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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15089: Em busca de... (260): José Carlos, taxista em Vila do Conde, ex-Soldado Atirador do 2.º Pelotão da CCAÇ 4152, procura camaradas (Vasco Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Santos (ex-1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Onças Negras), Bedanda, 1972/73), com data de 1 de Setembro de 2015:

Olá amigo Carlos,

Espero que esteja tudo de bem contigo e com a Família.

Estou a entrar em contacto a fim de te solicitar um favor, ou seja, a possibilidade de publicares uma foto de um conterrâneo nosso que esteve em Gadamael no ano de 1973/1974. Será possível?

Em caso afirmativo o que ele pretende é restabelecer contacto com algum amigo do Pelotão/Companhia dele. Para tal, anexo uma foto (ele é o ultimo na primeira fila à esquerda, com o prato na mão).

José Carlos, de pé, à direita da foto

José Carlos

Dados:
José Carlos (Taxista em Vila do Conde)
Ex-Soldado Atirador do 2.º Pelotão da CCAÇ 4152
Contacto: tlm 966 852 568

Desde já os meus agradecimentos e até uma nova oportunidade.
Abraço
Vasco Santos


2. Comentário do editor:

Caro Vasco, faz chegar ao camarada José Carlos que na nossa tertúlia há 2 camaradas da CCAÇ 4152/73, a saber: o ex-Alf Mil Carlos Milheirão e o ex-Alf Mil José Gonçalves, este radicado no Canadá.

Em tempos um outro camarada da 4152, de nome Manuel Joaquim Gonçalves, de Viana do Castelo, tentou também através do nosso Blogue  encontrar camaradas seus.

Se o José Carlos quiser os contactos destes 3 companheiros de Companhia, fá-los-ei chegar até ele por teu intermédio.

Fico ao dispôr
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14756: Em busca de... (259): Fotos do cinema de Bafatá, c. 1970 (António Martins, arquiteto, Bigarquitectura, Braga)

sábado, 19 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9925: Em busca de ... (188): Manuel Joaquim Gonçalves, de Montaria - Viana do Castelo, procura os seus camaradas da CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar, 1973/74)

1. Mensagem de Victor Gonçalves, filho do nosso camarada Manuel Joaquim Gonçalves que integrou, com a Especialidade de Atirador, a CCAÇ 4152/73 que esteve em Gadamael e Cufar:

Boa tarde,
Em nome do meu pai (Manuel Joaquim Gonçalves), gostaria de encontrar os colegas que andaram com ele na Guiné.

Meu pai disse-me que era da companhia 4152, atirador. Dezembro de 1973 a Setembro de 1974.

Meu pai é de Montaria - Viana do Castelo. Nasceu em Janeiro de 1952.

Agradecia se tivesse alguma informação, fotos, endereços.

Envio em anexo uma foto da época.

Atentamente,
Victor Gonçalves
victormmgoncalves@gmail.com


2. Notas do editor:

Sobre a CCAÇ 4152/73, do qual fazem parte da nossa tertúlia os ex-Alf Mil Carlos Milheirão e José Gonçalves, podemos dizer:

- Foi mobilizada no RI 1 - Amadora
- Comandante: Cap Mil Inf Rodrigo Belo de Serpa Pimentel
- Embarcou para a Guiné em 29DEZ73
- Regressou em 12SET74

 - De 09JAN74 a 06FEV74 realizou o IAO no CIM de Bolama, de onde seguiu em 09FEV74 para Gadamael, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 5.

- Em 02JUN74 assumiu a responsabilidade do subsector de Gadamael, substituindo a CCAV 8452/72.

- Em 12JUL foi transferida para Cufar, onde substituiu a CCAÇ 4740/72, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector.

- Em 07SET74, após a desactivação e entrega do aquartelamento de de Cufar ao PAIGC, recolheu a Bissau a fim de aguardar o embarque de regresso.

(Elementos recolhidos na Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), edição do Estado-Maior do Exército - 2002)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9893: Em busca de ... (187): Maria Luísa procura ex-combatentes da CCAV 1693 e do BCAV 1915, camaradas de seu marido, falecido recentemente

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9783: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (13): Mais caras novas... (e outras, não tanto)



 VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> O José [Marcelimo] Gonçalves e a sua simpatiquíssima esposa Tuula Kahkonen. Vivemk no Canadá, mas vêm a Portugal com frequência... Os portugueses falam muito depressa", queixou-se a Tuula... O Zé confirmou o nosso porvérbio (bloguístico) segundo o qual o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! Até chega à imensão do Canadá!


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> A nossa nova tabanqueira, Alice Carneiro... Em sete encontros nacionais, falhou um, por razões de força maior...


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> A Natércia Neves, antiga enfermeira pára-quedista (e artista de cinema, acrescentei-lhe eu, quando a cumprimentei...). Veio com o marido Mário Neves, de Torres Vedras. A seu lado, na foto, o nosso camarigo António Martins de Matos, presença habitual nos nossos encontros anuais, e um dos nossos tabanqueiros 'strelados'...


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Um dos homens grandes da Tabanca de Matosinhos, o Zé Teixeira, solidário com as gentes da Guiné-Bissau, da carne até ao tutano... Aqui acompanhado com a esposa, Maria Armanda. O filho de ambos, médico, Tiago Teixeira, está neste momento no Hospital de Cumura, em missão de cooperação... foi surpreendido pelo golpe de Estado, mas está bem..  Um grande abraço da Tabanca  Grande para o Tiago!


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> A Joana Graça e o Jorge Pinto, um dos últimos camaradas da ingressar na Tabanca Grande.

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Dois homens da Bissalanca, BA 12 > O António Martins de Matos (Lisboa) e o Eduardo Ferreira, lourinhanense, que vive em A-dos-Cunhados, Torres Vedras. Um foi um dos melhores pilotos de Fiat G91, de toda a guerra da Guiné; o outro foi alferes mil da polícia aérea...

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Da esquerda para a direita: O Leonel Olhero (Ermesinde / Valongo) e o Fernando Súcio (Vila Real)... O leonel é escritor e poeta. (Ver aqui a nota de leitura do Beja Santos sobre o livro Ultrajes da Guerra Colonial, do Leonel Olhero).


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Ao centro, o João Paulo Diniz (Lisboa), do PIFAS; à sua direita, o Álvaro Vasconcelos (Baião),. que lhe levava a chave do totobola para ser divulgado no Programa das Forças Armadas; e à sua direita, o nosso tabanqueiro sénior Belarmino Sardinha (Odivelas).




VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Cara nova é o  Carlos Campos (ao centro): segundo informação Miguel Pessoa, "foi piloto da Esq 121 (voou T-6 e DO-27) e saiu da Esquadra quando eu lá cheguei (finais de 1972). Passou para os TAGP e por lá ficou até 1980. Tinha um MGB GT - que dava nas vistas por lá... - e, pela conversa que tivemos agora, ainda o conseguiu trazer para cá quando regressou em 1980"... À esquerda do Carlos Campos, está o nosso camarigo Hélder Sousa. À sua direita, e em segundo plano,  a Felismina Costa e o António Duarte, que já não são periquitos nestas andanças...


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Jorge Araújo e António Vaz, dois homens do Xime, de épocas diferentes, o Jorge de 1972/74 (CART 3494), o António, de 1968/69 (CART 1746)... De que falavam ? Seguramente, da Ponta do Inglês, do Poindon, da Ponta Varela, de Madina Colhido..., tudo estações do nosso calvário!... (Sem esquecer os senhores de Bambadinca...).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

domingo, 22 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9780: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (11): Que ganda ronco!... As primeiras fotos da Op Monte Real 2012, com uma mensagem para o futuro



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande  (*) > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > O avô Benjamin Durães trouxe, desde Palmela, os seus cinco netos:  Bruna, Fábio, Marta, Rafael e Tiago (na foto não estão por esta ordem)... Todos devidamente equipados e ostentando na lapela o crachá do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) a que orgulhosamente pertenceu o nosso camarada, fur mil op esp e DFA.




VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > A Joana Graça, filha dos nossos tabanqueiros Luís Graça e Maria Alice, com três dos netos do Benjamim Durães... As duas raparigas são a Bruna e a Marta.

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > O Manuel Joaquim e o seu "menino", o Adilan (pseudónimo de José Manuel Cunté)... A história de ambos foi aqui foi contada e comoveu-nos a todos... Também tivemos oportunidade de conhecer, no final do nosso convívio, a espos do Manuel, uma das suas filhas e dois seus netos...

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Ao centro e à direita, o José Marcelino Gonçalves e a esposa, de origem finlandesa,Tuula Kahkonen, que vivem no Canadá. O Gonçalves foi um bravo gamadaelense, tal como o Caria Martins, hoje médico (aqui à esquerda).



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Manuel Lema Santos e Maria João (Massamá / Sintra)... O Manuel Lema Santos fez, antes do início do almoço, uma breve alocução, em nome da direção da AORNA - Associação dos Oficiais da Reserva Naval. Ofereceu ao nosso blogue várias publicações e uma medalha em bronze, comemorativa da fundação da AORNA, em 1995.




VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > O António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-O-Velho) e  com outro camarada do Pel Caç Nat 52, do tempo em que foi comandante o alf mil op esp Joaquim Mexia Alves... O Joaquim estava radiante pelo Bonito ter feito a "bonita proeza" de juntar, em Monte Real, todos os seus furriéis (António Bonito, João Santos e Diamantino Varrasquinho) e cabos (António Pinheiro, António Ribeiro e João Sesifredo) do seu pelotão, do tempo do Mato Cão... Para que a felicidade fosse completa, estavam presentes no encontro, o primeiro comandandte do Pel Caç Nat 52, de 1966/68, o nosso camarigo Henrique Matos, que veio de Olhão, e   o último comandante, Luís Mourato Oliveira, da Lourinhã, a quem já convidámos para ingressar no blogue, e que tem muito de contar - tal como a Nau Catrineta).



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Da esquerda para a direita: O João Santos, fur mil do Pel Caç Nat 52, no tempo em que em que o comandante era o Joaquim Mexia Alves (c. 1972, Mato Cão), e o Luís Mourato Oliveira (Marteleira / Lourinhã), o último comandante, em 1974,  daquele bravo pelotão...
 

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Pessoal de peso e em peso, do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74) e em eespecial da CART 3494 (Xime e Mansambo, dez 1971/ abr 74) > Da esqureda para a direita: Sousa de Castro (Viana do Castelo) - o nosso tabanqueiro nº 2 -,  Acácio Dias Correia (Algés / Oeiras), António J. Pereira da Costa (Mem Martins / Sintra),   Jorge Araújo (Almada), Adriano Neto (Aveiro), António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-O-Velho) e  por fim, na ponta direita,  o Manuel Benjamim Martins Dias (Porto).

Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2012). Todos os direitos reservados


1. Estas são as primeiras fotos do nosso almoço-convívio, em Monte Real, ontem, sábado, 21 de abril. Segundo a organização (Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves e Miguel Pessoa), o número de inscritos e de presenças ultrapassou os 185, um recorde absoluto em sete anos... Como acontece todos os anos, há sempre desistências e inscrições de última hora. Mas mesmo sem a ajuda do São Pedro, da "troika" e do Cristiano Ronaldo, o nosso VII Encontro ultrapassou todas as nossas expetativas (em termos de inscrições).

A hora não é de fazer o balanço crítico do evento, mas tão só de mostrar como estamos a passar a mensagem à geração dos nossos filhos e netos. Vários camaradas trouxeram consigo os seus filhos (caso, por exemplo, dos nossos editores Luís Graça e Eduardo Magalhães Ribeiro, ou da nossa amiga Felismina Costa) ou dos seus netos (caso do Valentim Oliveira e do Hugo Guerra, por exemplo).

A fotorreportagem continua dentro de momentos... (LG)

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Nota do editor

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8516: As nossas melhores fotos (3): Na senda do Cap Imaginário que eu conheci em Gadamael Porto, em 1974 (Joaquim Sabido, 3ª CART / BART 6520 e CCAÇ 4641, 1973/74)


Guiné > Região de Tombali > Gamael > Maio de 1974 > A primeira visita do PAIGC à tabanca e aquartelamento de Gadamael: Em primeiro plano, ao centro, o Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício ); do seu lado direito está o comissário político do PAIGC, de cigarro russo na boca. O nosso camarada José Gonçalves está atrás, na segunda fila,  entre os dois. Por sua vez, o capitão Pimentel, comandante da CCAÇ 4152 (***),  está ao lado do José Gonçalves, por detrás do Comandante Patrício. 


Guiné > Região de Tombali > Gamael > 1974 > O capitão Peixoto da CCAV 8452, de T-shirt branca com o seu nome estampado. De lado estão dois capitães do COP5 e de costas o Alf Mil Lobo, da CCAÇ 4152, a minha companhia. Esta foto foi tirada na messe de oficiais da CCAV 8452, construída com troncos e chapas de lata (**).

Fotos (e legendas): © José Gonçalves (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. Comentário do nosso camarada Joaquim Sabido  [, foto à direita,] com data de 5 do corrente, ao poste P7187 [ O Joaquim Sabido é hoje advogado, reside em Évora e esteve presente no último encontro em Monte Real]: 


Caros Camaradas:

Att. José Gonçalves e C. Martins, porque se encontravam em Gadamael quando as fotografias foram obtidas, gostaria que, se ainda vierem a estes comentários [ao poste P7187], me confirmassem se o capitão que aparece na 1ª foto, ao lado direito do Comandante Patrício e na 2ª foto, ao lado esquerdo do Cap 
 Peixoto, não é o Cap Imaginário ? (****)

Na 1ª foto, ao lado esquerdo do comandante Patrício, aparece o cabo fuzileiro Pedras, o de barbas e com avantajada envergadura.

No comentário do Zé Gonçalves, do dia 30 de Outubro, [ ao supracitado poste  
P7187, ] posso confirmar que as posições que bombardearam após a visita do Comissário, foram para auxiliar o pessoal que se encontrava em Jemberém [ou Iemberém, como se diz hoje], pois continuámos a embrulhar e bastante nos ajudaram, especialmente o C. Martins, com os seus 14.

Um Abraço a todos os Camaradas, do

Joaquim Sabido, Évora
ex-Alf Mil Art,
3.ª Cart/Bart 6520/73 
e CCaç 4641/73
(Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974)
_________________

Notas do Editor:

(*) Ultimo poste da série > 27 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8476: As nossas melhores fotos (2): O Major Pereira da Silva, num zebro, no Rio Mansoa, com outros oficiais, incluindo eu (J. Pardete Ferreira)

(**) A CCAV 8452/72 foi mobilizada pelo RC 4. Partiu para a Guiné a 29/5/1973 e regressou 6/9/1974. Esteve em Gadamael, Cacine, Cumeré e Brá. Comandante: Cap Mil  Cav José Ferreira Rodrigues Peixoto.Fonte: Matos Gomes, C.; Afonso, A. - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões.  Matosinhos: QuidNovi. 2009.

