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sexta-feira, 5 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25717: Casos: a verdade sobre... (44): fogo IN ou "fogo amigo" a causa das 7 mortes civis em 1/12/1973, no Xime ? A hipótese de ter sido a artilharia de Gampará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, tem de ser descartada


Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O soldado cozinheiro Joviano Teixeira junto  ao obus 10.5 cm (29º Peçl Art)

Foto (e legenda): © Joviano Teixeira (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Península de Gampará > CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, 1972/74 > O fur mil at inf Joaquim Martins junto ao obus 10.5 cm (29º Pel Art)

Foto (e legenda): © Joaquim Martins (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Excerto da História da Unidade: BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (*)


1. Estas duas fotos, reproduzidas  acima,  são  fundamentais (embora não saibamos a data precisa em que foram tiradas...) para deitar por terra a suspeita que chegou a recair sobre Gampará (ou, melhor, Ganjauará, na pensínsula de Gampará) e o seu pelotão de artilharia, o  29º Pel Art, ao tempo da CCAÇ 4142/72... Suspeita de terem provocado vítimas, no Xime, num hipotético caso de "fogo amigo" (**) ...

Em 1 de dezembro de 1973, uma família inteira,  mandinga, de 7 pessoas, vizinha do nosso "menino do Xime", o agora eng silv José Carlos Mussá Biai (há muito a viver e a trabalhar em Portugal),  morreu na explosão de uma granada de arma pesada, na tabanca do Xime (***)... (Nâo se sabe se foi de foguetão 122 mm, morteiro, canhão s/r, do IN ou de obus, das NT).

A pergunta continua a ser legítima: ataque ou flagelação IN  com foguetões de 122 mm e outras outras pesadas ? Ou "fogo amigo" da nossa artilharia, na resposta ao IN ? ... 

Infelizmente já não está entre nós o Sucena Rodrigues (1951-2018), ex-fur mil da CCAÇ 12, que estava no Xime nessa noite de 1 de dezembro de 1973. Num poste que ele aqui publicou (**), parece deduzir-se que estaria mais inclinado para  a hipótese de  ter sido "fogo amigo", neste caso provoado pelo  obus de Gampará, do outro lado do rio Corubal... 

Em vida, nunca chegámos a esclarecer as suas suspeitas, nem mesmo em conversa "off record".

Em princípio as duas fotos que publicamos acima vêm descartar a essa possibilidade, a  de ter sido "fogo amigo", uma  granada de um obus 14, disparada do outro lado do rio Corubal,  ...A unidade de quadrícula do Xime era então a CCAÇ 12. (Em março de 1973, a CART 3494, que estva no Xime,  fora transferida para Mansambo.)

Só o obus 14 tinha alcance para atingir o Xime, a partir de Gampará (c. 15 quilómetros de distância em linha reta, no máxino)... Ora em 1972/74, ao tempo da CCAÇ 4142/72 (Os "Herdeiros  de Gampará"),  que havia em Ganjauará na era o obus 10.5 e não o obus 14, como se comprova por estas fotos e outras fontes. 

A distância, entre Ganjauará e o Xime era 15 km,  em linha reta,  medida na carta da província da Guiné (1961, escla 1/500 mil) ou seja, dentro do alcance do obus 14, mas não do obus 10.5 .


Guiné > Carta da província portuguesa (1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Ganjauará, Xime e Mansambo. 

Infografia;: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


O Xime só tinha o obus 10,5 cm (que não chegava à Foz do Corubal e à Ponta do Inglês, no tempo em que fui operacional da CCAÇ 12, 1969/71)...O Xime sempre foi guarnedido até ao fim da guerra pelo 20º Pel Art (10,5cm). E Ganjauará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, era guarnecida pelo 29º Pel Art (10,5cm).

Descobrimos agora que obus 14 que deu apoio ao Xime no ataque ou a flagelação de 1/12/1973 foi  o de Mansambo, onde tinha sido colocado o 27º Pel Art (14 cm)...A distância entre Mansambo e Xime era também de 15 km em linha reta (portanto, ainda dentro do alcance do obus 14).(No meu tempo, 1969/71, Mansambo tinha obus 10,5, mas depois deixou de ter.)

Na história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), há referência explícita a dois Pel Art, o 20º (10,5cm) que estava no Xime, e o 27º (14 cm) que sabemos, pelo Sousa de Castro, que estava nessa altura, em 1/12/1973,  em Mansambo.

No livro da CECA, sobre a atividade operacional no CTIG, de 1971 a 1974  (CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, 2015), não há referência ao 27º Pel Art em Mansambo... Certamente, por insuficiência de dados.

Sabe-se que no ano de 1973 houve uma grande mobilidade dos Pel Art, do GA 7. Em 1/7/1972, o 27º Pel Art (14) estava em Farim, e Ganjauará, ao tempo da CART 3417, tinha um Pel Art, s/nº (10,5 cm, a três bocas de fogo) / GA 7...

Um ano depois, estava lá, em Ganjauará, o 29º Pel Art (10,5cm) , e o 27º Pel Art tinha sido sido saído de Farim, passando a ser substituído pelo 7º Pel Art (10,5cm). Mas o subsetor de Mansambo, Setor L1 (Bambadinca),  ainda não tinha nenhum Pel Art. Deve ter vindo nesse 2º semestre.

Pela Directiva nº 17/73 de 16 de abril de 1973, fora remodelado o "dispositivo artilheiro". Entre outras medidas, foi atribuído um Pelotão de Artilharia 14 cm (a 3 bocas de fogo), a cada uma das seguintes guarnições: "Bigene, Mansoa (a transferir, logo que possível, para o aquartelamento a instalar na estrada Jugudul-Bambadinca), Piche, Mansambo, Tite, Fulacunda, Ganjauará, Buba, Aldeia Formosa, Catió (provisoriamente em Cufar), Chugué, Guileje e Cacine.".

Mansambo recebeu o 27º Pel Art (14cm), mas Ganjauará manteve o 29º Pel Art (10,5cm),

É verdade, e como reconhece a história do BART 3873, o setor L1 parecia estar calmo no finalo de 1973.  Por outro lado, antigos guerrilheiros do PAIGC com quem falei em março de 2008, no Cantanhez e em Bissau, e que tinham estado, por volta de 1972, na região compreendida pelo triângulo Bambadinca - Xime - Xitole (frente Xitole, segundo o dispostivo do PAIGC), disseram-me que terá havido, possivelmente no 1º trimestre de 1973, após o assassinato de Amílcar Cabral, deslocação de forças para reforçar a frente sul ou a frente norte, por ocasião da batalha dos 3G (Guidaje., Guileje e Gadamael)...

O que também explicaria a relativa fraca resistência com que as NT, em finais de 1973, encontravam em áreas de difícil acesso como Mina/Fiofioli, na margem direita do rio Corubal... (onde no meu tempo, a CCAÇ 12 e os batalhões a que estava adida, o BCAÇ 2852 e o BART 2917, nunca foram).

Vamos aceitar, como mais plausível (e para nossa tranquilidade...) (***) que os mortos do Xime nessa noite de 1/12/1973 tenham sido provocados por  fogo do IN. (LG)

_________

Notas do editor:



A. M. Sucena Rodrigues (1951-2018)
(i) ex-fur mil inf, CCAÇ 12 
(Bambadinca e Xime, 1972-1974); (ii) licenciado
 em engenharia eletrotécnica pela Universidade de Coimbra; 
(iii) foi professor do ensino secundário até ao ano 
da reforma,  em 2016; (iv) vivia em Oliveira do Bairro.


(**) Vd. poste de 8 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14585: Os nossos camaradas guineenses (42): em 1/12/1973, na tabanca do Xime, vítima de fogo amigo ou inimigo, morreu na sua morança um militar da CCAÇ 12 e toda a sua família, duas mulheres, duas crianças em idade escolar e um recém nascido (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74)

(...) Estive na CCaç 12, de 1972 a 1974 em Bambadinca e no Xime.

Sobre o ataque ao Xime [em 1/12/1973],   com fogo inimigo ou amigo (??), cada um terá a sua opinião. Tenho a minha, mas não vou aqui divulgar, por achar que não virá resolver coisa nenhuma. Poderá, isso sim, eventualmente trazer outros problemas.

Só quero dar algum esclarecimento: (i) as vítimas não foram 7 mas sim 6, e não foram todas civis; (ii) morreram: 1 militar da companhia [a CCAÇ 12,] (era o pai da família), 2 mulheres (ambas mães da família, como sabes praticava-se a poligamia), 2 crianças em idade escolar e 1 criança recém nascida ( com 8 dias de vida).

Este esclarecimento não terá grande importância perante o resto, serve apenas para acrescentar mais algum rigor. (...)

(...) Comentário do editor:

Segundo a página oficial da Liga dos Combatentes, em 1/12/1973, no TO da Guiné, e por motivo de combate, morreu apenas um elemento das NT, o soldado Sumbate Man. Consultanda a preciosíssima Lista dos Mortos do Utramar, nascidos na Guiné, do portal Ultramar Terraweb (de novembro de 2006, e atualizada em janeiro de 2015), constata-se que o Sumbate Man era soldado milícia, natural de Nova Uaque,  concelho de Mansoa, nº 268/73, pertencente ao Pel Mil 365, adiddo à  2ª C/ BCAÇ 4612, subunidade que estava em Jugudul (1972/74)...

Não pode, em princípio,  ser o militar da CCAÇ 12, referido pelo Sucena Rodrigues.(..:)
 
António, está feito o esclarecimento, obrigado. Infelizmente, a CÇAÇ 12 não tem história de unidade, relativamente ao período que vai de março de 1971 até à sua extinção, em agosto de 1974... A única que conheço foi a que eu pessoalmente escrevi e que vai de maio de 1969 a março de 1971...

Relativamente à "tua versão" sobre o fogo amigo / fogo inimigo que matou um camarada nosso e a sua família inteira (!), eu gostava de conhecê-la um dia, mesmo que seja em "off record"... Não farei uso dela, em público, fica entre nós... Entendo que o assunto é delicado. De resto, e de acordo com a política do blogue, também não estamos aqui para julgar e muito menos incriminar ninguém.(...)

PS - Talvez alguém saiba dizer o nome do militar da CCAÇ 12 que morreu, cruelmente, com toda a sua família, na tabanca do Xime, no  dia 1/12/1973. (...)


(**) Vd. poste de 8 de maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6348: Actividade da CART 3494 do BART 3873 (7): Parte 7 (Sousa de Castro)

(...) 20 FASCÍCULO

DEZEMBRO 1973 (...) 

(...) Sub-Sector do Xime (CCAÇ 12)

Em 01 pelas 22,15 horas, grupo não estimado flagelou o Xime E durante 25 minutos. Caracterizou-se por uma das suas maiores flagelações sofridas, tendo possivelmente os atacantes empregado todas as armas pesadas da zona, incluindo foguetões 122 mm. Dois desses foguetões atingiram uma morança da tabanca, morança que ficou totalmente destruída e com os seus 07 residentes (civis) mortos.

A reacção das NT foi imediata: 20º Pel Art (10,5cm), Pel Mort  4575/72 e apoio do 27º Pel Art  (14 cm) aquartelado em Mansambo. NF sem consequências.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25669: Convívios (1002): Rescaldo do XXXVII Convívio da CART 3494, realizado no Quartel da Serra do Pilar (ex-RAP 2) Vila Nova de Gaia (Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista)


RESCALDO DO 37.º CONVÍVIO DA CART 3494 REALIZADO NO QUARTEL DA SERRA DO PILAR (EX-RAP 2) VILA NOVA DE GAIA

No passado dia 08/06/2024 foi o dia da celebração do cinquentenário da chegada da guerra Colonial da Guiné da CART 3494.
A cerimónia teve lugar na Unidade Mobilizadora do BART 3873 [composto pelas companhias operacionais; CCS em Bambadinca; CART 3492 no Xitole; CART 3493 em Mansambo e CART 3494 no Xime] o Regimento de Artilharia Pesada - 2, hoje com o nome de: “Quartel da Serra do Pilar” em Vila Nova de Gaia.
Depois da receção de boas-vindas, cumprimentos, abraços e beijinhos e posta a conversa em dia, procedeu-se a uma singela homenagem aos mortos em combate junto do monumento, com a deposição de uma coroa de flores, sem esquecer os 39 camaradas, dos quais temos conhecimento, que deixaram a vida terrena após o término da guerra. Os toques adequados para o efeito foram a cargo da Unidade.

Após a cerimónia seguimos até a um Restaurante em Matosinhos "Restaurante Mariazinha" onde foi servido um excelente repasto. Muita animação e alegria em todos os intervenientes, reviveram-se Estórias da época, relembraram-se operações muito delicadas em que perdemos 4 camaradas e também muitos feridos em combate, mesmo assim não faltou animação e muita alegria, na certeza de que para o próximo ano estaremos todos juntos e mais alguns para celebrar os 51 anos da nossa chegada. O repasto todos foram unânimes, estava muito bom! Nada a apontar.

Também tivemos discursos de circunstância referente aos tempos passados na guerra da Guiné.
Por último não houve grande dificuldade em arranjar um novo timoneiro para levar a cabo o próximo encontro, assim sendo, o ex. Fur Miº Infª António Bonito, (foto ao lado) prontificou-se uma vez mais a levar a bom porto esta tarefa e nos convidar para no dia 07 de junho de 2025 levar-nos até à zona entre Figueira da Foz e Montemor O Velho para o encontro anual, será o 38º.

Nota final:
Lamentamos a falta injustificada de pelo menos 7 presenças confirmadas, a organização devido ao espaço limitado teve de recusar alguns camaradas que tinham vontade em participar, portanto camaradas, temos de ser rigorosos com nós próprios, cumprir com a data limite imposta pela organização para confirmação. Como sabem, esta coisa acarreta despesas.
Vamos lá camaradas cuidem-se, muita saúde para estarmos juntos no próximo ano. Muita força e saúde da boa!


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Nota do editor

Último post da série de 5 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25607: Convívios (1001): Rescaldo do XXXI Encontro da Rapaziada, e familiares, da CART 11/CART 2479, levado a efeito no passado dia 1 de Junho na Tornada, Caldas da Rainha (Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil Art)

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25518: Notas de leitura (1691): BART 3873 - História da Unidade - CART 3492 / CART 3493 / CART 3494 - O Sector L1 de 1972 a 1974, e as minhas lembranças de 1968 a 1970 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Novembro de 2022:

Queridos amigos,
O ter finalmente lido por inteiro a história do BART 3873 sacolejou-me algumas memórias, daí este meu atrevimento em comparar, sem fazer juízos de valor, o que era o setor de Bambadinca entre 1968 e 1970, onde combati e este período correspondente aos últimos anos da guerra. Que houve mais dinheiro houve para intensificar a africanização da guerra, a formação de milícias em Bambadinca, surpreendeu-me o descontentamento da população civil em Madina e a sua aproximação ao Enxalé, dei mesmo comigo a pensar os ralhetes que recebi quando insistia na aproximação entre Enxalé e o regulado do Cuor, a minha área de missão, tínhamos a mesma força hostil, ainda por cima o Enxalé não tinha condições para fazer qualquer dissuasão à travessia do Geba pelas forças do PAIGC, entre São Belchior e o Enxalé. 

