Cartaz do filme de João Canijo, com Rita Blanco, Anabela Moreira, Cleia Almeida, Vera Barreto, Teresa Madruga, Ana Bustorff, Alexandra Rosa, Teresa Tavares, Íris Macedo, Sara Norte e Márcia Breia. Produção: Portugal/França - 2017 - 153'/202' - cor.
Fonte: cortesia de Midas Filmes
1. Mais penoso do que ir a Fátima a pé... Há quem tenha dito isso do filme. Na realidade, não é um filme sobre Fátima, as aparições, o culto mariano, a espiritualidade, a transcendência, a religião, a fé, etc.
Nada disso, é um filme sobre o sofrimento e a superação, sobre um grupo de 9 mulheres de Vinhais em peregrinação até Fátima, a pé, no mês de maio de 2016, são 430 km que têm de ser percorridos em 9 dias, à média de 47,777 km por dia... Violento: 5 km por hora, 10 horas por dia... (30 km por dia, em marcha normal, faziam os exércitos de Napoleão Bonaparte!).
Há uma carrinha e uma rulote de apoio, conduzidas por outras duas mulheres, avó e neta: as refeições, as dormidas, os cuidados básicos são efectuados "in loco"... O duche é quando calha, em locais fixos de apoio (bombeiros, etc.).
São duas horas e meia de filme, "on the road", na estrada, na versão mais curta, comercial, que estreou há dias nos cinemas: fui às Amoreiras ver o filme, anteontem, havia na sala 3 dezenas, se tanto, de espetadores, ou melhor de espetadoras: na realidade, os homens eram comigo, dois ou três...
É um filme sobre 11 mulheres e a caixinha de Pandora feminina... Podiam ser homens, mas o João Canijo tinha que fazer este filme com as suas atrizes favoritas... E que bem que elas estão, levando ao limite o seu profissionalismo: (i) estágio em Vinhais, de cerca de 3 meses, para captar o ambiente, trabalhar, viver, conviver, ouvir histórias, apanhar e aperfeiçoar o linguajar e o sotaque das gentes da terra; (ii) idas a Fátima, no "duro", em maiores ou menores percursos; (iii) teste pondo à prova a sua capacidade de resistência física e psicológica, e no limite a sua própria saúde e segurança....
Foram muitos meses de preparação e planeamento, dois meses de filmagens... É um filme português, de um conceituado realizador (João Canijo, nascido no Porto em 1957), de quem vi, e de que gostei muito, O Sangue do meu sangue (2011) (,um grande filme que ficará na história do cinema português e europeu).
Pode faltar densidade sociológica e psicológica ao filme, mas a verdade é que não se pode contar a história de cada umas destas 11 mulheres, mesmo num longa metragem de duas horas e meia... Quais são as suas motivações, os seus valores. as suas crenças, a sua matriz sociocultural ? O que as faz ir em peregrinação, a pé, de Vinhais, no nordeste transmontano, a Fátima, no centro do país, por estradas alcatroadas que não foram pensadas para peregrinos ?
Mais do que a história de cada uma delas, o realizador quis centrar-se no grupo, na dinâmica de grupo, nas múltiplas interações que se estabelecem numa situação-limite como esta, incluindo a liderança, o conflito, o espírito de corpo, a cumplicidade, a solidariedade, a resiliência, a coragem. Ninguém quer ficar para trás, e todas querem provar que são capazes de chegar ao fim. Na paz como na guerra, ontem como hoje, a vida é isso mesmo: sangue, suor, lágrimas e... suspiros.
É um filme que os homens, e sobretudo os misóginos, vão ter dificuldade em ver. A menos que as vejam, a elas, apenas como "gajas"... Mas eu aconselho, vivamente, aos meus ex-camaradas de armas, que passaram, pelos teatros de operações de África, a ver o filme: quantas peregrinações a Fátima não fizemos nós ? E ali, "o sangue, suor e lágrimas" não era uma simples figura de retórica... tal como no filme, que é um filme de realismo radical (como alguém já lhe chamou).
[Para saber mais, ler também o cinecartaz do Público.]
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17329: Manuscrito(s) (Luís Graça) (117): Festa, alegria e folia no XII Festival Internacional da Máscara Ibérica (Lisboa, Praça do Império, Belém, 4-7 maio 2017)... O fascínio da gaita de fole!
Nada disso, é um filme sobre o sofrimento e a superação, sobre um grupo de 9 mulheres de Vinhais em peregrinação até Fátima, a pé, no mês de maio de 2016, são 430 km que têm de ser percorridos em 9 dias, à média de 47,777 km por dia... Violento: 5 km por hora, 10 horas por dia... (30 km por dia, em marcha normal, faziam os exércitos de Napoleão Bonaparte!).
Há uma carrinha e uma rulote de apoio, conduzidas por outras duas mulheres, avó e neta: as refeições, as dormidas, os cuidados básicos são efectuados "in loco"... O duche é quando calha, em locais fixos de apoio (bombeiros, etc.).
São duas horas e meia de filme, "on the road", na estrada, na versão mais curta, comercial, que estreou há dias nos cinemas: fui às Amoreiras ver o filme, anteontem, havia na sala 3 dezenas, se tanto, de espetadores, ou melhor de espetadoras: na realidade, os homens eram comigo, dois ou três...
É um filme sobre 11 mulheres e a caixinha de Pandora feminina... Podiam ser homens, mas o João Canijo tinha que fazer este filme com as suas atrizes favoritas... E que bem que elas estão, levando ao limite o seu profissionalismo: (i) estágio em Vinhais, de cerca de 3 meses, para captar o ambiente, trabalhar, viver, conviver, ouvir histórias, apanhar e aperfeiçoar o linguajar e o sotaque das gentes da terra; (ii) idas a Fátima, no "duro", em maiores ou menores percursos; (iii) teste pondo à prova a sua capacidade de resistência física e psicológica, e no limite a sua própria saúde e segurança....
Foram muitos meses de preparação e planeamento, dois meses de filmagens... É um filme português, de um conceituado realizador (João Canijo, nascido no Porto em 1957), de quem vi, e de que gostei muito, O Sangue do meu sangue (2011) (,um grande filme que ficará na história do cinema português e europeu).
Pode faltar densidade sociológica e psicológica ao filme, mas a verdade é que não se pode contar a história de cada umas destas 11 mulheres, mesmo num longa metragem de duas horas e meia... Quais são as suas motivações, os seus valores. as suas crenças, a sua matriz sociocultural ? O que as faz ir em peregrinação, a pé, de Vinhais, no nordeste transmontano, a Fátima, no centro do país, por estradas alcatroadas que não foram pensadas para peregrinos ?
Mais do que a história de cada uma delas, o realizador quis centrar-se no grupo, na dinâmica de grupo, nas múltiplas interações que se estabelecem numa situação-limite como esta, incluindo a liderança, o conflito, o espírito de corpo, a cumplicidade, a solidariedade, a resiliência, a coragem. Ninguém quer ficar para trás, e todas querem provar que são capazes de chegar ao fim. Na paz como na guerra, ontem como hoje, a vida é isso mesmo: sangue, suor, lágrimas e... suspiros.
É um filme que os homens, e sobretudo os misóginos, vão ter dificuldade em ver. A menos que as vejam, a elas, apenas como "gajas"... Mas eu aconselho, vivamente, aos meus ex-camaradas de armas, que passaram, pelos teatros de operações de África, a ver o filme: quantas peregrinações a Fátima não fizemos nós ? E ali, "o sangue, suor e lágrimas" não era uma simples figura de retórica... tal como no filme, que é um filme de realismo radical (como alguém já lhe chamou).
[Para saber mais, ler também o cinecartaz do Público.]
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17329: Manuscrito(s) (Luís Graça) (117): Festa, alegria e folia no XII Festival Internacional da Máscara Ibérica (Lisboa, Praça do Império, Belém, 4-7 maio 2017)... O fascínio da gaita de fole!
7 comentários:
Respondi no quadrado em fui lá muitos anos depois de regressar por ser a que melhor se enquadra na minha experiência.
O muito tempo afinal, resume-se a talvez a 8 anos.
Mas já tinha passado uma vez quando estava em Abrantes. Vinha de fim de semana a casa, a camionete da carreira teve que avançar a custo por entre a multidão.
Nunca senti o apelo nem mesmo quando estava na Guiné e como disse já estava casado e fazendo um agrado à minha mulher, à minha sogra fui lá depois várias vezes.
Depois a vida dá muitas voltas e quase 30 anos depois de regressar, fui para lá viver, gostei muito da cidade, tive relacionamento fácil com as pessoas com que trabalhei e convivi.
Vi as modificações do Santuário nos últimos 16 anos que põem a muitas léguas a imagem que guardava dele quando fardado passei lá pela primeira vez.
Quanto ao filme tenho grande interesse em vêr
Excerto de notícia da Lusa
Com "Fátima", João Canijo filmou uma peregrinação sobre fé e mulheres
Lusa 12 Abr, 2017, 10:18 | Cultura
(...) Para este filme, João Canijo fez ele próprio uma viagem a pá a Fátima, mais curta - de 80 quilómetros -, para perceber o que sente e sofre quem faz esta peregrinação.
Apesar de "Fátima" ter uma base documental, o realizador alerta: "Foi tudo absolutamente estudado". Embora não tenham feito os 400 quilómetros da peregrinação, as atrizes "andaram durante cinco dias sempre juntas e foram filmadas o tempo todo", incluindo a chegada, a 12 de maio, ao santuário de Fátima.
"Portanto, confunde-se, como em tudo, o personagem com a `persona`, mas isso é sempre assim. Os atores nunca saem de si próprios, não se transformam em mais ninguém. E essa confusão também me agrada bastante", disse.
Anabela Moreira explicou à Lusa que a preparação para este filme teve várias fases. As atrizes acompanharam várias peregrinações e também falaram sobre a relação delas próprias com a fé. Só depois é que trabalharam no argumento com base nessa informação toda.
"O João fala sempre: `Não é mimetização é deixar contagiar. Não tentas imitar nada`. Houve uma dificuldade acrescida, que foi o sotaque. Tentar ser contagiado por aquela forma de estar, de ver o mundo, de pensar sobre deus, sobre a vida, sobre as pessoas sobre o comportamento da mulher e do homem", recordou a atriz.
No caso de Anabela Moreira, a criação da personagem implicou trabalhar num supermercado e no campo, a cuidar de porcos e vacas.
"É um privilégio poder trabalhar assim. Em vez de estar a trabalhar sobre a imaginação, ganhas memórias reais daquela outra vida no dia-a-dia. Acabas mesmo por viver aquilo. Aquilo foi parte da minha vida", disse.
Antes de chegar aos cinemas, "Fátima" será mostrado em antestreia em Vinhais. (...)
Fonte: RTP Notícias (com a devida vénia)
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/com-fatima-joao-canijo-filmou-uma-peregrinacao-sobre-fe-e-mulheres_n994845
Só fui a Fátima passado alguns anos do regresso da Guiné. Tenho muito respeito pelas pessoas que fazem este tipo de promessa "ir a pé a Fátima" por algum motivo!... assim sendo e tendo em conta de quem promete tem de cumprir, eu, apesar de ter passado por flagelamentos no Quartel do Xime nunca me atrevi a prometer fosse o que fosse por sentir que poderia não cumprir. Recordo que havia camaradas que faziam promessas de rastejarem do início do recinto até ao Santuário, chegavam ensanguentados. Pronto é a ideia de cada um.
SdC
Fui a Fátima quando era puto, e tinha fé, e só lá voltei cinquenta e tal anos depois... Somos todos "sociologicamente" católicos, mas acho que Fátima tem muito mais a ver com espiritualidade do que com religião...
A exploração turística de Fátima era inevitável. Num país como o nosso, o turismo religioso tem muito peso... Mas mau seria que nos viessem visitar só por este ou aquele motivo... Tudo o que é humano, me interessa, se bem que eu não seja um estudioso de Fátima... Irei mais depressa visitar o Templo de Epidauro, na Grécia, no Peloponesa, berço mítico da nossa medicina mágico-religiosa e depois racional com a escola hipocrática (sec. V a.C.), do que voltarei a Fátima...
Antes do 25 de abril tenho impressão que se usou e abusou de Fátima... Não era por acaso que falávamos dos 3 F (Fátima, Futebol e Fado)... Mas tenho todo o respeito para quem lá ia (e lá vai) como verdadeiro peregrino ou crente...
Houve camaradas nossos que lá foram "pagar promessas"... Seria interessante podermos partilhar aqui, no nosso blogue, essas exepriências de fé... Tal como no templo de Epidauro, há 25 séculos atrás, a fé, em Fátima ou noutro "lugar sagrado", pode "curar"... A medicina psicossomática ajuda compreender e até explicar essas "curas"... A espiritualidade (não confundir com crendice) ajudou muitos de nós a lutar e a sobreviver no TO da Guiné...
Corremos sempre o risco de sermos mal interpretados: ao falar de Fátima, não estamos a falar de religião (nem muito menos da Igreja Católica Apostólica Romana sob cuja jurisdição canónica está o santuário mariano de Fátima, sito no concelho de Ourém, Portugal, União Europeia...).
Estamos "interditos", no nosso blogue, de falar de 3 coisas, a famosa trilogia PolRelFut - Política, Religião e Futebol... Em contrapartida, podemos falar de outras coisas boas da vida, como comida e sexo, que são coisas que não há... no céu (nem muito menos no inferno da concorrência....).
Mas já que falamos de Fátima, a 24 horas da chegada do Santo Padre Francisco a território português, deixem-me, caras leitoras e caros leitores, fazer uma (in)confidência: mão sei qual é mais temível, se a caixa de Pandora feminina, se a masculina... Em bando, as mulheres conseguem ser, por vezes, mais requintadamente cruéis, mas continuam a ser "recoletores"; os homens, por seu turno, rapidamente descem à sua ancestral condição de caçadores e predadores, submetendo-se mais facilmente à "tirania" de um macho alfa...
Os papéis estão-se a inverter... As "recoletoras" são hoje "caçadoras" e, porque não, "predadoras": a "dama de ferro" ganhou a guerra das Malvinas....
Não sei como seria este filme, "Fátima", realizado por uma mulher... João Canijo, macho, viu e valorizou o conflito entre elas (sempre muito mais verbal e psicológico do que físico...), o sofrimento, o silêncio, a ruptura, a histeria... mas também a redenção: as mulheres seriam muito mais cuidadoras e, em última análise, consistentes e gregárias...
Estereótipos sobre o masculino/feminino ?... Sejam, mas que somos diferentes, muito diferentes, lá isso somos. Ou fizeram-nos ser.... Em 1917m entre os "pastorinhos" e as "mulheres" não havia grandes diferenças... Os homens infantilizavam-nos, a uns e a outras...
Nossa Senhora da Aparecida em Balugães, Barcelos
PRIMEIRA APARIÇÃO MARIANA EM PORTUGAL
“ Era, numa tarde cálida de Agosto de 1702, andava um pequeno pastor, de nome João, a guardar, como de costume, o seu rebanho, no monte de Castro de Balugães, a três léguas ao norte de Barcelos; de súbito, se desencadeou uma trovoada, medonha; o pequeno, entrando-se de medo, sem poder reunir o espavorido rebanho, viu-se compelido a procurar abrigo no desvão duma lapa, no lugar em que o surpreendera a tempestade. A emergir de um envoltório de luz suave, apareceu-lhe a Senhora, que lhe perguntou a razão do seu espanto; e ele, que nascera mudo, desprendendo-se-lhe a fala, responde-lhe que chora de susto. Anima-o a Virgem, e diz-lhe que vá prevenir o pai (este era pedreiro) que era seu desejo lhe construí-se ali uma ermida.
Correu a criança a comunicar as ordens recebidas; mas o pai não lhe deu crédito, nem, ao menos, inquiriu do filho a razão daquela estranha mudança, pois vi-o agora a falar. Volta no dia seguinte ao monte o pastorinho, que desta vez chorava de fome; apareceu-lhe de novo a Senhora a reiterar o pedido, a fim de o alentar e de reduzir a incredulidade daquele pai insensível, adverte que vai mudar em pedaços de pão alvíssimo as migalhas, quase esgotadas, do pão negro do alforge que sobrava o esfomeado zagal; da mesma sorte, deste pão de milagre, o forno vazio da sua casa o pai encontraria repleto a mais não caber. E o duplo milagre deu-se».
Fonte: http://www.balugaes.maisbarcelos.pt/…
- Não sei se é a mesma senhora, ou será!... nem percebo porque não lhe dão tanta importância como a de Fátima, nem é tão conhecida, sei que fica no norte, no Alto Minho, apareceu em 1702!...
SdC
A Srª da Aparecida em Balugães, Barcelos comemora-se a todos 15 de Agosto, onde dezenas de freguesias do concelho de Barcelos, Viana do Castelo, Ponte de Lima ali se deslocam em peregrinação.
SdC
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