Calendário da AD para o ano de 2014 > "O desenvolvimento é um acto de cultura... Floresta de Lautchande, Cantanhez". [ Corresponde à folha de rosto do calendário.]
Calendário da AD para o ano de 2014 > "Intervir através dos Centros de Divulgação Comunitária de Guiledje". [ Corresponde à folha do mês de fevereiro.]
Calendário da AD para o ano de 2014 > "Valorizar a riqueza do rio Cacheu para melhor conservar os seus recursos". [ Corresponde à folha do mês de maio.]
Calendário da AD para o ano de 2014 > "As mulheres são determinantes no progresso comunitário . Tabancva de Cabedú". [ Corresponde à folha do mês de setembro.]
Calendário da AD para o ano de 2014 > "O peixe é a principal fo nte de proteína na costa do país. Tabanca de Bolol". [ Corresponde à folha do mês de novembro.]
Fonte: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2014). Todos os direitos reservados (Cortesia da da ONG guineense e do fotógrafo Ernst Schade)..
(Imagens reproduzidas com a devida vénia, a partir da digitalização do calendário...Para ver alguns dos originais, com outra resolução e qualidade técnica, clicar aqui, no sítio do fotógrafo: www.ernstschade.com; o holandês Ernst Schade vive em Lisboa desde 1995; é um apaixonado por Portugal e pela Guiné.Bissau, para onde viaja com frequência).
1. O Pepito morreu, faz hoje uma semana (*)... Se ele fosse cristão, iríamos assistir a uma missa do 7º dia por alma dele... E no entanto, escrevi, eu que também não sou crente, mas procurando interpretar o sentimento dos seus familiares, amigos e admiradores, bem como o meu próprio sentimento perante este funesto acontecimento: "Pepito ca mori"...
Como há dias eu quis dizer, à nossa querida Isabel Levy, sua companheira de uma vida e mãe dos seus filhos Cristina, Ivan e Catarina, "metaforicamente falando, é verdade, o Pepito não morreu, porque não pode morrer, faz-nos falta"... Psicológica e culturalmente, é uma exclamação (ou um imprecação aos deuses!, se quisermos), que nos ajuda a suportar o insuportável, enfim, que serve para fazermos o luto... É a nossa maneira, africana e judaico-cristã, de fazer o luto...
Quando se perde alguém, como o Pepito, que nos é muito querido (ou algo que, para nós é/era muito valioso, a nossa casa, o nosso chão, o nosso país... ), passamos por um processo de “luto” que pode ter, em geral, cinco fases, que não são lineares nem necessariamente lógicas e cronológicas:
(i) negação: é a primeira fase do luto, a primeira reação perante a perda, que não aceitamos racionalmente. “É impossível, não pode ser, não acredito!”...O sofrimento causado por tal perda seria tão devastador, que nos leva a denegar, a recusar a realidade, por mais brutal que ela seja (por ex., o corpo de um camarada destroçado por uma mina)...
(ii) raiva: continuamos a não aceitar a perda, mesmo quando consumada…Sentimentos contraditórios de raiva, de onveja e de culpa assaltam-nos… Rejeitamos os pêsames e as palavras de conforto dos outros. Mesmo quando se é crente, invectiva-se Deus: “Porquê eu, meu Deus!?", "Porquê ele, e não eu ?" (, é frequente ouvir isso dos pais em relação aos filhos, podemos ouvir isso no teatro de guerra perante a perda de um camarada que é atingido ao nosso lado);
(iii) negociação: começamos a ponderar a “hipótese da perda”… Se isso aconteceu mesmo, vou negociar, com Deus, com Jeová, com Alá, com o Irã ou com uma qualquer outra força superior que regula a vida dos seres humanos e do universo. Faço promessas ou sacrifícios para que tal não seja verdade…
(iv) depressão: acaba por surgir quando eu tomo consciência da realidade: a morte, a perda inevitável, inexorável, inelutável. Uma profunda tristeza e angústia apodera-se de mim. Há uma vazio existencial. “Nunca mais te verei”… meu pai, minha mãe, meu marido, minha esposa, meu filho, minha filha, meu amigo, meu camarada, a “coisa amada”, o “objeto perdido”… Com o desaparecimento físico da pessoa (ou objeto), passo a sobrevalorizar as memórias a ela/ele associadas… As fotos, os vídeos, os objetos pessoais, as cartas, as roupas, as palavras, ...
(v) aceitação: por fim, vem (ou deve vir, para que o luto não seja patológico) a aceitação da perda. “Morreu, mas morreu em paz, sem dor, com serenidade, com dignidade… E isso consola-me"; Morreu como um herói!"; "Morreu, mas foi um grande exemplo para todos nós"...
(i) negação: é a primeira fase do luto, a primeira reação perante a perda, que não aceitamos racionalmente. “É impossível, não pode ser, não acredito!”...O sofrimento causado por tal perda seria tão devastador, que nos leva a denegar, a recusar a realidade, por mais brutal que ela seja (por ex., o corpo de um camarada destroçado por uma mina)...
(ii) raiva: continuamos a não aceitar a perda, mesmo quando consumada…Sentimentos contraditórios de raiva, de onveja e de culpa assaltam-nos… Rejeitamos os pêsames e as palavras de conforto dos outros. Mesmo quando se é crente, invectiva-se Deus: “Porquê eu, meu Deus!?", "Porquê ele, e não eu ?" (, é frequente ouvir isso dos pais em relação aos filhos, podemos ouvir isso no teatro de guerra perante a perda de um camarada que é atingido ao nosso lado);
(iii) negociação: começamos a ponderar a “hipótese da perda”… Se isso aconteceu mesmo, vou negociar, com Deus, com Jeová, com Alá, com o Irã ou com uma qualquer outra força superior que regula a vida dos seres humanos e do universo. Faço promessas ou sacrifícios para que tal não seja verdade…
(iv) depressão: acaba por surgir quando eu tomo consciência da realidade: a morte, a perda inevitável, inexorável, inelutável. Uma profunda tristeza e angústia apodera-se de mim. Há uma vazio existencial. “Nunca mais te verei”… meu pai, minha mãe, meu marido, minha esposa, meu filho, minha filha, meu amigo, meu camarada, a “coisa amada”, o “objeto perdido”… Com o desaparecimento físico da pessoa (ou objeto), passo a sobrevalorizar as memórias a ela/ele associadas… As fotos, os vídeos, os objetos pessoais, as cartas, as roupas, as palavras, ...
(v) aceitação: por fim, vem (ou deve vir, para que o luto não seja patológico) a aceitação da perda. “Morreu, mas morreu em paz, sem dor, com serenidade, com dignidade… E isso consola-me"; Morreu como um herói!"; "Morreu, mas foi um grande exemplo para todos nós"...
Preenchemos deste modo o tremendo vazio da perda. Aqui é muito importante o “suporte social”, o apoio dos outros, os ritos, os cerimoniais (, incluindo as cerimónias fúnebres religiosas, civis ou militares)… A “festa do choro”, na Guiné, tem como objetivo levar à aceitação (racional, emocional e social) da morte ou da perda de alguém que nos é/era muito querido oi importante para nós, a nossa família, o nosso grupo, a nossa comunidade…
Este processo foi descrito e tipificado pela primeira vez pela “senhora morte”, Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004), no seu livro, já clássico, sobre a morte e o morrer [“On Death and Dying”, New York, 1969].
2. A família do Pepito, os seus amigos, os seus admiradores, os colaboradores da AD, o povo simples das tabancas da Guiné-Bissau que o admirava como um verdadeiro "homem grande" e "benemérito"... vão ter que fazer o luto pela sua morte...
Este processo foi descrito e tipificado pela primeira vez pela “senhora morte”, Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004), no seu livro, já clássico, sobre a morte e o morrer [“On Death and Dying”, New York, 1969].
2. A família do Pepito, os seus amigos, os seus admiradores, os colaboradores da AD, o povo simples das tabancas da Guiné-Bissau que o admirava como um verdadeiro "homem grande" e "benemérito"... vão ter que fazer o luto pela sua morte...
E a melhor maneira é celebrar a vida, a esperança, o futuro, é falar do Pepito, é falar dele, do seu exemplo, da sua vida, da sua obra, dos seus sonhos e projetos, dando-lhes continuidade, renovando-os, acrescentando-lhes algo de novo, que traga o ADN da esperança e do futuro...
"Pepito ca mori": como ele disse aos seus filhos e netos, "desistir é perder e recomeçar é vencer"...Morreu ao km 64 da picada da vida - uma picada bem dura, cheia de minas e armadilhas - mas a sua família, amigos, admiradores e cooperantes da AD não vão deixar que o seu "testemunho" (para usar uma figura do atletismo, das corridas de estafeta 4 x 4) fique caído no "chão"... Dentro de duas ou três semanas os camaradas Carlos Fortunato e Carlos Silva, da ONGD Ajuda Amiga, estarão em Bissau, prontos para acompanhar o descarregamento de mais um contentor com 22 toneladas de livros e material escolar, brinquedos, roupa e calçado, mobiliário, ferramentas e equipamentos, etc., a distribuir por diversos destinatários, incluindo a AD... Só que desta vez já não estará lá o Pepito com o seu vozeirão, o seu sorriso franco e aberto, os seus braços comprimidos, para os receber e acolher como só ele sabia receber e acolher!,,, Mas o "Pepito ca mori!", a sua presença tutelar vai-se sentir e fazer sentir, dando força àqueles de nós, guineenses e portugueses, que continuam a pensar e a acreditar que a Guiné e o seu povo têm direito ao passado, ao presente e ao futuro!... Força, camaradas da Ajuda Amiga ! Força, AD!
Camarate, 27-01-2014 - Equipa de voluntários pronta para carregar o contentor com a ajuda amiga... A foto deve tersido tirada pelo Carlos Silva... Reconheço, da esquerda para a direita, os camaradas do blogue Carlos Fortunato, Manuel Joaquim e Armando Pires. Cortesia da ONG Ajuda Amiga.
Deixa-me agora falar contigo, Pepito, tu cá tu cá, sem invocar nenhum privilégio que não seja o da amizade... Gostaria de te ter dito isto, no centro de funerário de Bracarena, na tua despedida: a tua vida foi inspiradora, e o teu exemplo, os teus valores, a tua coragem, a tua idiossincrasia, a tua singular maneira de ser e estar na vida e na tua profissão, o teu exercício da cidadania e da condição humana, a tua filosofia do desenvolvimento integrado, sustentado e participado, aplicada e testada nas duras condições da Guiné-Bissau do pós-independência, vão continuar a ser um estimulante e gratificante desafio para todos nós, que te admirávamos, que te apoiávamos, mas que também te criticávamos quando se impunha...(.Por exemplo, o facto de, por vezes, descurares a tua saúde e até a tua segurança, correndo riscos desnecessários!)...
Para ti, o desenvolvimento era inseparável da cultura, era um "um acto de cultura"!... Na tua terra, na tua prática., na tua liderança, no teu pensamento, nos teus escritos, tu nunca separavas o material do imaterial, o económico do simbólico, o tecnológico do humano, o social do político, o individual do comunitário... Mesmo sendo, ou talvez por isso, um engenheiro agrónomo, tinhas a grande sabedoria de saber ouvir (e aprender com) os outros!...
3. E aqui apraz-me evocar um dos seus últimos "actos de cultura" (e de amor pela ONGD que ele ajudou a fundar e a crescer), que foi a edição do calendário da AD para 2014. E de que ele me fez chegar, carinhosamente, um exemplar, pelo correio, vindo diretamente da tipografia portuguesa, em Lisboa... Agradeci-lhe nestes termos, em 12 de dezembro passado:
"Pepito, já saiu o calendário de 2014, editado pela AD. Já o recebi em casa, pelo correio. Está lindo. Parabéns pela iniciativa. Parabéns ao fotógrafo e sobretudo ao povo da Guiné (e em especial às suas mulheres)!... É gente linda, fotogénica e fraterna!...
Espero que vocês não fiquem "isolados" do mundo este Natal... O que se passou com o último voo da TAP preocupa-me seriamente, a mim e aos amigos da Guiné... Gostava de conhecer a tua versão dos acontecimentos mas aquilo cheira-me a "banditismo puro e duro"... Há "regras" de convívio entre os povos e os estados soberanos...Um alfabravo. Luis!...
Espero que vocês não fiquem "isolados" do mundo este Natal... O que se passou com o último voo da TAP preocupa-me seriamente, a mim e aos amigos da Guiné... Gostava de conhecer a tua versão dos acontecimentos mas aquilo cheira-me a "banditismo puro e duro"... Há "regras" de convívio entre os povos e os estados soberanos...Um alfabravo. Luis!...
Trocávamos amiúde pequenos mails e ele arranjava sempre tempo para me responder, logo pela manhã, nem que fosse através de duas linhas telegráficas, com a sua grande humildade mas também com o seu proverbial sentido de humor e de ironia:
"Luís, fico satisfeito que tenhas gostado do calendário. Quanto aos sírios, trata-se apenas de um negócio: recebe-se dinheiro e colocam-se os ditos à força num avião. O que lhes acontece a seguir, pouco me interessa, a mim que já tenho o dinheiro na mão e estou pronto a receber mais uns tantos. abraço, pepito"
Reproduzo, acima, com a devida autorização do autor das fotos, o fotógrafo holandês Ernst Schade seis das treze imagens que dão brilho, calor humano, poesia e singularidade ao calendário da AD de 2014.
Há dois dias trás eu tinha enviado à Isabel Levy (***) o seguinte pedido:
Achas que, num poste dedicado ao Pepito, eu poderia reproduzir uma ou duas das imagens do calendário, sem violar o "copyright" ? Não sei qual o acordo que a AD tem com ele... Digitalizei as imagens do calendário, não fui ao sítio do fotógrafo"...
A Isabel teve a gentileza me dizer que ele estava em Espanha, que em princípio não haveria qualquer problema, mas que seria melhor obter a sua autorização expressa. O que veio, de pronto, no dia seguinte, com uma gentil mensagem do próprio (que não me conhece pessoalmente):
"Caro Luís Graça,
Só agora regressei de Espanha. Claro que não me importo que o Luís utilize as minhas imagens. Até sinto-me honrado. É totalmente inconcebível que o Pepito já não está [esteja] cá connosco… Um abraço, Ernst Schade (sou holandês…)".
Só agora regressei de Espanha. Claro que não me importo que o Luís utilize as minhas imagens. Até sinto-me honrado. É totalmente inconcebível que o Pepito já não está [esteja] cá connosco… Um abraço, Ernst Schade (sou holandês…)".
Fica aqui mais uma homenagem, dupla, tripla, múltipla, ao nosso querido amigo... cuja memória continuará a ser cultivada e partilhada pelos seus amigos, alguns dos quais aqui sentados no bentém, à volta do frondoso e mágico poilão da nossa Tabanca Grande ou de outras tabancas dos amigos e camaradas da Guiné.
PS - A ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento abriu um espaço, no seu sítio, para mensagens de condolências.
Associemo-nos à "equipa da AD [que], neste momento de dor e de luto, gostava de prestar uma última homenagem ao fundador, inspirador e Diretor Executivo da AD: o nosso Pepito, o Pepito dos guineenses e do mundo".
PS - A ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento abriu um espaço, no seu sítio, para mensagens de condolências.
Associemo-nos à "equipa da AD [que], neste momento de dor e de luto, gostava de prestar uma última homenagem ao fundador, inspirador e Diretor Executivo da AD: o nosso Pepito, o Pepito dos guineenses e do mundo".
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 18 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 24 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12769: In Memoriam (183): Relembrando o nosso camarada Fernando Rodrigues, Sargento Chefe Ref, natural de Lagoa, que integrou a CCAÇ 5 (Arménio Estorninho / José Martins)
(***) Que fique, também, aqui registada a mensagem da Isabel Levy, de agradecimento pelas nossas manifestações de pesar, apreço e solidariedade, enviada no passado dia 23
: "Olá, Luis, tenho acompanhado o teu blog e as palavras amigas de quantos admiravam e gostavam do Pepito. Através de ti envio um abraço imenso para todos eles. Um beijinho, isabel Levy".
(*) Vd. poste de 18 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 24 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12769: In Memoriam (183): Relembrando o nosso camarada Fernando Rodrigues, Sargento Chefe Ref, natural de Lagoa, que integrou a CCAÇ 5 (Arménio Estorninho / José Martins)
(***) Que fique, também, aqui registada a mensagem da Isabel Levy, de agradecimento pelas nossas manifestações de pesar, apreço e solidariedade, enviada no passado dia 23
: "Olá, Luis, tenho acompanhado o teu blog e as palavras amigas de quantos admiravam e gostavam do Pepito. Através de ti envio um abraço imenso para todos eles. Um beijinho, isabel Levy".
4 comentários:
Andei quinze dias pelos States. Fui
a Boston a um congresso de maus sinólogos, eu incluído. Só ontem regressei, abri o blogue e fiquei siderado com a morte do Pepito. Não o conheci pessoalmente mas foi, de certeza uma excepcional pessoa, um ser humano de eleição, enraizado no solo úbere da sua Guiné.
Que dizer quando o Luís Graça e tantos outros camaradas já disseram
tudo?
O meu simples abraço à esposa e filhos.Força, o Pepito continuará a viver
em todos vós, em todos nós.
António Graça de Abreu
Luís
Aprendi com o Pepito nos poucos mas frutuosos anos de convivência que a melhor maneira de fazer crescer uma pessoa é incentivá-la a sonhar e deixá-la fazer o seu caminho. Transportando depois esta ideia para uma Tabanca, um povo, assim, ele promovia o desenvolvimento.
Ouvia, motivava e tentava arranjar meios, quantas vezes muito parcos, deixando às pessoas a tarefa de se organizarem e caminharem.
Desde a primeira hora em abril de 2008 em Cabedú naquela tarde que optei por não ir com o grupo a Cacine e acompanhar, como Zé Carioca, o Pepito a Cabedú.Senti nos gestos das pessoas quanto acreditavam nele e esperavam dele, naquela inauguração simbólica de um poço de água, numa tabanca que desde a saí+da da tropa portuguesa iam buscar a água a quilómetros.
As suas palavras foram um desafio à continuidade. sentiu que os habitantes estavam organizados e alimentou os seus sonhos. Hoje têm Enfermaria com enfermeiro permanente; Centro Materno infantil; oficina de costura e têm água.
É apenas um exemplo do muito que tenho visto nas visitas que desde então fiz à Guiné-Bissau.
Com ele sonhei. Com ele caminhei pelos trilhos da Guiné-Bissau e redescobri um povo maravilhoso que quer vencer e sair da cepa torta onde os políticos o encaixaram. O pepito era para aquele povo uma esperança.
Era querido por muitos, por todos os que acreditam e querem para aquele povo a paz, o desenvolvimento, a saúde e bem-estar a que têm direito. Era temido e odiado por outros, os que se servem do povo para ganhar riqueza. E tasmbém era invejado por outros os que não conseguiam ir tão longe como ele ia.
O Pepito, para mim, muito mais que um amigo. É um irmão em ideal e um mestre. Um tsouro que eu não queria perder. Dei-lhe muitas vezes no toutiço para que tratasse melhor da sua saúde, pois devido ao estado do seu fígado devido aos anti-palúdicos, teria de ter mais cuidados, mas...
Quinze dias antes de vir para Portugal fazer o tratamento e travar a luta com a morte que acabou por perder, estando já muito doente dizia-me que ainda tinha de ir ao Sul lançar as Associações de costureiras com as máquinas de costura que a Tabanca Pequena lhe tinha enviado. Sei que foi mas voltou no mesmo dia, pois já não aguentou.
Para ele dedico este poema que escrevi a caminho de Lisboa para a última despedida.
Pepito o construtor de Sonhos
Sentado à sombra de um mangueiro,
Ouvias serenamente o teu povo a sonhar,
E sonhavas com ele, construindo –
Davas luz às suas ideias, alimentavas os seus projetos,
Ouvindo –
E continuavas a sonhar um mundo diferente,
Desafiavas a seguir em frente,
Sorrindo –
Sorrisos de esperança repartidos
Como raios de sol suave e ardente,
Penetrante –
Fonte de vida. Alimento,
Para o teu povo, sedento
De paz, pão, trabalho e dignidade,
E assim, de mãos dadas contigo,
Ganhavam forças para construírem o caminho
De felicidade.
Partias, então no teu pesado passo,
De homem cansado de tanto lutar,
Saltando de tabanca em tabanca
Leve como um passarinho a esvoaçar,
Construindo sonhos num país adiado
Para o teu povo, que teima em acreditar
Que contigo a seu lado é possível a mudança
Tu és para o teu povo
Um sinal de esperança
Zé Teixeira
Isabel Levy
25 fev 2014 12:25
Olá Luis
continuo a acompanhar-vos
a Fundação Mario Soares realiza uma homenagem ao Pepito no dia 7 pelas 18h, talvez já saibas!
abraço
isabel
Paz à sua alma! Um Homem Bom.
Mário Fitas
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