PMais escolas, mais mesquitas, mais assistência, os grupos de milícias a crescer como cogumelos e recordo o que me era dado e arregaçado, a pedincha permanente para ter materiais de construção civil, pagar a dois professores; e quartel em Mato de Cão, evitando as deslocações diárias de Missirá, com o ponto curioso de que o Pel Caç Nat 52, de que fui comandante, ter ido para Mato de Cão para ser flagelado e ouvir, não muito longe, as embarcações civis a ser flageladas em Ponta Varela.

 Outros tempos, gostei muito de ler esta história de unidade e reviver o que passei através do que outros passaram, uns anos mais tarde. Como o Luís Graça participou nesta história, entre 1969 e 1971, seria bom que também nos desse umas dicas sobre o tempo que viveu e este tempo do BART 3873.

Um abraço do
Mário



O Setor L1 de 1972 a 1974, e as minhas lembranças de 1968 a 1970

Mário Beja Santos

Tive finalmente acesso à história do BART 3873, ativo no chamado Setor L1, onde também vivi 2 anos em cheio, leitura que me foi facultada pela Biblioteca da Liga dos Combatentes. Muito se tem escrito no blogue à volta desta história de unidade, pretendo exclusivamente, e de memória, comparar o setor ao tempo em que ali vivi.

 O Geba já era crucial como via de transporte, não se circulava por estrada de Jugudul até Bambadinca, circulação interrompida, em anos anteriores a atividade do PAIGC limitara a circulação para Porto Gole e Enxalé, passei 17 meses no regulado do Cuor, só em expedição militar é que podia ir até ao Enxalé, municiava-me e abastecia-me de Bambadinca para a bolanha de Finete, cerca de 4 quilómetros de montanha-russa até à povoação, mais 15 ou 16 até Missirá; quando tudo estava alagado, entre Sansão e Canturé, socorríamo-nos de um Sintex entre Bambadinca e Gã Gémeos, havia um arremedo de porto aqui; não havia destacamento em Mato de Cão, para evitar minas e sobretudo emboscadas foram delineados 6 itinerários tudo a pé, com sol ou chuva, minas não houve nem emboscadas, fez-se constar no mercado de Bambadinca que só por bambúrrio da sorte é que seriamos encontrados; Mero era então local de abastecimento do PAIGC, vinham de Madina/Belel habitualmente colunas civis, com armamento rudimentar (espingarda Simonov), atravessavam o Geba mais ou menos entre Canturé e a norte de Finete, usavam o bombolom para se anunciar, deixavam indícios, desde as bostas de vaca, granadas, carregadores, pegadas, aí sim, tivemos vários recontros; patrulhava-se o regulado até perto de Queba Jilã, nas primícias do corredor do Oio, cedo aprendi que qualquer confronto podia trazer feridos, vivi uma experiência muito amarga dentro de Chicri, num caminho que dava a Madina, um apontador de dilagrama acidentou-se, houve muito sofrimento, muita angústia; mas a população de Madina também atravessava para os Nhabijões, apanhámos várias embarcações escondidas no tarrafo, e quando fomos transferidos para Bambadinca, nos patrulhamentos na região de Samba Silate também encontrámos canoas, destruíamos e eles faziam outras; nunca houve qualquer ataque a barcos em Mato de Cão, alguns em Ponta Varela, já em Bambadinca perguntei ao comandante e ao major de operações por que é que não se queria repensar a quadricula, sugeri dois pelotões no Xime, um destacamento em Ponta Varela e outro na Ponta do Inglês, o PAIGC estava estrategicamente implantado num ponto pouco acessível entre Baio e Burontoni, no Poidom, na Ponta Luís Dias, em Mina, Galo Corubal e Tabacutá, eram bolanhas muito férteis, indispensáveis para o abastecimento civil e militar do PAIGC, íamos, fazíamos uma destruição, o PAIGC reconstruía, nunca largou mão deste extenso território que foi ocupado no segundo semestre de 1963 por Domingos Ramos, que irá morrer em Madina do Boé; iniciou-se no meu tempo a construção do ordenamento dos Nhabijões, construção modelar, exigia patrulhamento, só mais tarde apareceram minas e incursões do PAIGC; Amedalai já tinha milícia, que dava segurança até na linha de tabancas Taibatá-Demba Taco-Moricanhe, é do meu tempo o abandono de Moricanhe, que veio a ter reflexos na região do Xitole.

Havia uma imensidade de tabancas com predomínio de população Fula, lembro Bricama e Santa Helena, já na margem esquerda do Geba, íamos regularmente a Galomaro, Madina Xaquili, ao regulado de Badora, onde pontificava o régulo Mamadú Bonco Sanhá, deslocava-se de Madina Bonco até Bambadinca numa motocicleta, fardado a rigor, os seus galões de tenente a luzir, sempre de óculos escuros e muito cortês.

Lendo cuidadosamente a história do BART 3873, no essencial eram as mesmas povoações de 4 anos antes, creio que Galomaro mudou de setor. Os efetivos de Bambadinca são os mesmos, havia rotatividade nos Nhabijões bem como na ponte do rio Undunduma, um pelotão em Fá Mandinga, no meu tempo ainda não havia instrução de milícias em Bambadinca, fiquei satisfeito quando vi Enxalé no Setor L1, tinha toda a lógica, bem perto do Xime, o mesmo dispositivo do PAIGC que afetava o Cuor, argumentei, sem êxito, a aproximação entre o Cuor e Enxalé, respondiam-me sempre que eu me metesse na minha vida. 

Observo da leitura da história da unidade que as coisas tinham mudado em Madina, a população sob alçada do PAIGC mostrava descontentamento e apresentava-se no Enxalé; a descrição de minas antipessoal e anticarro é impressionante, o PAIGC usava-as em todos os pontos do setor; Mero terá igualmente mudado de posição, vejo neste documento que já havia um pelotão de milícias, a população estava contente com a presença das nossas tropas; apareceu um elevado número de forças de milícia, posso constatar que se intensificou no setor a africanização das nossas Forças Armadas; deve ter havido mais dinheiro para todo este processo da africanização que levou também a reocupação de posições como Samba Silate, que era considerada a bolanha mais fértil de todo o leste da Guiné; vejo com estranheza muitos recontros perto do Xime, na região de Gundaguê Beafada – Madina Colhido, o que significa que a força instalada em Baio/Burontoni tinha elevada capacidade ofensiva, das vezes que me coube sair do Xime para a Ponta do Inglês, flanqueava pelas matas próximas do Corubal, cheguei mesmo a aproveitar os caminhos de terra batida frequentados assiduamente pela população do Poidom.

Dou igualmente comigo a pensar como é lamentável não podermos trocar informação com os dispositivos efetivos do PAIGC na região. Os arrozais eram fundamentais para o sustento de civis e de tropa, no fundo do Corubal o PAIGC movimentava-se com imensa facilidade, dava os seus sinais de vida flagelando Mansambo e o Xitole e mesmo a ponte do rio Pulon, mas só para provar que estava ativo. 

Quando se desencadeou a operação Grande Empresa, ou seja, a ocupação do Cantanhez, houve deslocação de efetivos do PAIGC, nessa altura já estavam a posicionar-se na região do Boé (completamente desocupada pelas nossas tropas desde fevereiro de 1969), terão vindo efetivos de outros lugares, questiono, de acordo com a leitura que faço desta história de unidade que as operações abaixo do Poidom, a Mina e Galo Corubal foram quase passeios, recordo o estendal de tropas para a operação Lança Afiada, Hélio Felgas congeminara a limpeza de toda aquela margem do Corubal, 12 dias de inferno e a tropa de rastos, apanharam os velhotes e uns canhangulos.

Não surpreende não ter havido ataques a Bambadinca, só seria possível passando o rio de Undunduma, era essa a missão destinada ao pelotão de vigilância. Mas surpreende-me a intensidade de ataques em Ponta Varela, parece-me um contrassenso quando se escreve que havia patrulhamentos regulares nesta região.

Não estou habilitado a tirar conclusões se a situação melhorou ou piorou no setor, deu-se a africanização, construíram-se infraestruturas, aumentou o apoio às populações civis, vejo que Finete sofreu uma grande flagelação. 

Pode dizer-se que o BART 3873 regressa pouco tempo antes do 25 de Abril, foi substituído pelo BCAÇ 4616, que terá tido uma guerra de sonho. E que havia mais dinheiro havia, vejo que no Natal de 1973 se pagou o 13º mês. E acompanhei com muito carinho o itinerário do Pel Caç Nat 52, combativo até ao fim, em dezembro de 1973 travou contacto com um grupo de 15 elementos.

Volto a questionar-me se virá a ser possível um dia juntarmos a nossa documentação com a do PAIGC para que a guerra ganhe mais clareza para as futuras gerações destes dois países.

A dimensão aproximada do Setor L1, onde atuou o BART 3873
Confraternização no Xime na messe de sargentos, CART 3494, ao fundo à esquerda o nosso confrade António José Pereira da Costa, então capitão, outubro de 1972
Os CTT de Bambadinca, quando visitei a povoação, em 2010, já estava em grande degradação
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Nota do editor

Último post da série de 10 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25504: Notas de leitura (1690): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (2) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25446: Convívios (990): XXXVII Convívio da CART 3494 / BART 3873, dia 8 de Junho de 2024, com concentração no antigo RAP 2, na Serra do Pilar - Vila Nova de Gaia e almoço em Matosinhos (Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista)



XXXVII CONVÍVIO CART 3494 / BART 3873

Meus amigos,
Sou a informar que o 37.º Encontro da CART 3494 irá realizar-se no dia 08 de junho de 2024 a partir das 10,00 horas no Regimento de Artilharia - 5 (ex-RAP 2) na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, local onde o Batalhão de Artilharia 3873, foi formado para servir Portugal na guerra da Guiné.

Vamos comemorar o cinquentenário da nossa chegada (03/04/1974).

Prestaremos homenagem aos mortos em combate e a todos aqueles que de alguma forma deixaram a vida terrena, junto do memorial, com deposição de uma coroa de flores.

Lembro que é do nosso conhecimento, que, 39 camaradas já deixaram a vida terrena, deixaram a saudade eterna, principalmente, das suas famílias, mas na certeza de que um dia vamo-nos encontrar novamente.

Prevemos uma Guarda de Honra por um Pelotão do Regimento.

Pelas 11,30 horas seguiremos em caravana auto até Matosinhos onde será servido um excelente almoço no “Restaurante Mariazinha”, findo o qual cada um rumará aos seus destinos, fazendo votos para que no próximo ano (2025) nos encontraremos de novo.

Apelamos à tua participação com família e amigos, contacta até ao dia 30 de maio impreterivelmente, por favor!

Contactos:
Ex-Fur Mil Trms – Luís Coutinho Domingues, 961 070 184 ou 22 013 76 18
Ex-Fur Mil Art – Manuel Benjamim Martins Dias, 965 879 408


MENU DO ALMOÇO

ENTRADAS
- Salgadinhos, rissóis, pataniscas, pata de gamba, recheio de sapateira e bolinhos de bacalhau

PEIXE
- Bacalhau à Zé do Pipo

CARNE
- Vitela assada com batata

BEBIDAS
Vinho da casa – tinto ou branco, verde ou maduro, cerveja, água e refrigerante

Bolo de aniversário, acompanhado com Flute de vinho espumante
Café.

Nota: em ref. a digestivos, quem quiser pode trazer de casa se assim o entenderem.

