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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25971: In Memoriam (510): António Rodrigues (1940-2024): (i) um mordomo da elite portuguesa dos mordomos da elite de Nova Iorque, que era natural da Batalha; (ii) um grande ativista de causas sociais (cofundador do LAMETA); e sobretudo (iii) "o meu irmão mais velho que eu nunca tive"! (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3  


Foto nº 4


Foto nº 5 


Foto nº 6


Fotos (e legendas): ©  João Crisóstomo (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Crisóstomo: 


Data - 23 set 2024 01:16 

Caro Luís Graca,

Desculpa o atraso. Tem sido um dia difícil.

Para o nosso querido amigo António Rodrigues, nascido na Batalha em 4 de setembro de 1940, acabaram-se as suas muitas batalhas (*): 

  • primeiro,  a de Foz Coa ; 
  • depois a de Timor Leste (que tem para com ele um grande débito de gratidão, pois nunca foi reconhecido);
  •  e a de Aristides de Sousa Mendes, cuja casa recebeu, especialmente dele, a primeira reparação em 2004. (**)

Embora fosse uma reparação temporária, que consistiu em tapar um enorme buraco no telhado, (um trabalho que três “contractors" acharam era impossível de execução ) e que ele conseguiu fazer quase sozinho. 

Foi reparação uma provisória (ao fim de sete anos o telhado começou a ruir outra vez) mas que foi o suficiente para evitar que a casa inteira ruísse completamente antes da reparação que viria a ter lugar nestes últimos anos e que foi agora inaugurada no dia 19 de Julho, como sabem bem.

Foi durante sua vida como um lutador e herói. Paz à sua alma.

Ele faleceu esta manhã (22 de Setembro) depois de longa doença resultado duma queda. Estava num estabelecimento para "long-staying treatment“ na Barreira, nos arredores de Leiria. Alguns dos seus amigos entre os quais minha esposa Vilma e eu nos contamos, fomos vê-lo, mais do que uma vez, quando em férias em Portugal.

O António nasceu e cresceu na Batalha, numa famíla numerosa de 13 irmãos. Aos 13 nos foi para Lisboa, procurando vida melhor : logo arranjou trabalho ca casa do Dr. António Judice B. Silva, presidente do Banco Lisboa e Açores. De noite estudava e fez a 4ª classe e o 2º  ano do liceu. 

E logo começou a sua vida de motorista e mordomo trabalhando para gente abastada , começando pela famíia Patino.

Cumprido o tempo militar em Braga, RI 8 e depois na base aérea nº 5 em Monte Real, voltou para a família Patino, mas logo percebeu que tinha de sair de Portugal se queria "vencer na vida”.

Primeiro foi para Paris onde se encontravam já alguns dos seus irmãos, e aí viveu algum tempo antes de resolver vir para os Estados Unidos. Mas não esqueço as experiências que ele me contou, de quando vivia em Paris que, na minha opinião, o moldaram para o resto da vida e que de alguma maneira explicam a sua sempre presente vontade de ajudar a toda a gente que ele encontrava precisando de auxílio.

À noite, contava-me ele, passava muitas vezes na zona onde se encontrava o consulado português. E tentava ajudar indivíduos que tinham passado as fronteiras a pé, enganados por passadores que tinham ficado com os seus dinheiros ... e por ali se encontravam, procurando trabalho ou alguém que os ajudassem.

Numa ocasião encontrou três indivíduos, cheios de sede bebendo água na fonte pública; para logo se aperceber que esses três indivíduos andavam à procura dum seu irmão. Que quando chegassem a Paris, assim lhes haviam recomendado que procurassem esse seu irmão … Esse encontro marcou-o.

Mas Washington e Nova Iorque eram o seu sonho. Veio e depois de uns tempos em Washington veio para Nova Iorque e começou a trabalhar para Morris Bergreen, de quem me lembro bem. Era frequente suceder os mordomos precisarem de auxílio para ocasiões especiais nas casas onde trabalhavam e de repente a minha ajuda começou a ser pedida também. A minha experiência de mordomo para a Senhora Onassis (Jaqueline Kennedy Onassis) era apreciada e foi assim que comecei a conhecer os mordomos portugueses de Nova Iorque.

Logo me apercebi que os mordomos portugueses eram a elite dos mordomos e os mordomos da elite de Nova Iorque. Facto que me me veio a ser de ajuda preciosa nas causas e envolvimentos em que me meti , pois muitas vezes era através deles que eu conseguia chegar às pessoas que pela sua influência podiam "fazer a diferença". O que sucedeu muitas vezes como sabe. Mas tudo começou pelo António Rodrigues.

Até ao ano 2000 ele trabalhou como mordomo para o banqueiro Edmond Safra, que o estimava muito. A sua morte repentina e trágica , vítima dum incêndio no Mónaco, causado por um mordomo, abalou-o profundamente e ele resolveu deixar tudo e voltar para Portugal. E não quis voltar mais.

Quando eu ia a Portugal o António acompanhava-me muitas vezes aos meus “encontros", fossem eles familiares ou encontros de camaradas da Guiné e portanto é natural que alguns camaradas nossos ainda se lembrem dele. Por isso se quiseres fazer uma menção dele no nosso blogue, não será de todo impertinente.

Junto algumas fotos que te poderão ser úteis, se quiseres aproveitar alguma. Eu sei que as minhas fotos são de pouca qualidade. Talvez encontres muito melhores de outras fontes que até já terão aparecido no blogue.

