sábado, 1 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12786: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (19): Tavira, o CISMI, a semana de campo, a malta das transmissões a servir de "inimigo" e a cantilena dos instruendos: "Ó Meninas de Tavira, / que vai ser de vós agora, / os solteiros não vos querem, / os casados têm mulher, /os milicianos vão embora"... (José Martins, ex-fur mil, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)


1. Mensagem do nosso Camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5 - "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70), enviada em 28 de Fevereiro.

O FIM DO PRINCIPIO




No dia 26 de Dezembro de 1967, já depois de ter terminado a especialidade de operador de teleimpressor, passei à situação de licença registada, aguardando a convocação para a frequência do curso de sargentos [, CSM]..

No dia 3 do mês seguinte, cerca das duas da tarde, na repartição de assuntos militares da câmara municipal, recebi a ordem de marcha para CISMI, já quando um funcionário daqueles serviços se preparava para a ir entregar a minha casa, ou afixá-la à porta, caso não houvesse quem a recebesse.

Aguardava esta colocação a todo o momento mas tentava imaginar que a convocatória não viesse tão breve, na tentativa vã de travar a corrida do tempo.

Estava notificado de que me tinha de apresentar naquele mesmo dia (!), até às dezassete horas, em Tavira, no Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria [CISMI].




Tavira, Quartel da Atalaia > 2014 > Edifício onde esteve instalado o CISMI, até ser desactivado em 31/12/1975

© Luís Graça (2014)

Iniciei a viagem na estação de Devesas-Gaia no comboio que partiu, rumo ao sul, às sete horas da tarde, chegando perto da meia-noite à estação de Santa Apolónia, em Lisboa. O jantar (?) no Restaurante Piquenique, do Rossio, a procura de um quarto para descansar um pouco e, de novo, primeiro de barco na estação Sul-Sueste e. a partir do Barreiro de comboio, rumo ao Algarve, apresentando-me no quartel perto das cinco da tarde.

Apesar de uma paragem de cerca de seis horas em Lisbos, chegava Tavira vinte e duas horas depois, Na realidade, Portugal não era um país pequeno.



Seriam cerca de três meses que eu iria permanece em Tavira, o tempo previsto para a especialidade de Transmissões de Infantaria, dividindo o tempo entre o quartel, o campo da Atalaia e o quarto alugado em conjunto com o Branco e o Bernardo em casa da D. Rosa, onde a filha, a D. Cesaltina, senhora dos seus cinquenta anos, nos presenteava com café quente nas noites em que tínhamos instrução nocturna.

Aprendi uma nova linguagem – o alfabeto fonético – que seria a linguagem, não só em campanha, mas também ainda uso, agora na vida civil, quando preciso de soletrar palavras.

Aqui, eu e os outros elementos da especialidade, aprendemos a utilizar os rádios, já nessa altura obsoletos, mas que, nos momentos de aperto quando a tropa se encontrava no mato, em operação ou em quadrícula, eram a única via que nos ligava ao mundo, isto é, nos ligava com as unidades terrestres ou aéreas, que nos podiam prestar apoio.

Aqui aprendemos a trabalhar com sistemas de cifra, que nos permitiu codificar e descodificar as mensagens, muitas delas que nos davam as noticias mais preocupantes, ou para transmitirem para os escalões superiores o resultado das operações, como a noticia, que eu próprio codifiquei, do afogamento no Rio Corubal, junto ao Cheche, na Guiné, de quarenta e sete militares, quando, em 6 Fevereiro de 1969 se processou a retirada de todas as tropas estacionadas em Madina do Boé.

Aqui, durante a semana de campo, em plena serra algarvia, tivemos de servir como IN (inimigo) às companhias de atiradores que, caso nos capturassem, nos tratariam como “prisioneiros de guerra”, obrigando-nos a transportar o material mais pesado que esses grupos estivessem a utilizar.

Foi durante esses exercícios que, lançados no monte, flagelando os pelotões de atiradores e fugindo para que não nos capturassem, que eu e o meu grupo encontramos refúgio no cimo dum monte, dentro de uma casa, fechando a porta por dentro.

Ouvimos a “tropa” a chegar e a passar em revista todas as habitações.


Como a dependência não tinha janelas, um ficou junto à porta tentando ouvir as ordens dadas pelo comandante, afim de adivinhar as movimentações no exterior.

Alguém da patrulha tentou abrir a porta do local onde estávamos escondidos e, verificando que a porta se encontrava fechada, chamou a “nossa protectora”, que se desculpou, junto do Capitão, dizendo que o marido fora à vila e levara a chave no bolso.

Acabava de entrar no jogo do “inimigo”, do qual não podia sair defraudada.

O disfarce não podia cair por terra. Havia que encontrar solução para duas situações que surgiram: cheirava a queimado e ouviu-se o choro de uma criança.

Já havia tarefas para todos. Um estava de ouvido à escuta, junto da porta, seguindo as movimentações no exterior; outro foi para a lareira evitar que a sopa que estava ao lume, numa panela de ferro de três pés, se queimasse; o outro ficou com a missão de embalar a criança, que adormeceu encostada ao peito de um de nós, com a G3 em bandoleira.

Algum tempo depois, com toques suaves na porta, fomos avisados de que a “tropa” partira. Havia que partir também, e fazer silêncio sobre o esquema utilizado. No curso seguinte poderiam haver alguém com necessidade de usar o mesmo esquema ou outro semelhante, e não podiam ser descobertos.

Mais tarde, e em campo bastante aberto para evitar qualquer surpresa, almoçámos a ração de combate que nos tinham distribuído, mas o cheiro que eu sentia não era o das salsichas aquecidas na própria lata – era o cheiro da sopa de couves e feijão, que quase se tinha queimado.


O bebé de então, hoje já homem de mais de trinta anos, possivelmente nunca ouviu falar das suas “amas” ocasionais daquele dia de fins de Março.




"Óh i óh ai, óh Meninas de Tavira,

Óh i óh ai, que vai ser de vós agora,
Óh i óh ai, os solteiros não vos querem,
Os casados têm mulher,
Os milicianos vão embora …”


Era cantando esta melodia, transmitida de curso para curso, que os instruendos atravessavam Tavira, tentando espairecer o espírito, pois sabiam que dentro em breve, ao terminarem a especialidade e ao deixarem a vila, estariam prontos para serem mobilizados, iniciar a IAO – Instrução de Aperfeiçoamento Operacional – e partirem para qualquer uma das frentes de combate.

José Martins, extraído de “Refrega”, livro inédito, 6 de julho de 2000


[Imagens acima: Conjunto escutório (o miliciano  e a jovem tavirense), junto à estação ferroviária de Tavira, da autoria do belga Francis Tondeur. Fotos: Luís Graça, 2014]

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Nota de M.R.:


Vd. último poste desta série em:

1 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12783: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (18): Tavira, o CISMI e o meu "santo sacrifício da missa dominical"... Fazia parte do coro [da Igreja de São Francisco] para ter direito a uns "desenfianços" (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)

Guiné 63/74 - P12785: Bom ou mau tempo na bolanha (46): Todos fomos cowboys (Tony Borié)

Quadragésimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Foi por acaso, estávamos no aeroporto da cidade de Orlando, no estado da Florida, com destino a Phoenix, no estado do Arizona, que seria o nosso local de início de uma aventura pelo deserto do Arizona, pois queríamos ver ao vivo aqueles lugares que nos encantavam nas películas a “preto e branco”, de “índios e cowboys”, algumas vistas lá em Mansoa, principalmente ao sábado, quando o furriel Honório trazia na avioneta do correio mais uma bobine com um filme novo, que era projectado naquela noite em Mansoa, que eu considerava um verdadeiro “posto avançado”, pois era a partir do nosso aquartelamento que começava a “verdadeira guerra”, o verdadeiro “faroeste”, lá para as bandas de Mansabá, Bissorã, Olossato, Bafatá, todos aqueles aquartelamentos do interior, para onde a bobine do filme seguiria depois para entreter os nossos companheiros, que já fartos de tiros, iam ouvir e ver mais tiros.

Como disse, foi por acaso, pois não havia lugares naquele vôo, para a cidade de Phoenix. A empregada de balcão muito amável, com aquele sorriso que vende uma qualquer marca de “pasta de dentes” nos diz:
- Não há para Phoenix, mas há lugares para Tucson, que fica um pouco a sul, e o avião sai daqui a trinta minutos.

Aproveitámos e seguimos para Tucson, cidade de fronteira, que dizem que se fundou por volta do ano de 1775, com o nome de “Pueblo Viejo” (Povo Antigo) devido a seu antigo forte que então delineava as fronteiras e se localiza na parte sul do estado do Arizona, numa zona conhecida por Deserto de Sonora. Fica num vale com cerca de 1300 quilómetros quadrados e está rodeada por cinco cordilheiras montanhosas, que se aproximam dos 2700 metros de altitude.

Para nós, pois nesta idade o tempo até é um pouco difícil de passar, pouca diferença fazia, pois o nosso destino era o sul do estado do Arizona, de onde depois de alugar um veículo automóvel económico, seguiríamos a deambular pelas pradarias do centro e norte do Arizona, talvez até ao Parque Nacional do Grand Canyon ou outras paragens.

Já no pequeno aeroporto de Tucson, logo verificámos que havia muita publicidade ao lugar de Tombstone, sim o tal Tombstone dos filmes de cowboys e índios de Hollywood, protagonizados por aqueles actores, que quase todos nós, naquela época de jovens conhecíamos, o tal lugar das histórias de fronteira, onde os bandidos roubavam no México e fugiam para os USA, ou vice-versa, o célebre “O. K. Corral” e toda a espécie de aventuras em que o actor principal carregava duas grandes pistolas, era o mais rápido no gatilho, vencia sempre e depois de matar dois ou três “foras-da-lei”, que podiam ser “gringos” ou “amigos”, depois ficava naquela indecisão entre a rapariga e o cavalo, que normalmente passava a mão pela cabeça do cavalo, acariciando-o, então de seguida agarrava a rapariga pela cintura, que normalmente era loira, encostava-a ao seu corpo, pregando-lhe um grande beijo.

Ora nós, que quando jovens apreciávamos aquelas aventuras, tanto no cinema a preto e branco, como nos livros das histórias de banda desenhada que o Carlos nos emprestava. O Carlos era o filho do Santos dos Correios que tinha vindo dos lados de Leiria e até diziam que era “Bufo”, pois era ele que fazia a revisão do jornal que se publicava em Águeda, e usava uns lápis com cores azul ou vermelho, que o Carlos lhe roubava para fazermos desenhos a cores, depois de toda a classe ter “cantado” a tabuada.

Continuando, estando tão perto, não perdemos a oportunidade, abalámos na estrada número 10, depois numa estrada secundária, e ao fim de mais ou menos uma hora de viajem, deparámos com uma placa de sinalização que dizia: “Tombstone”.
Tombstone é uma histórica cidade do antigo oeste americano, situada no distrito de “Cochise”, cidade de fronteira, de cowboys, onde chegavam diligências com todo o tipo de aventureiros. Por volta de 1890, durante a prospecção de prata das diversas minas que havia em redor, chegou a ter 110 “saloons”, 14 salões de jogo, dezenas de bordéis com raparigas oriundas de diversas partes dos USA e até do oriente, que chegavam aos USA através do porto de São Francisco. Chegou a ter um dos famosos teatros de fronteira, que era o “Bird Cage Theatre”, que era frequentado tanto por cowboys como por mineiros.

Foi a esta cidade de fronteira, por volta do ano de 1880, que chegaram os famosos irmãos Earp, que era o Virgil, o Wyatt, o Morgan e o Warren, que logo entraram em conflito com alguns cowboys residentes em Tombstone, que deu lugar ao célebre “Gunfight at the O. K. Corral”, que foi um dos mais famosos duelos entre cowboys do oeste americano, que Hollywood memorizou em diversas películas que foram filmadas neste local. Tem diversas atracções, e locais para se apreciar como “Boothill Cemitério”, algumas minas de prata, o “O. K. Corral”, onde fazem um divertimento com muitos tiros e lutas, alguns sallons, como eram na época, diligências que dão a volta à área, e se explica a história desta cidade de fronteira.


Depois de termos sido por algum tempo, John Wayne, Gary Cooper ou Kirk Douglas, seguimos para norte, seguindo a rota que antes tínhamos traçado, através das padrarias do Arizona, onde o terreno é seco, sem vegetação, embora a terra seja vermelha, tal como lá, na nossa então província da Guiné.

Tony Borie, Fevereiro de 2014.
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12760: Bom ou mau tempo na bolanha (45): Combatentes até ao fim (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12784: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (18): Tavira, o CISMI e o meu "santo sacrifício da missa dominical"... Fazia parte do coro [da Igreja de São Francisco] para ter direito a uns "desenfianços" (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)





Tavira > CISMI > Igreja de São Francisco > Grupo coral do CISMI > c. 1972 > O Henrique Cerqueira é o da terceira fila de óculos escuros... O guitarrista Jales (?), com aquela guedelha e bigode (!), de repente parece-me um sósia de um dos Beatles... (LG)

Foto © Henrique Cerqueira  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Tavira > Igreja de São Francisco > Ficava pertíssimo do quartel da Atalaia e nela dizia-se missa ao domingo e dias santos, às 12h,  a que podia assistir  o pessoal militar. (No verão, era às 19h) (Fonte:: Guia do Instruendo, Tavira, Quartel da Atalaia, CISMI, 1968).


Foto © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:


Data: 28 de Fevereiro de 2014 às 19:23

Assunto: Tavira, CISMI


Camarada Luís Graça:

Desde que se tem falado sobre Tavira, e mais propriamente sobre o CISMI,  eu tenho sido muito negativista tanto em relação ao quartel como propriamente a Tavira e à sua população da altura. Daí os meus comentários, que têm sido na generalidade desfavoráveis.

O certo é que na altura,  e devido á minha condição económica e deslocação regional, e sendo eu do Porto, só tive a possibilidade de vir uma vez de fim de semana enquanto estive em Tavira.

Ora quer isto dizer que, ao estar tanto tempo em Tavira,  poderia ter aproveitado para desfrutar das belezas naturais da cidade . Só que,  sendo eu um homem casado,  o dinheiro era extremamente curto para tal disfrute. A juntar a todas as dificuldades de logística (e de dinheiro), a vida no CISMI era do pior que me poderia ter acontecido.

No entanto não foi tudo assim muito mau, só que até estava esquecido. E sendo assim eu passo a explicar:

Como a vidinha no quartel era "madrasta",  foi necessário que eu pusesse em prática alguma situação de desenrasque ,pois nisso o Portuga é "rato". Ora vai daí,  descobri um meio de ter alguma mordomia na balda a algumas formaturas da noite e vir até á cidade . Ou seja, descobri que fazendo o "Santo Sacrifício" Dominical, ou seja, indo á missa, me proporcionava uns desenfianços, mas para isso tinha que pertencer ao grupo coral da Igreja. Tal pensei, tal executei,  passei então a cantor de igreja ao domingo. E á semana,  uma ou duas vezes áimos ensaiar.

Daí,  não foi assim tão mau e na verdade até se tornou agradável pertencer ao dito coro . Só lamento de não me lembrar dos nomes da malta, talvez com exceção de um guitarrista de farto bigode,  que acho se chamava Jales. Poderá ser que apareça algum nosso Tertuliano que se lembre desta foto [, acima].

Bom,  assim sendo,  e como não tenho jeitinho algum para a escrita,  vou terminar e reconhecer que as fotos que tens publicado sobre Tavira,  me têm aguçado o apetite para um dia visitar Tavira e de certeza fechar o ciclo de más memórias que essa cidade me traz.

A foto que envio em anexo não tem lá muita qualidade  mas penso que irá avivar mais algumas memórias de malta que passou pelo CISMI.

Um abraço a todos.

Henrique Cerqueira

PS - Na foto eu identifico-me lá na fila de trás com uns óculos mais escuros


2. Dois de diversos comentários anteriores do Henrique Cerqueira sobre o seu tempo, no CISMI, Tavira:

26/1/2014

(...) Já agora e a talho de "foice" eu também nunca mais visitei Tavira no Algarve porque tal como a Guiné me foram impostos e não gostei mesmo nada de lá ter passado parte da minha vida. Já Caldas da Rainha, Elvas e Évora que também me impuseram eu guardo gratas recordações de acolhimento e até de vida militar. (...)


13/2/2013

(...) Eu já sei que haviam praxes e "praxes", e em especial na Guiné normalmente os "piriquitos"eram praxados com simples brincadeiras. No entanto mandar um militar em operação para o mato não perece sêr uma simples brincadeira. Mas o meu único "ódio de estimação" vai para praxes de autentico rebaixamento humano que sofri em Tavira.

Exemplos: constantes idas ás salinas para enlamear o fardamento e logo depois nas formaturas de refeição sermos castigados porque não tínhamos fardamento que resistisse a tanta lama.No final do dia a estória se repetia. De seguida e após o jantar obrigaram-nos a fazer cambalhotas e flexões até vomitar o parco jantar que era servido na Unidade. Mais tarde na semana de campo no Caldeirão os senhores oficiais e alguns palermas de cabos-milicianos passaram duas noites a "praxar" os instruendos,  usando muito recriativamente o insulto aos casados e aos que tinham namoradas, ainda por cima eu numa dessas noites estava com 40º de febre e só depois de muita insistencia minha é que resoveram me "internar numa tenda enfermaria", não antes de me chamarem de filho da pu..armado em doentinho.
(...)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12783: Manuscrito(s) (Luís Graça) (23): Gostei de voltar a Tavira (Parte V): No último trimestre de 1968, quando por lá passei, não tive condições físicas e psicológicas para descobrir a cidade, as suas ruas, o seu património e as suas gentes... Pairava já na minha cabeça o fantasma da guerra colonial...


Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 061 > Convento das Bernardas (1)...  Tem 500 anos de história em cima este edifício... E agora o prestígio da assinatura, no projeto de recuperação e requalificação, de um grande arquieto, Eduardo Souto de Moura, da grande escola de arquitetura do Porto, Prémio  Pritzker de Arquitetura 2011.

"Foi o maior edifício conventual do Algarve e o único da Ordem de Cister em toda a região. A sua construção deve-se a D. Manuel I, que desta forma quis agradecer a vitória obtida em Arzila, no norte de África, quando os mouros levantaram o cerco à cidade.  (...) 

"Acolheu durante 3 séculos religiosas provenientes das famílias de Tavira e de todo o Algarve. Há ainda referências históricas à presença de monjas oriundas do Alentejo e ilhas dos Açores. A perícia manual das irmãs ficou conhecida graças à sua arte de doçaria, especialmente caramelos, em registo de santos (lâminas) e nas obras de arte sacra (barro e pintura) que saíam das suas oficinas". (...) (Fonte: Convento das Bernardas Residence)


Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 545 > Convento das Bernardas (2) ... Interior e piscina de água salgada, de 400 metros quadrados... Este edifício, de origem conventual,  ainda funcionava parcialmente no nosso tempo, nos finais da década de 60, como fábrica de moagem... Era impossível, pela sua volumetria e pela sua chaminé, não dar conta dele quando íamos às salinas...


(...) "O edifício sofreu diversas ampliações e alterações ao longo da sua existência. Como muitos outros edifícios da região algarvia foi fortemente danificado com o terramoto de 1755. Após 1834, e em sequência da legislação liberal que extingue as ordens religiosas, em Portugal, o edifício (Igreja, Convento e Cerca) é incorporado na fazenda real, e vendido em hasta pública. (...)

(...) " Em 1890, é ali montada a Fábrica de Moagem e Massas a Vapor que, em 1920, é vendida a J. A.Pacheco. A fábrica manter-se-á em laboração, até finais da década de 60. Paralelamente alguns espaços são adaptados a escritórios de apoio ao funcionamento da indústria e a residências particulares. Mantém-se ainda, na actualidade [c. 2002], em funcionamento uma indústria de panificação, na ala a Sul. Este imóvel tem uma localização privilegiada no extremo urbano de Tavira. Situa-se na proximidade da nova ponte sobre o rio Gilão, e apresenta o tardoz bordejado por um canal e voltado para o sapal, para a foz do rio e para a ria, sem obstáculos visuais. Está numa parte da cidade onde coexistem uma parte deprimida, de que faz parte, e uma outra de expansão urbana, com novos edifícios, mas ainda não densamente povoada. As alterações de uso do imóvel, particularmente a passagem de convento a moagem, contribuíram não só para marcados desvios ao seu desenho inicial como para a sua actual degradação construtiva e estética." (....)

(Fonte: IGESPAR > Convento das Bernardas > Nota histórico-artística)



Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 551 > Convento das Bernardas (3)...


(...) "A localização é privilegiada. Voltado para o sapal da ria Formosa, o Convento das Bernardas recebe luz inconfundível deste tesouro natural. A poucos metros, a ponte romana sobre o Rio Gilão reforça a história deste edifício.

O desafio lançado pela Entreposto Gestão Imobiliária foi aceite pelo prestigiado arquitecto Eduardo Souto Moura: transformar um monumento histórico em habitação, à semelhança do que acontece noutros países europeus."

Os 76 apartamentos e um restaurante de luxo têm tipologias que vão do T0 ao T3.  (...) 2 piscinas de água salgada e com calha finlandesa, videovigilância, portaria e espaço museológico, são comodidades e serviços do mundo moderno que o Convento das Bernardas põe à disposição.

A recuperação do património é a faceta mais visível deste arrojado empreendimento, que em termos estéticos mantém o portal gótico manuelino e a traça original das fachadas.

Debruçado sobre a Ria Formosa e a foz do Rio Gilão, o Convento das Bernardas oferece uma vista única sobre as seculares salinas de Tavira".
 (Fonte: Convento das Bernardas Residence).


Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 249 > Ponte antiga sobre o Rio Gilão (1) > Se estas pedras falassem tinham muito que contar... Por aqui passaram milhares de instruendos dessa 
fábrica de quadros que foi o CISMI durante a guerra colonial...

A foto é tirada do lado da Partindo da Praça da República... A tradição atribui origem romana à ponte... Ao longo da história sofreu dievrsas alterações. O perfil atual é do séc. XVII. No noso tempo (décadas de 1960/70) ainda estaava aberto ao trânsito rodoviário...Após as grandes cheias de 1989, passou a ser apenas pedonal.


Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 245 > Ponte antiga sobre o Rio Gilão (2) > Passei por aqui, muitas vezes, a toque de caixa, vindo do campo da carreira de tiro...

A ponte que é hoje monumento de interesse público "foi palco de lutas militares no tempo da crise dinástica que atingiu Portugal após o reinado de D. Fernando I, entre 1383 e 1385. Foi sobre a ponte que um tal de Gonçalo de Mendonça, de Faro, com outros moradores da mesma vila defensores da causa do Mestre de Avis, se digladiaram com os partidários do Rei de Castela, vencendo-os. O facto é hoje assinalado num pequeno painel de azulejos situado à entrada do tabuleiro." (Fonte: CM Tavira > Património Cultural)



Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 239  > Rio Gilão


Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 297  >  Margem esquertda do Rio Gilão visto da margem da outra margem...



Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 267  > Ponte antiga sobre o Rio Gilão (3)



Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 068 > Mariscador do Rio Gilão... Sinais dos tempos ? A pobreza volta a Tavira, como em 1968, quando por lá passei...



Tavira, 1 de fevereiro de 2014 > Foto nº 1182 >  O casario da Rua da Liberdade, visto do miradouro do Castelo



Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 124 > Edifício da Rua  da Liberdade que vai desembocar na Praça da República...


Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 280  >  Praça da República (1)



Tavira, 2 de fevereiro de 2014 > Foto nº 284 >   Praça da República (2)...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


1. Dos sítios que nos calhou, a alguns de nós, no nosso percurso militar, da metrópole até à Guiné, Tavira  é possivelmente um dos quais com que  mantemos uma relação de amor/ódio... Se calhar o mesmo passa-se com outras terras, Mafra, Caldas da Raínha, Lamego, Vendas Novas, Tomar, Elvas, Estremoz, Porto, Lisboa, Coimbra, Funchal, Ponta Delgadam  etc...

Nos escassos dois meses e meio em que lá fiz a especialidade de armas pesadas de infantaria (na 2ª companhia, em set/dez de 1968), não tive condições físicas e psicólogicas para descobrir a cidade, as suas ruas, o seu património e as suas gentes... O fantasma da Guiné (, não sei porquê nunca  pensei em Angola ou Moçambique) já estava na minha cabeça...

Claro que deambulei pela cidade e arredores (Santa Luzia, Ilha de Tavira...) mas não tinha cabeça para aprofundar o conhecimento da sua história e do seu património... Voltei lá há um mês, com outra disponibilidade mental... Passei lá um fim de semana, dois dias, alojado no Convento das Bernardas, junto às salinas, aproveitando uma promoção de época baixa, e depois fui visitar o velho quartel da Atalaia onde funcionou o CISMI, e por onde passámos, muitos de nós furriéis milicianos, antes de irmos parar à Guiné...

Já aqui identificámos alguns dos nossos camaradas que por lá passaram, na recruta e/ou especialidade: o Rogério Freire, por exemplo, esteve lá, em 1964, no COM...: Eu, o César Dias, o Humberto Reis, o António Levezinho, o Henrique Cerqueira, o José Martins, o Veríssimo Ferreira, o José Brás, o Manuel Carvalho, o Carlos Silva, o Josema (, o nosso poeta da Régua, o Zé Manel Lopes), o Joaquim Fernandes, o António Branquinho, o Fernando Hipólito (estes dois últimos não são ainda grã-tabanqueiros, e o último foi para Angola)...

Pelo menos, eu já identifiquei  5 camaradas meus, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 que passaram por lá_ eu (armas pesadas de infantaria),  o Reis (atirador de infantaria e depois operações especiais, em Lamego), o Levezinho (atirador de infantaria), o Branquinho (atirador de infantaria), o Joaquim Fernandes (atirador de infantaria)...

Antigos Milititares do CIQ-CISIMI Tavira e GG Évora é um grupo do Facebook que tem partilhado fotos e outras recordações de sucessivos turnos do CSM...Inclui, entre outros, o nosso Manuel Carvalho, irmão do Carvbalho de Mampatá, e  o ex-1º cabo miliciano, algarvio, Carlos Alberto Dores Nascimento do tempo de alguns de nós: esteve no CISMI de janeiro de 1967 a dezembro de 1969, ou seja, três anos.  Natural de Alagoa, vive em Portimão e tem a sua própria página no Facebook.



Tavira > CISMNI > c. 1969 >  Foto do Carlos Alberto Dores Nascimento, 1º cabo nmiliciano e depois fur mil, monitor, aqui reproduzida com a devida vénia. [Edição: LG].

(...) "Eu dei pelo menos uma especialidade de Atiradores com o Alferes Frederico Pires na 3.ª companhia, e Armas pesadas era dada na 2.ª companhia, porque era a companhia das várias especialidades. Quanto á referência que o António Tavares faz do Alferes Jacinto e do Alferes Diogo, eles moram aqui em Portimão, de vez em quando estou com eles. Cheguei a dar instrução com ambos e aqui está uma foto com a Alferes Jacinto. Eu era furriel, venho na frente do pelotão e ao meu lado vem um cabo miliciano preto".

Vd. Faceebook > Grupo > Antigos Milititares do CIQ-CISIMI Tavira e GG Évora

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Nota do editor:

Último poste da série > > 23 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12762: Manuscrito(s) (Luís Graça) (22): O espírito de corpo ou a navalha de ponta e mola da solidariedade entre combatentes: recordando 3 episódios do meu tempo e lugar

Vd. também poste de 14 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12716: Manuscrito(s) (Luís Graça) (20): Gostei de voltar a Tavira (Parte IV): E de ter tempo para (re)descobrir a beleza e o brilho fascinantes do seu património edificado...

Guiné 63/74 - P12782: Notas de leitura (568): "O Reencontro, Da Ponte Aérea à Cooperação", por General Gonçalves Ribeiro (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Setembro de 2013:

Queridos amigos,
Não vale a pena acrescentar mais pormenores sobre o recuo que constituiu o conflito político-militar, como o mesmo levou à destruição dos múltiplos ganhos adquiridos, na formação, na preparação de legislação, nas obras de engenharia civil e militar, no apetrechamento de lanchas para a vigilância das águas territoriais, entre outros domínios.
O registo do General Gonçalves Ribeiro vai até 2006, apelo a quem dispõe de elementos sobre a Cooperação Técnico-Militar até à atualidade que faça o favor de mos emprestar.

Um abraço do
Mário


A Cooperação Técnico-Militar e a Guiné-Bissau (2)

Beja Santos

O livro “O Reecontro, Da Ponte Aérea à Cooperação”, do General Gonçalves Ribeiro (Editorial Inquérito, 2006) dá importante informação sobre o histórico da cooperação técnico-militar na Guiné-Bissau. Fez-se referência, no primeiro texto, à execução dos diferentes programas que ocorreram entre 1991 e 1998, data em que se desencadeou um conflito político-militar que deitou por terra parte importante dessa cooperação, como se referiu.

