domingo, 25 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6248: Notas de leitura (97): Livro do Cor. Costa Campos – Guiné – 2. Actividades de Permuta e Comércio Externo (Mário Fitas)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66, enviou-nos a uma mensagem contendo um extracto do livro “Guiné, apresentado no poste P6064, da autoria do Cor Carlos da Costa Campos, com data de 24 de Abril de 2010:

Camaradas,

Um poste do Jorge Picado, levou-me a enviar este pequeno texto do Livro "GUINÉ" do Coronel Carlos da Costa Campos.
Já referi em recensão ao livro, o seu interesse pelo conhecimento que nos dá das origens usos e costumes dos povos da Guiné.
Entusiasmado com o tema do Jorge Picado sobre o "patacão", resolvi digitar esta parte do livro referido.
O Luís Costa Campos (seguidor de seu pai é hoje o criador do maior cão do mundo, com uma envergadura de 2 metros e 13 cm), deu-me autorização para publicar trechos do livro no Blogue, desde que referenciando o Coronel Costa Campos e a autorização de seu filho.

O Ten. Cor. Costa Campos em Ganturé – 1973 -, falando a um grupo de fuzileiros. À sua direita encontra-se o seu filho Luís da Costa Campos.

B. ACTIVIDADES DE PERMUTA E COMÉRCIO EXTERNO

Em razão das condições especiais de cada região, nem sempre os agregados familiares conseguem produzir qualitativamente bens que satisfaçam as suas totais necessidades alimentares. Daqui resultou um especial regime de permutas entre as unidades económicas.

De início, estas permutas faziam-se directamente entre as famílias interessadas: aquilo que uma família possuía em demasia entregava à outra, recebendo em troca géneros de que carecia. Ainda hoje acontece em meios retintamente rurais. Os Felupes trocam com mandingas os excessos da sua produção de arroz por milho, cabaços e artefactos diversos; os mandingas trocam com os balantas quinquilharia vária, mandioca e milho por arroz; os manjacos trocam entre si e com os grupos afins “papeis e brames” os produtos que abundam em determinada região, por outros que nela escasseiam. A região de Calequisse produz olaria; os seus artífices trocam peças de barro por milho, que ali falta i abunda noutros lados.

As pessoas interessadas na permuta não aparecem, porém no momento azado. Então, alguns indivíduos começaram a encarregar-se de levar os produtos para os locais onde a sua procura era maior – e surgiram os mercadores!

Os mercadores organizam, depois, as feiras.

Já havia feiras na Guiné antes da ocupação portuguesa.

As primeiras feiras, porém, tiveram por objectivo facilitar permutas periódicas entre os componentes do mesmo grupo. Com a ocupação portuguesa, cessado o conceito do exclusivismo dos “chãos”, às feiras de uma região começaram a afluir indivíduos doutras regiões – e de todas as etnias.

Sabe-se que funcionam desde longa data feiras regulares no chão de manjacos. Hoje há duas por dia em sítios diferentes, uma grande, outra pequena. As grandes realizam-se rotativamente em seis locais distintos, todos sedes de Regulados: Bula, Có, Pelundo, Utiacor, Bassarel e Caliquisse. Assim se numa semana calha num destes locais a feira ao Domingo, na semana imediata calha a um Sábado. As feiras pequenas realizam-se também rotativamente em vários locais, alguns igualmente sedes de regulados. Quando aqui a feira grande coincide com a pequena, a afluência é notoriamente muito maior.

Com o volver dos tempos, ao lado das feiras começaram a aparecer centros comerciais para permutas diárias, obedecendo estas permutas a um sistema de valores calculados na base de escassez e dos excessos – oferta e procura. Alguns artigos mais frequentemente permutados, passaram a servir de instrumento de troca: bandas de pano, búzios, cauris, pães de índigo, arroz etc. Os cauris, pela facilidade do seu transporte e contagem, chegaram mesmo a desempenhar papel de autêntica moeda, “valendo uma braçada de pano dez cauris”.

Mais tarde, búzios, caúris, pães de índigo e alguns artigos deixaram de interessar ao comércio local.

As primeiras moedas cunhadas que circularam na Guiné foram, parece o peso argentino e a pataca mexicana. Explicam-se deste modo as designações correntes na Província atribuídas ao escudo e ao dinheiro em geral: “peso” ao escudo e “patacão” ao dinheiro.

Um abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763
_________
Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

29 de Março de 2010 > 20 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6196: Notas de leitura (96): Aquelas Longas Horas, de Manuel Barão da Cunha (Beja Santos)

Sem comentários: