.

A cultura digital subverteu a regra da exemplaridade. O escolhido passou a ser o menos exemplar, o menos preparado, o menos moderado, o que mais ofende.

Um Chefe de Estado de uma grande potência, durante um comício, pôde dizer: adoro-vos, adoro os pouco instruídos. E os pouco instruídos aplaudiram.

Pergunto, pois, qual é o conceito hoje em dia de ser humano? Como proteger esse valor que até há pouco funcionava e não funciona mais?

Hoje, dia de Portugal, de Camões e das comunidades, não será legítimo perguntar, sem querer ofender quem quer que seja, perguntar como manteremos a noção de ser humano respeitável, livre, digno, merecedor de ter acesso à verdade dos factos e à expressão da sua liberdade de consciência?

Nós, portugueses, não somos ricos. Somos pobres e injustos. Mas, ainda assim, derrubámos uma longuíssima ditadura e terminámos com a opressão que mantínhamos sobre diversos povos e com eles estabelecemos novas alianças e criámos uma comunidade de países de língua portuguesa. E fomos capazes de instaurar uma democracia e aderir a uma união de países livres e prósperos que desejam a paz.

Assim sendo, por certo que ainda não temos as respostas, mas, perante as incógnitas que nos assaltam, sabemos que temos a força.

Leio Camões, aquele que nunca mais morreu, e comovo-me com o seu destino, porque se alguma coisa tenho em comum com ele, que foi génio, e eu não sou, é a certeza de que partilho da sua ideia, de que um ser humano é um ser de resistência e de combate. É só preciso determinar a causa certa.

Muito obrigada.»

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Nota do editor

Último post da série de 10 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26903: Efemérides (458): foi há 52 anos, o 10 de junho de 1973, Dia de Portugal, o último sob o regime do Estado Novo ("Diário de Lisboa", 11 de junho de 1973)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26453: Tabanca dos Emiratos (15): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte III



Foto 1 – Jorge Araújo e Maria João, dois lisboetas na catarata de Ravana.


Foto 2 - Um visitante especial da catarata de Ravana (Um  exemplar da espécie Macaca sinica um macaco do Velho Mundo endémico do Sri Lanka só existe nesta ilha)


Foto 3 – Uma conversa pedagógica com o visitante especial.


Foto 4  – Restaurante “Chill Café Wellawaya Road”, em Ella.


Foto 5 – Esplanada do Restaurante “Ella Gap”.


Foto 6 – Geografia e arquitectura de Ella (exemplo)


Foto 7 – Trânsito numa rua de Ella.


Foto 8 – Catarata de Ravana


Foto 9 – Catarata de Ravana


Foto 10 – Catarata de Ravana


Foto 11 – Catarata de Ravana


Foto 12 – Visitantes da catarata de Ravana


Foto 13 – Visitantes ao redor das bancas na catarata de Ravana


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Mapa do Sri Lanka: a cidade de Ella (assinalada a vermelho

Fonte: USA > CIA > The World Factbook (com  a devida vénia...)





Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, a viver há uns anos entre Almada e Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos. É um dos nossos coeditores. Como autor, tem mais de 335 referências no nosso blogue. Tem várias séries: "Tabanca dos Emiratos", "Memórias cruzadas...", "(D)o outro lado combate"...

 

Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka
 (Jorge Araújo) - Parte III




Infografia dos Descobrimentos, Viagens e Explorações portuguesas: datas e primeiros
 locais de chegada de 1415-1543, principais rotas no Oceano Índico (azul), territórios
portugueses no reinado de D. João III (verde) – (fonte: Wikipédia, com a devida vénia).

 


Continuação (*)  da publicação de uma fotorreportagem sobre o antigo Ceilão, hoje Sri Lanka (independente desde 1948, do domínio britânico), feita durante as últimas férias de Natal pelos nossos amigos Jorge Araújo e Maria João (que vivem em Abu Dhabi, EAU).(*)


1. – INTRODUÇÃO

Como dei conta na Parte I (P26349) *), deslocámo-nos na segunda quinzena de dezembro último ao Sri Lanka (antigo Ceilão), aproveitando essa viagem para entender melhor a atual realidade sociocultural do país, conquistado e ocupado pelos portugueses durante século e meio (1505-1651), e cuja conquista é atribuída ao capitão-mor Lourenço de Almeida (Martim, c. 1480 - Chuil, Índia. 1508).

Durante o itinerário previamente definido, que teve o seu início em Colombo, a capital, foi possível recuperar algumas memórias do tempo da Escola Primária sobre a temática dos “Descobrimentos Portugueses” e, em simultâneo, captar algumas imagens para, depois, as partilhar na nossa “Tabanca”, a que o camarada Luís chamou de “fotorreportagem”.

Assim sendo, esta Parte III tem como cenário a região de Ella, que em cingalês significa “queda de água”,  w cuja cidade pertence ao distrito de Badulla e à província de UVA (ver mapa). Situa-se a 1.041 metros de altitude, a 54 km a leste de Nuwara Eliya, a 135 km a sudeste de Kandy e a 200 km a leste de Colombo (distâncias por estrada).

A cidade encontra-se numa região montanhosa com grande biodiversidade, com numerosas variedades de flora e fauna, estando coberta de florestas nubladas e plantações de chá. Devido à altitude, o clima é mais fresco do que as planícies próximas, que se avistam de Ella Gap.

2. – ATRACÇÕES TURÍSTICAS

Ella é uma das cidades com maior oferta turística do interior do Sri Lanka. De entre as diferentes atracções apresentamos algumas das imagens relacionadas com os espaços envolventes ao local onde ficámos instalados e das “Quedas de água de Ravana”.

► CATARATA DE RAVANA

A «Ravana Falls» é um dos lugares mais belos da cidade de Ella e uma das maiores quedas de água do Sri Lanka. Fica a cerca de meia hora da estrada principal de Ella e é uma paragem popular e obrigatória para turistas e comunidades locais do Sri Lanka.

Por estar localizada à beira da estrada, é uma das mais facilmente acessíveis. A catarata recebeu esse nome em homenagem ao Rei Demónio Ravana, que, segundo a lenda, sequestrou uma princesa e a escondeu nas cavernas atrás da catarata. Esta  queda de água pode ficar extremamente poderosa durante a estação das chuvas, pelo que é aconselhado ter cuidado para a circulação apeada, evitando caminhar sobre as pedras escorregadias.

A «Ravana Falls» é, pois, uma atracção turística popular na província de Uva, no Sri Lanka. Atualmente é classificada como uma das maiores quedas de água do país.

Descrição: - Esta catarata mede aproximadamente 25 m de altura e cai de um afloramento rochoso côncavo oval. Durante a estação chuvosa local, a catarata transforma-se no que se diz assemelhar-se a uma flor de areca com pétalas murchas.

Mas este não é o caso na estação seca, onde o fluxo de água reduz drasticamente. As quedas fazem parte do “Santuário de Vida Selvagem Ravana Ella” e estãolocalizadas a 6 km de distância da estação ferroviária local.

Lenda: - As quedas de água foram nomeadas em homenagem ao lendário rei Ravana, que está ligado ao famoso épico indiano, o Ramayana. Segundo a lenda, é dito que Ravana (que era o rei de Lanka na época) sequestrou a princesa Sita e a escondeu nas cavernas atrás desta catarata, agora simplesmente conhecida como «Caverna Ravana Ella». 

Diz-se que o motivo do sequestro foi a vingança exata por Rama (marido de Sita) e seu irmão Laxmana terem cortado o nariz de sua irmã. Na época, a caverna era cercada por densas florestas no meio do deserto. Acredita-se também que a rainha de Rama se banhava numa piscina que acumulava a água que caía desta catarata. Eles acreditavam que o rei Ravana tocou o Ravanahatha aqui.



O Ravanahatha


► RAVANAHATHA


O «Ravanahatha» é um instrumento musical antigo e tradicional da Índia e do Sri Lanka. É um instrumento de corda friccionada, o que significa que o som é produzido ao passar um arco sobre as cordas, conforme imagem abaixo. A caixa de ressonância é feita de cabaça, meio coco ou madeira, e é revestida com pele de cabra ou outro material semelhante. O instrumento tem braço de madeira ou bambu e geralmente possui uma ou mais cordas. O arco, de tamanho variável, é feito com pelos de crina de cavalo, que friccionam as cordas produzindo o som.

O «Ravanahatha» é um instrumento importante na música tradicional da Índia e do Sri Lanka, sendo usado em várias formas de música folclórica e clássica. ORavanahatha é considerado um instrumento sagrado e tem uma longa história na cultura e nas tradições musicais desses países.

3. – FOTOGALERIA

As fotos que seleconei (vd. acima)  servem para enquadrar o texto.

(Revisão / fixação de texto, título,  edição das fotos: LG)

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Nota do editor:

(*) Postes anterores da série 


6 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26351: Tabanca dos Emiratos (14): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte II

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26351: Tabanca dos Emiratos (14): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte II



Foto nº 14 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 >"Vários macacos subiram à varanda do meu apartamento no 3º. andar, no Senani Hotel, em Kandy, a capital cultural e espiritual do país.


Nota do editor LG:

 Trata.se de um exemplar da espécie Macaca sinica é um macaco do Velho Mundo endémico do Sri Lanka (só existe nesta ilha). Há 3 subespécies. (É conhecido aqui pela designação "rilewa" ou "rilawa"; em inglês, "toque macaque").

Vive em bandos que podem ir a mais de duas dezenas de indivíduos. Há três subespécies. É um macaco de porte médio, embora seja o mais pequeno do género Macaca. Mede entre 35 e 62 cm, de comprimento, sem a cauda (esta mede entre 40 e 60 cm). Os machos pesam entre 4,1 e 8,4 kg, quase o dobro das fêmeas.