No auge dos combates, em 23 de Junho, é divulgado o programa da autodenominada Junta Militar para Consolidação da Democracia, Justiça e Paz. A vida dos cooperantes portugueses, militares e civis, era cada vez mais difícil. A Embaixada de Portugal estava superlotada, na residência da Cooperação Técnico-Militar iam aparecendo profissionais de saúde e empresários, à busca de abrigo. Em 11 de Junho, cerca de 2 mil refugiados e desalojados foram evacuados no “Ponta de Sagres” e cinco dias depois entrava em ação a fragata “Vasco da Gama”. A comunidade internacional buscava soluções para o conflito, logo no fim de Julho se concluía um memorando de entendimento com os representantes do Governo e da Junta, ali se falava de trégua imediata, cessação das hostilidades, abertura imediata de corredores humanitários e de negociações. O autor considera que este memorando foi o elemento decisivo para que a Junta passasse a ser reconhecida pela comunidade internacional. Sucedem-se as reuniões, a CPLP, a CEDEAO, a OUA, a UE e a ONU participam. As reuniões deslocam-se para a cidade da Praia em 25 de Agosto, assistem representante da CEDEAO e da CPLP. Os dias passam, há avanços e recuos, as condições de vida continuam a degradar-se sobretudo nas áreas da alimentação, saúde e energia.

Em 15 e 16 de Setembro teve lugar em Abidjan a segunda reunião, comparece a OUA, propõe-se uma missão conjunta de observação CEDEAO/CPLP, apoiada por uma força de interposição. No início de Outubro, o Ministro da Defesa da Guiné-Bissau convida o adido militar português, conversam longamente, Nino Vieira pede um maior empenhamento direito de Portugal. O embaixador português e o adido militar conversam com os dois contendores. Aqui e acolá há tricas, trocas de tiros, faíscas que parecem incontroláveis. Todos lutam pelo cessar-fogo, o problema é que há enormes preconceitos de um lado e do outro. A 23 de Outubro, a Junta Militar lançou um ultimato a Nino Vieira, dá-lhe 48 horas para o aceitar e caso contrário ameaçam com “o assalto final a Bissau”. Nova agitação da comunidade internacional, a tensão reduziu-se e a 29 de Outubro Nino Vieira e Ansumane Mané encontram-se em Banjul, a capital da Gâmbia e daqui seguiram para Abuja, capital da Nigéria. É aqui que se assina um acordo ratificado por outros Chefes de Estado, o cessar-fogo parece de pedra e cal, nomeia-se uma comissão executiva conjunta, mas a instabilidade prosseguiu, chegou a vez da Assembleia Nacional Popular retirar a confiança política a Nino Vieira.

Passado o susto, constituiu-se um Governo de Unidade Nacional, empossado em Fevereiro de 1999. A última gota do copo de água ocorreu em Maio, Nino Vieira não aceitava desarmar o Batalhão da Guarda ao Palácio Presidencial, a Junta Militar respondeu apoderando-se de armas e munições armazenadas em contentores à guarda da força de interposição, a seguir, reiniciaram-se violentos combates nas ruas de Bissau. Era uma inesperada ofensiva em que a Junta procurava ocupar o Palácio Presidencial. A Embaixada de Portugal recebeu um pedido de asilo político de Nino Vieira, a Junta estava vitoriosa, bandos desgovernados pilharam diferentes edifícios estatais, incluindo a Embaixada do Senegal e o Palácio Presidencial. O Centro Cultural Francês foi pilhado e incendiado, cerca de três dezenas de pessoas, com os diplomatas à frente, tiveram que procurar refúgio na Embaixada de Portugal.

A nova ordem, aos ziguezagues, impunha-se. Malam Bacai Sanhá sucedeu a Nino Vieira. Fizeram-se centenas de detenções, não houve execuções sumárias. Logo que se começou a trabalhar no novo programa de cooperação. Com urgência, seguiram fardamento, medicamentos e rações de combate; abriu-se uma nova linha de cursos. A instabilidade mudava agora de figura e de estilo. Ansumane Mané parecia querer plenos poderes, apurados os resultados das próximas eleições gerais, elementos preponderantes da Junta demarcaram-se das propostas do seu líder. Os efetivos militares estavam empolados, isto quando não havia dinheiro nem meios para satisfazer as necessidades mais prementes deste elevado efetivo da tropa. Em Maio de 2000, começava o braço de ferro entre Ansumane Mané, o Presidente da República e o Governo. Mas as grandes confrontações ocorreram em Novembro desse ano, o epílogo dramático teve lugar no dia 30. Tudo começou com a questão das promoções, Ansumane Mané isolou-se e a 30 de Novembro, na sequência de um confronto armado de contornos pouco esclarecidos, Ansumane Mané foi morto.

É escusado de dizer que a instabilidade nunca mais recuou. O novo presidente, Kumba Ialá, teve o condão de se desautorizar a ponto de ter sido metido num golpe palaciano. O General Veríssimo Seabra, antigo apoiante de Ansumane Mané e figura grada da Junta Militar, figura proeminente da hierarquia militar foi morto em Outubro de 2004. Nino Vieira regressou ao país para concorrer às eleições presidenciais de 2005, triunfou.

O relato do general Gonçalves Ribeiro acaba aqui. Não restam dúvidas que o período de arranque da cooperação decorreu num clima de grande entusiasmo, orientou-se para a formação de jovens militares, classificou-os em aptidões várias; foi uma cooperação que permitiu vigiar as águas territoriais e dissuadir os barcos pesqueiros predadores; a engenharia deixou obra militar e civil; o conflito político-militar obrigou a que se reiniciasse tudo a partir quase da estaca zero.

Valerá a pena juntar ao registo do General Gonçalves Ribeiro toda a cooperação existente entre 2006 e a atualidade, para lhe conhecer os novos contornos dentro deste período tão atribulado e imprevisível.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12767: Notas de leitura (567): "O Reencontro, Da Ponte Aérea à Cooperação", por General Gonçalves Ribeiro (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12781: Convívios (565): CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71): Alverca, Quinta Marquês da Serra, em 22/3/2014... Organização: Joaquim Lessa, da Tipografia Lessa, Maia, que também é o editor da brochura "Histórias da CCAÇ 2533"



1. Mensagem do nosso camarada Luís Nascimento, com data de 26 do corrente:

Camarada Luis Graça,

Venho por este meio pedir divulgação do próximo  convívio da minha COMPANHIA, a CCAÇ 2533 [Canjambari e Fraim, 1969/71].


Será neste altura que vou resolver a situação do livro da dita [, com diversas histórias dentro da história da unidade, e cuja reprodução aqui no blogue está pendente de autorizações dos respetivos autores,  a começar pelo seu antigo comandante].

Um abraço, Luis Nascimento (Assassan)




Capa das "histórias da CCAÇ 2533", uma brocuhra editada pelo 1º ex-cabo quarteleirio, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa. Trata-se de um documento impresso, mas que não é formalment um livro, disponível n as livrarias... A sua elaboração contou com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças). As primeras 25 páginas são do cap Silvino R Silva, hoje cor ref.

A avaliar pelo material, digitalizado, que o Luís Nascimento me mandou,  não se trata, de facto,  de um "publicação formal", ou seja, um "livro", com ISBN - International Standard Book Number [, o Número Padrão Internacional de Livro:]. E seio que  nem sequer está á venda nas livrarias...


2. Mensagem, com data de 8 de janeiro último, do Luís Nascimento, respondendo a um pedido meu sobre a confirmação da autorização para se publicar, no nosso blogue, as "histórias da CCAÇ 2533".

Amigo Luís Graça,

Não há qualquer problema na publicação do livro da C.CAÇ. 2533. Foi escrito sob a orientação do ex-1º cabo quarteleiro Joaquim Lessa, também responsável pela sua impressão (é proprietário da tipografia Lessa, na Maia).

E-mail: joaquimlessa@tipografialessa.pt

Ele é o dinamizador dos almoços, convívios da 33. Telemóvel (...), não tenho o contacto do Coronel.


Um Alfa Bravo, Luis Nascimento


3. Falei, entretanto, ao telefone com o Joaquim Lessa, em 11 de janeiro último, tendo feito no aseguinte um resumo do teor da conversa, ao Luís Nascimento [, foto atual, *a esquerda],  nestes termos :

Luís: Falei ontem, por telemóvel, com o Joaquim Lessa... Manifestei-lhe o meu interesse em publicar, no todo ou em parte, o vosso livro de histórias, com o devido reconhecimento dos direitos de autor... Disse-lhe que tinha o material digitalizado por ti. E convidei-o para integrar o blogue, como membro da Tabanca Grande... 

A princípio, ele foi defensivo... É natural, não me conhece, embora já tenha ido ao blogue... Sei que é um homem ocupado e preocupado com os seus negócios, como qualquer empresário hoje em dia.

Resposta: Por ele, tudo bem, mas era preciso consultar todos os autores, alguns poderiam ter objeções, suscetibilidades, reservas... Uma coisa era o livro, de que se fizeram 50 (?) exemplares, distribuidos no convívio anual, há 4 (?) anos atrás,. Outra coisa era divulgação num blogue com a publicidade do nosso, o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné que tem 636 membros inscritos...

Disse-lhe que era também uma homenagem a todos vocês, do capitão ao soldado, que se juntam e partilham histórias dos bons e maus momentos vividos no tempo de guerra, na Guiné...

Esqueci-me de lhe dizer que vocês e eu fomos no mesmo barco, no Niassa, em 24 de maio de 1969, e regressámos juntos, a 17 de março de 1971, no Uíge!... Que fantástica coincidência!... Eu pertencia á CCAÇ 2590 que deu origem à africana CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)...

Na continuação da minha conversa disse-lhe mais ou menos isto:  vocês (CCAÇ 2533) são exemplo para todos nós, ex-combatentes da Guiné... E o livro deveria (e merecia) ser divulgado num blogue como o nosso que tem um milhão de visitas por ano (fora a página do Facebook)...

O Joaquim Less acabou por me dizer que sim, senhor, se calhar não há problemas, "eu depois falo com a malta"...  Disse-lhe que temos diversos camaradas da Maia como membros da nossa Tabanca Grande, e que a sua presença também muito nos honraria. Neste momento, só tu, Luís, representas a CCAÇ 2533. (...).

Vamos aguardar, pelo próximo dia 22 de março, para que o Luís Nascimento, o Joaquim Lessa e os demais "homens grandes" da antiga CCAÇ 2533 cheguem a um acordo quando ao deferimento do meu pedido... Até lá, desejo-lhes um magnífico e fraterno encontro. (LG)
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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12780: Filhos do vento (29): Ainda a história do Manuel Barros Castro, natural de Fafe, ex-fur mil enf, CCAÇ 414 (Catió, Bissau e Cabo Verde, 1963/65), e os preconceitos ainda hoje existentes (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

1. Mensagem, com data de 12 do corrente, do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva [, ex-alf mil para, BCP 21, Angola, 1970/72], prof educ física ref, e ex-autarca,  lourinhanense a viver em Fafe há cerca de  4 décadas [, foto à direita]:

Caro Luís:

Quanto ao Furriel Manuel Barros Castro  [, foto abaixo] (*)...

Estive hoje a tomar café com ele. Autoriza-me a enviar-te o seu n.º de telefone e o email. Podes contactar com ele,  pois está recetivo a aderir ao Blogue.

Manuel Barros Castro, Catió, c. 1963/64
O mesmo se passa em relação à jornalista do Público, Catarina Gomes. Ele está recetivo e falar com ela. Incentivei-o a isso e reforcei a importância de lhe dar o seu testemunho.

Deu-me mais alguns pormenores que eu não sabia:

A filha, a Mimi, era casada com um colega professor e deixou uma filha de 11 anos que está a ser educada pelo pai, claro, mas com grande apoio dos avós. Aliás, frequenta a escola em Fafe.

Voltámos a falar da mentalidade da época, dos preconceitos sociais em relação à “cor” da pele e à rejeição social, sobretudo nas aldeias do norte e interior do país, a dificuldade em aceitar casos destes. Diz que sentiu bem os “olhares” quando a filha chegou. Aliás, quando se referiam à filha, perguntavam-lhe: “Então como vai a sua filha adotiva”?  Ao que o Manuel Castro, disse, respondia perentório: “Eu não a adotei. A menina é mesmo minha filha”.

Disse-me, ainda, que no dia do funeral da filha, a madrinha (de quem já te falei) esteva em Portugal e esteve presente. Pois as pessoas, ainda então, “cochichavam” ao ouvido” e perguntaram-lhe, mesmo, se ela não seria a mãe. Teve que esclarecer que mãe já tinha falecido e que a senhora era a madrinha da Mimi.

Lembrei-me da história do meu colega de escola, do Seixal,  de quem já te falei (**). Quando me deu o seu testemunho, disse-me que, algum tempo após o regressoa metrópole,  teve saudades e pensou seriamente em mandá-los vir da Guiné, ao filho e à mãe.  Mas, disse-me (na presença de mais dois conterrâneos, um deles esteve na Guiné, também) que recuou,  com medo do que iriam dizer as pessoas !

Como tu bem dizes, não se deve julgar.

A propósito, o Castro disse-me, hoje, que nos encontros da companhia alguém (que ele identificou) lhe perguntou: “Trouxe a miúda, porquê?
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12687: Filhos do vento (27): Manuel Barros Castro, natural de Fafe, fur mil enf, CCAÇ 414 (Catió, Bissau e Cabo Verde, 1963/65) teve uma filha, de mãe guineense,e que ele de imediato perfilhou, Maria Biai Barros Castro (1964-2009)... Uma história exemplar (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

Guiné 63/74 - P12779: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Instruções ao sold recruta nº 821, do 3º turno de 1968, incorporado na 3ª Companhia, assinadas pelo comandante, cap inf Eduardo José Moreira Fernandes (César Dias, ex-fur mil, sapador, CCS / BCAÇ 2885, Mansoa, maio de 1969/março de 1971)



Bilhete de identidade do César Dias, sold do CSM nº 197356/68, emitido em 16/7/1968

Fotos [de cima e de baixo): © César Dias  (2014). Todos os direitos reservados


1. Documento recolhido e digitalizado pelo nosso amigo e camarada César Dias, que fez a recruta no 3º turno de 1968, do CSM, no CISMI, Tavii.

Trata-se de instruções dadas ao sold recruta nº 821/3ª, assinadas pelo comandante, o cap inf  Eduardo José Moreira Fernandes.

O César foi meu contemporâneo no CISMI (fizemos a especialialidade em Tavira, no CISMI, na mesma altura, set/dez de 1968, ele como sapador, eu em armas pesadas de infantaria; foi fur mil sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, Maio de 1969/Março de 1971.  [, foto à esquerda].



António Salgadinho
São Brás, Faro, 1975/76
 
Ficamos a saber que o ten Madeira era o comandante adjunto da 3ª
companhia, e que havia 6 pelotões, sendo o alf Mascarenhas o comandante do 1º... Os restantes eram comandados por aspirantes:  Domingos (2º), Pontes Silva (3º), Antunes (4º), Neto (5º) e Sousa e Silva (6º). O 1º sargento da 3ª companhia era o  Sena.

Mais, ficamos a saber que o "ideólogo" do CISMI (Chefe de Gabinete de Estudos, subdiretor do CISMI e 2º comandante da unidade) era muito provavelmente  o cap  António Salgadinho São Brás [, foto à direita, em 1975/76, como comandante di Centro de Recrutamento de Faro; cortesia do sítio do Exército]: provavelmente o  "guia do instruendo" seria da sua lavra...

O comandante da unidade, por sua vez,  era o major José Bernardo Cruz Aragão Teixeira [, que irá comandar, em 1970/72, em Moçambique, um batalhão de caçadores, o BCAÇ 2913]. Do cap inf Fernandes, não parece haver rastos na Internet... [Consulte-se, no entanto, a página, no Facebook, do Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora..]

No dia 25 do corrente, às 23h14, o César mandou-me entretanto o seguinte email:

"Boa noite, Luis. Só agora cheguei a casa, por isso só agora te respondo. Infelizmente não faço ideia de quem tenha sido o Capelão do CISMI naquele tempo, nem sequer quem foi o autor do Guia do instruendo, mas o responsável era por certo o Director do Centro.Mas ainda descobri aqui um cartão. do instruendo que, se quiseres,  podes enquadrar no poste [vd. imagem acima]. Um abraço, César."


Carlos Nascimento: foto recente, na parada do quartel da
Atalaia,em Tavira... Ainda se vê ao fundo o célebre pórtico,
 usado  na nossa instrução... Foto:  Cortesia de
Carlos Nascimento
2. Quem tem recordações bastante precisas desse tempo do CISMI, é o Carlos Alberto Dores Nascimento,que foi 1º cabo miliciano, e monitor do CSM, entre 1967 e 1969. Mandou-me há uns anos (em 9 de setembro de 2010) o seguinte email:

 "Alô, Luis. Sou o Carlos Alberto Dores Nascimento, estive em Tavira de Janeiro de 67 a Dezembro de 69. Especialidade de atirador... e por lá fiquei até ao fim como monitor. Conheci o Robles e o Trotil. O Trotil era Óscar. Conheci-os de alferes a capitães. 

Também gostava de encontrar alguns companheiros daquele tempo (,agora somos avós, ) mesmo que tivessem sido 'meus'  intruendos. Sei que todos os anos em Outubro fazem lá no quartel um convívio com todos os que passaram por lá. Eu este ano quero ir pois nunca fui. Estou inscrito no FaceBook, tenho lá algumas fotos do nosso tempo para ver se há alguém que se identifica. Bom, um grande abraço.". 

[De facto, o Nascimento, algarvio, que é natural de Alagoa, e vive em Portimão, é um dos elementos mais ativos do Grupo (aberto) do Facebook,  Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora.. Gostava de o convidar para integrar o nosso blogue, se bem que ele já faça parte dos amigos da Tabanca Grande no Facebook. Vd aqui a sua página pessoal]

Segundo o Carlos Nascimento, a 2.ª companhia era "a  companhia das várias especialidades"... Deve ter sido a minha, de armas pesadas de infantaria.  As outras, faziam recrutas (, caso da 3ª, por  exemplo) ou especialidade de atiradores. Ele também conheceu o Madeira ainda como alferes e depois tenente.