domingo, 25 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6246: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (6): Em Empada, primeiras impressões e morte de um camarada por electrocussão

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 14 de Abril de 2010:

Camarada amigo Carlos Vinhal e Tabanqueiros, envio uma mão cheia de mantenhas.

Desta feita irei escrever por partes algumas das “estórias” e apresentando fotos, sobre a minha estada em Empada (incluindo o gamanço do borrego) no período que foi de 01 de Maio de 1969 a 15 de Janeiro de 1970.

Dado tratar-se de uma crónica muito extensa e pertinente, sugeria que fosse subdividida aquando da sua colocação no Blogue.


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte 1

Primeiras impressões e morte de um camarada


Quando cheguei a Empada, a mesma era considerada um lugar calmo e dizia-se por ser a Tabanca do guerrilheiro Nino, vínhamos para recuperar do stress e das várias formas de mazelas.

A situação militar que encontrei, fez-me muita confusão na cabeça e “areia de mais para a minha camioneta”. Qual o motivo que levara a retirar a Unidade deste Aquartelamento a fim de ir descansar para Quinhamel e não foi concedido à CCaç 2381, que estava numa zona bastante complicada do eixo de Buba - Inhala -Mampatá - Aldeia Formosa – Gandembel, encontrando-se toda estoirada?

Depois, o que vimos era notório a qualquer militar mais atento, o In estava instalado nas Penínsulas de Cubisseco e da Pobreza “parecia que havia uma paz podre,” a minha Companhia começou a executar acções de reconhecimento e de combate na zona, aproximando-se da colmeia das vespas (abelhas) assanharam-nas e de retorno no Quartel de Empada viemos a sofrer ao todo 15 ataques.

- Da História da Unidade, retirei um resumo do estudo sobre o Subsector de Empada.

"O qual dependendo operacionalmente do COP 4 e administrativamente BCAÇ 2834, passou a pertencer para todos os efeitos ao B CAÇ 2892 a partir de 10/Nov./69. Dentro do Sector S-2, tem como limites das zonas de acção: Orla marítima – Rio Grande de Buba – Rio Jassonca – Rio Banga – Rio Perárona – Rio Gandosara – Rio Galendogo – Rio Suante –Rio Mandisse – Rio Tombali. O In mostrava-se activo actuando em diversas flagelações a Empada, mas tendo-se sempre furtado ao contacto com as N/T. Sempre que pressentiam ou suspeitavam de tropa fora, preferiam retirar-se e tentar sempre sem êxito, flagelar as N/T em progressão ou emboscadas".

Em 16/Junho/69, quando era noite e estando na camarata deitado, escrevendo assim como outros camaradas o faziam, sempre com máxima atenção de ao primeiro sinal suspeito e procurar um lugar mais seguro.

Eis os sons (saídas) e o grito de guerra “ai estão eles!”, corremos para protegermo-nos como era normal, há um que se atrasa e logo que chegou ao exterior da caserna na mesma (foto 1) explodira uma granada de canhão s/r.
Quando cinco de nós já estávamos acoitados ali ao lado e ao monte numa cova, que fora aberta para colocação de uma antena de rádio, cada um que ali entrava magoava os que já lá estavam e havia os vocabulários vernáculos de ocasião (foto2).


Foto 1 > Região de Quinara > Empada> 1969 > A Caserna > O Soldado Martins, saiu pela porta da direita e para sua sorte seguiu para o lado oposto.

Foto 2 > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, mostrando a cova, que esteve na mira de seis militares e ainda dava para mais um.

Passado o ataque, formamos um grupo para ir ver os estragos das granadas que caíram dentro do Quartel, e uma caiu no telhado da caserna, mesmo ali ao lado, espalhando estilhaços por todo o compartimento e ficando uma mala toda cravejada, a qual era pertença daquele que se atrasara, o Soldado Condutor Manuel Mateus Martins, que a usava como escrivaninha e na altura estava escrevendo. De seguida fomos para a zona do comando e ai havia dois feridos, o Soldado Acácio Marques “O Gazela” (S. João do Monte - Nelas) e o Soldado Francisco Maria (Estói – Faro).

Na noite do meu aniversário a 09/Julho/69, deu-se uma morte estúpida e que poderia ter-me saído na rifa. Estando num abrigo mais outros camaradas (foto 3), deu-se um corte de luz, efectuando-se a troca da lâmpada e nada resultara, quando já era dia fora solicitada a reparação ao pretenso electricista, o qual desmontou o suporte da lâmpada, ficando as pontas do cabo junto da minha cama e à vista, pensando eu que ele iria desligar a extensão.

Foto 3 > Região de Quinara > Empada> 1969 > Local do acidente, um dos sete abrigos tipo e instalados no perímetro da Povoação.

Ao anoitecer, o gerador foi posto a funcionar, havia muito calor e humidade do ar, antes de se deitar o Soldado Albino Oliveira foi tomar um banho “tipo à fula” (foto 4) e molhado dirigiu-se para o abrigo. Ai devido a algo deslocou o dito cabo eléctrico, em que a ponta da linha de fase estava em carga, por isso era o fio do neutro que estava partido, tudo propício a uma forte descarga eléctrica. Por conseguinte, para segurança, o electricista deveria ter desligado a extensão o que por esquecimento não fez.

Foto 4 > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, tomando banho à fula, na Fonte Frondosa, principal zona de banhos e de lavadouro.

Os enfermeiros Furriel Chico e os 1.ºs Cabos Jorge Catarino, José Teixeira e o Lemos, foram em seu socorro, mas foram gorados os seus esforços embora prestassem todos os cuidados adequados. O Soldado Albino Oliveira era um amigo e brincalhão, leia-se o nome de guerra “O Cantiflas.” Já tinha viagem marcada para ir de férias à Metrópole, ao encontro da sua mulher, filha e restantes familiares. Alguém da Companhia se propusera a enviar-lhes a notícia, com a narração do acidente e da morte do inditoso.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6238: Efemérides (44): Dia do Combatente. Comemorações do 9 de Abril em Lagoa (Arménio Estorninho)

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6114: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (5): As colunas auto de Aldeia Formosa-Gandembel

Sem comentários: