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terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24922: Fichas de unidade (32): CCAÇ 15 (Bolama e Mansoa, 1970/74); divisa: "Taque Tchife" (Agarra à mão)

Crachá e brasão da CCAÇ 15 


Fichas de unidade > Companhia de Caçadores nº 15

Identificação: CCaç 15

Cmdt:

  • Cap Inf Manuel José Reis do Nascimento
  • Cap Inf Luís da Piedade Faria
  • Cap Mil Inf João Nuno Rocheta Guerreiro Rua
  • Cap QEO José Eduardo Marques Patrocínio
  • Cap Inf Idílio de Oliveira Freire
  • (oficial n/ identificado)
  • Alf Mil João António de Magalhães

Divisa: "Taque Tchife" (Agarra à mão)"

Início: 29Jan70 | Extinção: finais de Ju174

Síntese da Actividade Operacional

Foi constituída e organizada no CIM, em Bolama, com quadros e algum pessoal especialista metropolitano e o restante pessoal natural da Guiné, da etnia Balanta, sendo inicialmente designada por CCaç Balanta e tomando a designação de CCaç 15 a partir de 28Fev70.

 Após a instrução inicial, efectuou a IAO no CIM, em Bolama, de IS a 28Fev70.

Em 04Mar70, deslocou-se para Mansoa, a fim de substituir a CCaç 2857 na  função de intervenção e reserva do sector, tendo actuado em diversas operações na região de Locher-Changalana, na interdição da ligação Sara-Sarauol e na segurança e protecção de itinerários e dos trabalhos das estradas Mansoa-Bissorã e Jugudul-Bambadinca. 

Destacou ainda pelotões para reforço de outras guarnições, nomeadamente de Mansabá, de 08 a 25Nov70 e de Cutia, de 27Nov70 a finais de Mar71).

Em finais de Ju174, foi desactivada e extinta.

Observações - Tem História da Unidade até 31Mar72 (Caixa n." 130 - 2." Div/4." Sec, do AHM).

Tem 22 referências no nosso blogue. Na Tabanaca Grande temos dois camaradas que pertenceram à CCAÇ 15: o António Sampaio e o Joaquim Mexia Alves.

Fonte - Adapt de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 635
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Nota do editor:

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24916: Notas de leitura (1643): "Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias", por Ireneu de Sousa Mac; Europa Editora, 2022 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2022:

Queridos amigos,
Permitam-me justificar a minha incredulidade face à leitura desta narrativa. Passado meio século, manda a sabedoria do perdão que acompanha os velhos, há ressentimentos, azedumes e horas más que passam para a categoria dos desperdícios. Irineu Mac apresenta-se como uma exceção, di-lo frontalmente: 

"Toda a guerra depois de finda ainda vive em nós. Uma guerra não acaba enquanto houver um último sobrevivente e enquanto os familiares ou amigos que sofreram danos colaterais tiverem memória. Aqui são retratadas as vivências de um miliciano, em jeito de alter ego, forçado a entrar numa guerra de causas e motivações alheias em condições muito adversas".

 É uma narrativa confessional, onde a guerra propriamente dita e a sua relação com os outros merece escassos parágrafos, no entanto, terá vivido uma experiência bem dura em territórios marcadamente hostis em derredor de Mansoa, foi cofundador e professor na escola regimental de Mansoa, voluntariou-se na escola primária da aldeia na preparação para exames de 4.ª classe, são assuntos tratados de raspão, questionamos porquê, numa narrativa onde o timbre é dado pelos tais azedumes e recordações de que a idade nos liberta, tal como ele observa nos encontros de ex-combatentes teimamos nesta bonomia de avançar para o outro de braços abertos.

Um abraço do
Mário



Lembranças da CCAÇ 15 (1970-1971), com amargores e ressentimentos

Mário Beja Santos

É cada vez mais raro encontrar nas obras de cunho memorial sobre a guerra colonial algo que fez parte da 1.ª fase deste ramo literário: os ajustes de contas, a revolta incontida pelos comportamentos militarões, o azedume pelo facto da tropa ter impedido os estudos, a catilinária sobre a absurdez e a perversidade daquelas guerras. 

A idade e o peso da memória fazem outros escrutínios, é aquela sabedoria em que o fel e a bílis já não têm papel na nossa vida. Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias, por Ireneu de Sousa Mac, Europa Editora, 2022, é uma história pessoal de um furriel miliciano que pertenceu à Companhia de Caçadores Nativos, a 15, sediada em Mansoa. Revela que lhe interromperam os estudos, que o mundo desabou à sua volta, estava preste a concluir o 7.º ano de liceu. Quando regressou era uma amostra de si próprio, pesava 54kg com 170cm de altura, já tinha os dois irmãos mais velhos nas penas de África, ainda hoje não consegue esquecer o olhar de despedida e a compaixão de familiares e amigos quando lhe disse que ia para a Guiné. 

A guerra não acabou para Mac. É a vivência na Guiné que ele vai relatar. Antes, porém, conta-nos que estudou num colégio privado, chegou o dia mais infeliz da sua vida, assentou praça nas Caldas da Rainha, confessa que nunca foi capaz de abrir o baú e deixar que as memórias viajassem pelo mundo fora. Agora, já está mais descontraído, fala-nos da sopa intragável, dos treinos nas serranias laterais ao rio Séqua, estava desarranchado, tinha um companheiro de quarto que acabou por desertar. 

“As atitudes danosas e injustas da tropa, deixaram ao Mac marcas desagradáveis e de aversão, ainda hoje, à flor da mente e dentro da pele”.

Irineu Mac esboçou a arquitetura sobre a forma de diálogos com o amigo, há pergunta e resposta, e depois de se falar em classificações do curso, ei-lo que parte em rendição individual para CCAÇ Nat 15. 

“O mundo de Mac sofre um segundo terramoto. Faliram os projetos, desabaram os sonhos. Nunca mais o futuro se escreveu da mesma maneira”

E parte, em estado lúgubre, em 3 de fevereiro de 1970. Dá-nos a nota de rodapé a composição do quadro de oficiais, sargentos e praças oriundos da metrópole, juntam-se todos em Bolama, onde diz que as condições de vida eram péssimas. E partem para Mansoa, descobre que não pode vir a férias até à metrópole por ter 8 dias de prisão no cadastro, coisas que se passaram em Tavira, tudo má sorte. Tira carta de condução de mota. Foi forçado a ir votar num cidadão qualquer, coisas de eleições do Estado Novo. Conta a história de uma cobra que se escapuliu para um buraco da bota, segue-se um rol de peripécias, mete caça, comida, a vida em Cutia tinha as suas durezas. Não se escapa às considerações erótico-sexuais. Não lhe escapou à memória uma encenação feita para jornalistas estrangeiros, um simulacro de combate na mata, uma autêntica montagem cinematográfica. Há acidentes com armas, fala-se de ataques de abelhas.

Nova confissão, há ressentimentos que pesam: 

“Mac foi impelido para a tropa pela intimação, pela força da lei e dos homens dominados, pela obsessão na qual não navega a razão. Ainda tentei, por duas vias, adiar a tropa para a incorporação seguinte. Em especial porque queria muito concluir o ano letivo. Nunca obtive resposta. Voltei com a guerra às costas. Sem bater à porta, fez-se de convidada, entrou sem autorização e sentou-se à mesa da vida. Enquanto a malária, de febre em riste, entrava pelo postigo, pelas frestas das janelas e pelos interstícios dos telhados. Mas não penses que foi fácil regressar. Inventavam atrasos atrás de adiamentos. Já nos íamos adentrando pelo 25.º mês e ainda não tínhamos sido substituídos. Quanto mais o tempo passava, mais o medo aumentava e a coragem e a vontade de arriscar escasseavam. Ninguém queria morrer ao quebrar da onda na areia”.

Há referências esporádicas a operações, patrulhamentos, situações de fogo cruzado. E vem a história de Zé Mamede que em outubro de 1970 abalou de Mansoa em direção ao seu destacamento, Infandre. Chegou notícia cerca do meio-dia de ter havido uma emboscada entre Braia e Infandre, foi logo gente em auxílio. 17 feridos, 10 mortos, entre eles o Zé Mamede. O alter ego de Mac pergunta-lhe se o Zé Mamede deve ser homenageado enquanto herói, resposta do Mac: 

“O Zé Mamede não é herói. É uma vítima, mortal, inocente, de estratégias alheias e inconsistentes das ideologias reinantes. O Zé é uma vítima de ambições de grandeza desproporcionadas, ultrapassadas e nefastas. O Zé é uma vítima da ambição errónea e condenável de outros. Da opção do orgulhosamente sós”.

Mais adiante, sentencia:

“Jamais psicólogo algum ou alguma psiquiatria salvará do trauma a quem matou mesmo para sobreviver”.

O alter ego de Mac tem acesso à sua correspondência:

“A solidão é a minha companheira. Oh esperança, não me abandones! Fica comigo. Agora. Alimenta e alenta a minha vida em frágil equilíbrio sobre o gume das armas. Agora.” 

Escreveu poesia. Em jeito de rememoração, dá-nos a saber que fazia parte da estratégia de Spínola formar companhias de caçadores nativos de elite, Mac integrou uma força operacional, atuou nas matas cerradas. Deu trabalho, mas ao fim daquele tempo todo, foram metidos num avião, regresso a Lisboa. Ficamos a saber que entre a tropa metropolitana e os soldados africanos houvera solidariedade devido à luta vital conjunta que se travava. E descreve demoradamente as peripécias do regresso. Confessa ao seu alter ego: 

“Não tenho estátua, mas tenho um louvor e uma insígnia. Não me perguntes como nem porquê. Nem sei bem responder. O que posso garantir é que, decerto, não foi pela minha valentia ou por qualquer ato de heroísmo. Acredito que possa ter sido por me voluntariar a instaurar uma escola regimental para os soldados africanos aprenderem a ler. E isso bastou-me para obter benefícios propinários, deu-me direito a isenção de propinas extensível aos filhos. Cumpri deveres porque me sujeitei a eles. Também não abdiquei daquele direito. Contudo, preferia não os ter tido”.

Despede-se do leitor, desta vez sem azedumes nem ressentimentos:

“A guerra tira, mas também dá. Enobreceu em nós o espírito de entreajuda e o sentido da amizade. Continuamos unidos pela amizade construída sobre a solidariedade vivida nas matas do Oio, do Olossato, do Morés, do Changalana, do Locher. Eu sei que, ainda hoje, essa união se mantém na trajetória de muitos ex-combatentes. Eu sei porque tenho observado muitos dos seus almoços-convívios. Paro, sempre extasiado pelos abraços emotivos que vejo”.

Vista parcial do destacamento de Cutia, imagem extraída do blogue Rumo a Fulacunda, com a devida vénia
Localização do destacamento de Cutia
Crachá da CCAÇ 15
Estandarte do CCAÇ 15
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24912: Notas de leitura (1642): Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (1931-1939) - Parte III: A lenda de Ohbapuma (ilha de Orango, arquipélago dos Bijagós)

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24554: Notas de leitura (1606): "Um cripto na terra vermelha da Guiné", por Humberto Costa; 2.ª edição, 2020, Eudito (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2021:

Queridos amigos,
Mais uma edição de autor, tive a dita de a encontrar na Biblioteca da Liga dos Combatentes, um fornecedor sempre generoso. Temos o percurso do cabo Humberto Costa, operador cripto em Mansoa e Bissau, foi coligindo notas do seu itinerário desde a recruta à disponibilidade. Homem manifestamente sociável, atento à miséria das populações, realça aspetos divertidos e bizarros que a tropa sempre oferece. Não há nenhuma farronca, não se disfarça de herói o combatente, diz o que sente debaixo de fogo, provou diversas flagelações, e por ser cripto vai tomando nota da atividade operacional do setor de Mansoa. Edição profusamente ilustrada, faltava-nos o depoimento constituído por notas de um cabo cripto quase no final da guerra da Guiné.

Um abraço do
Mário



Um cripto na terra vermelha da Guiné

Mário Beja Santos

É o primeiro livro de Humberto Costa, 2.ª edição, 2020, Eudito (geral@eudito.com), natural de Cedofeita, infância vivida no Monte Aventino, com currículo de grande participação como autarca e desportista; é atualmente presidente do Grupo Dramático do Monte Aventino. Ajunta as suas notas diárias entre 1971 e 1974: recruta em Viseu (8 horas de viagem entre o Porto e Viseu, o comboio era dos antigos com máquina de carvão), conta episódios divertidos de desenfianços e calacices; curso de escriturário em Leiria, nota-se sempre a preocupação em registar o nome de amigos e conterrâneos; curso de operador cripto na Trafaria. Explica-nos o que é ser operador cripto, a natureza das mensagens (romeo – rotina; uniforme – urgente; óscar – imediato; zulo – relâmpago); vai estagiar na Figueira da Foz, nunca se escusa a contar uma boa pilhéria. Chega a Bissalanca em 13 de março de 1972 e segue diretamente para Mansoa, regista as elevadas temperaturas, anota por onde passa:

“Vimos um povoamento, era Infandre, que fica separado de Mansoa pelo rio Mansoa, atravessámos a ponte e entrámos em Mansoa. O quartel estava do lado direito, em frente ficava a vila com uma igreja grande, um cinema ao ar livre, um posto de gasolina, o campo de futebol dos Balantas e o mercado municipal, bem como a igreja. O comércio era exercido maioritariamente por libaneses. Foi colocado na Companhia de Caçadores n.º 15”.

Dá-nos a composição das unidades militares sediadas em Mansoa. Tem batismo de fogo em 31 de março, ataque a Mansoa e Cussaná. Regista o seu espanto de ter visto crianças com latas na porta do refeitório, esperando que os soldados acabassem de comer para irem limpar as mesas e empurrar os restos para dentro das latas. Em 5 de abril há flagelação a Infandre bem como a Mansoa, que sofreu mortos e feridos na população. Dias depois anota que três elementos civis foram vítimas de mina antipessoal.

A obra está repleta de imagens de Humberto Costa, imagens de obuses, rescaldo de flagelações, crianças, patuscadas, a família da lavadeira, jogos de futebol, infraestruturas, e muito mais. Em 27 de abril, regista que numa coluna entre Bissorã e Mansoa rebentou uma mina; em maio fugiu um soldado operador cripto. Vê-se perfeitamente que registou um elevado acervo de sinistros desde emboscadas a flagelações, Mansoa em 26 de junho é flagelada com intensidade. 

“Um foguetão atingiu a torre da igreja junto ao meu local, outro a bomba de gasolina na mesma rua, mas mais ao longe. Estilhaços de granada de canhão sem recuo caíram perto de mim, atirando terra para as minhas costas, então pus a mão e senti húmidas as costas, pensando logo que era sangue. Quando me levantei senti que estava bem”.

Inventaria acidentes, as atividades operacionais da CCAÇ 15, as festas dos seus aniversários passados na Guiné. Está sempre pronto para contar peripécias. Nos seus apontamentos não escusa a deixar notas pessoais como o que se sente debaixo de fogo:

“A tremedeira do nosso corpo, o bater forte do nosso coração que parece mesmo que não vai resistir, a cabeça que pensa rápido, mas fraqueja. Só pensamos em esconder e proteger pelo menos a nossa cabeça. Mas quando se ouve um camarada aos berros, porque foi atingido por um estilhaço ou bala e diz alto ‘vou morrer!’, isto é terrível, sentimos também a dor dos nossos camaradas. A pressão é enorme naquela altura. E então vem o silêncio e nós dizemos que já acabou por hoje. Assim, mais calmos, corremos para os nossos camaradas feridos e para aqueles que estão em estado de choque. No dia seguinte e pela mesma hora estamos todos a olhar para o céu para ver se vem mais guerra”

Dá nota de um acontecimento, durante meio ano aproximadamente foi tempo de pausa na guerra de Mansoa.

Em setembro de 1973 deixou Mansoa para ser integrado no Centro Cripto da CCS do Quartel-General em Bissau. Deixa anotados os encontros com a malta amiga e vizinha, mais um rol de fotografias e escreve nos seus apontamentos em 4 de novembro:

“Ao quartel-general chegou um operador cripto que estava num quartel junto à fronteira com o Senegal. Disse que tiveram de abandonar o quartel depois de um ataque do inimigo. Andaram perdidos durante vários dias. Alguns seguiram o caminho certo e encontraram população ligada às nossas tropas. Outros andaram sem norte, passavam fome e sede, beberam a própria urina para resistir à seca dos lábios. Até que um dia foram avistados. Este operador cripto ao contar isto tremia por todos os lados. O medo era muito forte, não sabiam para onde ir, então corriam para o mato que era mais escondido. Muitos, depois da calma, lá vinham ter com os companheiros, outros perdiam-se”.

Volta a Mansoa em 12 de dezembro, acompanha o seu substituto na CCAÇ 15. Nessa noite foram atacados, teve mais medo porque estava no final da sua estadia em Mansoa. Descreve assim o seu Natal de 1973: 

“Estando eu nos Adidos na véspera de Natal, comi uma posta de bacalhau pequena e duas batatas cozidas para ter algo que me lembrasse o Natal. Comprei dois bolos e uma lata de Fanta”.

 Em 6 de janeiro saiu de Bissau para Lisboa. Os últimos elementos da sua obra são considerações sobre as guerras que travámos em África, mostra curiosas ilustrações da ação psicossocial do Exército Português para atrair as populações do mato e termina o seu trabalho saudando o 25 de Abril.

Posto de gasolina de Mansoa danificado depois de uma flagelação
Igreja Católica de Mansoa
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24549: Notas de leitura (1605): "O Elogio da Dureza", por Rui de Azevedo Teixeira; Gradiva Publicações, 2021 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23346: Notas de leitura (1455): "Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias", por Ireneu de Sousa Mac; Europa Editora, 2022 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2022:

Queridos amigos,

Permitam-me justificar a minha incredulidade face à leitura desta narrativa. Passado meio século, manda a sabedoria do perdão que acompanha os velhos, há ressentimentos, azedumes e horas más que passam para a categoria dos desperdícios. Irineu Mac apresenta-se como uma exceção, di-lo frontalmente: "Toda a guerra depois de finda ainda vive em nós. Uma guerra não acaba enquanto houver um último sobrevivente e enquanto os familiares ou amigos que sofreram danos colaterais tiverem memória. Aqui são retratadas as vivências de um miliciano, em jeito de alter ego, forçado a entrar numa guerra de causas e motivações alheias em condições muito adversas".

 É uma narrativa confessional, onde a guerra propriamente dita e a sua relação com os outros merece escassos parágrafos, no entanto, terá vivido uma experiência bem dura em territórios marcadamente hostis em derredor de Mansoa, foi cofundador e professor na escola regimental de Mansoa, voluntariou-se na escola primária da aldeia na preparação para exames de 4ª classe, são assuntos tratados de raspão, questionamos porquê, numa narrativa onde o timbre é dado pelos tais azedumes e recordações de que a idade nos liberta, tal como ele observa nos encontros de ex-combatentes teimamos nesta bonomia de avançar para o outro de braços abertos.

Um abraço do
Mário



Lembranças da CCAÇ 15 (1970-1971), com amargores e ressentimentos

Mário Beja Santos

É cada vez mais raro encontrar nas obras de cunho memorial sobre a guerra colonial algo que fez parte da 1.ª fase deste ramo literário: os ajustes de contas, a revolta incontida pelos comportamentos militarões, o azedume pelo facto da tropa ter impedido os estudos, a catilinária sobre a absurdez e a perversidade daquelas guerras. A idade e o peso da memória fazem outros escrutínios, é aquela sabedoria em que o fel e a bílis já não têm papel na nossa vida. "Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias", por Ireneu de Sousa Mac, Europa Editora, 2022, é uma história pessoal de um furriel miliciano que pertenceu à Companhia de Caçadores Nativos, a 15, sediada em Mansoa. 

Revela que lhe interromperam os estudos, que o mundo desabou à sua volta, estava preste a concluir o 7.º ano de liceu. Quando regressou era uma amostra de si próprio, pesava 54kg com 170cm de altura, já tinha os dois irmãos mais velhos nas penas de África, ainda hoje não consegue esquecer o olhar de despedida e a compaixão de familiares e amigos quando lhe disse que ia para a Guiné. A guerra não acabou para Mac. É a vivência na Guiné que ele vai relatar. Antes, porém, conta-nos que estudou num colégio privado, chegou o dia mais infeliz da sua vida, assentou praça nas Caldas da Rainha, confessa que nunca foi capaz de abrir o baú e deixar que as memórias viajassem pelo mundo fora. Agora, já está mais descontraído, fala-nos da sopa intragável, dos treinos nas serranias laterais ao rio Séqua, estava desarranchado, tinha um companheiro de quarto que acabou por desertar. 

“As atitudes danosas e injustas da tropa, deixaram ao Mac marcas desagradáveis e de aversão, ainda hoje, à flor da mente e dentro da pele”.

Irineu Mac esboçou a arquitetura sobre a forma de diálogos com o amigo, há pergunta e resposta, e depois de se falar em classificações do curso, ei-lo que parte em rendição individual para CCAÇ Nat 15. 

“O mundo de Mac sofre um segundo terramoto. Faliram os projetos, desabaram os sonhos. Nunca mais o futuro se escreveu da mesma maneira”

E parte, em estado lúgubre, em 3 de fevereiro de 1970. Dá-nos a nota de rodapé a composição do quadro de oficiais, sargentos e praças oriundos da metrópole, juntam-se todos em Bolama, onde diz que as condições de vida eram péssimas. E partem para Mansoa, descobre que não pode vir a férias até à metrópole por ter 8 dias de prisão no cadastro, coisas que se passaram em Tavira, tudo má sorte. Tira carta de condução de mota. Foi forçado a ir votar num cidadão qualquer, coisas de eleições do Estado Novo. Conta a história de uma cobra que se escapuliu para um buraco da bota, segue-se um rol de peripécias, mete caça, comida, a vida em Cutia tinha as suas durezas. Não se escapa às considerações erótico-sexuais. Não lhe escapou à memória uma encenação feita para jornalistas estrangeiros, um simulacro de combate na mata, uma autêntica montagem cinematográfica. Há acidentes com armas, fala-se de ataques de abelhas.

Nova confissão, há ressentimentos que pesam: 

“Mac foi impelido para a tropa pela intimação, pela força da lei e dos homens dominados, pela obsessão na qual não navega a razão. Ainda tentei, por duas vias, adiar a tropa para a incorporação seguinte. Em especial porque queria muito concluir o ano letivo. Nunca obtive resposta. Voltei com a guerra às costas. Sem bater à porta, fez-se de convidada, entrou sem autorização e sentou-se à mesa da vida. Enquanto a malária, de febre em riste, entrava pelo postigo, pelas frestas das janelas e pelos interstícios dos telhados. Mas não penses que foi fácil regressar. Inventavam atrasos atrás de adiamentos. Já nos íamos adentrando pelo 25.º mês e ainda não tínhamos sido substituídos. Quanto mais o tempo passava, mais o medo aumentava e a coragem e a vontade de arriscar escasseavam. Ninguém queria morrer ao quebrar da onda na areia”.

Há referências esporádicas a operações, patrulhamentos, situações de fogo cruzado. E vem a história de Zé Mamede que em outubro de 1970 abalou de Mansoa em direção ao seu destacamento, Infandre. Chegou notícia cerca do meio-dia de ter havido uma emboscada entre Braia e Infandre, foi logo gente em auxílio. 17 feridos, 10 mortos, entre eles o Zé Mamede. O alter ego de Mac pergunta-lhe se o Zé Mamede deve ser homenageado enquanto heróis, resposta do Mac: 

“O Zé Mamede não é herói. É uma vítima, mortal, inocente, de estratégias alheias e inconsistentes das ideologias reinantes. O Zé é uma vítima de ambições de grandeza desproporcionadas, ultrapassadas e nefastas. O Zé é uma vítima da ambição errónea e condenável de outros. Da opção do orgulhosamente sós”.

Mais adiante, sentencia: 

“Jamais psicólogo algum ou alguma psiquiatria salvará do trauma a quem matou mesmo para sobreviver”.

O alter ego de Mac tem acesso à sua correspondência: 

“A solidão é a minha companheira. Oh esperança, não me abandones! Fica comigo. Agora. Alimenta e alenta a minha vida em frágil equilíbrio sobre o gume das armas. Agora.”

Escreveu poesia. Em jeito de rememoração, dá-nos a saber que fazia parte da estratégia de Spínola formar companhias de caçadores nativos de elite, Mac integrou uma força operacional, atuou nas matas cerradas. Deu trabalho, mas ao fim daquele tempo todo, foram metidos num avião, regresso a Lisboa. Ficamos a saber que entre a tropa metropolitana e os soldados africanos houvera solidariedade devido à luta vital conjunta que se travava. E descreve demoradamente as peripécias do regresso. Confessa ao seu alter ego: 

“Não tenho estátua, mas tenho um louvor e uma insígnia. Não me perguntes como nem porquê. Nem sei bem responder. O que posso garantir é que, decerto, não foi pela minha valentia ou por qualquer ato de heroísmo. Acredito que possa ter sido por me voluntariar a instaurar uma escola regimental para os soldados africanos aprenderem a ler. E isso bastou-me para obter benefícios propinários, deu-me direito a isenção de propinas extensível aos filhos. Cumpri deveres porque me sujeitei a eles. Também não abdiquei daquele direito. Contudo, preferia não os ter tido”.

Despede-se do leitor, desta vez sem azedumes nem ressentimentos:

“A guerra tira, mas também dá. Enobreceu em nós o espírito de entreajuda e o sentido da amizade. Continuamos unidos pela amizade construída sobre a solidariedade vivida nas matas do Oio, do Olossato, do Morés, do Changalana, do Locher. Eu sei que, ainda hoje, essa união se mantém na trajetória de muitos ex-combatentes. Eu sei porque tenho observado muitos dos seus almoços-convívios. Paro, sempre extasiado pelos abraços emotivos que vejo”.

Vista parcial do destacamento de Cutia. Foto: César Dias, com a devida vénia
Localização do destacamento de Cutia

Crachá da CCAÇ 15

Estandarte do CCAÇ 15
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23341: Notas de leitura (1454): “La fin de l’empire colonial portugais, Témoignages sur un dénouement tardif et tourmenté”, por Éric e Jeanne Makédonsky; L’Harmattan, 2018 (2) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11368: Blogoterapia (226): Aos 60 regressam em força as amizades, principalmente entre combatentes (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), com data de 8 de Abril de 2013 a propósito do seu aniversário festejado no passado dia 6:

Pois, não estamos a ficar mais novos!

Ontem, passada a “ressaca” do aniversário, pensava cá comigo que a vida tem coisas engraçadas.
Quando somos novos, assim no tempo de crianças e adolescentes, valorizamos muito os amigos, é até o tempo da afirmação dos “melhores amigos”, confidentes, com quem trocamos as nossas confidências mais intimas, sobretudo no campo das namoradas, etc., etc.

Depois vivemos um tempo em que os amigos são importantes mas já não ocupam tanto o nosso pensamento. Vivemos o tempo de afirmação como homens, a família, o trabalho, etc., vão-nos ocupando. Não nos fazem esquecer os amigos, mas colocam-nos, digamos assim, mais longe do nosso dia-a-dia, das nossas prioridades.

E depois chegamos aos tais 60 e daí para a frente!
Regressam então em força as amizades, os grandes amigos, aqueles com quem vamos estando cada vez mais e com quem voltamos a confidenciar a nossa vida.

Então para nós, combatentes, esta “verdade” que acima refiro torna-se uma realidade bem presente, e para confirmar isso mesmo, basta ver a quantidade de razões e argumentos que arranjamos para nos juntarmos, abraçarmos e trocarmos experiências, às vezes retidas até à exaustão, mas que ouvimos como se fosse a primeira vez, para que a seguir possamos também contar a nossa história, porque somos os melhores ouvintes das nossas histórias da guerra, até porque os outros apenas as querem ouvir para delas se servirem, em livros, jornais e até com fins políticos.

Monte Real, Abril de 2013 > Joaquim Mexia Alves com alguns camaradas do Pel Caç Nat 52 (?)
Foto de Rui Silva

E agora não parava de escrever, e isto ia tornar-se chato e pouco legível!

Por isso, toda esta lenga-lenga, (que para mim é verdadeira), serve para vos agradecer as mensagens de parabéns, mas sobretudo a amizade que me quiseram demonstrar no dia dos meus 64 anos.

Obrigado!
Tenho-vos a todos no coração, acreditem!

Um grande e amigo abraço do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alferes Miliciano de Operações Especiais, da CART 3492, do Pel Caç Nat 52, da CCaç 15, isto apenas porque o Carlos Vinhal me quis reduzir à minha mais ínfima expressão “guerreira” … eheheh
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11341: Blogoterapia (225): Agradecimento à tertúlia deste grande Blogue (Carlos Vinhal)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9470: Blogues da nossa blogosfera (49): CCAÇ 4641 (Mansoa e Ilondé, 1973/74) do nosso camarada José Fialho, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAÇ 4641/72







1. É o blogue da CCAÇ 4641 (Mansoa e Ilondé, 1973/74), criado e editado pelo 1º cabo radiotelegrafista  José Fialho, um alentejano dos quatros costados que vive em Portimão. Como ele diz o seu perfil, no Blogger, "sou daqueles, que enquanto não me entalar, vou colocando por estes espaços sem teias nem peias aquilo que sou". O blogue foi criado em 2007, tem cerca de 3 dezenas de postes...

Desta companhia só temos um representante na nossa Tabanca Grande: o Vitor Caseiro, recém-chegado.  Mas eles ainda apanharam lá, em Mansoa, o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 15... Do dia 6 de março de 2010,  há um poste em, que se conta uma história que mete ao barulho o nosso Mexia Alves. Vale a pena reproduzi-la aqui, com a devida vénia:


1. Mexia Alves, por José Fialho > Sábado, 6 de Março de 2010

Mexia Alves... Hoje ao vaguear pela grande estrada da informação, na tentativa de ouvir uns faduchos, dei de caras com este vídeo que me trouxe de imediato à memória a nossa passagem por Mansoa, Guiné.

Mexia Alves, pelas mais variadas razões, era do tipo de indivíduo que não passava despercebido. Um belo dia, do alto do seu elevado porte, patente (alferes) e vozeirão…tentou identificar um grupo que fora de horas cantava alentejano, perguntando quem era o mais graduado.

Como pensávamos que fosse para apanharmos uma porrada, éramos todos soldados rasos…como é óbvio, não conseguiu identificar ninguém. Fazendo parte do tal grupo, passados uns dias dou de caras com o Alferes Mexias e, como não gosto de trazer coisas mal resolvidas, pergunto:
- Alferes, afinal o que queria do grupo??? - Responde ele:
- O nosso Alferes [ou tenente]  médico faz anos e gostava que vocês fossem à festa para animarmos aquilo…- Resposta pronta:
 - Fazem parte do grupo, eu (o Fialho) , o Raposo, e... [outros que agora já não me recordo].

Combinámos, no dia marcado lá estávamos e o resto é fácil de adivinhar: muita comida, bebida às carradas até que o nosso amigo Raposo já estava cheio até aos olhos e necessitava de mijar. A cantina onde tudo se passou, era a cantina que ficava em frente do escritório da nossa Companhia. Como habitual, existiam valas para o caso de ataque nos protegermos, essas valas eram circundadas por garrafas de cerveja com o gargalo enterrado.

Conto este pormenor para se perceber o que quero contar a seguir. O Raposo estava tão bêbado que, não conseguindo passar a vala, sentou-se e começou a mijar sentado, mas a magana era tal que caiu para o lado e bateu com a cabeça de lado numa das garrafas que por azar estava partido.

Como é obvio, uma ferida enorme, os médicos e enfermeiros em plena festa - bêbados??? Hummm …não acredito -, tinham de tratar do desgraçado. Resumindo, o Raposo foi cozido, ficou com uma cicatriz tipo, bola de futebol das antigas, ao Fialho calhou-lhe segurar na caixa das compressas e, passado o susto tudo ficou bem, apesar do Raposo dar pinotes ao ser cozido a frio.

A haver culpados… só podiam ser um, o Mexia Alves, porque se não nos desassossega o nosso amigo Raposo, já falecido, não tinha mijado sentado e tão pouco tinha caído para o lado. Mexia Alves, obrigado por nos teres desassossegado, porque sem ti não tinha esta história para contar 36 anos depois. Se passares por aqui e te recordares de alguma coisa, deixa aqui o teu testemunho.


2. Segue-se um comentário, àquele poste,  do J. Mexia Alves, com data de 9 de março de 2010:

Meu caro Fialho:  Obrigado por esta tua mensagem. Confesso que tenho uma vaga ideia desta história mas que não sei se foi provocada pela leitura ou por realmente me lembrar. Não tenho dúvidas que seria uma atitude minha! Disso não tenho dúvidas! O médico não era um individuo "gordo", que era julgo eu de Guimarães, talvez Ferreira, e tinha uma pequena Honda? Se era esse, era realmente um indivíduo excepcional com quem eu me dava muito bem. Lembro-me por exemplo que o Alferes Mendes que estava comigo na CCaç 15, tocava clarinete. Essa cantina seria a da CCaç 15?

Confesso que o meu período de Mansoa é aquele que mais dificuldade tenho de recordar, muito provavelmente porque, estando em fim de comissão, a minha cabeça já estava "aos caídos", depois de uma temporada de quase 9 meses no destacamento de Mato Cão.

Quando vires que há o almoço do blogue do Luís Graça e, se puderes, inscreve-te, (sou eu que organizo), e assim podemos lembrar-nos de todo esse período.Virei visitar o teu blogue de quando em vez.Abraço amigo do Joaquim Mexia Alves.

3. Comentário do José Fialho > 9 de Março de 2010 09:23

Caro Mexia Alves, nada melhor que um Domingo à tarde meio chuvoso para recordar as nossas peripécias em Mansoa. Escreveste tu que: “Confesso que tenho uma vaga ideia desta história mas que não sei se foi provocada pela leitura ou por realmente me lembrar.” E eu,  se escrevi o que escrevi, foi porque um belo dia a deambular pelo meu Alentejo profundo na descoberta de azeite, azeite daquele de lagar, fiz tudo bem feito menos ter levado vasilhame apropriado para transportar o azeite, isto antes da existência da ASAE, agora em vez de azeite tens óleo de beterraba, por aí… mas voltando ao azeite, indicaram-me uma lojeca ao cimo da rua, isto em Beringel, onde vendiam os garrafões que necessitava.

Entro na loja, meio despassarado como sempre e… e de imediatos caí nos braços do nosso amigo Raposo, o tal da bebedeira medonha que,  mesmo a mijar sentado,  caiu para o lado e deu origem à historia contada [acima]. Ele fez o favor de me contar o que se lembrava e eu fui-lhe recordando,  já que ele, bêbado como é obvio, não se lembrava do pormenor. Dai, a história ter alguma veracidade…

A cantina não sei se era a da CCaç 15, era uma cantina que ficava entre duas casernas e em frente aos escritórios da CCaç 4641, a minha companhia. O nome Mendes como a mota Honda diz-me alguma coisa, mas também não sei se o Médico era este. Sabes que mais??? Ser velho é uma merda, eheheheh. Mexia, um grande abraço e vai escrevendo alguma coisa. Ao Raposo, onde quer que esteja,  um GRANDE bem HAJA.

4. O Zé Fialho (que  ainda não é nosso tabanqueiro, mas fica desde já convidado), está a seguir, além do nosso blogue,  um outro blogue da CCAÇ 4641, editado pelos camaradas J. Magalhães, L. Almeida e  A. Fernandes, a quem saudamos.

É um blogue sobretudo para arquivo e divulgação de fotos. Tomamos a liberdade de reproduzir duas,  de Infandre:


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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9242: Blogues da nossa blogosfera (48): O sítio do Ministério da Defesa Nacional: Encerramento, pela ADFA, da evocação dos 50 anos do início da guerra colonial...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)


Guiné-Bissau > Região do Oio > Polibaque, entre Ansonhe e Quibir, a sudeste de Jugudul. Pormenor da carta de Tite (1955) (Escala 1/25000). No mapa do Google, nem sequer consta o topónimo Polibaque...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011).


1.  Texto do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73 :

Assunto - Curiosidades da memória (*)

Nos últimos cerca de 6 meses da minha comissão, estive na CCaç 15, (formada essencialmente por Balantas), sediada em Mansoa.

Uma das missões da Companhia era fazer segurança na frente da estrada em construção, Jugudul/Portogole [mais tarde, Jugudul/Bambadinca].

No meu tempo, a frente dessa estrada estava num local chamado Polibaque, onde havia um muito curioso quartel/acampamento.

Se a memória não me falha, esse quartel/acampamento estava dentro de uma paliçada de troncos de madeira, muito ao jeito dos fortes dos antigos filmes de índios e cowboys.

Gostaria que alguém pudesse confirmar esta imagem que tenho, para ter a certeza de que não é fruto da minha fértil e delirante imaginação.

É que a ser verdadeira esta memória, julgo que deveria ser caso único na Guiné, e como tal, uma curiosidade digna de registo.

Monte Real, 7 de Dezembro de 2011

Joaquim Mexia Alves

PS - Aqui vai uma foto do emblema da garbosa CCaç15! Na altura disseram-me que "Taque Tchife", em balanta,  significava "Agarra à Mão".



2. Comentário do editor:

Meu caro Joaquim, não é delírio teu,  esse aquartelamento (ou mais provavelmente destacamento existiu... Temos várias referências (no blogue e fora dele) ao topónimo Polibaque (**)... Temos camaradas, como tu, que passaram por lá, na protecção aos trabalhos da estrada Jugudul - Portogole - Bambadinca... E lá viveram, como o Tomás Carneiro. Mas em boa verdade não temos uma única imagem desse destacamento. Nem sequer consta como marcador ou descritor no nosso blogue.

Quem lá esteve, no Carnaval de 1973, desenfiado por umas horas (por uma boa causa, diga-se de passagem, mas que podia  ter-lhe custado os olhos da cara: fez Jugudul-Polibaque sozinho, com o seu Unimog ou  Berliet e a sua G3, só para matar saudades dos amigos e comer com eles um cabritinho assado no forno!),  foi o Tomás Carneiro. Aliás, não passou só lá umas horas... Passou lá algum tempo, em finais de 1973 e estava lá em Maio de 1974, quando foi gravemente ferido numa emboscada...

Pode ser que o Tomás Carneiro (ou o Pedro Neves, da mesma copmpanhia, a CCAÇ 4745 - Águias de Binta) nos possam ajudar... Ou então outra malta que tenha estado ou passado em Mansoa, Jugudul, Polibaque, Bissá, Portogole...

Sabemos que o destacamento (ou aquartelamento) de Polibaque existia em 1974 - provavelmente já sem a paliçada de que se lembra o Joaquim - sendo guarnecido por forças do BCAÇ  4612/72 (Mansoa, 1972/74) sobre cuja história temos vários postes: por exemplo, em 9 de Maio de 1974, as NT sofreram uma violenta emboscada na estrada Judugudul-Bambadinca, de que resultaram 6 mortos (1 militar e 1 civil), 11 feridos graves e 18 feridos ligeiros, além de 5 viaturas danificadas. Simultaneamente, o mesmo "numeroso" grupo IN flagelou o aquartelamento (sic) de Polibaque, com Mort 82 e RPG 7, de que resultaram um morto (Furriel) e um ferido grave (1º Cabo). Nessa altura, Polibaque tinha artilharia (, o que aliás é confirmado pelo Tomás Carneiro). 

Nessa emboscada um dos feridos graves foi o nosso camarada açoriano Tomás Carneiro, que estava então em Polibaque. A sua história dramática já aqui foi contada por ele, no nosso blogue.

Quando o BCAÇ 4612/72 assumiu, em 28 de Novembro de 1972, a responsabilidade do Sector 04, o seu dispositivo no terreno era o seguinte, integrando cerca de 1300 homens em armas:

- CCS / BCAÇ 4612/72: Mansoa;

- 1ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72: Porto Gole e Bissá;
- 2ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72: Jugudul, Rossum, Uaque, Bindoro;
- 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612 /72: Mansoa, Infandre, Braiua, Pista e Mancalã.

Camaradas: fica aqui o apelo (desesperado...) para nos mandarem uma fotografia, um croquis, um desenho, uma memória descritiva de Polibaque. É esscencial para completarmos o puzzle da nossa memória da Guiné. Eu e o Joaquim agradecemos. (LG)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9076: Memória dos lugares (164): RTX - Rádio Televisão do Xime, Carnaval de 69, Xime, CART 1746, com o Manuel Moreira e o José Ferraz de Carvalho


(**) Referências a Polibaque

(...) CCAÇ 2587 / BCAÇ 2885

(...) A CCaç 2587 seguiu em 14Mai69 para Mansoa, a fim de render a CCaç 1686 e assumir a responsabilidade do mesmo subsector, com destacamentos em Uaque, Rossum, Bindoro e Jugudul.

Em 15Nov69, por criação do subsector respectivo, a sede da subunidade foi transferida para Jugudul, mantendo os destacamentos de Uaque, Rossum e Bindoro e sendo substituída em Mansoa pela CCaç 2588.

Em 15Jan70, por troca com a CCaç 2588, regressou a Mansoa, com a missão de intervenção e reserva do sector, onde se manteve até 04Mai70, sendo substituída pela CCaçLocher, Bindoro e Polibaque, entre outras, e escoltas a colunas.

Fonte:  Portal Guiné (página de Carlos Fortunato) > Guiné - História > 1969-1974 > BCAC 2885 > CCS/CCAC 2587/2588/2589 (1969/71)

Tomás Carneiro (ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 - Águias de Binta, Binta, Cumeré e Farim – 1973/74) [ foto à esquerda, em Polibaque, no Natal de 1973]


(...) Com o Carnaval [ de 1973,] à porta recordo-me de uma cena. A “ferrugem” tinha comprado uma cabrita, para preparar uma petiscada que ficou combinada para a segunda-feira (ao fim da tarde), antes do Carnaval. Eu ainda estava nas obras da estrada [Jugudul-Bambadinca,] e não sabia se se trabalharia nessa terça-feira. Disseram-me que sim e fiquei danado.

Vi os tabuleiros a serem preparados para irem ao forno e fiquei chateado por ter que ir, mas lá fui de muito má vontade. Lembro-me que nesse dia me desloquei a Mansoa e quando regressei a Jugudul, me disseram que afinal não se trabalhava no dia de Carnaval.

Peguei na arma, saltei para a viatura e pus o motor a trabalhar. Comecei a rolar devagarinho, para ninguém perceber o que eu ia fazer e saí do quartel. Depois foi pé na “chapa” e toca a “voar” até ao Polibaque. A noite começou a cair rápida e, com os faróis nos médios, lá segui até reencontrar os meus camaradas, que ficaram admirados comigo e com a estória que lhes contei deste “desenfianço”. Enfim lá petiscamos no meio de grande convívio, algazarra e satisfação.

Quando acabamos a refeição disseram-me que tinha correio na secretaria e desloquei-me para lá, mas ao atravessar a parada, que ainda era larga, senti mesmo ao meu lado, um grande rebentamento. Atirei-me de imediato de cabeça para o chão, mas acabei por verificar que afinal era o obus local, que estava a bater a zona. Levantei-me e fui então ao correio.

Já na estrada, de volta a Jugudul, ainda ia com o “coração nas mãos”. Hoje, penso que não repetiria tal doidice, mas, com os 21 anitos de então, até deu para isso e muito mais que viesse (...)

(...) Em fins de Outubro, princípios de Novembro de 1973, fomos transferidos para um quartel novo [ Polibaque,] , que se situava entre o Jugudul e Porto Gole, numa altura em que estava a ser construída uma estrada entre Jugudul e Bambadinca e a cujas obras fizemos segurança. Nesta mudança, esperámos por alguém que nos viria acompanhar e quem devia ser esse algiuém? Nada mais, nada menos, do que os-meus companheiros e amigos “Os Gringos do Guileje”. (...)


(...) José Pedro Ferreira das Neves

(...) fiz o Curso de Operações Especiais em Lamego, 1.º curso de 1973 e dei instrução ao 2.º curso, também de 1973. Fui mobilizado para a Guiné em Julho de 1973 e ingressei na CCAÇ 4745, (Companhia de Intervenção), em Agosto de 1973. Regressei em Setembro de 1974 e passei à disponibilidade no dia 20 do mesmo mês.

Posto: Furriel Miliciano de Operações Especiais (nome de guerra PEDRO). Locais na Guiné por onde andei: Binta, Nema, Farim, Mansoa, Jugudul, Polibaque (Protecção aos trabalhos de abertura da estrada, Jugudul-Bambadinca), Bula, Binar, Nhamate, Capunga, Bissau e outros arredores, que agora não me ocorrem. (...)

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 25 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3148: O Nosso Livro de Visitas (24): José Pedro Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745 (Guiné 1973/74)

(...) Batalhão de Caçadores nº 4612/74

(...) O batalhão ficou reduzido a duas companhias, por a 3ª Compª não ter chegado a embarcar. Tendo iniciado a IAO no CMI, em Cumeré, esta foi interrompida a fim de seguir, em 24Jul74, para Mansoa, com vista a efectuar a sobreposição com o BCaç 4612/72.

Em 21Agosto74, assumiu a responsabilidade do Sector O4, com sede em Mansoa e abrangendo os subsectores de Mansabá, Porto Gole, Jugudul, Polibaque e Mansoa. Em 27Agosto74, o subsector de Jugudul foi extinto, por saída da respectiva subunidade e a sua área foi integrada no subsector de Mansoa.

Comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e desactivação e entrega dos aquartelamentos do sector ao PAIGC, sucessivamente efectuada nos subsectores de Polibaque, em  21Agosto74, Porto Gole, em 02Setembro74, de Mansabá, em 03Set74 e de Mansoa, em 10Set74.

Em 10Set74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Mansoa, recolheu a Bissau, onde se reintegraram as suas subunidades entretanto vindas de outros pontos, e onde assegurou a segurança e protecção das instalações da área do sub-comando de Brá, então constituído, até ao seu embarque de regresso. (...)
 

Fonte: Guerra na Guiné 63/74 (Página de Carlos Silva) > BCAÇ 4612/74

(...) Em 05Mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá.

Em 17Fev71, rendida pela CCaç 3303, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso. (...)

domingo, 31 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7200: O Soldado Africano Esquecido / Forgotten African Soldier (2): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp do Pel Caç 52 e da CCAÇ 15 (1971/73)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (, foto à esquerda, algures na Guiné, entre 1971 e 1973:


Data: 19 de Outubro de 2010 09:18
Assunto: Pesquisa Académica sobre Soldados Africanos


Meus caros camadas editores:


Reencaminho mail que recebi do Senhor Jochen Steffen Arndt, pedindo-me ajuda para um trabalho que descreve no seu mail e aqui me escuso de repetir.


Julgo que poderá ser divulgado na Tabanca Grande onde há camaradas que, por muito mais dedicados aos números e estatísticas do que eu, poderão dar uma mais concreta ajuda a este trabalho, caso, meus camaradas editores,  achem que o devemos fazer.


Com um abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves

2. Resposta do Joaquim Mexias Alves ao investigadorJochen S. Arndt:


Exmo. Senhor Jochen Steffen Arndt:

Agradeço o seu mail e desde já me disponibilizo para o ajudar no seu trabalho, em tudo aquilo que eu possa saber sobre o assunto.

Com efeito comandei o Pel Caç Nat 52, de soldados guineneses de diversas etnias, e depois comandei durante uns tempos a CCaç 15 que era formada por guinenenses da etnia Balanta.
De qualquer modo e como penso ser do seu interesse e do interesse do seu trabalho, vou dar conhecimento desta troca de mails entre nós aos editores do blogue onde estão reunidos diversos combatentes da Guiné, http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/, e onde há camaradas meus que o poderão ajudar bem melhor do que eu, pois têm acesso mais fácil aos números estatisticos que refere e deseja conhecer.

Fico obviamente à sua disposição.
Com os melhores cumprimentos
Joaquim Mexia Alves

3. Mensagem, de 18 do corrente, de Jochen S. AArndt, enviada ao nosso camarada Joaquim: [com correcções do português, introduzidas por L.G.]




Exmo. Senhor Joaquim Mexia Alves,


Meu nome é Jochen Steffen Arndt. Sou [assistente de investigação] e estudante no programa de doutoramento da Universidade de Illinois em Chicago, EUA. Encontrei recentemente o seu site na internet e seu artigo publicado no journal Correio da Manhã no dia 10 de Julho 2010. Este artigo foi de grande interese para mim por que trata também de soldados africanos que [fizeram] parte das forças portuguesas no ultramar. Mais especificamente foi de grande interese para mim porque estou realizando um projeto de pesquisa académica sobre soldados e [milícias] africanos que serviram com as forças portuguesas na África entre 1961 e 1974.


As questões que norteiam meu projeto são (...) (vd. poste P7192) (*).


Dado este contexto, e como o Senhor Alves serviu juntamente com tropas africanas no Pel Caç Nat 52, perto de Bambadinca, eu gostava de perguntar se estaria disposto a participar neste projecto, partilhando [comigo] as suas experiências, memórias e, talvez, seus contactos.


Por enquanto eu estabeleci contactos através do site ultramar.terraweb, com alguns veteranos europeus e africanos. Seria de grande interesse o Senhor Alves [poder] juntar-se a este projecto.

Agradeço-lhe sinceramente por [me dispensar] o seu tempo. Por favor, não hesite em contactar-me com quaisquer perguntas.


Atentamente,


Jochen S. Arndt
PhD Student
Department of History (MC 198)
913 University Hall 601 South Morgan Street
University of Illinois at Chicago
Chicago, IL 60607-7109

3. Comentário de L.G.:

Eu já dei o meu acordo de princípio em relação à colaboração dos membros do nosso blogue, a título individual,  com este investigador e com este projecto. Fazendo eu próprio parte da comunidade científico, e sendo oriundo das ciências sociais e humanas, tenho a obrigação de contribuir, também eu, para o desenvolvimento de domínios científicos como a história, e em particular, a história contemporânea (portuguesa, europeia, africana...). 

Infelizmente não tenho actualmente quaisquer  contactos pessoais com os antigos soldados guineenses que integraram a CCAÇ 12 (da qual fiz parte, entre Maio de 1969 e Março de 1971). Não me correspondo com nenhum deles nem sei onde vivem, com uma única excepção. No entanto, os seus nomes estão publicados no nosso blogue.

As informações que publicamos no nosso blogue são públicas. Naturalmente que os nossos textos e imagens estão sujeitos a direitos de autor. Mas podem ser citados em trabalhos de investigação científica ou outros propósitos desde que estes não sejam comerciais. Pedimos apenas que nos dêem conhecimento desse uso.

A colaboração com este investigador e com este projecto é, em princípipio, feita a título individual, e tem um propósito académico. O nosso blogue (que abriu uma nova série, O Soldado Africano Esquecido / Forgotten African Soldier, inspirado no título da página do Jochen, ForgottenAfricanSoldiers.Orgmas que já tinha e tem a série Os Nossos Camaradas Guineenses, entre outras), o nosso blogue - dizia -  gostaria de poder acompanhar os progressos feitos pelo autor e sobretudo aproveitar o ensejo para expor e discutir a actual situação dos antigos militares, do recrutamento local, que integraram as Forças Armadas Portuguesas no CTIG. Na realidade, não se trata do Soldado Africano Desconhecido (que também o houve, na Guiné) mas de um Soldado Africano Esquecido.

Por outro lado, gostaríamos de ver acautelados, acima de tudo, os interesses e os direitos dos nossos antigos camaradas guineenses que venham a aceitar ser entrevistados no âmbito deste projecto de doutoramento. Esses interesses devem ser devidamente protegidos. Nomeadamente achamos que a sua identidade e local de residência (dentro e fora da Guiné-Bissau)  não devem ser revelados, de modo a proteger a sua identidade e segurança. Muitos deles já sofreram demais, foram perseguidos, discriminados, presos e até mortos.


A mediação da nossa Liga de Combatentes também pode ser útil. No entanto, é bom não esquecer que há um contencioso com o Estado Português (por causa de reparações e pensões) que poderá dificultar e até inviabilizar os contactos com os nossos antigos camaradas guineenses. Não me parece, por outro lado, que esteja muito activa a AMFAP - Associação dos Ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas, da Guiné-Bissau. Não conheço os seus dirigentes nem sequer os seus estatutos... 



No que diz respeito ao Jochen Steffen Arndt, sabemos que é alemão, ou de origem alemã, que é ainda jovem, que teve um avô no exército alemã, na frente russa, e que trabalhou em Portugal, mais exactamente em Vila Nova de Gaia, durante sete anos, pelo que fala e escreve (presumo) o português (, para além do inglês e do africânder, as três línguas que ele usa no sítio do projecto). Gosta de francesinhas, diz-nos o Paulo Salgado, e tem boas recordações do nosso país. Não sabemos as razões, pessoais ou outras,  por que decidiu entretanto continuar os seus estudos e doutorar-se em história numa universidade americana. Essas razões poderá ele ter a gentileza de nos dizer, se for caso disso. 



Fica aqui também o convite para ele integrar a nossa Tabanca Grande (e mandar-nos uma foto sua), à semelhança do que fizemos com a Tina Kramer, também alemã, doutoranda em etnologia, e que entende o português, coisa que não acontece com outro doutorando, que apoiámos, o Ten Cor da Força Aérea dos Estados Unidos,  Matt Hurle.


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Notas de L.G.: 

(*) Vd. poste de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7192: O Mundo é Pequeno e o Nosso Blogue... é Grande (30): Forgoten African Soldier / O Soldado Africano Esquecido (Jochen Steffen Arndt, Universidade de Illinois em Chicago)