Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Guiné 61/74 - P26190: Agenda cultural (871): Lançamento do livro "Manecas Santos: Uma Biografia da Luta", de Rosário Luz, dia 6 de Dezembro pelas 18 horas, no Grémio Literário de Lisboa, Rua Ivens, 37 - Baixa-Chiado
Nota do editor
Último poste da série de 14 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26154: Agenda cultural (870): Museu Nacional de Etnologia, 30 out 2024 / 2 nov 2025 > Exposição: “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades
domingo, 8 de outubro de 2023
Guiné 61/74 - P24735: Armamento do PAIGC (5): O sistema Grad, o "jacto do povo", a "mulher grande", o foguetão 122 mm: as expetativas, demasiado altas, de Amílcar Cabral
Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > O 1º Cabo Joaquim Vicente Silva, em 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior. (Neste caso, parte de um foguetão 122 mm). Nascido 1951, o nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande, faleceu em 2011. Era natural de Mafra.
Foto: © Joaquim Vicente Silva (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Citação:
(1970), "Sobre a utilização do sistema GRAD", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40434
(...) Organização e dispositivo militar
Organização
Em Maio, o Conselho de Guerra decidiu alterar o dispositivo militar e as chefias superiores das FARP.
Foram criadas unidades de foguetões de 122 milímetros e distribuídas em número de 2 a 3 por cada inter-região. Neste ano apareceram também as peças antiaéreas de 37mm.
Relativamente a efectivos globais, estima-se que o inimigo poderia dispor de 4 corpos de exército no final do ano, cada um constituído por unidades de infantaria, artilharia e foguetões.
A constituição orgânica destes corpos de exército previa um comando e órgãos permanentes de efectivo reduzido (onde existia um grupo de comando, um grupo de reconhecimento e um serviço de abastecimentos) sendo-lhe atribuídas as unidades necessárias ao desempenho de qualquer missão, em
qualquer lugar, conforme o objectivo a atingir, sendo normal a sua actuação com 3 bigrupos, 2 grupos de artilharia ou canhões sem recuo e 1 grupo de foguetões a 2 rampas. (CECA, 2015, p. 435)
Vd. postes anteriores:
13 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24220: Armamento do PAIGC (2): Ainda as viaturas blindadas BRDM-2: em finais de 1973/princípios de 1974, o PAIGC teria apenas 2 viaturas blindadas...
(...) O nome GRAD dado ao míssil soviético 122mm, embora incompleto, é correcto. De facto, e como referi no meu post, os russos aperfeiçoaram um foguetão / foguete (também lhe chamei assim), a partir de 1963, ao qual denominaram BM-21 GRAD e a partir de 1964, foram produzidos diversos tipos desta série e também um míssil portátil - o Foguete 9P132/BM-21-P, no calibre 122mm (mais curto que o modelo standard, embora também pudesse ser usado por um multi-tubo, a ser lançado por um único tubo – o lançador 9M28/DKZ-B e que é também um GRAD.(...)
sexta-feira, 10 de junho de 2022
Guiné 61/74 - P23341: Notas de leitura (1454): “La fin de l’empire colonial portugais, Témoignages sur un dénouement tardif et tourmenté”, por Éric e Jeanne Makédonsky; L’Harmattan, 2018 (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Setembro de 2019:
Queridos amigos,
O casal Éric e Jeanne Makédonsky dão como explicação de que este acervo apreciável de testemunhos recolhidos junto de intervenientes guineenses, cabo-verdianos e portugueses, entre 1980 e 1982, não foi publicado logo a seguir atendendo a que a aura de que a guerrilha guineense se cobrira de glória, no campo internacional, perdera-se, deixou de haver interesse em acompanhar o fenómeno revolucionário da Guiné-Bissau, entrara-se por um caminho sombrio, a própria investigação, que continuou a fazer-se, perdeu muito do interesse inicial. No entanto, a despeito de que todos estes testemunhos introduzam novidades de maior, a sequência cronológica como se estrutura a obra permite ao iniciado seguir a trama de forma sequencial, do princípio a uma quase atualidade. Tudo começou em estado de tormenta e em tormenta e profunda inquietação prossegue.
Um abraço do
Mário
Assitiram à independência da Guiné, décadas depois publicam livro (2)
Beja Santos
“La fin de l’empire colonial portugais, Témoignages sur un dénouement tardif et tourmenté”, por Éric e Jeanne Makédonsky, L’Harmattan, 2018, é uma obra que forçosamente nos surpreende. Marido e mulher eram jornalistas que permaneceram longamente no continente africano. E abrem o seu livro explicando porquê, só agora, dão à estampa os testemunhos que recolheram décadas atrás. Entenderam os autores que a guerrilha guineense em poucos anos perdeu o furor e o entusiasmo com que eram vistos pelo movimento revolucionário à escala mundial. No entanto, não quiseram deixar de contribuir para que a investigação sobre os acontecimentos relacionados com a independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde perdesse a possibilidade de conhecer os testemunhos de inúmeras personalidades intervenientes, do lado guineense, cabo-verdiano e português.
Após o testemunho dos guineenses (Nino, Paulo Correia, Vasco Cabral, Fidelis Cabral d’Almada) que dão conta da evolução da luta a partir de 1968, fica-se com uma apreciação do quadro político e militar até ao assassinato de Amílcar Cabral. É um dado curioso, atenda-se que estes testemunhos são recolhidos entre 1980 e 1982, do lado cabo-verdiano já há insinuações de compromisso guineense ao mais alto nível. Aristides Pereira chega a dizer quando foi raptado e metido numa lancha cuja marcha foi travada em Boké, ouviu elementos do complô referir nomes de altos dirigentes do PAIGC naturais da Guiné. Mas não diz quais. Refere a reação dos órgãos diretivos e a intensificação da luta. Pedro Pires enfatiza a preparação e execução da operação Amílcar Cabral e as consequências associadas aos mísseis Strela e ao uso de viaturas já no interior do território da Guiné para lançar mísseis sobre os quarteis. Pedro Pires recorda o pedido que fez a Aristides Pereira, então em tratamento em Moscovo, era necessário mais artilharia pesada, canhões 122, novas rampas de lançamento de mísseis GRAD e os temíveis morteiros de 120 milímetros, bem como canhões B10 e de 85 e 76 mm. O Conselho Executivo da Luta dera luz verde para uma ofensiva prevista para os meses de novembro e dezembro de 1974 com blindados T34 e BRDM, isto num quadro em que ainda se desconhecia qual seria a decisão da Organização de Unidade Africana, que tinha apelado à formação de um exército africano para expulsar as forças portuguesas.
Sobre as mesmas matérias do assassinato e da reação político-militar do assassinato de Amílcar Cabral, depõem José Araújo, Manuel dos Santos, Osvaldo Lopes da Silva, entre outros. E seguem-se os testemunhos guineenses de Nino, Vasco Cabral e Fidelis Cabral d’Almada. Uns atribuem o complô a quadros que se tinham marginalizado e que até viviam do roubo, há também quem atribua um papel relevante a Momo Touré e Aristides Barbosa, na época era uma acusação que parecia vingar, ainda não se sopesara tal inviabilidade quando o complô, como se veio a apurar, envolvera centenas de participantes de diferentes perfis. Do lado português irão depor Carlos Fabião, Otelo Saraiva de Carvalho e Carlos Matos Gomes. Fabião nega perentoriamente qualquer envolvimento de Spínola ou das Forças Armadas, mas fica a pairar no ar a possibilidade de uma intervenção completamente fora das regras clássicas de Alpoim Calvão, que ao tempo dirigia um discreto serviço de informações em Lisboa. Mas não exclui uma intervenção da PIDE, a título meramente institucional. Otelo também se mostra persuadido da intervenção da PIDE e recorda que encontrou Alpoim Calvão em Bissau em dezembro de 1972. À distância destes anos todos, estes depoimentos revelam-se profundamente datados, presunções sem mostra de prova.
Chegamos ao 25 de Abril, há um conjunto de depoimentos sobre o que era possível fazer de descolonização da Guiné, como se atuou em 25 de Abril, como se abriram conversações com o PAIGC, etc. Obviamente que os testemunhos cabo-verdianos remetem-nos para a realidade do envio de quadros para Cabo Verde, o modo como tal se processou é contado por Aristides Pereira, Pedro Pires, José Araújo, Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva, Julinho e Corsino Tolentino. Do lado guineense, Juvêncio Gomes confirma um depoimento que deu igualmente noutros locais sobre o seu papel de primeiro interlocutor do PAIGC após o 25 de Abril.
Insiste-se que a generalidade destes depoimentos não se reveste de aspetos inovadores. Nino Vieira, a propósito do golpe de 14 de novembro de 1980, repete que existia um quadro persecutório cabo-verdiano e que eram humilhantes para os guineenses os contextos institucionais existentes em Cabo Verde que inferiorizavam a Guiné, segundo Nino, Luís Cabral estava incapaz de ler a realidade. A linha guineense, caso de Fidelis Cabral d’ Almada, não deixará de referir os excessos da polícia de segurança, que gradualmente se tornou um Estado dentro do Estado. Dá-nos um quadro alucinante de uma pseudo insurreição dos antigos Comandos africanos, quando eles vieram do Senegal, aonde se tinham refugiado, apareceram praticamente sem qualquer armamento, quem os chamara dissera que vinham para apoiar Nino para fazer parte de um grande exército nacional, foram presos pela segurança e mais tarde executados.
No final desta recolha de depoimentos e dado que a sua publicação ocorreu em 2018, os autores dão-nos conta do que se passou com todos estes protagonistas:
- Fidelis Cabral d’Almada, Ministro da Justiça após o golpe de 14 de novembro de 1980, depois Ministro de Estado na Presidência, deixou a esfera pública em 1996 para se dedicar aos negócios, faleceu em 2002;
- José Araújo manteve-se em Bissau até ao golpe de 14 de novembro de 1980, foi para Cabo Verde onde seria Ministro da Educação, faleceu em 1982;
- Vasco Cabral manteve-se em funções governativas depois da rutura entre a Guiné e Cabo Verde, já faleceu;
- Vítor Saúde Maria foi várias vezes ministro, será nomeado Secretário Permanente do PAIGC e membro do Conselho de Estado, faleceu em 2009;
- Paulo Correia irá ocupar altos cargos e será detido em 1986 acusado de tentativa de golpe de Estado, sujeito a espancamentos e depois fuzilado;
- Juvêncio Gomes será afastado do cargo de Presidente da Câmara Municipal de Bissau após o golpe de 14 de novembro, será depois recuperado e exercerá funções de responsabilidade, incluindo o Ministério do Interior, faleceu em 2016;
- Manuel dos Santos (também chamado Manecas) ficará na Guiné-Bissau depois do golpe de Estado e será várias vezes ministro, dedicar-se-á mais tarde aos seus negócios; não deixará de publicamente se insurgir quanto às pensões de miséria dos antigos combatentes, dando o exemplo de um velho combatente, com deficiência, não recebia mais de 21 euros de pensão;
- o destino de Nino é bem conhecido, irá gradualmente proceder como um ditador, será afastado do poder após o conflito político-militar de 1998-1999, para espanto geral regressa do exílio português e apresenta-se como candidato presidencial, será eleito, irá entrar em conflito frontal com as chefias militares, será acusado de ter mandado liquidar Tagmé Na Waié e em sua sequência, em março de 2009, morto em sua casa, de forma bárbara.
Reconheça-se que o trabalho de Éric e Jeanne Makédonsky merece realce relativamente à cronologia dos acontecimentos desde a era das independências africanas até ao período pós-independência da Guiné e Cabo Verde. São relatos após a recente rutura entre a Guiné e Cabo Verde, há, como é evidente, alguns indícios de ressentimentos, mas no essencial os testemunhos guineenses e cabo-verdianos mantiveram consistência ao longo de décadas.
Nota do editor
Último poste da série de 6 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23331: Notas de leitura (1453): “La fin de l’empire colonial portugais, Témoignages sur un dénouement tardif et tourmenté”, por Éric e Jeanne Makédonsky; L’Harmattan, 2018 (1) (Mário Beja Santos)
sábado, 2 de junho de 2018
Guiné 61/74 - P18702: (D)o outro lado do combate (31): Os dois aviões DO-27-A1, da FAP, nºs 3333 e 3470, abatidos em 6 de abril de 1973... Fotos do médico holandês Roel Coutinho (Jorge Araújo)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Guiné 63/74 - P7372: (De) Caras (6): Convidado por Moura Calheiros para o lançamento do seu livro, A Última Missão, Manecas dos Santos, veterano do PAIGC, diz que "cada um de nós estava a cumprir o que era o seu dever" (Diário de Notícias, de 30/11/2010)
Manecas dos Santos, antigo comandante do PAIGC, o homem dos Strela... Diário de Notícias, 30 de Novembro de 2010. Recorte que nos foi enviado por José Moura Calheiros, o autor de A Última Missão (Porto, Editora Caminhos Romanos, 2010) (*) (**).
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 2 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7371: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (2): Excerto de Discurso do autor
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Guiné 63/74 - P7359: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (1): Intervenção do cineasta António-Pedro Vasconcelos
Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Intervenção, em último lugar, do autor do livro, A Última Missão, José Moura Calheiros, Cor Pára Ref, O título do livro é inspirado na missão, que o coronel chefiou, em Março de 2008, de recuperação dos restos mortais de três soldados pára-quedistas mortos em combate, em Guidaje, em 23 de Maio de 1973, e sepultados no perímetro do aquartelamento... Recorde-se aqui os seus nomes: Manuel da Silva Peixoto, de 22 anos, natural de Vila do Conde; José de Jesus Lourenço, de 19 anos, natural de Cantanhede e António das Neves Vitoriano, de 21 anos, natural de Castro Verde.
Essa missão acabou por levar o antigo oficial pára-quedista rever os anos de guerra em África, em três teatros diferentes, por ele duramente vividos, com o todo o seu cortejo de boas e más memórias.
Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > O cineasta António-Pedro Vasconcelos lendo a sua apresentação do livro do Moura Calheiros. Uma belíssima e inteligente "leitura" do livro de um grande militar português feita por um "paisano", que é também um dos grandes nomes do cinema português... Foi o Prof Rui Azevedo Teixeira, o prefaciador, quem sugeriu, ao autor, o nome do realizador de cinema e conhecido analista desportivo para apresentação da obra. Neste excerto Pedro Vasconcelos começa por evocar a nossa péssima relação com a memória... "Sempre me impressionou que os portugueses tivessem uma tão má relação com a memória"... Há um silêncio, nomeadamente no nosso cinema, na nossa literatura, na nossa ficção, sobre os nossos grandes momentos históricos, fruto da nossa tendência para esquecer em vez de lembrar, de ocultar em vez de mostrar, e sobretudo da dificuldade de nos confrontarmos com a verdade, com as ambiguidades e as contradições de que é feita a acção (individual e colectiva) dos homens e de que a história não pode deixar de dar conta...
Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Aspecto geral da mesa. Na ponta direita está Moura Calheiros, ladeado, se não me engano, pelo Director da Academia Militar. Como cheguei atrasado, não consegui saber qual era exactamente a composição da mesa, mas presumo que seja a seguinte, a contar da esquerda: o editor ou o representante da editora, um elemento (feminino) da equipa do Moura Calheiros em Guidaje, uma das antropólogas forenses da Universidade de Coimbra... Não sei quem é 3.º terceiro da mesa, possivelmente o prefaciador da obra, o Prof Rui Azevedo Teixeira, especialista em literatura sobre a guerra colonial... O 4.º elemento era o António Pedro Vasconcelos, naquele momento a discursar.
Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > O Humberto Reis, o Zé Martins e o Danif, o filho da Dona Rosa, de Bafatá (antigo pára-quedista do BCP 12).
Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Uma longa fila, no final, na sessão de autógrafos... Acabei por não poder cumprimentar o autor, com quem já falei uma vez ao telefone há tempos... Transmitiu-me por sua vez o seu apreço pelo nosso blogue, embora tenha declinado o meu convite para ingressar na nossa Tabanca Grande, por razões que eu entendo perfeitamente.
Fotos e vídeo (7' 46''): © Luís Graça (2010). Video alojado em You Tube > Nhabijoes. Todos os direitos reservados.
1. Foi hoje apresentado o livro, A Última Missão, do José Moura Calheiros, Cor Pára Ref, ao fim da tarde (mais cedo, um quarto de hora, do que o que estava anunciado no nosso blogue). A sessão decorreu no Grande Auditório do Aquartelamento da Academia Militar, na Amadora, perante uma vasta de plateia de algumas centenas de pessoas, entre militares no activo e amigos e camaradas do autor, muitos deles ligados ao BCP 12.
Dos membros da nossa Tabanca Grande, consegui localizar o Humberto Reis, o José Marcelino Martins, o Carlos Silva (e esposa), o João Seabra (que forneceu várias fotos de Gadamael ao seu amigo Moura Calheiros), o Miguel Pessoa, a Giselda, o António Martins de Matos, o António Dâmaso, o António Estácio, só para citar alguns com quem falei...
Falei igualmente com o Danif, o filho da Dona Rosa, de Bafatá, irmão das libanesas, e antigo pára-quedista, que serviu na Guiné sob as ordens do Moura Calheiros (, portanto no BCP 12). Perguntou pelo Zé Brás, seu amigo, do tempo de Tomar... Com ele, estava o Manecas dos Santos, que foi convidado pelo Moura Calheiros para estar nesta cerimónia. O forte simbolismo da presença deste antigo guerrilheiro do PAIGC será sublinhado pelo autor do livro, na sua intervenção, a última da sessão. Recorde-se que o Manecas dos Santos foi um dos míticos comandantes do PAIGC, responsável pela Frente Norte e pela artilharia (incluíndo os mísseis Strela). Não sei exactamente se foi ele que comandou as forças do PAIGC que, em Maio de 1973, fizeram o cerco à guarnição portuguesa de Guidaje. Também não sei exactamente se foi ele igualmente que comandou a emboscada à CCP 121 de que resultaram as mortes dos soldados pára-quedistas. Em Maio de 1973, Moura Calheiros era então o 2º comandante e o oficial de operações do valoroso BCP 12.
A apresentação da obra (de cerca de 600 pp.) esteve a cargo do cineasta António-Pedro de Vasconcelhos, de que se apresenta um excerto com a segunda (e última) parte.
A obra, que foi vendida na sessão de lançamento a 25 €, tem a chancela da Editora Caminhos Romanos-Unipessoal, Lda., Porto (contacto por e-mail, na ausência de sítio na Internet: ac.azeredo@hotmail.com)
(v) Em Tancos, foi Comandante do Batalhão de Instrução, Comandante do Regimento de Caçadores Pára-quedistas e Comandante da Escola de Tropas Pára-quedistas;
(xi) Hoje está reformado e afastado de qualquer actividade profissional.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Guiné 63/74 - P7343: Recortes de imprensa (35): Manecas dos Santos, o último dos cabos de guerra do PAIGC, que comandou os Strela e o cerco a Guidaje, estará na 2ª feira, 29, no lançamento do livro de Moura Calheiros (Diário de Notícias)
Livro junta inimigos da guerra colonial em Lisboa
por Manuel Carlos Freire
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Nota de L.G.:
Último poste desta série > 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7151: Recortes de imprensa (34): A guerra do Manuel Resende, ex-Alf Mil At da CCaç 2585/BCaç 2884 (Correio da Manhã)
domingo, 15 de junho de 2008
Guiné 63/74 - P2948: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Manuel dos Santos, 'Manecas', um dos últimos históricos do PAIGC
Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação > Dia 4 de Março > Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé) > Excerto da comunicação de Manuel Santos (guineense, ex-comandante militar do PAIGC) (*): "Amílcar Cabral e a componente militar do PAIGC: achegas para a compreensão dos meandros estratégicos e tácticos da guerra de libertação nacional".
Sinopse: Neste microfilme, Manuel dos Santos começa por referir a difíceis condições em que arrancou a luta pela independência, liderada por Amílcar Cabral e o PAIGC: um país de 600 mil habitantes, com um território plano, sem montanhas, recortadado por inúmeros cursos de água, sem vias de comunicação terrestre, com uma multiplicidade de etnias, com uma população 99% analfabeta, sem consciência nacionalista, não permitia predizer o sucesso que a luta de guerrilha rapidamente alcançou a partir de 1963... Mais, diz taxativamente que "nenhuma guerra revolucionária foi iniciada em condições tão difíceis"...
Evoca a seguir o início da preparação da luta, com a instalação em Conacri do secretariado do PAIGC, em 1960, e o envio para a China, para formação política e militar, de uma primeira leva de jovens quadros dirigentes (entre eles, o 'Nino' Vieira).
Depois da mobilização dos indispensáveis recursos humanos, técnicos e fianceiros (o dinheiro, as armas e as munições vieram de fora; os homens foram recrutados, em condições difíceis, no interior...), o PAIGC é confrontado com os primeiros sucessos no campo militar, no sul e a na zona leste, ultrapassando as expectativas e as próprias estruturas organizativas do PAIGC, cujos dirigentes se viram desautorizados, nalguns casos e em certas zonas, por pequenos senhores da guerra, transformados em déspotas, actuando por sua conta e risco, e que foram autores de abusos e até de "crimes abomináveis" contra a população sob o seu controlo...
O PAIGC vê-se assim obrigado a organizar o seu primeiro Congresso, em Fevereiro de 1964, em Cassacá, no sul, na região de Tombali. É aqui se definem as estruturas político-militares e a administração civil, subordinando-se os militares aos políticos. É também nesta altura que se criam as FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo).
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Nota de L.G.:
(*) Nota biográfica: Manuel dos Santos (Manecas), nasceu em 1942 em Cabo Verde. Recebeu formação militar em Cuba e na URSS. Foi o primeiro a aprender a manobrar os poderosos mísseis Strella, a arma que tantos problemas trouxe às NT. Um dos primeiros disparos ocorreu em 25 de Março de 1973 e resultou no abate do Fiat G91. A partir dessa data, a guerra nunca mais foi a mesma. A aviação deixou de bombardear a guerrilha com tanta regularidade e as evacuações passaram a ser mais difíceis. Depois da Independência foi ministro da Informação, dos Transportes e do Equipamento Social.
Fonte: Guiné, Ir e voltar - Tantas vidas, blogue de Virgínio Briote > 03/02/08 > PAIGC: Alguns dos protagonistas conhecidos > Manuel dos Santos
Vd. também poste de 14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (1): Guidage (João Dias da Silva, CCAÇ 4150, 1973/74)
(...) "1 de Julho de 1974 – Encontro na zona da bolanha de Nenecó (junto da fronteira com o Senegal, a norte de Bigene) entre PAIGC e COP3.
domingo, 23 de março de 2008
Guiné 63/74 - P2676: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (2): Um abraço de ermons e (más) recordações do Comandante Manecas
Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 29 de Fevereiro de 2008 > O Zé Teixeira com o antigo combatente do PAIGC Mauindé Baldé que o queria apanhar à unha, no ataque a Mampatá Forreá, de 3 de Novembro de 1968...
Fotos: © José Teixeira (2008). Direitos reservados.
1. Continuação da crónica do Zé Teixeira, com as suas impressões sobre o Simpósio de Guileje (1):
(i) CONVÍVIO COM ANTIGOS INIMIGOS
Ao contactar com antigos combatentes do PAIGC, procurava saber a zona de acção onde estiveram envolvidos na esperança de poder olhar bem de frente, olhos nos olhos, quem em tempos idos não hesitaria em me matar, acto que eu possivelmente não cometeria, pois como enfermeiro, a minha arma era a seringa.
Um simpático velhinho perguntou-me se eu estava em Mampatá Forreá em princípios de Novembro de 1968, quando eles tentaram entrar à na tabanca. Era o Mauinde Baldé, se a memória não me falha.
Ao confirmar a minha presença nesse ataque, ele disse-me que a intenção era tentarem apanhar-nos à mão. Foi um dos que já estava dentro do arame farpado, mas teve de voltar para trás rapidamente, perante a nossa reacção.
Excerto do do meu Diário (2):
Mampatá, 3 de Novembro de 1968: O dia 3 de Novembro não será esquecido pelos 'Amarelos de Mampatá' pois tivemos de travar uma luta de vida ou de morte com o IN que aproveitou a hora do almoço em que os militares se afastaram do seu posto de defesa para buscar na cozinha alimentação, para tentar entrar em Mampatá. De algum modo eu fui o responsável pela situação criada, pois incentivei um sentinela durante a noite a mandar um tiro na direcção de uma vaca que estava entre as duas faixas de arame farpado e tocava neste, provocando o tilintar das garrafas que lá tínhamos colocado para não sermos surpreendidos pelo IN ao tentar entrar pela calada da noite cortando o arame. Esta minha atitude passou-se durante a minha hora de ronda e o sentinela assim fez pouco depois, aparecendo de manhã uma vaca com um buraco numa coxa. Claro que o proprietário o Régulo Alfero Aliu ( Alferes da Milícia) vendeu a vaca à tropa. Há mais de um mês que não comemos carne, porque os Africanos se recusam a vender qualquer animal. Assim foi fácil convencer o proprietário a vender a vaca ferida, mas ficou-nos caro. Praticamente todos os postos de sentinela ficaram abandonados à hora do almoço o que não é habitual, mas o estranho foi o turra saber exactamente o que se estava a passar e atacou. Quase todos os soldados tiveram de correr para as suas posições debaixo de fogo e durante quinze minutos a luta foi terrível com 'eles' junto ao arame com fogo cerrado. Chegámos a ter a sensação que estavam cá dentro o que não se verificou graças à nossa capacidade de resistência e por sorte também. Ao tentarem entrar pelo lado de Buba, o Silva Algarvio que não tinha vindo buscar a comida ao refeitório por estar doente, aguentou-os até chegarem reforços e obrigou-os a retirar. Aliás foi ele que deu o sinal. Ao ver um grupo de africanos com armas que não eram a velha Mauser a tentarem forçar a porta em rede de arame farpado, estranhou e abriu fogo, depois. . . foi, cantinas de comida pelo ar e umas loucas correrias para os abrigos de protecção.
