1. Mensagem do nosso camarada Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviada em 20 de Abri de 2010:
A HONESTIDADE DO CAP RICARDO SILVEIRA
Quem conhecia o Cap. Ricardo Silveira como eu, sabia que era um oficial honesto em tudo. Por ser um individuo bastante disciplinador, não era muito popular no dia a dia com o pessoal, homem de poucas falas e de poucos sorrisos, mas ao mesmo tempo tinha a admiração de todos, operacionalmente era muito responsável, não se furtando a saídas difíceis, o que às vezes acontecia, mesmo a nível de pelotão, havia uma certeza, podia-se confiar no "chefe", algo de muito importante para a auto-confiança de um grupo.
Passo a narrar dois episódios que demonstram a honestidade do nosso Comandante de Companhia:
O 1.º Sargento da Companhia, chefe de secretaria a quem era confiada entre outras funções, a elaboração dos prés, foi evacuado com uma "doença de estômago", doença essa que se agravou, quando os ataques nocturnos passaram a ser com alguma frequência. O já citado 1.º Sargento, talvez por não ter espaço de manobra, cumpria em tudo o que o capitão ordenava.
Entretanto veio para Bissorã o seu substituto, homem da mesma escola do anterior, mas que não estava a par das exigências usuais.
Chegou o fim do mês, a Companhia formou para receber o pré como era costume, os primeiros soldados em ritmo ligeiro iam recebendo os míseros escudos, até que chegado ao fim da folha do livro, ouviu-se a voz do 1.º Sargento:
- Meu Capitão assine a folha por favor.
O Capitão de rompante:
- Olhe lá, o senhor quer que assine a folha com as contas feitas a lápis? A Companhia que destroce e quando tiver tudo feito como deve ser, avise-me, para se proceder ao pagamento.
Sem comentários.
No outro caso e passados uns tempos, o Furriel Vaguemestre é evacuado por ter sido ligeiramente ferido. O Cap. Silveira mandou-me chamar, assim como ao 1.º Cabo Cozinheiro Adérito Fernandes, dizendo que a partir daquele momento eu, Furriel Mil. Rogério Cardoso, acumulava mais aquele cargo e que me "desenrascasse".
Então e a partir daquela nomeação, procurei fugir às refeições da M.M., como salsichas, atum e cavala, dobradinha desidratada, etc. e conseguir dar alguns frescos, como carne de vaca, porco e galinha, confeccionados de diferentes modos, aí o pessoal da cozinha colaborou, diga-se de passagem que éramos uma família. Deste modo iria de certeza conseguir lucros, que não eram usuais.
Para verem a honestidade do Capitão Silveira, fui informá-lo de que tinha conseguido uma verba, motivado pela gerência mais cuidada, perguntando eu o que fazer com essa quantia. Obtive como resposta, a de mandar comprar bebidas como whisky, aguardente velha e cerveja, e distribuir ao pessoal no final do jantar, o dinheiro que sobrou e eles pertencia.
Homens como este não abundavam no nosso Exército, havia muitos os chamados Capitães Batata e outros afins, esses sim continuam fazendo das suas.
Rogerio Cardoso
ex-Fur. Mil.
Cart 643-ÁGUIAS NEGRAS
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6199: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (17): Velha bajuda para fazer conversa gira
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário