Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 10 de outubro de 2020
Guiné 61/74 - P21438: Os nossos seres, saberes e lazeres (415): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (10) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Vir a Viana e não visitar Santa Luzia é como ir a Roma e não ver o Papa. Os comentários sobre o templo gigantesco que o arquiteto Ventura Terra traçou naquele monte sacro que permite uma das mais deslumbrantes panorâmicas que a Natureza permite, nem sempre são lisonjeiros, e aqui se cita José Hermano Saraiva que acha que lhe falta alma. Daqui a um século falamos. Também se disse cobras e lagartos do neomanuelino e do neogótico e veja-se como o Palácio da Pena e a Quinta da Regaleira se transformaram em poderosíssimas atrações turísticas. O tempo urge, toma-se novamente o funicular, depois da lavagem de alma que aquela vista purificada propiciou, e desce-se, sem perda de tempo, para desfrutar o património da Misericórdia de Viana do Castelo, não há que enganar, a igreja, a sua riqueza azulejar, a decoração do teto, a aparato das talhas, as pinturas, o esplendor do órgão, é uma unidade que dá pelo termo da magnificência do Barroco, é incomparável, a sua visita é obrigatória. E depois aproveita-se o remanescente da luz do dia para ir à Viana moderna, a última etapa neste lugar onde a Ribeira Lima entra no Atlântico.
Um abraço do
Mário
No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (10)
Mário Beja Santos
José Hermano Saraiva, no primeiro volume de O Tempo e a Alma, Círculo de Leitores, 1986, depois de se ter debruçado sobre os monumentos notáveis de Viana e antes de anotar o que era a Viana moderna, fala do Monte de Santa Luzia, dizendo o seguinte: “Ali, o mais notável é o miradouro, vista emocionante. Foi a vista que atraiu o santuário, o hotel, o elevador. O tema é inevitável perante estes monumentos modernos: gosta, não gosta, e a negativa é a resposta mais fácil. O projeto do santuário é do arquitecto Ventura Terra, e as obras foram realizadas entre 1890 e 1930, embora depois disso se tivesse ainda trabalhado muito. Anteriormente, tudo o que havia era uma capela, onde se chegava por uma tortuosa vereda entre mato cerrado. O arquitecto planeou conforme o gosto do seu tempo: uma igreja que combina elementos tradicionais numa mescla revivalista a que se chamava estilo românico-bizantino. As dimensões são impressionantes para a parcimónia portuguesa; as cúpulas e as rosáceas aspiram deliberadamente à escala monumental, mas o conjunto parece mais um grande jazigo do que uma alegre casa de Deus. Algo falta. Os arquitectos medievais dispunham de um ingrediente essencial para conferir autenticidade e emoção aos edifícios que planeavam: um forte sentimento religioso. A régua de cálculo não tem esse valor, e não sei se o computador o sabe encontrar. Em todo o caso, a importância relativa da basílica revela que Viana não parou e que não se envergonha da contemporaneidade”. É um texto um tanto agridoce, uma no cravo, outra na ferradura. Viajar no funicular é entusiasmante, com aquele cruzamento com a composição que desce, é também assim com os ascensores de Lisboa. Trepam-se os degraus e aguarda-nos um dos cenários mais desafogados com que a Natureza nos privilegiou.
Santa Luzia e o funicular fazem parte da proposta das visitas obrigatórias em Viana. O monumento dá pelo nome de Templo do Sagrado Coração de Jesus. Quem subir ao zimbório tem à sua disposição uma paisagem incomparável. No seu exterior podem ver-se várias peças graníticas da primitiva capela, pedras de um arco de 1694; capitéis e instrumentos usados na construção. Ninguém deve fugir à viagem pelo funicular, mesmo que se possa ir de carro facilmente. É a mais longa viagem de todos os funiculares do país, com os seus 650 metros. Quem já teve oportunidade de em Paris visitar o Sacré-Coeur, de onde aliás se tem uma vista soberba sobre a cidade, encontra similitude com este gigantismo, e até nas afinidades decorativas. Dizer-lhe que falta alma, como acima observou José Hermano Saraiva, é um tanto excessivo, é uma outra abordagem da espiritualidade, basta olhar atentamente para a pintura da cúpula e lembrar o que Almada Negreiros, numa dimensão mais modernista, deixou na Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa.
De seguida, apresento uma sucessão de imagens captadas neste miradouro de Viana e no seu monte sagrado. Não há nada que se compare em panoramas de mar, de campo e cidade, de rio e de montanhas. Carlos Ferreira de Almeida, no seu livro sobre o Alto Minho, escreve: “Lá muito em baixo vêem-se os telhados cúbicos da cidade, as docas e o mar azul, contornando de espuma a praia longa. Lá no fundo há um rio adormecido entre veigas e ínsuas, e, ao lado, o anfiteatro das montanhas com os seus aldeamentos. Daqui podemos mirar grande parte das freguesias que o concelho de Viana tem”. Tempo houvesse, e metia-me ao caminho, para vasculhar estes arrabaldes de Viana: visitar Areosa e Carreço, e depois Afife, gostava de ver o antigo casino remodelado, e nunca fiquei indiferente aos aspetos agrestes da Serra d’Arga. Duvido ter condições quando se fizer o trajeto de Viana para Ponte de Lima poder parar nas freguesias, já não haverá com certeza luz do dia, quantas vezes, a ler a Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo o Aurora do Lima se falava em Cardielos, Lanheses, São Romão de Neiva, que deu aso a que ele me explicasse o trabalho dos sargaceiros, do mesmo modo como ele me contava o que há de empolgante no Auto da Floripes. O que não se vê hoje, ficará para a próxima.
É a meditar nos trajes à vianesa, no ouro disposto nas ourivesarias, na magnificências das perspetivas que Santa Luzia oferece que regresso à cidade, saio do funicular e embrenho-me nas ruas até à Praça da República, vou visitar a Misericórdia e o seu conceituado anexo, uma igreja que é monumento nacional, uma Misericórdia, cuja confraria apareceu em 1520 e que nos legou um património fabuloso e que contrasta, pela exuberância, com a severidade da fachada tardo-medieval dos velhos Paços do Concelho.
(continua)
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Notas do editor
Vd poste de 3 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21412: Os nossos seres, saberes e lazeres (413): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (9) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21424: Os nossos seres, saberes e lazeres (414): Adão Cruz expõe as suas pinturas na Taberna do Doutor - Rua da Firmeza, Porto
Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (133): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)
A instalação do dispositivo foi concretizada seguindo os habituais ensinamentos assimilados na instrução prática e teórica do CIOE [, Centro de Instrução de Operações Especiais]. partindo de um ponto de referência seguro e obrigatoriamente de fácil identificação no terreno, para melhor permitir, em dias futuros, também de modo perfeitamente seguro, o posterior efeito de levantamento.
A selecção de um ponto de referência único e inequívoco, e o desenho de um preciso e claro croqui, foi sempre a minha principal preocupação, pois podia dar-se o facto de não ser eu, quando necessário fazê-lo, a efectuar a sua desinstalação ou levantamento, com queiram chamar-lhe.
A instalação do campo em apreço, decorreu normalmente, mina a mina, calculando e preservando sempre o perigoso risco que representava o cumprimento rigoroso de uma missão destas.
Este sistema havia sido montado aquando da nossa chegada a Susana, em fins de 1972, e teve que ser levantado antes da nossa retirada em Setembro de 1974.
Penso que não era preciso dizer aqui que, se a montagem foi, de algum modo, facilmente implantado no terreno, já não posso dizer o mesmo quanto ao acto de levantamento.
Quem sabe e/ou viu os efeitos físicos e psíquicos, num ser humano, do rebentamento de uma mina anti-pessoal, sabe do que eu falo.
Assim, lá parti para o terreno ciente que não podia errar, pois o lema que aprendera em Lamego com o monitor de Minas e Armadilhas, dizia que, com os explosivos deste género, só se podiam falhar 3 vezes: a primeira, a única e a última!
Tomadas todas as precauções e apesar da adrenalina e dos suores frios que nos causavam estes “trabalhinhos”, tudo correu bem felizmente.
Na última foto [, nº 7] podem ver um buraco com as ossadas de um pequeno animal, que morrera ao fazer detonar umas das minas.
"Melhor que uma excelente picagem, e tínhamos homens altamente especializados nessa matéria, era ter um detector de minas (metais)" [Foto nº 1]
"Rapidamente começamos a decobrir (eu, o fur Mil Ferreira, o sold "Castiço" e o Mulata) a primeira das piores e mais traiçoeiras assassinas da guerra" [, Foto nº 2].
"Dá-me aí uma faca se faz favor" [Foto nº 3]
"Aqui está a gaja" [Foto nº 4]
"Com cuidado... muito cuidado! ]Foto nº 5]
"Aqui está ela fora da terra, vou retirar-lhe a espoleta e pronto, já não fará mal a ninguém" [Foto nº 6]
"Esta não preciso levantá-la. Só um buraco e uns ossitos, como último sinal de que aqui acontecera uma morte." [Foto nº 7]
(i) mobilizado pelo RAL 5, Penafiel;
(ii) divisa: " Por uma Guiné Melhor":(iii) comandante: ten cor art João Corte-Real de Araújo Pereira;
(v) receber a IAO . Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, em Bolama;
(v) guarneceu os seguintes aquartelamentos e destacamentos: Ingoré, São Domingos, Susana, Sedengal, Varela, Antotinha, Apilho, Gendem, Barro, Bigene, e Ganturé;
(vi) a 1ª companhia esteve em São Domingos; a 2ª em Susana e Varela; a 3ª em Ingoré e Sedengal; a CCS, em Ingoré e Antonina;
(viii) coube-lhes já na retração, a desativação e entrega de diversos aquartelamentos e destacamentos ao PAIGC;
(ix) regressaram para Bissau, de onde embarcaram a 30 de agosto e 3 de setembro de 1974
(*) Vd. poste de 9 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21435: Fotos à procura de... uma legenda (126): O sapador só se engana três vezes: a primeira, a única e a última (António J. Pereira da Costa)
(**) Vd. poste de 20 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7480: Estórias avulsas (46): Desminagem entre S. Domingos e Susana (António Inverno)
Guiné 61/74 - P21436: Parabéns a você (1878): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 9 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21432: Parabéns a você (1877): José Carmino Azevedo, ex-Soldado CAR do BCAV 2868 (Guiné, 1969/71) e Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414 (Guiné e Cabo Verde, 1963/65)
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
Guiné 61/74 - P21435: Fotos à procura de... uma legenda (132): O sapador só se engana três vezes: a primeira, a única e a última (António J. Pereira da Costa)
O método da "pica" passou a ser o único que funcionava quer fossem minas A/P ou A/C e era necessário que não se fizesse muita força ao carregar no solo. Ouvia-se também um som cavo e o terreno era "mais dura" uma vez que não permitia a penetração da ponta da pica.
Chamo a atenção para a utilização de uma pá [4] para afastar a terra à volta da mina. É um erro técnico uma vez que algumas (todas as) minas [1] era armadilháveis e funcionariam logo que removidas - lembro o caso do Cap Guimarães (CArt 1690)- e podiam matar quem estivesse próximo.
Por fim, lembro que as minas A/C de madeira também podiam ser postas a funcionar como A/P, com umas pequenas alterações que qualquer sapador conhece.
As mangas bem arregaçadas destinam-se a sentir um eventual arame de tropeçar que o "insidioso" ali tenha colocado.
A posição do sapador tem de ser estável para que, inadvertidamente, não se desequilibre e faça um movimento errado para com a própria mina ou nas suas proximidades que também podem estar armadilhadas. Agachado, nunca! Magoou-se assim um M/A na CArt 1692.
Aconselha-se a trabalhar apoiado no quadrilátero definido pelos pés e joelhos.
O sapador só se engana 3 vezes: a primeira, a única e a última.
Claro que estamos a falar do início da guerra em que a malha das unidades era pouco densa e a nossa experiência no assunto não era grande. Estávamos a aprender por dedução e experiência e isso é sempre um período muito doloroso.
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(*) Vd. poste de 7 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21426: Notas de leitura (1309): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte IV (Luís Graça): as primeiras minas e fornilhos A/C
Guiné 61/74 - P21434: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (22): A funda que arremessa para o fundo da memória
Queridos amigos,
Paulo Guilherme vai arrumando as suas memórias da Guiné, tem ainda fotografias, foi recolhendo ao longo dos anos correspondência avulsa, metodicamente envia a Annette episódios que ele classifica como mais relevantes, mês a mês, estamos em janeiro de 1969. Aqui e acolá, manda a efabulação dos acontecimentos, surgem lacunas, é o caso do Natal de Missirá de 1968, marcou-o profundamente aquela festa, irrepetível pelo que ele conseguiu arregimentar de ajudas, ninguém se negou enviar-lhe as vitualhas da Consoada, houve cabrito para a população, pão fresco, arroz feito à moda portuguesa, com base em cebola frita, alho e calda de tomate, um regalo. Mas Paulo quis contar pessoalmente a Annette as alegrias daqueles momentos, perdeu-se esse episódio o que ganhou a comunicação destes cinquentões arrulhados. O que é mais surpreendente é como Annette vai gravando na sua própria pele o passado remoto do seu amoroso, ela própria estuda a História de Portugal, vive eufórica à espera da chegada de Paulo, nunca o presente foi tão intenso à custa da descoberta de um passado, para ela totalmente improvável, um ano antes. Assim se vai fundamentando o milagre da Rua do Eclipse, para aqui converge uma clamorosa paixão, aqui aportam documentos de uma guerra que ocorreu num pequeno ponto da chamada Alta Guiné, aqui se configura e molda o futuro promissor de dois amantes que aproveitaram um acaso para ressuscitar as suas vidas.
Um abraço do
Mário
Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (22): A funda que arremessa para o fundo da memória
Mário Beja Santos
Mon amoureux, Estou felicíssima porque tu chegas dentro de dois dias, felizmente que as minhas reuniões fora de Bruxelas coincidem com a tua vinda, terei reuniões em Lille, amanhã, e em Eindhoven logo a seguir, sigo diretamente de Lille para lá, a reunião acaba por volta das quatro horas, estarei em Zavantem à hora que indicas. Entretanto, vou conhecendo pormenores da tua família, quanto adorei a história da tua mãe, o falecimento da tua avó de sangue com bilharziose dois meses depois da tua mãe nascer, o teu avô entregou a sua custódia aos padrinhos de batismo. Tocou-me muito aquele pormenor de ele abrir um lenço e mostrar umas jóias que eram da tua avó Amália, seria um agradecimento, havia ainda outras duas filhas para que era preciso descobrir acolhimento e a tua nova avó respondeu-lhe: “Compadre, a partir de hoje a Gigi é nossa filha, a filha que eu não pude gerar e que vai ser a candeia dos meus olhos. Reparta essas jóias por quem vai receber a Fernanda e a Lídia, a Gigi terá a seu tempo todas as joias que os novos pais lhe puderem oferecer”. Mandaste muito mais fotografias da tua mãe, tu não sabes se estas imagens foram tiradas em Malanje, N’dalatando (Vila Salazar) ou mesmo Lucala, de que tu guardas uma bandeira em seda, datada de 13 de março de 1913 e referente à constituição da Coletividade Recreativa e Musical de Lucala, vi a fotografia, que pormenor de trabalhos na seda! Vi com a lupa que a primeira imagem é referente ao Natal de 1916, tem a tua mãe dois anos, sorridente, com um ar maroto abraçada pela sua nova mãe, por detrás da Dona Ângela, visivelmente mais velho, o Sr. Costa. Meu Deus, como era possível aquelas roupagens em clima tropical húmido! A segunda fotografia, tu não vais acreditar, pareceu-me um cenário de estúdio, como sabes melhor do que eu, os fotógrafos concebiam arranjos de estúdio espantosos com carros e aviões, cadeiras estofadas, imitações de fachadas de casas, mas estive a ver ao pormenor, acredito que a imagem foi tirada com paisagem natural, abraça a tua mãe a Tia Lucília, a irmã da tua Avó Ângela, que ternura, como a força do amor pode superar a voz do sangue. Obrigado pela lembrança, meu adorado Paulo, indo a este passado, e sabendo como tu respeitas tanto, posso perceber outras coisas que reforçam o meu sentimento por ti.
A propósito, tu perguntaste-me o que gostaria de visitar em Lisboa, nas férias do Natal. Imagina tu que fui encontrar numa das minhas estantes o catálogo de uma exposição que visitei em Antuérpia salvo erro em outubro de 1991, tinha o nome em português Feitorias, a Arte em Portugal no Tempo dos Grandes Descobrimentos (fins do século XIV até 1548), fiquei deslumbrada, até descobri elementos da História anterior à Bélgica que desconhecia completamente. Os portugueses instalaram-se primeiramente em Bruges e daqui partiram para a Antuérpia, precisavam de comerciar produtos portugueses e africanos e levar mercadorias para o comércio de escravos. Fiquei impressionada com o intercâmbio cultural que se realizou, feliz por saber que a pintura flamenga da mais alta qualidade estava nos vossos museus, como Gérard David, Hans Memling, Quentin Metsys e até o meu tão apreciado Albrecht Dürer, pois gostaria muito de ver o quadro dele alusivo a São Jerónimo. Uma noite destas, pude ler com cuidado o catálogo da sua edição francesa, vários historiadores debruçam-se sobre as condições excecionais que os portugueses encontraram para a sua aventura marítima quando a demais Europa vivia em permanente conflito, o vosso sistema de alianças que de vários ziguezagues encontrou o seu eixo nos Ingleses, e li apaixonadamente o mundo científico que fundamentou a vossa aventura náutica e até adormecer contemplei com profunda admiração todas aquelas obras de arte de várias proveniências adquiridas com o comércio euro-africano e euro-asiático. Nesta exposição das Feitorias não vieram duas obras-primas da Arte Portuguesa, os Painéis de Nuno Gonçalves e a Custódia de Belém, atribuída esta a um dos vossos maiores escritores, Gil Vicente. Pois gostaria muito, se formos ao Museu Nacional de Arte Antiga, de as visitar.
Chegaram os documentos e imagens referentes a janeiro de 1969, que acontecimentos tu descreves!
Primeiro, regressavam vocês a Missirá e apareceu na estrada um guineense com o pavor estampado no rosto, à cautela mandaste parar a coluna, não se tratasse de um expediente para uma emboscada, levaram o homem para Missirá e ele contou que houvera um ataque a embarcações civis à entrada do Geba estreito, tu não sabias de nada ainda, nesse dia enviaras um furriel a Mato de Cão, receberas instruções para ires a Bafatá falar com o Comandante do Agrupamento, ele queria a tua opinião quanto à eventualidade de se criar uma tabanca em autodefesa entre Missirá e Finete, em Canturé, apoiavas a ideia desde que entregassem um pelotão de milícia e dessem armas à população, reforçarias assim o sistema defensivo, mas em termos logísticos já não era possível, estava em marcha a criação de um novo aldeamento perto de Bambadinca, tu dizes chamar-se Nhabijões, não havia meios para Canturé. Este homem espavorido fora apanhado à mão quando se atirara à água, em desespero desatou a correr para dentro do mato e assim apanhou a estrada, todo esfarrapado e sempre a olhar para trás, com medo de possíveis seguidores.
Segundo, a tal viagem que fizeste de avioneta sobrevoando o Cuor e regulados limítrofes, a tua estupefação quando viste terrenos cultivados na região de Gambiel, a cerca de quatro quilómetros em linha reta de Missirá, nesta altura, e era essa a grande surpresa, tu já percorreras todas aquelas florestas, daí a tua surpresa quando lá do alto avistaste uma miríade de caminhos que saíam de Madina em direção a Belel e para mais longe e que derivavam para os tais terrenos cultivados no outro lado do rio Gambiel. Mal refeito do choque, fizeste um patrulhamento até Gambiel, que na carta que acabo de receber tu tratas como um dos locais mais belos do mundo, um verdadeiro Éden tropical, altíssimas palmeiras de Samatra como que vergadas sobre as bermas do rio, numa grande extensão, pensaste então que tinha sido obra do tal cartógrafo, Armando Cortesão, que por ali andara umas boas décadas antes. E vocês meteram-se pela mata para explorar do lado de cá onde é que havia terrenos lavrados. É nesse afã de quererem passar despercebidos, confiantes no sombreado da floresta impenetrável que, como trovões, ouviu-se o silvo de três morteiradas, um estrondo medonho, afinal vocês tinham sido avistados, os guerrilheiros procuravam intimidar. Tu ripostaste também com fogo de morteiro e dois destemidos bazuqueiros teus avançaram para terreno aberto, completamente destemidos, um verdadeiro combate nas duas margens do rio Gambiel. É nisto que uma morteirada estoira perto desses dois bazuqueiros, levantando rios de lama mas igualmente fazendo erguer aqueles dois homens, teme-se o pior, um deles levanta-se prontamente e pega no seu armamento, outro parece inanimado, geme baixinho, leva-se o ferido para dentro da segurança da mata, tem as pernas estilhaçadas, presume-se haver gravidade, findou a patrulha, regressa-se a Missirá, o bazuqueiro de nome Abdulai Djaló, conhecido entre vós pelo nome de Campino, e evacuado para Bissau, regressará uma semana depois, com as duas pernas entrapadas, tinham sido felizmente estilhaços superficiais, no mês seguinte, escreves nos teus apontamentos, este Campino viverá a teu lado, hora a hora, a agonia de uma operação que teve contornos horríveis, mesmo à entrada de Madina estoirou uma armadilha que matou e sinistrou e irá obrigar a uma retirada que teve aspetos catastróficos, onde não faltou um brutal ataque de abelhas, entre tanto sofrimento, tu prometes contar em breve o que aconteceu.
Terceiro, descobriste os efeitos do rancor, a canalhice de uma denúncia, um pequeno grupo de milícias de Finete, seguramente apoiado pelo comandante, o pedante Bazilo Soncó, que só vive para se pavonear, com a sua farda imaculada, que houve as tuas sarabandas, pois tu exiges-lhe que ande no mato ao lado dos seus homens, coisa que ele não faz, entregou uma carta ao comandante de Bambadinca falando nos teus maus-tratos, que só tens olhos para Missirá e desprezas Finete, a carta era tão mal engendrada que o comandante te chamou e te pediu para descobrires por onde começava calúnia tão ruim, enquanto conversavas com o comandante já uma comitiva de Finete estava à porta para denunciar o golpe baixo dos intriguistas, tu foste a Finete e tudo se resolveu num ápice, não era possível expulsar Bazilo nem os seus poucos sequazes, a intriga morreu no choco e a malandragem neutralizada. E tu concluíste que as insidias não têm fronteiras e os gestos miseráveis não escolhem a cor da pele.
Obrigado por estes documentos, meu adorado Paulo, contribuem para te conhecer melhor, para estar cada vez mais próxima de ti. Tenho uma surpresa à tua espera, uma surpreendente exposição do Palácio das Belas-Artes, prepara-te para ver peças de uma qualidade insuperável da cerâmica chinesa. Vem depressa, vem com a tua fogosidade, aquele ímpeto que me sacia a alma e a carne, sinto-me dona do mundo com este privilégio do teu amor. Bien à toi, Annette.
(continua)
Nota do editor
Último poste da série de 2 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21409: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (21): A funda que arremessa para o fundo da memória
Guiné 61/74 - P21433 - Os nossos capelães (10): Frei José António Correia Pereira, OFM, natural de Ponte de Lima, ex-alf mil capelão, BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74) (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547, Contuboel, 1972/74)
Foto nº 2 > Ponte de Lima > 2019 > 50º aniversário da missa nova de José António Correia Pereira, aqui de costas à direita. O nosso camarada Manuel Oliveira Pereira foi um dos membros da comissão organizadora do evento: aparece aqui na foto, junto ao altar, a dirigir-lhe a palavra.
Fotos (e legendas): © Manuel Oliveira Pereira (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem do nosso amigo e camarada, de Ponte de Lima, o Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74), membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora;
Subject: Post 21432 - Capelães Militares
2. Comentário do editor LG:
Informação adicional sobre o Frei José António Correia Pereira, a quem desde já convidamos a sentar-se à sombra do fraterno poilão da Tabanca Grande, apadrinhado pelo Manuel Oliveira Pereira (, estando disponível o lugar nº 820):
(i) sacerdote franciscano, é natural de Gaifar, concelho de Ponte do Lima;
(*) Último poste da série > 6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21425: Efemérides (337): O 4 de Outubro, dia do meu mentor espiritual, Francisco de Assis (1181-1226)... É uma ocasião também para lembrar os 7 capelães do Exército, no CTIG, que eram da Ordem dos Frades Menores (João Crisóstomo, Nova Iorque)
15 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19018: Os nossos capelães (7): o 1º curso de formação de capelães militares foi em 1967, na Academia Militar
25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16636: Os nossos capelães (5): Relação, até à sua independência, dos Capelães Militares que prestaram serviço no Comando Territorial Independente da Guiné desde 1961 até 1974 (Mário Beja Santos)
17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)
5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13577: Os nossos capelães (3): O capelão do BCAÇ 619 ia, de Catió, ao Cachil dizer missa... Creio que era Pinho de apelido, e tinha a patente de capitão (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)
5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13575: Os nossos capelães (1): Conheci em Bedanda o ten mil Pinho... Ia visitar-nos uma vez por mês para dizer missa... E 'pirava-se' logo que podia (Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)
Guiné 61/74 - P21432: Parabéns a você (1877): José Carmino Azevedo, ex-Soldado CAR do BCAV 2868 (Guiné, 1969/71) e Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414 (Guiné e Cabo Verde, 1963/65)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de Outubto de 2020 > Guiné 61/74 - P21428: Parabéns a você (1876): Luís Mourato Oliveira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)
quinta-feira, 8 de outubro de 2020
Guiné 61/74 - P21431: FAP (121): Cor pilav Gualdino Moura Pinto, comandante da BA 12 (1971/73), já falecido: "um grande líder" (Victor Barata, fundador e editor do blogue Especialistas da Base Aérea 12, e membro sénior da nossa Tabanca Grande)
Guiné > Bissau > Bissalanca > B 12 > 1973 > Esta foto recorda um dia de aniversário do Clube de Especialistas, em Bissalanca, tendo sido convidado o comando da BA 12 (1971/73), o cor pilav Gualdino Moura Pinto (à esqureda) e o ten cor pilav José Lemos Ferreira (à direita)
(...) Pois bem, vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas, alto, magro, com grandes qualidades humanas. (*)
Remonta ao ano de 1973, quando entre Março e Abril, a nossa Força Aérea perdeu Grandes Homens, companheiros do dia a dia dia que lutavam pela mesma causa que nós mas que o destino quis que partissem primeiro: ten cor pilav Brito, major pilav Montovani, furriéis mil pil Baltazar e Ferreira.
A instabilidade estava instalada, o receio, principalmente em quem operava com aeronaves de pequenas velocidades, apoderou-se, por se desconhecer o tipo de arma utilizada pelo PAIGC para abater os nossos aviões.
É nestas ocasiões que se distinguem os grandes Comandantes: o coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes na Base e, com a serenidade que lhe era virtude, foi dizendo:
"Havia garantia de que a arma utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil”.
Em seguida afirmou ter duas certezas, uma, fruto das suas convicções pessoais, outra, resultado da sua experiência de oficial: a primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase: Só é atingido pelo míssil quem tiver esse destino traçado. A segunda, também se dizia em poucas palavras:
Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino: "A sorte protege os audazes".
Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta, pedindo licença para falar. Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção. O comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura,o furriel Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um Batalhão do Exército que tinha sido atacado. Vinha pedir instruções.
Voltou-se para a assistência e perguntou:
O desfecho desta reunião teve impacto fortíssimo no moral dos pilotos, o ânimo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios do medo natural.
Descanse em paz, meu COMANDANTE! (**)
Victor Barata
Melec/Av Inst
(#) Nota: Esta passagem foi retirada do livro "A Força Aérea na Guerra de África: Angola, Guiné e Moçambique 1961-1974", de autoria de Luís Alves de Fraga, ,Coronel da FAP na reserva (Editora Prefácio, 2004, 158 pp.).
(*) Último poste da série > 16 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20978: FAP (120): Ainda o trágico acidente com o T6 - 1795. em Canquelifá, de que resultou a morte do fur mil pil Moutinho (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte / Cândido Cunha, CART 2479 / CART 11, 1969/70)
Guiné 61/74 - P21430: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (75): procuro mais notas biográficas sobre o cor pilav Gualdino Moura Pinto, dado erradamente como morto no acidente do avião da TAP, TP425, no Funchal, em 19/11/1977 (Santiago Garrido, jornalista, "La Voz de Galicia")
1. Mensagem de Santiago Garrido Rial, jornalista de "La Voz de Galicia":
De: Santiago Garrido Rial <santiago.garrido@lavoz.es>
Date: terça, 22/09/2020 à(s) 18:34
Subject: Galicia
(1977), "Diário de Lisboa", nº 19511, Ano 57, Segunda, 21 de Novembro de 1977, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22565 (2020-10-7)
No nosso blogue não temos muito mais informação sobre ele. Pode ser que algum dos nossos leitores possa ajudar. Boa sorte nas pesquisas e nos contactos. Sabemos que, em 2016, o filho, António Gualdino Ventura Moura Pinto, era Coronel de Infantaria, mas de quem, infelizmente, não temos o contacto.
(**) Último poste da série > 9 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21242: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (74): Canábis - II (e última) Parte : Efeitos psicoativos, imediatos e a longo prazo
Guiné 61/74 - P21429: Brunhoso há 50 anos (14): A Despensa - Adega do Zé (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)
Adega do Zé de Remondes |
1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", com data de 6 de Outubro de 2020 com mais uma memória de Brunhoso:
No tempo das candeias quase todos os bens alimentares se guardavam nas despensas que pela sua situação um pouco abaixo do rés-do-chão, tinham uma temperatura amena, quer no inverno quer no verão, propicia à sua conservação.
Lembro-me que os grandes pães de trigo e de centeio, cozidos no forno de lenha pela minha mãe, se conservavam por muito tempo, quinze dias. A maioria dos outros produtos conservavam-se durante um ano, o melhor prazo para os lavradores já que as colheitas eram anuais.
O presunto dos porcos caseiros, depois de curado, duraria muitos anos mas os porcos eram mortos à medida da necessidade anual de cada família. O presunto que combina bem com o vinho, tal como ele, guardado, numa boa adega, em condições ideais, durante alguns anos melhora a qualidade.
O toucinho, a parte mais gorda e menos nobre do porco atingia o seu melhor paladar na transição do Verão para o Outono, no tempo das sementeiras. O azeite era lá guardado em grandes talhas de barro ou de cimento, para consumo da casa, o excedente era vendido, com mais de um ano ficava velho e podia ganhar ranço.
Os salpicões e as linguiças, depois de passarem algum tempo no fumeiro, eram guardadas em talhas de barro com azeite.
As castanhas eram igualmente guardadas em talhas de barro e conservavam-se sãs até ao Verão.
Para alguns lavradores, a despensa era também um local de convívio ocasional para onde convidavam alguns amigos a beber um copo acompanhado com pão, azeitonas, cebola ou até mesmo presunto.
Até à instalação da eletricidade nessas aldeias, já tarde, no século anterior, as dispensas, também assim chamadas, eram indispensáveis, passe o pleonasmo, depois continuaram a ser utilizadas por muitos, pois sabiam que não havia melhor frigorífico, embora tenham adquirido também um eléctrico para alimentos mais frescos.
Em Brunhoso na adega ou despensa do Zé, tive convívios agradáveis com bons acepipes caseiros. Porém as fotografias que acompanham este texto, foram tiradas na adega do Zé de Remondes que tem também sempre bom vinho, presunto, e outros petiscos para os amigos.
Só quem já foi a uma adega destas, um pouco abaixo do nível do chão, e longe na idade e longe da cidade, beber dois copos de vinho e petiscar, sabe avaliar quanto é bom reviver o passado.
As fotos retratam em parte as despensas do passado, pois embora o espaço seja o mesmo, agora há uma miscelânea de coisas antigas e modernas.
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Nota do editor
Último poste da série de 7 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18294: Brunhoso há 50 anos (13): Viagens de comboio ao Porto (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)