sábado, 1 de maio de 2010

Guiné 63/74 – P6291: Memória dos lugares (78): No Xitole: Francisco Silva, Lima Rodrigues, António Barroso e... (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 16 de Abril de 2010:

Meus caros camarigos
A propósito do Francisco Silva**, agora afamado médico ortopedista, anexo duas fotografias no Xitole que mal se vêem dada a sua antiguidade.

O Francisco Silva, Alferes Miliciano, foi para a CART 3492, já no Xitole, (Abril de 72?) em substituição do, salvo o erro, Alf Mil Oliveira, que nunca chegou a embarcar.

Segundo me lembro, julgo que esteve nos Pára-quedistas, não me lembrando se chegou a tirar a Especialidade completa, ou não.

Entretanto, eu saí da 3492 para o Pel Caç Nat 52, e pelo que sei o Francisco Silva terá rumado mais tarde então para o Pel Caç Nat 51.

Na 1.ª fotografia da esquerda para a direita: eu, o Lima Rodrigues, o Francisco Silva e o António Barroso.

Na 2ª fotografia da esquerda para a direita: o Francisco Silva, o Lima Rodrigues e o António Barroso.

Já enviei mail ao Jorge Narciso, em resposta a um dele por causa do almoço da Tabanca do Centro, pedindo-lhe para lembrar ao Francisco Silva o Convívio da Tabanca Grande em Junho.

Um abraço camarigo para todos
joaquim


Da esquerda para a direita: Mexia Alves, o Lima Rodrigues, o Francisco Silva e o António Barroso

Da esquerda para a direita: Francisco Silva, o Lima Rodrigues e o António Barroso.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6275: Blogopoesia (71): Giselda, o anjo que vinha do céu (Joaquim Mexia Alves)

(**) Vd. poste de 26 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6252: Tabanca Grande (215): O Francisco Silva, hoje cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra, foi o substituto do infortunado Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51, morto por um dos seus homens em 16 de Julho de 1973

Vd. último poste da série de 5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6107: Memória dos lugares (70): Jumbembem 1973/74 (Fernando Araújo, ex-Fur Mil da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512)

Guiné 63/74 - P6290: As Nossas Mães (6): Às mães que viram os seus filhos irem para a guerra e que não mais voltaram (José Carlos Neves)

DIA DA MÃE




1. Mensagem de José Carlos Neves* (ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974), com data de 1 de Maio de 2010:

Para as mães que infelizmente não voltaram a ver os seus filhos depois destes partirem para a Guiné, dedico-lhes um poema de Fernando Pessoa. Muito antes da nossa Guerra já outras aconteceram.

Uma saudade muito grande para todos os camaradas que por lá encontraram o seu fim!
José Carlos Neves


O menino da sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe


Fernando Pessoa
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(*) Vc. último poste da série de 29 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5374: As nossas mulheres (13): Homenagem à D. Teresa, nossa leitora e funcionária na Biblioteca da Liga dos Combatentes (José Martins)

Guiné 63/74 - P6289: (Ex)citações (69): Antes procuravam-me, depois evitavam-me e a seguir chamavam-me cão e eu tinha... que aplaudir (Amadú Djaló)

Do livro de Amadú Bailo Djaló,  Guineense, comando, português: 1º volume, comandos africanos, 1964-1974. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, p. 281:

(...) Depois de 25 de Abril e até 20 de Agosto de 1974, quando entregámos as armas, o comportamento das pessoas mudou, passou a ser diferente. Ninguém queria ser nosso amigo, nem acompanhar os Comandos. Agora, a maioria eram nossos inimigos, e outros, a quem tínhamos feito favores, começaram, a prender as pessoas, Comandos ou não.


Antes de 11 de Março de 1975, foram mortos o Tenente Bacar Djasso, o Tenente Jamanca, o Alferes João Uloma e o 1º Sargento Lalo Baio, todos Comandos [ E este último, mandinga, sobrinho do chefe da Tabanca de Morucunda, em Farim,  antigo militante do PAIGC, nos primeiros anos da luta; apresentou-se posteriormente às autoridades portuguesas, desertando com mais 10 elementos armados].


Foi uma era muito difícil para todos os que estiveram com os brancos. Poucos falavam connosco, éramos marginalizados completamente pela gente que, antes, estava à nossa protecção e que, depois, passaram a ser os nossos maiores inimigos.


Foi também uma grande experiência, que ajudou quem sobreviveu a viver tranquilo para o resto da vida. 


O povo era falso, não podíamos ter confiança em ninguém. O povo não tem cor, nem medida, nem peso, é tudo falso.


Durante esses onze anos, de 1974 a 1985, eu não podia falar do que passei, em nenhum lado da terra onde nasci e cresci. Passei a ser insultado nas reuniões e obrigado a abater palmas aos insultos que me faziam.


Diziam na minha cara que, no dia 22 de Novembro de 1970, na ida a Conacri, os portugueses saltaram os seus cães com dois pés, isto é, nós. Chamavam-me cão e eu tinha que aplaudir. Suportei tudo, bati-lhe palmas até, aceitei tudo o que me disseram. Nada era mal, tudo parecia ser bom. (...) (*)
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Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 25 de Abril de 2010 >  Guiné 63/74 - P6247: (Ex)citações (53): Pai, és o meu orgulho, te amo muito, muito, muito (Ana Djaló, Londres)

Guiné 63/74 - P6288: Parabéns a você (111): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM

1. No dia 1 de Maio de 1952, ano em que não se comemorou o Dia do Trabalhador, nasceu o meu companheiro de trabalho e vizinho, José Carlos Neves*, que na Guiné foi Soldado Radiotelegrafista do STM em Cufar, no ano de 1974 .

Estou aqui em nome da tertúlia para enviar ao Zé Carlos os votos de um dia bem passado junto de sua esposa, filha, demais famíliares e amigos.

Para ti os nossos votos de que tenhas uma longa vida cheia de saúde para continuares a dedicar-te à tua paixão, a fotografia.

Recebe um especial abraço de
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. postes no marcador José Carlos Neves

Vd. último poste da série de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6273: Parabéns a você (110): Giselda, um(a) (e)strela que brilha no firmamento da nossa Tabanca Grande (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P6287: Convívios (226): 25º Encontro da CART 3494 do BART 3873, em Vizela, dia 12 de Junho de 2010 (Sousa de Castro)


1. O nosso Camarada Sousa de Castro (*), que foi 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74, enviou-nos uma mensagem a solicitar a publicação do convite, para a festa da sua Companhia, programada para Vizela no próximo dia 12 de Junho.

CONVITE
XXV CONVÍVIO DA COMPANHIA DE ARTILHARIA 3494 = DEZ1971 a ABR1974 =
VIZELA, em 12 De JUNHO 2010

Caro amigo ex-Combatente e companheiro de armas,

Tal como tem sucedido em anos anteriores, vai realizar-se no dia 12 de Junho 2010 o XXV Encontro/Convívio.
Convidamos-te a participar, juntamente com teus familiares, nesta grandiosa festa de fraterna amizade.
Vamos confraternizar, rever amigos que de algum modo compartilharam os seus medos, sofrimentos, as angustias as incertezas!
Momentos únicos que merecem ser recontados, vais sentir-te como quando tinhas 20 e alguns anos.
Trás também as tuas fotos da época, o teu diário se for o caso, para assim avaliarmos como éramos e como vivíamos naquele tempo. Já lá vão 36 anos do nosso regresso.
Não podemos deixar morrer estes encontros/convívios de ex-Combatentes. Temos de continuar a conviver.
O nosso tempo caminha a passos largos para o términos, não podemos deixar que estes eventos desapareçam. Temos de manter viva a chama da amizade que nos ligou durante 27 meses, recordar toda a vivência de uma geração! … Que é a nossa.
A Guerra Colonial, ou do Ultramar, ou das Províncias Ultramarinas, conforme lhe queiras chamar, marcou uma época. A nossa época!
Por isso temos de continuar a lembrar aos nossos filhos, netos e a todas as pessoas que essa guerra justa ou injusta, existiu e nós participamos nela, daí a razão destes encontros, por isso é fundamental a tua presença.
Vem desfrutar de uma boa companhia e um fim de semana diferente.

Com elevada deferência,
A organização:
Lúcio Damiano «Vizela», Tm: 967 251 337
Joaquim Monteiro «O Reguila», Tm: 916 690 396
E-mail: cart3494@portugalmail.pt


Local do evento:
Restaurante armando & filhos Lda.
Guimarães - Lordelo, Codeçal - Lordelo 4815-225
Lordelo GMR
Travessa do codeçal, nº 8 - Tel. 252 842 095

Concentração em Vizela, junto ao Quartel dos Bombeiros, a partir das 10h00.


Porto-Braga > Quem se desloca do sul ao chegar ao Porto, deverá entrar na A3 no sentido Braga, depois entrar na A7 > sentido Guimarães, que o levará à saída para Vizela.

Ementa

Aperitivos:
bolinhos de bacalhau
rissóis
caprichos
panadinhos
presunto
salpicão (porco preto)
moelas à angolana
rojõezinhos
camarão

Quentes:
creme de legumes
delícia de bacalhau à “armando”
filetes de peixe
fornada de vitela

Sobremesas:

buffet de pastelaria
buffet de frutas
bolo alusivo ao convívio

Bebidas:
vinho verde ou maduro, branco ou tinto
sumo natural
refrigerantes
espumante
café

Preço por pessoa: 30,00€
Crianças até aos 9 anos: 15,00€

Um abraço,
Sousa de Castro
1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6280: Convívios (139): 11º Encontro da CCAÇ 3491 do BCAÇ 3872, em Lousada, dia 15 de Maio de 2010 (Luís Dias)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6286: O Nosso Livro de Visitas (87): Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães, ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70)

1. Mensagem de Aníbal João Magalhães, ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861, com data de 27 de Abril de 2010:

Amigo Luis Graça
Apresento-me:

Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães
Alf Mil CCaç 2465/BCaç 2861

Có e Bissum-Naga, 1969/70

A nossa estadia na Guiné, no ambiante de guerra, foi difícil como deve calcular. Mas havia uma grande união entre todos, nos bons como nos maus momentos.

É de realçar que fomos comandados superiormente pelo Capitão António Melo Carvalho a quem tudo devemos.

Mas, como o Luis tem dito, todos temos uma história para contar.

A minha (história) começou no início da década 1950, quando conheci Amílcar Cabral.

Conheci como? Pois Maria Helena, primeira mulher de Amílcar era minha prima. As nossas mães eram irmãs.

As reuniões familiares eram frequentes e algumas vezes em casa dos meus Pais.

Tenho de Amílcar Cabral grandes recordações,uma grande simpatia, uma grande amizade. Toda a família o respeitava.

Eu pessoalmente fiquei impressinado com aquela figura que apresentava uma grande confiança.

Esta história como deve calcular teve muitos episódios sobretudo quando fui mobilizado para a Guiné.

Estive na Guiné sem complexos e como afirmou Amílcar, a sua luta não era contra o povo português.

A morte de Amílcar deixou-me triste, perdi um amigo e sua morte nada resolveu.

Por hoje fico por aqui, e acredite que foi mais um desabafo de um combatente que tem pela Guiné-Bissau um grande respeito.

Ao dispor
Os meus parabéns pelo magnífico Blogue

Um abraço
Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães


2. Comentário de CV:

Caro camarada, como tive oportunidade de escrever em mensagem trocada contigo, é um princípio da Tabanca Grande, este espaço destinado especialmente aos ex-combatentes da Guiné, o tratamento por tu. Como expliquei não poderá haver distinção de nenhuma espécie entre homens e mulheres que por força das circunstâncias calcorrearam aquela terra que ainda hoje trazemos no coração.

Depois desta tua primeira aproximação, pedimos-te para confirmares a vontade em colaborar com as tuas histórias e fotos, aumentando assim o espólio deste Blogue, que preserva para consulta no futuro, as emoções de quem na primeira pessoa, conta a seu modo, as suas experiências e a maneira como viu aquela guerra.

Manda-nos uma foto actual e uma do tempo de tropa, tipo passe de preferência e em JPEG, para seres apresentado formalmente à tertúlia.

A tua ida para a Guiné deve-se ter revestido de algum dramatismo, pois foste combater contra o exército comandado por Amícar Cabral, teu um primo por afinidade. Diz-nos como viste a guerra na Guiné enquanto militar ao serviço da nação portuguesa, ao mesmo tempo que sabias estar do outro lado alguém que conhecias muito bem e que lutava pela imancipação do seu povo.

Poderás aos poucos contar-nos o teu percurso pela Guiné, impressões dos locais onde estiveste, operações, etc.

Até ao teu novo contacto deixo-te um abraço da tertúlia.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6278: O Nosso Livro de Visitas (86): Benvindo Gonçalves, ex-Fur Mil da CART 6250, Mampatá, 1974

Guiné 63/74 - P6285: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (27): Diário da ida à Guiné - 07/03/2010 - Dia quatro

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 28 de Abril de 2010:

Caro Carlos:
Envio o relato do Quarto Dia, da minha viagem à Guiné. Quanto à estória NA KONTRA KA KONTRA surgiu-me um problema deontológico, que espero vir a discutir com o Luís Graça e se se resolver, de imediato mando o 1.º capítulo.

Um abraço.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BAFATÁ - 27

Diário da ida à Guiné – Dia quatro (07-03-2010):


Bafatá estava a ficar cada vez “mais distante”. Estava a ficar preocupado, embora o Chico me fosse sempre dizendo que ir a Bafatá era uma certeza. Tudo porque neste dia o grupo resolveu que se ia a Varela. Comecei a olhar mais para os toca-toca.

Um toca-toca (em andamento) que como todos tem um nome, neste caso “Enterramento” (foto de autor desconhecido).

Outro toca-toca nas mesmas condições.

Foram-me dizendo que os havia que paravam em todas as tabancas mas que outros iam directos de Bula a Bafatá. Ia reparando que o cobrador ia invariavelmente pendurado na traseira da carrinha com a porta aberta, penso que será para ventilar melhor o interior e também para caber “mais um”. Sim porque nas carrinhas de nove lugares, substituem os bancos normais por dois corridos laterais e a lotação passa a ser o dobro. Portanto lá dentro devia ser um calor insuportável.

O meu pensamento não deixava Bafatá.

Varela era também um dos meus objectivos embora me preocupasse a tensão latente entre o Casamansa e a Guiné-Bissau. De facto, na viagem, quando no Ingoré inflectimos para Poente ao longo da fronteira com o Senegal, íamos vendo sucessivos grupos de militares armados. Até ouvi dizer que os tipos do Casamansa tinham mudado alguns marcos fronteiriços (dos que Portugal tinha posto) para, no caso de vir a aparecer petróleo na zona, lhes caber mais uma longa fatia, principalmente de zona marítima.

Mas com aquele clima, que realmente apanha uma pessoa, esqueci tudo isso. Em Ingoré parámos e no mercado de rua comprei uns saquinhos de caju torrado para trazer para Portugal. Também estive a ver fazer uns esquisitos bolinhos muito brancos de sêmola de arroz, “cuscus de arroz” enformados, que uma mulher ia fazendo, cozendo-os num também esquisito apetrecho em cima de um fogareiro, julgo que a vapor (em relato futuro falarei de uns outros fogareiros, verdadeiras obras de arte artesanal, disseminados por toda a Guiné). Comprei um saquinho (agora quase todas as coisas deste género são vendidas em saquinhos plásticos). Embora a senhora me dissesse que tinham açúcar, achei-os desenxabidos. Só sabiam a arroz seco.

O fogareiro, o desenformar dos bolinhos e os saquinhos com três bolos cada.

Passámos por Sedengal, S. Domingos, Susana, sempre com manga de tropa omnipresente. Chegados a Varela, uma povoação (não propriamente uma tabanca) de tal forma com pouca gente, que a contra gosto tivemos que perguntar a um militar onde se podia comer, pois não se via nada com aspecto de restaurante. A “tabanca” era muito dispersa e o principal restaurante era logo à entrada.

Queríamos, como é natural, ir à praia, até porque julgo ser a única praia na parte continental da Guiné. Antes porém tínhamos que tratar de encomendar o almoço. O restaurante era da D. Fátima, ou apenas Fá, ou ainda, como se auto denominava, Mãe de Varela. Senhora cabo-verdiana, de sessenta e tantos parecia ser não a mãe de Varela mas a própria dona. Pessoa de trato algo difícil. O Chico Allen ao encomendar a refeição mostrou algum desagrado por não se arranjar uma mesa só para o nosso grupo e a D. Fá começou a disparatar. Eu próprio passei a mão pelo pêlo à senhora, que acabava de conhecer, e disse-lhe que aceitávamos ficar numa mesa grande onde já estava um casal a “aperitivar”. Adiante se verá a sorte que tivemos em ficar nessa mesa.

A D. Fá deu-nos uma hora para irmos à praia, até a galinha à cafreal estar pronta. Seria uma praia normal só que parecia que estávamos na Índia. Passeavam-se por lá vacas que pareciam sagradas. Como já referi anteriormente a água não me pareceu salgada e comentando isso, os colegas de grupo é que me lembraram o meu anterior apetite pelo caju verde.

A praia de Varela

Fomos almoçar. O referido casal já estava à mesa a começar a almoçar, a senhora uma cabo-verdiana de uns cinquenta e tais e ele de setenta e muitos com ar nórdico. Estávamos em África, e com um misto de simpatia e de à vontade africana da senhora, rapidamente estávamos todos à conversa. Ela era a Guida (D. Margarida), ele era o Sr. John Blacken, norte americano, e nada mais nada menos que o Coordenador geral da HUMAID, organismo encarregado da desminagem da Guiné-Bissau. Primeiro em inglês, por alguma deferência, quiçá, subserviência portuguesa, mas depois em português pois Mr. John já estava há muito tempo na Guiné, entabulámos uma conversa, que se tivéssemos almoçado noutra mesa não tinha acontecido o que teria sido uma perda.

Ao fundo a D. Margarida e Mr. John Blacken. (foto não minha).

O Sr. Blacken, entre muitas outras coisas, disse-nos que só na zona leste do Ingoré foram levantados cerca de 26.000 engenhos explosivos e à volta do Saltinho cerca de 3.500. Que começaram os trabalhos de desminagem na zona de Bissau, depois na de Buruntuma, Ingoré e por aí fora.

Aproveitei para lhe perguntar se na zona de Galomaro e concretamente em Madina Xaquili (a minha “guerra”) ainda haveria minas, tendo-me respondido que sim. Foi no entanto adiantando que não tem havido desastres, que só de vez em quando uma vaca vai pelos ares…

O casal disse muita coisa digna de se tomar nota. (foto não minha).

Ainda apareceu a D. Fá a perguntar se estava tudo bem, como é costume. Despedimo-nos e comigo a conduzir, regressámos ao que também chamávamos acampamento.

Antes de anoitecer ainda fui, na companhia do Mesquita, ver se recolhia mais frutos da árvore de conta que o balanta José me tinha ensinado no dia anterior. No regresso, já noite, perdemo-nos duas vezes mas voltando atrás lá encarreirámos. Não estávamos muito preocupados pois tínhamos um telemóvel connosco (ah se no tempo da guerra houvesse telemóveis… desde que o IN os não tivesse, claro!!!).

Começou-se a pensar no que se poderia comer. Refira-se que não havia nada a não ser umas sobras de camarão tigre que não davam para todos. É então que “alguém” prepara a melhor “paella”, que todos nós, inclusive eu, alguma vez comemos (esperam-se comentários discordantes).

A preparar a “paella”. (foto não minha).

A degustação da dita (o Pimentel estava a tirar a foto).

Noticiário com as bacoradas do costume, conversa e cama.

Até amanhã camaradas.
Fernando Gouveia
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Nota de CV:

Vd.último poste da série de 27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6262: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (26): Diário da ida à Guiné - 06/03/2010 - Dia três

Guiné 63/74 - P6284: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (8): Em Empada, Natal de 1969 - A esposa do Cap Mil Eduardo Moutinho visita Empada

1. Continuação da narrativa referente à estadia de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) em Empada:


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte III

Por Arménio Estorninho


Natal de 1969 - A esposa do Cap Mil Eduardo Moutinho visita Empada

Pela Quadra Natalícia de 1969, tivemos a visita da esposa do ex - Capitão Mil. Inf. Eduardo Moutinho, a qual viera expressamente da Metrópole (foto 5).
A sua presença foi de curiosidade para todos os militares e para as mulheres africanas, ao tempo era raríssimo encontrar no mato uma senhora branca, jovem e simpática.

Foto 5 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Quartel > 1969 > Zona do “Aparthotel” reservado para a passagem da Quadra Festiva

Os da Companhia organizaram uma Saigada, a ferrugem colocou junto às casernas uma viatura “Matador” que foi transformada em “O Autocarro do Amor,” enfeitada com pernadas de palmeira e ostentando dísticos, pensava eu, alusivos ao Capitão.

Do pessoal, ficaram-me na memória o pseudo “Guitarrista” o Soldado Francisco Maria (com um instrumento emprestado pelo ex-1.º Cabo de Transmissões Franklin Arménio), eu que levara o jipe para fazer mistura de apitos e animar a malta, actuei com um batuque (foto 6), houve reportagem, sendo o 1.º Cabo Enfermeiro Zé Teixeira o animador como Comentador e Operador de Câmara TV, entre todos fora uma tarde de “farrabadó.”

O Capitão tomou as precauções de ocasião, parte da Companhia estava de prevenção nos abrigos e na generalidade estávamos apreensivos por possíveis acções do In, no entanto o mesmo não se manifestara e nesse período não teve qualquer actividade de registo.

Foto 6 > Guiné > Região de Quinara > Empada> 1969 > Instrumento musical batuque adquirido em Empada

Para se realizar a Consoada, o Refeitório das Praças serviu de Salão de Festas, assim no local foi erigido um nicho dedicado a Nossa Senhora (fotos 7, 8 e 9)

Foto 7 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Jantar de Natal > 1969 > No meio do mato, a imagem vale mais que as palavras

Foto 8 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Festa de Natal > 1969 > Eu, com o pensamento nos meus, um companheiro cujo nome está na lista

Foto 9 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Um companheiro, a fazer a sua prece e a venerar a imagem
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Nota de CV:

Vd. poste de 27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6256: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (7): Em Empada, peripécias de um 1.º Cabo a substituir um Furriel Miliciano

Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

1. Continuação da publicação do trabalho Os Marados de Gadamael e os dias da Batalha de Guidaje de autoria do nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74).


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XIII

Daniel de Matos


Baixas da CCaç 3518, em Guidaje


Mortos no abrigo do Obus:

José Carlos Moreira Machado, furriel miliciano, natural de Sá, Ervões, Valpaços.

Gabriel Ferreira Telo, primeiro-cabo atirador, natural do Paul do Mar, Calheta, Madeira.

João Nunes Ferreira, soldado atirador, natural de Câmara de Lobos, Madeira.

Jorge de Andrade Gonçalves, soldado atirador, natural de Pedra da Nossa Senhora, Campanário, Ribeira Brava, Madeira. Era casado.


Feridos no abrigo do Obus:

Quirino do Sameiro Correia Igreja, alferes miliciano, de Vila Verde, (viria a ser evacuado para a metrópole).

Vitorino Ferreira da Cruz, alferes miliciano de Lordelo, Paredes

Bernardo Gomes Monteiro, furriel miliciano de armas pesadas, de Cascais, (esteve evacuado no HMP, para onde foi a 3 de Novembro de 1973).

Ângelo César Carneiro da Silva, furriel miliciano de minas e armadilhas, da Trofa.

José Cipriano Ferreira, soldado atirador, da Madeira.

José Virgílio Vieira, soldado atirador, da Madeira, que chegou mais tarde à companhia em “completamento”, a 6 de Março de 1972 (esteve evacuado no HMP).


Feridos nas emboscadas do percurso Guidaje/Binta:

José Manuel de Abreu, soldado atirador, do Funchal.

Fernando Gomes dos Santos primeiro-cabo atirador, (do COMBIS, mas que acompanhou a operação integrado na companhia).


Seria lógico e justo referir aqui a identidade dos feridos das outras unidades ao longo destes dias. Os números ditos oficiais referem um total de 122, cuja identificação individual será muito difícil, senão impossível, de elencar.


Resumo de outras baixas da CCaç 3158 durante a comissão de serviço:

Outro sangue derramado em terras da Guiné ao longo da comissão.

Falecidos em Gadamael:


Alfredo Rodrigues França, (6 de Março de 1972), soldado atirador, Paul do Mar, Calheta, Madeira. Ferido em combate, sepultura em Paul do Mar.

António Alberto Gonçalves, (15 de Abril de 1972) soldado atirador (era casado) Câmara de Lobos, Madeira, morto devido a acidente, – afogamento na margem do rio Sapo (afluente do Cacine), – em Gadamael. Sepultura no Cemitério Municipal de Câmara de Lobos.

João Heliodoro Gomes da Silva, (27 de Junho de 1972), primeiro-cabo atirador, Sítio do Calhau, São Roque, Funchal, Madeira, ferido “por acidente com arma de fogo”, “tiro inopinado” na caserna, em Gadamael. Sepultura no Cemitério das Angústias, São Martinho, talhão de militares falecidos no Ultramar.

Na verdade, o tiro inopinado foi disparado à queima-roupa por um membro da companhia, durante um desaguisado. O causador do “acidente com arma de fogo”, vulgo, assassinato, foi preso de imediato (preventivamente, por autorização da Chefia do Serviço de Justiça).

Em 14 de Junho de 1973, “por despacho de 10 de Abril de 1973, Sua Exa o Director do Serviço de Pessoal determinou que o soldado atirador Carlos Nóbrega de Freitas tivesse baixa do serviço por incapacidade física, por haver sido julgado incapaz do mesmo pela Junta Hospitalar de Inspecção, reunida no HMP, em sessão de 30 de Março de 1973, podendo angariar subsistência”. Ao saber-se disto, a revolta não podia ser maior no seio da companhia: “uns a alinhar e um tipo destes a ficar livre, parece que foi premiado”! Tinha sido preso formalmente em 1/7/72.

Os camaradas mais próximos do João Heliodoro, choravam de raiva e, a quente, juravam que no regresso à Madeira matariam o Freitas, antigo coveiro de profissão. O certo é que ele morreu anos mais tarde, após uma cena de pancadaria na Madeira, não se sabe com quem, ao cair de uma ravina, disse-me um dia o capitão, em sua casa. Depois do gesto irreflectido, foi difícil arrancar-lhe a arma das mãos. O capitão perdeu a cabeça e espancou-o, esmurrando e pontapeando à toa o corpo já tombado no chão. Só parou de o fazer quando o consegui dominar, filando-lhe os braços por trás e imobilizando-o como num abraço, “não se desgrace também, meu capitão”, que a coisa estava feia. Foi metido no abrigo que serviu de prisão algumas vezes em Gadamael (o ex-soldado guineense Inácio Soares da Gama que o diga!) e, dias mais tarde, seguiu com escolta sob prisão, já não me recordo se para a sede do batalhão ou se para Bissau.



Ângelo Manuel dos Santos Raposeiro, (7 de Agosto de 1972) soldado atirador, Lisboa freguesia de Benfica, (era casado e tinha vindo transferido da CCav 3462 – BCav 3874) ferido em combate em Gadamael (accionou mina antipessoal), depois de evacuado faleceu no Hospital Militar de Bissau. Sepultura no cemitério de Benfica.

Malan Mané, (13 de Novembro de 1972), soldado milícia do Pelotão de Milícias 236 (adido à companhia), ferido em acidente com arma de fogo, na sequência do rebentamento de uma mina antipessoal, sepultado em Gadamael.

Outros, nem sempre identificados:

Ussumane (Baldé?), caçador, saiu à caça levando a sua velha Mauser, e accionou inadvertidamente uma mina antipessoal (montada pelo furriel Ângelo Silva, ou por mim, já não me recordo) no cruzamento de Ganturé.

“Informador” (presumível). Desconheço se é um morto que contabilizemos como nosso (quase que garantidamente, não, de todo!), se como do IN ou se de coisa nenhuma. Caiu também numa das nossas minas ao fundo da pista velha. As feridas no pé impediram-no de fugir dali. O capitão mandou-me ver o que tinha feito rebentar a mina e quando cheguei, lá estava o homem sentado no chão, encostado a um coqueiro, olhos recriminatórios, indescritíveis, inesquecíveis… Trouxemo-lo para o quartel mas a evacuação aérea só foi possível no dia seguinte. Soube de sevícias inqualificáveis que alguém lhe fez para o obrigar a confessar ser “turra”. Depois, morreu. Pelos muitos cabelos e bigode brancos via-se ter uma idade avançada. Enterrei-o na pista antiga, na margem do rio, por ordem do capitão Manuel de Sousa. Só eu e os quatro ou cinco homens que foram comigo sabemos (sabíamos) onde ficou. No caso dele, nenhuma família o reclamará nunca, não saberá sequer como nem quando se finou…


Feridos em combate:

(não inclui os feridos, – e foram alguns – cujas chagas foram adquiridas por acidentes vários, por exemplo, devido a falsos alarmes, quando procuravam refugiar-se de ataques não consumados). Cito, apenas os de maior gravidade:

João Nunes Ferreira, soldado, 7 de Agosto de 1972 (morreria a 25 de Maio de 1973, em Guidaje).

João Manuel Duarte Oliveira, soldado (pelotão de reconhecimento Fox 2260, adido à companhia) 7 de Agosto de 1972.


Louvados na “operação Guidaje”


Independentemente do desempenho notável e do grande espírito de sacrifício e de solidariedade para com os camaradas (e de todas as unidades envolvidas) que estiveram em Guidaje, na breve “história da companhia”, (escrita e composta na secretaria pelo primeiro-cabo escriturário Alexandre Vasco de Castro, em “stencil”, com máquina de escrever, “cera” e estilete), ficaram louvados pelo seu comportamento e pela “invulgar capacidade de prontidão de reacção e sangue frio debaixo de fogo” ao longo desta Operação, tendo demonstrado “raras qualidades militares, espírito de sacrifício e alto nível de camaradagem e compreensão, sempre prontos para tudo”, os seguintes militares:


Soldado José Virgílio Vieira:

“durante toda a operação demonstrou possuir raras qualidades de militar destemido. Debaixo de fogo IN, depois do rebentamento de uma granada dentro de um abrigo, em Guidaje, indiferente ao perigo, só tinha em mente ajudar os feridos, seus camaradas e superiores, e transportá-los para a enfermaria. Ainda debaixo de fogo IN, enfrentando o perigo, dirigiu-se a um Obus e, com as fracas noções que lhe deram, consegue fazer fogo com o mesmo, respondendo, assim, de um modo rápido, ao fogo IN. Na emboscada IN reagiu corajosamente, incentivando os seus camaradas a seguirem-lhe o exemplo. Numa das emboscadas, ainda indiferente ao fogo IN, dirigiu-se a uma das viaturas onde se encontrava um Morteiro 60 com bastantes granadas e trouxe tudo para a berma da estrada. Uma vez aí fez fogo com o mesmo.”


Soldado Manuel de Sousa:

“é digno de nota pela sua prontidão de reacção e sangue frio. Um dos elementos IN que nos tentavam envolver, na emboscada da zona do Cufeu, foi imediatamente alvejado por este soldado, ao mesmo tempo que chamou a atenção aos seus camaradas da existência de mais elementos IN. A sua rápida reacção encorajou de tal modo os seus camaradas que os elementos IN imediatamente tiveram que retirar, dado o potencial do fogo das Nossas Forças”.


Soldado José António da Silva Pires (também conhecido por “Jaca”)

“indiferente ao fogo IN, reagiu corajosamente fazendo fogo com o Morteiro 60. De salientar ainda que, na retirada dos elementos IN, este soldado progrediu no terreno fazendo fogo onde as árvores o permitiam. A sua atitude teve o mérito de encorajar os seus camaradas a colaborarem com redobrado esforço”.


Após o regresso a Portugal (à metrópole e à região insular, – os últimos a chegar a Lisboa, no Niassa, aportaram a 3 de Abril de 1974), perdeu-se o contacto com muitos soldados madeirenses, em virtude de uma parte significativa ter emigrado, especialmente para a Venezuela e para a África do Sul. Destes três, desconheço o destino que terão levado o José Virgílio Vieira e o Manuel de Sousa, presumindo que terão deixado de viver naquela Região Autónoma. Quanto ao Jaca (José António da Silva Pires), soube que infelizmente terá falecido há meia dúzia de anos atrás. Era um homem de grandes rebeldias mas que se sabia fiável e amigo do seu amigo, e cujo feitio tanto lhe originava repreensões e “porradas” sérias, como louvores idênticos a estes, umas e outros, em geral, merecidos. O capitão, bem como os agravamentos que se seguiam, aplicaram-lhe vários dias de detenção, prisão disciplinar, etc., (curiosamente aconteceu o mesmo com o soldado José Virgílio Vieira, cuja acção em combate também é agora enaltecida, e tinha sucedido com o soldado Raposeiro, morto em Gadamael ao accionar uma mina). Creio que por volta de 1990, ao encontrar-me no Funchal com o comandante de companhia (ex-capitão miliciano Manuel Nunes de Sousa), ele me contou que o Jaca experimentaria bastantes dificuldades, por não (querer) arranjar emprego e passar horas na mendicidade, a ver se alguma coisa caía, à volta do Mercado dos Lavradores. Noutras deslocações que efectuei ao Funchal procurei-o por várias vezes, no intuito de o abraçar e, porventura, o poder ajudar nalguma coisa. Foi o José Maria Fernandes, – antigo companheirão que com o mesmo sorriso de sempre nos aturava os copos e o resto, na messe de Gadamael, – que me informou do que teria acontecido ao Jaca. Para além das vicissitudes e das partidas que a vida nos prega, custa muito, revolta-nos ver como um ex-combatente que em certas ocasiões foi justamente considerado um herói, tenha vivido com stress os últimos anos da sua vida, na condição de mendigo e sem qualquer apoio social do mesmo Estado que serviu o melhor que pôde e soube!

Nos anos das três frentes de guerra (Guiné, Angola, Moçambique), o regime escondia os mortos para não desmoralizar nem os activos que andavam a combater nem a população. A famigerada Comissão de Censura cortava as notícias dos jornais, rádios e televisão que falassem de baixas entre nós. Apenas no 10 de Junho se dava conta de alguns, se homenageados postumamente. Havia, obviamente, quem na imprensa procurasse resistir. Aproveitando essa coragem, enviei de Bissau uma notícia com comentários pessoais para o semanário Notícias da Amadora, dirigido pelo jornalista e escritor Orlando Gonçalves (também já falecido) e de que era assinante. Os comentários ficaram na gaveta mas os nomes dos camaradas tombados, respectivos pais e esposas saíram, transcrevendo uma nota dos Serviços de Informação Pública das Forças Armadas (além dos quatro Marados de Gadamael e do furriel Fernandes, foi publicada a identidade de mais três praças falecidos também na Guiné). O jornal viveu dias difíceis particularmente nesse ano (estavam marcadas para Outubro as “eleições” para a Assembleia Nacional) e as suas instalações foram ocupadas pela PIDE/DGS, que apreendeu tudo o que havia lá dentro.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

Guiné 63/74 - P6282: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (5): Fotos e agradecimento do Virgínio Briote e intervenção do Nuno Rogeiro


1. O nosso camarada e amigo, co-Editor Virgínio Briote (ex-Alf Mil Comando, Brá, 1965/67), enviou-nos a seguinte mensagem, em 15 de Abril de 2010:


Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa




Foto 1 > Átrio interior do Museu Militar de Lisboa


Foto 2 > Peças de Artilharia no interior do Museu



Foto 3 > Coronéis Socorro Folques e Rui Alexandrino


Foto 4 > Aspecto da assistência
Caro Luís,

Foi bom ver-te na sessão do Museu Militar. O "ver-te" inclui a Alice, o Jero de Alcobaça, o José Manuel Dinis, de Cascais, o "grupo do Rui A. Ferreira" (que grande Gente! Vir de Viseu para uma cerimónia de uma ou duas horas!), o Colaço do Cachil, o Cor Pereira da Costa (cap em Mansabá, em 1970/72?), o nosso homem do Xitole que encetou negociações com o Antero Alfama (citado no livro do Amadú), a Giselda e o Miguel Pessoa, o risco é enorme em esquecer nomes...

Estás a imaginar o esforço em pôr nomes nas caras que eu tive a sorte de ver hoje?
Não contei o número de Camaradas que quiseram prestar homenagem aos Guineenses que connosco andaram e chafurdaram naqueles trilhos e bolanhas.
Sei que vi muitas caras conhecidas do Luís Graça e Camaradas da Guiné e que a sala estava cheia.
E que, no fim, tinham sido vendidos 140 exemplares.

E que a sessão, globalmente, correu bem.

Vi-te a filmar e a fotografar. Envio, no entanto, algumas imagens.
Foto 6 > Amadu, seu neto e filha, e o Colaço
Foto 7 > Aspecto do salão
Foto 8 > Início da sessão

Foto 9 > Aspecto geral da sessão

Foto 10 > Aspecto da assistência
Foto 11 > Cor Socorro Folques usando da palavra

Envio-vos, também, o texto que acabo de receber e que serviu de base à exposição do Nuno Rogeiro na apresentação do livro do Amadú Bailo Djaló.

Um abraço,

Obrigado.
Virgínio Briote

Foto 12 > Cor Socorro Folques discursando

NO FIM DAS GUERRAS
por Nuno Rogeiro

A guerra e as suas entranhas, em terras próximas ou estranhas, sempre fascinaram, revoltaram e mobilizaram o homem.
Anarquistas e conservadores, aristocratas e operários, fascistas e antifascistas, descamisados e oficiais de monóculo, sobreviventes das trincheiras e gaseados, soldados de assalto e feridos de morte, poetas e prosadores, pintores e pensadores, muitos investiram as mais nobres energias na reflexão sobre o campo de batalha.
Este pode ser visto como uma simples planície da técnica, da era da espada ou da era de Urânio. Ou ser antes olhado, de forma que se diria “existencialista”, como um vale de lágrimas e revelações, onde se morre e se nasce, mas sobretudo onde habitam homens e mulheres comuns. E onde residem, soberbas ou incógnitas, evidentes ou traiçoeiras, contínuas ou explosivas, a violência e a morte.
Tivemos grandes obras sobre este continente trágico, onde vemos já não como um espelho baço, mas face a face. Como “As Tempestades Aço” de Jünger, como “O Fogo”, de Henri Barbusse, como E.E. Cummings em “O Enorme Quarto”, ou o “Entre Parêntesis” de David Jones, como o “Ronge Maille Vainqueur”, de Lucien Descaves, qualquer livro sobre guerra perturba, alerta, impede a normalidade. E pode despertar, para lá do desespero, a esperança.
É o caso do livro que nos traz aqui. Relato de guerra, seco e sem adornos desnecessários, este volume de Amadu Djaló, escrito em português escorreito e de lei, é tanto uma história de morte como de vida. De tempo de matar e de proteger. De tempo de golpes de mão, executados com precisão e destemor, e de lágrimas por uma criança perdida, em Darsalame Baio, na margem, literalmente na margem: à beira do rio Burontoni, à beira de sentença salomónica.
Foto 13 > Nuno Rogeiro na sua alocução
Relato de vida militar, da obediência perinde ac cadaver, também é uma fiel e lúcida exposição das dúvidas dos combatentes, quando confrontados já não com a obediência, a lealdade e a técnica, mas com os juízos políticos, a diplomacia e as relações internacionais.
Este clima de homens divididos encontra-se na breve descrição do prelúdio à operação “Mar Verde”: resgatar companheiros presos fazia parte da missão, mas o que dizer de levar a cabo um acto de guerra em território estrangeiro?
Estaríamos perante uma violação da soberania alheia, mesmo se de estado hostil, ou antes diante de uma espécie de auto-defesa legítima? Seria “regime change”, ou contra-ataque a quem nos agredia, ou oferecia bases a quem nos ofendesse?
Obedientes como cadáveres”, como diria Inácio de Loyola. Mas pode um cadáver reflectir, se a alma, prestes a partir, ainda o habitar?

