1. Mensagem de José Albino P. Sousa, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117, Bula e Tite, 1969/71, nosso novo camarada, com data de 30 de Junho de 2009:
Caro Carlos Vinhal:
A vontade de entrar na Tabanca, já vem de algum tempo atrás, mas agora, e por insistência do António Maria, resolvi avançar.
Entretanto, já elaborei o texto que me parece relatar a minha história na Guiné.
Entretanto te direi que estive em Bula com o Pelotão de Morteiros 2117, Maio, Junho e Julho de 1969, tendo depois sido chamado a Bissau para tirar um curso de obuses, avançando depois para Tite com um Pelotão de guineenses onde passei o resto da comissão.
Ao fim de um ano fui baptisado com os famosos foguetões a que se seguiram mais três ataques.
Abraço do Zé Albino
APRESENTAÇÃO
Nome: José Albino Pereira de Sousa
Nascido em 23.1.1946
Natural do Porto (fui nascer à Maternidade) mas considero-me de Matosinhos.
Casado
Dois filhos e dois netos
Morada: Senhora da Hora
Curso Industrial de Montador Electricista (Matosinhos)
Ex-técnico da Portugal Telecom na Pré-reforma
Ex-Furriel Miliciano de Infantaria
A MINHA HISTÓRIA MILITAR
Assentei praça no RI5 (Caldas da Rainha) a 15 de Janeiro de 1968, onde fiz a recruta, tendo efectuado o juramento de bandeira a 5.4.1968.
Foi-me atribuida a especialidade de Armas Pesadas, (teria eu força para pegar nelas?) e segui para o CISMI (Tavira), onde conclui o curso de Sargentos.
Segui para o RI8 (Braga), onde colaborei em duas formações de recrutas.
Na véspera de Natal de 1968, sou particularmente informado que estou mobilizado para a Guiné.
No início de 1969 sou integrado no Pelotão de Morteiros 2117, que faz o IAO em Chaves, e em finais de Maio, lá vou eu no Niassa, rumo a África em defesa da Pátria (assim nos tinham convencido).
O Pelotão de Morteiros é enviado para Bula, e aí passo os meses de Junho e Julho de 1969, sem qualquer episódio de ataque ao aquartelamento.
Entretanto, sou informado que teria de ir a Bissau tirar um curso no BAC.(Sabia lá eu o que era aquilo).
Chegado ao tal BAC (Bataria de Artilharia de Campanha) é que percebi que éramos três dezenas de graduados (alferes, sargentos e furrieis, oriundos de Pelotões de Morteiros e de Canhões sem Recuo), e estávamos ali para receber formação de Obuses, como que emprestados à Arma de Artilharia, constituir Pelotões de Obuses 10,5; 11,4 e 14, com militares guineenses.
Confesso que com os morteiros em Bula, teria de adaptar os quase esquecidos conhecimentos adquiridos, ao terreno, mas com Obuses, as granadas iam mais longe, pelo que a responsabilidade aumentava, e daí o meu esforço em adquirir o máximo de conhecimentos para tentar safar a pele.
Quero dizer com isto que me esforçei para ter uma boa classificação, o que me permitiu escolher o Quartel de destino.
Lembro-me de o Comandante da BAC ler a lista de quartéis a serem reforçados com Obuses, e no fim eu lhe dizer que só conhecia Bula e mal.
Então eu vou ler de novo - disse ele.
...
TITE??!!!!!
...
Bem, talvez Tite disse eu, pensando, seja o que Deus quiser.
OK! Vai ver que não é tão mau como se diz. Como está do outro lado do rio, aqui em Bissau ouvem-se as saídas e rebentamentos, mas normalmente é a bater a zona.
E lá fui eu numa LDG, com dois Obuses 10.5, cunhetes de granadas, e talvez duas dezenas de guineenses de várias etnias, acompanhados das respectivas famílias.
Chegados ao destacamento do Enxudé, lá estavam os matadores para rebocarem os dois Obuses para o quartel de Tite.
Lá chegado, apresentei-me aos superiores e ao meu colega artilheiro, Fur Mil Figueiredo de Coimbra, responsável pelo 8.8 existente.
Por sorte não sofri alguns dos ataques por não estar presente no quartel.
Bula e Tite foram atacadas, mas eu estava no curso na BAC, outra vez tinha ido a Bissau levantar os vencimentos do pessoal, etc.
Até que chegou a minha vez a 19.5.70, ao fim de um ano de espectativa, e logo com os tais foguetões.
Lembro-me de os dois obuses terem disparado cerca de 140 tiros nessa noite. Foi medonho.
Entretanto o Fur Mil Figueiredo regressou à metrópole e algum tempo depois chegou o Alferes Rocha do Porto, que comigo apanhou um violento ataque a 3.8.70, com morteiros e canhões sem recuo, estava eu a chegar de férias e o Salazar a morrer.
Contrariando as ordens do Major Martins Ferreira (BCAV 2867), (fogo só á ordem), reagimos ao ataque do PAIGC e os valentes artilheiros responderam com cerca de duas dezenas de granadas. Assim acabámos com o ataque.
Porque a iniciativa de reacção ao ataque foi da minha responsabilidade, (o Alferes Rocha também mandou umas ameixas, mas o Major não se apercebeu), fui ameaçado de ser despromovido, ser enviado para Pirada e pagar as cerca de duas dezenas de granadas. Calei-me e não deu em nada.
Depois disto, o Alferes foi não sei para onde e eu fiquei a comandar o pelotão até ao final da comissão, tendo vindo mais um Obus 10,5 com um novo camarada de Artilharia, Fur Mil Costa, dos Arcos de Valdevez, com a função de evitar que a partir de Bissássema, o PAIGC alcançasse Bissau, o que tentaram fazer no meu tempo, e mais tarde, penso que com êxito.
Lembrei-me agora que uma vez mandaram-me fazer cálculos de tiro para o mar (?) e apontar as peças quando recebesse as ordens. Era a operação Mar Verde.... em Conakri.
Refiro ainda outro ataque a Tite, já no final da comissão, com as granadas a cair fora do arame farpado.
Foram cerca de 17 meses em Tite, colaborando com o BCAV 2867 e BART 2924, até que recebi ordem para regressar a Bissau e juntar-me ao Pelotão de Morteiros 2117, de onde era originário, regressando à Metrópole no Angra do Heroismo, nos princípios de Fevereiro de 1971.
Obs:- Nunca disparei um Obus, apenas conferia os elementros de pontaria no limbo e no tambor que transmitia ao apontador, quando era para bater a zona, e por vezes ainda dava mais duas maniveladas.
Quero ainda deixar aqui o meu grande respeito aos guineenses, vítimas de políticas desumanas e políticos dementes, que lutaram heróicamente em nome de Portugal.
Zé Albino
Bula > Junho de 1969. Com dois meses de Guiné, claro que não era o pai.
Bula > Morteiro 81 > Pel Mort 2117
Tite > Pelotão de obuses 10,5 (190/71)
2. Comentário de CV:
Tenho o prazer de apresentar à Tertúlia mais um amigo, daqueles que, embora não se vendo com frequência, não se esquecem. Nos últimos três anos temo-nos encontrado no almoço dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos. O nosso novo camarada José Albino, Zé Albino para os amigos, é um companheiro dos velhos tempos da Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, frequentou o mesmo curso de Formação de Montador Electricista ao mesmo tempo que eu e o António Maria, camarada recentemente entrado para a Tabanca. Temos na Tertúlia ainda mais um ex-aluno da mesma Escola, o António Tavares e um professor, o ex-Cap Mil Ferreira Neto.
Se começasse a enumerar os tertulianos do nosso Blogue residentes no concelho de Matosinhos, arranjava uma longa lista.
Caro Zé Albino, estás apresentado à Tertúlia. A partir de agora tens a responsabilidade de contribuir para o espólio do nosso Blogue. Há sempre algo para contar, resquícios de uma vivência contidos nos confis da memória, que podem e devem ser patilhados por todos.
Deixo-te o habitual abraço de boas-vindas em nome de toda a tertúlia. A partir de hoje tens mais três centenas e meia de amigos que não conheces ainda, mas que tiveram a mesma experiência que tu, viveram e lutaram contra o clima, falta de condições, fome, estado de guerra e outras privações, naquela terra que ainda hoje temos no nosso coração, a Guiné-Bissau.
Para ti, um especial abraço do teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4625: Tabanca Grande (157): Constantino Costa (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/74)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 4 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4639: Histórias de José Marques Ferreira (1): A minha relíquia da Guiné é um lindo punhal
1. Mensagem de José Marques Ferreira, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Guiné 1963/65, com data de 1 de Julho passado:
Camaradas,
Esta é a minha primeira participação neste blogue. Já enviei, em tempos, os meus elementos identificativos que, entretanto, me haviam sido solicitados.
Pelo muito que tenho lido por aqui, neste nosso blogue, há factos vividos por camaradas nossos, que nos deixam um tanto ou quanto fora de órbita. Porque, como se hão-de aperceber, felizmente para mim durante dezasseis meses, apenas fiz turismo na Guiné!
Para desanuviar os vossos tão aterradores relatos, esta minha primeira participação tem a finalidade de tentar fazer, com que o “ambiente” se torne menos pesado.
Espero que alguns de vós tenham a pachorra de ler esta minha história e lhes dê, pelo menos, alguma vontade de sorrir. Para mim já era bom...
Seguem em anexo algumas fotografias, uma delas de um punhal que tenho aqui em casa e ao qual se refere esta narrativa e, as outras, são da localidade de Ingoré - anos de 1963 - 1964.
Numa das fotos, vê-se uma reunião de autóctones, em atitude de "ronco" e, ao fundo, parte das então instalações primitivas da Companhia de Caçadores 462, que se situavam do lado da estrada que ia para Barro, lado nascente.
Outra foto, onde se vêm as instalações mais perceptíveis, mas não se vê o refeitório, camaratas, etc.
Na última foto, havia mais "ronco", já não sei de quê . Nela se nota a casa, que foi alugada pelos militares, para as instalações de cripto, comunicações, secretaria e até dormitório dos oficiais.
Lembro-me que o dono desta casa, que anteriormente a utilizava para a tradicional actividade comercial e que ficou com a outra casa, logo ao lado, desenvolvendo a mesma actividade.
Era do concelho de Oliveira de Azeméis e chamava-se Artur (só me lembro do primeiro nome).
Esta história está também no meu blogue: "terrasdomarnel.blogspot.com", assim como outras, para quem quiser fazer o favor de consultar.
Aqui vai a história:
Carabana Xerife era uma tabanca (aldeamento), paredes meias com a fronteira do Senegal, próximo de Ingoré, tendo ainda a meio caminho a tabanca de Ingorézinho.
Haviam informações de que o inimigo (IN) tencionava atacar Ingorézinho. Foram tomadas algumas precauções e, entre elas, uma secção foi destacada para dormir lá, tendo em atenção as suas dimensões e a sua situação estratégica, acrescidas pelo facto que constituía a "qualidade" dos seus habitantes.
Não sei a data exacta deste acontecimento (talvez meados de 1964), porque havia muita chuva, como é costume na Guiné, na chamada época “das chuvas” (que aconteciam habitualmente a partir dos meses de Maio).
A páginas tantas fomos acordados e foi-nos pedida uma "dúzia" de “voluntários”, que pretendessem ir a Ingorézinho, pois as comunicações (via rádio), davam conta da presença de alguma "malta IN", que estava a “chatear”.
Pensei eu então : “E logo ao fim de mais de um ano, em que se havia poupado alguma verba ao Orçamento de Estado Português, pois toda a gente se limitava a ter em boas condições de funcionamento as suas armas individuais e as respectivas munições (que ainda eram as mesmas do início da comissão)”.
Ou seja, tínhamos passado quase despercebidos o tempo todo... ninguém se lembrava de nós... era só turismo... e agora?
Entre o grupo voluntário que foi ao encontro da secção fiz-me incluir e lá fomos a correr, ao longo da bolanha, em direcção a Ingorézinho. Ainda não havia os acessos que agora existem.
Tínhamos de ir a pé... embora talvez existisse um acesso àquela tabanca pela estrada que ia para Barro, mas bastante longe, já não me lembro bem.
Ali chegados, juntamente com o comandante de Companhia, fomos mais à frente até Carabana Xerife, a tabanca fora atacada e destruída e, na presença do furriel que comandava a secção, o capitão perguntou:
- Chegaram a vê-los? Não foram atrás deles?
O furriel respondeu que sim, mas que deram com a fronteira e, este, entendeu que não devia ir mais além.
Como não tinha ainda decorrido muito tempo, o capitão desata a correr, passa o marco da fronteira, por sinal um marco de dimensões razoáveis, de pedra e cal, que não deixava margem para dúvidas sobre a delimitação dos terrenos (qual marco que delimita as nossas propriedades), e todos nós toca a correr atrás dele, entrando uma distância ainda razoável em terreno de outro “dono”.
Foi tudo infrutífero, porque o grupelho (não seria ainda um grupo organizado para a guerrilha, sem meios que não fossem algumas facas, catanas e caixas de fósforos) tinha desaparecido.
O resultado deste alvoroço todo (porque não foi outra coisa comparado com aquilo que, na mesma região e local, passaram camaradas nossos, cujas histórias estão contadas em blogues e outros locais internautas), apenas resultou na destruição da tabanca pelo fogo ateado pelo IN.
Só vos digo que nunca vi tantas galinhas, cabritos e porcos estorricados, entre as palhotas todas destruídas.
Eu não tenho fotos do local, sei que existem algumas, mas não posso precisar quem as tem...
A população foi recolhida para próximo do aquartelamento, junto a Ingorézinho.
Quando eu regressava da inglória perseguição ao IN, já o sol raiava. Ao passar junto a uma enorme árvore, reparei que junto dela estavam folhas frescas todas amachucadas, com sinais que o grupo atacante ali teria estacionado e aguardado o melhor momento para o golpe.
Senti então uma necessidade fisiológica, ainda dentro do terreno do Senegal, e tive que me aliviar, o que fiz junto da citada árvore...
Como estava inquieto, olhava sempre em várias direcções, até que vislumbrei no solo um punhal bastante "jeitoso", que logo apanhei e coloquei no cinto das cartucheiras.
Quando cheguei junto do capitão, como era minha obrigação dei-lhe conta do achado daquela prova "incriminadora", entregando-lha.
Chegados ao aquartelamento, como nessa altura eu era o "administrador" da companhia (não havia primeiro-sargento e como eu, na vida civil, era empregado de escritório, com conhecimentos de contabilidade dos antigos cursos das Escolas Comerciais e Industriais, tinha sido convidado para tarefas administrativas), lá tive de dactilografar o relatório da “operação”, que entretanto o capitão havia manuscrito.
Terminado o relatório, fomos dar um "passeio" até Bula (comando operacional do Batalhão de Caçadores 507 (Ten Cor Hélio Felgas), que depois foi substituído pelo Batalhão de Cavalaria 790 (Ten Cor Henrique Calado), entregar o mesmo e o punhal.
No meio destas Unidades Militares, convém esclarecer que eu pertencia à Companhia de Caçadores 462, procedente de Chaves.
A história do punhal não ficou por aqui, pois nunca deixei de "chatear" o Capitão Milicinao Jorge Saraiva Parracho, para que o punhal - que nada dizia e ajudava à solução de qualquer problema (a não ser uma hipotética ligação ao grupo assaltante) -, me viesse a ser devolvido, já que constituía, para mim, uma "relíquia" da Guiné.
Este meu comportamento acabou por dar resultado, pois um dia, numa deslocação Bula (de que eu fazia parte), apareceu-me o capitão com um envelope na mão, que me entregou. Dentro dele, estava o punhal que eu tinha encontrado em terreno do Senegal (graças ao tal alívio fisiológico que me fez parar).
Naquele período de tempo, era uma guerra que até dava para isto...
Eis o punhal na foto acima, que tem uma bainha feita em cabedal por um artesão de Ingoré.
Penso que posso terminar a dizer, com a liberdade que hoje temos, que:
Nas "Conversas em Família" do Prof. Marcelo Caetano, dizia ele que o Senegal protestava, constantemente, pelo facto de se invadir o seu território, por parte das nossas tropas. E justificava-se que, em guerra e tão próximos da fronteira, como resultado da refrega, era natural que alguns projécteis saídos dos canos das armas ligeiras (ainda não havia em Ingoré canhões sem recuo, na altura em que lá estive), fossem cair "acidentalmente" no Senegal. Mas... invasões? Nunca!...
Ria-me (em casa) porque sabia o que se passava. Mas tinha, para mim, uma outra interpretação, é que os marcos da fronteira estavam separados e só eram descortináveis, de longe a longe, a pequenas distâncias. Quer dizer que, na floresta, numa perseguição, não se dava conta da fronteira, porque não tinha qualquer vedação mesmo que fosse de arame, além dos referidos marcos, nalguns casos indetectáveis e, ainda por cima, camuflados pela vegetação.
Que se invadia o território, invadia-se… mas posso afirmar que, a maioria das vezes, era feito sem qualquer intrenção!
Nota final - A tabanca destruída, foi posteriormente reconstruída por uma das últimas Unidades sedeadas em Ingoré, de que fazia parte o Manuel Silva Ferreira Martins (mecânico) e o Armando Santos (maqueiro), que ficou ainda algum tempo por lá, na tabanca, dando a colaboração da sua especialidade à população.
Fotos: © José Marques Ferreira (2009). Direitos reservados.
Um abraço,
José Marques Ferreira
__________
Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4638: Um comando africano na Guerra da Guiné. Amadu Bailo Djaló. (V. Briote)
Um comando africano na Guerra da Guiné
Amadu Bailo Djaló
Caros Camaradas
Está na fase final o trabalho a que me propus. Passar para português legível todas as páginas que o Amadu foi escrevendo ao longo dos anos que durou a Guerra.
Não podemos estar à espera de uma obra-prima, nem de um trabalho exaustivo sobre os nossos anos na Guiné. Nem eu tenho arte nem o Amadu conta a sua história assim. Não há ficção, não se trata de um romance.
A maior parte dos textos referem-se a contactos com o PAIGC, a combates com mortos e feridos, de um e outro lado. Amadu escreve sobre saídas em colunas auto, em Dorniers, em helis, de lançamentos e apeamentos, de progressões na mata, de encontros com os nossos INs de então, de trocas de tiros, morteiros, roquetes, de feridos e mortos, de evacuações e abandonos.
E de nomes de localidades, de Bafatá, Bissau, Bolama, Bambadinca, Fá Mandinga, Farim, Cuntima, Guidage, Guileje, Gandembel, Gadamael, Conakry, Gabu, Piche, Mansabá, Canquelifá e de tantas outras. Dos rios Corubal, do Cacheu, do Geba e de outros, de afluentes, margens, tarrafos, poilões, bissilões, mangueiros e cajueiros.
1. Infelizmente o Amadu Djaló trouxe poucas fotos, meia dúzia no máximo.
E é aqui que faço um pedido a todos os Camaradas que têm escrito e enviado imagens desses anos da Guiné para o nosso blogue, de Luís Graça e Camaradas da Guiné. Que disponibilizem fotos com a qualidade possível para, eventualmente, serem inseridas no livro.
Muitos livros que se têm publicado sobre a Guerra que travámos na Guiné trazem fotos, a maioria de fraca qualidade. Não me parece ser boa ideia inserir uma foto de dimensões reduzidas, de fraca resolução. Estou consciente que é um pedido difícil.
Lanço aqui lançado o pedido aos Camaradas que têm fotos, em condições indispensáveis para serem tratadas, para as disponibilizarem com a indicação do local, ano provável e do autor.
2. Para esclarecer dúvidas sobre factos relatados pelo Amadu Djaló continuo a recorrer a testemunhos de camaradas que assistiram ou participaram em alguns desses acontecimentos.
Nos últimos tempos contactei:
o Coronel Raul Folques que, como capitão participou em algumas das operações relatadas pelo Amadu, nomeadamente na "Ametista Real", a Kumbamory, agrupamento de que Amadu fez parte.
Nessa operação, já na retirada, o então Capitão Folques foi atingido por uma bala que lhe atravessou uma perna.
Disse-me que a retirada para Guidage foi penosa, embora com grande ajuda dos seus comandos africanos. Que via forças do PAIGC e de páras senegaleses com apreciável poder de fogo, a aproximarem-se do último grupo em retirada, grupo de que ele e o Amadu faziam parte.
Que pediu apoio aéreo e que, devido à proximidade das forças em combate, mandou lançar granadas de fumo para melhor referenciação.
Que no contacto rádio com o comandante da patrulha, insistiu que o apoio dos Fiats era indispensável para a retirada, e que, face à superioridade numérica e de fogo das forças INs, se o apoio aéreo não se concretizasse acabavam por ficar todos no local.
Relata que Amadu Djaló nunca o abandonou, que se manteve sempre ao seu lado até o ver estendido numa sala a abarrotar de feridos no aquartelamento de Guidage. Lembra-se do cheiro da sala e da assistência prestada por um médico (Trindade? Espírito Santo? Do nome não se lembra ao certo, ficou foi com a ideia que o nome do médico lhe soou a santidade).
Que, acabado de o socorrer, o médico lhe perguntou se queria alguma coisa. Um copo de uísque, respondeu. Era a última coisa que lhe podia dar, foi a resposta que ouviu.
Minutos mais tarde viu entrar na sala o Coronel Correia de Campos, Comandante do COP, com um copo de uísque na mão. E que o uísque não se sentiu bem, preferiu sair logo.
Mais tarde o então Capitão Folques foi promovido a major e nomeado Comandante do Batalhão de Comandos da Guiné, em substituição do Major Almeida Bruno.
Voltou a encontrar-se, ainda em 1973, na zona de Canquelifá com os seus antigos comandos então destacados na CCaç 21, quando fez uma sortida a uma povoação fronteiriça, tentando aliviar a pressão a que as povoações da área estavam sujeitas.
E destaca o papel da referida Companhia, comandada pelo capitão Abdulai Queta Jamanca e da qual o então alferes Amadu Djaló, hoje cabo, fazia parte.
Depois foi a vez de procurar chegar à fala com o General Almeida Bruno, que ainda como capitão foi um dos criadores dos comandos africanos e, como major, o 1º Comandante do Batalhão de Comandos da Guiné.
Interessado em dar todos os esclarecimentos necessários que possam contribuir para elaboração das memórias do Amadu, o General convidou-nos para um encontro.
Estive presente com o Coronel Raul Folques e o Amadu Djaló. Foram horas de uma tarde a ouvir os três antigos comandos, sobre a formação dos comandos africanos, Kumbamory, de episódios que um ou outro já tinham esquecido e que agora, ao recordarem, ainda acrescentam um ou outro pormenor.
- Ah, eras tu que vinhas ao meu lado no regresso a Binta? Eras tu, Amadu? Perguntava o General.
- E a minha conversa com o major pára senegalês! Ele puxou de um cigarro de uma marca que eu apreciava, os Gauloises. Ofereceu-me um, sentámo-nos a fumar e a conversar. Era um tipo simpático. Uma chatice o que lhe aconteceu a seguir. E Morés, Amadu, Morés que tanto sarilho nos deu!
Coronel Raul Folques, General Almeida Bruno e Amadu Bailo Djaló, em 28/06/09. Foto de V. Briote.
Em 2 de Julho o General Almeida Bruno telefonou-me. Tinha precisado apenas de meia dúzia de dias para ler o rascunho das Memórias do Amadu Djaló.
Que o achava um documento único e importante por ter sido escrito por um antigo Camarada Africano.
Nas passagens em que o seu nome aparece mencionado, que se lembrava de algumas, de outras não. E que era importante proceder a uma nota de rodapé: a designação oficial, correspondente à ideia com que foi formado, era Batalhão de Comandos da Guiné e que a designação de Batalhão de Comandos Africanos se popularizou depois e foi com esta última que passou a ser conhecido.
E fotos são precisas, acrescentou. Que não tinha nenhuma, que as que trouxe da Guiné arderam num incêndio que vitimou a sua mãe.
O Comandante Alpoim Calvão é várias vezes citado pelo Amadu e o objectivo do meu contacto pessoal era solicitar-lhe alguns esclarecimentos nomeadamente sobre incursões da 1ª CCmds Africanos a aldeias senegalesas na zona de Pirada e sobre a operação a Conackry.
Em 29 de Junho de 2009, levei o Amadu ao encontro com o Comandante.
Conheci o então 2º Tenente Calvão na Guiné, ainda no início da minha comissão, talvez entre Abril e Junho de 1965. Recordo-me de o ver a conversar com um camarada, penso que era o tenente Saraiva, que estava connosco na esplanada do Hotel Portugal.
Nessa altura, eu fazia parte de uma tetúlia que incluía gente que tinha participado com os fuzileiros do então 2º Tenente em várias operações, particularmente na “Tridente”, em que o DFZ se tinha particularmente feito notar.
Depois das apresentações, o Comandante sentou-se connosco numa grande mesa oval.
- Já sei, Amadu, que tens várias coisas escritas sobre aqueles tempos. Fazes bem, relatar os acontecimentos pelos teus olhos, independentemente dos relatórios oficiais.
Mostrei-lhe duas ou três fotos de 1965, inéditas para ele. Olha o general Schulz, o Maurício Saraiva, ia dizendo enquanto folheava o rascunho das partes em que o seu nome aparece.
O Amadu relembrou-lhe as incursões na zona de Pirada, de que o Comandante mostrou ter ainda bem presente e que ainda acrescentou um ou outro pormenor.
Depois falou-se de Conackry e do muito que já se escreveu sobre o assunto.
Diz ter conhecimento que John McCain publicou em inglês, ainda não traduzida para a nossa língua, uma obra sobre a nossa Marinha na Guerra da Guiné. E que teve recentemente conhecimento de que a op. “Mar Verde” é tratado como um “case-study” numa escola naval norte-americana.
E mais, que, muito recentemente, foi publicada uma brochura sobre as operações navais da nossa Marinha de Guerra, em que a “Mar Verde” é descrita com algum pormenor. E finalmente que, de todas as obras publicadas até à data, a do Luís Marinho lhe parece aproximar-se mais do que pensa ter sido a ida a Conackry.
Relatou factos sobre a retirada, sobre a incrível história do Nanque, que andou de país em país até aparecer em Lisboa. Na altura, Alpoim Calvão era, se ouvi bem, o Comandante da Defesa Marítima quando foi alertado que um tal Nanque, que afirmava ter participado na ida a Conackry, se encontrava em Lisboa.
Não tenho palavras para descrever a colaboração que o Coronel Matos Gomes tem dado. A formação dos cmds em Mansabá (julgo que no tempo do então Capitão Pereira da Costa), nomes de operações, datas, pormenores, e sobretudo, o enquadramento das acções, quais os motivos porque certas ops foram executadas em determinadas áreas, aspectos que faltam nos escritos do Amadu Djaló.
Falou da mata da Coboiana, do local do Irã que encontrou, das acções de fogo em que a 1ª CCmds se envolveu, do momento em que a zona em que um heli se aprestava para uma evacuação foi varrida pelo fogo IN atingindo todos os oficiais da 1ª CCmds.
Nem o heli escapou mas, aos abanões lá conseguiu levantar com os feridos rumo ao HM 241.
Dali para a frente a acção prosseguiu com o sargento mais antigo a comandar e com o então Capitão Matos Gomes, o menos ferido, a supervisionar.
Fico por aqui, não me alargo mais se não acabo de contar o livro todo.
__________
Notas de vb:
artigo relacionado em 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4359: Tabanca Grande (143): Amadu Bailo Djaló, Alferes Comando Graduado, incorporado no Exército Português em 1962 (Virgínio Briote)
Amadu Bailo Djaló
Caros Camaradas
Está na fase final o trabalho a que me propus. Passar para português legível todas as páginas que o Amadu foi escrevendo ao longo dos anos que durou a Guerra.
Não podemos estar à espera de uma obra-prima, nem de um trabalho exaustivo sobre os nossos anos na Guiné. Nem eu tenho arte nem o Amadu conta a sua história assim. Não há ficção, não se trata de um romance.
A maior parte dos textos referem-se a contactos com o PAIGC, a combates com mortos e feridos, de um e outro lado. Amadu escreve sobre saídas em colunas auto, em Dorniers, em helis, de lançamentos e apeamentos, de progressões na mata, de encontros com os nossos INs de então, de trocas de tiros, morteiros, roquetes, de feridos e mortos, de evacuações e abandonos.
E de nomes de localidades, de Bafatá, Bissau, Bolama, Bambadinca, Fá Mandinga, Farim, Cuntima, Guidage, Guileje, Gandembel, Gadamael, Conakry, Gabu, Piche, Mansabá, Canquelifá e de tantas outras. Dos rios Corubal, do Cacheu, do Geba e de outros, de afluentes, margens, tarrafos, poilões, bissilões, mangueiros e cajueiros.
1. Infelizmente o Amadu Djaló trouxe poucas fotos, meia dúzia no máximo.
E é aqui que faço um pedido a todos os Camaradas que têm escrito e enviado imagens desses anos da Guiné para o nosso blogue, de Luís Graça e Camaradas da Guiné. Que disponibilizem fotos com a qualidade possível para, eventualmente, serem inseridas no livro.
Muitos livros que se têm publicado sobre a Guerra que travámos na Guiné trazem fotos, a maioria de fraca qualidade. Não me parece ser boa ideia inserir uma foto de dimensões reduzidas, de fraca resolução. Estou consciente que é um pedido difícil.
Lanço aqui lançado o pedido aos Camaradas que têm fotos, em condições indispensáveis para serem tratadas, para as disponibilizarem com a indicação do local, ano provável e do autor.
2. Para esclarecer dúvidas sobre factos relatados pelo Amadu Djaló continuo a recorrer a testemunhos de camaradas que assistiram ou participaram em alguns desses acontecimentos.
Nos últimos tempos contactei:
o Coronel Raul Folques que, como capitão participou em algumas das operações relatadas pelo Amadu, nomeadamente na "Ametista Real", a Kumbamory, agrupamento de que Amadu fez parte.
Nessa operação, já na retirada, o então Capitão Folques foi atingido por uma bala que lhe atravessou uma perna.
Disse-me que a retirada para Guidage foi penosa, embora com grande ajuda dos seus comandos africanos. Que via forças do PAIGC e de páras senegaleses com apreciável poder de fogo, a aproximarem-se do último grupo em retirada, grupo de que ele e o Amadu faziam parte.
Que pediu apoio aéreo e que, devido à proximidade das forças em combate, mandou lançar granadas de fumo para melhor referenciação.
Que no contacto rádio com o comandante da patrulha, insistiu que o apoio dos Fiats era indispensável para a retirada, e que, face à superioridade numérica e de fogo das forças INs, se o apoio aéreo não se concretizasse acabavam por ficar todos no local.
Relata que Amadu Djaló nunca o abandonou, que se manteve sempre ao seu lado até o ver estendido numa sala a abarrotar de feridos no aquartelamento de Guidage. Lembra-se do cheiro da sala e da assistência prestada por um médico (Trindade? Espírito Santo? Do nome não se lembra ao certo, ficou foi com a ideia que o nome do médico lhe soou a santidade).
Que, acabado de o socorrer, o médico lhe perguntou se queria alguma coisa. Um copo de uísque, respondeu. Era a última coisa que lhe podia dar, foi a resposta que ouviu.
Minutos mais tarde viu entrar na sala o Coronel Correia de Campos, Comandante do COP, com um copo de uísque na mão. E que o uísque não se sentiu bem, preferiu sair logo.
Mais tarde o então Capitão Folques foi promovido a major e nomeado Comandante do Batalhão de Comandos da Guiné, em substituição do Major Almeida Bruno.
Voltou a encontrar-se, ainda em 1973, na zona de Canquelifá com os seus antigos comandos então destacados na CCaç 21, quando fez uma sortida a uma povoação fronteiriça, tentando aliviar a pressão a que as povoações da área estavam sujeitas.
E destaca o papel da referida Companhia, comandada pelo capitão Abdulai Queta Jamanca e da qual o então alferes Amadu Djaló, hoje cabo, fazia parte.
Depois foi a vez de procurar chegar à fala com o General Almeida Bruno, que ainda como capitão foi um dos criadores dos comandos africanos e, como major, o 1º Comandante do Batalhão de Comandos da Guiné.
Interessado em dar todos os esclarecimentos necessários que possam contribuir para elaboração das memórias do Amadu, o General convidou-nos para um encontro.
Estive presente com o Coronel Raul Folques e o Amadu Djaló. Foram horas de uma tarde a ouvir os três antigos comandos, sobre a formação dos comandos africanos, Kumbamory, de episódios que um ou outro já tinham esquecido e que agora, ao recordarem, ainda acrescentam um ou outro pormenor.
- Ah, eras tu que vinhas ao meu lado no regresso a Binta? Eras tu, Amadu? Perguntava o General.
- E a minha conversa com o major pára senegalês! Ele puxou de um cigarro de uma marca que eu apreciava, os Gauloises. Ofereceu-me um, sentámo-nos a fumar e a conversar. Era um tipo simpático. Uma chatice o que lhe aconteceu a seguir. E Morés, Amadu, Morés que tanto sarilho nos deu!
Coronel Raul Folques, General Almeida Bruno e Amadu Bailo Djaló, em 28/06/09. Foto de V. Briote.
Em 2 de Julho o General Almeida Bruno telefonou-me. Tinha precisado apenas de meia dúzia de dias para ler o rascunho das Memórias do Amadu Djaló.
Que o achava um documento único e importante por ter sido escrito por um antigo Camarada Africano.
Nas passagens em que o seu nome aparece mencionado, que se lembrava de algumas, de outras não. E que era importante proceder a uma nota de rodapé: a designação oficial, correspondente à ideia com que foi formado, era Batalhão de Comandos da Guiné e que a designação de Batalhão de Comandos Africanos se popularizou depois e foi com esta última que passou a ser conhecido.
E fotos são precisas, acrescentou. Que não tinha nenhuma, que as que trouxe da Guiné arderam num incêndio que vitimou a sua mãe.
O Comandante Alpoim Calvão é várias vezes citado pelo Amadu e o objectivo do meu contacto pessoal era solicitar-lhe alguns esclarecimentos nomeadamente sobre incursões da 1ª CCmds Africanos a aldeias senegalesas na zona de Pirada e sobre a operação a Conackry.
Em 29 de Junho de 2009, levei o Amadu ao encontro com o Comandante.
Conheci o então 2º Tenente Calvão na Guiné, ainda no início da minha comissão, talvez entre Abril e Junho de 1965. Recordo-me de o ver a conversar com um camarada, penso que era o tenente Saraiva, que estava connosco na esplanada do Hotel Portugal.
Nessa altura, eu fazia parte de uma tetúlia que incluía gente que tinha participado com os fuzileiros do então 2º Tenente em várias operações, particularmente na “Tridente”, em que o DFZ se tinha particularmente feito notar.
Depois das apresentações, o Comandante sentou-se connosco numa grande mesa oval.
- Já sei, Amadu, que tens várias coisas escritas sobre aqueles tempos. Fazes bem, relatar os acontecimentos pelos teus olhos, independentemente dos relatórios oficiais.
Mostrei-lhe duas ou três fotos de 1965, inéditas para ele. Olha o general Schulz, o Maurício Saraiva, ia dizendo enquanto folheava o rascunho das partes em que o seu nome aparece.
O Amadu relembrou-lhe as incursões na zona de Pirada, de que o Comandante mostrou ter ainda bem presente e que ainda acrescentou um ou outro pormenor.
Depois falou-se de Conackry e do muito que já se escreveu sobre o assunto.
Diz ter conhecimento que John McCain publicou em inglês, ainda não traduzida para a nossa língua, uma obra sobre a nossa Marinha na Guerra da Guiné. E que teve recentemente conhecimento de que a op. “Mar Verde” é tratado como um “case-study” numa escola naval norte-americana.
E mais, que, muito recentemente, foi publicada uma brochura sobre as operações navais da nossa Marinha de Guerra, em que a “Mar Verde” é descrita com algum pormenor. E finalmente que, de todas as obras publicadas até à data, a do Luís Marinho lhe parece aproximar-se mais do que pensa ter sido a ida a Conackry.
Relatou factos sobre a retirada, sobre a incrível história do Nanque, que andou de país em país até aparecer em Lisboa. Na altura, Alpoim Calvão era, se ouvi bem, o Comandante da Defesa Marítima quando foi alertado que um tal Nanque, que afirmava ter participado na ida a Conackry, se encontrava em Lisboa.
Não tenho palavras para descrever a colaboração que o Coronel Matos Gomes tem dado. A formação dos cmds em Mansabá (julgo que no tempo do então Capitão Pereira da Costa), nomes de operações, datas, pormenores, e sobretudo, o enquadramento das acções, quais os motivos porque certas ops foram executadas em determinadas áreas, aspectos que faltam nos escritos do Amadu Djaló.
Falou da mata da Coboiana, do local do Irã que encontrou, das acções de fogo em que a 1ª CCmds se envolveu, do momento em que a zona em que um heli se aprestava para uma evacuação foi varrida pelo fogo IN atingindo todos os oficiais da 1ª CCmds.
Nem o heli escapou mas, aos abanões lá conseguiu levantar com os feridos rumo ao HM 241.
Dali para a frente a acção prosseguiu com o sargento mais antigo a comandar e com o então Capitão Matos Gomes, o menos ferido, a supervisionar.
Fico por aqui, não me alargo mais se não acabo de contar o livro todo.
__________
Notas de vb:
artigo relacionado em 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4359: Tabanca Grande (143): Amadu Bailo Djaló, Alferes Comando Graduado, incorporado no Exército Português em 1962 (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P4637: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (8): À carga no Esquadrão de Cavalaria de Bafatá
1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 27 de Junho de 2009
Caro Carlos:
Ver para crer. Pensava que não era possível melhorar as fotos a preto e branco do último poste mas conseguiste. És o maior.
Saída a última estória, conforme o combinado, aí vai em anexo a n.º 8 para série: A Guerra Vista de Bafatá.
Um abraço.
Fernando Gouveia
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
8 - À carga no Esquadrão de Cavalaria de Bafatá
Pescador no rio Geba ao entardecer, em Bafatá, 1968.
Hoje em dia, nos escritórios, quer do Estado, quer privados, é comum ver aquelas etiquetas autocolantes com código de barras, colocadas em todo o mobiliário e objectos de trabalho, a querer dizer que têm dono, que estão à carga.
Não vou aqui contar aquela estória em que a um colega meu de trabalho e na sua ausência, os almoxarifes, lhe colocaram uma dessas etiquetas num seu objecto pessoal que tinha em cima da secretária e que toda a gente via que de facto era pessoal, menos os fieis zeladores da entidade patronal.
Há quarenta anos ainda não era assim nas empresas ou nas repartições públicas, mas na tropa já se processava esse zelo, como todos muito bem sabem. Tudo estava à carga.
Também não vou contar aqui aquele caso que se passou, com um camarada nosso, no Norte de Moçambique, na zona de Moeda em que na passagem do testemunho entre duas Companhias se verificou que havia um Jeep a mais à carga. Como forma de resolver o problema e para a Companhia que ia embora o poder fazer sem demoras, que a zona de Moeda não era brinquedo, o Jeep foi enterrado.
Vou contar, sim, o que aconteceu, de forma mais simples, mas de certo modo idêntico, com o material à carga no Esquadrão de Rec Fox 2350 instalado ao lado do Comando de Agrupamento de Bafatá, em 1969.
Os três Alferes (às vezes 4 ou 5) do Agrupamento iam comer ao Esquadrão, daí que assisti a todas as fases desta estória caricata.
Em determinada altura um condutor duma auto metralhadora Fox veio de férias à Metrópole e não voltou, desertou. (Não me lembro se já tinha acontecido aquela emboscada em que um rocket IN perfurou a blindagem duma Fox e carbonizou os seus dois ocupantes).
Correu o respectivo auto de deserção. Já depois do auto concluído alguém se lembrou que esse condutor tinha uma pistola distribuída. Todos os responsáveis directos entraram em pânico. Havia que resolver a situação.
Os Alferes do Esquadrão, Rodrigues, Sena, Grosso e Amaral depois de discutirem vários dias como resolver esse berbicacho decidiram que se daria baixa da pistola no próximo ataque IN a Piche (Dien Bien Piche como também era conhecido dada a quantidade de ataques lá verificada, e por similitude com Dien Bien Phu no Vietname), onde tinham um destacamento.
Ao fim de pouco tempo o ataque deu-se e para os nossos cavaleiros o assunto parecia ter sido resolvido em beleza.
Puro engano, alguém descobriu que o desertor possuía um armário fechado e lá dentro, entre outros pertences, que aliás também deveriam ter sido descriminados no auto, estava, a agora, famigerada pistola.
Muito nos divertimos, os Alferes do Agrupamento, com esta última situação criada. Era ver os Aferes do Esquadrão a não quererem, cada um, nas suas mãos a dita pistola. Parecia que queimava.
Passados quarenta anos não recordo como resolveram este último problema, mas das duas uma, ou alguém se presenteou com uma pistola que já não estava à carga ou então tiveram que esperar por um novo ataque a Piche e fazer um novo auto do achamento de uma pistola.
Bajuda da tabanca da Ponte Nova em Bafatá, Possivelmente Saracolé, 1968
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.
A próxima estória será sobre vários factos, divertidos uns, outros pelo contrário, ligados às minhas três férias que gozei na Metrópole, onde entram dois Majores, um militar (o Seidi) preso por espancar a mulher e um comandante da TAP a quem com um atraso de quarenta anos irei agradecer uma atitude que teve para comigo.
Até para a semana camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)
Caro Carlos:
Ver para crer. Pensava que não era possível melhorar as fotos a preto e branco do último poste mas conseguiste. És o maior.
Saída a última estória, conforme o combinado, aí vai em anexo a n.º 8 para série: A Guerra Vista de Bafatá.
Um abraço.
Fernando Gouveia
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
8 - À carga no Esquadrão de Cavalaria de Bafatá
Pescador no rio Geba ao entardecer, em Bafatá, 1968.
Hoje em dia, nos escritórios, quer do Estado, quer privados, é comum ver aquelas etiquetas autocolantes com código de barras, colocadas em todo o mobiliário e objectos de trabalho, a querer dizer que têm dono, que estão à carga.
Não vou aqui contar aquela estória em que a um colega meu de trabalho e na sua ausência, os almoxarifes, lhe colocaram uma dessas etiquetas num seu objecto pessoal que tinha em cima da secretária e que toda a gente via que de facto era pessoal, menos os fieis zeladores da entidade patronal.
Há quarenta anos ainda não era assim nas empresas ou nas repartições públicas, mas na tropa já se processava esse zelo, como todos muito bem sabem. Tudo estava à carga.
Também não vou contar aqui aquele caso que se passou, com um camarada nosso, no Norte de Moçambique, na zona de Moeda em que na passagem do testemunho entre duas Companhias se verificou que havia um Jeep a mais à carga. Como forma de resolver o problema e para a Companhia que ia embora o poder fazer sem demoras, que a zona de Moeda não era brinquedo, o Jeep foi enterrado.
Vou contar, sim, o que aconteceu, de forma mais simples, mas de certo modo idêntico, com o material à carga no Esquadrão de Rec Fox 2350 instalado ao lado do Comando de Agrupamento de Bafatá, em 1969.
Os três Alferes (às vezes 4 ou 5) do Agrupamento iam comer ao Esquadrão, daí que assisti a todas as fases desta estória caricata.
Em determinada altura um condutor duma auto metralhadora Fox veio de férias à Metrópole e não voltou, desertou. (Não me lembro se já tinha acontecido aquela emboscada em que um rocket IN perfurou a blindagem duma Fox e carbonizou os seus dois ocupantes).
Correu o respectivo auto de deserção. Já depois do auto concluído alguém se lembrou que esse condutor tinha uma pistola distribuída. Todos os responsáveis directos entraram em pânico. Havia que resolver a situação.
Os Alferes do Esquadrão, Rodrigues, Sena, Grosso e Amaral depois de discutirem vários dias como resolver esse berbicacho decidiram que se daria baixa da pistola no próximo ataque IN a Piche (Dien Bien Piche como também era conhecido dada a quantidade de ataques lá verificada, e por similitude com Dien Bien Phu no Vietname), onde tinham um destacamento.
Ao fim de pouco tempo o ataque deu-se e para os nossos cavaleiros o assunto parecia ter sido resolvido em beleza.
Puro engano, alguém descobriu que o desertor possuía um armário fechado e lá dentro, entre outros pertences, que aliás também deveriam ter sido descriminados no auto, estava, a agora, famigerada pistola.
Muito nos divertimos, os Alferes do Agrupamento, com esta última situação criada. Era ver os Aferes do Esquadrão a não quererem, cada um, nas suas mãos a dita pistola. Parecia que queimava.
Passados quarenta anos não recordo como resolveram este último problema, mas das duas uma, ou alguém se presenteou com uma pistola que já não estava à carga ou então tiveram que esperar por um novo ataque a Piche e fazer um novo auto do achamento de uma pistola.
Bajuda da tabanca da Ponte Nova em Bafatá, Possivelmente Saracolé, 1968
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.
A próxima estória será sobre vários factos, divertidos uns, outros pelo contrário, ligados às minhas três férias que gozei na Metrópole, onde entram dois Majores, um militar (o Seidi) preso por espancar a mulher e um comandante da TAP a quem com um atraso de quarenta anos irei agradecer uma atitude que teve para comigo.
Até para a semana camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)
Guiné 63/74 - P4636: Vindimas e Vindimados (José Brás) (5): Tudo na mesma em Salancaur
1. . Quinta história da série Vindimas e Vindimados do nosso camarada José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, baseada no seu livro "Vindimas no Capim" (*), enviada na mensagem de 26 de Junho de 2009:
Carlos, amigo
Segue o ritmo
Pena é que duas coisas que mandei, sobre a "Conferência de Coimbra" e sobre a "lista de obras literárias" do Beja Santos, nem lhes sinta o cheiro
Aceita sem preocupação que diga amigavelmente e com admiração, que às vezes parecem ter medo da polémica.
Para mim, a polémica é apenas um meio saudável de dizer "estou aqui, não penso como tu, mas estimo-te e respeito"
Um abraço
José Brás
Tudo na mesma em Salancaur
Vês, Anamaria, a árvore grossa, ali, na direita, à esquerda do caminho que se dirige a Sul por entre a mata alta?
Vês Anamaria, na grossura da árvore, um abrigo que nesse tempo fazíamos apressadamente, debaixo do fogo que nos chegava da outra orla, dali, à direita do outro caminho que deste cruzamento sai, apontando a Norte para Fulacunda e para Nhala, terras por onde não passaste e por isso não imaginas bem onde possam ficar na geografia do mapa que trazes no carro.
Mas eu digo-te Anamaria. A primeira, a que chamo de Fulacunda, confirmando o andar a Norte, talvez uns vinte quilómetros em linha directa. A segunda, Nhala, bifurcando daí a Este, a escassos quilómetros daqui, menos que a outra, não mais de doze, talvez a dez de aonde estamos agora.
Parados no cruzamento de Buba, de costas para o lugar que será a vila e voltados de frente para a estrada que trazemos desde o Quebo, estamos muito perto da cabeceira da antiga pista de descolagem e aterragem de aeronaves.
Sei que este lugar não te diz nada para além da exuberância do verde, do calor húmido que te sufoca e te cola ao corpo a leve roupa que trazes vestida, dos ruídos da mata e da algazarra do grupo de beduínos parados na estrada do Sul, olhando desafiadores aos parentes afastados.
Nem crês no que te digo sobre o medo, sobre a inquietação que nos assaltava de cada vez que tínhamos de passar aqui, carregando coisas do dia-a-dia para o nosso lugar militar do Quebo, aliás, então, Aldeia Formosa de seu nome, nome justo, se compararmos com outros lugares da nossa peregrinação neste País agora novo. Novo porque de nós, velhos, se libertou, lutando, rajadas de costureirinha, morteirada, bazucada, sons de orquestra discorde nos graves e nos altos de cada instrumento, mandando flores de aço que se alojavam no chão à volta, nas almas de soldados, quando não mesmo em suas carnes.
Nem acreditas que alguém poderá ter sentido medo, aqui, uns anos antes. Fixas as árvores e o chão vermelho da estrada e não vez sinais de luta, nem de suor, nem de sangue de branco ou negro. Apuras o ouvido na tentativa de captar o som das armas, o último eco de algum grito velho que por aqui humano tenha deixado, a respiração ofegante do cansaço e da emoção, coisas todas que correram desbragadas nestas paragens, anos a fio.
E desanimas.
A paz que descobres neste silêncio quebrado apenas pelos gritos de aves e da macacada, não podia ter sido fendida alguma vez por raivas e ódios, por lutas de humano contra humano, por medos e coragens desmedidas, por heroísmos e cobardias, sob o troar da metralha e dos morteiros de um e do outro lado da mata.
Olhas à volta e não te apercebes da coluna de viaturas carregadas de comes e bebes, de cunhetes de balas e de caixotes de granadas. Não imaginas motoristas de nervos à flor-da-pele, esperando a cada metro, a bem dizer, a cada centímetro em frente, a explosão final que lhe decepará as pernas ou o corpo todo, numa agonia de morto em percurso final e antecipado, ou na própria alma alguma coisa decepando para o resto dos seus dias, escapando vivo de corpo para continuar a empurrar a vida em frente, na terra natal, nos bindonville de Paris, num sítio qualquer do Luxemburgo ou da Alemanha, subindo e descendo escadas de andaimes dez horas por dia a servir a maçons que lhe gritam em linguagem absurda ordens de pressas em desacordo com o cansaço que traz no corpo desde Afonso Henriques.
E pensas. Pensas que o estrondear de que te falei antes, nos dias de Lisboa, quando nem pensavas chegar aqui a esta humidade que te corta força aos pulmões e encurta oxigénio de que careces nas células e tecidos, pensas que tudo isso não passa de perturbação minha, na memória das coisas e dos factos, ou de arremedo de herói inventado na esquizofrenia de um outro eu qualquer que, a intervalos, pretenda ser.
E sabes de casos assim, em que real e desejado se misturam de tal modo que nem o dono da confusão se apercebe, tornando e tomando o falso por verdadeiro, agindo como se o fosse, e como se fosse o falso o verdadeiro.
E nem eu, que por aqui passei e sofri há trinta anos, nem eu que respirei este ar saturado, que suei a humidade que podes sentir na pele agora, nem eu, vê lá tu, nem eu estou absolutamente seguro do que digo que sei e, ou se sei, o sei porque o digo.
Até eu tenho as minhas dúvidas se a coisa foi assim mesmo ou se sou eu que numa avaria qualquer da mente, mínima que seja, e por isso difícil de detectar, a transformo e agiganto.
A sorte é que é contigo que falo e, tu, de mim, dos meus sinais de fraqueza, das coisas certas e erradas que te conto, não recontas tu com amizades de fora.
Vê bem! Há coisas que tu própria pudeste confirmar, aqui, vindo agora em férias, tendo visto da janela do avião da TAP a descida e a aproximação à pista de Bissau. Aldeias em pontas de terra, cercadas de água, rios que irradiam do mar terra a dentro, rios que correm paralelos, rios que se cruzam e seguem, cada um levando alguma coisa do outro em seu caminho próprio, bolanhas alagadas, tudo água e o verde das matas.
E perguntas-te se seria possível gente de armas na mão ter cruzado toda esta terra, ter assentado vida em quartéis espalhados pela terra, no meio dos matos. No meio de nada.
E lutado. E matado. E morrido. E suado calores de paludismo e saudades da mãe que o havia criado para outra coisa diferente desta.
Mas era. Era mesmo assim e não pinto eu agora mural de enfeite ou figuras de demência.
Neste mesmo lugar onde parámos assinalando-te caminhos, nomes de terras e bolandas várias, aqui mesmo onde pomos nós os pés sem medo de pisar mina, aqui foi que tivemos o nosso baptismo de fogo. No dia da chegada, vê tu, seis dias depois do Cais da Rocha, branquinhos do Inverno de Santa Margarida, almas penadas sem nada a que se agarrassem, incrédulos das palavras dos velhinhos em avisos sobre o cruzamento, sobre a recepção aos piras acabadinhos de chegar. Não foi grande coisa e pouca gente se assustou, acho eu, naquele primeiro dia de Guiné.
Mas eu conto-te o depois. Eu conto, agora que pareces disposta a ouvir sobre esta terra e sobre as quezílias que houve durante muito anos entre os donos dela e os portugas que a ocupavam havia séculos e não queriam abrir mão.
Já te assinalei a estrada que daqui mesmo sai em direcção a Catió, esta para onde agora volto o peito e que iremos andar nas próximas horas até ao almoço prometido em ostras e galinha de xabéu.
Se conseguires imaginar mais quatro a cinco quilómetros a baixo, à esquerda do nosso caminho, bifurcação quase imperceptível nesse tempo aos olhos de quem trilhava a paragem pela primeira vez, mas conhecida de naturais da terra que nos guiavam nesta mata que tu vês e avalias bem ou mal, adentrávamos o trilho mais uns tantos quilómetros, acercando-se a gente demasia a Salancaur, segundo me parecia, então, e confirmo hoje.
Caminhada ainda à luz do dia, pisando chão em cada passo com aquela sensação de "é agora", cem vezes, mil vezes, muitas mil vezes, andando sempre até que a palavra viesse da frente sussurrada homem a homem, Capitães que eram dois, Alferes pelo menos cinco, Furriéis uma catrefa deles, dois pelotões do Corvacho, dois pelotões da 1622, pelotão de foxes, "alto é aqui". Vamos alargando à direita e à esquerda, secções com os seus comandantes, GMC blindada e auto-metralhadoras o mais dissimuladas possível, cumprir turnos conforme indicado no "briefing, metade a dormir, metade de prontidão, a secção do arcanjo avançada em cunha na detecção de movimentos. Abancamos, cada um come a ração apenas de manhã".
Claro que tal conversa não era feita em grupo de mais de cento e vinte homens, como se o propósito fosse caçar rolas no Alentejo, mas repetida de cor pelos Furriéis já industriados na tarde de Buba e na experiência acumulada.
Está certo, Anamaria, está certo que devia ser eu mais pormenorizado no relato do movimento e dos dados, a ti que dificilmente podes imaginar estes jogos de tropas em guerra nos trópicos, se até a mim que os vivi, me parecem agora tão irreais, obrigando-me a este esforço que podes ver no meu rosto, de lembrar sítios, armas, caras de gente jovem com tanta vida para viver e ali na iminência do limite.
Cada um acostou-se como pôde nos troncos grossos das árvores e preparou-se para a noitada até às quatro da matina, hora marcada para os morfes, as rezas, mijar o medo, olhar-se cada um no escuro, afastar pensamentos maus e, seja o que deus quiser.
É bom haver deus para que cada um se agarre a qualquer coisa, se a mãe de cada um está longe e nada pode fazer, cada uma pelo seu um dela.
O objectivo desta romaria, seria o de atacar três aldeias que a informação dizia serem destacamentos da tropa guerrilheira de Salancaur, começando às cinco da manhã pela mais distante, quer dizer, pela mais próxima da grande base deles, destruir, regressar, atacar e destruir na volta outras duas.
Se ainda me recordo os nomes de tais sítios, começando pelo primeiro ataque, seriam Bantael Sila, Dalael Fula e Tombura, nomes que ditos assim nada dizem da outra gente que lá estava nos recantos das moranças, enrolando as seus dedos no arroz comum, cuidando de seus filhos, de suas mulheres, de suas galinhas, do trabalho na lavra da bolanha do dia seguinte.
E da esperança que o PAIGC vinha semeando todo ano e que floria, tanto na época da chuva como no da seca.
E tu sabes, Anamaria, isso tu sabes, que esperança e ânsias de melhor vida não são coisas só de branco, só de rico, só de gente culta.
Foi quando já assentara a agitação da chegada, cada um entregue a si próprio, virado para dentro de si próprio que era onde estava deus, de acordo com o Capelão da companhia, esse padre meio maluco, "que deus me perdoe, com conversas daquelas e cravado na cerveja como qualquer bronco", foi então, acho que já noite bem funda, foi então que começou aquele ventinho tolo, um sopro brando de início, insignificante, refrescante ali, no bafo húmido do antes da madrugada.
Mas subiu de força, pouco a pouco, querendo anunciar qualquer coisa, aumentando, agitando as ramadas altas do arvoredo, agitando ainda mais a alma da gente, tornando-se raivoso, revolvendo tudo, lascando, partindo, trazendo grossos pingos, chuva, dilúvio.
Tempestade tropical.
Cada um, soldados, sargentos e oficiais sentados de rabo nos calcanhares, dobrados em três, joelhos à boca e apertando a G3 entre as pernas, tapando-lhe a boca para evitar água, relâmpagos que iluminavam a mata como se fosse dia, dia a que faltava ainda um bom par de horas para romper, árvores a rachar atingidas pelos raios, nada nos abrigava das cordas grossas da chuva que nos entrava pelo pescoço e descia por dentro da farda, pelo peito, pelos tomates, pelas pernas, até à botas.
Uma boa meia hora nisto e trás! Uma faísca atinge a GMC blindada, pega o fogo a cunhetes de balas, granadas de bazooka e morteiro sessenta, estoirando tudo mais que castanhas em Novembro ou fogo de artifício na Feira de Castro.
Soldados crendo que o inimigo nos detectara, estás a ver Anamaria, e que nos flagelava forte e feio, desatam a disparar também, às cegas, espalhando bala e granada de morteiro a esmo, no risco de se matarem uns aos outros.
Furriéis e alferes conseguiram calar o fogo a poder de berros, mas era tarde e o mal estava feito.
A ordem agora era de defesa, montar emboscada como deus deixava, o nosso deus, está claro, porque o deus deles, que também eles tinham deus, um, ou, calhando, até mais, e esse ou esses deveriam estar agora a mexer pauzinhos para nos tramarem.
Pronto, a surpresa desaparecera e agora, ou retirávamos, ou avançávamos.
A decisão foi avançar um pouco antes da hora da madrugada que havia sido planeada para o primeiro contacto.
Diz-me tu, Anamaria, se não são, se não foram valentes tais homens, temerários, sabendo no vespeiro em que estavam e avançam só porque o rei manada avançar mas não manda chover.
Tínhamos apoio aéreo planeado e víramos mesmo os T6 na pista de Buba antes da saída, caminhando para este cruzamento onde ora estamos descansados.
E tu sabes, Anamaria, o que eu gostaria de ter sido piloto. Desde miúdo, a bem dizer, mas não fui porque não quiseram que fosse, nesse ano, Sargento miliciano piloto.
Bem!
Pouco mais de duzentos metros andámos e sofremos a primeira emboscada. Pequena, com meia dúzia de guerrilheiros que logo retiraram.
Novo avanço e nova emboscada, agora maiorzinha.
De novo retiram e de novo, mais à frente, emboscam, crescendo em quantidade os disparos e o tempo do combate.
Começámos a desconfiar, sobretudo porque a nossa disciplina de fogo não era famosa e muita gente disparava o medo nas balas que enviava.
Sabíamos que a aviação chegaria de manhã clara. Descansávamos nisso.
Quarta emboscada já muito forte e a certeza de que estávamos a entrar no meio de uma perigosa arapuca. Furriéis e até soldados interrogavam-se uns aos outros nos altos dos tiros e dos rebentamentos "mas o que é isto, o que é que querem provar os chefes?"
Ainda assim... a aviação estava ali mesmo à mão e bastava o contacto rádio, ou nem isso, porque ondas sonoras de tiros e rebentamentos chegariam a Buba quase como Relim.
Nem nos apercebemos de intervalo entre a quarta e a quinta. Apenas concluímos tarde de mais que estávamos tramados.
Uma mina anti-pessoal rebentou numa roda de GMC blindada com sacos de terra, obstruindo o trilho e o retorno, carros e auto-metralhadoras Fox já para lá do veículo danificado e sem possibilidades de voltar atrás sob o fogo do PAIGC, naquele pedaço de mata fechada, ainda no lusco-fusco.
Numa das viaturas havíamos montado um AGRC-9 e repetíamos já em desespero um contacto sem resposta. As coisas começavam a ficar mal paradas, havia gente já sem munições, o PAIGC, cercava-nos flagelando sem poupanças, chegou mesmo a haver contacto visual e de voz, um ou outro guerreiro nosso, mais calmo, fazendo tiro-a-tiro, poupando, a metralhadoras das Fox mantendo ainda em respeito o pessoal do outro lado.
Eis senão quando, a esperança retorna no ruído de motores no ar.
O Ávila com o Banharia e a MG adiantados quase a meio caminho entre nós e eles, apenas um ferido, por enquanto, O PAIGC a aproximar-se ainda mais, o PRC-10 iniciou a conversa entre pilotos e o comandante da força em terra, tudo reagrupado num último esforço.
No mergulho do passaredo as ordens correram depressa "toda a gente de cabeça na lama e ouvidos tapados". Houve quem não resistisse a espreitar por entre o emaranhado da mata e visse a intervalos os pachorrentos T6 a vomitar metralha e rockket's, parecendo até que o aviãozinho recuava em cada disparo, ali, poucos metros à nossa frente.
O bafo quente por cima de nós trouxe um cheiro nauseabundo e sufocante. Nem me lembro que os estoiros tenham sido particularmente assustadores.
Acabou tudo, Anamaria.
Por terra chegaram depois reforços que serviram para abraçar a malta e trabalhar na recuperação da GMC.
Mais tarde, já em Buba, percebemos que uma avaria no receptor do nosso rádio não nos permitia ouvir as respostas de Buba aos nossos apelos. A senhora de Fátima, ou fosse que santinha fosse, a quem o pessoal recorria também em casos destes, salvara, ao menos, o emissor.
Em Buba, como se fosse um deles, eu vestia a pele dos pilotos que mergulharam ali com suas carroças para nos safarem.
"Vá! Agora digam mal do pessoal da Força Aérea que ainda algum leva nos cornos".
E tu, Anamaria, tu que irás passar também na bifurcação à esquerda, sem te aperceberes sequer do lugar, nem eu mesmo que lá estive, embora às vezes disso tenha dúvidas, nem suspeitarás das marcas dos pés, dos berros, do som dos tiros que ali trocámos, das mãos que matavam disparando, que se juntavam em oração e se estendiam solidárias e desprendidas.
Nem suspeitarás da morte que se plantou ali em cada tiro, em cada rebentamento, de um lado e do outro, ainda que, do nosso, aparentemente tenham voltado a Buba, todos, vivos e inteiros.
Não suspeitarás sequer que, uma vez mais, tudo ficou na mesma em Salancaur.
José Brás
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4587: Vindimas e Vindimados (José Brás) (4): De bicicleta na guerra
Carlos, amigo
Segue o ritmo
Pena é que duas coisas que mandei, sobre a "Conferência de Coimbra" e sobre a "lista de obras literárias" do Beja Santos, nem lhes sinta o cheiro
Aceita sem preocupação que diga amigavelmente e com admiração, que às vezes parecem ter medo da polémica.
Para mim, a polémica é apenas um meio saudável de dizer "estou aqui, não penso como tu, mas estimo-te e respeito"
Um abraço
José Brás
Tudo na mesma em Salancaur
Vês, Anamaria, a árvore grossa, ali, na direita, à esquerda do caminho que se dirige a Sul por entre a mata alta?
Vês Anamaria, na grossura da árvore, um abrigo que nesse tempo fazíamos apressadamente, debaixo do fogo que nos chegava da outra orla, dali, à direita do outro caminho que deste cruzamento sai, apontando a Norte para Fulacunda e para Nhala, terras por onde não passaste e por isso não imaginas bem onde possam ficar na geografia do mapa que trazes no carro.
Mas eu digo-te Anamaria. A primeira, a que chamo de Fulacunda, confirmando o andar a Norte, talvez uns vinte quilómetros em linha directa. A segunda, Nhala, bifurcando daí a Este, a escassos quilómetros daqui, menos que a outra, não mais de doze, talvez a dez de aonde estamos agora.
Parados no cruzamento de Buba, de costas para o lugar que será a vila e voltados de frente para a estrada que trazemos desde o Quebo, estamos muito perto da cabeceira da antiga pista de descolagem e aterragem de aeronaves.
Sei que este lugar não te diz nada para além da exuberância do verde, do calor húmido que te sufoca e te cola ao corpo a leve roupa que trazes vestida, dos ruídos da mata e da algazarra do grupo de beduínos parados na estrada do Sul, olhando desafiadores aos parentes afastados.
Nem crês no que te digo sobre o medo, sobre a inquietação que nos assaltava de cada vez que tínhamos de passar aqui, carregando coisas do dia-a-dia para o nosso lugar militar do Quebo, aliás, então, Aldeia Formosa de seu nome, nome justo, se compararmos com outros lugares da nossa peregrinação neste País agora novo. Novo porque de nós, velhos, se libertou, lutando, rajadas de costureirinha, morteirada, bazucada, sons de orquestra discorde nos graves e nos altos de cada instrumento, mandando flores de aço que se alojavam no chão à volta, nas almas de soldados, quando não mesmo em suas carnes.
Nem acreditas que alguém poderá ter sentido medo, aqui, uns anos antes. Fixas as árvores e o chão vermelho da estrada e não vez sinais de luta, nem de suor, nem de sangue de branco ou negro. Apuras o ouvido na tentativa de captar o som das armas, o último eco de algum grito velho que por aqui humano tenha deixado, a respiração ofegante do cansaço e da emoção, coisas todas que correram desbragadas nestas paragens, anos a fio.
E desanimas.
A paz que descobres neste silêncio quebrado apenas pelos gritos de aves e da macacada, não podia ter sido fendida alguma vez por raivas e ódios, por lutas de humano contra humano, por medos e coragens desmedidas, por heroísmos e cobardias, sob o troar da metralha e dos morteiros de um e do outro lado da mata.
Olhas à volta e não te apercebes da coluna de viaturas carregadas de comes e bebes, de cunhetes de balas e de caixotes de granadas. Não imaginas motoristas de nervos à flor-da-pele, esperando a cada metro, a bem dizer, a cada centímetro em frente, a explosão final que lhe decepará as pernas ou o corpo todo, numa agonia de morto em percurso final e antecipado, ou na própria alma alguma coisa decepando para o resto dos seus dias, escapando vivo de corpo para continuar a empurrar a vida em frente, na terra natal, nos bindonville de Paris, num sítio qualquer do Luxemburgo ou da Alemanha, subindo e descendo escadas de andaimes dez horas por dia a servir a maçons que lhe gritam em linguagem absurda ordens de pressas em desacordo com o cansaço que traz no corpo desde Afonso Henriques.
E pensas. Pensas que o estrondear de que te falei antes, nos dias de Lisboa, quando nem pensavas chegar aqui a esta humidade que te corta força aos pulmões e encurta oxigénio de que careces nas células e tecidos, pensas que tudo isso não passa de perturbação minha, na memória das coisas e dos factos, ou de arremedo de herói inventado na esquizofrenia de um outro eu qualquer que, a intervalos, pretenda ser.
E sabes de casos assim, em que real e desejado se misturam de tal modo que nem o dono da confusão se apercebe, tornando e tomando o falso por verdadeiro, agindo como se o fosse, e como se fosse o falso o verdadeiro.
E nem eu, que por aqui passei e sofri há trinta anos, nem eu que respirei este ar saturado, que suei a humidade que podes sentir na pele agora, nem eu, vê lá tu, nem eu estou absolutamente seguro do que digo que sei e, ou se sei, o sei porque o digo.
Até eu tenho as minhas dúvidas se a coisa foi assim mesmo ou se sou eu que numa avaria qualquer da mente, mínima que seja, e por isso difícil de detectar, a transformo e agiganto.
A sorte é que é contigo que falo e, tu, de mim, dos meus sinais de fraqueza, das coisas certas e erradas que te conto, não recontas tu com amizades de fora.
Vê bem! Há coisas que tu própria pudeste confirmar, aqui, vindo agora em férias, tendo visto da janela do avião da TAP a descida e a aproximação à pista de Bissau. Aldeias em pontas de terra, cercadas de água, rios que irradiam do mar terra a dentro, rios que correm paralelos, rios que se cruzam e seguem, cada um levando alguma coisa do outro em seu caminho próprio, bolanhas alagadas, tudo água e o verde das matas.
E perguntas-te se seria possível gente de armas na mão ter cruzado toda esta terra, ter assentado vida em quartéis espalhados pela terra, no meio dos matos. No meio de nada.
E lutado. E matado. E morrido. E suado calores de paludismo e saudades da mãe que o havia criado para outra coisa diferente desta.
Mas era. Era mesmo assim e não pinto eu agora mural de enfeite ou figuras de demência.
Neste mesmo lugar onde parámos assinalando-te caminhos, nomes de terras e bolandas várias, aqui mesmo onde pomos nós os pés sem medo de pisar mina, aqui foi que tivemos o nosso baptismo de fogo. No dia da chegada, vê tu, seis dias depois do Cais da Rocha, branquinhos do Inverno de Santa Margarida, almas penadas sem nada a que se agarrassem, incrédulos das palavras dos velhinhos em avisos sobre o cruzamento, sobre a recepção aos piras acabadinhos de chegar. Não foi grande coisa e pouca gente se assustou, acho eu, naquele primeiro dia de Guiné.
Mas eu conto-te o depois. Eu conto, agora que pareces disposta a ouvir sobre esta terra e sobre as quezílias que houve durante muito anos entre os donos dela e os portugas que a ocupavam havia séculos e não queriam abrir mão.
Já te assinalei a estrada que daqui mesmo sai em direcção a Catió, esta para onde agora volto o peito e que iremos andar nas próximas horas até ao almoço prometido em ostras e galinha de xabéu.
Se conseguires imaginar mais quatro a cinco quilómetros a baixo, à esquerda do nosso caminho, bifurcação quase imperceptível nesse tempo aos olhos de quem trilhava a paragem pela primeira vez, mas conhecida de naturais da terra que nos guiavam nesta mata que tu vês e avalias bem ou mal, adentrávamos o trilho mais uns tantos quilómetros, acercando-se a gente demasia a Salancaur, segundo me parecia, então, e confirmo hoje.
Caminhada ainda à luz do dia, pisando chão em cada passo com aquela sensação de "é agora", cem vezes, mil vezes, muitas mil vezes, andando sempre até que a palavra viesse da frente sussurrada homem a homem, Capitães que eram dois, Alferes pelo menos cinco, Furriéis uma catrefa deles, dois pelotões do Corvacho, dois pelotões da 1622, pelotão de foxes, "alto é aqui". Vamos alargando à direita e à esquerda, secções com os seus comandantes, GMC blindada e auto-metralhadoras o mais dissimuladas possível, cumprir turnos conforme indicado no "briefing, metade a dormir, metade de prontidão, a secção do arcanjo avançada em cunha na detecção de movimentos. Abancamos, cada um come a ração apenas de manhã".
Claro que tal conversa não era feita em grupo de mais de cento e vinte homens, como se o propósito fosse caçar rolas no Alentejo, mas repetida de cor pelos Furriéis já industriados na tarde de Buba e na experiência acumulada.
Está certo, Anamaria, está certo que devia ser eu mais pormenorizado no relato do movimento e dos dados, a ti que dificilmente podes imaginar estes jogos de tropas em guerra nos trópicos, se até a mim que os vivi, me parecem agora tão irreais, obrigando-me a este esforço que podes ver no meu rosto, de lembrar sítios, armas, caras de gente jovem com tanta vida para viver e ali na iminência do limite.
Cada um acostou-se como pôde nos troncos grossos das árvores e preparou-se para a noitada até às quatro da matina, hora marcada para os morfes, as rezas, mijar o medo, olhar-se cada um no escuro, afastar pensamentos maus e, seja o que deus quiser.
É bom haver deus para que cada um se agarre a qualquer coisa, se a mãe de cada um está longe e nada pode fazer, cada uma pelo seu um dela.
O objectivo desta romaria, seria o de atacar três aldeias que a informação dizia serem destacamentos da tropa guerrilheira de Salancaur, começando às cinco da manhã pela mais distante, quer dizer, pela mais próxima da grande base deles, destruir, regressar, atacar e destruir na volta outras duas.
Se ainda me recordo os nomes de tais sítios, começando pelo primeiro ataque, seriam Bantael Sila, Dalael Fula e Tombura, nomes que ditos assim nada dizem da outra gente que lá estava nos recantos das moranças, enrolando as seus dedos no arroz comum, cuidando de seus filhos, de suas mulheres, de suas galinhas, do trabalho na lavra da bolanha do dia seguinte.
E da esperança que o PAIGC vinha semeando todo ano e que floria, tanto na época da chuva como no da seca.
E tu sabes, Anamaria, isso tu sabes, que esperança e ânsias de melhor vida não são coisas só de branco, só de rico, só de gente culta.
Foi quando já assentara a agitação da chegada, cada um entregue a si próprio, virado para dentro de si próprio que era onde estava deus, de acordo com o Capelão da companhia, esse padre meio maluco, "que deus me perdoe, com conversas daquelas e cravado na cerveja como qualquer bronco", foi então, acho que já noite bem funda, foi então que começou aquele ventinho tolo, um sopro brando de início, insignificante, refrescante ali, no bafo húmido do antes da madrugada.
Mas subiu de força, pouco a pouco, querendo anunciar qualquer coisa, aumentando, agitando as ramadas altas do arvoredo, agitando ainda mais a alma da gente, tornando-se raivoso, revolvendo tudo, lascando, partindo, trazendo grossos pingos, chuva, dilúvio.
Tempestade tropical.
Cada um, soldados, sargentos e oficiais sentados de rabo nos calcanhares, dobrados em três, joelhos à boca e apertando a G3 entre as pernas, tapando-lhe a boca para evitar água, relâmpagos que iluminavam a mata como se fosse dia, dia a que faltava ainda um bom par de horas para romper, árvores a rachar atingidas pelos raios, nada nos abrigava das cordas grossas da chuva que nos entrava pelo pescoço e descia por dentro da farda, pelo peito, pelos tomates, pelas pernas, até à botas.
Uma boa meia hora nisto e trás! Uma faísca atinge a GMC blindada, pega o fogo a cunhetes de balas, granadas de bazooka e morteiro sessenta, estoirando tudo mais que castanhas em Novembro ou fogo de artifício na Feira de Castro.
Soldados crendo que o inimigo nos detectara, estás a ver Anamaria, e que nos flagelava forte e feio, desatam a disparar também, às cegas, espalhando bala e granada de morteiro a esmo, no risco de se matarem uns aos outros.
Furriéis e alferes conseguiram calar o fogo a poder de berros, mas era tarde e o mal estava feito.
A ordem agora era de defesa, montar emboscada como deus deixava, o nosso deus, está claro, porque o deus deles, que também eles tinham deus, um, ou, calhando, até mais, e esse ou esses deveriam estar agora a mexer pauzinhos para nos tramarem.
Pronto, a surpresa desaparecera e agora, ou retirávamos, ou avançávamos.
A decisão foi avançar um pouco antes da hora da madrugada que havia sido planeada para o primeiro contacto.
Diz-me tu, Anamaria, se não são, se não foram valentes tais homens, temerários, sabendo no vespeiro em que estavam e avançam só porque o rei manada avançar mas não manda chover.
Tínhamos apoio aéreo planeado e víramos mesmo os T6 na pista de Buba antes da saída, caminhando para este cruzamento onde ora estamos descansados.
E tu sabes, Anamaria, o que eu gostaria de ter sido piloto. Desde miúdo, a bem dizer, mas não fui porque não quiseram que fosse, nesse ano, Sargento miliciano piloto.
Bem!
Pouco mais de duzentos metros andámos e sofremos a primeira emboscada. Pequena, com meia dúzia de guerrilheiros que logo retiraram.
Novo avanço e nova emboscada, agora maiorzinha.
De novo retiram e de novo, mais à frente, emboscam, crescendo em quantidade os disparos e o tempo do combate.
Começámos a desconfiar, sobretudo porque a nossa disciplina de fogo não era famosa e muita gente disparava o medo nas balas que enviava.
Sabíamos que a aviação chegaria de manhã clara. Descansávamos nisso.
Quarta emboscada já muito forte e a certeza de que estávamos a entrar no meio de uma perigosa arapuca. Furriéis e até soldados interrogavam-se uns aos outros nos altos dos tiros e dos rebentamentos "mas o que é isto, o que é que querem provar os chefes?"
Ainda assim... a aviação estava ali mesmo à mão e bastava o contacto rádio, ou nem isso, porque ondas sonoras de tiros e rebentamentos chegariam a Buba quase como Relim.
Nem nos apercebemos de intervalo entre a quarta e a quinta. Apenas concluímos tarde de mais que estávamos tramados.
Uma mina anti-pessoal rebentou numa roda de GMC blindada com sacos de terra, obstruindo o trilho e o retorno, carros e auto-metralhadoras Fox já para lá do veículo danificado e sem possibilidades de voltar atrás sob o fogo do PAIGC, naquele pedaço de mata fechada, ainda no lusco-fusco.
Numa das viaturas havíamos montado um AGRC-9 e repetíamos já em desespero um contacto sem resposta. As coisas começavam a ficar mal paradas, havia gente já sem munições, o PAIGC, cercava-nos flagelando sem poupanças, chegou mesmo a haver contacto visual e de voz, um ou outro guerreiro nosso, mais calmo, fazendo tiro-a-tiro, poupando, a metralhadoras das Fox mantendo ainda em respeito o pessoal do outro lado.
Eis senão quando, a esperança retorna no ruído de motores no ar.
O Ávila com o Banharia e a MG adiantados quase a meio caminho entre nós e eles, apenas um ferido, por enquanto, O PAIGC a aproximar-se ainda mais, o PRC-10 iniciou a conversa entre pilotos e o comandante da força em terra, tudo reagrupado num último esforço.
No mergulho do passaredo as ordens correram depressa "toda a gente de cabeça na lama e ouvidos tapados". Houve quem não resistisse a espreitar por entre o emaranhado da mata e visse a intervalos os pachorrentos T6 a vomitar metralha e rockket's, parecendo até que o aviãozinho recuava em cada disparo, ali, poucos metros à nossa frente.
O bafo quente por cima de nós trouxe um cheiro nauseabundo e sufocante. Nem me lembro que os estoiros tenham sido particularmente assustadores.
Acabou tudo, Anamaria.
Por terra chegaram depois reforços que serviram para abraçar a malta e trabalhar na recuperação da GMC.
Mais tarde, já em Buba, percebemos que uma avaria no receptor do nosso rádio não nos permitia ouvir as respostas de Buba aos nossos apelos. A senhora de Fátima, ou fosse que santinha fosse, a quem o pessoal recorria também em casos destes, salvara, ao menos, o emissor.
Em Buba, como se fosse um deles, eu vestia a pele dos pilotos que mergulharam ali com suas carroças para nos safarem.
"Vá! Agora digam mal do pessoal da Força Aérea que ainda algum leva nos cornos".
E tu, Anamaria, tu que irás passar também na bifurcação à esquerda, sem te aperceberes sequer do lugar, nem eu mesmo que lá estive, embora às vezes disso tenha dúvidas, nem suspeitarás das marcas dos pés, dos berros, do som dos tiros que ali trocámos, das mãos que matavam disparando, que se juntavam em oração e se estendiam solidárias e desprendidas.
Nem suspeitarás da morte que se plantou ali em cada tiro, em cada rebentamento, de um lado e do outro, ainda que, do nosso, aparentemente tenham voltado a Buba, todos, vivos e inteiros.
Não suspeitarás sequer que, uma vez mais, tudo ficou na mesma em Salancaur.
José Brás
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4587: Vindimas e Vindimados (José Brás) (4): De bicicleta na guerra
Guiné 63/74 - P4635: FAP (31): Uma viagem de heli a Bafatá, em 1969, com o cmdt Diogo Neto e o casal Ivette e Pierre Fargeas (Jorge Félix)
Que nostalgia, que saudade, que morabeza! ... Perfeita a escolha da música do Charles Aznavour, a sua canção Te espero, em espanhol, com seu sotaque meio francês e meio arménio... Um rapaz do mundo, com idade de ser nosso pai (n. 1924...), pai da nossa geração dos baby boomers...
Pasa el tiempo y sin ti no sé vivir / la razón es para mí siempre sufrir / y ahora el viento al pasar me da a entender / que en la vida sólo a ti esperaré (*). ... (Alguém me sabe dizer qual é a versão original, ou o título, em francês? Vd. o sítio oficial do cantor)...
Uma canción desesperada, uma canção, eterna, para um amor talvez impossível, um amor sofrido, uma canção que fica aqui tão bem quando olhamos para o passado, quando tínhamos vinte anos e estávamos na guerra... (Tens razão, António Rosinha, a musiquinha faz-nos muito falta no blogue, só que eu não tenho jeito para piratear e há normas legais e regras editoriais, mas todas as sugestões são bem vindas...).
Jorge: Gosto muito do plano em que estás tu, aparentemente concentrado na tua missão, mas de repente viras-te para trás... e pedes um cigarro!... (Aí temi pela segurança do heli e da tua preciosa carga...).
Como éramos todos tão apaixonados pelas vida (e pelas lindas mulheres....), como éramos todos tão conscientemente irresponsáveis, como éramos todos tão sem jeito, como éramos todos tão inconscientemente loucos, optimistas e generosos, como éramos todos já tão maduros e tão sofridos, como éramos todos... (Porra, Jorge, que me fazes chorar! )...
No vídeo, montado pelo Jorge Félix (Alf Mil Pil, BA 12, Bissalanca, 1968/70), reconhece-se o casal Fargeas e o Cor Pilav Diogo Neto. (Na foto, à esquerda, um foto actual do Pierre Fargeas, técnico de manutenção do Al III).
O heli parte de Bissalanca e faz uma viagem até Bafatá, sobrevoando as bolanhas, as tabancas, a avenida principal da bela vila colonial (ainda não tinha o estatuto de cidade em 1969), a catedral, o mercado... No heliporto são recebidos por militares que, muito provavelmente, o nosso camarada Fernando Gouveia, um rapaz desse tempo, que trabalhou sob as ordens do Hélio Felhas, no Comando de Agrupamento, é capaz e reconhecer... Visita, a pé, ao encantador mercado de Bafatá, de arquitectura revivalista, e regresso a Bissalanca, à BA 12, ao longo do Rio Geba... (Tudo sítios que eu conheci, por água e terra...).
Obrigado, Jorge, isto faz-te tão bem à alma, a ti e a todos nós!!! ... Obrigado por teres regressado... Obrigado por teres voltado ao bricolage das emoções e das imagens... Obrigado também ao teu amigo Fargeas que te facultou o filme (feito, na época, em 8 mm, suponho).
O que é feito dele, hoje ? Vive em França, ainda com a sua belíssima Ivete ? Convida-o a vir até à nossa Tabanca Grande, sentar-se debaixo do nosso poilão e contar as suas histórias de Bissalanca(e quiçá de Bissau, Bafatá, Bolama, Bijagós)... Ele pode escrever em francês, que a gente traduz... Este homem tem cinco anos de comissão na Guiné! Ele também é um Zé Especial... (LG)
Vídeo (2' 44''): Alojado no You Tube (Cortesia de Jorge Félix). © Jorge Félix 2009). Direitos reservados.
1. Mensagem de ontem, do Jorge Félix (**):
Caro Luís:
Segue o endereço de um vídeo que eu fiz com imagens que me foram enviadas pelo Senhor Pierre Fargeas, homem da fábrica dos Allouettes III, que fazia a sua manutenção em Bissalanca nos anos 1969 até 1974.
Fiz uma pequena montagem das imagens, onde estou a guiar o heli, segue ao meu lado esquerdo a esposa do Pierre, Ivette Fargeas, e depois uns senhores que não me recordo o nome. O Coronel é o meu comandante Diogo Neto.
Aqueles que atabancaram em Bafatá conhecem melhor que eu as imagens. Isto aconteceu no ano de 1969. Se achares bem, publica no nosso Blog (***).
Abraço
Jorge Félix
________
Notas de L.G.:
(*) Letra de Charles Aznavour, canção Te espero
Pasa el tiempo y sin ti no sé vivir,
la razón es para mí siempre sufrir,
y ahora el viento al pasar me da a entender
que en la vida sólo a ti esperaré.
Yo recuerdo tu mirar y tu besar,
tu sonrisa bajo el sol primaveral,
estoy solo sin saber lo que tú harás,
en mi alma hay dolor al esperar.
Ven... a mí ven no tardes más,
ven por favor te ruego yo,
no podré esperar ven a mí,
yo quiero saber si has de venir,
por fin así dímelo amor.
Es la herida que envejece sin piedad,
más mi amor siempre será eternidad,
en mis blancas noches tú revivirás
el recuerdo de mi amor al despertar.
En mi mente siempre como un altar
y tu rostro grabo en mí para soñar
el momento ha de llegar muy pronto ya
y veré la realidadal despertar.
Ven... ven a mí ven, ven no tardes más,
ven por favor te ruego yo no podré esperar,
ven... oh ven a mí yo... yo quiero saber
si has de venir por fin así dímelo amor.....
(**) Vd. postes anteriores do Jorge (podem não estar todos...):
27 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2587: Gandembel: Será que ainda estão vivos os jovens que eu evacuei, em Outubro de 1968 ? (Jorge Félix, ex Alf Mil Piloto Aviador)
28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)
12 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2627: Vídeos da Guerra (8): Nha Bolanha (Jorge Félix, ex-Alf Mil Piloto Aviador, 1968/70)
23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)
30 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3380: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (10): Quando a guerra era com os copos... ou o elogio do Tosco, em Lisboa (Jorge Félix)
6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3412: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (11): Ainda o Honório, o Jagudi... ou o puro gozo de voar (Jorge Félix)
1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3546: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (14): Em Junho de 69 havia bajudas a alternar no Tosco, na Conde Redondo (Jorge Félix)
11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3604: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (15): Eu, o Duarte, o Coelho, o Nico... mais o Jubilé do Honório (Jorge Félix)
16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3904: FAP (13): Nha Bolanha, o Ramos, o Jorge Caiano, o Manso, o corta-fogo do AL III, Bissalanca... (Jorge Félix)
1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3953: O Spínola que eu conheci (3): Um homem de carácter (Jorge Félix)
1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)
(***) Vd. último poste desta série > 28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4597: FAP (30): Ferro Q.B. para acalmar as hostes (Miguel Pessoa)
Guiné 63/74 - P4634: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (13): A desonra da CCAV 8350 ou o direito a contar a minha versão... (Constantino Costa)
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Imagens do arquartelamento da tabanca e aquartelamento, cinco ou seis anos antes do seu abandono, em 22 de Maio de 1973, uma decisão do comandante do COP 5, o então major Coutinho e Lima, que ainda hoje é objecto de controvérsia. Fotos do nosso saudoso Zé Neto (1929-2007).
Fotos: © Zé Neto / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
1. O que é prometido, é devido. Limadas algumas arestas (técnicas, comunicacionais e éticas), eis a primeira mensagem (revista e melhorada), enviada, na qualidade de membro da nossa Tabanca Grande (*), pelo camarada Constantino Costa, que vive em São João da Madeira e que foi um dos bravos de Guileje, tendo pertencido à CCav 8350 (Guileje e Gadamael, 1972/73):
[Fixação / revisão de texto / negritos: L.G.]
Camarada Luís Graça e restantes Camaradas da Guiné,
Nunca foi meu propósito ofender quem quer que fosse (**) e, por isso, considero despropositadas algumas das tuas críticas, bem como a forma, muito pouco educada e deselegante, como os visados reagiram ao teor do meu e-mail (**) .
A razão da sua existência só pretende recordar a alguns dos tertulianos, que aquilo que se passou em Guileje e Gadamael, foi muito além do que até agora resolveram narrar e que tenho vindo a ler muito atentamente.
Foram omitidos factos importantes que, em meu entender, indirectamente, provocaram a fuga de Guileje. Digo, assumidamente, fuga porque antes mesmo dela ter acontecido, a
actividade operacional do pessoal se limitava, praticamente, ao interior do aquartelamento, registando-se apenas algumas saídas esporádicas.
O tertuliano ex-Alferes Manuel Reis, mostra algum esquecimento ao afirmar "não lembrar ao diabo, que eu tivesse elaborado relatórios de patrulhamentos não efectuados e está no
seu pleno direito em tal esquecimento". Mas eu não lhe admito que insinue, que é mentira o que eu afirmo, porque se há alguém que se "esqueceu" não fui eu certamente.
No seguimento, não quero deixar passar em claro a afirmação do ex-Alferes Manuel Reis, de que “essa de elaborar relatórios de patrulhamentos, não efectuados, não lembra ao diabo”, e permito-me dizer que não sou eu de forma alguma responsável pela seu "esquecimento" no que respeita a este assunto. Qualquer pessoa menos atenta no aquartelamento sabia deste facto.
Também não lhe admito a insinuação de que por detrás das minhas afirmações estará alguém a ajustar o tiro. Sou Homem, maior e vacinado, para assumir e me responsabilizar por todos os meus gestos, e por tudo aquilo que afirmo.
Afirma, ainda este tertuliano que em Gadamael, no dia em que o major saiu sob prisão, os soldados o encarregaram, conjuntamente com o ex-Alferes João Seabra, de falar com ele e
transmitir-lhe a sua solidariedade. E mais, disponibilizando-se para impedir a sua saída o que não corresponde à verdade. É que, caso não saibam, eu também estive em Gadamael.
Mais diz que o major nos convívios é sempre alvo de manifestações de carinho, mas não acrescentou que aos ditos convívios, raramente, comparece mais do que 50% dos efectivos da CCAV 8350.
Apesar desta declaração de admiração e carinho por parte do ex-Alferes Manuel Reis, este num dos seus e-mails, refere que existem camaradas que discordam da decisão tomada pelo major, em Guilege. Em que ficamos afinal?
Para sua informação (mais uma vez mal informado), estive presente nos convívios efectuados em, Condeixa, Santa Maria da Feira e Pombal. Não são muitos, mas são alguns.
Luís Graça, até aqui creio que as críticas são simples e legítimas!
Num à parte, gostaria de observar que os ex-Alferes João Seabra, Manuel Reis e o ex-Furriel Casimiro de Carvalho, apesar de terem dito que desconhecem a existência da minha pessoa, sabem muito bem a quem se referem mas, por razões óbvias, pretendem fazer crer o contrário o que, diga-se em abono da verdade, pouco me afecta.
O ex-Furriel Carvalho refere que em relação aos “camaradas mortos em combate eu os devia honrar”.
No meu e-mail, não vejo em parte alguma, qualquer referência menos honrosa aos meus Camaradas mortos em combate. Se o furriel não concorda comigo, terá interpretado mal as minhas palavras, mas isso não lhe concede o direito de insinuar indignamente, que proferi uma única palavra menos correcta para com esses nossos infelizes camaradas e amigos!
Ainda em relação à tão nefasta patrulha, gostaria de saber onde se encontrava o nosso 2º Comandante, que permitiu que os seus homens saíssem para o mato deficientemente armados e só com 12 efectivos.
Ao ex-Furriel Carvalho quero dizer que não pretendo de forma alguma beliscar a sua actuação em Gadamael Porto, que considero muito corajosa, mas concorde comigo, que a referência a actos de coragem, para uma eventual atribuição de medalhas, ou outras condecorações, deve partir de terceiros e não serem referenciadas pelos próprios candidatos às mesmas.
Não é verdade que não tem tido qualquer contenção em referir os seus actos e a sua indignação pelo facto de não se terem lembrado de si?
Sei que se portou com valentia, mas um pouco de modéstia ficava-lhe bem. Admito que não se recorde do que se passou na tal patrulha efectuada em Colibuia, nos arredores do aquartelamento, mas os factos são um pouco diferentes daquilo que relatou, já que a suposta emboscada do IN aconteceu durante a noite, com o pessoal todo a disparar sem nexo, tendo vindo a verificar-se que, afinal, o tal IN, não passava de um bando de macacos.
O outro suposto ataque aconteceu nos arredores de Gadamael, quando um pelotão se encontrava nos arredores do aquartelamento. Ouviram-se, ao longe, alguns disparos e de imediato todo o pelotão fugiu deixando no solo algumas armas, que logo depois foram recuperadas. Aí sim, eram 4 inimigos.
Quanto ás declarações do ex-Alferes João Seabra, teço as seguintes considerações:
Este tertuliano tenta irónica e depreciativamente referenciar a minha actividade na secretaria da CCAV 8350 e, sobre isso, tenho a dizer que se me encontrava na secretaria, foi porque alguém, com poderes para isso, assim o tinha decidido. E mais, não necessitei de cunhas para alcançar esse estatuto, muito menos para ser colocado em Bissau. “Creio que aqui, para bom entendedor meia palavra basta”.
Não quero deixar de referir que, para quem tem uma memória tão viva, se esqueça, que eu fui eleito por unanimidade (oficiais, sargentos e praças) como sendo o representante, junto da CCAV 8350, do (tristemente célebre) Movimento das Forças Armadas, com delegação de poderes conferidos pelo então Capitão António Vieira.
Num exemplar acto de exibicionismo (barato) cultural e linguístico o ex-Alferes João Seabra, refere o verbo omitir como transativo, complemento directo, fazendo alarde dos seus
conhecimentos como se os outros se tratassem de analfabetos ou ignorantes.
Não lhe fica bem a sua vaidade e sede de protagonismo. Antes fica-lhe mal sinceramente!
Quanto a omissões e outras, permito-me questionar-lhes o seguinte:
- Onde estava o 2º Comandante quando o aquartelamento estava a ser atacado pelo IN e todos se recusavam a fazer serviços nos postos de sentinela?
- Onde estava quando era necessário efectuar obras de segurança nos limites do aquartelamento, para protecção da CCAV 8350 e da respectiva população?
- Onde estava(m) quando foi necessário regular o tiro do obus de 14 cm e do morteiro 10,7 cm?
- Onde estava quando algumas mulheres africanas se deslocaram à bolanha para se abastecerem de água e foram atacadas. Não só não lhes foi efectuada a devida protecção, como após o ataque se recusaram a socorrê-las, de imediato, tendo o major de se colocar à frente dos nossos camaradas para que lhes fosse prestado o devido auxílio.
- Onde estava(m) quando o Bari se deslocava pelo aquartelamento, como se de um amigo se tratasse, tendo a protecção do Capitão Abel Quintas e que, mais tarde, se juntou ao IN prestando-lhe informações de vital importância?
- Onde estava(m) quando a força aérea pediu informações sobre os ataques do IN, lhes foi dito que não sabiam de onde aqueles partiam e para bombardearem tudo á volta do aquartelamento?
- Onde estava(m) quando eram elaborados os relatórios de patrulhamentos que nunca foram efectuados? Recordo-lhes que ao contrário do que dizem os abrigos estavam praticamente
intactos.
- Onde estava(m) e quem se recusou a efectuar a protecção ao major, quando este pretendia deslocar-se de Guileje para Gadamael? Alguém foi responsabilizado? Claro que não!
- Quem permitiu que, aquando da fuga de Guileje, lá tivessem sido deixados 2 morteiros de 60 mm, cerca de 10 G-3 e importantes documentos(?) (cartas geográficas militares), que o IN veio, posteriormente, a utilizar?
-Porque é que nos convívios nunca referiram o que na realidade se passou durante a reunião de oficiais na véspera da fuga? Falem sobre isto!
O major Coutinho e Lima alega que, mesmo que chegassem reforços, estes demorariam entre dois a três dias a chegar, e que não conseguiria aguentar o aquartelamento naquelas condições, mas esta sua tese vai por água abaixo, dado que só passados três dias é que o IN invadiu o aquartelamento. Mais diz, que a fuga teve como objectivo evitar um massacre, porque, dizem, o IN se encontrava nas imediações do aquartelamento.
Nada mais errado como se veio então a verificar.
Passados mais de 35 anos, é por demais evidente que alguns procuram tentar justificar um acto que nada teve de digno, e que apenas enxovalhou a honra e dignidade da CCAV 8350, as Forças Armadas Portuguesas e Portugal.
É uma vã tentativa tentar ilibar o major de uma decisão que, essa sim, foi irresponsável e perigosíssima, porque se pensarem bem poderia ter originado um massacre, caso o IN tivesse detectado o nosso movimento de fuga e atacado em força.
O que dirão aqueles que abnegadamente e corajosamente sofreram (e continuam a sofrer), tendo-se mantido nos seus postos e cumprido o seu dever até ao fim? Bem sabem que nem todos fugiram!
O que diriam hoje aqueles que, involuntariamente, perderam a vida em vão, em Guileje e Gadamael? Alguém lhes concedeu uma oportunidade para fugirem também? Que vergonha!
Não critiquem negativa e depreciativamente aqueles que tentam dar as suas visões e pareceres diferentes, nem omitam e deturpem os factos sobre o que aconteceu em Guileje e
Gadamael, adulterando situações como se fossem os únicos donos da verdade, ignorando a lealdade, a realidade e o rigor.
Nunca foi minha intenção ofender ou humilhar quem quer que seja, mas não posso estar calado ouvindo, ou lendo, sobre acontecimentos ocorridos em Guileje e, ou, Gadamael sem dar a minha modesta contribuição no sentido de revelar e esclarecer algumas situações, direi para não ferir susceptibilidades, algo obscuras e confusas.
Não aceito que os ex-Alferes João Seabra e Manuel Reis, cheguem ao ponto de criticarem a actuação dos (então) seus superiores hierárquicos, casos dos Generais António Spínola e Almeida Bruno, do Coronel Rafael Durão, Capitão Ferreira da Silva e outros, como se estes tivessem contribuído de alguma forma para o descalabro de Guileje ou Gadamael. “Convém sacudir a água do capote”.
Antes pelo contrário, o Major Coutinho e Lima, Capitão Abel Quintas, Alferes João Seabra e Manuel Reis (2ºs. Cmdts) agem como Pilatos, lavando as mãos e atribuindo as culpas a terceiros. Não é digno!
O camarada Luís Graça, entre outras coisas, diz que estranha o teor da minha primeira mensagem, porque eu não me apresentei como devia ser.
Convém esclarecer que além do meu nome, Constantino Costa, indiquei a minha CCAV 8350, como tendo estado ao seu serviço e, ainda mais, que tinha estado em Guileje e Gadamael.Não referi os Piratas de Guileje apenas devido ao facto da minha aversão à palavra piratas e a tudo o que ela significa.
Mais diz Luís Graça que fiz acusações gratuitas e graves a antigos camaradas, Major Coutinho e Lima, Cap Abel Quintas, Alferes João Seabra, Alf Manuel Reis e Fur Casimiro de Carvalho, e a isso vou tentar responder a seguir com clareza:
1º. No presente texto continuo a afirmar que foram omitidos, alterados e distorcidos alguns dos factos narrados pelos visados.
2º. Na minha opinião pessoal o Major Coutinho e Lima nunca esteve à altura do cargo e bem mereceu a punição que lhe foi aplicada, embora eu admita que talvez tenha exagerado, porque, pensando bem, nem tudo o que o Major fez foi mal feito.
Mas convém não esquecer que o Major Coutinho e Lima infringiu gravemente regulamentos militares de então. Não está em causa se tinha ou não motivos para o fazer, é facto que ele desobedeceu a uma ordem legítima do Comandante-Chefe do CTIG.
O Major, e volto a frisar que estas são as minhas opiniões pessoais, não só não tinha o direito de desobedecer, como sequer de questionar essa mesma ordem. “O Cor Rafael Durão é que era o mau da fita”.
3º. Em boa verdade, reafirmo que elaborei relatórios de patrulhamentos, que nunca foram efectuados, sendo assinados pelos comandantes e, posteriormente, enviados para Bissau.
4º. Nas frases por mim proferidas, só falo em oportunismo porque nos vários textos publicados, pelos visados, abundam as referências a actos de heroísmo dos próprios, como se eles tivessem sido os únicos intervenientes nos tão trágicos acontecimentos. Então o resto da Companhia, não estava lá? Se duvidam, releiam os vossos textos.
Não é verdade que a CCAV, tivesse sofrido nove mortos em combate, dado que houve quem morresse afogado, quando tentavam fugir para Cacine. Quem omitiu este facto?
5º. O Fur Casimiro de Carvalho refere que, antes da emboscada fatal disse a dois colegas muito novos, que não partissem juntamente com os 12 colegas para o tal patrulhamento por ter pena dos mesmos.
Compreendo a sua intenção, mas convém sublinhar que mais 2 homens poderiam ter feito diferença que bastasse. Dos 12 homens que saíram, voltaram 8, um deles gravemente
ferido. Isto vem demonstrar, mais uma vez, que na CCAV não havia nem rei nem roque.
Ao contrário do que diz o ex-Alferes João Seabra eu recordo-me muito bem dele, e sempre pensei que fosse uma pessoa recatada e inimiga de protagonismo mas, pelos vistos, enganei-me. É por demais evidente que tem o dom da palavra, da qual usa e abusa, em proveito das suas façanhas descritas.
Com alguma ironia diz que eu fazia alguns biscates como "dactilógrafo" de confiança, mas o que é verdade, é que sempre estive no local dos acontecimentos, não necessitando de uma qualquer cunha para ser colocado em Bissau.
Também se esquece de referir que dada a recusa de alguns (muitos), a efectuarem postos de sentinela durante os cerrados ataques do IN, recorriam ao tal "dactilógrafo" para o fazer.
Mais ignora que visto ninguém querer fazer fogo com o morteiro de 60 mm, o colocaram nas mãos do tal "dactilógrafo". Mais esquece que, quando quase todos abandonavam Gadamael Porto, esse "dactilógrafo" conseguiu convencer alguns a regressar e não o viu no local.
Quanto às omissões creio que, quem se der ao trabalho de ler o meu texto, comprovará que são muitas.
É claro que não fazia parte do seu pelotão (ainda bem), mas como não sou surdo e os seus homens não eram mudos. As notícias espalhavam-se e por isso se sabia que os patrulhamentos não eram efectuados até ao local indicado. Por favor, não queira "tapar o sol com uma peneira".
Também é facto que o ex-alf João Seabra não fugiu de Gadamael, mas a verdade é que raramente era visto juntos dos subordinados.
Em 1 de Junho de 1973, o ex-Alferes Manuel Reis encontrava-se em Gadamael e também é verdade que, nessa data, aí estava colocada uma Companhia de Pára-quedistas. Creio
que as datas a que se refere são de pouca relevância.
Quem tivesse estado próximo do rio de Gadamael, facilmente se teria apercebido que aí se encontravam oficias e sargentos das duas companhias, e alguns deles acabaram por atravessar o rio em direcção a Cacine.
Um último comentário me merece a sua narrativa sobre a emboscada tida a cerca de 2 quilómetros do aquartelamento, onde diz que chegou a fazer fogo com um LGF, apanhou
um morteiro de 60 mm e ainda quebrou a G-3 ao atirar-se para um buraco. Desculpe-me, mas aqui está uma cena para dizer que não se tratava de um simples militar, mas de um autêntico Rambo.
Com actos como e descrito, bastavam meia dúzia de militares do calibre do ex-Alf João Seabra para, em pouco tempo, termos derrotado o IN e só foi pena que não tivesse agido assim, quando podia e devia tê-lo feito.
O que penso do Major Coutinho e Lima tem a ver essencialmente com o facto de ter sido o autor do primeiro e único abandono das tropas portuguesas de um quartel militar, desgraçando o bom nome (constantemente enxovalhada) da Companhia de Cavalaria 8350, e por conseguinte o dos seus sacrificados militares.
Desobedeceu a uma ordem legítima dada pelo seu superior directo, desonrou as forças armadas e, agora, tem tentado captar a simpatia e colaboração daqueles que não mereceu comandar. Pode o major Coutinho e Lima dizer o que disser, mas muitos sabem, e jamais esquecerão, o que se passou em Guileje, apesar de todas as tentativas orquestradas nesse sentido.
O major Coutinho e Lima acusa-me de pretender protagonismo, mas não sou eu que tenho andado de convívio em convívio e a publicar em livro a versão, para si mais conveniente, numa vã tentativa de convencer tudo e todos de que na verdade a decisão de fugir de Guileje foi uma atitude heróica (como já li), e que dignificou, assim, não só os militares da CCAV 8350, como as Forças Armadas Portuguesas.
Porque é que o major Coutinho e Lima não relata no seu livro que uma parte da população de Guileje não queria abandoná-la? O major sabe que isto é verdade!
O major Coutinho e Lima acha que tomou a atitude correcta sabendo que em breve iria ser substituído?
Se tivesse acontecido um massacre o major assumiria a responsabilidade?
O major afirma que foi o Capitão Abel Quintas, que proferiu a tristemente célebre frase: “O aquartelamento está cercada por todos os lados”. Onde se encontrava então o Capitão Abel Quintas?
O major Coutinho e Lima pode reunir inúmeras qualidades pessoais, mas eu considero que, como militar, não cumpriu. Peço-lhe, humilde e sensatamente, que se remeta ao silêncio.
O major fala em propaganda que eu talvez não mereça, no entanto quero dizer-lhe que por três vezes estive presente em almoços convívios da CCAV 8350 e estive tentado a
cumprimentá-lo, mas tê-lo-ia feito pela pessoa, não como militar.
Com toda a franqueza lhe digo que tenho muito orgulho por ter sido militar (soldado), em serviço na Guiné. O mesmo não diria se tivesse sido Comandante do COP. Também é verdade que nunca o senhor foi ilibado, mas sim amnistiado, o que é bem diferente.
Porque é que noutras zonas, os militares altamente massacradas pelo IN, diariamente, não abandonaram as suas instalações e se mantiveram firmes nas suas posições, apesar de terem sofrido um elevado número de feridos e mortos?
Admitam que a avaliação da situação em Guileje foi prematura e que o IN não concentrava a maior parte das suas forças nas proximidades do quartel, assim como admitam também, era possível resistir durante mais alguns dias até á chegada de reforços.
A aviação não sabia para onde havia de fazer fogo ou largar as bombas, porque não tinha as necessárias indicações precisas de quem as havia de ter.
Ninguém saia do quartel excepto um grupo de africanas, para se abastecer de água sem que lhe fosse concedida a devida protecção.
Quase todos se recusavam a fazer turnos de sentinela e tiveram de recorrer ao "dactilógrafo biscateiro”.
Ao General Spínola são feitas acusações gratuitas e covardes. Deixem a sua memória em paz, por favor.
Em 21/Maio/1973, o major Coutinho e Lima, regressou de Gadamael, salvo erro, com a protecção de 2 grupos de combate e chegou ileso a Guileje, isto apesar de dizerem que Guileje estava cercada.
Durante a fuga de Guileje um africano bateu com um pau numa colmeia de abelhas e alguns gritaram que era o IN, sendo o suficiente para que grande número de militares fugissem em debandada largando as armas no meio de um grande alarido. Onde estava o IN então?
Quantas vezes o grupo de serviço ao abastecimento de água se deslocava entre 3 a 4 km e, apesar do que afirmam, apenas alguns iam armados. Agora alguns dizem que o
abastecimento de água se efectuava sob fortes medidas de segurança. Nada mais falso!
Todos sabemos que o Cor Rafael Durão recebeu ordens para comandar o COP em substituição do Major Coutinho e Lima. O Cor Rafael Durão já se encontrava em Gadamael quando lá chegámos, pronto para seguir viagem para Guileje. Alguém acredita que um homem de confiança, e braço direito do Gen Spínola, após analisar a situação em Guileje, não informaria de imediato o Comando-Chefe e este rapidamente não enviaria reforços ?! No mínimo, peço menos leviandade na análise da situação de Guileje.
Haja a humildade de reconhecer que não haviam reais motivos, para se abandonar Guileje e que este reconhecimento mais dignificaria aqueles que contribuíram para o enxovalhamento da Ccav 8350 e das Forças Armadas Portuguesas, contribuindo para humilhação e total desrespeito daqueles que deram o seu melhor em prol dos seus camaradas e amigos, e população.
A ausência de evacuações dos feridos foi um mau pretexto para se anularem as saídas para o mato em acções de patrulhamento, o que permitiu ao IN efectuar incursões esporádicas nas imediações do aquartelamento. Se, anteriormente, as acções de patrulhamento eram reduzidas, então a partir de determinada data foram pura e simplesmente anuladas.
Como já antes referi não é verdade que Guileje estivesse reduzida a escombros dado que de todos os abrigos só um foi atingido, sem que daí resultasse qualquer vítima.
Gostaria de salientar que durante o 1º. trimestre de 1973 as nossas tropas sofreram 135 mortos em combate e só Guileje foi abandonado. Em Guidage morreram 39 militares, mas os sobreviventes continuaram no seu posto, contrariados ou não.
Em Gadamael, apesar das baixas mortais e das deploráveis condições de sobrevivência, alguns (bravos) permaneceram no seu posto.
O Major Coutinho e Lima sabia que o COP tinha como objectivo fazer face ao previsível agravamento da guerra no sul da Guiné. Que medidas tomou?
O Cap Manuel Monge também pediu autorização para abandonar Gadamael, mas como lhe foi negada autorização, não deu ordem de retirada. Fraco ?
Permitam-me que relembre que, quando o IN fazia fogo para o aquartelamento, daí se recusavam a fazer fogo para não denunciarem as suas posições. Tínhamos potentes obuses de 14 cm (?) e não respondíamos ao fogo IN (isto não lembraria ao próprio diabo).
Em 22-02-1973, Casimiro de Carvalho, escreve que tem “havido poucas saídas para o mato”.
Em 21-03-1973, Casimiro de Carvalho, escreve que “cada vez há menos patrulhas e que é quase só dormir e efectuar tarefas dentro do quartel”.
Em 25-03-1973, novamente, Casimiro de Carvalho, diz haver ordem de saída que foi anulada talvez porque estivesse marcado algum jogo de futebol.
Durante os bombardeamentos a Guileje os artilheiros raramente se atreviam a sair dos abrigos. Entre 19 e 21-05-1973, foram efectuadas 14 missões pela força aérea sem que o major as refira no seu livro.
No seu livro o major refere que em Guileje só houve uma baixa em combate, o que não é verdade.
Num aparte permito-me observar camarada Luís Graça, que sobre as minhas palavras teceste algumas considerações menos correctas, mas não te vi tão interessado em questionar os visados pelas suas declarações, que não passam de filmes para não admitir o cabal esclarecimento sobre os factos na reconstituição da história de Guilege.
As afirmações do ex-Alf Manuel Reis roçam o insulto e em nada dignificam o seu autor. Ele não admite que se discorde da "sua" verdade?
Em que pensava o ex-Alf João Seabra, ao entregar alguns documentos ao Nuno Rubim, e lhe disse, “para não dar como bom tudo o que lhe contou sem exame crítico e confronto com outras fontes”. Contradição?
Quem afirmou que a sua amizade com o Major Coutinho e Lima poderia prejudicar a sua real análise sobre os acontecimentos de Guileje?
Chegam ao cúmulo de afirmar que o IN acertou em quase todas as instalações de Guileje o que está longe da verdade. Só um abrigo foi ligeiramente atingido.
O ex-Alf João Seabra afirma que o aquartelamento de Guileje praticamente não tinha valas, mas o quê, ou quem, o impediu que tais valas fossem previamente executadas, não foi ele 2º. Cmdt?
Em caso de assalto ao quartel de onde é que se ripostaria, dado que os abrigos só possuíam entrada/saída?
Lamento que toda a sua argúcia, discernimento, capacidade de análise e poder de decisão, não tivessem sido utilizadas em Guileje.
Dizem que raramente tinham o apoio da força aérea, mas ao mesmo tempo afirmam que durante as colunas de abastecimento se encontrava, na pista de Guileje, uma DO-27 armada com roquetes e foguetes. Palavras do ex-alferes João Seabra.
Durante a emboscada sofrida pelo 2º Grupo do quartel fizeram fogo com o morteiro 10,7 cm, mas de imediato foi mandado suspender o fogo dado que as granadas caíram muito próximo dos homens emboscados. O seu especialista (Furriel Neves) encontrava-se entre o grupo emboscado. Como se compreende que tenha saído para o mato? Regular o tiro? Não foi efectuada a regulação de tiro do morteiro 10,7 cm? De quem foi a (ir)responsabilidade de ordenar a sua saída?
Infelizmente o passeio acabou em tragédia, com vítimas mortais. Foram atribuídas responsabilidades? É claro que não!
O obus de 14 cm também não fez fogo porque, também, ainda não tinha sido efectuada a sua regulação de tiro.
O protagonismo (?) do ex-Alf João Seabra vai ao ponto de, na sua narrativa sobre a referida emboscada, já ter tido o discernimento de poder constatar (deduzir) que o IN não praticou um grande feito de armas dado que, com um pouco de mais de 12 homens (o que demonstra que não sabia quantos homens tinha o seu grupo), sem esquecer que também se encontrava no local o grupo de combate do ex-Alf Manuel Reis (comandados por um alferes), que o IN (nas suas palavras) tinha a obrigação de os abater a todos. O mesmo afirma que apesar de não ter avistado o IN, aqueles deviam ser entre 40 a 70(57%).
O major Coutinho e Lima, no seu livro, refere que na dita emboscada participaram cerca de 100 elementos do IN. Porque não 1.000?
Ainda diz que se tivesse avançado teria sido uma carnificina. A que documentos recorreram para afirmarem que a artilharia de Guileje estava inoperacional?
Ao longo de mais de 35 anos tenho estado em contacto com alguns camaradas de Guilege e Gadamael (CCAV 8350 / Pel Art / Comp Pára-quedistas) e todos aceitam como verídica a minha versão dos factos ocorridos naqueles locais.
É indecente insinuar que estou a mando de alguém, quando só pretendo corrigir e acrescentar alguns factos, o que não teria feito se a vossa narração tivesse sido mais rigorosa.
Chegou-se ao ponto de, irresponsavelmente, se deixar de efectuar patrulhamentos pelo facto de não estarem reunidas condições de garantia, para evacuação de feridos e, com
isso, se permitiu que o IN se aproximasse do aquartelamento em pequenos grupos. Houve aqui sensatez?
Por conveniência, também se têm socorrido de relatórios referentes a operações que não passaram do papel.
Continuo a afirmar que foram inúmeras as vezes que as patrulhas ficarem aquém do local indicado, e tanto é verdade que ligavam para o quartel a indicarem o local onde estavam, para que dali não fizessem fogo (bater a zona) para o local indicado.
Um dos intervenientes em Gadamael (Sarg pára Carmo Vicente), também tece considerações nada elogiosas para a CCAV 8350, assim como sobre muitos dos intervenientes na guerra travada na Guiné.
Carmo Vicente, entre outras coisas, afirma que todos os militares apoiaram o Major Coutinho e Lima, o que não corresponde à verdade. Só pode ser um reflexo das suas ideias infectadas por alinhamentos político-partidários com certeza.
Na sua análise sobre a guerra na Guiné a sua cegueira política em relação a diversos intervenientes retirou-lhe o discernimento, para efectuar comentários justos e imparciais.
Carmo Vicente é um homem cheio de ódio e amargura, o que não lhe permite distinguir os bons dos maus, atacando tudo e todos.
Numa das suas crónicas (1985) refere que os botes servidos para evacuar feridos, foram assaltados por uma avalanche de desertores. Sugiro-lhe que tenha a hombridade de mencionar o número de desertores das Companhias de Pára-quedistas instaladas em Gadamael. Ou nega a sua existência?
Não posso deixar de referir os filmes e documentários ultimamente exibidos, tão plenos de falsidade que me causa revolta e repugnância.
Luís Graça, dizes que tenho dificuldade em lidar com o contraditório, mas permite-me corrigir-te dizendo-te que, o que me custa, é lidar com omissões, ou versões imprecisas e incorrectas, criadas por pessoas que não admitem que estão erradas.
A verdade dos acontecimentos não pode ser exclusiva do ex-Major Coutinho e Lima, ex-Cap Abel Quintas e ex-Alferes João Seabra e Manuel Reis.
No meio de tudo isto o Casimiro de Carvalho (que foi um valente), tem sofrido uma lavagem ao cérebro. Esse sim, lutou com valentia!
Luis Graça, o meu acompanhamento da evolução do blogue, permite-me dizer-te que denotei alguns sinais teus de proteccionismo e parcialidade, para com alguns elementos da tabanca e as suas versões. Não pode ser assim. Tens que ser 100% imparcial, de modo a criar admiração, confiança e condições, que motivem a aderência de outros camaradas nossos ao blogue.
Estranho que no teu e-mail aludas ao facto de não seres obrigado a reproduzir os meus esclarecimentos e por isso permito-me reparar que também não creio seres obrigado a publicar qualquer outro esclarecimento, venha ele de quem vier. Enfim, critérios!
Ao visitar o teu blogue qualquer pessoa mais atenta notará que muitos dos tertulianos ainda não enviaram as respectivas fotografias e por isso me surpreende tanta insistência.
Tenho falado com camaradas que manifestam interesse em participar no blogue, mas eles temem sentir-se diferenciados dos restantes camaradas bloguistas.
Repito que para demonstrar que estou de amizade e boa fé, peço para aderir como novo camarada tertuliano, para o que enviarei as fotos solicitadas.
Termino esta mensagem reservando-me ao direito de nunca mais tornar a incomodar o pessoal com este assunto. Pela minha parte, sobre esta negra fase da guerra relativa a Guileje e Gadamael, está tudo dito.
Agradeço a publicação deste meu e-mail.
Mais agradeço a atenção dispensada, desejando a todos os Camaradas da Guiné felicidades e boa sorte.
Constantino Costa
2. Comentário de L.G.:
Troquei com o Constantino alguns mails e falámos ao telefone, antes de chegarmos até aqui, até ao dia de hoje. Passámos a conhecermo-nos melhor e sobretudo a comunicar melhor. Ainda ontem lhe telefonei para reforçar os meus votos de boas vindas à nossa Tabanca Grande.
Não vou aqui dar conta das nossas conversas privadas (ou de bastidores). Ele tinha evocado, inicialmente, o seu direito de resposta (aos comentários que lhe foram feitos no bogue) e eu pus-lhe algumas condições prévias. Primeiro, reiterei o meu convite para ele integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande, o que significava também respeitar as nossas regras de convívio. O que ele aceitou, mau grado algumas reservas iniciais. Por minha parte, procurei esforçar-me por convencê-lo de que aqui, no blogue, não sou (nem posso ser) o advogado de defesa de ninguém. Claro que os amigos e camaradas da Guiné também são meus amigos e camaradas.
Por outro lado, também era importante que o Constantino percebesse que o nosso blogue não pode transformar-se num tribunal em que se julgam os veteranos de guerra, e em que há uns que são os juízes, os outros os acusadores e um terceiro grupo os réus…
Aqui não há juízes, nem acusadores nem réus. O que não quer dizer que a gente não possa discordar, uns dos outros, na apreciação e até no relato dos factos que respeitam à Guiné e à guerra no período de 1963/74…
Ficou, claro, para nós, que uma das regras de ouro do nosso blogue (mas também mais difíceis de cumprir por todos nós) é a manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, evitando deliberadamente as picardias, as polémicas acaloradas, as interpelações pessoais, os insultos, a violência verbal...
Voltando ao discurso directo:
Meu caro Constantino, Guileje / Gadamael é, para ti e para todos nós, um dossiê doloroso… (Chamaste-lhe a fase negra da guerra...). Sobre Guileje temos, no nosso blogue, mais de 220 referências (postes com a palavra-chave Guileje), contra pouco mais de 60 sobre Guidage e 70 sobre Gadamael (***)... Estamos à beira da saturação do tema. E dificilmente chegaremos a um consenso sobre alguns dos pontos mais controversos da resposta das NT à ofensiva desencadeada pelo PAIGC, em Maio / Junho de 1973 (Op Amílcar Cabral).
O teu depoimento é mais uma peça importante de um protagonista dos acontecimentos… Agradeço o esforço (notável) que fizeste por o tornar aceitável, para efeitos de publicação no nosso blogue, eliminando ou corrigindo imprecisões e excessos de linguagem.
Todos nós - tu, na CCav 8350, eu, na CCaç 12 - em épocas diferentes, em sítios diferentes temos boas e más recordações, dos sítios, das gentes, dos camaradas, dos superiores hierárquicos... Tínhamos e temos (ainda) hoje diferentes versões da guerra e da sua legitimidade... Mais: não temos que ter a mesma leitura da história, nem dos acontecimentos, nem do antes em do depois... Se calhar temos ainda contas para ajustar do tempo da guerra... Eu tinha, já perdoei, mas não esqueci...
Não te pedi (nem peço) para ser politicamente correcto. Nem a ti nem a ninguém, seria matar o blogue... Peço apenas aos meus camaradas da Guiné que contem a sua história, a sua versão dos acontecimentos de que foram protagonistas ou testemunhas, com objectividade, assertividade, autenticidade, honestidade intelectual, etc., valorizando os factos e recusando fazer juízos de valor sobre o comportamento (humano e operacional) dos camaradas que estão vivos...
Meu caro Constantino, estamos hoje de acordo sobre este e outros pontos: a entrada pela via da polémica da insinuação e da interpelação pessoal (na tua mensagem original, dirigias-te várias vezes aos teus camaradas, nestes termos: o senhor isto, o senhor aquilo) também não era a melhor maneira de darmos início a uma relação que se queria(quer) no mínimo civilizada, e se possível amistosa.
Como o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande, dir-te-ei apenas: até logo, camarada!
__________
Notas de L.G.:
(*) 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4625: Tabanca Grande (157): Constantino Costa (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/74)
(**) Vd. 5 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)
[Inclui comentários de: Coutinho e Lima, J. Casimiro Carvalho, João Seabra, Manuel Reis]
Vd. postes anteriores desta série:
14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)
1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)
23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)
24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)
27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)
29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)
1 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)
4 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3982: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (7): Ferreira da Silva, ex-Capitão Comando, novo comandante do COP 5 a partir de 31/5/1973
15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4035: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (8): Amigo Paiva, confirmas que fomos vítimas de ameaças e pressões (Manuel Reis)
23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)
1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)
14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)
(***) Já agora, para além de Guileje (220), Gadamael (70) e Guidaje, aqui vão os outros sítios mais citados no nosso blogue (não se inclui a I Série, de Abril de 2005 a Maio de 2006):
Bambadinca: 200
Bissau: 136
Missirá: 88
Mampatá: 85
Gandembel: 84
Cufar: 83
Catió: 63
Bafatá: 60
Nhacra não conta: as 200 citações que vêm nas estatísticas, referem-se a rascunhos, postes não publicados; resulta de um erro de sistema, que lentamentre tem vindo a ser corrigido. A seguir a a Guileje e a Bambadinca, o marcador do nosso top ten é Tabanca Grande, com 156 referências...
Fotos: © Zé Neto / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
1. O que é prometido, é devido. Limadas algumas arestas (técnicas, comunicacionais e éticas), eis a primeira mensagem (revista e melhorada), enviada, na qualidade de membro da nossa Tabanca Grande (*), pelo camarada Constantino Costa, que vive em São João da Madeira e que foi um dos bravos de Guileje, tendo pertencido à CCav 8350 (Guileje e Gadamael, 1972/73):
[Fixação / revisão de texto / negritos: L.G.]
Camarada Luís Graça e restantes Camaradas da Guiné,
Nunca foi meu propósito ofender quem quer que fosse (**) e, por isso, considero despropositadas algumas das tuas críticas, bem como a forma, muito pouco educada e deselegante, como os visados reagiram ao teor do meu e-mail (**) .
A razão da sua existência só pretende recordar a alguns dos tertulianos, que aquilo que se passou em Guileje e Gadamael, foi muito além do que até agora resolveram narrar e que tenho vindo a ler muito atentamente.
Foram omitidos factos importantes que, em meu entender, indirectamente, provocaram a fuga de Guileje. Digo, assumidamente, fuga porque antes mesmo dela ter acontecido, a
actividade operacional do pessoal se limitava, praticamente, ao interior do aquartelamento, registando-se apenas algumas saídas esporádicas.
O tertuliano ex-Alferes Manuel Reis, mostra algum esquecimento ao afirmar "não lembrar ao diabo, que eu tivesse elaborado relatórios de patrulhamentos não efectuados e está no
seu pleno direito em tal esquecimento". Mas eu não lhe admito que insinue, que é mentira o que eu afirmo, porque se há alguém que se "esqueceu" não fui eu certamente.
No seguimento, não quero deixar passar em claro a afirmação do ex-Alferes Manuel Reis, de que “essa de elaborar relatórios de patrulhamentos, não efectuados, não lembra ao diabo”, e permito-me dizer que não sou eu de forma alguma responsável pela seu "esquecimento" no que respeita a este assunto. Qualquer pessoa menos atenta no aquartelamento sabia deste facto.
Também não lhe admito a insinuação de que por detrás das minhas afirmações estará alguém a ajustar o tiro. Sou Homem, maior e vacinado, para assumir e me responsabilizar por todos os meus gestos, e por tudo aquilo que afirmo.
Afirma, ainda este tertuliano que em Gadamael, no dia em que o major saiu sob prisão, os soldados o encarregaram, conjuntamente com o ex-Alferes João Seabra, de falar com ele e
transmitir-lhe a sua solidariedade. E mais, disponibilizando-se para impedir a sua saída o que não corresponde à verdade. É que, caso não saibam, eu também estive em Gadamael.
Mais diz que o major nos convívios é sempre alvo de manifestações de carinho, mas não acrescentou que aos ditos convívios, raramente, comparece mais do que 50% dos efectivos da CCAV 8350.
Apesar desta declaração de admiração e carinho por parte do ex-Alferes Manuel Reis, este num dos seus e-mails, refere que existem camaradas que discordam da decisão tomada pelo major, em Guilege. Em que ficamos afinal?
Para sua informação (mais uma vez mal informado), estive presente nos convívios efectuados em, Condeixa, Santa Maria da Feira e Pombal. Não são muitos, mas são alguns.
Luís Graça, até aqui creio que as críticas são simples e legítimas!
Num à parte, gostaria de observar que os ex-Alferes João Seabra, Manuel Reis e o ex-Furriel Casimiro de Carvalho, apesar de terem dito que desconhecem a existência da minha pessoa, sabem muito bem a quem se referem mas, por razões óbvias, pretendem fazer crer o contrário o que, diga-se em abono da verdade, pouco me afecta.
O ex-Furriel Carvalho refere que em relação aos “camaradas mortos em combate eu os devia honrar”.
No meu e-mail, não vejo em parte alguma, qualquer referência menos honrosa aos meus Camaradas mortos em combate. Se o furriel não concorda comigo, terá interpretado mal as minhas palavras, mas isso não lhe concede o direito de insinuar indignamente, que proferi uma única palavra menos correcta para com esses nossos infelizes camaradas e amigos!
Ainda em relação à tão nefasta patrulha, gostaria de saber onde se encontrava o nosso 2º Comandante, que permitiu que os seus homens saíssem para o mato deficientemente armados e só com 12 efectivos.
Ao ex-Furriel Carvalho quero dizer que não pretendo de forma alguma beliscar a sua actuação em Gadamael Porto, que considero muito corajosa, mas concorde comigo, que a referência a actos de coragem, para uma eventual atribuição de medalhas, ou outras condecorações, deve partir de terceiros e não serem referenciadas pelos próprios candidatos às mesmas.
Não é verdade que não tem tido qualquer contenção em referir os seus actos e a sua indignação pelo facto de não se terem lembrado de si?
Sei que se portou com valentia, mas um pouco de modéstia ficava-lhe bem. Admito que não se recorde do que se passou na tal patrulha efectuada em Colibuia, nos arredores do aquartelamento, mas os factos são um pouco diferentes daquilo que relatou, já que a suposta emboscada do IN aconteceu durante a noite, com o pessoal todo a disparar sem nexo, tendo vindo a verificar-se que, afinal, o tal IN, não passava de um bando de macacos.
O outro suposto ataque aconteceu nos arredores de Gadamael, quando um pelotão se encontrava nos arredores do aquartelamento. Ouviram-se, ao longe, alguns disparos e de imediato todo o pelotão fugiu deixando no solo algumas armas, que logo depois foram recuperadas. Aí sim, eram 4 inimigos.
Quanto ás declarações do ex-Alferes João Seabra, teço as seguintes considerações:
Este tertuliano tenta irónica e depreciativamente referenciar a minha actividade na secretaria da CCAV 8350 e, sobre isso, tenho a dizer que se me encontrava na secretaria, foi porque alguém, com poderes para isso, assim o tinha decidido. E mais, não necessitei de cunhas para alcançar esse estatuto, muito menos para ser colocado em Bissau. “Creio que aqui, para bom entendedor meia palavra basta”.
Não quero deixar de referir que, para quem tem uma memória tão viva, se esqueça, que eu fui eleito por unanimidade (oficiais, sargentos e praças) como sendo o representante, junto da CCAV 8350, do (tristemente célebre) Movimento das Forças Armadas, com delegação de poderes conferidos pelo então Capitão António Vieira.
Num exemplar acto de exibicionismo (barato) cultural e linguístico o ex-Alferes João Seabra, refere o verbo omitir como transativo, complemento directo, fazendo alarde dos seus
conhecimentos como se os outros se tratassem de analfabetos ou ignorantes.
Não lhe fica bem a sua vaidade e sede de protagonismo. Antes fica-lhe mal sinceramente!
Quanto a omissões e outras, permito-me questionar-lhes o seguinte:
- Onde estava o 2º Comandante quando o aquartelamento estava a ser atacado pelo IN e todos se recusavam a fazer serviços nos postos de sentinela?
- Onde estava quando era necessário efectuar obras de segurança nos limites do aquartelamento, para protecção da CCAV 8350 e da respectiva população?
- Onde estava(m) quando foi necessário regular o tiro do obus de 14 cm e do morteiro 10,7 cm?
- Onde estava quando algumas mulheres africanas se deslocaram à bolanha para se abastecerem de água e foram atacadas. Não só não lhes foi efectuada a devida protecção, como após o ataque se recusaram a socorrê-las, de imediato, tendo o major de se colocar à frente dos nossos camaradas para que lhes fosse prestado o devido auxílio.
- Onde estava(m) quando o Bari se deslocava pelo aquartelamento, como se de um amigo se tratasse, tendo a protecção do Capitão Abel Quintas e que, mais tarde, se juntou ao IN prestando-lhe informações de vital importância?
- Onde estava(m) quando a força aérea pediu informações sobre os ataques do IN, lhes foi dito que não sabiam de onde aqueles partiam e para bombardearem tudo á volta do aquartelamento?
- Onde estava(m) quando eram elaborados os relatórios de patrulhamentos que nunca foram efectuados? Recordo-lhes que ao contrário do que dizem os abrigos estavam praticamente
intactos.
- Onde estava(m) e quem se recusou a efectuar a protecção ao major, quando este pretendia deslocar-se de Guileje para Gadamael? Alguém foi responsabilizado? Claro que não!
- Quem permitiu que, aquando da fuga de Guileje, lá tivessem sido deixados 2 morteiros de 60 mm, cerca de 10 G-3 e importantes documentos(?) (cartas geográficas militares), que o IN veio, posteriormente, a utilizar?
-Porque é que nos convívios nunca referiram o que na realidade se passou durante a reunião de oficiais na véspera da fuga? Falem sobre isto!
O major Coutinho e Lima alega que, mesmo que chegassem reforços, estes demorariam entre dois a três dias a chegar, e que não conseguiria aguentar o aquartelamento naquelas condições, mas esta sua tese vai por água abaixo, dado que só passados três dias é que o IN invadiu o aquartelamento. Mais diz, que a fuga teve como objectivo evitar um massacre, porque, dizem, o IN se encontrava nas imediações do aquartelamento.
Nada mais errado como se veio então a verificar.
Passados mais de 35 anos, é por demais evidente que alguns procuram tentar justificar um acto que nada teve de digno, e que apenas enxovalhou a honra e dignidade da CCAV 8350, as Forças Armadas Portuguesas e Portugal.
É uma vã tentativa tentar ilibar o major de uma decisão que, essa sim, foi irresponsável e perigosíssima, porque se pensarem bem poderia ter originado um massacre, caso o IN tivesse detectado o nosso movimento de fuga e atacado em força.
O que dirão aqueles que abnegadamente e corajosamente sofreram (e continuam a sofrer), tendo-se mantido nos seus postos e cumprido o seu dever até ao fim? Bem sabem que nem todos fugiram!
O que diriam hoje aqueles que, involuntariamente, perderam a vida em vão, em Guileje e Gadamael? Alguém lhes concedeu uma oportunidade para fugirem também? Que vergonha!
Não critiquem negativa e depreciativamente aqueles que tentam dar as suas visões e pareceres diferentes, nem omitam e deturpem os factos sobre o que aconteceu em Guileje e
Gadamael, adulterando situações como se fossem os únicos donos da verdade, ignorando a lealdade, a realidade e o rigor.
Nunca foi minha intenção ofender ou humilhar quem quer que seja, mas não posso estar calado ouvindo, ou lendo, sobre acontecimentos ocorridos em Guileje e, ou, Gadamael sem dar a minha modesta contribuição no sentido de revelar e esclarecer algumas situações, direi para não ferir susceptibilidades, algo obscuras e confusas.
Não aceito que os ex-Alferes João Seabra e Manuel Reis, cheguem ao ponto de criticarem a actuação dos (então) seus superiores hierárquicos, casos dos Generais António Spínola e Almeida Bruno, do Coronel Rafael Durão, Capitão Ferreira da Silva e outros, como se estes tivessem contribuído de alguma forma para o descalabro de Guileje ou Gadamael. “Convém sacudir a água do capote”.
Antes pelo contrário, o Major Coutinho e Lima, Capitão Abel Quintas, Alferes João Seabra e Manuel Reis (2ºs. Cmdts) agem como Pilatos, lavando as mãos e atribuindo as culpas a terceiros. Não é digno!
O camarada Luís Graça, entre outras coisas, diz que estranha o teor da minha primeira mensagem, porque eu não me apresentei como devia ser.
Convém esclarecer que além do meu nome, Constantino Costa, indiquei a minha CCAV 8350, como tendo estado ao seu serviço e, ainda mais, que tinha estado em Guileje e Gadamael.Não referi os Piratas de Guileje apenas devido ao facto da minha aversão à palavra piratas e a tudo o que ela significa.
Mais diz Luís Graça que fiz acusações gratuitas e graves a antigos camaradas, Major Coutinho e Lima, Cap Abel Quintas, Alferes João Seabra, Alf Manuel Reis e Fur Casimiro de Carvalho, e a isso vou tentar responder a seguir com clareza:
1º. No presente texto continuo a afirmar que foram omitidos, alterados e distorcidos alguns dos factos narrados pelos visados.
2º. Na minha opinião pessoal o Major Coutinho e Lima nunca esteve à altura do cargo e bem mereceu a punição que lhe foi aplicada, embora eu admita que talvez tenha exagerado, porque, pensando bem, nem tudo o que o Major fez foi mal feito.
Mas convém não esquecer que o Major Coutinho e Lima infringiu gravemente regulamentos militares de então. Não está em causa se tinha ou não motivos para o fazer, é facto que ele desobedeceu a uma ordem legítima do Comandante-Chefe do CTIG.
O Major, e volto a frisar que estas são as minhas opiniões pessoais, não só não tinha o direito de desobedecer, como sequer de questionar essa mesma ordem. “O Cor Rafael Durão é que era o mau da fita”.
3º. Em boa verdade, reafirmo que elaborei relatórios de patrulhamentos, que nunca foram efectuados, sendo assinados pelos comandantes e, posteriormente, enviados para Bissau.
4º. Nas frases por mim proferidas, só falo em oportunismo porque nos vários textos publicados, pelos visados, abundam as referências a actos de heroísmo dos próprios, como se eles tivessem sido os únicos intervenientes nos tão trágicos acontecimentos. Então o resto da Companhia, não estava lá? Se duvidam, releiam os vossos textos.
Não é verdade que a CCAV, tivesse sofrido nove mortos em combate, dado que houve quem morresse afogado, quando tentavam fugir para Cacine. Quem omitiu este facto?
5º. O Fur Casimiro de Carvalho refere que, antes da emboscada fatal disse a dois colegas muito novos, que não partissem juntamente com os 12 colegas para o tal patrulhamento por ter pena dos mesmos.
Compreendo a sua intenção, mas convém sublinhar que mais 2 homens poderiam ter feito diferença que bastasse. Dos 12 homens que saíram, voltaram 8, um deles gravemente
ferido. Isto vem demonstrar, mais uma vez, que na CCAV não havia nem rei nem roque.
Ao contrário do que diz o ex-Alferes João Seabra eu recordo-me muito bem dele, e sempre pensei que fosse uma pessoa recatada e inimiga de protagonismo mas, pelos vistos, enganei-me. É por demais evidente que tem o dom da palavra, da qual usa e abusa, em proveito das suas façanhas descritas.
Com alguma ironia diz que eu fazia alguns biscates como "dactilógrafo" de confiança, mas o que é verdade, é que sempre estive no local dos acontecimentos, não necessitando de uma qualquer cunha para ser colocado em Bissau.
Também se esquece de referir que dada a recusa de alguns (muitos), a efectuarem postos de sentinela durante os cerrados ataques do IN, recorriam ao tal "dactilógrafo" para o fazer.
Mais ignora que visto ninguém querer fazer fogo com o morteiro de 60 mm, o colocaram nas mãos do tal "dactilógrafo". Mais esquece que, quando quase todos abandonavam Gadamael Porto, esse "dactilógrafo" conseguiu convencer alguns a regressar e não o viu no local.
Quanto às omissões creio que, quem se der ao trabalho de ler o meu texto, comprovará que são muitas.
É claro que não fazia parte do seu pelotão (ainda bem), mas como não sou surdo e os seus homens não eram mudos. As notícias espalhavam-se e por isso se sabia que os patrulhamentos não eram efectuados até ao local indicado. Por favor, não queira "tapar o sol com uma peneira".
Também é facto que o ex-alf João Seabra não fugiu de Gadamael, mas a verdade é que raramente era visto juntos dos subordinados.
Em 1 de Junho de 1973, o ex-Alferes Manuel Reis encontrava-se em Gadamael e também é verdade que, nessa data, aí estava colocada uma Companhia de Pára-quedistas. Creio
que as datas a que se refere são de pouca relevância.
Quem tivesse estado próximo do rio de Gadamael, facilmente se teria apercebido que aí se encontravam oficias e sargentos das duas companhias, e alguns deles acabaram por atravessar o rio em direcção a Cacine.
Um último comentário me merece a sua narrativa sobre a emboscada tida a cerca de 2 quilómetros do aquartelamento, onde diz que chegou a fazer fogo com um LGF, apanhou
um morteiro de 60 mm e ainda quebrou a G-3 ao atirar-se para um buraco. Desculpe-me, mas aqui está uma cena para dizer que não se tratava de um simples militar, mas de um autêntico Rambo.
Com actos como e descrito, bastavam meia dúzia de militares do calibre do ex-Alf João Seabra para, em pouco tempo, termos derrotado o IN e só foi pena que não tivesse agido assim, quando podia e devia tê-lo feito.
O que penso do Major Coutinho e Lima tem a ver essencialmente com o facto de ter sido o autor do primeiro e único abandono das tropas portuguesas de um quartel militar, desgraçando o bom nome (constantemente enxovalhada) da Companhia de Cavalaria 8350, e por conseguinte o dos seus sacrificados militares.
Desobedeceu a uma ordem legítima dada pelo seu superior directo, desonrou as forças armadas e, agora, tem tentado captar a simpatia e colaboração daqueles que não mereceu comandar. Pode o major Coutinho e Lima dizer o que disser, mas muitos sabem, e jamais esquecerão, o que se passou em Guileje, apesar de todas as tentativas orquestradas nesse sentido.
O major Coutinho e Lima acusa-me de pretender protagonismo, mas não sou eu que tenho andado de convívio em convívio e a publicar em livro a versão, para si mais conveniente, numa vã tentativa de convencer tudo e todos de que na verdade a decisão de fugir de Guileje foi uma atitude heróica (como já li), e que dignificou, assim, não só os militares da CCAV 8350, como as Forças Armadas Portuguesas.
Porque é que o major Coutinho e Lima não relata no seu livro que uma parte da população de Guileje não queria abandoná-la? O major sabe que isto é verdade!
O major Coutinho e Lima acha que tomou a atitude correcta sabendo que em breve iria ser substituído?
Se tivesse acontecido um massacre o major assumiria a responsabilidade?
O major afirma que foi o Capitão Abel Quintas, que proferiu a tristemente célebre frase: “O aquartelamento está cercada por todos os lados”. Onde se encontrava então o Capitão Abel Quintas?
O major Coutinho e Lima pode reunir inúmeras qualidades pessoais, mas eu considero que, como militar, não cumpriu. Peço-lhe, humilde e sensatamente, que se remeta ao silêncio.
O major fala em propaganda que eu talvez não mereça, no entanto quero dizer-lhe que por três vezes estive presente em almoços convívios da CCAV 8350 e estive tentado a
cumprimentá-lo, mas tê-lo-ia feito pela pessoa, não como militar.
Com toda a franqueza lhe digo que tenho muito orgulho por ter sido militar (soldado), em serviço na Guiné. O mesmo não diria se tivesse sido Comandante do COP. Também é verdade que nunca o senhor foi ilibado, mas sim amnistiado, o que é bem diferente.
Porque é que noutras zonas, os militares altamente massacradas pelo IN, diariamente, não abandonaram as suas instalações e se mantiveram firmes nas suas posições, apesar de terem sofrido um elevado número de feridos e mortos?
Admitam que a avaliação da situação em Guileje foi prematura e que o IN não concentrava a maior parte das suas forças nas proximidades do quartel, assim como admitam também, era possível resistir durante mais alguns dias até á chegada de reforços.
A aviação não sabia para onde havia de fazer fogo ou largar as bombas, porque não tinha as necessárias indicações precisas de quem as havia de ter.
Ninguém saia do quartel excepto um grupo de africanas, para se abastecer de água sem que lhe fosse concedida a devida protecção.
Quase todos se recusavam a fazer turnos de sentinela e tiveram de recorrer ao "dactilógrafo biscateiro”.
Ao General Spínola são feitas acusações gratuitas e covardes. Deixem a sua memória em paz, por favor.
Em 21/Maio/1973, o major Coutinho e Lima, regressou de Gadamael, salvo erro, com a protecção de 2 grupos de combate e chegou ileso a Guileje, isto apesar de dizerem que Guileje estava cercada.
Durante a fuga de Guileje um africano bateu com um pau numa colmeia de abelhas e alguns gritaram que era o IN, sendo o suficiente para que grande número de militares fugissem em debandada largando as armas no meio de um grande alarido. Onde estava o IN então?
Quantas vezes o grupo de serviço ao abastecimento de água se deslocava entre 3 a 4 km e, apesar do que afirmam, apenas alguns iam armados. Agora alguns dizem que o
abastecimento de água se efectuava sob fortes medidas de segurança. Nada mais falso!
Todos sabemos que o Cor Rafael Durão recebeu ordens para comandar o COP em substituição do Major Coutinho e Lima. O Cor Rafael Durão já se encontrava em Gadamael quando lá chegámos, pronto para seguir viagem para Guileje. Alguém acredita que um homem de confiança, e braço direito do Gen Spínola, após analisar a situação em Guileje, não informaria de imediato o Comando-Chefe e este rapidamente não enviaria reforços ?! No mínimo, peço menos leviandade na análise da situação de Guileje.
Haja a humildade de reconhecer que não haviam reais motivos, para se abandonar Guileje e que este reconhecimento mais dignificaria aqueles que contribuíram para o enxovalhamento da Ccav 8350 e das Forças Armadas Portuguesas, contribuindo para humilhação e total desrespeito daqueles que deram o seu melhor em prol dos seus camaradas e amigos, e população.
A ausência de evacuações dos feridos foi um mau pretexto para se anularem as saídas para o mato em acções de patrulhamento, o que permitiu ao IN efectuar incursões esporádicas nas imediações do aquartelamento. Se, anteriormente, as acções de patrulhamento eram reduzidas, então a partir de determinada data foram pura e simplesmente anuladas.
Como já antes referi não é verdade que Guileje estivesse reduzida a escombros dado que de todos os abrigos só um foi atingido, sem que daí resultasse qualquer vítima.
Gostaria de salientar que durante o 1º. trimestre de 1973 as nossas tropas sofreram 135 mortos em combate e só Guileje foi abandonado. Em Guidage morreram 39 militares, mas os sobreviventes continuaram no seu posto, contrariados ou não.
Em Gadamael, apesar das baixas mortais e das deploráveis condições de sobrevivência, alguns (bravos) permaneceram no seu posto.
O Major Coutinho e Lima sabia que o COP tinha como objectivo fazer face ao previsível agravamento da guerra no sul da Guiné. Que medidas tomou?
O Cap Manuel Monge também pediu autorização para abandonar Gadamael, mas como lhe foi negada autorização, não deu ordem de retirada. Fraco ?
Permitam-me que relembre que, quando o IN fazia fogo para o aquartelamento, daí se recusavam a fazer fogo para não denunciarem as suas posições. Tínhamos potentes obuses de 14 cm (?) e não respondíamos ao fogo IN (isto não lembraria ao próprio diabo).
Em 22-02-1973, Casimiro de Carvalho, escreve que tem “havido poucas saídas para o mato”.
Em 21-03-1973, Casimiro de Carvalho, escreve que “cada vez há menos patrulhas e que é quase só dormir e efectuar tarefas dentro do quartel”.
Em 25-03-1973, novamente, Casimiro de Carvalho, diz haver ordem de saída que foi anulada talvez porque estivesse marcado algum jogo de futebol.
Durante os bombardeamentos a Guileje os artilheiros raramente se atreviam a sair dos abrigos. Entre 19 e 21-05-1973, foram efectuadas 14 missões pela força aérea sem que o major as refira no seu livro.
No seu livro o major refere que em Guileje só houve uma baixa em combate, o que não é verdade.
Num aparte permito-me observar camarada Luís Graça, que sobre as minhas palavras teceste algumas considerações menos correctas, mas não te vi tão interessado em questionar os visados pelas suas declarações, que não passam de filmes para não admitir o cabal esclarecimento sobre os factos na reconstituição da história de Guilege.
As afirmações do ex-Alf Manuel Reis roçam o insulto e em nada dignificam o seu autor. Ele não admite que se discorde da "sua" verdade?
Em que pensava o ex-Alf João Seabra, ao entregar alguns documentos ao Nuno Rubim, e lhe disse, “para não dar como bom tudo o que lhe contou sem exame crítico e confronto com outras fontes”. Contradição?
Quem afirmou que a sua amizade com o Major Coutinho e Lima poderia prejudicar a sua real análise sobre os acontecimentos de Guileje?
Chegam ao cúmulo de afirmar que o IN acertou em quase todas as instalações de Guileje o que está longe da verdade. Só um abrigo foi ligeiramente atingido.
O ex-Alf João Seabra afirma que o aquartelamento de Guileje praticamente não tinha valas, mas o quê, ou quem, o impediu que tais valas fossem previamente executadas, não foi ele 2º. Cmdt?
Em caso de assalto ao quartel de onde é que se ripostaria, dado que os abrigos só possuíam entrada/saída?
Lamento que toda a sua argúcia, discernimento, capacidade de análise e poder de decisão, não tivessem sido utilizadas em Guileje.
Dizem que raramente tinham o apoio da força aérea, mas ao mesmo tempo afirmam que durante as colunas de abastecimento se encontrava, na pista de Guileje, uma DO-27 armada com roquetes e foguetes. Palavras do ex-alferes João Seabra.
Durante a emboscada sofrida pelo 2º Grupo do quartel fizeram fogo com o morteiro 10,7 cm, mas de imediato foi mandado suspender o fogo dado que as granadas caíram muito próximo dos homens emboscados. O seu especialista (Furriel Neves) encontrava-se entre o grupo emboscado. Como se compreende que tenha saído para o mato? Regular o tiro? Não foi efectuada a regulação de tiro do morteiro 10,7 cm? De quem foi a (ir)responsabilidade de ordenar a sua saída?
Infelizmente o passeio acabou em tragédia, com vítimas mortais. Foram atribuídas responsabilidades? É claro que não!
O obus de 14 cm também não fez fogo porque, também, ainda não tinha sido efectuada a sua regulação de tiro.
O protagonismo (?) do ex-Alf João Seabra vai ao ponto de, na sua narrativa sobre a referida emboscada, já ter tido o discernimento de poder constatar (deduzir) que o IN não praticou um grande feito de armas dado que, com um pouco de mais de 12 homens (o que demonstra que não sabia quantos homens tinha o seu grupo), sem esquecer que também se encontrava no local o grupo de combate do ex-Alf Manuel Reis (comandados por um alferes), que o IN (nas suas palavras) tinha a obrigação de os abater a todos. O mesmo afirma que apesar de não ter avistado o IN, aqueles deviam ser entre 40 a 70(57%).
O major Coutinho e Lima, no seu livro, refere que na dita emboscada participaram cerca de 100 elementos do IN. Porque não 1.000?
Ainda diz que se tivesse avançado teria sido uma carnificina. A que documentos recorreram para afirmarem que a artilharia de Guileje estava inoperacional?
Ao longo de mais de 35 anos tenho estado em contacto com alguns camaradas de Guilege e Gadamael (CCAV 8350 / Pel Art / Comp Pára-quedistas) e todos aceitam como verídica a minha versão dos factos ocorridos naqueles locais.
É indecente insinuar que estou a mando de alguém, quando só pretendo corrigir e acrescentar alguns factos, o que não teria feito se a vossa narração tivesse sido mais rigorosa.
Chegou-se ao ponto de, irresponsavelmente, se deixar de efectuar patrulhamentos pelo facto de não estarem reunidas condições de garantia, para evacuação de feridos e, com
isso, se permitiu que o IN se aproximasse do aquartelamento em pequenos grupos. Houve aqui sensatez?
Por conveniência, também se têm socorrido de relatórios referentes a operações que não passaram do papel.
Continuo a afirmar que foram inúmeras as vezes que as patrulhas ficarem aquém do local indicado, e tanto é verdade que ligavam para o quartel a indicarem o local onde estavam, para que dali não fizessem fogo (bater a zona) para o local indicado.
Um dos intervenientes em Gadamael (Sarg pára Carmo Vicente), também tece considerações nada elogiosas para a CCAV 8350, assim como sobre muitos dos intervenientes na guerra travada na Guiné.
Carmo Vicente, entre outras coisas, afirma que todos os militares apoiaram o Major Coutinho e Lima, o que não corresponde à verdade. Só pode ser um reflexo das suas ideias infectadas por alinhamentos político-partidários com certeza.
Na sua análise sobre a guerra na Guiné a sua cegueira política em relação a diversos intervenientes retirou-lhe o discernimento, para efectuar comentários justos e imparciais.
Carmo Vicente é um homem cheio de ódio e amargura, o que não lhe permite distinguir os bons dos maus, atacando tudo e todos.
Numa das suas crónicas (1985) refere que os botes servidos para evacuar feridos, foram assaltados por uma avalanche de desertores. Sugiro-lhe que tenha a hombridade de mencionar o número de desertores das Companhias de Pára-quedistas instaladas em Gadamael. Ou nega a sua existência?
Não posso deixar de referir os filmes e documentários ultimamente exibidos, tão plenos de falsidade que me causa revolta e repugnância.
Luís Graça, dizes que tenho dificuldade em lidar com o contraditório, mas permite-me corrigir-te dizendo-te que, o que me custa, é lidar com omissões, ou versões imprecisas e incorrectas, criadas por pessoas que não admitem que estão erradas.
A verdade dos acontecimentos não pode ser exclusiva do ex-Major Coutinho e Lima, ex-Cap Abel Quintas e ex-Alferes João Seabra e Manuel Reis.
No meio de tudo isto o Casimiro de Carvalho (que foi um valente), tem sofrido uma lavagem ao cérebro. Esse sim, lutou com valentia!
Luis Graça, o meu acompanhamento da evolução do blogue, permite-me dizer-te que denotei alguns sinais teus de proteccionismo e parcialidade, para com alguns elementos da tabanca e as suas versões. Não pode ser assim. Tens que ser 100% imparcial, de modo a criar admiração, confiança e condições, que motivem a aderência de outros camaradas nossos ao blogue.
Estranho que no teu e-mail aludas ao facto de não seres obrigado a reproduzir os meus esclarecimentos e por isso permito-me reparar que também não creio seres obrigado a publicar qualquer outro esclarecimento, venha ele de quem vier. Enfim, critérios!
Ao visitar o teu blogue qualquer pessoa mais atenta notará que muitos dos tertulianos ainda não enviaram as respectivas fotografias e por isso me surpreende tanta insistência.
Tenho falado com camaradas que manifestam interesse em participar no blogue, mas eles temem sentir-se diferenciados dos restantes camaradas bloguistas.
Repito que para demonstrar que estou de amizade e boa fé, peço para aderir como novo camarada tertuliano, para o que enviarei as fotos solicitadas.
Termino esta mensagem reservando-me ao direito de nunca mais tornar a incomodar o pessoal com este assunto. Pela minha parte, sobre esta negra fase da guerra relativa a Guileje e Gadamael, está tudo dito.
Agradeço a publicação deste meu e-mail.
Mais agradeço a atenção dispensada, desejando a todos os Camaradas da Guiné felicidades e boa sorte.
Constantino Costa
2. Comentário de L.G.:
Troquei com o Constantino alguns mails e falámos ao telefone, antes de chegarmos até aqui, até ao dia de hoje. Passámos a conhecermo-nos melhor e sobretudo a comunicar melhor. Ainda ontem lhe telefonei para reforçar os meus votos de boas vindas à nossa Tabanca Grande.
Não vou aqui dar conta das nossas conversas privadas (ou de bastidores). Ele tinha evocado, inicialmente, o seu direito de resposta (aos comentários que lhe foram feitos no bogue) e eu pus-lhe algumas condições prévias. Primeiro, reiterei o meu convite para ele integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande, o que significava também respeitar as nossas regras de convívio. O que ele aceitou, mau grado algumas reservas iniciais. Por minha parte, procurei esforçar-me por convencê-lo de que aqui, no blogue, não sou (nem posso ser) o advogado de defesa de ninguém. Claro que os amigos e camaradas da Guiné também são meus amigos e camaradas.
Por outro lado, também era importante que o Constantino percebesse que o nosso blogue não pode transformar-se num tribunal em que se julgam os veteranos de guerra, e em que há uns que são os juízes, os outros os acusadores e um terceiro grupo os réus…
Aqui não há juízes, nem acusadores nem réus. O que não quer dizer que a gente não possa discordar, uns dos outros, na apreciação e até no relato dos factos que respeitam à Guiné e à guerra no período de 1963/74…
Ficou, claro, para nós, que uma das regras de ouro do nosso blogue (mas também mais difíceis de cumprir por todos nós) é a manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, evitando deliberadamente as picardias, as polémicas acaloradas, as interpelações pessoais, os insultos, a violência verbal...
Voltando ao discurso directo:
Meu caro Constantino, Guileje / Gadamael é, para ti e para todos nós, um dossiê doloroso… (Chamaste-lhe a fase negra da guerra...). Sobre Guileje temos, no nosso blogue, mais de 220 referências (postes com a palavra-chave Guileje), contra pouco mais de 60 sobre Guidage e 70 sobre Gadamael (***)... Estamos à beira da saturação do tema. E dificilmente chegaremos a um consenso sobre alguns dos pontos mais controversos da resposta das NT à ofensiva desencadeada pelo PAIGC, em Maio / Junho de 1973 (Op Amílcar Cabral).
O teu depoimento é mais uma peça importante de um protagonista dos acontecimentos… Agradeço o esforço (notável) que fizeste por o tornar aceitável, para efeitos de publicação no nosso blogue, eliminando ou corrigindo imprecisões e excessos de linguagem.
Todos nós - tu, na CCav 8350, eu, na CCaç 12 - em épocas diferentes, em sítios diferentes temos boas e más recordações, dos sítios, das gentes, dos camaradas, dos superiores hierárquicos... Tínhamos e temos (ainda) hoje diferentes versões da guerra e da sua legitimidade... Mais: não temos que ter a mesma leitura da história, nem dos acontecimentos, nem do antes em do depois... Se calhar temos ainda contas para ajustar do tempo da guerra... Eu tinha, já perdoei, mas não esqueci...
Não te pedi (nem peço) para ser politicamente correcto. Nem a ti nem a ninguém, seria matar o blogue... Peço apenas aos meus camaradas da Guiné que contem a sua história, a sua versão dos acontecimentos de que foram protagonistas ou testemunhas, com objectividade, assertividade, autenticidade, honestidade intelectual, etc., valorizando os factos e recusando fazer juízos de valor sobre o comportamento (humano e operacional) dos camaradas que estão vivos...
Meu caro Constantino, estamos hoje de acordo sobre este e outros pontos: a entrada pela via da polémica da insinuação e da interpelação pessoal (na tua mensagem original, dirigias-te várias vezes aos teus camaradas, nestes termos: o senhor isto, o senhor aquilo) também não era a melhor maneira de darmos início a uma relação que se queria(quer) no mínimo civilizada, e se possível amistosa.
Como o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande, dir-te-ei apenas: até logo, camarada!
__________
Notas de L.G.:
(*) 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4625: Tabanca Grande (157): Constantino Costa (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/74)
(**) Vd. 5 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)
[Inclui comentários de: Coutinho e Lima, J. Casimiro Carvalho, João Seabra, Manuel Reis]
Vd. postes anteriores desta série:
14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)
1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)
23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)
24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)
27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)
29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)
1 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)
4 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3982: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (7): Ferreira da Silva, ex-Capitão Comando, novo comandante do COP 5 a partir de 31/5/1973
15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4035: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (8): Amigo Paiva, confirmas que fomos vítimas de ameaças e pressões (Manuel Reis)
23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)
1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)
14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)
(***) Já agora, para além de Guileje (220), Gadamael (70) e Guidaje, aqui vão os outros sítios mais citados no nosso blogue (não se inclui a I Série, de Abril de 2005 a Maio de 2006):
Bambadinca: 200
Bissau: 136
Missirá: 88
Mampatá: 85
Gandembel: 84
Cufar: 83
Catió: 63
Bafatá: 60
Nhacra não conta: as 200 citações que vêm nas estatísticas, referem-se a rascunhos, postes não publicados; resulta de um erro de sistema, que lentamentre tem vindo a ser corrigido. A seguir a a Guileje e a Bambadinca, o marcador do nosso top ten é Tabanca Grande, com 156 referências...
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