Seguiu-se o 'chocolate' do costume. Os assaltantes recuaram para selva e o fogo continuou. Onze tabancas [moranças] ficaram destruídas pelo fogo, pois utilizaram balas incendiárias e também destruiram o paiol. Fiquei assustado e desorientado porque, dada a intensidade do fogo e a estratégia adoptada pelo IN, contava ter muito que fazer com os feridos talvez mortos, atendendo a que ninguém contava com tal surpresa e os postos estavam desguarnecidos e sobretudo porque tinha pouco material de socorro ( apenas 2 sacos de soro). Ainda debaixo de fogo saí do abrigo onde me protegera e corri pela Tabanca à procura de feridos, junto dos abrigos subterrâneos onde se abrigara a população. Felizmente nada aconteceu, foi só fogo de vista susto e prejuízos materiais. Graças a Deus. Pergunto-me como que a população não foi atingida e as suas casas foram queimadas. Ataque combinado ? Notámos que o 'catequista' muçulmano saiu de manhã cedo para bolanha, o que é estranho pois costuma estar sempre na tabanca a ensinar os putos e só voltou muito depois do ataque. Temos de o trazer debaixo de olho, como disse o Alferes Belo depois de saber a sua ausência.
[O antigo guerrilheiro] não se lembrava das razões porque foram visitar-nos nesse dia. Já lá tinha ido uns dias antes, mas atacara do lado da fonte, estrada de Kumbdjá, como habitualmente faziam, ao princípio da noite
Seguiu-se um abraço de ermons, na alegria de que o passado foi esquecido. O importante agora é construir uma Guiné Bissau.
(ii) O COMANDANTE QUE NÃO QUER FALAR
- Então, comandante, aquele ataque a Buba!... Em Setembro de 1969, não correu bem !
- Não quero falar desse ataque. Não fui apanhado por muita sorte.
Conversa encerrada com o comandante Manecas, o homens dos mísseis Strela.
Relendo o meu Diário:
Empada, 16 de Outubro de 1969: Do pelotão que está em Buba chegam novidades. Há dias houve por lá um terrível ataque com tentativa de assalto. Atacaram do sítio habitual do lado do rio com 10 Canhões, enquanto do lado da pista fazia o desenvolvimento do assalto, procurando apanhar a tropa desprevenida. Segundo dizem os meus colegas eram mais de duzentos, a avançarem em arco para que, se as nossas forças saíssem, as envolverem. Felizmente estava emboscado um Pelotão que os detectou.
Parece que foi um tremendo fogachal, enquanto os Fuzas perseguiam os que atacaram do lado do rio que pretendiam reforçar as forças de assalto. Ao fazer-se o reconhecimento, foi encontrado um rádio, sinal de que o ataque foi bem comandado e o fogo controlado por sentinelas avançadas. Foram descobertas e desenterradas 180 granadas de canhão sem recuo. Foi também ouvido ruído de viaturas.
Quando os Fuzas voltaram ao quartel, foram seguidos pelo IN que os atacou muito perto de Buba. Assim caíram entre dois fogos, o do IN e o de Buba que reagiu a um possível ataque sem saber que o fogo era destinado ao grupo de fuzas. No dia anterior tinha havido uma coluna a Nhala ,onde apenas foi encontrada uma A/P com dispositivo anti-levantamento eléctrico que felizmente não funcionou por ter as pilhas gastas. Nesta minha havia uma mensagem escrita; Esta é para Alferes Gonçalves. Infelizmente este furriel e não alferes, já está em Lisboa devido a um estilhaço que apanhou noutro ataque a Buba.
Insisto:
- Mas, comandante, vocês queriam mesmo entrar. O quartel e povoação foi cercado do lado da pista, como já o tinham feito em uns meses antes.
- Essa missão competia à infantaria. Eu estava no posto de controlo da artilharia. Tudo estava a correr mal. O levantamento do local tinha sido feito com a maré cheia e atacamos com maré vasa. Não foi possível colocar as armas nos locais previstos. Por outro lado a terra estava mole, os canhões enterraram-se e as granadas caíram quase todas no Rio. Preocupado com a orientação do fogo, não reparei e não fui apanhado por pouco. Foi um dia para esquecer.
E mais não disse o comandante.
Zé Teixeira (2)
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