Preço: 30 bazucas

Um abraço a todos antigos combatentes,
Muito obrigado
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Nota do editor

Último post da série de 17 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25399: Convívios (989): 95º encontro da Tabanca do Centro: Quinta do Paul, Ortigosa, Leiria, 6ª feira, 26 de abril de 2024

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24961: Boas Festas 2023/24 (3): Sousa de Castro, o nosso histórico tabanqueiro n.º 2, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1971/74) e José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884 (Jolmete, 1969/71)




1. Mensagem de hoje, às 19:12, do nosso amigo e camarada Sousa de Castro:

(i) ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74; 
(ii) vive em Viana do Castelo; 
(iii) tem 176 referências no nosso blogue: 
(iv) integra a nossa Tabanca Grande desde 20/4/2005, sentando-se à sombra do nosso poilão nop lugar nº 2):

Meus caros, para toda a Tabanca votos de um grande e feliz Natal e que o novo ano seja um pouquinho melhor, força nessa vida.


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2. Mensagem do nosso camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71):

Desejo a todos os Antigos Combatentes, familiares e amigos, Boas Festas

Grande abraço
José Firmino

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de dezembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24950: Boas Festas 2023/24 (2): António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24673: Convívios (973): Rescaldo do 36.º Convívio do pessoal da CART 3494 / BART 3873 levado a efeito no passado dia 16 de Setembro, em Abade de Vermoim - Vila Nova de Famalicão (Sousa de Castro)



A CART 3494 / BART 3873 CONFRATERNIZOU EM ABADE DE VERMOIM – V. N. FAMALICÃO, FOI O 36.º CONVÍVIO


No passado dia 16 de setembro realizou-se em Abade de Vermoim, freguesia do concelho de Famalicão o 36.º Encontro da CART 3494 / BART 3873 [NA GUERRA CONSTRUINDO A PAZ] que no cumprimento do dever ao serviço do Estado Português participou na guerra do Ultramar na Guiné, na zona leste, nomeadamente no Xime com 1 pelotão destacado no Enxalé, transitando mais tarde para Mansambo de 22/12/1971 até 03/04/1974.

O evento esteve a cargo do ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas – Adelino Alves Pereira com a colaboração do ex-1.º Cabo Radiotelegrafista - Sousa de Castro.


Tivemos algumas ausências de última hora, justificadas pela intempérie que se abateu em todo País, mesmo assim 34 “antigos combatentes” muitos com seus familiares mobilizaram-se e fizeram-se à estrada para mais um encontro e assim conviver, relembrando histórias passadas, mas que nunca esquecem. Foram 70 comensais. Muito Bom! Tem sido a média dos últimos anos.

Lembro, que é do nosso conhecimento a desencarnação de 38 camaradas, a quem prestamos a mais sentida homenagem, guardando 1 minuto de silêncio.

Uma palavra de ânimo para o nosso camarada d’armas, Celestino da Cunha Rodrigues (foto abaixo) que devido às suas limitações impostas pela saúde precária de que padece, a sua família, especialmente sua esposa, fez questão para que o Celestino mesmo em cadeira de rodas, convivesse uma vez mais com os seus camaradas. Era a sua vontade! Força nessa vida Celestino, estamos juntos!


Por fim dizer que para o próximo ano iremos comemorar as bodas de ouro da nossa chegada a Portugal. Já temos data, será no dia 08 de junho de 2024 em local a designar.
Foram nomeados o ex-Fur Mil TRMS – Luís Coutinho Domingues e o ex-Fur Mil Art – Manuel Benjamim Martins Dias (fotos abaixo).


Bem hajam!
Muita saúde da boa,
Setembro 2023
Sousa de Castro


FOTOGALERIA

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24636: Convívios (972): Almoço/Convívio do pessoal do Programa das Forças Armadas da Guiné (PIFAS), hoje, 9 de Setembro de 2023, com a presença do senhor General Ramalho Eanes (João Paulo Diniz)