1. Em mensagem do dia 8 de Maio de 2017, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação o anúncio do Encontro/Convívio do pessoal do BART 3873, a realizar-se no próximo dia 3 de Junho, em Válega - Ovar.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17346: Convívios (798): 23º Encontro do Pessoal de Bambadinca, 1968/71, CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, e outras subunidades: Viseu, 27 de maio, sábado... Inscrições até 13 de maio. Organização: Manuel Santos Almeida (Fernando Sousa, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, 1961/71)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 13 de maio de 2017
sexta-feira, 12 de maio de 2017
Guiné 61/74 - P17350: Inquérito 'on line' (113): Fátima... Gosto de lá ir em silêncio... e, para mim, a oração não é uma forma de negociar com Deus (José Teixeira)
1. Comentário ao poste P177347 (*), por José Teixeira, um dos régulos da Tabanca de Matosinhos, ex-1.º Cabo Aux Enf, CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)
Prometi a minha mãe não me esquecer de Deus, mas confesso, que Ele se escapuliu, logo nos primeiros abalos do mar alto que me fizeram vomitar tudo quanto tinha e não tinha no estômago em alta sinfonia com centenas de camaradas alojados no porão do Niassa.
Singular fenómeno de religiosidade, fui encontrar em Ingoré. Aí que tive o primeiro reencontro com Deus, após a saída de Portugal.
Logo no segundo dia da chegada, depois do jantar e acabada a limpeza do refeitório, este enche-se de novo, agora sem pratos nem comida para o corpo. Seguia-se o momento de alimentar a alma. O grupo foi engrossando. Um estranho silêncio ou conversas em tom abaixo do normal, provocaram-me para ir averiguar o que se passava, com aquele grupo de camaradas de tez queimada por uns meses largos de sol na Guiné.
Um jovem soldado, lá na frente, começa a “votar” o terço em honra de Nossa Senhora, respondendo em coro o grupo de combatentes, onde se viam praças e um ou dois furriéis.
Foram vinte minutos de paragem, de reflexão, sobre o que me era exigido como seguidor do projeto de Jesus Cristo numa guerra para onde fui atirado, contra a vontade, pelos “senhores” do meu país.
Rezar, para mim, é mais um permanente estado de louvor a Deus pela vida, pela natureza que me disponibilizou para a minha felicidade. Corresponsabilizando-me com actos e acções de defesa de mim próprio no ambiente de guerra em que estou inserido, no respeito e serviço aos outros que me rodeiam pela missão que me foi atribuída - enfermeiro.
A oração não é para mim uma forma de negociar com Deus, com promessas a cumprir se... chegar ao fim da comissão escorreito, ou um pedir permanente a proteção, vendo Deus como que um guarda chuva protetor, esquecendo que esse mesmo Deus também o é de tantos, quantos do outro lado da barricada nos atacam ou se defendem.
Os povos que ousam fazer-nos frente, possivelmente também tem a “sua Fé”, os seus santos a quem se agarrar nos momentos difíceis, os amuletos que lhes vemos à cintura são a prova evidente. Também têm avós, pais, esposas, namoradas. Algumas, na frente de guerra, combatem lado a lado, outras, na retaguarda, sofrem como as nossas mães, os nossos familiares.
PS - Sobre o fenómeno de Fátima, onde gosto de ir no silêncio, já escrevi o poste nº 1873 um pouco baseado neste, que já estava escrito há muito tempo. (**)
Creio que esta reflexão continua atual, pois muitas vezes deusifica-se a Virgem Maria e tenta-se "negociar" com ela a salvação na vida terrena com promessas de sacrifícios. Ouso colocar a questão: Quem é a mãe/pai que gosta de ver um filho a sofrer, mesmo que seja por "amor" ?
(*) Vd. poste d 11 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17347: Inquérito 'on line' (112): Fátima: num total preliminar de 20 respostas, cerca de 2/3 foi lá "como simples turista ou em passeio"... Prazo de resposta: dia 17, 4ª feira, até às 16h53
[Foto à esquerda: Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje >
Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > O Zé Teixeira
com a Cadidjatu Candé.
Foto (e legenda): © José Teixeira (2015). Todos os
direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Poucos dias depois de chegar à Guiné, escrevi:
Prometi a minha mãe não me esquecer de Deus, mas confesso, que Ele se escapuliu, logo nos primeiros abalos do mar alto que me fizeram vomitar tudo quanto tinha e não tinha no estômago em alta sinfonia com centenas de camaradas alojados no porão do Niassa.
Singular fenómeno de religiosidade, fui encontrar em Ingoré. Aí que tive o primeiro reencontro com Deus, após a saída de Portugal.
Logo no segundo dia da chegada, depois do jantar e acabada a limpeza do refeitório, este enche-se de novo, agora sem pratos nem comida para o corpo. Seguia-se o momento de alimentar a alma. O grupo foi engrossando. Um estranho silêncio ou conversas em tom abaixo do normal, provocaram-me para ir averiguar o que se passava, com aquele grupo de camaradas de tez queimada por uns meses largos de sol na Guiné.
Um jovem soldado, lá na frente, começa a “votar” o terço em honra de Nossa Senhora, respondendo em coro o grupo de combatentes, onde se viam praças e um ou dois furriéis.
Foram vinte minutos de paragem, de reflexão, sobre o que me era exigido como seguidor do projeto de Jesus Cristo numa guerra para onde fui atirado, contra a vontade, pelos “senhores” do meu país.
Rezar, para mim, é mais um permanente estado de louvor a Deus pela vida, pela natureza que me disponibilizou para a minha felicidade. Corresponsabilizando-me com actos e acções de defesa de mim próprio no ambiente de guerra em que estou inserido, no respeito e serviço aos outros que me rodeiam pela missão que me foi atribuída - enfermeiro.
A oração não é para mim uma forma de negociar com Deus, com promessas a cumprir se... chegar ao fim da comissão escorreito, ou um pedir permanente a proteção, vendo Deus como que um guarda chuva protetor, esquecendo que esse mesmo Deus também o é de tantos, quantos do outro lado da barricada nos atacam ou se defendem.
Os povos que ousam fazer-nos frente, possivelmente também tem a “sua Fé”, os seus santos a quem se agarrar nos momentos difíceis, os amuletos que lhes vemos à cintura são a prova evidente. Também têm avós, pais, esposas, namoradas. Algumas, na frente de guerra, combatem lado a lado, outras, na retaguarda, sofrem como as nossas mães, os nossos familiares.
PS - Sobre o fenómeno de Fátima, onde gosto de ir no silêncio, já escrevi o poste nº 1873 um pouco baseado neste, que já estava escrito há muito tempo. (**)
Creio que esta reflexão continua atual, pois muitas vezes deusifica-se a Virgem Maria e tenta-se "negociar" com ela a salvação na vida terrena com promessas de sacrifícios. Ouso colocar a questão: Quem é a mãe/pai que gosta de ver um filho a sofrer, mesmo que seja por "amor" ?
___________
Notas do editor:
(*) Vd. poste d 11 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17347: Inquérito 'on line' (112): Fátima: num total preliminar de 20 respostas, cerca de 2/3 foi lá "como simples turista ou em passeio"... Prazo de resposta: dia 17, 4ª feira, até às 16h53
(**) Vd. poste de 24 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1873: Reflexão sobre Fátima, o drama da guerra e o conflito com a Fé que nos inculcaram (Zé Teixeira)
Guiné 61/74 - P17349: Efemérides (250): No passado dia 30 de Abril de 2017, os Combatentes da Guerra do Ultramar de S. Bartolomeu do Mar foram homenageados pelo seu Núcleo. A Junta da União de Freguesias de Belinho e Mar aproveitou a cerimónia para ofercer uma Bandeira ao Núcleo de Combatentes de Mar (Fernando Cepa)
Em mensagem do dia 3 de Maio de 2017, o nosso camarada Fernando Cepa, (ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), dá-nos conta da homenagem, pelo Núcleo de Mar, União de Freguesias de Belinho e Mar, Concelho de Esposende, aos ex-Combatentes da guerra do ultramar, levada a efeito no passado dia 30 de Abril.
Caro Amigo Carlos Vinhal.
Seguem dois anexos sobre a homenagem aos ex-combatentes efectuada na Freguesia de Mar, concelho de Esposende.
Se achares oportuno e de interesse, podes publicar na Tabanca Grande.
Um grande abraço.
Fernando Cepa
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17323: Efemérides (249): Dia 7, domingo, dia da mãe... O Museu da Marinha oferece bilhetes às mães para a exposição "Vikings - Guerreiros do Mar", composta por 600 peças originais provenientes do Museu Nacional da Dinamarca... A não perder
Guiné 61/74 - P17348: Notas de leitura (955): “Crepúsculo do Colonialismo, A Diplomacia do Estado Novo (1949-1961)”, por Bernardo Futscher Pereira, Publicações Dom Quixote, 2017 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Maio de 2017:
Queridos amigos,
Caminhamos para um novo patamar da historiografia, uma nova geração despojada de atavismos ideológicos disseca o Estado Novo nas suas diferentes facetas.
O embaixador Bernardo Futscher Pereira abalançou-se a organizar a diplomacia de Salazar e já nos deu dois preciosos volumes, um que vai de 1932 a 1949, e agora temos esta obra recomendável a todos os títulos para entendermos o pano de fundo do anticolonialismo e como a vida portuguesa vai decorrer num impressionante claro-escuro, a diplomacia portuguesa tem os seus primeiros espinhos com a criação da União Indiana, da República Popular da China e da Indonésia, será um corolário de tensões que culminará, no fim do ano de 1961, com a queda do Estado da Índia.
Não de discute aqui se aquela intransigência em resistir ao fim do império era ou não uma fidelidade anacrónica. O que a autora observa é que Salazar era o Estado Novo e o Estado Novo era Portugal. E havia um argumento erigido a dogma. Sem África, Portugal não podia existir. Se tudo desabasse, desabava o regime. Como aconteceu.
É uma leitura imperdível, asseguro-vos.
Um abraço do
Mário
Nos anos de chumbo, a chegada do turbilhão anticolonial
Beja Santos
Numa leitura convencional, a década de 1950, aparece na nossa historiografia marcada pelo impulso desenvolvimentista em Portugal. A imprensa, a rádio e televisão davam notícias risonhas, a estabilidade não faltava: construíam-se barragens, importantes equipamentos sociais, encetara-se a euforia da industrialização; o resto era ocultado, não se dava conta de que o regime do Estado Novo enfrentava, a ritmo crescente, a contestação ao colonialismo.
Em “Crepúsculo do Colonialismo, A Diplomacia do Estado Novo (1949-1961)”, por Bernardo Futscher Pereira, Publicações Dom Quixote, 2017, passamos a dispor de um vivíssimo relato histórico da diplomacia do regime de Salazar em tempos de Guerra Fria, onde emergiram aspirações dos povos oprimidos à independência.
À partida, o regime possuía uma imagem simpática por fazer parte da Aliança Atlântica, campeava o anticomunismo. Mas ninguém desconhecia que o primeiro tremor de terra se anunciara com a União Indiana, Goa, Damão e Diu eram porções reclamadas pelo novo Estado. O regime julgava também que a adesão de Portugal às Nações Unidas, traria um respaldo para eventuais pretensões na Ásia e em África. É evidente que também não se ignorava que o novo regime comunista em Pequim não facilitaria as coisas, havia igualmente que agir com delicadeza com a Indonésia. Bernardo Futscher Pereira dá-nos o magnífico relato de toda esta trama diplomática, é uma obra-prima de comunicação, agarra do princípio ao fim iniciados e não iniciados. O regime de Salazar socorreu-se de retórica hábil para procurar fazer esquecer que a presença portuguesa no chamado Estado da Índia, Macau e Timor era ténue, e os Estados à volta poderosos, as soluções militares para resistir eram impensáveis. Futscher Pereira socorre-se lapidarmente de texto para ir relevando o desenrolar dos acontecimentos. Logo um estrato de Barradas de Oliveira num relatório confidencial a Salazar:
“ (…) o nosso contacto com Timor deu-nos a impressão de uma ilha onde os portugueses tivessem acabado de desembarcar, sem tempo ainda para promover o progresso da terra e a cristianização as almas”.
Os acontecimentos sucedem-se a ritmo alucinante na China, a partir de Outubro de 1949, está instalado o comunismo, foram inúmeras as exigências chinesas, houve que ceder até se constituir o modelo que a República Popular aceitou, com regras que definiu, Macau e Hong Kong. Estas pressões são totalmente omitidas à opinião pública, o que se mostra é a pompa com que se recebe o generalíssimo Franco, entretanto trasveste-se o império colonial em províncias ultramarinas. Mas o fenómeno anticolonial vai-se aprofundando, a União Indiana captura Dadrá e Nagar-Aveli, em Bandung reúnem-se líderes que mais tarde constituirão o movimento dos não-alinhados, a expulsão das potências coloniais está na ordem do dia.
Futscher Pereira tem dotes ímpares para animar os acontecimentos e na segunda parte da sua obra, que titula por Choque com o Terceiro Mundo, é particularmente feliz quando põe em marcha as peças do puzzle que passam pelas Nações Unidas a fazer perguntas com base no artigo 73, temos sempre a sensação de que o país vive num cenário glorioso, caso da visita de Isabel II em 1957, segue-se o torvelinho da candidatura Delgado que, para além de ter obrigado o regime a uma escabrosa manigância eleitoral, deixa Salazar definitivamente amargado ao reconhecer que o regime que instituiu está larvado de descontentamento.
A África resvala para a independência, as grandes potências cedem à inevitabilidade, o General de Gaulle desabafa com o diplomata Alain Peyrefitte:
“Acha que eu não sei que a descolonização é desastrosa para África? Que a maior parte dos africanos está longe de ter alcançado a nossa Idade Média europeia? Que vão outra vez conhecer as guerras tribais, a bruxaria, a antropofagia? Que 15 ou 20 anos a mais de tutela nos teriam permitido modernizar a sua agricultura, dotá-los de infraestruturas, erradicar completamente a lepra, a doença do sono, etc? Os americanos e os russos acham que têm vocação para libertar os povos oprimidos e encorajam-nos a exigir cada vez mais. O que devia ter sido escalonado ao longo de 50 anos consumou em dois ou três meses. Mas não nos podíamos opor”.
A independência da Guiné Conacri é o primeiro sinal de alarme, houve mesmo quem pensasse que era dali que partiria o primeiro surto de guerrilha. A crise do Congo faz perder as ilusões, anda-se devagar, retardam-se decisões. Só que 1961é um furacão do princípio ao fim, ainda por cima a eleição de Kennedy iria contribuir para alterar a correlação de forças a favor dos nacionalistas africanos. Portugal passa a ser condenado nas Nações Unidas e no início de 1961 Angola torna-se um barril de pólvora, um antigo aficionado de Salazar, Henrique Galvão, sequestra o navio Santa Maria em alto mar, há parangonas na imprensa de todo o mundo. Salazar reage, procura-se rodear de gente dinâmica como Adriano Moreira, Correia de Oliveira e Franco Nogueira, suspira-se temporariamente de alívio com a reconquista de Nambuangongo. Só que o ano termina para o regime da pior maneira: o Estado da Índia desaparece em poucas horas. O autor questiona sobre a rigidez e a intransigência do regime. Passara a ser doutrina que não merecia discussão: sem África, Portugal não tinha razão para existir, este argumento era obviamente o biombo para outro, como o autor observa:
“O que estava em causa em África não era a sobrevivência do país, era a sobrevivência do regime. Salazar era o Estado Novo, e o Estado Novo era Portugal. A identificação era tão sólida, dogmática e duradoura que não havia margem de flexibilidade e evolução. O rumo estava traçado há muito e era impossível alterá-lo. Zelosos dos seus privilégios, os guardiões do templo da nacionalidade, reunidos em volta de Salazar, não consideravam possível mudar nada sem que tudo desabasse”.
A leitura é imperdível e ficamos à espera do relato correspondente à história diplomática correspondente aos últimos combates.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 8 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17331: Notas de leitura (954): Ruy Cinatti e uma viagem a Bolama, 1935, em “O Mundo Português”, revista de cultura e propaganda, arte e literatura coloniais, o seu número 24, de Dezembro de 1935 (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Guiné 61/74 - P17347: Inquérito 'on line' (112): Fátima: num total preliminar de 20 respostas, cerca de 2/3 foi lá "como simples turista ou em passeio"... Prazo de resposta: dia 17, 4ª feira, até às 16h53
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A capelinha construída no tempo do nosso saudoso Zé Neto (1929-2007)... Havia três imagens da N. Sra. de Fátima, de diversos tamanhos... Reduzida a escombros, a capela foi reconstruída pela AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, sob a liderança de outro nosso grande e saudoso amigo, o Pepito (19949-2014). O Zé Neto já não viveu o suficiente para assistir à reconstrução da "sua" capela. Mas foi lá a sua viúva, a Júlia Neto. (*)
Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento. (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Nucleo Museológico Memória de Guiledje > 2010 > A imagem de Nossa Senhora de Fátima, acabada de sair da embalagem que a protegeu durante a longa viagem Portugal-Guiné-Bissau. Imagem doada por António Camilo (Lagoa) e Luís Branquinho Crespo (Leiria / Coimbra).
Foto: © António Camilo (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
I. INQUÉRITO 'ON LINE':
"FUI COMBATENTE, NUNCA FUI A FÁTIMA"...
(ADMITE-SE MAIS DO QUE UMA RESPOSTA)
As 20 primeiras respostas (até ao princío da noite de hoje):
1. Fui lá ainda em miúdo ou ainda antes de ir para a tropa
8 (40%)
2. Fui lá,.como militar, antes de ir para o ultramar
0 (0%)
3. Fui lá logo depois de vir do ultramar
1 (5%)
4. Só fui lá muitos anos depois (de vir do ultramar)
5 (25%)
5. Fui lá como verdadeiro peregrino ou crente
2 (10%)
6. Fui lá como simples turista ou em passeio
13 (65%)
7. Nunca fui a Fátima mas ainda gostaria de lá poder ir
0 (0%)
8. Nunca fui a Fátima nem tenho especial interesse em lá ir
0 (0%)
Prazo de resposta: até dia 17 de maio, 4ª feira, às 16h53. (**)
II. É difícil encontrar um português que não tenha ido a Fátima, pelo menos uma vez na vida.
O fenómeno de Fátima é mais velho do que todos nós: vai fazer 100 anos este ano. Inevitavelmente, estão a surgir diversos livros, documentários, filmes (***) e outros eventos, celebrando a efeméride. E o papa Francisco vai estar amanhã entre nós.
Fátima também esteve presente na vida (espiritual) de alguns de nós, que fomos mobilizados e combatemos na guerra do ultramar / guerra colonial. Na Guiné, ergueram-se capelas, nos nossos aquartelamentos, sob a invocação de N. Sra. Fátima. Guileje foi um exemplo. Mas não sabemos qual foi a extensão do culto mariano em tempo de guerra. Em peregrinação ou não, alguns de nós fomos entretanto a Fátima nessa altura ou então mais tarde.
Seria interessante que quem foi combatente (na Guiné ou nos outros teatros de operações) pudesse responder a este questionário até 4ª feira: pode-se dar mais do que uma resposta:
(i) se alguma vez foste ou não a Fátima;
e (ii) e no caso de teres ido, se foste como peregrino ou crente, ou como simples turista.
(iii) nunca fui a Fátima mas ainda gostaria de lá poder ir;
ou (iv) nunca fui a Fátima nem tenho especial interesse em lá ir.
Seria bom atingirmos as 100 respostas.
Seria bom atingirmos as 100 respostas.
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 29 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5726: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (10): A inauguração da capela, em 20 de Janeiro, na presença do embaixador de Portugal (Pepito)
(**) Último poste da série > 10 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17343: Inquérito 'on line' (111): num total de 34 respondentes, participantes dos nossos últimos oito encontros anuais (total 1282), mais de dois terços estão globalmente satisfeitos com o local (Monte Real) e o hotel (Palace Hotel de Monte Real) escolhidos
Guiné 61/74 - P17346: Convívios (798): 23º Encontro do Pessoal de Bambadinca, 1968/71, CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, e outras subunidades: Viseu, 27 de maio, sábado... Inscrições até 13 de maio. Organização: Manuel Santos Almeida (Fernando Sousa, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, 1961/71)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Na primeira fila, da esquerda para a direita,
(i) o "Paranhos", padeiro;
(ii) Francisco Magalhães Moreira, capitão da equipa (alf mil op esp, cmdt do 1º Gr Comb, Santo Tirso);
(ii) Francisco Magalhães Moreira, capitão da equipa (alf mil op esp, cmdt do 1º Gr Comb, Santo Tirso);
(iii) António Manuel Carlão (alf mil at inf, cmdt do 2º Gr Comb, destacado depois a equipa do reordenamento de Nhabijões; vive em Fão, Ermesinde);
(iv) Abílio Soares, que vivia em Lisboa, já falecido;
e (v) Arlindo Teixeira Roda (fur mil at inf, 3º Gr Comb, natural de Pousos, Leiria, vive em Setúbal);
na segunda fila, de pé:
(vi) guarda-redes João Rito Marques (1º cabo quarteleiro, ou Manutenção de Material; vive no Souto, Sabugal);
(vii) Fernando Andrade de Sousa (1º cabo aux enf, vive na Trofa);
(viii) Arménio Monteiro da Fonseca (sold at inf, natural da Campanhã, vive no Porto);
(ix) Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares (1º cabo escriturário, vivia em Oliveira do Douro, faleceu em 29 de agosto de 2015] (*);
(x) Manuel Alberto Faria Branco (1º cabo at inf, vive na Póvoa do Varzim);
e (xi) Ernesto A. M. Rocha, 1º cabo at inf, 4º Gr Comb, que veio substituir o 1º cabo at inf António Pinto, também evacuado para o HMDIC; morada atual desconhecida, [Vd. composição orgânica da CCAÇ 25690 / CCAÇ 12].
Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Legendagem: Fernando Sousa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
(iv) Abílio Soares, que vivia em Lisboa, já falecido;
e (v) Arlindo Teixeira Roda (fur mil at inf, 3º Gr Comb, natural de Pousos, Leiria, vive em Setúbal);
na segunda fila, de pé:
(vi) guarda-redes João Rito Marques (1º cabo quarteleiro, ou Manutenção de Material; vive no Souto, Sabugal);
(vii) Fernando Andrade de Sousa (1º cabo aux enf, vive na Trofa);
(viii) Arménio Monteiro da Fonseca (sold at inf, natural da Campanhã, vive no Porto);
(ix) Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares (1º cabo escriturário, vivia em Oliveira do Douro, faleceu em 29 de agosto de 2015] (*);
(x) Manuel Alberto Faria Branco (1º cabo at inf, vive na Póvoa do Varzim);
e (xi) Ernesto A. M. Rocha, 1º cabo at inf, 4º Gr Comb, que veio substituir o 1º cabo at inf António Pinto, também evacuado para o HMDIC; morada atual desconhecida, [Vd. composição orgânica da CCAÇ 25690 / CCAÇ 12].
Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Legendagem: Fernando Sousa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > O Fernando Andrade Sousa, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), em segundo plano, tendo ao lado a esposa, Maria Barros (Trofa).
Em primeiro plano, á direita, o António Fernando Marques, ex-fur mil CCAÇ 12, e Manuel Viçoso Soares, à esquerda, ex-fur mil, CART 2520 (Xime e Quinhamel (1969/70), Três camaradas que estiveram no setor L1 (Bambadinca), na mesma altura.
Foto: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. O Fernando Andrade Sousa, que veio pela segunda vez ao Encontro Nacional da Tabanca Grande, pediu-me que divulgasse, no blogue, o anúncio deste convívio, que este ano vai ser em Viseu, no dia 27 de maio, sábado.
A organização está a cargo de Manuel Santos Almeida. cuja convocatória a seguir se reproduz. O Fernando Sousa, camarado que muito estimo, é totalista de todos os encontros do pessoal de Bambadinca 1968/71. O António Fernando Marques, meu camarada de infortúnio, igualmente da CCAÇ 12, também não costuma falhar. Este é o 23º encontro. O 1º foi em 1994, em Fão, Esposende.
Este ano vai ser homenageado o Tibério Gomes Rocha (sold cond auto, da CCAÇ 12; vivia em Viseu, faleceu em 6/12/2007).
Nota do editor:
Últim poste da série > 8 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17332: Convívios (797): XXIV Encontro do pessoal do BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 3 de Junho de 2017, em Coruche (António Tavares)
Guiné 61/74 - P17345: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (20): os representantes da "frota celestial" (FAP) e o Johnnie Walker black label 12 years old, oferecido à malta pelo Tony Borié ("from America with love")
Foto nº 1 > A feliz contemplada com o "Johnnie Walker black label 12 ears old", oferecido pelo Tony Borié à Tabanca Grande, na pessoa do editor Luís Graça... Do lado direito, o Carlos Silva.
Foto nº 2 > A Elisabete, esposa do Francisco Silva, a Giselda e o Carlos Silva... "Então, não vai um golinho?", parece perguntar a nossa querida aniversariante e histórica camarada Giselda, a primeira a entrar para a Tabanca Grande.
Foto nº 3 > O ten gen pilav ref António Martins de Matos, e o Zé Manell Cancela (Penafiel) e a nossa "bar(wo)man" Giselda
Foto nº 4 > O Joaquim Mexia Alves, a "jogar em casa"... à direita, a esposa Catarina...
Foto nº 5 > Uma mesa só com gente da "frota celestial" (FAP): um antigo piloto de DO 27, o Silvino Correia d'Oliveira (Leiria), o António Martins de Matos (ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74) e a Giselda Pessoa... a nossa sempre amável, prestável e (e)terna enfermeira paraquedista...
Foto nº 6 > O António Martins de Matos (Lisboa)
Foto nº 7 > A "periquita" (em matéria... tabancal) enfermeira paraquedista Maria Arminda Santos (uma das primeiras a chegar ao TO da Guiné)
Foto nº 8 > Os dois setubalenses, o nosso colaborador permanente Hélder Sousa e a Maria Arminda
Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017
Fotos: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Foto nº 9 > Águeda, 18 de Outubro de 2016 > Tony Borié e Carlos Vinhal > Em visita a Portugal, o Tony Borié (ex-1º cabo cripto, Comando de Agrupamento 16, Mansoa, 1964/66), bem sucedido e integrado "tuga" no "melting pot" americano, fez questão de se encontrar, em Águeda, com dois dos nossos editores, em Àgueda (**).
Por razões de disponibilidade. avançou o Carlos Vinhal. O Borié trazia uma lembrança para cada um de nós, uma garrafa de Johnnie Walker, rótulo preto, 12 anos... Uísque de cinco estrelas!... A garrafa só seis meses depois, em 29/4/2017, chegaria às mãos do nosso editor Luís Graça...
Em dia de dupla festa (aniversário da Giselda e realização do XII Encontro Nacional), o Luís Graça confiou a garrafa à aniversariante para repartir irmamente o precioso líquido para quem tinha "sede", no fim do almoço, com o cafezinho...
A Giselda, que não bebe, saiu-se muito bem de mais esta inesperada missão, a de "bar(wo)man"... Como estava em terra, e em dia de merecido descanso, não infringiu nenhuma das regras de segurança da "frota celestial"...
Daqui vai um triplo xicoração: (i) para o Borié, que foi superlativamente generoso para connosco; (ii) para a Giselda, que foi superlativamente gentil connosco em dia de anos; e (iii) para o Carlos Vinhal que foi superlativamente competente, enquanto "intermediário" entre mim e o Tony Borié. (LG)
Foto: © Carlos Vinhal (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementra: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]
__________Notas do editor:
(*) Último poste da série > 8 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17334: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (19): Por mim, manteria o sítio, o hotel, e a relação qualidade/preço, melhoraria a refeição principal e, sobretudo, agarraria com unhas e dentes esta oportunidade (histórica, única) de convívio anual entre nós, amigos e camaradas (António Duarte, Lisboa)
(**) Vd, poste de 30 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16658: Atlanticando-me (Tony Borié) (14): O nosso encontro em Águeda
Guiné 61/74 - P17344: Manuscrito(s) (Luís Graça) (118): "Fátima", do realizador João Canijo (Portugal / França, 153', cor, 2017)... Sangue, suor e lágrimas... ou onze mulheres à beira de um ataque de nervos... De Vinhais a Fátima, 430 km, 9 dias... E também aqui ninguém quer ficar para trás... Um filme sobre a caixa de Pandora feminina... A não perder.
Cartaz do filme de João Canijo, com Rita Blanco, Anabela Moreira, Cleia Almeida, Vera Barreto, Teresa Madruga, Ana Bustorff, Alexandra Rosa, Teresa Tavares, Íris Macedo, Sara Norte e Márcia Breia. Produção: Portugal/França - 2017 - 153'/202' - cor.
Fonte: cortesia de Midas Filmes
1. Mais penoso do que ir a Fátima a pé... Há quem tenha dito isso do filme. Na realidade, não é um filme sobre Fátima, as aparições, o culto mariano, a espiritualidade, a transcendência, a religião, a fé, etc.
Nada disso, é um filme sobre o sofrimento e a superação, sobre um grupo de 9 mulheres de Vinhais em peregrinação até Fátima, a pé, no mês de maio de 2016, são 430 km que têm de ser percorridos em 9 dias, à média de 47,777 km por dia... Violento: 5 km por hora, 10 horas por dia... (30 km por dia, em marcha normal, faziam os exércitos de Napoleão Bonaparte!).
Há uma carrinha e uma rulote de apoio, conduzidas por outras duas mulheres, avó e neta: as refeições, as dormidas, os cuidados básicos são efectuados "in loco"... O duche é quando calha, em locais fixos de apoio (bombeiros, etc.).
São duas horas e meia de filme, "on the road", na estrada, na versão mais curta, comercial, que estreou há dias nos cinemas: fui às Amoreiras ver o filme, anteontem, havia na sala 3 dezenas, se tanto, de espetadores, ou melhor de espetadoras: na realidade, os homens eram comigo, dois ou três...
É um filme sobre 11 mulheres e a caixinha de Pandora feminina... Podiam ser homens, mas o João Canijo tinha que fazer este filme com as suas atrizes favoritas... E que bem que elas estão, levando ao limite o seu profissionalismo: (i) estágio em Vinhais, de cerca de 3 meses, para captar o ambiente, trabalhar, viver, conviver, ouvir histórias, apanhar e aperfeiçoar o linguajar e o sotaque das gentes da terra; (ii) idas a Fátima, no "duro", em maiores ou menores percursos; (iii) teste pondo à prova a sua capacidade de resistência física e psicológica, e no limite a sua própria saúde e segurança....
Foram muitos meses de preparação e planeamento, dois meses de filmagens... É um filme português, de um conceituado realizador (João Canijo, nascido no Porto em 1957), de quem vi, e de que gostei muito, O Sangue do meu sangue (2011) (,um grande filme que ficará na história do cinema português e europeu).
Pode faltar densidade sociológica e psicológica ao filme, mas a verdade é que não se pode contar a história de cada umas destas 11 mulheres, mesmo num longa metragem de duas horas e meia... Quais são as suas motivações, os seus valores. as suas crenças, a sua matriz sociocultural ? O que as faz ir em peregrinação, a pé, de Vinhais, no nordeste transmontano, a Fátima, no centro do país, por estradas alcatroadas que não foram pensadas para peregrinos ?
Mais do que a história de cada uma delas, o realizador quis centrar-se no grupo, na dinâmica de grupo, nas múltiplas interações que se estabelecem numa situação-limite como esta, incluindo a liderança, o conflito, o espírito de corpo, a cumplicidade, a solidariedade, a resiliência, a coragem. Ninguém quer ficar para trás, e todas querem provar que são capazes de chegar ao fim. Na paz como na guerra, ontem como hoje, a vida é isso mesmo: sangue, suor, lágrimas e... suspiros.
É um filme que os homens, e sobretudo os misóginos, vão ter dificuldade em ver. A menos que as vejam, a elas, apenas como "gajas"... Mas eu aconselho, vivamente, aos meus ex-camaradas de armas, que passaram, pelos teatros de operações de África, a ver o filme: quantas peregrinações a Fátima não fizemos nós ? E ali, "o sangue, suor e lágrimas" não era uma simples figura de retórica... tal como no filme, que é um filme de realismo radical (como alguém já lhe chamou).
[Para saber mais, ler também o cinecartaz do Público.]
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17329: Manuscrito(s) (Luís Graça) (117): Festa, alegria e folia no XII Festival Internacional da Máscara Ibérica (Lisboa, Praça do Império, Belém, 4-7 maio 2017)... O fascínio da gaita de fole!
Nada disso, é um filme sobre o sofrimento e a superação, sobre um grupo de 9 mulheres de Vinhais em peregrinação até Fátima, a pé, no mês de maio de 2016, são 430 km que têm de ser percorridos em 9 dias, à média de 47,777 km por dia... Violento: 5 km por hora, 10 horas por dia... (30 km por dia, em marcha normal, faziam os exércitos de Napoleão Bonaparte!).
Há uma carrinha e uma rulote de apoio, conduzidas por outras duas mulheres, avó e neta: as refeições, as dormidas, os cuidados básicos são efectuados "in loco"... O duche é quando calha, em locais fixos de apoio (bombeiros, etc.).
São duas horas e meia de filme, "on the road", na estrada, na versão mais curta, comercial, que estreou há dias nos cinemas: fui às Amoreiras ver o filme, anteontem, havia na sala 3 dezenas, se tanto, de espetadores, ou melhor de espetadoras: na realidade, os homens eram comigo, dois ou três...
É um filme sobre 11 mulheres e a caixinha de Pandora feminina... Podiam ser homens, mas o João Canijo tinha que fazer este filme com as suas atrizes favoritas... E que bem que elas estão, levando ao limite o seu profissionalismo: (i) estágio em Vinhais, de cerca de 3 meses, para captar o ambiente, trabalhar, viver, conviver, ouvir histórias, apanhar e aperfeiçoar o linguajar e o sotaque das gentes da terra; (ii) idas a Fátima, no "duro", em maiores ou menores percursos; (iii) teste pondo à prova a sua capacidade de resistência física e psicológica, e no limite a sua própria saúde e segurança....
Foram muitos meses de preparação e planeamento, dois meses de filmagens... É um filme português, de um conceituado realizador (João Canijo, nascido no Porto em 1957), de quem vi, e de que gostei muito, O Sangue do meu sangue (2011) (,um grande filme que ficará na história do cinema português e europeu).
Pode faltar densidade sociológica e psicológica ao filme, mas a verdade é que não se pode contar a história de cada umas destas 11 mulheres, mesmo num longa metragem de duas horas e meia... Quais são as suas motivações, os seus valores. as suas crenças, a sua matriz sociocultural ? O que as faz ir em peregrinação, a pé, de Vinhais, no nordeste transmontano, a Fátima, no centro do país, por estradas alcatroadas que não foram pensadas para peregrinos ?
Mais do que a história de cada uma delas, o realizador quis centrar-se no grupo, na dinâmica de grupo, nas múltiplas interações que se estabelecem numa situação-limite como esta, incluindo a liderança, o conflito, o espírito de corpo, a cumplicidade, a solidariedade, a resiliência, a coragem. Ninguém quer ficar para trás, e todas querem provar que são capazes de chegar ao fim. Na paz como na guerra, ontem como hoje, a vida é isso mesmo: sangue, suor, lágrimas e... suspiros.
É um filme que os homens, e sobretudo os misóginos, vão ter dificuldade em ver. A menos que as vejam, a elas, apenas como "gajas"... Mas eu aconselho, vivamente, aos meus ex-camaradas de armas, que passaram, pelos teatros de operações de África, a ver o filme: quantas peregrinações a Fátima não fizemos nós ? E ali, "o sangue, suor e lágrimas" não era uma simples figura de retórica... tal como no filme, que é um filme de realismo radical (como alguém já lhe chamou).
[Para saber mais, ler também o cinecartaz do Público.]
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17329: Manuscrito(s) (Luís Graça) (117): Festa, alegria e folia no XII Festival Internacional da Máscara Ibérica (Lisboa, Praça do Império, Belém, 4-7 maio 2017)... O fascínio da gaita de fole!
quarta-feira, 10 de maio de 2017
Guiné 61/74 - P17342: Tabanca Grande (436): Luís Branquinho Crespo, autor de "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) aceita o nosso convite para ser o nosso próximo grã-tabanqueiro
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > O Luís Branquinho Crespo (advogado, Leiria) e o António Camilo (empresário, Lagoa) colocando a imagem de N. Sra. de Fátima, na sua base.
Fotos: © António Camilo (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de Luis Branquinho Crespo (autor de "Guiné: um rio de memórias", Leiria, Textiverso, 2017):
[Foto à esquerda, da respetiva página no Facebook]
Data - 10 maio 2017 15:02
7 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17326: Fotos à procura de uma... legenda (85): Nossa Senhora de Fátima de Guileje... a propósito do lançamento do livro de Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)
5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17320: Agenda cultural (557): Lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo. Sábado, 6 de maio, às 15h30, em Leiria, no Celeiro da Casa do Terreiro. Apresentação do nosso camarada António Graça de Abreu. O autor fez parte do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.
Assunto - Rio de Memórias
Meu Caro Luís Graça
Muito obrigado pela ousadia em escrever-me e sobretudo pela franqueza da sua carta (*). Muitos "chutariam" para o lado uma justificação e nem sequer se arriscariam a dizer a verdade. Ainda bem que assim é.
Correu muito bem a apresentação do livro, pode crer.
Com gosto farei parte da Tabanca Grande.
Logo que me for possível mandarei uma fotografia minha do meu tempo de militar e uma actual.
Vou contactar o Dr. António Graça de Abreu para o mesmo vos dar conhecimento do texto de apresentação.
Conheço Guiledje e pertenço aos amigos da capela desse quartel (**), embora o meu tempo tivesse sido no Xitole e no Saltinho. Mas é com muito gosto que depois darei mais dados sobre mim. (***)
Receba um grande abraço deste camarada
Luís Branquinho Crespo
Advogado
Largo da Infantaria 7, n.º 19, 1.º Andar, 2410 - 111 Leiria - Portugal
Tel: (351) 244 843 270 Fax: (351) 244 843 279
Meu Caro Luís Graça
Muito obrigado pela ousadia em escrever-me e sobretudo pela franqueza da sua carta (*). Muitos "chutariam" para o lado uma justificação e nem sequer se arriscariam a dizer a verdade. Ainda bem que assim é.
Correu muito bem a apresentação do livro, pode crer.
Com gosto farei parte da Tabanca Grande.
Logo que me for possível mandarei uma fotografia minha do meu tempo de militar e uma actual.
Vou contactar o Dr. António Graça de Abreu para o mesmo vos dar conhecimento do texto de apresentação.
Conheço Guiledje e pertenço aos amigos da capela desse quartel (**), embora o meu tempo tivesse sido no Xitole e no Saltinho. Mas é com muito gosto que depois darei mais dados sobre mim. (***)
Receba um grande abraço deste camarada
Luís Branquinho Crespo
Advogado
Largo da Infantaria 7, n.º 19, 1.º Andar, 2410 - 111 Leiria - Portugal
Tel: (351) 244 843 270 Fax: (351) 244 843 279
_____________________
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
7 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17326: Fotos à procura de uma... legenda (85): Nossa Senhora de Fátima de Guileje... a propósito do lançamento do livro de Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)
5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17320: Agenda cultural (557): Lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo. Sábado, 6 de maio, às 15h30, em Leiria, no Celeiro da Casa do Terreiro. Apresentação do nosso camarada António Graça de Abreu. O autor fez parte do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.
(**) Vd. poste de 10 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8397: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (16): Ainda a imagem de N. Sra. Fátima doada pelo António Camilo e pelo Luís Branquinho Crespo
Guiné 61/74 - P17343: Inquérito 'on line' (111): num total de 34 respondentes, participantes dos nossos últimos oito encontros anuais (total 1282), mais de dois terços estão globalmente satisfeitos com o local (Monte Real) e o hotel (Palace Hotel de Monte Real) escolhidos
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)
I. Inquérito 'on line':
"ESTOU SATISFEITO COM O HOTEL ESCOLHIDO COMO LOCAL PARA O NOSSO ENCONTRO ANUAL"
Total de respostas > 34
1. Totalmente satisfeito > 17 (50%)
2. Em grande parte satisfeito > 3 (8%)
3. Satisfeito > 4 (11%)
4. Assim-assim > 6 (17%)
5. Não satisfeito > 1 (2%)
6. Em grande parte não satisfeito > 3 (8%)
7. Totalmente não satisfeito > 0 (0%)
Total > 34 (100%)
O prazo de resposta terminou ontem, dia 9, às 13h42. (*)
II. Não é um referendo... Em 12 encontros nacionais, desde 2006, os últimos oito realizaram-se em Monte Real, no Palace Hotel de Hotel Real, com os seguintes nºs de participantes (vd. gráfico acima):
2010 (V, Monte Real, Palace Hotel) > 152
2011 (VI, Monte Real, Palace Hotel) > 126
2012 (VII, Monte Real. Palace Hotel) > 200
2013 (VIII, Monte Real, Palace Hotel) > 131
2014 (IX, Monte Real, Palace Hotel) > 145
2015 (X, Monte Real, Palace Hotel) > 200
2016 (XI, Monte Real, Palace Hotel) > 194
2017 (XII, Monte Real, Palace Hotel) > 134
Total (2010-2017)= 1282 (média anual: 160,25)
Os 4 primeiros encontros (de 2006 a 2009) tiveram uma média anual de 91,5 participantes: o 1º, em 2006 (Ameira, Montemor-O-Novo, Qta da Ameira), o 2º em 2007 (Pombal, Solar do Marquês), e os 3º e 4 (2008 e 2009), na Ortigosa, Quinta do Paúl.
O total de participantes nos nossos 12 últimos encontros foi de 1648.
Responderam ao nosso inquérito apenas 34 participantes. A partir de 30, considera-se um número grande... Mas dificilmente esta amostra pode ser considerada representativa dos 1282 participantes dos nossos últimos 8 encontros nacionais, realizados em Monte Real, no Palace Hotel de Monte Real...
Mas leiam-se os resultados com as reservas habituais neste tipo de inquéritos 'on line' (*): mais de 2/3 da amostra está satisfeita com o local e com o hotel escolhidos...
III. Está já em marcha o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, a realizar em princípio no mesmo local e hotel, em abril de 2018, a data a anunciar pela comissão organizadora.
Sugestões e comentários, com vista à melhoria da organização e funcionamento do nosso próximo encontro, serão bem vindos e analisados pela comissão organizadora. (**)
______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 8 de maio de 2017 > 4 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17317: Inquérito 'online' (110): as primeiras 25 respostas: dois terços dos participantes estão globalmente satisfeitos com o hotel escolhido como local para o nosso encontro anual
Vd. também poste de 2 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17306: Inquérito 'online' (109): avaliação da satisfação dos participantes do Encontro Nacional da Tabanca Grande, deste ano e anos anteriores, que tem sido no Palace Hotel Monte Real, desde 2010... Prazo de resposta: até 9 do corrente, 3ª feira, às 13h49.
(**) Vd. postes de:
Guiné 61/74 - P17341: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (42): O Arturinho do Bonjardim, a relojoaria, o negócio das carnes, os vários circuitos e destinos, até ao reagrupamento do… Bando
O Bando
1. Em mensagem do dia 26 de Abril de 2017, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", enviou-nos mais esta história para a sua série...
Memórias boas da minha guerra
42 - O Arturinho do Bonjardim, a relojoaria, o negócio das carnes, os vários circuitos e destinos, até ao reagrupamento do… Bando
O Alferes Artur Bastos está ligado a algumas das histórias que venho relatando aqui no blogue. Já o referi em “A honra não tem preço” (P16511) e em “O galã de Nhacra” (P15836). Porém, dada a sua ligação e importância da sua convivência com vários companheiros, desde a escola até à guerra da Guiné (e posterior tempo de convívios de ex-Combatentes), julguei oportuno registar com mais pormenor algumas passagens da sua vida.
“…Nos primeiros anos da década de 1920, terminada a Grande Guerra, a instabilidade cresceu: para além dos governos se sucederem a um ritmo alucinante (foram 23 os ministérios entre 1920 e 1926), os atentados bombistas e a forte actividade anarco-sindicalista criavam no país um clima pré-insurreccional que fazia adivinhar um fim próximo para o regime….”
(in Wikipédia – Revolução de 28 de Maio de 1926).
Gomes da Costa e suas tropas desfilam vitoriosos em Lisboa (6 de Junho de 1926)
Foi por essa altura que a Emília do Campo casou com o Zé da Serra. Ela, uma mulheraça carregada de vida, bonita e bastante desejada e ele, um rapagão, capaz de satisfazer o mais exigente patrão madeireiro e qualquer mulher. O desejo de se unirem era mais forte do que a instabilidade política e social reinante. Todavia, esse golpe de 28 de Maio parece ter provocado alguma esperança entre os portugueses (já bastante cépticos quanto à governação republicana).
Em poucos anos, a Emília dera à luz uma meia-dúzia de filhos. Todos saudáveis e robustos como os pais. Porém, mesmo com as medidas rígidas de poupança e restrições, impostas pela crise e pelo novo regime político, a sua sobrevivência tornara-se um grande problema. Foram tempos muito difíceis. Tempos de fome. Tempos em que muitas vezes o trabalho era pago com uma frugal refeição. Desde crianças, muitas das raparigas eram distribuídas na serventia das famílias mais abastadas e muitos dos rapazes eram aproveitados para ajudar nas fábricas e na construção civil. A escola era luxo difícil de conseguir.
Das três filhas assim distribuídas, uma delas foi para o Porto. Foi a Rosita, a tal que sempre se entusiasmava quando a tia Candidinha vinha de visita à terra, por altura da Páscoa, Natal e de outras festas familiares.
A Candidinha foi uma rapariga de sucesso numa casa de putas, na zona do Bonjardim. Dizia-se que ela se havia especializado em Lisboa, junto dos meios republicanos, então muito voltados para a rebeldia e estrangeirismos, modernices ou libertinagem. Era muito disputada pelos frequentadores mais exigentes nesse “negócio de carnes”. Foi tal o sucesso que a Candidinha passou de protegida da Madrinha do Lar para a amiga/amante do senhorio desse Lar das Donzelas. Uns anos atrás, o Senhor Lopes fora abandonado pela sua mulher que o deixara só e que, após algumas tentativas de gravidez falhadas, mudou de homem, talvez na convicção de que o “defeito” era dele. Mais tarde, ela quis regressar mas o Lopes sentia-se muito bem servido com a Madame Candidinha.
A Rosita, embora auxiliasse a tia nos serviços domésticos, teve a oportunidade de frequentar a Escola Primária da Fontinha. Nas visitas à aldeia, a Rosita mostrava algumas saudades dos irmãos e do calor do ambiente familiar. Como as dificuldades continuavam, o pai Zé da Serra, viu que seria oportuna e desejável a entrada de mais uma féria na família. A Rosita lá ficou para trabalhar numa fábrica de cortiça, em Lourosa. Inicialmente não lhe desagradou a mudança mas, cedo se apercebeu de que agora, o futuro que esperava deveria ser diferente. Cresceu e amadureceu naquele ambiente de fábrica, cerimónias de Igreja, festas pagãs e de santos. Em poucos anos, deitou corpo de mulher. Agora, com 16 anos, já se via cortejada pelos rapazes da terra.
Subitamente, a Rosita foi de novo para o Porto. A tia Candidinha adoecera e passava a maior parte do tempo na cama. Pediu para que a Rosita a fosse ajudar, com a promessa aos pais de que, agora, os compensaria monetariamente.
A Rosita apareceu grávida. Há quem diga que isso fora o resultado de um namorico, iniciado com um colega de fábrica, lá de Lourosa. Porém, a Rosinha não queria comprometer o rapaz. Mas, como ela era menor, o pai não aceitava que o assunto ficasse assim. Valeu-lhe a ajuda da tia Candidinha, que a protegeu e lhe assegurou o apoio, até ao nascimento do Arturinho.
O Arturinho foi muito bem recebido pelo Lopes e pela Candidinha. E a Rosita foi ficando por ali, pelo Bonjardim, sem vontade de ir à aldeia mostrar o filho.
Porém, a Emília do Campo veio a ter um problema de saúde e insistiu que deveria ser a filha Rosita a ir ajudá-la. A tia Dina concordou e até gostou de ficar com o Arturinho.
Nos dias que se seguiram, a Rosita encontrou-se com o Eduardo Valente, o tal rapaz com quem ela já havia namorado. O Eduardo mostrou-se interessado em reatar o namoro com a Rosita. Desta vez, ele apareceu bastante credenciado pelo suporte social da pequena empresa corticeira que o seu pai havia criado. A empatia que os ligava veio ao de cima e, em pouco tempo, assumiram apaixonadamente a desejada relação amorosa e amadurecida.
O casamento foi muito bonito. O Arturinho levou as alianças e a tia Candidinha e o Senhor Lopes foram os padrinhos. Até teve vários automóveis. Tínhamos que parar o jogo da bola no largo, para que eles passassem. Eu teria já os meus 7 anos.
A reforçada paixão dos noivos foi tal que nem se preocuparam com a tutela do Arturinho. Embora o Eduardo estivesse convencido de que teria de assumir a paternidade do miúdo, a Rosita conseguiu libertá-lo dessa pressão, facilitando a sua permanência no Porto junto da tia Candidinha. Digamos, de passagem, que o Arturinho, graças ao mimo que o envolvia, sentia-se um principezinho no Bonjardim.
O Artur frequentou a escola primária perto de casa, na Fontinha. Na escola era conhecido por filho do Lopes da Relojoaria e da Dona Nandinha, apesar da idade já um pouco avançada que aparentavam. Não era mau aluno, mas um bocado preguiçoso. Porém, a Mãe Dina sabia impor-lhe a disciplina necessária. Por outro lado, o Pai Lopes era um bolas, entretido com o trabalho da relojoaria e com algumas tardes de pesca, junto à Ponte D. Maria.
Quando o Arturinho passou a frequentar a Escola do Infante Dom Henrique apanhou alguns colegas novos, oriundos de várias zonas típicas do Porto e de outras fora da cidade. Foi desta forma que começou a tomar maior contacto com gentes e costumes portuenses.
Por sua vez, o Arturinho cedo ficou referenciado como o puto vizinho das Donzelas do Bonjardim. É que ele, sem se aperceber, dava o seu endereço que era próximo de uma casa de putas, precisamente por cima de uma loja de relojoaria e jóias. A relojoaria do Pai Lopes era onde, segundo a especificação do Teixeira de Salgueiros, se vendiam os “broches” que eram fabricados ali mesmo por cima. E o Arturinho, muito fascinado nas jóias e relógios do Pai Lopes não fazia ideia dessa actividade “artística”, fora de Gondomar.
Efectivamente, o Arturinho sempre manteve uma ligação privilegiada com as vizinhas do prédio da relojoaria do Pai Lopes. Ainda criança e já sentia o carinho das vizinhas que o beijocavam quando se cruzavam, lá no Bonjardim. E muitas das vezes via lá a Mãe Dina a conversar com a Dona Laidinha (a Madrinha do Lar), aparentando sempre uma boa relação. E sempre recebia alguma carícia doce, acompanhada pelo cumprimento especial:
- O Arturinho está a ficar um homem!
Um dia, podia tê-las ouvido cochichar:
- Olha que ele já deve andar a tocar ao bicho. Qualquer dia temos que o levar lá para cima.
- Já notei isso e confesso-te que ando preocupada. Tenho medo que se meta com as badalhocas, sem controlo sanitário, e lhe peguem alguma doença. E tu sabes bem o que isso é.
- Fica descansada que vou preparar um bom petisco para ele. Vais ver que ele nunca mais vai esquecer as Donzelas do Bonjardim! Quando entenderes que é oportuno, manda-o ir lá acima levar-me um recado, para se ir ambientando.
Ele já sabia qual o verdadeiro ramo de actividade do Lar das Donzelas. E a malta da Escola espicaçou-o de tal forma que ele já passava grande parte das horas livres junto do Pai Lopes. Creio que ele ainda não teria feito os catorze anos. A Mãe Dina mandou-o levar um pequeno embrulho à Dona Laidinha. Ele, surpreendido, fitou-a de tal forma que ela o esclareceu:
- Ó rapaz, não tenhas medo, que elas não te fazem mal nenhum. São mulheres como as outras.
Propositadamente, a Dona Laidinha fê-lo esperar, enquanto lhe mandou servir um refrigerante. Algumas Donzelas estavam em serviço de quarto mas outras vieram cumprimentar o rapaz com reforçados carinhos. Quando vinha a descer as escadas, a Dona Mariota acompanhou-o, para lhe segredar:
- Leva o meu relógio para arranjar. Quando estiver pronto, vem-mo trazer.
Quando o Arturinho chegou à relojoaria junto do Pai Lopes já tinha pensado num esquema:
- Pai Lopes, podias arranjar este relógio de um amigo meu, lá da escola.
A Dona Mariota era já entradota na idade para aquele métier. Era a última das colegas da Madrinha Laidinha e da Madame Candidinha. Mantinha-se ainda ao serviço, graças às suas renovadas capacidades. De cara, já acusa os seus 50 e tal anos mas, do resto, conserva o aspecto de “bambolona”, tão do agrado dos olhares masculinos de quase todas as idades.
Logo que o Arturinho apanhou o relógio arranjado, aproveitou o período da sesta daquele dia primaveril e subiu ao Lar das Donzelas. Entrou e encontrou tudo muito calmo e não se via ninguém. De uma porta entreaberta viu surgir a Dona Mariota que lhe fez sinal para entrar. Recebeu o relógio com manifesta simpatia, puxou-o e abraçou-o agradecida. De seguida, disse-lhe para se sentar na cama e ficar à vontade. Fechou a porta, abriu a camisa e enquanto abanava a saia ligeiramente levantada na frente, dizia:
- Ui que calor!
Mostrou que lhe queria pagar o concerto do relógio mas ele recusou qualquer valor monetário. Cada vez mais grata, ia-lhe manifestando simpatia. Seguidamente, enquanto se coçava sobre a anca direita, voltou-se de costas e pediu-lhe:
- Ó Arturinho, por favor vê se encontras aí alguma coisa. Sinto comichão.
Com a saia levantada, ele regalava os olhos para o seu avantajado traseiro. E como ele dizia que não encontrava nada, ela mandou-o apalpar, mas com cuidado. De repente, virou-se de frente, de forma a aparecer-lhe com a “entreperna” diante dos olhos, e desafiou-o:
- E agora, vês?
Ele sorriu, enquanto ela lhe agarrou numa mão e pousou-a sobre o seu farto e escuro ninho.
- Não tenhas medo. Isto ferra mas não magoa.
Fê-lo levantar, e ao apalpa-lo entre as pernas, exclamou:
- Carago, tens aqui um pedaço de categoria, deixa-me ver.
Sentou-se de pernas abertas, enquanto lhe desapertava a portinhola, para soltar o leão. Desceu-lhe calças e cuecas e pôs-se a fazer-lhe caricias eróticas. Chegou a beijar-lhe o animal. Como ela sentiu que o rapaz já estava bastante excitado e antes que ele ejaculasse precocemente, abriu mais as pernas e encaminhou-o para a desejada penetração. O Arturinho andava nas nuvens; já fora ao pito, já era um homem. Agora parecia ver o mundo de uma forma diferente. E não olhava mulher alguma sem a imaginar de pernas abertas e acessível como a Dona Mariota.
Entretanto, o tempo ia passando mas sempre que se olhava ao espelho, sentia alguma preocupação com a escassez de barba e com o excesso de borbulhas. Na Escola do Infante, onde passava despercebido, agora sentia-se mais homem que os outros. Já discutia sexo com outros colegas mais velhos. E, até, acabou por entusiasmar alguns, que levou ao Lar das Donzelas.
Um dia a Dona Mariota, que lhe andava a dar umas “borlas” às escondidas, disse-lhe que podia marcar com os seus colegas de Escola uns “servicinhos” mais acessíveis e em segredo, mas fora do Lar.
Quando sussurrou essa proposta a alguns colegas, foi surpreendido com o entusiasmo do Marinho da Sé. Inicialmente, imaginou-o demasiado amaricado e um tanto identificado pela popularidade do vizinho Carlinhos da Sé. Depois, ficou bem esclarecido quanto às suas capacidades e experiência no “negócio das carnes”. Não fora a “escola” recebida do tio Júlio, e ninguém lhe imaginaria tais capacidades.
Quando o Arturinho perguntou ao Marinho a confirmação da sessão colectiva, foi logo esclarecido:
- Não te preocupes, já seleccionei a malta que vai, leva a gaja para o sítio combinado, que está tudo organizado.
Quando a Mariota entrou naquela casa abandonada, manifestou logo a sua discordância. Porém, o Marinho acalmou-a e adiantou-lhe uma verba jeitosa, fazendo-a hesitar quanto a uma possível desistência.
O Arturinho foi aguentando mas quando se apercebeu da real situação, tentou reagir. Logo foi ameaçado, especialmente pelos mais velhos, que agora estavam em maior número. O Marinho havia arranjado os clientes, recebera o dinheiro e controlava a situação. A Mariota, que já fora ameaçada e agredida, agora, via-se amarrada sobre uma improvisada cama: o tampo de uma mesa antiga.
À saída, o Marinho estendeu a mão ao Arturinho com algum dinheiro:
- Pega lá e vai buscar a gaja lá dentro.
O Arturinho esquivou-se e respondeu:
- Fica com o dinheiro todo e não me apareças mais.
Revoltado, o Arturinho abandonou a Escola do Infante. Ainda pensou ir para o Liceu Alexandre Herculano mas teve receio de encontrar dificuldades de adaptação às Letras e, também, aos meninos queques, mais frequentes nessa escola. Acabou por se decidir pela Escola Oliveira Martins, onde se veio a sentir muito bem.
Entretanto, sentia-se inibido em voltar ao Lar das Donzelas. Foi precisa a intervenção da Madrinha Laidinha. Ela nada soube do que se passara, mas estranhou o seu afastamento do Lar. Todavia, tinha conhecimento de que ele andara a desenrascar-se minimamente com a Mariota. Pois, a Madrinha esmerou-se em agradar e prender aquele jovem, tido como filho da casa.
Arranjou-lhe um serão espectacular. Meteu-o num quarto onde estava escondida uma jovem menor, acompanhada de uma amiga mais madura. Agarraram-se a ele e atiraram-no para cima da cama. Ele limitou-se a deixá-las despi-lo e descalçá-lo. O resto, foi um mundo de meiguices, de loucura e de prazer. Deram-lhe tudo. Até de comer. Foi nessa fartura que se apercebeu da fama do Bonjardim, onde se comiam os 3 pratos.
O Arturinho adaptou-se facilmente à nova escola. Foi ali que ficou esclarecido sobre os “Chulos da Sé”, os Carteiristas da Costa Cabral e Areosa e dos Pipis da Foz, tidos como ricos. Porém, estes também tinham a fama dos Manteigueiros, devido à pobreza de outros Fozeiros (os da parte velha, mais do lado da Cantareira), sem dinheiro para os cremes protectores solares. Também ficou a saber que os gajos da Ribeira eram tidos como Rufias, os do Marquês e Paranhos tinham a mania de ser Dândis e Cinéfilos, enquanto que os de Campanhã eram famosos pela boa vida, bons passeios e muitas festas. Ah!... e os das Antas eram os Andrades.
Foi com estes que mais conviveu e mais cresceu. E foi com alguns destes amigos que “percorreu” o Porto, desde a Ribeira ao Amial ou do Castelo do Queijo até Campanhã. Também foi com eles que rompeu panos de bilhares e fundilhos das calças nos cafés Embaixador, Palladium, Imperial, Guarani, etc. E com um grupo mais restrito, “passou” para fora do Bonjardim, conhecendo muito do mundo nocturno portuense, do Marquês à Ribeira ou dos Caldeireiros à Trindade ou Santos Pousada.
De tempos a tempos, iam enfiar umas cervejolas na “CUF”, na “Sá Reis” ou no “Pereira”, uns petiscos no “Buraquinho”, “Flor dos Congregados”, na “Mãe Preta” e no “Olho” e umas francesinhas na “casa mãe”, Restaurante Regaleira, precisamente onde foi criada essa famosíssima especialidade da culinária portuense.
A autoria desta criação pode não ser tão debatida como a da Ilíada, mas aqui o Homero é Daniel David Silva, um ex-emigrante que pegou na tradição da tosta francesa (ou croque-monsieur), adicionando-lhe molho, e criando uma iguaria que rapidamente ganhou fama. Corria o ano de 1953 e um dos actuais sócios, Augusto Marinho, era então seu ajudante. Hoje, guarda consigo o segredo do molho (que é bem picante), e mantém a tradição de usar carne assada entre fatias de pão de bijou, o que lhe permite dizer que a sua francesinha é "única". Como os juízos de valor são complicados, só podemos garantir que, por ser tão purista, se trata de uma versão diferente. Augusto Marinho ironiza: "Se tivesse registado a patente, agora éramos donos do mundo."
Enquanto a maioria dos amigos já andava na tropa e na guerra, o Arturinho, que ficara adiado para acabar o curso, ia mantendo a tradição de alimentar alguns dos seus hábitos de vida nocturna. Entretanto, acabara por conhecer a vizinha Lenita, a tal especialista em sexo oral, cuja bicha de clientes, por vezes, se estendia pela estreita escadaria de madeira, desde a entrada até à pequena sala de estar do 1º andar. Curiosa a fama desta “artista” que não admitia que lhe tocassem no corpo, o qual escondia até ao pescoço, enquanto, de mangas arregaçadas, exercia os serviços de criteriosa limpeza das mãos, da boca e do instrumento do cliente.
Também frequentava os bares de streap. Foi no Gata Preta que se perdeu um pouco mais. A Joaninha, a jovem menor que conhecera no Lar das Donzelas, actuava ali em grande estilo. De tal forma que ganhava umas boas coroas. Entusiasmada com o seu relacionamento com o Arturinho, pagava todas as despesas. Ela preocupava-se com o seu aspecto e até insistia que ele deveria puxar o cabelo para trás e assapá-lo com fixador e brilhantina. Um dia levou-o a Sta. Catarina, para lhe oferecer um fato ao seu gosto, um fato escuro de listas largas, inspirado nos personagens do filme “O Padrinho”.
Quando chegou o tempo de tropa já o grupo se havia desfeito. Haviam seguido um para cada lado. O Teixeira tinha ido para as Artes Reunidas, o João fez-se Professor, o Jorge entrou na área Comercial de componentes de Escritório, o Manel seguiu Mecânica, o Jotex foi para Delegado de Propaganda Médica, o Carvalho entrou na Petrogal, o Monteiro andava no Instituto de Contabilidade, o Arturinho em Eng. Civil e o Francisco em Eng. Electromecânica. Com o desaparecimento da malta, foi crescendo a curiosidade de se saber por onde andavam.
Quase por instinto, a malta quando estava livre, passava à tarde pelo Café Progresso, na esperança de encontrar alguém que desse notícias dos outros. E foi assim que se soube que seguiram uns poucos para a recruta nas Caldas da Rainha e para a especialidade em Vendas Novas. E que a estes se juntaram outros, vindos de Santarém e Mafra, os quais se foram misturando por Espinho, Gaia e… Guiné. Por vezes juntos, mas com tempos de serviço diferentes. Desta forma, o Café Progresso foi servindo cada vez mais, como ponto de encontro da malta, cujo percurso muito coincidira em importantes momentos da sua vida.
Dessa malta, lembro bem o Egas e o Rio Tinto, em Santarém, o Delfim no GACA 3 e nos Rangers, o Teixeira, em Catió e o Gonçalves em Vendas Novas e Cufar. Eu conhecia o Arturinho pelas suas origens lá da terra, pela sua família e pelas suas regulares e pontuais visitas. Nunca consegui encontrá-lo durante o serviço militar. Porém, mais tarde, vim a contactar bastante com ele, quando era engenheiro na construção da Barragem de Crestuma. Foi nessa altura que também me contou que o Pai Lopes o declarara único herdeiro, pouco antes de falecer. E que a mãe lhe segredara recentemente, que o Pai Lopes era o seu pai verdadeiro.
Passada a fase da Guerra do Ultramar, cada um fez-se à vida, constituiu família, andou por casa do carago e amadureceu. As visitas ao Café Progresso foram rareando e reduzidas aos mais vizinhos. Até que o Teixeira (Portojo), recentemente falecido, e o Jotex se lembraram de “determinar” que, pelo menos uma vez por mês, se efectuasse um Almoço Convívio, para se perpetuarem a camaradagem e as amizades conquistadas. E até lhe deu um nome: “Bando do Café Progresso - das Caldas à Guiné“.
Com a chegada do Facebook, acentuaram-se os contactos e alargaram-se as relações. Actualmente, o Bando agrupa ex-combatentes com percursos guerreiros diferentes mas de sensibilidades coincidentes.
Agora, para além do bom convívio mensal, onde diversificamos o local, o programa e a componente gastronómica, por vários pontos de interesse do norte de Portugal, mantemo-nos diariamente em contacto, o que tem contribuído imenso para uma boa camaradagem entre todos.
Por outro lado, tem sido maravilhoso poder ouvir, reviver e registar histórias que perdurarão e que vincarão o nosso envolvimento na Guerra do Ultramar.
Nota: - Mais tarde, o Arturinho passou a loja de Relojoaria e Jóias e criou uma Casa de Alterne. Porém (estranhamente!) essa sua iniciativa empresarial viria a tornar-se desastrosa, o que o obrigou a dedicar-se definitivamente aos trabalhos de engenharia.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 1 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17095: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (41): Dimensões guerreiras
Subscrever:
Mensagens (Atom)