Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Porto das Barcas:
a vida segue dentro de momentos
por Luís Graça
por Luís Graça
À Maria do Céu Pinteus e ao Joaquim Pinto Carvalho,
a quem carinhosamente chamamos os "Duques do Cadaval".
Um navio fantasmagórico
entra pelo mar dentro, meteórico,
quase abalroando as Berlengas.
Vai deixando pedaços de ilhas pelo Atlântico fora.
E restos de memórias e lengalengas.
Pelo Mar do Serro segue, em sentido contrário
a última Nau Catrineta,
com a bandeira preta,
sinal de peste a bordo
ou quiçá de assalto de corsário.
No Montoito ficamos de atalaia,
e mais abaixo avistamos a Peralta.
Não há sinais de cerco sanitário
nem de tempestade, a estibordo.
A vida segue dentro de momentos,
lê-se em letras de fogo no céu.
"Bora, malta,
beber um copo que hoje pago eu!"
Felizmente há a solidez do rochedo da amizade,
a Tabanca do Atira-te ao Mar
e Não Tenhas Medo,
Companheiro.
Ah!, meu português domingueiro,
filho de um povo já pouco ou nada aventureiro,
que deixou gemidos de guitarra e fado
p'las bolanhas de Bambadinca, Buba e Bedanda.
Senta-te à nossa mesa comprida,
e aceita a nossa bianda,
a nossa hospitalidade,
que nunca a amizade e a camaradagem foram pecado.
À volta de um prato de sardinhas
e de um pedaço de pão de trigo barbela,
"Bora, malta,
beber um copo que hoje pago eu!"
Felizmente há a solidez do rochedo da amizade,
a Tabanca do Atira-te ao Mar
e Não Tenhas Medo,
Companheiro.
Ah!, meu português domingueiro,
filho de um povo já pouco ou nada aventureiro,
que deixou gemidos de guitarra e fado
p'las bolanhas de Bambadinca, Buba e Bedanda.
Senta-te à nossa mesa comprida,
e aceita a nossa bianda,
a nossa hospitalidade,
que nunca a amizade e a camaradagem foram pecado.
À volta de um prato de sardinhas
e de um pedaço de pão de trigo barbela,
com o azeite puro da nossa oliveira,
despedimo-nos do verão,
mas não da vida, ou do que resta dela,
do puro prazer de estar vivo, e de pé,
despedimo-nos do verão,
mas não da vida, ou do que resta dela,
do puro prazer de estar vivo, e de pé,
de dedilhar uma viola,
de beber um copo em grupo,
ou de lembrar os tempos de Guiné,
Que não nos falte nada, à mesa, frugal
dizem os "Duques do Cadaval":
ou de lembrar os tempos de Guiné,
Que não nos falte nada, à mesa, frugal
dizem os "Duques do Cadaval":
o pão,
o queijo,
as azeitonas,
as sardinhas,
as batatas,
os pimentos,
a salada, o vinho,
o queijo,
as azeitonas,
as sardinhas,
as batatas,
os pimentos,
a salada, o vinho,
E mais importante: o carinho.
Cada um tem o seu fadário,
Cada um tem o seu fadário,
mas que seria de nós, manos, amigos, companheiros,
se alguém nos roubasse a neblina do Cabo Carvoeiro,
se alguém nos roubasse a neblina do Cabo Carvoeiro,
as ilhas do nosso imaginário,
os nossos lugares de desterro,
o azul da serra de Montejunto
e a paleta de cores do pôr-do-sol
no Mar do Serro ?!
Porto das Barcas, Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo,
o azul da serra de Montejunto
e a paleta de cores do pôr-do-sol
no Mar do Serro ?!
Porto das Barcas, Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo,
4 de outubro de 2020
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Nota do editor:
Último poste da série > 6 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21328: Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã (1): vozes e cavaquinhos contra a guerra, os do Jaime Bonifácio Marques da Silva e Joaquim Pinto de Carvalho, em tempo de pandemia
Último poste da série > 6 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21328: Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã (1): vozes e cavaquinhos contra a guerra, os do Jaime Bonifácio Marques da Silva e Joaquim Pinto de Carvalho, em tempo de pandemia
5 comentários:
Essas sardinhas fizeram-me salivar.
Abraço
Já não costumo comer sardinhas no Outono. .. mas estas, que são do Mar do Serro, estavam maravilhosamente assadas pelo Joaquim e saborosas...Foi mesmo para a despedida, para o ano haverá mais, somos optimistas.
Coitado de mim que este ano apenas comi sardinhas assadas por 2 vezes. Isto da maioria dos descendentes, não serem apreciadores deste bom manjar, associado ao problema do Covid não deixar juntar os amigos, deu nisto.
Amigo Luís, estou como o Cesar Dias, "grande sapador", a foto fez-me crescer água na boca.
Mas também não posso deixar de mais uma vez ficar "estarrecido" com essa tua veia poética, que rapidamente desfia uma maravilhosa poesia sobre...a vida e história.
Seguindo a terminologia actual, um grande abraçolete, desde a, neste momento triste e chuviscosa Costa Nova do Prado.
JPicado
Jorge, há sabores (e odores) que vão morrer connoscom. Oxalá os das sardinhas não seja o caso. Mas não vejo a malta nova com a mesma paixão que nós pela bela sardinha assada. Um verdadeiro gourmet omo o nossó bacalhaulas (e as suas miudezas, das caras às linguas)...
A sardinha tem uma época. E este ano começou tarde a ficar Boa. Mas foi uma alegria ver a nossa frota de traineiras de Penicho aqui atras delas no Mar do Serro..
Uma chicoração fraterno. Luis
Eduardo Estrela (por email)
5 out 2020 18:46
Assunto - A despedida do Verão
Olá Luís!!
Lindo poema! O ritmo que imprimes ao baile das tuas palavras é soberbo. Um hino á amizade e á contemplação das coisas boas e belas que nos rodeiam. Abraço fraterno.
Eduardo Estrela
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