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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19336: Historiografia da presença portuguesa em África (142): Meu Corubal, meu amor (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
O relato que se segue é já da I República, o manuscrito foi datilografado em 1931. O Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, faz-nos um empolgante registo da região de Buba, de que foi administrador. Percorreu rios e braços de mar, é uma vivência e um saber feitos de comprovada experiência, como se poderá ver.
Depois do Geba, o Corubal é um rio da minha vida, pelo que fui ao Xitole, ao Xime, à Ponta do Inglês. E a experiência que tive, em novembro de 2010 quando percorri de mota a estrada Xime-Ponta do Inglês foi inesquecível, eu ia embevecido por aqueles campos frondosos em torno do Corubal, que atravessei em várias direções com a G3 nas mãos, quem aqui combateu conhece o significado da Ponta do Inglês, Ponta Varela, Poidom, Buruntoni.
Uma das tristezas que guardo dessa viagem é não ter ido a Ponta Luís Dias, Tabacuta, Mina e Galo-Corubal, vindo depois por Xitole, e regressando a Bambadinca por Moricanhe, Taibatá e Amedalai.
Prometi a mim mesmo que será itinerário obrigatório na próxima viagem, o Corubal é muitíssimo belo.

Um abraço do
Mário


Meu Corubal, meu amor (1)

Beja Santos

Nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa consta um dossiê assim apresentado: Província da Guiné – Relatório de autor ignorado (mas que julgamos ter sido elaborado pelo antigo administrador de Buba, Capitão José António de Castro Fernandes, natural da Índia, cujo filhos residem, ainda, na Guiné. O original existia em poder do falecido Capitão Alberto Soares, antigo Administrador do Concelho de Bolama, combatente das campanhas de pacificação. Quem datilografou em 1931 diz que faltam as primeiras páginas, o que reproduz inicialmente está cheio de tracejado, é manifestamente incompreensível. O manuscrito, como iremos ver, é da década de 1910.
E o que é compreensível começa exatamente com o rio Corubal, deste modo:
“O rio Corubal é muito profundo mas cheio de baixos; e maior profundidade apresenta na margem esquerda ou na margem do lado do Forreá. Não é navegável senão para barcas que não demandem mais de duas braças de água, e isto mesmo até Xitole, e dali até próximo à cachoeira de Cussilinta, perto de Gambessé, com bastante dificuldade e perícia, por parte do respectivo piloto do barco.
Impedem a navegação, além das diversas cachoeiras e o banco que forma logo à entrada defronte de Gampará e, que na baixa-mar, se vê que é, em uns quilómetros de extensão, os bancos de areia e lodo, que, segundo as estações e outras circunstâncias, e entre estas o macaréu, são arrastados pela caprichosa natureza, em diferentes sentidos, afirmando os pilotos práticos neste rio que um banco encontrado num mês nem sempre se encontra, passados dias, no mesmo local, pelo que a navegação, mesmo até ao Xitole, deve ser feita cuidadosamente. Na época pluviosa, acresce a este inconveniente de mudanças de baixos a vertiginosa corrente do rio que atrasa e dificulta bastante a navegação.
A dificuldade de não se ter ainda conseguido a navegação além das cachoeiras dá ocasião a que variados produtos, designadamente arroz, que em grande quantidade se planta e colhe no Alto Forreá (parte do Boé) sejam desviados para o território francês, onde fazem a permuta, principalmente na época das chuvas, durante essa época torna-se impossível conservar-se em estado de ser transitado um caminho que eu mandei abrir na cambança de Juda – Maganacho até Xitole”.

O relator apresenta-nos agora o rio Grande de Bulola ou de Buba, dizendo:
“É antes um braço do mar do que rio propriamente dito. Muitos anos se julgou que tinha comunicação com o rio Corubal, sendo talvez o motivo de o chamarem Rio Grande. Nas suas margens divisam-se extensas e graciosas colinas cheias de verdejantes matas e uma infinidade de cibes (palmeiras). Estas margens cortadas quase a pique, com bastante altura, oferecem assim dispostas um seguro abrigo aos navegantes contra os tornados (ciclones especiais da costa da Guiné, tendo por foco a Serra Leoa).
Bastante profundo e sem baixos, pode ser facilmente navegado por navios de longo curso até próximo do rio Regina, onde, pelo constante assoreamento, formou-se um baixo que uma sonda o encontra a duas braças de profundidade, porém, passado este baixo, pode continuar-se a navegar até próximo de Buba, em navios que não demandem mais de quatro braças, se bem que, com muita cautela se deve fazer, por causa do constante e progressivo assoreamento do rio desde o referido baixo do rio Regina até Buba.
De Buba até à sua confluência com o rio de Bolama, na Ponta Colónia, faz um percurso aproximado de 50 milhas, em constantes ziguezagues, formando pontas ou antigas e ricas feitorias que existiram em número superior a 60 e que aqui atraíram, outrora, pelo seu importante comércio e pela facilidade de navegação do Rio Grande, navios de longo curso. Em algumas pontas vêem-se ainda restos destas feitorias com as suas cisternas, armazéns, prisões, etc, feitorias, que, senão fora as lutas havidas lá pelos anos de 1882 a 1885-86, entre Fulas e Biafadas, ainda hoje existiriam, e o Rio Grande não teria perdido a sua importância e nem estaria na decadência em que hoje se encontra; se bem que, ainda se espera pelo constante repovoamento dessas pontas, que nos últimos dois anos se tem acelerado bastante, vem a aproximar-se, pelo menos, da sombra do que foi.
Tem este rio ou braço de mar um grande número de afluentes, alguns importantes pela sua profundidade e largura, principalmente no praia-mar, onde se encontra mais de 3 a 5 braças de profundidade, sendo pena que na baixa-mar fiquem por completo desaguados, conservando, apenas, em certos lugares, bacias que têm servido de ancoradouros a barcos à espera da praia-mar para dele saírem”.

O Capitão Castro Fernandes é minucioso, não se contentou em descrever o rio de Buba, dá-nos igualmente a relação dos afluentes que ele percorreu em lancha a vapor ou em escaler a remos: rio Regina, rio Banin ou de Mato-Grande, rio Buduco, rio Tinto, rio Cumbijan, rio Mansole, Rio Ocaz, Canal da Ilha Seca, rio Bissilão. Diz que o rio Regina é bastante largo, o rio Banin situa-se na margem direita, lado do Quínara, o Buduco é bastante largo, tem um braço do lado direito para o Posto Administrativo de Fulacunda.
Como é minucioso, deixa no seu relatório que julga importante:
“À entrada deste rio, encontra-se um grande baixo de pedra, deixando ver na baixa-mar um grande recife, pelo que se torna bastante perigoso, sendo por este motivo e ainda para se poder seguir a favor da corrente que se entra no rio depois de principiar a enchente e antes do recife ficar coberto; o rio Tinto fica na margem esquerda no Rio Grande; o rio Cumbijan é bastante largo e profundo, atravessa a circunscrição de Cacine".
E o nosso relator comenta:
“Não o conheço por mar, mas por várias vezes estive nas suas margens, no local de Cumbijan, onde existe um estabelecimento comercial. Na época pluviosa, dizem ser perigosa a navegação, devido a grandes troncos de árvores arrastadas pela corrente. Durante as chuvas constantes e torrenciais, transbordando as superfícies pantanosas, formam-se no Forreá vários regatos que junto com as nascentes existentes, correm para este rio Cumbijan; o Mansole é um afluente do rio de Bolama, bem como o rio Salanca ou de Nhala, este com largura de mais de 400 metros e extensão até à Ponta de João Preto; falando do rio Ocaz, diz que contornado a ponta de Nhala, fica do outro lado a povoação Balanta de Bissásema; regista que entre o Quínara e o Ilhéu do Rei, um pouco mais para cima, fica a Ilha Seca. Entre esta ilha e o Quínara é o canal da Ilha Seca".
E regista:
“Na entrada tem um baixo; contudo, um barco que não demande mais de duas braças o transpõe na praia-mar facilmente e sem perigo algum. Passado este baixo, o canal acusa, invariavelmente, cinco ou seis braças folgadas. Na saída para o rio Geba, perto de Jabadá, há um outro baixo nas mesmas condições do da entrada”.

(Continua)

Rápidos de Cusselinta, rio Corubal
Fotografia de José António Sousa publicada no site http://geoview.info/, com a devida vénia.

Che-Che, rio Corubal
Fotografia retirada da rede social Pinterest, com a devida vénia.

O Corubal visto da Ponta do Inglês
Tirei esta fotografia em novembro de 2010, acompanhou a viagem do Tangomau, pertence ao nosso blogue.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19307: Historiografia da presença portuguesa em África (140): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (3) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11910: (Ex)citações (224): Da caça, da guerra, dos copos e das nossas peripécias do dia a dia... (David Guimarães, ex-fur mil minas e armadilhas, CART 2716, Xitole, 1970/72)

1. Mensagem do David Guimarães, com data de 4 do corrente,  a propósito do poste P11903


Pois é,  Luís e mais amigos (e camaradas)... Tudo isto se passava no nosso tempo, na Guiné, e das pequenas histórias se fez a nossa história de guerra...

Estes ambientes onde todos andámos, os que lá estivemos, tinham destas coisas como a que contei. Aliás eram peripécias que no dia a dia aconteciam, umas mais giras outro menos, umas mais ou menos graciosas e outras nem tanto... A guerra, enfim, era um facto, parece que disso ninguém tem dúvidas. 

O pano de fundo de todo o combatente era a guerra, num local muito difícil de viver, a Guiné, território tão pequenino em que ela, a guerra,  se ouvia em toda a parte: quer dizer, e posso exagerar um pedaço mas não muito, sei que os obuses de Aldeia Formosa eram ouvidos bem longe, e inclusive os bombardeamentos de aviões em  zonas de intervenção do Com Chefe seriam ouvidos em toda (ou quase toda) a Guiné... 

A realidade eram as pequeninas coisas. Quando comecei a escrever neste blogue, e faz uns anitos [, em 2005,], nunca pensei em discutir em quem tinha ou não razão na guerra, Nunca vi senão operações por norma bem sucedidas, fora aquelas que o não eram e, enfim, passava-se à frente dos escritos. 

Assim leio agora reacções inflamadas,  que nós fizemos isto e aquilo, a força era esta e aquela... Fazia-se a operação tal em que se tomava conta da tabanca X do inimigo, incendiava-se e fazia-se um ronco... Depois voltava-se ao quartel e a ocupação não era feita... E Satecuta, Ponta do Inglês, disto e daquilo [, no setor L1,] ,  sempre pertenceram à tropa IN...

Também tomei boa nota de uma coisa, e muito entendem,  outros não... Sei, e por testemunhos de nossos caros camaradas,  que Mansambo, por exemplo, foi muito atacado quando se fazia a estrada para o Xitole. São testemunhos que existem aqui e são verdadeiros. No meu tempo, 1970/72,  quem me dera ter estado em Mansambo [, onde estava a CART 2714]. Quirafo, no meu tempo,  nunca aconteceu, aconteceu mal eu parti  (e parece que houve razões que facilitaram). O Xitole no meu tempo foi flagelado muitas vezes,  parece que a seguir não.... Será que temos explicações para isso ? Talvez que sim, mas isso pertence à história, só que continua mal contada e só passa a testemunho histórico passados 100 ou 200 anos. 

Porque é que a ponte Marechal Carmona estava partida? Bem,  existiam na altura três explicações: ou teriam sido eles, ou nós ou então foi um colapso da ponte. Como não interessava ao IN nem a nós dar cabo daquela via de comunicação essencial,  tanto para uns como para outros,  inclino-me para que tivesse sido um colapso. Mas que interessa isso ?  O facto é que ela estava
interrompida e está e pronto... 

Mas na vida fora de guerra também aconteciam peripécias como a caça às lebres em Cambesse, nos campos de mancarra e pela noite. Ou o  dia em que coloquei o comandante de pé a fazer a continência a um arrear de bandeira... Ou ainda o  episódio de eu e do Branquinho (António, do Pel Caç Nat 63, irmão do Alberto) a passear na zona atrás da pensão Chantra, em Bissau,  ambos à civil,  a chamarem-nos de furriéis... Que coisa, nós nem dali éramos, então sabiam quem nós éramos... 

Outra: A vez em que andava eu já com cerveja a mais na cabeça, no Xitole, debaixo de uma grande trovoada e deu um trovão maior . Os camaradas pararam e disseram: porra que isto não é trovoada! Disse eu:  vocês são malucos,  já estão com medo dos trovões... 

Pois é,  eles tinham razão: uma faisca caiu junto a um poste de iluminação onde havia o fio condutor ligado ao "explosor" e foi rebentar um fornilho feito logo a seguir ao arame farpado para o lado da pista de helicópteros... E tinha sido mesmo, que grande buraco!... E, afinal,  a azelhice tinha sido minha: coloquei um fio subterrâneo debaixo de um poste elétrico!

Tudo isto são peripécias... giras da guerra, mesmo que avulsas, sem individualizar. E  creio que são coisas que caem bem num blogue como o nosso... 

Estas são as centenas de peripécias que guardo em mente e retenho. Claro que os episódios de guerra foram evidentes mas que nunca sejam ficcionados e haja rigor e conte-se um pedaço de cada asneirita que íamos fazendo. 

Foi no meu tempo e teu,  Luis,  que o Furriel Henriques (tu mesmo) chamou assassino de guerra ao 2º Comandante [do BART 2917] depois daquela operação maldita que conheces,,, Viste,  correste um risco mas ao menos disseste o nome próprio do major.... Gostei de ver novamente essa a história que contei há uns anos  e que ainda não consigo nem retirar uma virgula, Foi mesmo assim...

Um abraço,  e ainda gostava de saber o que me levou um dia, no fim da comissão,  até á ponte do Geba em Bafatá onde eu estava de serviço... Acordei pelas três da manhã e um soltado disse-me: "Furriel, está melhor ?"... Que grande bebedeira eu tinha apanhado na cidade...

David Guimarães



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Subsetor de Xitole > Carta de Xitole (1955) (Escala 1/50 mil) > posição relativa de Xitole e de Cambesse (ou Cambéssé), na estrada que conduzia ao Saltinho. Em Cambesse havia um cruzamento para os rápidos do Cusselinta (zona paradisíaca do Rio Corubal, interdita em tempo de guerra... Cusselinta e não "Cussilinta"...).

Infografia: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné (2013)
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 dce julho de 20l3 > Guiné 63/74 - P11817: (Ex)citações (223): As lágrimas amargas do brig António de Spínola e do cor Hélio Felgas... "Presenciei-as no fim da Op Lança Afiada"... (António Azevedo Rodrigues, ex-1º cabo, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70)... Ou não terá sido antes, na sequência do desastre do Rio Corubal, em Cheche, na retirada de Madina do Boé, em 6/2/1969 (Op Mabecos Bravios) ? No dia seguinte, Spínola deslocou-se a Nova Lamego, onde falou, às 12h00, aos sobreviventes da Op Mabecos Bravios...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7128: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (28): Notícias da nossa amiga do Xitole, Maria Augusta Antunes


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Rio Corubal > Cusselinta >  Cusselinta, na época das chuvas, Agosto 2005 > Foto de Rui, membro da Associação Humanitária Memórias e Gentes, com sede em Coimbra, presidida pelo nosso camarada José Moreira.

Foto: Picasa > Rui > Cusselinta (2005) (com a devida vénia...)



1. Da nossa leitora (e "amiga do Xitole") Maria Augusta Antunes, com data de 14 do corrente, comentário ao poste P6549 (*):



OBRIGADA! O meu muito obrigada. Na verdade só agora consegui digerir tantas emoções! Obrigada ao vosso extraordinário Blogue. Através dele e do livro do sr. Estácio sobre a Dª Carlota de Nhacra, tomei conhecimento do paradeiro da Senhora Dª Margarida Toscano de Almeida e do seu esposo sr. Luís, padrinhos do meu irmão Luís Manuel. Já os contactei em telefonicamente, e nem consigo descrever tantas emoções. Conto estar pessoalmente com eles em breve. Aí tentarei encontrar resposta a algumas perguntas que ficaram por fazer por pensar serem os meus pais eternos...

Mais uma vez muito obrigada (**)
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de Julho de 2010 >
 Guiné 63/74 - P6794: O Nosso Livro de Visitas (96): Quem se lembra do Dr. Noronha (de Bafatá), Toscano de Almeida, madeireiro, do Dias Saboeiro, figuras que povoam a minha infância ? (Maria Augusta Antunes, que cresceu no Xitole, na década de 1950)
  


Vd. também 7 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6549: O Nosso Livro de Visitas (92): O Xitole que eu e os meus pais conhecemos até 1962 (Maria Augusta Antunes, filha de Henrique Martinho, antigo madeireiro) 

(**) Último poste desta série >  5 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7081: O mundo é pequeno e o nosso blogue é... grande (27): Manuel Lopes, há 34 anos nos EUA, procura camaradas da CCAÇ 3414, mas já encontrou o Joaquim Peixoto

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3489: Blogues da nossa blogosfera (4): Nasceu o bloguinho, o blogue da Tabanca de Matosinhos (Álvaro Basto)



Blogue Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné: Nasceu ontem, na blogosfera... E o primeiro poste tem por título "Há festa rija quando o Zé faz anos"... O Zé não é o de Matosinhos, o Esquilo Sorridente, o mas o Zé da Régua, o José Manuel Lopes, o Josema, o poeta de Mampatá, o vitivinicultor da Quinta da Graça, em São João de Lobrigos, no Alto Douro...

Dizem os progenitores, que o bloguinho nasceu à imagem e semelhança do blogue da Tabanca Grande, o nosso blogue, o blogue de todos nós... Reparem no endereço: http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/

Apresenta-se como um "espaço feito para e por ex-combatentes da Guerra do Ultramar na Guiné e que se juntam semanalmente em Matosinhos para perpetuarem uma amizade iniciada na sua juventude em África em tempos de Guerra"...

Fotos: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008)


1. Mensagem do Álvaro Basto (*), enviada às 23h50 do dia de ontem...

Caros amigos editores do Bloguesforanada... (**)

Parabéns... Acabam de dar à luz o primeiro filho do vosso extraordinário blogue...

Nasceu o Bloguinho... Tabanca de Matosinhos

Espaço necessariamente pequeno e despretencioso que não pertende outra coisa do que ir relatando esta sã convivência que semanalmente se vive em Matosinhos.

São todos Amigos e Camaradas da Guiné do Blogue do Luís Graça e por isso se escolheu um tema e um formato em tudo idêntico ao do Blogue pai.

Pedimos pois humildemente a vossa paternal benção.

Um grande abraço

Tertúlia de Matosinhos
(Alvaro Basto & Companhia....)


2. Comentário de L.G.:

Álvaro e demais amigos e camaradas da Tabanca de Matosinhos:

Assumimos com grande alegria a paternidade da criança, mas as mães são...vocês, seus grandes malandros!... Nem sequer houve barrigas de aluguer nem foi precisa a inseminação artificial!... Tudo muito natural, à moda em antiga, sem parteira, só com aparadeira... O parto correu bem e a criancinha é perfeitinha, era isso mesmo que se desejava. Só espero que seja muito melhor do que o pai... e as mães...

Tenho que reconhecer que vocês são mesmo um caso sério, um verdadeiro case study (estudo de caso), como dizem os nossos gestores. Os campeões da convivialidade e da camaradagem! E mais: uma tabanca a valer,onde há portistas, leixonenses, boavisteiros, benfiquistas, sportinguistas, e até belenenses, ao que sei!

Que o vosso belo exemplo se multiplique por mil... e que a vida seja generosa para todos vós, camaradas da Tabanca de Matosinhos, de modo a poderem ver a criancinha andar, falar, escrever, crescer, e por aí fora... Aguentem-na (e aguentem-se...) pelo menos até à idade de ela... ir às sortes. E que tenha mais sorte que a vossa, a nossa, nessa idade...

Prometo no Natal celebrar o acontecimento, aí no novo reordenamento do Milho Rei (***)... Não sei se conseguirei estar aí no dia 19, mas que vai ser de arromba, vai... Vou passar a Consoada na Madalena e depois sigo, a 26, para a Maderia...

Vejam só o anúncio da festa de Natal dos atabancados de Matosinhos, amigos e camaradas da Guiné, digam-lá se não ficam mesmo com uma pontinha de ciúme por toda esta manifestação de alegria, juventude e camaradagem:

JANTAR DE NATAL

Dia 19 de Dezembro (sexta-feira) há jantar melhorado com bacalhau à Braga e cachaço de porco assado no forno no MILHO REI....O Jorge Felix, o Álvaro Basto e o David Guimarães prometeram dar-nos música instrumental... levem tampões para os ouvidos....

Fundamental...Vamos levar as nossas mulheres para trazerem os carros para casa....NÃO SE ESQUEÇAM, NÃO FALTEM ... Ah, e já agora.... tragam uma lembrança (até 5 €) por pessoa, para sortearmos no fim. Preço médio p/ pessoa: 25€.

Aproveito para mandar um abraço de parabéns ao José Manuel Lopes que celebrou convosco os anos dele... Falámos ao telefone, na 3ª feira, creio eu. O malandro não me disse nada... Vou estar com ele no Porto e Douro WineShow, no Convento do Beato, em Lisboa, no próximo domingo, dia 22, à tarde... Prometo beber um copo com ele. Vou levar o Humberto e o Virgínio, pelo menos.
________

Notas de L.G.:

(*) Álvaro Basto: Pastilhas (Furriel Miliciano Enfermeiro, CART 3492, 1972/74 )... Edita, juntamente com o David Guimarães, o Joaquim Mexia Alves e o Artur Manuel Soares, desde Outubro de 2007, o blogue Xitole, subsector do sector de Bambadinca (Sector L1) por onde passaram, além da CART 3492, a CART 2413 (1968/70), a CART 2716 (1970/72) e ainda a CCAÇ do BCAÇ 4616 (1974).

O blogue XITOLE apresenta-se nestes termos:

Ponto de encontro para partilhar histórias, experiências, vivências e "documentos", (sejam eles quais forem), de todos aqueles e aquelas que passaram pelo Xitole, seja em que altura e por quanto tempo tenha sido. Espaço de viver a camaradagem que nos uniu e ainda une.

O Álvaro é um dos fundadores e animadores da tertúlia de Matosinhos, promovida agora a Tabanca Pequena... É também um fã do todo-o-terreno. Prepara-se para voltar à Guiné no próximo mês de Fevereiro de 2009, um ano depois de lá ter ido, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008). Nessa ocasião revisitou, com emoção, o seu antigo aquartelamento, o Xitole, e o Rio Corubal, em Cusselinta.

(**) Vd. postes anteriores desta série:

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3260: Blogues da Nossa Blogosfera (3): CAÇADORES 3441 (Angola, 1971/74)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3233: Blogues da nossa blogosfera (2): Rumo a Fulacunda , de Henrique Cabral (CCAÇ 1420, 1965/67)

8 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3034: Blogues da nossa blogosfera (1): Bissau Calling (Joaquim Mexia Alves)

(***) Vd. poste de 24 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3353: Tabanca de Matosinhos (4): O novo abrigo, o Restaurante Milho Rei, Rua Heróis de França, 721, Matosinhos (José Teixeira)

domingo, 9 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1 de Março de 2008. Saltinho, na Estrada Bissau - Mansoa - Bambadinca-Saltinho - Quebo - Gandembel - Guileje. Paragem no Saltinho, no Clube de Caça, para tomar um segundo pequeno-almoço reforçado. Que a viagem é longa até ao Guileje (chegada prevista às 12h30), no âmbito do programa social do Simpósio Internacional Guiledje Na Rota da Independência da Guiné-Bissau (1) Enquanto se come, pode-se ouvir em silêncio, na margem direita do Rio Corubal, a água que corre nos rápidos do Saltinho. Na volta, quero ver os rápidos de Cusselinta.



Guiné-Bissau > Bissau > 1 de Março de 2008 > Concentração da caravana automóvel por volta das 7h00. A caminho do sul do país. Esperamos chegar a Guileje daqui por 5 horas e meia, com quatro paragens (Saltinho, ponte Balana, Gandembel, Corredor de Guileje).

O Rio Coruabl no Saltinho continua a ser, quarenta anos depois, um deslumbramento. Mesmo na época seca. Vim aqui apenas um ou duas meses, integrado em colunas logísticas que partiam de Bambadinca (Sector L1 / Zona Leste) e traziam os abastecimentos indispensáveis aos nossas tropas e populações estacionadas em Mansambo, Xitole e Saltinho. Em geral, íamos até ao Xitole que depois fazioa chegar os respectivos abastecimentos aos seus vizinhos do Saltinho (que pertenciam já a outro sector, o L5, sediado em Galomaro.


Mercado local, improvisado, antes da Ponte do Saltinho. As populações locais são céleres a reagir às notícias de chegada de turitas... Notícias que agoram chegam num instante, através do telemóvel bem como das rádios e televisões comunitárias....



Paragem no Saltinho às 9h30 para um segundo pequeno reforçado...





O Paulo Santiago, que esteve aqui a comandar o Pel Caç Nat 53, conversa com um diplomata português, o nº 2 da Embaixada de Portugal em Bissau.... Em segundo plano, o o Julião Soares e o Pepito.

Os três Gringos de Guileje nunca tinham andado por aqui, segundo creio...

Estamos no chão fula... Vê-se elas tabancas e as cabeças de gado que agora pastam nas bolanhas... Não há fula que não tenha uma história de colaboração com as autoridades coloniais portuguesas: como polícias administrativos, como milícias, como militares...

Uma imagem pouco usual no meu tempo: uma mulher com dois gémeos... Não sei qual é hoje a prevalência do infanticídio...


A Francisca Quessangue, esposa do Roberto, presidente da Assembleia Geral da AD, é uma doçura de pessoa. E, no entanto, tinha todas as razões para ter ódio no seu coração: o pai foi morto, com três tiros, friamente, por tropas africanas, por se recusar a denunciar os camaradas da guerrilha do PAIGC... Uma tia dela que estava grávida e que assistiu, aterrorizada, a esta cena, escondida por detrás de uma árvore, teve um aborto espontâneo. O pai da Francisca era papel, da região de Bissau. Viveu no mato, onde ela cresceu. Tinha responsabiliddaes políticas, não era combatente. A Francisca estudou enfermagem na ex-União Soviética. Estava num hospital de rectaguarda, na fronteira, aquando do ataque a Guileje. Hoje é enfermeira no Hospital Regional do Gabu. É uma das oradoras do Simpósio. Vai fazer uma comunicação sobre "os aspectos sanitário-logísticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guiledje", dia 6 de Março. Ostenta uma T-shirt com uma campanha da Unicef Semana Nacional de Amamentação. Hoje na Guiné-Bissau as jovens mães já não querem dar de mamar aos seus filhos, por razões estéticas...



À entrada do Clube de Caça: A Isabel e a Alice... Em segundo plano, uma jovem cooperante portuguesa, licenciada em Relações Internacionais, conversa com um africano... Adora a Guiné e o seu povo. É natural do concelho de Seixal. Não fixei o seu nome.


O Patrick Chabal foi dar uma volta para ver mais de perto o Corubal, o único verdadeiro rio da Guiné, como defendia o seu biografado, o Amílcar Cabral.

O Coronel Art Ref Nuno Rubim conversa com um antigo milícia ou militar de uma companhia de caçadores, africana... Se bem me lembro, era no Quebo. Talvez a CCAÇ 18.

O António Camilo, algarvio de Lagoa, é com o o Xico Allen um dos campeões das viagens à Guiné. Gosta tanto deste país que cá já construiu uma morança, no Clube de Caça do Saltinho, mesmo em cima do Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa. Com o seu amigo Carlos Silva (em primeiro plano).

O Pepito está atento à caravana que vai retomar a marcha... Por detrás da realização do Simpósio Internacional de Guileje há uma logística impressionante, de que os participantes a pouco e pouco se vão dando conta...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Fevereiro de 2005 > Memorial da CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70) (à direita, numa foto do Paulo Santiago) (2); o mesmo memorial, à esquerda, muito mais degradado, em 1 de Março de 2008...

Fotos, vídeo, legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. No percurso entre Bissau e Saltinho, não tomei grandes notas. Nem tirei fiotos. A caravana seguia a boa velocidade. Fui em estrada alcatroada, ao longo do Geba, por sítios que não conhecia, com belíssimas bolanhas, sobretudo na região de Mansoa. No meu tempo, esta estrada, a norte do Geba, estava interdita. Para a Zona Leste ia-se de barco, até ao Xime, até Bambadinca, até mesmo a Bafatá...

Noto que as estradas modernas, como em toda a parte, atraiem as populações... Há mais tabancas, com maior risco de acidentes, à beira do caminho. Uma das nossas viaturas passou por cima de um cabrito. Ninguém porém parou. Há um membro do governo na caravana e leva escolta policial. Há também uma deputada, antiga combatente da liberdade da pátria...


Passo pela bolanha de Finete, agora com direito a tabuleta. Passo em Mato Cão e o Rio Geba Estreito ali tão perto... Imagino um comboio de barcos da Casa Gouveia a aparecer na curva do rio... E nós ou o PAIGC, emboscados. Passo ao largo de Bambadinca, sem aparente emoção. Mas tenho um pensamento positivo ao lembrar os velhos camaradas que andaram por aqui comigo...

Cortamos para o sul, mais à frente, perto de Santa Helena, se não me engano...

Não dou conta de passar por Mansambo: do Xitole, retive apenas a fachada de uma mesquita que não existia no meu tempo... Entrevejo as ruínas do Xitole... Passo pelo Rio (seco) de Jagarajá e por Cambesse onde, em 15 de Maio de 1974, teriam morrido os últimos  portugueses em combate, segundo o José Zeferino (3)... A estrada antiga passava ao lado...

2. A viagem vale pelo Saltinho, que revisito, o Rio Corubal, as lavadeiras do Corubal... Mas já não há a tensão dramática que percorria a fiada de palmeirais ao longo do Rio, no tempo da guerra... 

Há também maior desflorestação nesta zona. Os cajueiros são uma praga, na Guiné-Bissau. As bolanhas tendem a ser abandonadas ou a transformar-se em campos de cajueiros... Uma armadilha mortal para os guineenses, para a sua economia, para o seu futuro... O arroz continua a ser a base da alimentação do guineense, de Bissau a Bafatá... Arroz que é importado, em grande parte.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:
8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

(2) Vd. poste de 30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P926: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (3): Saltinho e Contabane


(3) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)