É considerrada uma espécie em perigo, devido à destruição do seu habitat, à caça e ao tráfico (como "pet"). Em menos de 40 anos de independência, entre 1956 e 1993, metade da floresta da ilha foi destruída (por causas das plantações e da recolha de lenha). Os agricultores consideram este primatas como uma praga. O governo chegou a propor a venda à China de 100 mil macacos,  um negócio que foi abortado pelo protesto dos conservacionistas... Foi também uma vítima inocente da guerra civil de 1983/2009 entre o exército do Sri Lanka e os Tigres de Tamil.




Foto nº 15 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Tuque-tuque, o transporte mais popular no país"



Foto nº 16 > Ceilão > Kandy > 22 de dezembro de 2024 > "Um elefante, domesticado, nas festas budistas. É um animal sagrado e protegido por lei (mas mal tratado em cativeiro, segundo acusações frequentes).



Foto nº 17 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Fachada do Hotel Senani rodeado de árvores de grande porte e comunidade de macacos "



Foto nº 18 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Mais um macaco a fazer equilíbrio nos fios eléctricos"



Foto nº 19 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Vista do meu apartamento"



Foto nº 20 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Instalações da fábrica de chá Damro em Kandy" (1). ("5 mil hectatres de plantações de chá, é obra"... vd. o sítio da DamroTea e a história do chá, um produto colonial, no Sri Lanka)


Foto nº 21 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Instalações da fábrica de chá Damro em Kandy" (2)



Foto nº 22 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Espaço comercial da empresa de chá:  três funcionárias e a Maria João".



Foto nº 23 > Ceilão > Ella > Ella Gap Hotel > 21 de dezembro de 2024 > Ella fica perto de Badulla, a cerca de 270 km de comboio, da capital  Colombo.



Foto nº 24 e 24A > Ceilão > Ella > Ella Gap Hotel > 21 de dezembro de 2024 > Árvore de Natal no Hotel... A diferença de fuso horário entre Colombo e Lisboa é de 5 horas e meia...


Foto nº 25 > Ceilão > Ella > Ella Gap Hote > 21 de dezembro de 2024 > "Eu à porta do Hotel de Ella"


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Mapa do Sri Lanka: principais cidades do país

Fonte: USA > CIA > The World Factbook (com  a devida vénia...)





Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, a viver há uns anos entre Almada e Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos. É um dos nossos coeditores. Como autor, tem mais de 335 referências no nosso blogue. Tem várias séries: "Tabanca dos Emiratos", "Memórias cruzadas...", "(D)o outro lado combate"...





Banda desenhada infantil "Portuguese in Sri Lanka: part two: their exploits" (em inglês). Texto. Hashana Bandara; ilustração: Saman Kalubowila. (Sumitha Publishers. s/d., s/l. 24 pp.) Fonte: Poth Pancha, Panadura, Sri Lanka: uma livraria "on line" para crianças com menos de 12 anos (Imagem reproduzida com a devida vénia...)

Nota de JA/LG: 

Na primeira imagem acima pode ler-se em inglês: "Os Portugueses que chegaram ao Sri Lanka acidentalmente, em 1505, empenharam-se em estabelecer o seu poder na região costeira norte da ilha, até por volta de 1580" (... o que não é exato: a presença portuguesa manteve-se até meados do séc. XVII, Colombo cairia nas mãos dos holandeses apenas em 1656, depois de uma heróica resistência, tendo sobrevivido apenas menos de uma centena de defensores...Os holandeses por sua vez serão substituídos pelos ingleses em finais do século XVIII.


1. Continuação da publicação de uma fotorreportagem sobre o antigo Ceilão, hoje Sri Lanka (independente desde 1948, do domínio britânico), feita durante as últimas férias de Natal pelos nossos amigos Jorge Araújo e Maria João (que vivem em Abu Dhabi, EAU).(*)


(...) 21 de dezembro de 2024.

Caro Luís,  bom dia, com uma diferença horária de 5 horas e meia. Ontem tive de suspender o envio de fotos devido à quebra de rede na Net e face ao adiantado da hora fui-me deitar.

Considerando que já tens imagens para mais de um poste, apenas anexo mais umas duas ou três da cidade de Ella. OK. Abraço, Jorge (e Maria João).

PS - A festa budista a que se refere a foto nº 16 aconteceu no domingo em Kandy. (Os budistas representam cerca de 3/4 da população.)

Iremos a seguir para a costa sul.  Bom fim de semana Só estou contatável através deste canal. Obrigado.

PS - Faltam ainda as Partes III (a caminho do Sul do Sri Lanka)  e IV (visita à cidade de Galle ou Taprobana, e arredores, local de acostagem do capitão-mor Lourenço de Almeida).

(Revisão / fixação de texto, título, edição das fotos, negritos e itálicos: LG)

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