Se escreveres algo, podes então dar a conhecer que hoje mesmo providenciei uma "missa de sétimo dia”, para o próximo domingo, como segue:

Info: sobre a "missa de 7º dia”:

Próximo domingo, dia 29 Setembro às 10.30 AM

Endereço:

na Igreja de S. Cyril, 62 St. Marks' Place em Nova Iorque.



É uma pena que muitos dos seus colegas destas lutas já tenham partido. Agora somos todos “voluntários" na linha da frente, com boa ou má vontade…

Para os que ainda cá estamos, convidamos quem puder a participar nesta missa. Depois da missa podemo-nos reunir no salão para um café , um pequeno refresco ou talvez mesmo só um abraço de mutuo apoio. Por mim preciso bem dele.

Crescido no meio de uma família numerosa, em que eu fui o único rapaz , ele foi para mim aqui nos Estados unidos "o meu irmão mais velho" que eu nunca tive. Sei bem que tenho muitos “irmãos" em Portugal como felizmente tenho ainda aqui. Mas... custa tanto tanto perder um amigo!


Um grande abraço,

João
===============

Legendas: 

As 1ª e 2ª fotos não precisam legenda: elas falam por si. 

 A 3ª foto foi tirada no 10º aniversario da paragem da barragem: no meio o então dono dos vinhos “Ervamoira” cuja quinta ia ficar completamente submergida pelas águas da planeada barragem. 

A 4ª: na Casa do Passal em Setembro de 2004: início de remoção do lixo, ainda antes de começarmos a pensar sequer em reparar o telhado.

Foto nº 5: para o nosso casamento (meu e da Vilma)  ele veio a Nova Iorque.

Foto nº 6: Capa da brochura Lameta : na foto, eu e ele muma manifestação contra a ocupação de Timor pela Indonésia. 



S/l> S/d (c. 1996-2006) > O então presidente da República Jorge Sampaio, tendo à sua esquerda o João Crisóstomo e à sua direita o António Rodrigues. Foto do arquivo de João Crisóstomo (2015) 


Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide >  Dia da Consciência, 17 de junho de 2015, celebrado em Lisboa: sessão de homenagem a Artistides de Sousa Mendes, por ocasião dos 75 anos da sua decisão histórica  (1940-2015)

Na foto, da esquerda para a direita:

  • a Alice Carneiro;
  • o João Crisóstomo:
  • uma amiga do João (que vive em Leiria);
  • o António Rodrigues (que vive na Batalha, e é também ativista de causas sociais, foi ele com o João quem salvou da ruina completa a Casa do Passal, em 2004 (**); emigrou para os EUA em 1967, depois de ter feito o serviço militar na Base de Monte Real, como voluntário na FAP);
  • a Mariana Abrantes de Sousa (outra grande ativista da causa de Aristides de Sousa Mendes, igualmente da diáspora lusitana nos EUA):
  •  e a esposa do António Rodrigues

Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 10 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25929: In Memoriam (509): Rui Baptista (1949-2023), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872 (Cancolim, 1971/74)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25173: Faceboook...ando (50): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - Parte I

 

Foto nº 1 > Cartão de Boas Festas e Feliz Ano Novo.  Ao canto superior direito o brasão da CCAÇ 797. Na foto, o 1º caboradiotelegrafista Esteves a escrever para a famíçia e amigos. Local: tudo indica que seja Tite (onde a companhia esteve cerca de um ano, até abril de 1966). 


Foto nº 2 >  o 1º cabo radiotelegrafista Esteves lendo, na cama,um livro, cujo título não onseguimos identifiar


Foto nº 3 > O T/T Uíge que transportou o pessoal da CCAÇ 797 em abril de  1965



Foto nº 4 > O  1º cabo radiotelegrafista Esteves no regresso de saída para o mato com "banho de bolanha"... A G3 sem carregador...
 


Foto nº 5 > Na capela do quartel de Tite, sector sul,  Se  (Tite)

 A N. Sra. de Fatima também  nas matas da Guiné. . 


Foto nº 6 > Mais uma foto para a família... em Cinfães, na serra de Montemuro.


Foto nº 7 > Brindando à vida, à camaradagem, à amizade


Foto nº 8 > "A nossa equipa de futebol" (o Esteves  usa o termo "time", à brasileira)


Foto nº 9 > "Beira rio em São João" (já em 1966)... O Esteves será o camarada da  direita. 


Foto nº 10 > Quartel de Tite (c. 1965/66)

Fotos (e legendas): © Nicolau Esteves (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Nicolau Esteves, Susano, São Paulo, Brasil


1. Uma seleção do álbum fotográfico do ex-1º cabo radiotelegrafista Nicolau Esteves. A apresentação é dele, de acordo com a sua página no Facebook. As fotos (menos de 3 dezenas, de qualidade muito desigual, algumas delas riscadas), foram disponibilizadas em 20 de junho de 2016 na sua página do Facebook.  Foram selecionadas e editadas por nós. Os créditos fotográficos continuam a ser, obviamente,  do nosso camarada Esteves.

A sua publicitação nesta série ("Facebook...ando") e no nosso blogue ("Luís Graça & Camaradas da Guiné" ) permite que cheguem a um público mais vasto, e nomeadamente aos antigos combatentes da Guiné (1961/74), incluindo os seus camaradas de armas da CCAÇ 797, que passaram por Tite, São João e Nhacra. Publicaremos proximamente a II (e última) parte.

Na sua maioria as fotos não trazem legendas, e algumas estão em mau estado,  mas no essencial foram tiradas em Tite e em São João. Ficamos a  saber que o Esteves é natural de Cinfâes (portanto, vizinho da Quinta de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses; a quinta fica em contato visual com Cinfães, com o rio do Douro pelo meio, estando em frente à serra de Montemuro). 

Emigrou para o Brasil, muito provavelmente depois da "peluda". Faz anos  a 27 de janeiro. Casou com a Cilinha Esteves em 7 de setembro de 1973. O casal tem filhos e netos já criados no Brasil. Este "brasileiro de Cinfães" é pois mais um portuguès das sete partidas que foi engrossar a diáspora lusitana. Vê-se, pelo que vai postando, que tem orgulho e saudades da sua/nossa terra.

Fica convidado a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande, juntando-se aos 884 camaradas e amigos da Guiné que já lá estão (entre vivos e mortos). Até ao momento é apenas amigo do Facebook da Tabanca Grande (temos alguns, poucos, amigos comuns).

Temos escassas 15 referências à CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67). Não há nenhum camarada desta subuniddae reistado formalmente na Tabanca Grande. Em tempos (11 e 13 de dezembro de 2022) fomos contactdos pelo ex-furriel miliciano, da CCAÇ 797, a propósito do malogrado Julio Lemos Martins (que era de Ponte de Lima), desaparecido no rio Louvado. 
 "Sou o nº 8 da foto e fui camarada do Júlio Lemos no infortúnio do rio Louvado. Vivo desde 1976 no Canadá. Eu e o Júlio éramos os responsáveis desse grupo de combate nesse fatídico dia. A partir dai nunca mais vivi"....

Também temos referência ao ex-fur trms, Henrique A. Mendes, através de correspondência com a filha. (Ele seguiu depois a carreira militar.)

Sobre o antigo cap inf Carlos Fabião temos 60 referências. (Fez 3 comissões na Guiné.)


"Fotos do período em que estive em combate na Guiné-Bissau (1965/1967)" 

 (Nicolau Esteves)


(i) "Desembarcou em Bissau em 29/04/1965, tendo viajado no barco Uíge;

(ii) Foi "inicialmente enviado a Tite, passando por São João e finalmente Nhacra";

(iii) Em Tite pertenceu ao BCAÇ 1860 e passou a integrar a Companhia de Caçadores 797 (CCAÇ 797), "Camelos";  o lema era: "O inimigo teme sempre quem não o mostrar temer";

(iv) Exerceu "a função de 1º Cabo Radiotelegrafista do Comando da Companhia, liderada pelo Comandante Carlos Alberto Idães Soares Fabião";
 
(v) Vive em Susano, Estado de São Paulo, Brasil;

(vi) Tem página no Facebook e é amigo do Facebook da Tabanca Grande;

(vii) Há dias comentou,  num um dos nossos postes: "No meu tempo, 65/67, um soldado ganhava 450 escudos, o cabo 900 e eu ganhva maís 300 de prémios de especialidade no caso, 1º cabo radiotelegrafista. Naquele tempo, não tendo onde gastar ainda deu para juntar uns trocados" (Facebook da Tabanca Grande, 13 fev 2024, o1:48)

Em suma, à volta (ou a pretexto) de umas fotos do nossos álbuns, podemos sempre contar mais umas histórias, colmatando lacunas dos registos oficiais ou oficiosos da nossa guerra A CCAÇ 797 teve uma atividade operacional intensa. Sabemos muito pouco das suas histórias, a não a ser o que já se escreveu sobre o desastre no rio Louvado.


Guião da CCAÇ 797 (Cortesia: Coleção Carlos Coutinho, 2009)


2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 797


Identificação: CCaç 797
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Cmdt: Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
Divisa: -
Partida: Embarque em 23Abr65; desembarque em 28Abr65 | Regresso: Embarque em 19Jan67

Síntese da Atividade Operacional

Após o desembarque, seguiu imediatamente para Tite, onde substituíu a CCaç 423, em 29Abr65, ficando com a missão de intervenção e reserva do BCaç 599 e depois do BCaç 1860 e guarnecendo com um pelotão o destacamento de Enxudé

Na função de intervenção, tomou parte em diversas operações efectuadas no sector, de que se destacam as acções nas regiões de Gã Saúde e Jufá, em que capturou 2 metralhadoras e 14 espingardas e nas regiões de Bissa0lão, Gampari e Gã Formoso.

Em 20 e 26Abr66, por troca por fracções com a CCav 677, foi colocada em S. João mantendo o pelotão de Enxudé e destacando ainda um pelotão para Jabadá, de 13Mai66 até 30Mai66. 

Em 30Mai66 e 03Jun66, foi rendida pela  CCaç 1566, por fracções, deslocando-se então para Nhacra.

Em 6Jun66, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhacra, com destacamentos em Sanfim e João Landim, rendendo a CCav 1484 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1876, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 16Jan67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 1487, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 94 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 339
___________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 14 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25070: Facebook...ando (49): O Fernando Moreira (1950-2021), ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74) terá sido o último militar do exército a falar pela rádio com o ten pilav Castro Gil (1950-1979) antes do abate do seu Fiat G-91 R/4, "5437", por um Strela, em 31/1/1974, sob os céus de Canquelifá

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24947: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - II (e última) Parte

 

O "Senhor Timor"...  João Crisóstomo, ativista social, cofundador e líder do LAMETA (Luso-American Movement for East- Timor Autodetermination)... Acaba de receber, em Lisboa, no passado dia 11, o Prémio Tágides 2023... Afinal, quem disse que ninguém é profeta na sua terra ? Ele trocou o rincão natal, Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras pela megalópole de Nova Iorque, em 1975...

Foto: João Crisóstomo, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã, 1 de julho de 2017. Fotografado por Luís Graça.

Prémio Tágides (2023)


Num total de 171 candidatos, João Crisóstomo foi nomeado para a categoria "Portugal no Mundo" (inaugurada nesta 3ª edição, teve 3 fases de seleção, 14 candidatos, três finalistas, 
e o júri foi presidido por Isabel Mota). 

O prémio Tágides, criado em 2021, “pretende identificar, reconhecer, celebrar e premiar projetos, iniciativas ou trabalhos de pessoas que se destaquem na luta contra a corrupção e na promoção da integridade em Portugal”.

A candidatura de João Crisóstomo  foi apresentada por amigos e admiradores luso-americanos. Dos elementos que chegaram às nossas mãos, selecionámos este material informativo com dados biográficos e um resumo das actividades que o nosso camarada tem desenvolvido nos últimos três decénios na defesa de causas nobres, relevantes para Portugal e os portugueses no mundo. Esta é a segunda e última parte (*)

O nosso amigo e camarada João Crisóstomo é membro da nossa Tabanca Grande desde 26 de julho de 2010, sentando-se à sombra do nosso poilão sob o nº 432 (somos já 881, entre vivos e mortos);  tem 212 referências no nosso blogue; é o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona;  foi  alf mil inf, CCAÇ CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); vive em Queens, Nova Iorque,  desde 1975, mas vem cá com frequência, ao  seu querido Portugal.  


(...) 3. TIMOR-LESTE – 1998 (vd. Doc 3, 4, 5, 6, 7)

 

 Nos anos 1990, quando nem a política externa portuguesa nem a americana incluiam na sua agenda a independência de Timor Leste, João Crisóstomo e um grupo de amigos criou em 1998, em Nova Iorque, a associação LAMETA (Luso-American Movement for East- Timorese Autodetermination), através da qual apoiou pessoalmente nacionalistas timorenses que visitavam os Estados Unidos e promoveu acções de apoio à independência timorense junto de meios de comunicação social (NY Times, CNN e outros) e de órgãos do poder politico americanos. 

Entre outras iniciativas, organizou uma manifestação pró- independência em frente ao consulado indonésio em Nova Iorque (1999) e, com o apoio de associações luso- americanas e particulares, canalizou uma sucessão de donativos – a aproximar-se dos $200.000 dólares - para associações que no terreno timorense respondiam aos problemas sociais do território que se iria (re)tornar independente em 20 de Maio de 2002.

Graças a diligências suas e de figuras políticas contactadas, o Senado americano aprovou a Resolução 237 de 22 de Maio de 1998 apoiando a realização de um referendo em Timor-Leste. A resolução foi apresentada pelos senadores Feingold, Reed, Moynihan, Kohl, Kennedy, Harkin, e Wellstone.

Descendo a pequenos pormenores, numa altura em que pouco existia em Timor-Leste, e dada a sua proximidade com a causa timorense, chamou a si a tarefa de comprar uns óculos de que urgentemente precisava Taur Matan Ruak, então ligado ao comando da guerrilha nacionalista timorenses e futuro presidente de Timor Leste independente (2012-1017) e primeiro-ministro (2018- 2023). Os óculos, no valor de algumas centenas de dólares, foram comprados numa loja propriedade de Peter Pantoliano, situada na convergência da Niagara St. com a Ferry St. em Newark, NJ.


4. DIA DA CONSCIÊNCIA – 2004, 17 DE JUNHO (Vd. Doc 10)

 

 Desde 2004, tem estado empenhado na declaração mundial do dia 17 de junho como DIA DA CONSCIENCIA

O dia 17 de Junho de 1940 foi a data em que, contrariando as ordens de Lisboa mas obedecendo à sua consciência, Aristides de Sousa Mendes começou a conceder vistos em massa a judeus e a outros refugiados da Segunda Grande Guerra.

O Dia 17 de Junho de 2004 e o “Acto de Consciência” de Aristides de Sousa Mendes de 1940 foram celebrados nesse ano com cerca de oitenta acontecimentos por todo o mundo, com destaque para 34 Missas celebradas com a maior solenidade em 21 países. 

Esta data continuou a ser celebrada nos anos seguintes, alguns deles com grande notoriedade. Em 2010 registaram-se vários acontecimentos e entre eles uma concelebração de quatro cardeais em Roma, que mereceu devida cobertura pela Agência Zenit: “Tribute paid to those who followed conscience”, Rome June 18, 2010 ( Zenit.org).

Semelhantes acontecimentos ocorreram em outros países e no Parlamento do Canadá houve uma moção introduzida pelo legislador luso-americano Mario Silva,  “encouraging all parliamentarians to recognize this devotion to conscience by supporting my notion designate June 17 each year a day of conscience, consistent with the international efforts of João Crisóstomo”.

Na Audiência Geral de 17 de Junho de 2020 o Papa Francisco lembrou o dia: 

“Today is the Day of Conscience, inspired by the witness of the Portuguese diplomat Aristides Sousa Mendes, who around 80 years ago decided to follow his conscience and saved the lives of thousands of Jews and other persecuted people. May freedom of conscience be respected and always and everywhere and may every Christian give the example of the consistency of an upright conscience enlightened by the Word of God”.

Em 2019, a Assembleia Geral da ONU declarou 5 de Abril Dia da Consciência – sem qualquer relação com as acções de Sousa Mendes - decorrendo neste momento diligências para conciliar as datas.


5. ENCERRAMENTO DE CONSULADOS PORTUGUESES -  2006

   Quando em 2006, o governo português decidiu encerrar o Consulado Geral de Portugal em Nova Iorque no âmbito de um programa de reorganização consular que queria implementar em todo o mundo, a acção foi vivamente contestada pela população luso-americana que o consulado servia. 

João Crisóstomo assumiu a liderança do movimento de contestação que, entre outras medidas, incluiu uma manifestação em Mineola, NY, em Janeiro de 2007. 

O Consulado Geral, que contava 45.000 inscritos, acabou por ser transformado num escritório consular e, mais tarde restituido ao seu estatuto anterior. Hoje é chefiado por uma diplomata do quadro a tempo inteiro.


6. LUSO-AMERICANO REFÉM DAS FARC NA COLÔMBIA  - 2008 (Vd. Doc 9)


Em Abril de 2008, as comunidades portuguesas dos Estados Unidos viviam com alguma ansiedade a sorte do luso-americano Marc Gonsalves, desde Fevereiro de 2003 refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). 

Aproveitando-se da visita que o primeiro-ministro português José Sócrates iria efectuar à Venezuela, João Crisóstomo lançou uma accão de mobilização das associações portuguesas, 33 das quais escreveram uma carta ao primeiro-ministro pedindo-lhe diligências a favor do refém luso-americano junto do líder venezuelano, que mantinha bom relacionamento com as FARC. 

“Estas associações de 6 estados norte-americanos, representando milhares de portugueses e luso-americanos, deram o seu apoio imediato a esta diligência que surgiu nos meios associativos portugueses de Newark, NJ, e que eu me limitei a coordenar em obediência a imperativos de consciência, por dever de solidariedade humana e por não desconhecer - como antigo combatente na Guiné - o que serão para um dos nossos - Marc Gonsalves - os horrores do isolamento e as tensões de um clima de guerra” – escreveu João Crisóstomo na carta que endereçou ao primeiro-ministro português.

 Marc Gonsalves e outros reféns foram libertados em 2 de Julho de 2008 na sequência de uma operação das forças militares colombianas sem que fosse necessária a pressão do primeiro-ministro português.


7. UMA ESCOLA CONSTRUÍDA NAS MONTANHAS DE TIMOR-LESTE CO-FINANCIADA E COM PROFESSOR – 2017-2018 (Vd. Doc. 11)


Em Setembro de 2016, João Crisóstomo avistou-se em Nova Iorque com o primeiro-ministro de Timor-Leste Rui Maria Araújo mostrando-lhe documentalmente o que as comunidades luso-americanas tinham feito, quase anonimamente, pela independência de Timor-Leste. 

O chefe do governo timorense confessou que também desconhecia esse esforço, mas encorajou o activista a colocar em livro essa longa jornada que ele dirigira ou encorajara nos anos dificeis que precederam a independência. 

O livro foi impresso em 2017 (“LAMETA, o Desconhecido Contributo das Comunidades Luso- Americanas para a independência de timor-Leste”) e o primeiro-ministro quis que João Crisóstomo o fosse lançar a Dili.

De passagem por Lisboa a caminho de Dili teve oportunidade de conhecer em Portugal o professor Rui Chamusco, natural do Sabugal e ex-professor na Lourinhã, com alguns largos meses passados em Timor-Leste. 

Foi o professor Chamusco que lhe falou dum projecto duma escola nas longínquas montanhas de Liquiçã em cuja construção estavam também dispostos a dar o seu melhor o casal timorense Gloria e Gaspar Sobral.

Conta João Crisóstomo: 

“Quando cheguei a Timor Leste procurei e encontrei o João Moniz (Eustáquio), irmão do Gaspar, que me levou às montanhas de Manati-Boibau, província de Liquiça, onde me aventurei para conhecer o local onde encontrei centenas de "crianças esquecidas" e deparei nesse local com as necessidades e o muito interesse das gentes nas montanhas de Boebau pela construção duma escola. No mesmo momento eu e minha esposa Vilma que tinha vindo connosco a estas montanhas, resolvemos dar um contributo para este projecto para que ele começasse imediatamente e dei conta desta decisão ao Rui Chamusco.”

O resultado foi que passadas duas semanas o local, sob a supervisão do Eustáquio, era já um fervilhar de actividades. A construção da escola tinha começado a todo o vapor.

Em princípios de 2018 a escola era uma realidade. Foi inaugurada no dia 19 de Março com a presença do Embaixador José Pedro Machado Vieira ; Mons Mario Codamo representante do Vaticano em Dili; Dr. Rui Acácio, director da escola portuguesa de Dili e outros que demostrando vontade e inspiradora coragem enfrentaram os difíceis acessos ao local para aí estarem presentes nesse dia.

Apesar de solicitadas, as autoridades portuguesas não dedicaram interesse a este projecto concretizado e os promotores da escola são também os responsáveis financeiros pelo salário do professor, para o qual construiram também uma residência.

A escola é um edifício simples que consta de 3 salas possibilitando o atendimento a 60 crianças, em dois turnos, 30 de manhã e 30 de tarde. A escola mais próxima fica de duas a três horas a pé, para cada lado, e o acesso é por trilhos. Mesmo assim, esta já não pode receber mais crianças do que as que já tem, por falta de condições. 

Estas escolas também ajudarão a dar futuro à língua portuguesa em Timor-Leste ensinando-a aos mais jovens (45% da população timorense tem menos de 50 anos de idade), muito pressionados a trocarem-na pela língua inglesa do seu poderoso vizinho Austrália.

Como acontece tantas vezes na vida das pessoas, João Crisóstomo tem lançado e lutado por estas e por outras causas por imposição da sua consciência cívica e cristã e nunca reivindicou créditos.

Como o seu herói Sousa Mendes, basta-lhe o aplauso da sua consciência.


Anexos:


Doc 3 - Recorte do "Luso-Americano", 10 de setembro de 1999



Doc 4 - Recorte do "Luso-Americano", 23/2/2000



Doc 5 -Recorte de "Luso-Americano", 8/5/2002



Doc 6 - Recorte de "Luso-Amerciano", 12/11/1999



Doc 7 - Recorte de "Luso-Americano", 2/2/2009




Doc 9 -  Recorte do "Luso-Americano", 9 de abril de 2008: Solidariedade com Marc Gonsalves


Doc 10 - Recorte da agência "Lusa", 16/6/2021: Entrevista a João Crisóstomo sobre o Dia da Consciência


Doc 11 - Recorte de "Comunidades", 28 de fevereiro de 2018

(Adaptação, revisão, fixação de texto, links, fotos no texto, negritos: LG)

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Nota do editor LG:

(*) Poste anterior: 

12 de dezembro de 2023: Guiné 61/74 - P24945: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - Parte I

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24945: João Crisóstomo, Prémio Tágides 2023 (Categoria "Portugal no Mundo"): uma vida, muitas causas - Parte I


João Crisóstomo,  fotografado em 17 de janeiro de 2018, quarta feira, para o jornal Luso-Americano, junto à Sinagoga Luso-Espanhola, de Nova Iorque, por ocasião da homenagem que os Correios de Israel lhe fizeram,  com a emissão de um selo com a sua efígie, na sequência da sua campanha pelo reconhecimento de Aristides Sousa Mendes.

Fonte: Cortesia de Luso-Americano, 19 de janeiro de 2018


Prémio Tágides 2023, na categoria "Portugal no Mundo", atribuído na segunda feira, 11 de dezembro de 2023, na Fundação Calouste Gulkenkian. O Prémio (que tem diversas categorias) é uma iniciativa da associação All4Integrity:  

"A Edição de 2023 pretende dar continuidade à missão desenvolvida nas edições anteriores, com uma renovada vontade de apelar à sociedade civil para que se envolva no combate à corrupção em Portugal."... 

A candidatura de João Crisóstomo  foi apresentada por amigos e admiradores luso-americanos. Dos elementos que chegaram às nossas mãos, selecionámos este material informativo com dados biográficos e um resumo das actividades que o nosso camarada tem desenvolvido nos últimos três decénios na defesa de causas nobres, relevantes para Portugal e os portugueses no mundo.

Recorde-se    que  o nosso amigo e camarada João Crisóstomo é membro da nossa Tabanca Grande desde 26 de julho de 2010, sentando-se à sombra do nosso poilão sob o nº 432 (somos já 881, entre vivos e mortos);  régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi  alf mil inf, CCAÇ CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)] vive em Nova Iorque desde 1975, mas vem cá com frequência à santa terrinha.(E agora passará a vir cá mais vezes, como membro do júri do Prémio Tágides, edição 2024.)


JOÃO CRISÓSTOMO, 

UMA VIDA, MUITAS CAUSAS  


Vilma e João, "just married":  Nova Iorque, 21 de abril de 2o13. 

Para ambos, foi  o segundo casamento. Vilma, de origem eslovena (nascida na antiga Jugoslávia) vivia em França desde 1979. Profissão; enfermeira. O João, nascido em Portugal, Torres Vedras, vive em Nova Iorque desde 1975, exercendo a profissão de mordomo e empresário (*). Reformou-se, entretanto. há  Conhecia a Vilma, de Londres, desde o início dos anos 70. Mas estiveram 40 anos sem saberem do paradeiro um do outro. O casamento, interreligioso, concelebrado com um rabino judeu e um padre católico, teve na altura o devido destaque na coluna social do New York Times e no LusoAmericano. 




Quando em 28 de Abril de 2013, o New York Times dedicou uma das suas páginas ao casamento do activista luso-americano João Crisóstomo com Vilma Kracun não o fez por causa de uma proeminência social de excepção dos noivos mas pela força do importante contributo dado por João Crisóstomo a tantas causas que viu concluídas com grande sucesso. (Doc 1, em anexo).

 Também não passou sem causa o facto de a cerimónia ter sido presidida pelo rabino Elie Abadie.

No último quarto de século, João Crisóstomo não esteve ausente de nenhuma das grandes causas que atrairam o interesse geral das comunidades luso-americanas da costa leste dos Estados Unidos e que, de um modo ou de outro, também se situavam dentro do círculo alargado dos direitos humanos ou dos interesses – declarados ou não - do país onde nasceu, Portugal.

Em resultado da elevada dedicação a causas justas recebeu já as seguintes distinções:

  • 1998 - International Rock Art Congress Award (USA)
  • 2001 - Angelo Roncalli Medal, International Raoul Wallenberg Foundation;
  • 2001 - Outstanding Service to Society Award, Edison State College;
  • 2002 - Visas for Life Award;
  • 2004 - “Aristides Sousa Mendes Medal” da International Raoul Wallenberg Foundation (IRWF);
  • 2005 - Luis Martins de Sousa Dantas Medal, IRWF;
  • 2005 - Recognition Certificate, Government of Canada.

O seu envolvimento cívico tem tido estas etapas principais:


1. GRAVURAS DE FOZCOA – 1995 (Doc. 2)


Mercê dos contactos que soube construir no âmbito da sua actividade profissional de serviços à alta sociedade nova-iorquina (foi despenseiro de milionários da sociedade americana, incluindo Jacqueline Kennedy Onassis), João Crisóstomo foi determinante, através do "Times" de Londres, na internacionalização da questão das gravuras pre- históricas de Foz Coa e na suspensão, em 1995, da construção da barragem que as iria submergir. 

Pôde contactar pessoalmente Rupert Murdoch, durante um acontecimento social em Nova Iorque, e este encaminhou-o para os editores do seu "Times" londrino, começando aí a pressão internacional para salvar as gravuras de Fozcoa.

Hoje, o espaço ocupado pelas gravuras está declarado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade e, como sempre acontece, esquecido o papel inicial de João Crisóstomo.

Ainda no âmbito deste movimento criou em 1995 o “SAVE THE COA SITE MOVEMENT, USA” e promoveu demonstrações em Nova Iorque e sensibilizou diversos meios de informação internacionais e figuras da política e cultura da Europa, nomedamente a Unesco, e dos Estados Unidos obtendo apoio para a salvaguarda das gravuras de Foz Coa através de artigos publicados na imprensa internacional, sendo os seus esforços creditados pelo "Times", de Londres, o "Le Monde" e outros como o coordenador internacional deste movimento.


2. ARISTIDES SOUSA MENDES - 1996

A acção filantrópica de diplomatas portugueses em relação aos judeus residentes na Europa durante a segunda guerra mundial, muito desconhecida nos Estados Unidos, mereceu-lhe atenção desde 1996, causa que conhecera através da advogada  californiana Anne Treseder.

 Mesmo nos meios judeus que contactou, o único que conhecia bem a história do cônsul português em Bordeus era o Nobel e sobrevivente do holocausto Professor Elie Wiesel. 

Depois de se elucidar sobre o assunto, esteve em 1999 directamente envolvido na preparação da exposição aberta na sede da ONU em Nova Iorque em 3 de Abril (data da morte de Sousa Mendes em 1954) de 2000 e que, entre 52 diplomatas de 18 países, referiria o papel desempenhado na concessão de vistos a judeus pelos diplomatas portugueses Aristides de Sousa Mendes, Carlos Almeida Sampaio Garrido, Carlos Teixeira Branquinho e Carvalho da Silva. 

Esta exposição “Visas for Life”, promovida pelo activista judeu Eric Saul e patrocinada por cinco das maiores organizações judaicas nos Estados Unidos, abriu deliberadamente no dia em que passavam 45 anos sobre a morte do diplomata português Aristides de Sousa Mendes que poupou a vida a pelo menos 10 mil judeus incluídos nos 30.000 livres trânsitos passados a partir de Bordéus, onde era cônsul de Portugal durante a segunda guerra mundial. 

A acção de Sousa Mendes seria aquela que lhe mereceria mais atenção. Em 2004, no quinquagésimo aniversário da morte do ex-cônsul português em Bordéus, em colaboração com a Raoul Wallenberg Foundation International, da qual era vice- presidente, esteve na organização de mais de 80 acontecimentos em 22 países.

Assinale-se que, com acções que nunca foram além dos gabinetes e notas diplomáticas, os congressistas americanos Tony Coelho, Barney Frank e outros enviaram carta a Mário Soares em 1 de Agosto de 1986,  pedindo reconhecimento da acção de Sousa Mendes. 

O Portuguese-American Congress od New Jersey promoveu jantar de homenagem a Sousa Mendes no antigo Portuguese Pavilion da Monroe St., Newark, em Maio de 1987. João Crisóstomo, associando-se a organizações judias, elevou o patamar da campanha com acontecimentos na ONU e exposições lembrando a acção do cônsul Sousa Mendes.

Neste âmbito e enquanto o movimento de reconhecimento não se universalizava, João Crisóstomo esteve envolvido em:

  • 1996 (e seguintes): Publicação de vários artigos ( português e inglês) com a finalidade de dar a conhecer e promover o reconhecimento nos USA e no mundo em geral de Aristides de Sousa Mendes:
  • 2000, Abril: Coordenador da exposição “Visas for Life Exhibit” que abriu nas Nações Unidas em 3 Abril de 2000 em honra de Aristides Sousa Mendes; diligências para a inclusão de Aristides Sousa Mendes no filme- documentário “Diplomats for the Damned" do “History Channel”;
  • 2000: Nomeado vice-presidente da International Raoul Wallenberg Foundation;
  • 2000, Setembro: Grande cerimónia na sede do “Permanent Observer of Vatican to UN” em honra de João XXIII, com a presença do Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Angelo Sodano;
  • 2001: Abril 3: lançamento do livro “A good Man in Evil Times”, na Sede da ICEP, em Nova Iorque; 
  • 2002: April : Museu de Newark, NJ: Sessão em honra de Aristides Sousa Mendes;
  • 2003 Junho 17: diligências para a exibição do filme sobre Aristides Sousa Mendes no National Arts Club “ em Nova Iorque “;
  • 2004, Abril 4: Homenagem a Sousa Mendes com a Exposição In Time of War e palestras , em colaboração com a Câmara de Cascais na Jewish Federation of Greater Metrowest (Whippany, NJ ), na Seton Hall University (West Orange, NJ) e, depois, no Sport Clube Português, em Newark;
  • 2004 Setembro: Primeira intervenção/reparação no telhado da Casa de Aristides Sousa Mendes (juntamente com António Rodrigues, outro antogo mordomo de origem portuguesa) consequente descoberta de muitos documentos aí soterrados desde os tempos em que o consul aí habitava;
  • 2005: Homenagem a Aristides Sousa Mendes no “Museum of Jewish Heritage”, Nova Iorque, com a introdução do “Livro de Registos de Bordéus”, cerimónia que foi motivo de um artigo editorial ( OPED) no New York Times;
  • 2006, Abril 5: Visita de estudo de alunos de várias escolas portuguesas à “Galeria dos Heróis” ( i.e. ASM) do "Museum of Jewish Heritage”;
  • Abril 2006: Exposição e Conferência no Consulado Brasileiro sobre os diplomatas de língua portuguesa: os portugueses Aristides Sousa Mendes, Sampaio Garrido, Branquinho, e os brasileiros Sousa Dantas e Rosa Guimarães;
  • 2007, Fevereiro: Participação, com a inclusão das acções de Aristides Sousa Mendes e Sousa Dantas, na exposição “Diplomats of Mercy” no Holocaust Center, Queensborough Community College ( Bayside, New york);
  • 2007, Abril: Sensibiliza e acompanha familiares de Aristides Sousa Mendes a participar no Boston Festival, organizado naquela cidade pela então cônsul geral de Portugal Manuela Bairos;
  • 2010; participação na criação da Aristides Sousa Mendes Foundation nos Estados Unidos e mais tarde membro da direcção.


SELO HOMENAGEIA CRISÓSTOMO (Doc. 8)


  • 2017, 20 Novembro. Sob proposta da International Raoul Wallenberg Foundation (IRWF), a Autoridade Postal israelita emitiu em 20 de Novembro de 2017 um selo que consagra o papel do activista luso- americano João Crisóstomo na divulgação da acção humanitária do cônsul português em Bordéus Sousa Mendes e outros diplomatas na defesa da vida de refugiados judeus durante a segunda guerra mundial.

A IRWF quis também salientar o contributo do activista para o diálogo inter-religioso na área metropolitana de Nova Iorque.

A emissão é feita em 5 folhas de 12 selos, tendo c
ada um o valor facial de 2.40 NIS (New Israeli Sheqel), o custo de uma carta normal dentro do território israelita. O valor facial de 2.40 NIS corresponde a $0.70 em moeda americana, mas estes selos comemorativos de pequena circulação têm um valor superior no mercado filatélico. 

A International Raoul Wallenberg Foundation é uma organização não governamental que advoga o reconhecimento de todos os que contribuiram para a protecção dos judeus durante a segunda guerra mundial. Foi criada por Baruch Tenembaum e tem escritórios em Nova Iorque, Buenos Aires, Berlim, Roma, Londres, Rio de Janeiro e Jerusalém. 

O nome de João Crisóstomo juntou- se assim ao de outras figuras que o estado de Israel já homenageou com a emissão de selo comemorativo das suas acções de apoio ao povo judeu, sobretudo, durante a segunda guerra mundial. ~

Estão entre essas figuras o Papa João XXIII (quando delegado apostólico em Istambul); Mischa e Knar Aznavour, pais do cantor Charles Asnavour (recolheram judeus vítimas de perseguição nazi); e os diplomatas Raoul Wallenberg (embaixador sueco em Budapeste); Aristides Sousa Mendes (cônsul de Portugal em Bordéus); e Luiz Martins de Sousa Dantas (embaixador brasileiro em França), entre outros.

(Continua)

Anexos:



Doc 1 - Recorte do "New York Times", 26 de abril de 2013 (Notícia  
sobre o seu casamento, em segundas núpcias, 
com Vilma Kracun, em 21/4/2013). 



Doc 2 - Recorte do New York Times, de 27 de dezembro de 1994, 
sobre a o caso de Foz Coa


Doc 8 - Sob proposta da International Raoul Wallenberg Foundation (IRWF), a Autoridade Postal israelita emitiu em 20 de Novembro de 2017 um selo que consagra o papel do activista luso- americano João Crisóstomo na divulgação da acção humanitária do cônsul português em Bordéus Sousa Mendes e outros diplomatas na defesa da vida de refugiados judeus durante a segunda guerra mundial. Graças ao João, temos mais de 3 dezenas de referências no nosso blogue à figura do nosso compatriota. durante muitos anos esquecida (antes e depois do 25 de Abril),  Aristides Sousa Mendes


(Adaptação, revisão, fixação de texto, links, fotos no texto, negritos: LG)

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Nota do editor LG:

(*) Vd. poste de 4 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24915: (In)citações (261): João Crisóstomo, já que chegaste a finalista do Prémio Tágides (edição 2023), na categoria "Iniciativa Portugal no Mundo", esperamos que no dia 11 deste mês, na cerimónia de revelação dos vencedores, os nossos bons irãs estejam contigo e com as causas que tens defendido, com o empenho e a competência também de muita outra gente da diáspora lusófona e de outros cidadãos do mundo