(***) CCAÇ 4152/73:  Mobilizada pelo RI 1. SWeguiu oara a a Guiné em  29/12/1973 e regressou a 12/9/1974.   Esteve em Gadamael e Cufar. Comandante: Cap Mil Inf Rodrigo Belo de Serpa Pimentel. Fonte: Matos Gomes, C.; Afonso, A. - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi. 2009.

(****) A única referência (lacónica) que temos no nosso blogue é do próprio Joaquim Sabino: (...) "Sr. Capitão Imaginário, que tive o grato prazer de conhecer em Gadamael Porto, aquando da minha visita ao local [, em 1974]".
 
Pergunta-se: Seria um oficial ligado ao COP5 ? Ou comandante de alguma companhia operacional ?

sábado, 20 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7309: Humor de caserna (20): É proibido c...em frente ao canhão (C. Martins, Gadamael, 1974)

1. Deliciosa, esta, a do nosso leitor (e camarada) C. Martins, que esteve em Gadamael (julgo que em 1974, com o José Gonçalves) e a quem convido formalmente para se juntar aos bravos do pelotão, aqui na Tabanca Grande (*):


Estando eu a fazer uma necessidade fisiológica (que ninguém fazia por mim) em frente ao espaldão do  canhão s/r, [, em Gadamael,] ouvi uma voz de "gago":
- Ooooo meeee,  alll nãnnn saaabbe leeer.


Respondi-lhe com maus modos porque estava com cólicas devido à diarreia, e ao olhar de soslaio vi um cartaz de papelão que dizia:
- É PROIBIDO CAGAR EM FRENTE AO CANHÃO.


Para que conste não fui multado, mas não repeti a cena porque aqueles desgraçados não tinham a obrigação de cheirar os odores das minhas tripas durante dias inteiros.


O gadamaelista


C. Martins (**)


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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 19 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7306: Estórias avulsas (101): O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau (José Gonçalves)

(**) Último poste da série > 24 de Maio de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7306: Estórias avulsas (44): O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau (José Gonçalves, ex-alf mik op esp, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974))

1. Texto de José Gonçalves (ex-Al Mil Op Esp da CCAÇ 4152/73, que vive actualmente no Canadá) [, foto à direita]:

Data: 19 de Novembro de 2010 02:12

Assunto: O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau.

Foi já ao entardecer do dia 27 de Fevereiro 1974 quando recebemos uma mensagem para tomarmos as precauções defensivas necessárias pois havia informação indicando a possibilidade de Gadamael vir a ser atacado por tanques e carros de combate [possível referência às viaturas blindadas, de origem soviética, BRDMque o PAIGC estaria em condições de começar a utilizar em 1973 nos ataques aos nossos aquartelamentos fronteiriços ]. 

Como devem calcular não foi uma notícia que pudesse ser ignorada e assim todo o pessoal do comando reuniu-se para decidir o que fazer em relação à nossa segurança e à da população sob nossa protecção.

Defesa contra tanques e carros de combate era coisa que não tinha ideia nenhuma pois nunca tive este tipo de treinamento. Nem eu nem ninguém da minha companhia, mas não podíamos ficar de braços cruzados e decidimos então ir fazer uma inspecção a todos os postos de defesa e instruir os seus responsáveis do perigo que poderia em breve aparecer para que tomassem as devidas precauções em relação às munições e funcionamento das armas de defesa.

[Imagem à esquerda: Viatura blindada BRDM 2, utilizada pelo PAIGC em meados de 1973 no sul da Guiné: Desenho e especificações... 

Cortesia de Nuno Rubim (2009)




Visitámos os postos de metralhadoras pesadas e depois fomos visitar um posto de canhão sem recuo que ficava mesmo ao lado da enfermaria/messe de sargentos. O cabo responsável por esta arma mostrava-se muito entusiasmado pela atenção que lhe estava a ser prestada e queria mostrar-nos a todos nós como a sua arma funcionava . Entretanto o capitão, alferes e furriéis estavam todos à volta do canhão, dialogando sobre as melhores opções de defesa quando o cabo decidiu trazer uma munição para nos mostrar e introduziu-a na câmara do canhão. 

Fiquei preocupado pois sabia como tal peça funcionava e disse-lhe prontamente que com todo o pessoal à volta isso era perigoso avisando-o para não fechar a culatra. A resposta do mesmo foi que não havia perigo e fechou a culatra e quase instantaneamente se deu a percussão da mesma ferindo o cabo em estado muito grave pois apanhou-o em cheio nas suas partes privadas e a mim que estava ao seu lado queimou-me quase um terço do corpo principalmente perna esquerda, braço esquerdo e peito. Valeram-me os calções que protegeram a mercadoria. O coitado do cabo não teve a mesma sorte.

Com a explosão voei pelo ar e caí em cima do Alferes Lobo (que estava algures ao meu lado ou por trás de mim) que se queixava não enxergar nada. Olhei então para o Lobo e verifiquei que as pálpebras dos olhos dele se tinham chamuscado e colado não o deixando abrir os olhos correctamente. Ao mesmo tempo olhei para o meu braço e vi que estava todo preto e com sangue, tentei limpar o braço passando com a minha mão direita sobre ele e um bocado de pele automaticamente se descolou. Olhei então para a minha perna e também não estava lá muito católica e resolvi então correr para a enfermaria à procura de ajuda.

Quando cheguei ao abrigo onde os enfermeiros estavam alojados disse-lhes que tinha havido um acidente e que havia vários feridos. Com esta informação saíram todos correndo pela enfermaria a fora em direcção ao canhão e deixaram-me lá sozinho, por fim um voltou para trás para tomar conta de mim. Foi então que me disseram que o cabo tinha ficado mesmo muito mal e que felizmente tinha só sido eu e ele a ficarmos feridos e que teríamos de ser evacuados pata Bissau. Por sorte não estava ninguém em frente do canhão senão o resultado teria sido muito pior.

Começaram então os preparativos para nos evacuar e foi-nos prontamente dito que a evacuação teria que ser feita de Cacine porque os helis não vinham a Gadamael. O sol já estava posto quando nos meteram em dois sintexes do exército e lá fomos rumo a Cacine. Tive então o conhecimento real que a maresia em queimaduras dá dores horríveis e como não me tinham dado e não me deram nada para as dores, tive que aguentar até ser evacuado o que só aconteceu no outro dia de manhã. O cabo estava cheio de morfina mas apesar do meu pedido para me darem também morfina para as dores, foi-me recusado dizendo que os efeitos secundários da morfina não eram justificados no meu caso.

No sintex no meio do rio Cacine sentia um alívio enorme e um sentimento de sorte, apesar dos ferimentos que tinha, pois ia deixar o inferno de Gadamael para trás, os bombardeamentos diários e o suposto ataque   [de BRDM-2] que felizmente nunca chegou a acontecer. As minhas preocupações eram com os meus soldados e camaradas caso o ataque previsto se realizasse: será que tudo estaria bem com eles, será que o treinamento que lhes tinha dada e com o comando dos furriéis poderiam ser dignos militares e não porem a sua vida em risco ? 

Tudo isto me ia na cabeça e também uma grande preocupação de ficar muito cicatrizado (um pouco de vaidade que é normal de quem é novo) . Tinha que escrever aos meus pais e contar-lhes o sucedido mas como fazê-lo sem preocupar mais a minha mãe pois sabia que esta (já vivendo no Canadá com o resto da família), sofria de muitas emoções por me encontrar na Guiné a combater. 

Passei uma noite horrível na enfermaria de Cacine ao lado do meu companheiro,  1º cabo apontador de canhão s/r, pois este estava totalmente sedado com morfina mas com conhecimento do que lhe tinha acontecido. Passou a noite a chamar pela namorada e pela mãe. A uma certa altura pediu aos enfermeiros para urinar e estes diziam um para o outro que não encontravam nada com que ele o pudesse fazer. Foi uma noite horrível escutando aquele homem gemer e chamar pelos seus entes queridos e pedi aos enfermeiros para me mudarem para outro lado pois já não suportava mais a agonia do meu camarada que me causava mais transtorno que as minhas próprias dores. Também me foi dito que não podiam pois que eu tinha que ser monitorizado e que tinha que ficar perto deles. 

De madrugada lá apareceu um heli com uma enfermeira pára-quedista que nos evacuou para o hospital militar de Bissau onde passei os próximos dois meses só regressando a Gadamael no dia 21 ou 22 de April de 1974 (já não me recordo bem da data).

Quando cheguei a Bissau um dos enfermeiros na sala de recepção levantou o lençol que me tapava o corpo totalmente nu e disse : "pensei que era pior" o médico que se encontrava a seu lado olhou para mim e respondeu : "ainda querias pior?". Nunca mais me esqueci destas duas frases. Medicaram-me e puseram-me em soro todavia passadas umas boas horas comecei a ter convulsões que era o começo de envenenamento do corpo devido a quantidade de pele queimada. 

Tudo passou, e um dia apareceu na sala de cuidados intensivos o governador (general Bettencourt Rodrigues) que me perguntou como me estava a sentir e de imediato me ameaçou com um auto por andar a brincar com canhões. Respondi-lhe que agradecia ele mandar averiguar a situação pois eu também estava interessado em saber o que se tinha passado mas que tal acto não foi devido a nenhuma brincadeira com canhões. Não me deu resposta e lá se foi para a sua vida e eu fiquei mais mês e meio em Bissau a recuperar.

Lembro-me de várias vezes ouvir passar tropas cantando, (presumindo ser tropas especiais e talvez africanas) em camiões em direcção a Bissalanca , e logo pela manhã do dia seguinte começavam os helis a chegar com os feridos. Foi um tempo preocupante e interessante pois estive cerca de 3 semanas com alta do hospital (indo às consultas externas ao hospital 1 vez por semana ) nas instalações dos oficiais onde se comia e bebia bem, com piscina e até cinema ao ar livre tinha. 


Comparado com Gadamael,  era um paraíso mas tive alta no dia 21 de Abril e voltei de novo para o "inferno de Gadamael" pensando sempre que talvez fosse o meu último destino, o que não veio a acontecer devido ao 25 de Abril. 

Foi também em Bissau que comecei a conviver com outros oficiais mais experientes que ali se encontravam de baixa ou de passagem e que contavam as suas histórias e preocupações e o seu sentimento de revolta com tudo o que se estava a passar. Em Gadamael, no COP 5 falava-se pouco da situação em que estávamos talvez pelo choque e o pouco tempo que lá estive. Do tempo de Gadamael lembro-me das noites de Poker, dos uísques e dos gins tónicos e do fugir para os abrigos que podia ser várias vezes por dia. 

José Gonçalves | alf mil op esp | CCAÇ 4152/73,
Gadamael e Cufar, 1974)
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Nota de L.G.: 

Último poste da série > 16 de Novembro de 2010> Guiné 63/74 - P7291: Estórias avulsas (100): A mina, que seriam duas (António Branquinho)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7285: História de vida (34): Do Cunene a Gadamael ou as (des)ilusões do Portugal plurirracial e pluricontinental... Para o Cherno Baldé, com apreço (José Gonçalves)

 1. Resposta do José Gonçalves ao comentário do Cherno Baldé (*):


Meu caro Cherno, obrigado pelas tuas palavras e quero dizer-te que estou completamente de acordo contigo quando dizes que as necessidades e o querer dos homens e mulheres nativos da Guiné, que lutaram ao nosso lado, por um ideal, pelos seus próprios interesses sócio-económicos e por vezes até pelo ódio por outras etnias (depois eu explico porque uso a palavra ódio),   não foram tomados em consideração pelas Forças Armadas Portuguesas no terreno aquando da retirada e não mereciam o que lhes aconteceu.


Como deves saber,  em qualquer exército democrático todos recebemos ordens de outrem até chegar ao poder político e as ordens são para cumprir ou há consequências. Apesar de ter hoje conhecimento do que se passou com os soldados africanos,  não sei o que poderia ter sido feito diferente para salvaguardar os interesses dos nossos camaradas que decidiram ou foram esquecidos lá e continuaram a fazer a sua vida na Guiné.


A Guiné é um país independente e  Portugal não tinha e não tem o direito de intervir a não ser que os tratados fossem violados, o que veio a acontecer,  e uma intervenção na ONU por parte de Portugal a denunciar tais massacres à comunidade internacional era apropriado, mas do que serve ?


Todos nós sabemos o peso das resoluções da ONU! Não valem muito a não ser que os interesses dos grandes estejam comprometidos.

Totalmente suporto que os soldados que lutaram debaixo da bandeira portuguesa,  deviam ter uma reforma do governo português, mas quero que saibas que eu também não a recebo e nunca a receberei porque nunca descontei para a caixa de aposentações [, Segurança Social,] em Portugal  e sem o ter feito não tenho direito apesar de ser português,  nascido em Portugal. Regras feitas pelos políticos que nunca compreenderei. 

Agora um pouco de humor: dizem que os políticos são como as fraldas e que de tempos a tempos têm que ser mudados e pela mesma razão !

 Voltemos ao ideal de que falei. Apesar de natureza colonialista e muito paternalista,  o ideal porque lutámos,  continha valores muito nobres como a liberdade e igualdade entre as raças (apesar de eu pensar que só há uma, a humana!),  um país secular e multidimensional, onde brancos, pretos e mestiços podiam viver em harmonia debaixo da mesma bandeira. Só que esse mesmo ideal existia pura e simplesmente  para conveniência das classes dominantes que o utilizavam para os seus próprios fins que era o controlo absoluto do seu povo, colonizador e colonizado.

Como jovem que fui, este ideal foi-me incutido desde muito jovem, ainda me lembro de ler nos livros da escola primária toda esta propaganda e pensar nessa altura que Portugal devia ser o melhor país do mundo devido a toda a sua bravura e nobreza e assim me manipularam como manipularam a maior parte da minha geração.

Para te dar um pouco das minhas experiências pessoais deixa-me dizer-te que por muito tempo me considerei Angolano/Português e não o contrário pois vivi em Angola dos  8 aos 18 anos para onde fui com toda a minha família em Janeiro de  1961 e foi aí que se passaram os meus anos formativos (**). 

O meu pai sempre foi um guerreira da vida, à procura de sucesso para a sua família apesar de ter somente a 3ª classe da escola básica. Com esta sua vontade pelo sucesso, tentou emigrar para o Canadá aos vinte e tal anos, mas como tinha cadastro na PIDE, apesar de ter sido aceite pelo Canadá,  o governo português não autorizou a sua saída, e assim em 1960 foi-lhe feita a proposta  para ir para Angola como colono o que este aceitou,  porque era aventureiro e sabia que em Portugal as oportunidades para ele eram poucas.

Lembro-me de um jornalista perguntar ao meu pai no hospital da Junqueira onde nos encontrávamos a fazer exames médicos antes da partida, para onde íamos?  Ao que o meu pai respondeu Colonato do Cunene! . O dito jornalista,  com lágrimas nos olhos disse em voz baixa quase inaudível:
- Isto não se faz...isto não se faz...Com dois filhos assim tão novos isto não se faz !...   

Vi no rosto do meu pai pela primeira vez um ar de preocupação por todos nós, mas calou-se e não disse nada. Passadas umas semanas lá estavamos nós numa povoação chamada Castanheira de Pêra, nome bastante português mas não no norte de Portugal mas sim ao sul da Matala,  no distrito do Cunene [, no sul de Angola, vd. mapa à direita]. 


O meu pai tentou fazer o seu melhor para triunfar mas nunca tinha sido agricultor na sua vida e em Castanheira de Pêra ou se cultivava ou se morria à fome. Uma outra estipulação era a proibição de empregar qualquer nativo para não perturbar a seu modo de vida que era basicamente a criação de gado. Como poderia um casal de portugueses brancos,  vindos do Algarve,  sem nunca ter sido agricultores,  triunfarem no colonato do Cunene quando o governo lhes promete o Céu e no fim dá-lhes um casal de bois bravos, 4 hectares de terra,  uma carrroça e diz Governa-te.

O meu irmão mais velho frequentava a escola comercial em Faro o que lhe foi impossivel continuar. A opção que teve foi trabalhar no campo a cortar bissapas,  nome angolano dado a arbustos. Eu guardava os bois na bela savana angolana depois de sair da escola primária.  Como calculas,  o meu pai não aguentou muito tempo e em menos de um ano deixou o colonato e arranjou emprego como electricista numa fábrica de  papel no Alto Catumbela onde foi bem sucedido devido ao seu esforço e vontade.

Ao mesmo tempo começou a guerra em Angola e a população branca estava aterrorizada,  mesmo no Cunene. Lembro-me de dormir no sótão da nossa casa 6 meses com medo de sermos massacrados.

Cherno,  a razão porque te conto toda esta história é para te dizer que as vítimas eram na maior parte das vezes os colonos e os colonizados. Nessa altura eu tinha muito orgulho em dizer em voz alta e bom som que era Angolano de corpo e alma e considerava meus compatriotas todos os pretos, brancos e mestiços que viviam no mesmo país,  Portugal. Vivia eu numa comunidade afluente onde gente de toda a raça convivia em harmonia com o objectivo de uma Angola melhor. 

Esta era a minha realidade mas bem analisada veríamos que não era bem assim. Em certas comunidades havia esta harmonia mas a maioria da população vivia marginalizada e  num estado de pobreza extrema sendo explorada por pretos, brancos e mestiços de classe sociais mais elevadas. A exploração também não tem côr.

O princípio da desintegração de toda esta compilação de sentimentos aconteceu na viagem de Bolama para Cacine quando viajava para o meu destacamento em Gadamael. Como é que uma simples viagem de barco consegue desfazer algo acumulado em duas dezenas de anos ?

Neste mesmo navio patrulha ia um sargento das tropas africanas. Acho que o seu destino era Jemberém.  Uma das declarações do mesmo foi como a percussão de todo um desencadear de pensamentos dentro do meu cérebro jovem e ingénuo.  O sargento ia falando dos roncos que tinha já feito e das operações realizadas e a certo momento diz-nos que em regra quando vai para o mato "tudo o que é preto é para matar". 

Para mim isto foi um choque tremendo pois este não era o sentimento nem o treino que tinha tido. Como africano estava ofendido (nessa altura ainda me sentia africano,  hoje sou canadiano/português) e como comandante militar senti nesse momento que havia algo de errado nesta guerra para onde ia. O inimigo para mim não tinha côr mas sim uma ideologia que era diferente da minha e que a queria impor à força, a Portugal e às populações, que viviam debaixo da mesma bandeira. Para o sargento o inimigo era preto e vivia no mato fora das zonas controladas pelas nossas tropas. Quem estaria certo ?

 Mas como podia este homem vêr os seus irmãos da mesma côr vivendo na mesma "província" como inimigos mortais ? Seria que eram todos turras ? Seria que este sargento não tinha sentimentos ? Seria que se encontrasse com um cubano branco não o matava e só mataria os pretos ? Quem teria incutido este ódio num homem que parecia afável em todos os outros aspectos ? Será que eu e os meus soldados iríamos ter os mesmos sentimentos passado uns tempos ? Esperava sinceramente que não,  mas já não tinha a certeza de nada.

Por fim cheguei a Gadamael,  entrei dentro da rotina dos bombardeamentos  mas este sargento não me saía da mente pois não queria ser como ele. O 25 de Abril diminuiu este tipo de preocupação mas começou uma nova série,  relacionada com as consequências da descolonização.  

De início não podia imaginar que Portugal poderia abandonar as então chamadas "províncias ultramarinas" porque eu conhecia bem Angola e a realidade angolana. Compreendi logo de início que a Guiné era muito diferente e que a minha experiência angolana não era a mesma na Guiné.  Lembro-me das conversas com os meus soldados tentando mentalizá-los que o regresso a casa talvez demorasse mais do que eles pensavam, que no meu parecer Portugal não ia abandonar as populações e as tropas africanas e que para tudo isto se resolver era preciso tempo.  A resposta deles era quase sempre a mesma: Eles que resolvessem isso depressa que eles queriam ir para casa. O mesmo sentimento era quase unânime  entre os outros pelotões e os oficiais e sargentos.

Foi então que entendi que os princípios e ideais porque estava lutando não eram iguais à maioria dos meus camaradas . Nessa altura eu ainda me sentia africano e tinha um peso enorme no coração por saber o que estava para acontecer a todos os meus compatriotas angolanos com a inevitável retirada. Tinha por lá ainda muitos amigos de infância e estava preocupado. A minha preocupação era legítima pois a maior parte deles veio de lá com as calças na mão como se costuma dizer.

O 25 de Abril foi um processo irrefreável como um comboio sem travões descendo uma ladeira. A descolonização ia ser feita o mais rapidamente possível desse no que desse.

Os comandos militares do MFA  sabiam que não podiam mandar a guerra continuar porque na mente dos militares a guerra já tinha acabado e agora era tudo "democracia" portanto "o povo é quem mais ordena" e o povo ordenou a entrega das colónias que foi um termo rejuvenescido para  justificar o que já estava num processo irreversível. 

Se os caixões continuassem a chegar a Portugal,  o povo revoltarse-ia e também acho que os militares não aceitariam um continuar da guerra. As negociações não contemplavam  mais nada do que a independência total e era pura e simplesmente uma questão de quando e não se nos íamos retirar. Associações de soldados, sargentos e oficias milicianos começaram a aparecer por todo o lado dentro das Forças Armadas e já não se decidia nada a não ser por comité.

Infelizmente,  Cherno,  a descolonização que se fez  não foi a que deveria ter sido feita mas a que foi possível fazer dentro de um clima que na altura se tornou caótico e que injuriou brancos, pretos e mestiços que se consideravam cidadãos de um Portugal multirracial e pluricontinental,  principalmente aqueles vivendo em África. 

Por outro lado temos também que imputar responsabilidade aos movimentos de libertação pois para bem do povo estes deviam ter insistido numa outra descolonização. Era o interesse e o bem estar do seu povo que beneficiaria de uma descolonização ordenada preservando a economia, e infraestruturas do governo como a educação e a saúde pública. Não foi isto que os movimentos exigiram de Portugal o que queriam era que saíssemos o mais rápido possível para que pudessem discutir entre eles quem reinaria, e foi isso que fizemos em detrimento do povo africano (branco, preto e mestiço) 

A minha visão deste assunto e de outros tem evoluído através dos tempos com a minha própria maturação e um entendimento mais global do mundo, vejo hoje as coisas de maneira diferente, as coisas já não aparecem a preto e branco mas sim em diferentes tons incluindo todas as cores do arco íris.  Também descobri através de muitos anos de ponderação e experiência que a culpa em coisas deste géreno não vem só de um lado e que,  para se resolver os probemas sérios, temos que escutar, analisar, reflectir,  pedir desculpa e desculpar. Um dos grandes exemplos, e filho de Africa é o Nelson Mandela que conseguiu pacificar o seu povo. Devia haver um Nelson Mandela para cada país do mundo, principalmente em África. 

Não te quero cansar mais pois esta história já está muito comprida. Quero novamente agradecer as tuas palavras e também os teus textos que acho maravilhosos. 

Obrigado
 Jose Goncalves
 Alf Mil Op Esp


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Nota de L.G.:


(*) Vd. comentário ao poste de 10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7253: (Ex)citações (108): Transferência de soberania com dignidade ou rendição sem honra nem glória ? Quando se olha para trás, é que se enxerga tudo... (José Gonçalves)


(...) Caro José Gonçalves,

Tenho lido com muito interesse os seus depoimentos ou pontos de vista que me parecem sinceros e muito realistas, certamente, fruto de uma longa reflexão e maturidade.


Sobre o poste de hoje, a minha modesta apreciação feita mais acima continua válida, no entanto queria chamar a atenção sobre um aspecto que, na minha opinião, podia e devia ser considerado,  e não foi,  que é a opinião desses soldados nativos e das milícias que, como é sabido, não viam a questão com os mesmos olhos nem tinham as mesmas motivações. E a parte da população Guineense que se arriscou ao lado de Portugal e que era considerada pela outra parte como sendo os cães dos colonialistas mereciam ser abandonados a sua sorte? Exceptuando a pequena Bélgica, nenhuma outra potência colonial o fez.  



Um dia vou contar a história de um pequeno grupo de milícias fulas destemidos que, quase sem armas, atacou a localidade de Cuntima, no norte, e as drásticas consequências que daí resultaram para a comunidade local. Houve muitos que não se deixaram enganar pelas falsas promessas de um falso acordo que, de facto, foi uma verdadeira capitulação. Esta história faz lembrar os acordos de rendição ou capitulação da Alemanha na 1ª guerra.

Cherno Baldé (...)



 (**) Último poste desta série > 12 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7267: História de vida (33): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 2ª parte (Manuel Joaquim)