Relato de guerra, este volume, o primeiro de memória, é antes de mais um admirável retrato, de história oral e testemunhos vivos, sobre a humanidade, os seus encontros e desencontros, amores e desamores.
É a história dos condutores sem carta, dos oficiais à estalada em frente de soldados envergonhados, dos civis ambulantes que levavam o cinema às tabancas, de um ataque de abelhas que abatem um homem rijo, de romances ao luar, de misérias na estrada. Um relato de delicadeza e pudor.
Pudor na descrição do que hoje diríamos violência sexual, violência racial, violência animal. O autor, homem bom e reservado, é também bom e reservado, na visualização da desumanidade: o oficial que diz que “preto é como a tartaruga” não é “racista”, mas apenas “um branco mau”.

Este é também um livro sobre o terrível abandono, sobre a inutilidade, sobre o esquecimento. Sobre o absurdo.
Cito, talvez imprecisamente e sem consultar o original, um poema de um dos nossos grandes vates, António Manuel Couto Viana:
Foto 14 > Nuno Rogeiro prosseguindo a sua alocução
“A minha Pátria alçou o braço
Pátria pacífica e pequena
Baixou-o logo de cansaço
Foi Pena

“Cedo arrasou a altiva torre
Que ergueram todos
De mãos dadas
Agora sei como se morre
Por nada”

Esta obra, relato de guerra e do pós-guerra, relato da paz e da pós-paz, é também o mapa deste desencanto, dos combates declarados inúteis, dos combatentes declarados redundantes, dos feridos declarados descartáveis, dos órfãos e viúvas declarados dispensáveis, dos mortos declarados inexistentes, por regulamento ou decreto.
Mas é também uma história, se bem que só esboçada, de reconciliações e de abraços. Abraços e reconciliações às vezes traídos.
O autor encontra-se, a seguir ao 25 de Abril de 1974, com o cabo-verdiano Antero Alfama, quadro do vencedor político, o PAIGC. Os compromissos feitos pelo último são de transição generosa, de integração de todos os guineenses, sem vinganças ou retaliações, sem tribunais especiais ou valas comuns, sem julgamentos secretos e tiros na nuca, sem o “N’kré vivé”, o processo de choques eléctricos, sem asfixia colectiva, em antigos depósitos de munições. Promessas rasgadas pelo processo “revolucionário” em curso em Bissau, mas sobretudo pela iluminação sanguinolenta de algumas vanguardas.
Não vale hoje a pena, se calhar, chorar mais sobre as vidas derramadas, nesse intervalo onde Portugal, independentemente de credos, doutrinas, regimes e pessoas, não fez tudo o que devia, para proteger os que combateram em seu nome.
Não valerá a pena chorar mais sobre o “incidente”, que levou à execução de centenas de comandos, milicianos, civis, em Farim, Cumeré, Portogole, Mansabá, a partir de 1974.
Não valerá mais a pena chorar sobre a aplicação do artigo 86 da Lei de Justiça Militar do novo partido no poder. Não valerá mais a pena chorar sobre aqueles que preferiram ficar na Guiné, a sua terra, em vez de fugir ou de pedir colocação nas instâncias burocráticas de Lisboa.
Não valerá mais a pena chorar por aqueles que aguardavam por oportunidades para continuar a servir a Guiné, ou para serem julgados por crimes de guerra, com todas as garantias e recurso à verdade.
Não valerá mais a pena chorar por este processo. Mas será uma vergonha não o lembrar. Será uma vergonha ter vergonha de o lembrar.
Este livro é também, na tradição dos grandes relatos de combatentes, de tropas de escol ou de guerrilhas, de milícias ou de regimentos fardados a rigor, de irregulares ou de exércitos convencionais, este é também um relato sobre sonhos e premonições, sobre lendas e o outro mundo, sobre conchas mágicas e aparições.
É o caso de João Bacar Jaló, que fecha os olhos, e sabe o que vai acontecer nesse dia.
Nessa zona da mente onde desembarcamos do sono para o sonho, fazem-se também episódios onde imaginamos a morte, às tantas de tal, sem falta.
E lá está ela, pontual no encontro, no fim da picada. Ela, a velha ceifeira, que vem buscar os últimos guerreiros.
É também este um relato sobre acções militares das forças especiais, numa guerra que hoje se chamaria “de baixa intensidade”, mas que teve picos próximos de confrontos convencionais, com emprego de todos os meios, da aviação à artilharia, dos meios navais ribeirinhos à ofensiva em linha contra quartéis e bases.
É, no plano técnico, um bom relato, se bem que parcial e provisório, de incidentes localizados do “nevoeiro da guerra”, com descrições exactas de tácticas e princípios, doutrinas de contra-insurreição e aquilo que a prática, e as lições aprendidas, fazem aos manuais.
É a história da missão, talvez impossível, de ganhar corações e espíritos, num conflito subversivo, às vezes de armas combinadas, com os Harvard e os Alouette a zunir sobre as cabeças dos infantes, às vezes continuação de acções de polícia, de missões de assuntos civis, de operações psicológicas.

Às vezes, muitas vezes, demasiadas vezes, com “vítimas colaterais”, de um lado e de outro. Como diz o autor, no confronto verbal com o comandante guerrilheiro Pedro Nazi, logo a seguir ao cessar-fogo: “Porque se nas zonas libertadas vocês apresentam mil órfãos, nós também vos mostramos órfãos aqui na zona. O chicote da guerra é comprido, muito comprido” (p.205).
Neste sentido, o livro cumpre também o preenchimento da lacuna sobre relatos pessoais, ou de grupo, sobre pormenores operacionais na África Lusófona, do ponto de vista das forças armadas portuguesas e do seu inimigo.
Essa lacuna, que se foi preenchendo, nas últimas décadas, com documentos e relatórios de estado-maior, com romances de base realista, com fragmentos e com monografias, tem ainda muito poucas contribuições dos militares africanos, de um e de outro lado da barricada.
Não seria impensada a criação de uma instituição, no seio da parte da CPLP que directamente viveu as guerras africanas, que pudesse, mais activamente, colmatar a brecha.
Oio, Canjambari, Cunacó, Antuane, Cameconde, Bedanda…Nestas páginas pode-se também deambular pela Guiné desconhecida, uma terra onde as famílias, as raízes, os clãs e os laços ultrapassam fronteiras, e se espraiam para além dos estados definidos pelas regras das administrações europeias, ou dos orgulhos nacionais pós-europeus.
Este é assim, ainda, num tempo que preza os relatos de viagem e as descobertas das partidas do mundo, uma espécie de introdução à Guiné, à querida Guiné de todos os portugueses, tenham ou não deixado o seu melhor naquela terra.
À querida Guiné que – penso poder falar em nome de todos os presentes – continuamos a querer soberana, desenvolvida, feliz e capaz de repartir riqueza pelos seus filhos.
À querida Guiné que, acima de golpes de estado e revoluções, pronunciamentos e discursos com má pronúncia, sublevações e homicídios, narcotráfico e cleptocracia, ameaças estrangeiras e cancros internos, tem suficientes filhos, talentos e energias para erguer um futuro diferente. Um futuro melhor.

Porque este é também um livro para o futuro. Uma espécie de filho do autor, e dos que o ajudaram ao parto intelectual. Um manifesto que lembra, como no desfiladeiro das Termópilas:

“Estrangeiro, vai dizer a Atenas
Que morremos aqui para cumprir a sua Lei”.
Mas que, para além dessa lápide de sacrifício, afirma ainda, de forma límpida, o principio do amor entre os homens. Da possibilidade de recomeçar, mesmo na mais negra das noites. Da disposição firme de dar a mão a antigos inimigos, de erguer torres em conjunto, de obter a absolvição, e de absolver. Ou, como fizeram os bispos polacos, em 18 de Novembro de 1965, duas décadas apenas depois da grande carnificina, na carta pastoral aos irmãos alemães:
“Vimos perdoar, mas sobretudo pedir para ser perdoados”.
No fim das guerras, na lembrança interior, no armistício sem amnésia, na paz dos bravos, na reparação dos males, na humildade de reconhecer o que se fez, o que se sofreu, o que se poderia ter feito, na disponibilidade para afirmar os seus valores e reconhecer os dos outros, desta forma se fazem os futuros pactos de não agressão, os irmãos e os aliados.
E assim se alcança, talvez por milagre, a eternidade.

Foto 13 > Mamadu apresentando os seus agradecimentos finais
Fotos: © Virgínio Briote (2010). Direitos reservados
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Notas de M.R.:

Guiné 63/74 - P6281: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (8): Parabéns à Giselda Antunes e ao casal Pessoa


O nosso camarada José Eduardo Oliveira* (JERO) (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 29 de Abril de 2010:

Camaradas,

Tenho andado "velho" e agora também tenho o computador avariado.

Estou em casa de um amigo a enviar este texto, que tem a ver com os parabéns à nossa Camarada Giselda Pessoa, que faz hoje anos.

Peço-te que entre hoje e amanhã,se for possível, me encaixes este pequeno texto.

Parabéns à GISELDA ANTUNES e ao casal Pessoa
...


Tivemos o privilégio de encontrar mais uma vez num almoço da Tabanca do Centro – o 3º, que se realizou em 28 de Abril corrente - o casal da (bonita) fotografia. Assumimos o adjectivo porque a foto foi tirada pelo Belarmino Sardinha com a minha máquina…

Está claro que já sabíamos que a Giselda estava em vésperas de aniversário e tentámos – no meio de grande barulho (não há silêncio possível nestes cozidos à Monte Real) saber alguma coisa menos conhecida a seu respeito.
Para nossa surpresa a Giselda Antunes (nome de solteira) foi registada em 29 de Abril de 1947 mas nasceu efectivamente em 30!!!
Faz portanto anos amanhã… ou hoje!?

Na dúvida vou ver se a minha postagem vai ser publicada perto da meia-noite de hoje…

A Giselda é transmontana – só podia… -e nasceu em São Martinho da Anta, Vila Real. Saltando no tempo - estamos à vontade porque a Giselda foi enfermeira pára-quedista - a menina de 47 começou a sua carreira em 1 de Abril de 1968. No Hospital de São João do Porto.
Andou pelas “Urgências” e em Dezembro de 1970 estava por Moçambique. Foi para a Guiné em 1972 onde esteve 26 meses! Conheceu como poucos (ou poucas…) toda a Guiné. Até esteve na Ilha do Como!
Em relação ao Strella que passou ao lado do “DO” , que voava de Guidage para Bissau, só se assustou depois… quando o piloto perdeu os comandos e quase se despenhou. Aterraram em Bigene. É do tempo dos Alouettes 3.
Parafraseando a feliz “imagem” do Mexia Alves a Giselda “deu vida” a muitos militares que assistiu no mato: «Vá, pá, não tenhas medo, isto não é nada! Mais uns minutos e já estás em Bissau».
A Giselda tem direito a todas as atenções neste dia especial do blogue.

Como diz o Comandante Luís Graça tem direito a estar por umas horas na “montra” do blogue.

E depois faz parte do mais mediático casal de camaradas da Guiné…
Por mérito próprio, mas também porque são... o único casal de camaradas da Guiné com licença de residência na Tabanca Grande.
Ele é o Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, Bissalanca, BA12, 1972/74, hoje Cor Pilav Ref). Ela é a Srgt Pára-quedista Giselda Antunes...
O único casal do mundo que nem os mísseis SAM 7 Strela... conseguiram separar… Não vou repetir que… ele é um camarada de peso... Tem apenas o formato próprio dos maiores de sessenta que se alimentam com apetite…
Ela é, de facto, a nossa única camarada de verdade...
As outras bajudas e mulheres grandes só podem ser amigas...
Parabéns à GISELDA ANTUNES e ao casal Pessoa.

Um abraço e… até sempre.
JERO
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: