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quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27391: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte IV: impressões de viagem do Ruy Cinatti: Mindelo e Bolama



Guiné > Bolama > Agosto de 1935 > Partida  do vapor "Moçambique", com os participantes do 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias, entre os quais se contaria Ruy Cinatti (1915-1986), então com 20 anos, futuro engenheiro agrónomo, poeta, antropólogo que iria mais tarde estabelecer uma relação especial com Timor.

Fonte: Ilustração. nº 222, ano 10º, 16 de agosto de 1935, pág. 9. (A revista, quinzenal, era propriedade da Livraria Bertrand, Lisboa; editor: José Júlio da Fonseca;) custava 5$00 um número avulso (Cortesia de Hemeroteca Digigit6al / Càmara Municipal de Lisboa)


1. Continuação da publicação da série "I Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935) (*)

Fomos "repescar" um texto do nosso crítico literário Mário Beja Santos (ex-alf mil,   Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com o título  "Ruy Cinatti e uma viagem a Bolama, 1935" (**).

O Ruy Cinatti ficará profundamente marcado por este cruzeiro. Pode- se dizer que, de facto, foi "o cruzeiro da sua vida", sem qualquer ironia (como nós dizemos do nosso para a Guiné). De resto, ele será uma das vedetas do evento, ganhando inclusive um prémio literário pela melhor composição sobre a viagem.

O texto é antecedido da seguinte mensagem do nosso  camarada  e colaborador permanente, o Beja Santos,  com data de 10 de fevereiro de 2016:

(...) Entre chuviscos intermitentes, aquele sábado de manhã na Feira da Ladra permitiu-me adquirir esta preciosidade, ao longo dos anos em que entabulei grande amizade com o Ruy Cinatti, este nunca me fizera referência à sua visita à Guiné e muito menos mencionara existir texto de tal viagem. A sua grande recordação fora a Ilha do Príncipe, deu-lhe fulgor para escrever uma pequena gema literária, o conto "Ossobó".

É bom recordar que este antropólogo e poeta tinha 20 anos quando escreveu estas recordações de viagem. (...)

 


Caoa da revista "O Mundo Portuguès"


"Ruy Cinatti, um dos participantes do 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, dá-nos a suas impressões de uma viagem ao Mindelo e a Bolama,  em agosto de 1935"

por Mário Beja Santos


Ruy Cinatti, pintado pela Maluda, Tinha traços fenotípicos chineses, do lado da mãe. O pai foi consul em Londres.
(Cortesia de Mário Beja Santos)

O 1º Cruzeiro de Férias às Colónias, coordenado por Marcello Caetano, constituiu uma novidade pelo modo como se pretendia atrair a juventude aos conhecimentos das parcelas do império. Guardaram-se vários testemunhos dessa viagem em que o regime procedera a uma rigorosa seleção de universitários de elevada craveira.

Um dos escolhidos foi Ruy Cinatti (Londres, 1915- Lisboa, 1986) que se irá afirmar como grande poeta, etnólogo, antropólogo e defensor da causa timorense. 

Tive o privilégio de receber alguns dons da sua amizade benfazeja. Conheci-o quando era membro da direção do jornal “Encontro”, a publicação da JUC – Juventude Universitária Católica, em 1966, fui pedir-lhe um poema, ofereceu-nos “O cego”, o primeiro dos seus “Sete septetos”, livro que viria a ser premiado com o Prémio Nacional de Poesia.

O meu livro,  “A Viagem do Tangomau”, arranca com um encontro em sua casa, convidar-me para jantar na véspera de eu partir para Mafra, para frequentar a recruta. Leu-me poemas de safra recente, que virão a ser publicados a título póstumo. E na correspondência que com ele troquei na Guiné, deu-me sábios conselhos, foi um lenitivo para a minha alma, daí o ter tratado sempre por “Dear father”.

Encontrei em “O Mundo Português”, revista de cultura e propaganda, arte e literatura coloniais, o seu número 24, de dezembro de 1935, o seu texto “A Mocidade Académica e o 1º Cruzeiro de Férias às Colónias”. 

Chamou-me à atenção, na chegada a S. Vicente, a descrição crua que nos faz da vida dolorosa do cabo-verdiano:

“A vegetação em S. Vicente está reduzida a pequenos oásis de verdura – as ribeiras – regiões sobrejacentes aos leitos de ribeiras subterrâneas, onde se desenvolvem plantas dos climas quentes, e a pequenas extensões de vegetação arbórea cuja ramaria, passada certa altura, se estende, se inclina horizontalmente, se prostra ante a fúria niveladora do vento do deserto, que sibila, que ecoa doidamente nos recôncavos da rocha.

O resto são campos de calhaus partidos, triturados, onde a vida vegetal é impossível, porque as águas que nas épocas de chuva se despenham em torrentes pelas encostas arrastam o pouco húmus que se tenha depositado ou os materiais terrosos provenientes da desagregação da rocha.

Todos estes aspetos, geológico, climático, ausência de vegetação na maior parte das ilhas, motivada ou pela falta de chuvas ou pelo seu desperdício quando cai, conduzem à grande tragédia do arquipélago – a fome.

Em 1924, só em S. Tiago morreram à fome 20 mil pessoas. No Fogo, o colmo é arrancado das casas indígenas para ser cozido e servir assim de alimento. As crioulas levavam os filhos já mortos ao colo, iludindo os administradores, para receberem maior ração”.


E conclui:

“Foram S. Vicente e depois o Príncipe, as ilhas que, no desfilar tumultuante de visões sucessivas, mais indelével recordação deixaram no meu espírito”.




O vapor "Moçambique", da CNN, ao largo de Bolama > Agosto de 1935

Foto: "O Mundo Português", vol II, nºs 21-22, setembro-outubro de 1935
(Exemplar pessoal de Mário Beja Santos; digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné) (*)


E assim chegaram à Guiné, registará a sua viagem a Bolama:

“O mar muda de cor. Já não é azul ultramarino nem azul-cobalto. As águas são barrentas, com reflexos esverdeados provenientes dos aluviões arrastados pelo Geba e outros rios. A ondulação é mínima, apenas provocada pelo deslocamento do navio.

Atravessámos o dédalo das ilhas Bijagós, cobertas de intensa vegetação verde-amarelada, que me dá uma sensação muito diferente do que eu supunha vir a encontrar.

Costas baixas, em praia, abundantes em recortes e braços de mar, prolongando-se a perder de vista, a ponto de se julgar que a vegetação nasce das águas.

Era já tarde e o sol velado pela fímbria das nuvens caminhava para o ocaso. Não bulia uma folha. Estava tudo parado, tudo embebido num banho morno.

Caminhava ao longo de uma rua de Bolama, com os muros e as casas cobertas de musgo, onde o branco da cal há muito tempo dera lugar ao cinzento esverdeado da terra e das plantas. Andava e não via ninguém. Tudo estava deserto. Só ouvia o ecoar das minhas passadas no cimento do passeio.

Envolvia-me um silêncio sepulcral. Invadia-me um aniquilamento absoluto. Qualquer coisa me amolecia, tornava mais vagaroso o andar. Com a face, com o corpo a escorrer suor, bebi grandes golos de água do cantil; quanto mais bebia mais a sede me torturava.

De repente, em poucos minutos, o céu tapou-se de nuvens; uma ligeira brisa baloiçou a folhagem dos poilões; começou a chover torrencialmente e a água, rejeitada pela terra saciada de humidade, corria em regatos para as margens lodosas do mar. Ali, refrescando a alma, refrescando o corpo com a deliciosa chuva a escorrer-me pelos cabelos e pela face, reagi.

Com outra alma, caminhei com energia, embebendo-me na paisagem tropical verde cinzenta. Nas margens do rio, onde o lodo borbulhava, o mangal de folhagem miúda muito cerrada estendia-se indefinidamente numa estreita faixa, com as raízes brutescas saindo da água.

Com o mesmo imprevisto com que tinha aparecido, as nuvens foram-se, e de novo o sol inundou a terra. Atravessei a cidade; segui por uma estrada onde, dentre o verde brilhante das bananeiras, das árvores de fruta-pão e dos poilões, surgiam as tabancas cor de argila.

Em volta, em porções de terreno sem área nem contorno definido, estendem-se as plantações de mancarra cultivada pelos negros. Grupos de indígenas, diferentes na aparência física e no vestuário, seguiam ao longo da estrada e estacionavam à porta das tabancas.

Uns, quase nus, com as costas tatuadas em relevo, com folhas de palmeira-leque e um grande cutelo nas mãos. Outros, vestidos com grandes camisas grandes que quase chegam ao chão, com o peitilho bordado e um alfange pendente a tiracolo. Mulheres, ora de tanga, ora envoltas em grandes panos, caminhavam com os filhos às costas e com grandes cabaças sobre o lenço amarelo enrolado em volta da cabeça.

Entrei numa tabanca de Fulas. Casas retangulares e circulares, o telhado de colmo estendendo-se para fora das paredes a servir de alpendre ou galeria. Sentados em volta os homens conversam, as mulheres entram e saem. As crianças brincam indiferentes ao que em volta se passa.

Lá ao longe, mas dentro da tabanca, o barulho de muita gente junta a falar atraiu-me. Fui lá.
Formando uma roda, homens e mulheres olhavam, gesticulando, o começo de um batuque. O tambor começou a suar e logo um negro despindo a camisa branca, descalçando as chinelas vermelhas, saltou para o meio, os músculos salientes a brilhar, exibindo o corpo atlético de um deus grego queimado pelo sol.

Começou a andar em volta, olhando a multidão que o cercava, saracoteando o corpo, batendo ritmicamente os pés, em flexões que iam aumentando com rapidez. Dirigiu-se às raparigas que em monte o olhavam embevecidas, num conjunto de cores em que o vermelho e o amarelo predominam.

Cantava a mesma frase com intervalos em que o som fica suspenso no ar e continuava cada vez mais excitado, na sua movimentada dança, dando saltos mortais.

De vez em quando chegava-se ao pé do tocador de tambor, dobrava-se, batendo com os dedos no chão e levantava-se em seguida bem alto, apontando para alguns dos que ali estavam. Era o desafio para a luta.

Ninguém veio. Mais alguns saltaram para o centro e com as mesmas atitudes desafiaram outros. Ninguém veio. Tudo se parecia temer. Em volta, homens e mulheres procuravam animar, batendo compassadamente as palmas, acompanhamento o canto intermitente dos lutadores. Nada conseguiram. Em breve começaram a dispersar. O sol já tinha desaparecido lançando apenas no horizonte um pálido clarão, que mais fazia realçar a beleza eternas das palmeiras.

Em redor os homens, sentados à porta das cubatas, lavavam os pés, preparando-se para a oração muçulmana”.


Ruy Cinatti escreve este texto com 20 anos. Chamou-me à atenção a dedicatória que ele apõe:

“Para o muito caro José Vaz Pinto, esta recordação do nosso cruzeiro de maravilha com a amizade de Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes. Janeiro de 1936”.

(Revisão / fixação de texto, título: LG)

 2.   Comentário do editor LG:

Este foi, de facto, o primeiro e único cruzeiro de férias às colónias, com direção cultural de  Marcello Caetano, que exercerá mais tarde o cargo de ministro das colónias (1944/47), depois de ter sido comissário nacional da Mocidade Portuguesa (1940/44).

Mas em  1937 irá realizar-sen o I Cruzeiro de Férias dos Estudantes das Colónias à Metrópole, transportando estudantes dos liceus de Angola e Moçambique ao "Puto", e depois um outro que levou estudantes de Moçambique a Angola...

A moda do turismo colonial pegou: alguns anos depois iniciar-se-iam os cruzeiros da Mocidade Portuguesa e, posteriormente, da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT). Claro que os ingleses, os franceses, os alemães, os italianos, etc. , já faziam este tipo de cruzeiros.

O ACP (Automóvel Clube de Portugal), já dera o mote, inaugurando a prática turística do cruzeiro a terras exóticas: em 11 de Julho de 1933, organizou o primeiro cruzeiro ACP a Marrocos (Tânger e Casablanca) e Madeira, a bordo do Quanza (fretado à  Companhia Nacional de Navegação).

É interessante ligar turismo, crise económica dos anos 30 (que afetou duramente os colonos portugueses de Angola e Moçambique, com a quebra da procura de matérias-primas), companhias de navegação (CNN e CCN, em competição), colónias africanas (em disputa e em risco: os italianos e os alemães não viam com bons olhos os imensos territórios de Angola e Moçambique tão mal aproveitados, a par do Congo Belga...), sem esquecer o triunfo das teorias da supremacia racial, mas também a "incubação" do luso-tropicalismo de que o Marcello Caetano será um dos grandes arautos"...

Vd. Silva, Maria Cardeira da, et Sandra Oliveira. « Paquetes do Império ». Castelos a Bombordo, édité par Maria Cardeira da Silva, Etnográfica Press, 2013, https://doi.org/10.4000/books.etnograficapress.347.



segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27381: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte II: a nata do regime no cais da Fundição, à despedida

 








Fonte: (1935), "Diário de Lisboa", nº 4572, Ano 15, Sábado, 10 de Agosto de 1935, pp. 6-7 Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_28743 (2025-11-3)




1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte II


1. Foi um acontecimento social e político, a partida do N/M Moçambique  para o 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (sic). A notícia foi título de caixa alta nas páginas centrais (pp. 6/7) do "Diário de Lisboa" (e por certo nos restantes diários da capital).

Pela lista das figuras públicas acima identificadas, ninguém faltou à largada do paquete da Companha Nacional de Navegação (CNN), atracado no Cais da Fundição, desde o Cardeal Patriarca ao ministro das Colónias. Salazar, naturalmente, não compareceu. Saía pouco, até por razões de segurança 
Mas estava lá a nata do regime. Ministros e ministeriáveis.

O Cais da Fundição não existe mais.   Era um nome histórico para uma área do Porto de Lisboa, entre Santa Apolónia e o cais do Jardim do Tabaco, associado principalmente à CNN, desde os finais do séc. XIX / princípios do séc. XX.   Situava-se perto da zona de Santa Luzia. Funcionava como um cais de carga e descarga, especialmente para a CNN. Atualmente, a área é agora ocupada por outras infraestruturas portuárias, como o Terminal Multiusos do Beato ou o Terminal Multipurpose de Lisboa (TSA). 

Embora não haja nenhuma foto do jovem professor da Faculdade de Direito de Lisboa, Marcello Caetano, ele era uma das figuras VIP do evento, sendo  o "diretor cultural" do cruzeiro.  À despedida, não faltou o sogro, João de Barros (1881-1960), poeta, publicista, pedagogo, político republicano, figura respeitada da oposição democrática à Ditadura Militar e ao Estado Novo.

Estava planeado que o cruzeiro visitasse, em 56 dias, Cabo Verde, Guiné,  São Tomé e Angola (a visita mais demorada). No regresso devia passar ainda pela Ilha do Príncipe e  Ilha da Madeira.   
  
O Moçambique largou festivamente ao som da sua orquestra  privativa.  Provavelmente com grande relutância, Salazar teve pagar do seu bolso (quer dizer, do erário público) um subsídio de 150 contos para custear a viagem. 

(Continua)

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26847: Notas de leitura (1800): "Gil Eanes: o anjo do mar", de João David Batel Marques (Viana do Castelo: Fundação Gil Eanes, 2019, il, 131pp.) - Parte I: A história do navio-hospital da frota bacalhoeira (Luís Graça)


Gil Eanes, o anjo do mar
 = Gil Eanes, the angel of the sea / João David Batel Marques. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eanes, 2019. - 131, [1
] p. : il. ; 22 cm. - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-989-99869-7-8


Foto da capa: "Campanha de 1955. O Comandante Tenreiro visita o lugre 'Argus'. Da esquerda para a direita:  Imediato José  Luís Nunes de Oliveira (Codim), Comandante Henriqie Tenreiro, Capitão Adolfo Simóes Paião Júnior e Piloto Francisco Teles Paião" (pág. 132)

Estes e outros livros  (mais de 4 dezenas de livros e redordações: medalhas, catálogos,. gravuras, t-shirts,  etc.) relacionados com a pesca de bacalhau e a indústria naval podem ser comprados "on line" na loja virtual da Fundação Gil Eanes

Os produtos são enviados à cobrança pelos CTT e apenas em Portugal Continental. (Incluindo livros do Valdemar Aveiro, que tem 13 referências no nosso blogue; do João David Batel Marques; do António Trabulo, que foi médico no Gil Eanes; do Ângelo Silva, que foi enfermeiro; do investigador Senos da Fonseca, que é cunhado do capitão Jorge Picado; e outros).


O Navio-Hospital Gil Eanes (pág. 82)~

1. Nunca fui marinheiro nem pescador... Mas nasci à beira-mar. E o mar está no meu ADN, pelo lado paterno (o dos "Maçaricos", de Ribamar, Lourinhã).  Tenho uma grande admiração pelos nossos antepassados que foram "empurrados" para o mar para sobreviverem e garantirem a independência do seu pequeno rectângulo. Foi o mar que nos salvou e e foi o mar que nos perdeu... Hoje estamos de costas virados para ele... Mas isso é outra história...

Tivemos uma grande frota bacalhoeira. Tivemos uma grande frota da marinha mercante... Nunca tivemos uma grande frota de guerra, pelo menos nos últimos dois séculos... 

E tivemos o "navio-hospital" Gil Eanes,  que eu já visitei duas vezes (a última muito recentemente), desde que foi colocado, em 1998,  em exposição na antiga doca comercial de Viana do Castelo, transformado em espaço museológico. 

É um motivo de orgulho para os vianenses e para todos nós, que já fomos uma grande potência marítima, mas temos um défice de memória nesta (com noutras matérias, incluindo a da guerra colonial / guerra do ultramar, que se desenrolou a milhares de quilómetrros da nossa casa paterna).

O Gil Eanes é também motivo de orgulho para as gentes do alto Minho porque foi justamente construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. (Temos no blogue vários camaradas que trabalharam nos ENVC, a começar pelo Sousa de Castro,  o nosso  grão- tabanqueiro nº 2 (e que trouzxe com ele mais caamaradas de trabalho e da guerra da Guiné.)


O Gil Eanes iniciou a sua atividade como navio-hospital em 1955, apoiando durante décadas (até 1973), a frota bacalhoeira portuguesa que atuava nos bancos da Terra Nova e Gronelândia.  


Era um navio polivalente, tinha múltiplas funções, embora a principal fosse a assistência médico-hospitalar

  • estava equipado com bloco operatório;
  • inha enfermaria para 74 doentes;
  •  dispunha de 2 médicos e de um equipa de enfermagem permanente (pág. 47).


Do Gil Eanes diremos ainda que, para além da assistência médica,  exercia também outros tipos de assistência: 

  • religiosa (com capelão a bordo) (pág. 54);
  • afetiva (correio, comunicação por rádio/fonia entre as tripulações da frota e as famílias) (pág. 55);
  • material (transporte e fornecimento de isco,  de diversos aprestos e material de pesca, mantimentos, gasóleo, água doce, ferros, amarras, etc.) (pág.  56);
  • oficinal (reparação e manutenção de equipamentos) (pág. 57)...


Era também:

  • navio capitania (pág. 58);
  • navio quebra-gelos (pp. 58-64);
  • navio rebocador (pp. 65/67).

Desativada a frota bacalhoeira, o Gil Eanes ficou a apodrecer, criminosamente, nas docas de Lisboa, durante muitos anos. Até ser resgatado e devolvido â sua cidade... 


(,,,) Em 1998, a Fundação Gil Eanes (...) considerando-o património cultural e afetivo da cidade, resgatou-o da sucata por cerca de 250 mil euros, após uma inédita campanha que envolveu todos os estratos sociais vianenses.


Em 31 de Janeiro de 1998, foi recebido festivamente na Foz do Lima, onde, depois de limpo e restaurado, foi aberto ao público, assumindo-se como pólo de atratividade para Viana do Castelo.

A reconversão transformou-o num espaço museológico, integrando salas de exposição, sala de reuniões e loja de recordações." (...)


Mas isso é uma história para contar em próximo poste. 


Em 132 páginas, e profusamente ilistrado, este livro fala-nos  diretamente da epopeia do Gil Eanes que é também a da frota do bacalhau. Como se pode ler ma página da Fundação Gil Eanes, atual proprietária do navio:


(...) A história do Gil Eannes é, como a do Gonçalo da Ilustre Casa de Ramires, uma boa fatia da história de Portugal mas vista de Viana do Castelo.

Tudo começou com um povo de marinheiros que se habituou, desde que D. Dinis fez um tratado com o rei Inglaterra, a comer e a gostar de bacalhau. Ora, como o consumo crescia, houve um vianense que resolveu procurar noutras paragens o poiso do "fiel amigo". E, com a descoberta de Fagundes, que assim se chamava o ousado vianense, o "amigo" tornou a sua presença ainda mais "fiel" à nossa mesa. Mas os portugueses andavam agora ocupados com os açúcares, a Guerra da Restauração, o ouro e os diamantes, com as Índias, as Áfricas e os Brasis...

Quando isto falhou, passaram a vender vinho fino e madeira... E, se continuavam a comer bacalhau, era à "pérfida AIbion" que o compravam.

Até que, na reconstrução nacional por que em boa parte passou o fim do século XIX, surgiram capitalistas suficientemente empreendedores para armar navios destinados a pescar aquilo que se tomou um hábito alimentar insubstituível dos portugueses. O que também tornara o investimento por demais seguro: a mão de obra era barata e o consumo garantido.

Mas também as condições de trabalho eram péssimas (diríamos hoje desumanas). Pobres e mal alimentados, suportando um frio glacial a bordo dos lugres e dos dóris, os homens padeciam de doenças dos aparelhos digestivo e respiratório, furunculoses e reumatismo. 


Como a safra era de cinco meses, os homens, além da falta de carinho das famílias, suportavam a doença meses a fio. E, se sobrevinha uma apendicite ou um acidente cardio-vascular... Tantos lá ficaram no mar frio onde tinham ido grangear o sustento dos filhos! (...)

(Continua)



Para saber mais

Pagána do Facebook Navio-Hospital Gil Eanes


(Continua)
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Nota do editor:

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23580: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (126): Leitor brasileiro, Edson de Lima Lucas, identifica o navio inglês Narkunda, da P&O Lines, em foto de 29/9/1942 (presumivelmente "Foto Melo") , tirada ao largo do Porto Grande, Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde... Dois meses depois seria atacado e afundado pela aviação alemã, na campanha dos Aliados no Norte de África.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 29 de setembro de 1942 > Navio inglês, não é indicado o nome no verso... "Esteve em S. Vicente no dia 29 de setembro com diplomatas. [Eu] estava no hospital quando ele cá esteve". 

Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012), natural de Lourinhã, distrito de Lisboa,  ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre junho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania (. Este e outros batalhões foram entretanto integrados RI 23.).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem do nosso leitor Edson de Lima Lucas:

Data - segunda, 29/08/2022, 22:24  
Assunto - Identificação de navio

Olá,

Sou um entusiasta por navios e ao longo da vida adquiri uma boa experiência para identificá-los. Por isso estou dando uma ajuda no seu excelente site ...

Na publicação de quinta-feira, 20 de agosto de 2020, o navio de 3 chaminés em foto de 29/09/1942 (*),  trata-se do inglês Narkunda, da P&O Lines, construído em 1920. 

 Originalmente era de passageiros mas em 1940 foi adaptado como transporte de tropas e em 14/11/1942 foi torpedeado em Bougie, Norte da África.

Foto raríssima como transporte de tropas.

Espero que tenha gostado das explicações.

Edson de Lima Lucas
Rio de Janeiro/Brasil

2. Comentário do editor LG (**):

Edson, estou-lhe muito grato pelas suas explicações que vêm enriquecer a legenda da foto do navio de transporte de tropas inglês, Narkunda,  da P&O Lines, tirada ao largo do Porto Grande, Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde (então ainda colónia portuguesa). A data deve estar certa, 29/9/1942.  Presumimos que a fotografia seja da Foto Melo, a célebre casa de fotografia do Mindelo, de que os expedicionários eram grandes clientes.

Na realidade, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

O Nkarkunda será atacado e afundado dois meses depois, ao largo da cidade  portuária argelina de Bugia, no Mediterrâneo, motrrendo 31 tripulanets. Leio aqui no sítio The Old Peninsular & Oriental Steam Navigation Company > c. 1835-1972 > SS Narkunda > From the evacuation of Singapore to the North African landings

(...) "Narkunda, under the command of Captain L. Parfitt, D.S.C., was serving as an auxiliary transport during the Allied landings in French North Africa in November 1942. She disembarked her troops at Bougie and had turned about for home when, towards evening on the 14th, she was bombed and sunk some distance off Bougie. Thirty-one persons were killed. Captain Parfitt was among the survivors.

"Bombed and sunk by German aircraft off Bougie, Algeria, passing Cape Carbon (36°52’N-05°01’E). She had just landed troops for the North African campaign and was about to return to the UK when the attack came out of cloud cover and she was hit heavily on the port side and astern. 31 crew were killed. The survivors were picked up by the minesweeper HMS Cadmus and returned to Britain by P&O’s Stratheden and Orient Line’s Ormonde." Source: The P&O Heritage Archive. (...) 

Tradução Google Translate / LG:

(...) O Narkunda, sob o comando do capitão L. Parfitt, D.S.C., servia  como transporte auxiliar de tropas durante os desembarques aliados na costa do Norte da África Francesa,  em novembro de 1942. Desembarcou tropas em Bugia, Argélia, e estava de volta a casa quando, à noite do dia 14 ,  foi bombardeado e afundado a alguma distância de Bugia. Trinta e uma pessoas foram mortas. O Capitão Parfitt estava entre os sobreviventes.

"Bombardeado e afundado por aviões alemães ao largo de Bugia, Argélia, ao passar o  Cabo Carbon (36°52'N-05°01'E). Tinha acabado de desembarcar tropas no âmbito da campanha do Norte de África e estava prestes a regressar ao Reino Unido quando o ataque surgiu, sob o céu enevoada,   sendo fortemente atingido a bombordo e à ré. 31 tripulantes foram mortos. Os sobreviventes foram recuperados pelo caça-minas HMS Cadmus e trazidos para a  Grã-Bretanha pelo Stratheden da P&O e Ormonde da Orient Line ". Fonte: P&O Heritage Archive. (...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17390: Meu pai, meu velho, meu camarada (54): Navios, do álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre julho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania, juntamente com, entre outros militares, o fur mil e futuro cap SGE e escritor Manuel Ferreira (1917-1992), o autor de "Hora di Bai", de quem Leiria está a celebrar os 100 anos de nascimento

(**) Último poste da série > 17 de setembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22549: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (125): O nosso Blogue foi contactado por uma sobrinha-bisneta de Cunha Gomes, Régulo da Tabanca de Binhante (Teixeira Pinto) nos anos 70 (Jorge Picado)

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17721: Agenda cultural (580): Lourinhã, Ribamar, sábado, dia 2, às 17h00, inauguração da exposição do nosso amigo e camarada Estêvão Alexandre Henriques, "Navegar no passado"... O nosso próximo grã-tabanqueiro foi fur mil radiomontador, CCS/BCAÇ 1858 (Catió, 1965/67)

Cartaz do eventábadoo



Convite

Exposição “Navegar no Passado”


Sábado, dia 2 de setembro, pelas 17 horas, no Espaço Museológico “Olhar o Mar e a Terra” (Antiga Escola Primária), em Ribamar, Lourinhã, é inaugurada da Exposição “Navegar no Passado”.

O autor é o ex-fur mil mecânico radiomontador Estevão Alexandre Henriques, da CCS/ BCAÇ 1858, Catió, 1965/67.  É membro da Tabanca de Porto Dinheiro e, dentro em breve, da Tabanca Grande, para a qual está há muito convidado.

Conheceu, entre outros, em Catió, o João Bacar Jaló, ainda conviveu com os seus conterrâneos ex-alf mil capelão Horácio Fernandes (CCS/BART 1813, Catió, 1967/69), natural de Ribamar, Lourinhã;  ex-sold Pel Mort 942 , José António Canoa Nogueira (1942.1966), morto em combate no subsetor de Catió, natural da Lourinhã; ex-sold at cav, José Henriques Mateus (1944-1966), que pertenceu á CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), e que desapareceu em combate na cambança do rio Tompar, 

O Estêvão A. Henriques é um dos maiores colecionadores de bússolas e outros equipamentos náuticos (rádios, sonares. etc.).




Almada > Seminário de Almada > 19 de junho de 2012 > O Estêvão A. Henriques, de costas para o estuário do Tejo e a cidade de Lisboa. Foto de cronologia da sua página no Facebook.



Alguns dados biográficos:


(i) nasce em 1942 em Fonte Lima,  freguesia de Santa Bárbara, Lourinhã;

(ii) estuda nos Seminários de Santarém e Almada, donde sai para cursar eletricidade e eletrónica;

(iii)  é chamado para o serviço militar em 1964, e faz em Tavira  o CSM - Curso de Sargentos Milicianos;

(iv) no mesmo ano vai frequentar para a Escola de Sargentos, localizada em Paço d'Arcos, aí fazendo o curso de Radiomontador;

(v) em 1965 é mobilizado para a Guiné como furriel miliciano radiomontador da CCS - Companhia de Comando e Serviços do Batalhão de Caçadores 1858 (Catió, região de Tombali, 1965/67);

(vi) no regressso a casa em 1967,  é convidado a ingressar como Radiotécnico na firma Electrónica Naval - com sede em Peniche;

(vii)  estabelece-se como empresário em 1970, constituindo firma na Rua 13 de Infantaria, em Peniche;

(viii)  em 1973, transfere a empresa para a Rua José Estêvão, n.º 102, aí permanecendo até aos dias de hoje, com oficina de reparação e stand de vendas de equipamentos eletrónicos e eletricidade para barcos;

(ix) durante mais de 40 anos impulsionou, a nível nacional, diversas marcas no setor das pescas: (a) Sistemas: Loran Morrow / Omega Sergel / Omege Diferencial; (b) Sondas: MJC /Kelvin & Hughes; (c) Sonares: Wesmar; (d) Radares: Anritsu; (e) Rádio goniómetro: Ben-Tem. 

(x) ao longo de mais de quarenta anos de atividade, para além das vendas de equipamentos eletrónicos, fez centenas de instalações elétricas em traineiras e barcos de pesca do alto, bem como em embarcações de pequeno porte e recreio;

(xi)  nos anos 70 equipa o primeiro barco de pesca do alto, o "Trio de Ribamar" , com toda a eletrónica e instalação elétrica a 24V DC e geradores a 380VAC, para alimentação do inovador sistema de frio, sendo este um dos primeiros barcos a pescar fora das águas do território nacional;

(xii) ainda no âmbito da sua atividade profissional, visita feiras internacionais de inovação marítima, quer na área da pesca, quer na dos equipamentos eletrónicos e negocia em diversos países: Espanha, Marrocos, Senegal, Mauritânia, Guiné- Bissau,Angola e Moçambique;

(xiiii) a paixão pelas bússolas vem do tempo em que presta serviço militar na Guiné, onde adquire uma bússola de bolso, aquela que viria a ser a primeira da sua, atual, vasta coleção!... 

(xiv) divide o seu tempo entre a paixão pelas bússolas e a construção de pequenas réplicas de embarcações de pesca e caravelas. 

(xv)  já realizou, em Peniche, 3 exposições temáticas com espécimes das suas coleções: 2007, 2009 e 2013;

(xvi) vive no Seixal, Lourinhã, e é casado com a Maria Rosário Henriques.

sábado, 10 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (70): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II




"António Eugénio da Silva Levezinho nasce a 24 de Novembro de 1947, em Lisboa. Do pai, António Levezinho, herda o nome e a vontade de "vestir a camisola" pela Sacor. Seu pai era o funcionário número 27 da Sacor, onde entrou como electricista em 1954. É com orgulho que refere: "Já não fui o primeiro Levezinho a entrar para a Sacor, porque o meu pai é contemporâneo ao primeiro dia de existência da Sacor e contribuiu com as suas capacidades e competências para a construção da Refinaria de Lisboa." Com 5 anos apenas, ia já à refinaria onde o porteiro, impecavelmente bem vestido, perguntava: "Vem ver o paizinho?" Desde essa altura que entende esta empresa como uma segunda casa. É aqui que, em 1968, é abraçado pelo petróleo como escriturário aspirante. Na Sacor faz todo o seu percurso profissional, em Aprovisionamento e Exportação, até chegar a director-adjunto, em 1990." 

(Fonte: Vidas Galp Museu Virtual > Família > {1967] Anrtónio Levezinho, com a devida vénia. Segundo o Tony Levezinho, o pai começou por trabalhar, em 1940, numa das empresas que estava a construir a refinaria da Sacor. E entrou a seguir para a Sacor. Quando se reformou já era o funcionário nº 1 e não o 27).


1. Mensagem do Tony Levezinho, ex-fur mil at inf, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71):

 Olá,  Luis

Tal como o prometido, aqui segue um pequeno texto, o qual, tanto quanto a memória me permite, tenta corresponder ao teu desafio (*)

Sabes que,  em "open space",  não me é particularmente grato falar na 1ª pessoa. Contudo, acho que neste caso, tinha que ser mesmo assim.

Agradecimentos, entre amigos são dispensáveis. No entanto, quero que saibas do meu reconhecimento pela tua referência ao meu pai, a qual, sei que é genuína.

Um grande Abraço e um Beijinho para a Alice.

Tony

P.S. - Na Net encontras um site,  Galp Vidas -Museu Virtual. Já na primeira década de 2000 (talvez 2005/6) fui convidado pela Galp para participar, no contexto da minha área (Aprovisionamento e Exportação). Se tiveres algum interesse...


2. A OPERAÇÃO “BACALHAU COM TODOS” 

por Tony Levezinho


O Bacalhau, mais do que um produto gastronómico comum à mesa portuguesa é, sem dúvida, uma herança cultural de gerações.

Fazendo honras, como nunca, ao seu título de “Fiel Amigo”,  foi companheiro de muitos de nós com a frequência possível, mas sempre com a virtude de confortar o estômago e de mitigar quer as saudades que sentíamos das nossas famílias, quer as vicissitudes e incertezas do nosso dia-a-dia.

Concretamente, acerca do Contrabando de Ternura, tal como o meu querido amigo Luis Graça lhe chama, aqui vão os contornos principais do esquema que fazia funcionar esta “rede de contrabando”, a operar a partir do Continente, sempre com o objetivo de nos fazer sentir um pouco mais próximos dos nossos locais de origem, de onde (ainda hoje não percebo bem porquê) nos tiraram.

Na empresa onde trabalhei, a Sacor (depois de abril,  integrou a Petrogal, que hoje pertence ao grupo Gal),  tive a sorte de ter um colega que por acaso também se chamava António Levezinho, pessoa muito estimada naquela organização, na altura, um dos poucos ainda no ativo, desde a sua fundação [. Chegaria a ser o nº 1, na altura em que se reformou.]

Acresce que este colega era o meu pai. Assim se justifica (ainda mais) a sua iniciativa de usar as boas relações que tinha com todos os setores da companhia para, junto da Sacor Marítima, empresa armadora do grupo (existe ainda hoje com a mesma designação) assegurar que os pacotes com o “precioso miminho” chegavam ao Parque de Armazenagem de Combustíveis de Bandim, em Bissau.
Para o efeito, os navios envolvidos neste tráfego eram o  “SACOR”, o “ROCAS”, o “CIDLA” ou o “BANDIM”, aqui apresentados, pela mesma ordem:







Chegada a mercadoria à Guiné, era então a vez de entrar em ação o chefe do parque da Sacor, o senhor Daniel Brazão, com quem ainda viria a trabalhar em Lisboa, após o meu regresso. Este cúmplice providenciava no sentido de que as encomendas com o "fiel amigo" fossem entregues na Casa Fialho, casa comercial à boa maneira colonial e com grande implantação no território, a qual, a partir da sua casa-mãe em Bissau, se encarregava de as fazer seguir até à sucursal de Bafatá, onde eu próprio ou alguém a meu pedido as recolhia, logo que possível.


O porquê do envolvimento da Casa Fialho nesta “liga de boas vontades”? [Não tenho a certeza se a foto à esquerda à da Casa Fialho ou da Casa Pintozinho em Bissau... Foi o TOny que ma mandou, sem legenda. LG]

Simplesmente porque o seu dono, o senhor Sérgio Fialho, era o líder de uma família abastada de uma aldeia chamada Sobrena, no concelho do Cadaval, onde uma tia minha (irmã do meu pai) vivia, por se ter casado com um natural daquela localidade.

Depois desta confidência sobre os detalhes de como funcionava, no terreno, a operação “Bacalhau Com Todos”, dou comigo a pensar se não será excessiva a fidelidade que atribuímos ao Bacalhau, a ponto de o tratarmos como o “Fiel Amigo”.

Da minha parte, garanto, a fidelidade é absoluta para com o Bacalhau, qualquer que seja a maneira como ele se apresente no prato.

Um Abraço Amigo

Tony Levezinho
(CCaç.12 - Bambadinca, 1969/71)

08/jun./2017

[Imagens enviadas pelo Tony Levezinho]



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma >  Destacamento da CCAÇ 12 > 1970 > 2º Grupo de Combate >  Era um ponto estratégico esta ponte. Dormíamos em buracos. De dia, davam-se ums mergilhos, apanhava-se peixe à linha ou à granada, fazíamos uns petiscos...mesmo sem cozinha. O almoço e a janta vinham de Bambadinca. O Tony Levezinho deve ter comido aqui, com o seu pessoal, uns postinhas de bacalhau assado na brasa.

Na foto, o Tony e o Humberto estão sentados na manjedoura... Era ali, protegidos da canícula, que tomavámos em conjunto as nossas refeições, escrevíamos as nossas cartas e aerogramas, jogávamos à lerpa, bebíamos um copo, matávamos o tédio...O dia acabava cedo, mal o sol de punha. O Tony, à esquerda, segura  uma granada de LGFog, calibre 3.7. Também à esquerda, de pé, em segundo plano o saudoso 1º cabo José Marques Alves (1947-2013).


Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



3. Comentário do editor LG:

Tony, obrigado!... Tenho mesmo que te agradecer em nome da Tabanca Grande. Seria uma pena que esta história ficasse só no baú da memória... e acabasse por se perder!

Por outro lado, ninguém vai ter lata de pôr em causa ou contestar o esquema que o pai Levezinho arranjou para te fazer chegar o "fiel amigo"... Na realidade, este esquema é centenário e tipicamente português...Um amigo faz sempre um jeitinho a um amigo, e para mais quando a causa era "nobre".. 

Bolas, estávamos em guerra, e longe de casa, e o teu velho devia ter uma coração de manteiga... Daí me ter ocorrido a expressão "contrabando de ternura"... O que ele organizou foi apenas uma rede de suporte social informal que funcionou às mil maravilhas, com 5 mil quilómetros de comprimento, Bafatá, Bambadinca)... E repara: nem tu nem o teu pai lesaram ninguém, muito menos a companhia... A "encomendinha" chegava sempre a bom porto, graças a um série de boas vontades... Um esquema bonito, perfeito, bem português... (E que eu saiba, nunca  houve reclamações: o teu/nosso "fiel amigo" não se perdia nas águas do Geba, como o da Intendência...).

Agora diz-me outra coisa: sempre tiveste jeito para a cozinha e acho que davas um grande "chef" se te metesses por aí... Em Bambadinca chegaste a meter o bedelho na cozinha das  messes ? [A cozinha era comum à messe de oficiais e à messe de sargentos]. Quem fazia os petiscos ?

Continuo a gostar de bacalhau de todas as maneiras e feitios... Ontem a Alice fez um belo bacalhau, receita meio nortenha, metade dela,   para uns alemãos de Münster... e eu contei-lhes a história do "Maria da Glória", miseravelmente afundado pelo U-94...do 1º tenente Otto Ites, em 5/6/1942... Adoraram o bacalhau... E sobre o nazismo têm um discurso inatacável: os alemães eram todos nazis, filhos, pais, avós, até ao Hitler... Um sistema totalitário a que a judia alemã Hanna Arendt  (1906-1975) chamou o "mal absoluto"... Em conversa, entre brancos, tinta  e uma aguardente velha para acabar em beleza, concluímos que o filho da mãe do Salazar até foi um ditador "ligh"... Terá sido ?

Eu discordo: afinal, cada povo tem afinal o ditador que merece... O nosso, por exemplo, não queria que os portugueses soubessem que os "nossos amigos alemães" eram capazes de fazer tiro ao alvo contra os nossos valentes pescadores e marinheiros que, no meio da maior batalha marítima de todos os tempos, se esgueiravam até à Terra Nova e à Gronelândia para pescar o "fiel amigo".

Um xicoração, Luís


4. Resposta do Tony Levezinho, com data de 8 do corrente:

Luis
Confirmo o gosto pela cozinha que ainda hoje exercito com prazer, mas em Bambadinca não me lembro de ter entrado na cozinha de qualquer das messes.
Curiosamente, lembro-me de preparar alguns petiscos, mas não recordo em que circunstâncias.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17390: Meu pai, meu velho, meu camarada (54): Navios, do álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre julho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania, juntamente com, entre outros militares, o fur mil e futuro cap SGE e escritor Manuel Ferreira (1917-1992), o autor de "Hora di Bai", de quem Leiria está a celebrar os 100 anos de nascimento


Foto nº 1



Foto nº 1A >  > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 23 de julho de 19141 > Chegada do 1º batalhão expedicionário do RI 5 (Caldas da Rainha)...  "Na foto [, do batelão que nos levou para terra,] estou eu com mais alguns camaradas da minha companhia. No porto do Mindelo [fotos nº 2 e 3 ] fomos entusiasticamente recebidos"]. Luís Henriques está assinalado com um rectângulo a amarelo.

Os portugueses desconhecem ou subestimam o enorme esforço militar que o país fez, na época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos territórios ultrmarinos. Cerca de 180 mil homens foram mobilizados nessa época. Em Cabo Verde chegou a temer-se a invasão dos alemães, dado o valor estratégico do arquipélago, à semelhança do arquipélago dos Açores, cobiçado pelos aliados.  Quantas vezes me falava disso, o meu pai, o meu velho, o meu camarada... No Mindelo, tal como em Lisboa, havia espiões de um lado e do outro,  alemães, italianos, ingleses, portugueses... E terá sido nesta época de fome, de guerra e de desgraça que se começou a desenvolver o nacionalismo cabo-verdiano que estará na origem do futuro PAIGC, fundado e liderado por Amílcar Cabral.



Foto nº 2 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Outubro de 1941 > "O belo porto de mar de São Vicente; ao centro o ilhéu que se confunde com um barco [, o ilhéu dos Pássaros]",



Foto nº 3 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Maio de 1943 >  "A cidade do Mindelo e ao fundo o Monte Verde. Vê-se parte da baía da Galé". [A cidade na altura deveria ter 15 mil habitantes. O nº de expedicionários desembarcados em meados de 1941 chegou aos 3300,o que dava um rácio de 220:1000 (220 militares por mil habitantes)


Forto nº 4 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  O navio da marinha mercante "Serpa Pinto. Não há legenda no verso. Possivelmente Foto Melo. [Para mostrar aos beligerantes da II Guerra Mundial, que pertencia a um país neutral, o navio era pintado de negro, o caso, e com o nome de Portugal, bem visível, pintado a branco,  tal o nome do navio. Toda as as tripulações da nossa marinha mercante, bem como da nossa frota bacalhoeira,  sem esquecer a marinha de guerra, foram verdadeiros heróis, naquela época. E não poucos, bravos marinheiros e pescadores, perderam a vida, engrossando a lista de vítimas da nossa história trágico-marítima.

Embora com pavilhão de um país neutral, os nossos navios eram frequentemente intercetados tanto pelos Aliados como pelas potências do Eixo (e em especial pelos alemães, cujos submarinos "infestavam" o Atlântico...) e alguns foram atacados e afundados. Por exemplo, o  barco de pesca "Exportador primeiro" foi cobardemente atacado a tiro de canhão por um submarino italiano. a sul do Cabo de São Vicente, em 1/6/1941....Ou o navio de carga  e passageiros, da CCN, o "Ganda" afundado, "por engano", por um submarino alemão, ao largo da costa de Marrocos, em 22/6/1941... Estes são apenas 2 dos 11 navios, de pavilhão português,  afundados durante a II Guerra Mundial. 


Foi uma das glórias da nossa marinha mercante e a sua história (1914-1954) merece ser conhecida:

(...) "O N/T Serpa Pinto foi um navio de passageiros que foi operado pela Companhia Colonial de Navegação na Carreira da América do Norte (Lisboa–Nova Iorque), na "Rota do Ouro e Prata" (Lisboa–Rio de Janeiro–Buenos Aires) e na "Rota das Caraíbas" (Lisboa–Havana), entre 1940 e 1955.

"Foi o navio de passageiros que, durante a Segunda Guerra Mundial mais viagens transatlânticas realizou entre Lisboa, Nova Iorque e Rio de Janeiro, transportando refugiados da guerra em geral, e particularmente judeus em fuga do nazismo, trazendo de volta à Europa, cidadãos de origem germânica expulsos dos países americanos. Adquiriu assim popularidade, ficando conhecido pelos epítetos de 'Navio da Amizade', 'Navio Herói' e 'Navio do Destino' "  (,,,)
 

Fonte: Wikipédia


Foto nº 5 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  Março de 1942 > "A escola Sagres em São Vicente durante o seu cruzeiro  no Atlântico"

[Atenção: este não é o navio-escola Sagres atual... Este é o antigo veleiro, de 3 mastros, Rickmer Rickmers, ao serviço da Marinha Portugues, como navio-escola Sagres, entre 1927 e 1962...Também conhecido por Sagres II. Foi substituído, em 1962, como navio-escola da Marinha Portuguesa, pelo Sagres III (antigo NE Guanabara da Marinha do Brasil). ]


Foto nº 6 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  29 de setembro de 1942 (?) > Navio inglês, não é indicado o nome no verso... "Esteve em S. Vicente no dia 29 de setembro com diplomatas. [Eu] estava no hospital quando ele cá esteve".



Foto nº 7 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > " No dia 11 de Abril [de 1942] chegaram estes dois barcos hospitais italianos ao porto de S. Vicente para irem fazer troca de prisioneiros e doentes com os ingleses. 1942"



Foto nº 8 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "No dia 23 de dezembro [de 1942] 
os barcos hospitais italianos Vulcania e Saturnia em São Vicente  pela 2ª vez",

Durante a II Guerra Mundial, a Itália viu afundar-se 12 dos 18 navios-hospitais.  Na realidade, estes dois não eram navios hospitais mas 4 dos navios transatlânticos  (incluindo o Duilio e o Giulio Cesare que, com mais 2 petroleiros, Arcole e Taigete, conseguiram, numa operação cohecida, resgatar e repatriar cerca de 28 mil pessoas, entre crianças, mulheres e homens, da África Oriental, sob a égide da Cruz Vermelha Internacional em três viagens de circumnavegação do continente africamo, entre 2 de abril de 1942 e agosto de 1943. O Duilio e o Guilo Cesare serão afundados no bombardeamento aéreo dos Aliados na baía de Muggia em julho de 1944, Num total de 25 mil tripulantes inscritos, a Marinha Mercante italianam na II Guerra Mundial, perdeu cerca de 1/3 (7164).



Foto nº  9 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  Navio hospital italano "Duilio" [No verso, pode ler-se a legenda, muito sumida: "Hospital de diplomatas (sic) italiano que esteve em São Vicente em 1/6/194 (?). Foto Melo"...

[Segundo a imaginação, algo delirante, dos nossos  expedicionários, 3300 acantonados num apequena ilha de 15 mil habitantes, os passageiros, que não terão desembarcado, travavam uma luta atroz contra a falta de álcool a bordo... Constava-se que, à falta de bebibas no bar, bebiam álcool puro!...Recordo-me do meu pai contar esta história... O navio de passageiros "Duilio" tinha 23 636 toneladas, foi afundado em julho de 1944]



Foto nº 10 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Junho de 1942 > "Paquete Colonial que tantas as vezes esteve em S. Vicente". Possivelmente Foto Melo.




Foto nº 11 >   Ilha da Madeira >  Funchal > s/d > "O Paquete Mouzinho. Oferecido pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] José B[oaventura]  Lourenço [Horta]  no dia em que o fui visitar ao Hospital em São Vicente. 26 de Julho de 1942." É provável que o José Boaventura Horta tivesse adquirido a foto a bordo. E, se não erro, o amigo do meu pai, meu conterrâneo e meu vizinho (no tempo em que vivi na Lourinhã, menino e moço) era da arma de artilharia (6ª Bateria Antiaérea do Grupo de Artilharia Contra Aeronaves).

[O "Colonial" e o "Mouzinho" eram paquetes gémeos, adquiridos pela Companhia Colonial de Navegação (CCN) no final da década de 1920. Faziam a carreira de África.  Foi no T/T "Mouzinho que o 1º cabo inf Luís Henriques e outros expedicionários do RI 5, das Caldas da Rainha, rumaram para Cabo Verde, em julho de 1941]




Foto nº 12 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Novenmbro  de 1941. "(Ao fundo, navio italiano)  Para as refeições [ilegível] nos juntávamos todos os 30 [do pelotão]". [Ao lado esquerdo, um grupo de miúdos, à espera dos restos...]


Fotos (e legendas): © Luís Henriques (1920-2014) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




1. Fotos do álbum de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre junho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania;  este e outros batalhões foram entretanto integrados RI 23].


[Foto `*a esquerda, Luís Henriques > 19 de agosto de 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques ".]


Estas e outras foram gentilmente cedidas ao prof João B. Serra, da Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha /Instituto Politécnico de Leiria, a quem a Câmara Municipal de Leiria incumbiu de  organizar  uma exposição comemorativa do 1º centenário do escritor Manuel Ferreira (1917-1992), que também foi expedicionário em São Vicente, neste período, com o posto de furriel miliciano, mais tarde cap SGE e professor universitário.  O autor de "Hora di Bai" (1958) era natural da Gândara dos Olivais, Leiria, onde tenho amigos e familiares que o conheceram em vida.  Morreu em Linda a Velha, Oeiras. Era casado com uma mindelense.

Recorde-se aqui, também mais uma vez, o excelente trabalho do nosso colaborador permanente José Martins (com raízes familiares em Leiria) sobre o nosso  dispositivo militar em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial (**).

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17064: Meu pai, meu velho, meu camarada (53): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte V: Restos de espólio: o orgulho de ter pertencido ao Onze... E mais duas fotos de Pedra de Lume

(**) Vd. poste de 20 de agosto de  2012 > Guiné 63/74 - P10282: Meu pai, meu velho, meu camarada (30): Dispositivo militar metropolitano em Cabo Verde (Ilhas de São Vicente, Santo Antão e Sal) durante a II Grande Guerra (José Martins)