JOSÉ HENRIQUES MATEUS (Lourinhã, 17.10.1944 - Guiné, 10.09.1966)
Posto: Soldado atirador infantaria nº E – 69516/65
Naturalidade - Areia Branca, Lourinhã
Local da sepultura - Corpo, desaparecido no rio Tompar (afluernte do rio Cumbijã), , no decurso da Op Pirilampo, e não encontrado
José Henriques Mateus nasceu a 17 de outubro de 1944, às 11.30 horas, no lugar de Areia Branca.
A declaração do registo de nascimento foi feita pela mãe, teve como testemunhas José Borges, operário reformado do Arsenal da Marinha, morador na vila de Lourinhã, e Manuel da Cruz, casado, proprietário e morador no lugar da Marqueiteira, foi assinado pelas testemunhas e não assinado pela declarante por não saber escrever e lavrado pelo Ajudante da Conservatória, Francisco Rocha, em substituição do Conservador por se encontrar legalmente de licença. Registo nº 503, de 14 novembro 1944, da Conservatória do Registo Civil da Lourinhã.

Recenseamento: José Henriques Mateus foi recenseado no ano de 1964. Alistado a 3 de junho de 1964. Era solteiro, com a profissão de trabalhador agrícola, e analfabeto
Inspeção militar: foi inspecionado a 16 de março de 1965 na DRM 5. Tinha 1.67 de altura, 65 kg de peso, cabelos lisos de cor castanho escuro e olhos de cor cinzento esverdeado. Em resultado da inspeção foi “apurado para todo o serviço Militar” e atribuíram-lhe o número mecanográfico E – 6951665.
Colocação durante o serviço: a 4 de maio de 1965 é incorporado como recrutado no RI 7, em Leiria. Fica adstrito à 1ª CI com o nº 1820/65. De 21 a 26 tomou parte nos exercícios de campo (OS 146). Faz o Juramento de Bandeira a 1 de julho. Termina a instrução básica a 03.07.65, sendo transferido para o RC 7 a 4 de julho, destinado à especialidade de atirador de infantaria, sendo aumentado ao efetivo da CCAV 1484 com o nº 711/65. Pronto da Escola de Recrutas a 22 de agosto de 1965 na especialidade de Atirador.
Mobilizado: em outubro de 1965 nos termos da alínea c) do artº 3 do Decreto 42937, de 22/04/60, para servir CTI da Guiné, fazendo parte da CCAV 1484.
Embarque: no dia 20 de outubro, a bordo do navio Niassa, em Lisboa. Desembarque: a 27 de outubro em Bissau, desde quando conta 100% de aumento no tempo de serviço.
Data do falecimento: 10.07.1966
Causa da morte: desaparecido ao atravessar o rio Tompar
Abatido ao efetivo: de acordo com a Ordem de Serviço (OS), e 21 de setembro de 1966, assinada pelo comandante de companhia, capitão Virgílio Fernando Pinto, no quartel em Catió, na secção “Orgânica – Alterações para os mapas permanentes, alínea c) – Praças: Abates, consta: “Que seja abatido ao efetivo da CCAV 1884 do BCAÇ 1858, data em que desapareceu ao atravessar o Rio Tompar, o soldado José Henriques Mateus”.
Despacho Superior: por despacho de 24.10.67 foi confirmado como ocorrido em 10.09.66 e por motivo de serviço o acidente referido do qual lhe resultou a morte (OS 265).
Tempo de serviço: 1965, 241 dias e 1966. 252 dias.
Medalha: de segunda classe de comportamento (Artº 188.º do RDM) é-lhe atribuída em 4 de maio 1965.
Em consequência do acidente, o Ministério do Exército, através do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), determina que se organize um processo de averiguações.
- Chefe da 1ª Secção da Rep do Gabinete do Ministro do Exército,
- Chefe da Rep Geral DSP/ME,
- Chefe do Serv Inf Pública das Forças Armadas do Dep da Defesa Nacional,
- Chefe do Estado Maior do GG/GML,
- Chefe da Rep de Sargentos e Praças DSP/ME,
- Chefe da Agência Militar
- e Comandante do RC 7.
A 22 de setembro de 1966 dá-se início ao Processo de averiguações em cumprimento do despacho 13919 / processo nº 131, ponto três, exarado pelo QG/CTIG. Para o efeito, o Comandante da CCAV1484 nomeia o alferes miliciano José Rosa de Oliveira Calvário, do Serviço de Material, para elaborar o respetivo processo.
1. O Alferes Calvário, para apurar as circunstâncias em que terá desaparecido o soldado nº 711/66, José Henriques Mateus, ouviu, primeiro, o comandante interino da CCAV 1418, cap inf Virgílio Fernando Pinto, que declarou:
A primeira testemunha, o alf mil cav Fernando Pereira Silva Miguel, CCAV 1484, solteiro, de vinte e quatro de idade e natural de Lisboa declarou:
“Que, após terem sido atingidos os objetivos da operação 'Pirilampo', e se terem evacuado os feridos e se ter dado início à retirada das nossas tropas levantou-se uma tempestade, que fez com que diminuíssem as condições normais de visibilidade, já por si escassas, por ser ao anoitecer.
Mais declarou que ele próprio se atirou ao rio o que foi imediatamente secundado por outros camaradas seus, levando em buscas durante cerca de quarenta minutos, mergulhando e tentando tatear e detetar o corpo do sinistrado.
A segunda testemunha, o 1º cabo radiotelegrafista, nº 1055/65, Osvaldo Freitas de Sousa, CCAV 1484 de vinte e um anos, solteiro e natural da Freguesia e Concelho de Fafe, disse:
"Mais disse que depois em companhia de outros seus camaradas, tentou detetar o corpo que nunca mais fora visto. Que levaram cerca de trinta minutos em busca, mergulhando e inspecionando a zona, pelo que eram impossibilitados pela escuridão, pela forte corrente das águas e também por estas se encontrarem turvas. E mais disse que após todo este tempo de buscas regressaram a quartéis. E mais não disse.”
A terceira testemunha, o alf mil cav José Martinho Soares Franco Avillez, CCAV 1484 de vinte e dois anos de idade, solteiro, natural da Freguesia de Alcântara, concelho de Lisboa, declarou que:
Relatório final e Conclusões: Após ter ouvido as testemunhas, o alferes Calvário elabora o relatório final, tirando as seguintes conclusões:
RELATÓRIO:
"1) Que no retorno de uma operação a CAV 1484 teve de transpor um rio bastante caudaloso;
2) Que para o transpor teve-se de utilizar como apoio à tropa que o atravessava, uma corda, cujas extremidades se encontravam presas em ambas as margens, do mesmo;
3) Que em dada altura a referida corda se partiu, precisamente no momento em que se encontrava a transpor o rio, o soldado n.º 711/65, José Henriques Mateus;
4) Que o mesmo soldado se afundou após a corda ter quebrado:
5) Que elementos da companhia, seus camaradas, o tentaram socorrê-lo, atirando-se à água e procurando socorrê-lo;
6) Que se fizeram buscas, durante cerca de quarenta minutos, na zona do desaparecimento, imediatamente, procurando detetar o corpo, sem qualquer resultado;
7) Que as águas do respetivo rio se encontravam bastante turvas e corriam a grande velocidade;
8) Que o incidente se deu ao anoitecer e debaixo de mau tempo."
Conclusões:
Termo de entrega: a 24 de setembro de 1966 o alf mil José Rosa de Oliveira Calvário dá por terminado o Processo de Averiguações e entrega o Relatório final e as Conclusões do mesmo na Secretaria da Unidade, quartel em Catió, para o devido destino”.
Informação superior do comandante: a 20 de outubro de 1996 o Processo de Averiguações segue para conhecimento e decisão superior, com a informação do comandante do Batalhão.
“Informação, 1. O soldado nº 711/65, José Henriques Mateus, da CCAV 1418, foi tragado pelas águas do rio que atravessava, desapareceu e nunca mais foi encontrado; 2. Face às circunstâncias apresentadas concordo com a opinião do Oficial Averiguante que conclui pela morte do referido soldado; 3. Sou do parecer que o acidente deve ser considerado como ocorrido em serviço.
Quartel em Catió, 20 de outubro de 1966”
Parecer do Comando Militar do CTI da Guiné, em Bissau: a 2 de novembro de 1966, o QG/CTIG, através de ofício assinado pelo Comandante Militar, brigadeiro António Reymão Nogueira, emite a seguinte informação: Informação nos termos do Dec. 3ª da OE nº 6-1.ª Série, de 30 junho 66. “Sou de parecer que deve ser considerado em serviço” o desastre de que teria resultado a morte ao sol. 711/65, José Henriques Mateus, da CCAV 1418 a que se refere o presente processo”.
(Continua)
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