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terça-feira, 8 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26993: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (2): José Henriques Mateus (1944-1966), sold at inf, CCAV 1484 (Catió, 1964/1966) - Parte I: nota biográfica


JOSÉ HENRIQUES MATEUS (Lourinhã, 
17.10.1944 - Guiné, 10.09.1966)


TO do falecimento - Guiné

Posto: Soldado atirador infantaria nº E – 69516/65

Subunidade: CCAV 1484 (

Naturalidade - Areia Branca, Lourinhã

Local da sepultura - Corpo, desaparecido no rio Tompar (afluernte do rio Cumbijã), , no decurso da Op Pirilampo, e  não encontrado


I. Continuamos a reproduzir, com a devida vénia,  alguns excertos  do livro recente  do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 169/173.


1. REGISTO DE NASCIMENTO

José Henriques Mateus nasceu a 17 de outubro de 1944, às 11.30 horas, no lugar de Areia Branca. 

Filho legítimo de Joaquim Mateus Júnior, de 42 anos, casado, com a profissão de jornaleiro e natural da freguesia e concelho de Lourinhã, e de Maria Rosa Mateus, de 20 anos, doméstica, casada, natural da freguesia de Atouguia da Baleia, concelho de Peniche, e domiciliados no lugar de Areia Branca. (...)

A declaração do registo de nascimento foi feita pela mãe, teve como testemunhas José Borges, operário reformado do Arsenal da Marinha, morador na vila de Lourinhã, e Manuel da Cruz, casado, proprietário e morador no lugar da Marqueiteira, foi assinado pelas testemunhas e não assinado pela declarante por não saber escrever e lavrado pelo Ajudante da Conservatória, Francisco Rocha, em substituição do Conservador por se encontrar legalmente de licença. Registo nº 503, de 14 novembro 1944, da Conservatória do Registo Civil da Lourinhã.

2. REGISTO MILITAR

Recenseamento: José Henriques Mateus foi recenseado no ano de 1964. Alistado a 3 de junho de 1964. Era solteiro, com a profissão de trabalhador agrícola,  e analfabeto

Inspeção militar: foi inspecionado a 16 de março de 1965 na DRM 5. Tinha 1.67 de altura, 65 kg de peso, cabelos lisos de cor castanho escuro e olhos de cor cinzento esverdeado. Em resultado da inspeção foi “apurado para todo o serviço Militar” e atribuíram-lhe o número mecanográfico E – 6951665.

Colocação durante o serviço: a 4 de maio de 1965 é incorporado como recrutado no RI 7, em Leiria. Fica adstrito à 1ª CI com o nº 1820/65. De 21 a 26 tomou parte nos exercícios de campo (OS 146). Faz o Juramento de Bandeira a 1 de julho. Termina a instrução básica a 03.07.65, sendo transferido para o RC 7 a 4 de julho, destinado à especialidade de atirador de infantaria, sendo aumentado ao efetivo da CCAV 1484 com o nº 711/65. Pronto da Escola de Recrutas a 22 de agosto de 1965 na especialidade de Atirador.

2.1. Comissão de serviço no ultramar, Guiné

Mobilizado: em outubro de 1965 nos termos da alínea c) do artº 3 do Decreto 42937, de 22/04/60, para servir CTI da Guiné, fazendo parte da CCAV 1484.

Embarque: no dia 20 de outubro, a bordo do navio Niassa, em Lisboa. Desembarque: a 27 de outubro em Bissau, desde quando conta 100% de aumento no tempo de serviço.

Data do falecimento: 10.07.1966

Causa da morte: desaparecido ao atravessar o rio Tompar

Local do acidente: Catió

Abatido ao efetivo: de acordo com a Ordem de Serviço (OS), e 21 de setembro de 1966, assinada pelo comandante de companhia,  capitão Virgílio Fernando Pinto, no quartel em Catió, na secção “Orgânica – Alterações para os mapas permanentes, alínea c) – Praças: Abates, consta: “Que seja abatido ao efetivo da CCAV 1884 do BCAÇ 1858, data em que desapareceu ao atravessar o Rio Tompar, o soldado José Henriques Mateus”.

Despacho Superior: por despacho de 24.10.67 foi confirmado como ocorrido em 10.09.66 e por motivo de serviço o acidente referido do qual lhe resultou a morte (OS 265).

Tempo de serviço: 1965, 241 dias e 1966. 252 dias.

2.2. Registo disciplinar: condecorações e louvores

Medalha: de segunda classe de comportamento (Artº 188.º do RDM) é-lhe atribuída em 4 de maio 1965.


3. PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES AO ACIDENTE: ANOTAÇÕES E CONTEXTO

Em consequência do acidente, o Ministério do Exército, através do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), determina que se organize um processo de averiguações. 

O CTIG informa, ainda, que, na sequência do acidente, “foi enviado telegrama à família do desaparecido comunicando a ocorrência” de acordo com ofício nº 1893, de 14 de setembro de 1966, emitido pelo Comandante do Depósito Geral de Adidos em Lisboa, coronel de infantaria Amândio Ferreira. 

Este informa, também, as várias instâncias superiores do “Desaparecimento de praça no Ultramar”: 

  • Chefe da 1ª Secção da Rep do Gabinete do Ministro do Exército,
  •  Chefe da Rep Geral DSP/ME, 
  • Chefe do Serv Inf Pública das Forças Armadas do Dep da Defesa Nacional, 
  • Chefe do Estado Maior do GG/GML, 
  • Chefe da Rep de Sargentos e Praças DSP/ME,
  •  Chefe da Agência Militar 
  • e Comandante do RC 7.

A 22 de setembro de 1966 dá-se início ao Processo de averiguações em cumprimento do despacho 13919 / processo nº 131, ponto três, exarado pelo QG/CTIG. Para o efeito, o Comandante da CCAV1484 nomeia o alferes miliciano José Rosa de Oliveira Calvário, do Serviço de Material, para elaborar o respetivo processo.

1. O Alferes Calvário, para apurar as circunstâncias em que terá desaparecido o soldado nº 711/66, José Henriques Mateus, ouviu, primeiro, o comandante interino da CCAV 1418, cap inf Virgílio Fernando Pinto, que declarou: 

"Que, a ocorrência tinha sido participada no relatório da operação 'Pirilampo' e no qual se encontram como testemunhas o alf mil cav de Fernando Pereira Silva Miguel, o 1º cabo, radiotelegrafista, nº 1055/65, Osvaldo Freitas de Sousa, e o alf mil cav Cav José Martinho Soares Franco Avillez."

A primeira testemunha, o alf mil cav Fernando Pereira Silva Miguel, CCAV 1484, solteiro, de vinte e quatro de idade e natural de Lisboa declarou:

“Que, após terem sido atingidos os objetivos da operação 'Pirilampo', e se terem evacuado os feridos e se ter dado início à retirada das nossas tropas levantou-se uma tempestade, que fez com que diminuíssem as condições normais de visibilidade, já por si escassas, por ser ao anoitecer. 

Que, quando o acidente se deu eram cerca das dezassete horas e quarenta e cinco minutos, quando da travessia do segundo e último rio, que as nossas tropas tinham de atravessar no regresso, e que naquele dia e àquela hora não dava passagem a vau por se encontrar a maré cheia. 

Mais disse que o soldado José Henriques Mateus se encontrava a atravessar o rio, agarrado a uma corda, quando esta se partiu. Em consequência disto, o sinistrado desapareceu imediatamente não dando mais sinal de si. Mais disse que ouviu o primeiro cabo Osvaldo gritar - «está um homem debaixo de água».

Mais declarou que ele próprio se atirou ao rio o que foi imediatamente secundado por outros camaradas seus, levando em buscas durante cerca de quarenta minutos, mergulhando e tentando tatear e detetar o corpo do sinistrado. 

Mais disse que em virtude da impossibilidade de o encontrar, devido à má visibilidade e forte corrente das águas, e depois de se empregarem todos os esforços, inspecionando a zona várias vezes, regressaram a quartéis. E mais não disse.”

A segunda testemunha, o 1º cabo radiotelegrafista, nº 1055/65, Osvaldo Freitas de Sousa, CCAV 1484 de vinte e um anos, solteiro e natural da Freguesia e Concelho de Fafe, disse: 

“Que se encontrava, quando do acidente, na extremidade da corda que atravessava o rio para apoio da sua passagem, a ajudar seus camaradas a saltarem para a margem. E que, quando o sinistrado se encontrava a meio da travessia, agarrado à corda, esta rebentou. Ao ver que o seu camarada se afundava, jogou-se à água para tentar agarrá-lo. Mais disse que conseguiu chegar junto do mesmo, e que o agarrou ainda por um ombro, embora ele se encontrasse submerso. Mais disse, que começou a gritar pelo que foi ouvido pelos seus camaradas, os quais se lançaram à água tentando auxiliá-lo. Que um deles (talvez uma milícia – não o reconheceu devido à pouca visibilidade) o segurou quando ele já se encontrava também prestes a ser arrastado para o fundo, devido ao peso do corpo do sinistrado. E que em virtude de se encontrar agarrado não conseguiu mais sustentá-lo por mais tempo.

"Mais disse que depois em companhia de outros seus camaradas, tentou detetar o corpo que nunca mais fora visto. Que levaram cerca de trinta minutos em busca, mergulhando e inspecionando a zona, pelo que eram impossibilitados pela escuridão, pela forte corrente das águas e também por estas se encontrarem turvas. E mais disse que após todo este tempo de buscas regressaram a quartéis. E mais não disse.”


A terceira testemunha, o alf mil cav José Martinho Soares Franco Avillez, CCAV 1484 de vinte e dois anos de idade, solteiro, natural da Freguesia de Alcântara, concelho de Lisboa, declarou que:

 “após ter sido dado o alarme sobre o desaparecimento do sinistrado, correu até junto da margem e lançou-se à água, para participar nas buscas do corpo do companheiro. Mais declarou que houve impossibilidade da sua parte e de outros seus camaradas, nas buscas feitas na zona onde desapareceu o sinistrado em virtude da escuridão que se encontrava, da forte corrente das águas do rio e além disso por estas se encontrarem bastante turvas. Mais declarou que levou cerca de quarenta e cinco minutos dentro de água, com outros seus camaradas, tenteando detetar o corpo do desaparecido, esforço, aliás infrutífero. E dado que a coluna estava a ser flagelada na cauda e que havia possibilidade de sofrer emboscadas no regresso e dado também à adiantada hora, foi dada ordem para regressarem a quartéis. E mais não disse.”


Relatório final e Conclusões: Após ter ouvido as testemunhas, o alferes Calvário elabora o relatório final, tirando as seguintes conclusões:

RELATÓRIO:

"1) Que no retorno de uma operação a CAV 1484 teve de transpor um rio bastante caudaloso;

2) Que para o transpor teve-se de utilizar como apoio à tropa que o atravessava, uma corda, cujas extremidades se encontravam presas em ambas as margens, do mesmo;

3) Que em dada altura a referida corda se partiu, precisamente no momento em que se encontrava a transpor o rio, o soldado n.º 711/65, José Henriques Mateus;

4) Que o mesmo soldado se afundou após a corda ter quebrado:

5) Que elementos da companhia, seus camaradas, o tentaram socorrê-lo, atirando-se à água e procurando socorrê-lo;

6) Que se fizeram buscas, durante cerca de quarenta minutos, na zona do desaparecimento, imediatamente, procurando detetar o corpo, sem qualquer resultado;

7) Que as águas do respetivo rio se encontravam bastante turvas e corriam a grande velocidade;

8) Que o incidente se deu ao anoitecer e debaixo de mau tempo."

Conclusões:

"a) Factos provados:

1) Que no acidente não houve culpabilidade do sinistrado, nem de outrem. 

2) Que o sinistrado desapareceu tragado pelas águas do rio, após se ter partido a corda de apoio, na travessia. 

3) Que em virtude das infrutíferas buscas que se fizeram durante 40 minutos, devido a uma série de fatores como: má visibilidade, forte corrente nas águas do rio, adiantado da hora (anoitecer) e as águas do rio bastante turvas, não se conseguiu recuperar o corpo. 

4) Que em virtude do depoimento das testemunhas, concluo a morte do soldado nº 711/65, José Henriques Mateus. 

b) Factos não comprovados: Nenhum”.

Termo de entrega: a 24 de setembro de 1966 o alf mil José Rosa de Oliveira Calvário dá por terminado o Processo de Averiguações e entrega o Relatório final e as Conclusões do mesmo na Secretaria da Unidade, quartel em Catió, para o devido destino”.

Informação superior do comandante: a 20 de outubro de 1996 o Processo de Averiguações segue para conhecimento e decisão superior, com a informação do comandante do Batalhão.

“Informação, 1. O soldado nº 711/65, José Henriques Mateus, da CCAV 1418, foi tragado pelas águas do rio que atravessava, desapareceu e nunca mais foi encontrado; 2. Face às circunstâncias apresentadas concordo com a opinião do Oficial Averiguante que conclui pela morte do referido soldado; 3. Sou do parecer que o acidente deve ser considerado como ocorrido em serviço.

Quartel em Catió, 20 de outubro de 1966”



Parecer do Comando Militar do CTI da Guiné, em Bissau: a 2 de novembro de 1966, o QG/CTIG, através de ofício assinado pelo Comandante Militar, brigadeiro António Reymão Nogueira, emite a seguinte informação: Informação nos termos do Dec. 3ª da OE nº 6-1.ª Série, de 30 junho 66. “Sou de parecer que deve ser considerado em serviço” o desastre de que teria resultado a morte ao sol. 711/65, José Henriques Mateus, da CCAV 1418 a que se refere o presente processo”.

Fonte: adapt. de Jaime Bonifácio Marques da Silva, op. cit.,  2025


(Revisáo / fixação de texto: LG)


(Continua)

______________

Nota do editor LG:

Postes anteriores  da série > 

26 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26957: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (1): José António Canoa Nogueira (1942-1965), sold ap mort, Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/1966) - Parte I: nota biográfica


4 de julho de 2025 Guiné 61/74 - P26983: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (1): José António Canoa Nogueira (1942-1965), sold ap mort, Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/1966) - Parte III: notícia do funeral no jornal da terra, "Alvorada" (de 23/5/1965)

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26189: Fotos à procura de... uma legenda (188): é mesmo a última das 4 fotos aéreas de que falta identificar a localização, diz o fotógrafo, Morais Silva, cap art, cmdt da CCAÇ 2796, Gadamael, em finais de 1971

 

Foto nº 20


Foto nº 20A


Foto nº 20B


Foto nº 20C

Guiné > Região de Tombali > s/l > 1971 > Vista aérea de um reordenamento, talvez entre Catió e Cufar.



Foto s/n (1)


Foto s/n (2)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1971 > Vista aérea do reordenamento de Gadamel e da pista de aviação (em 1), e com maior detalhe (em 2).

Fotos (e legendas): © Morais da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Bedanda, rio Cumbijã e, a sudoeste, Cufar, Mato Farroba, Ilhéu de Infandre e Príame (Catió).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)



Cor art ref Morais da Silva: (i) cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar (e depois, mais tarde, professor de investigação operacional na AM, durante cerca de 2 décadas); (ii) no CTIG, foi comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre jan 1971 e fev 1972; instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga;  adjunto do COP 6, em Mansabá;  (iii) fez parte do Grupo L34, na Op Viragem Histórica, no 25 de Abril de 1974; (iv) é membro da nossa Tabanca Grande, com cerca de 150 referências no blogue.



1. A foto nº 20 é mesmo a última das 4 fotos aéreas de que falta identificar a localização.  jlJá vimos que:

(i)  a nº 30 diz respeito a Cacine; 
(ii) as nºs 23 e 25 são de Catió; 
(iii) e a nº 29 é referente a Cabedu (*)...

O fotógrafo diz que a foto nº 20 pode ter sido tirada a um reordenamento dos arredores de Catió. As fotos nºs 23 e 25 não mostram a pista de aviação de Catió (que ficava a noroeste da vila e quartel de Catió).

Recorde-se que o cor art ref Morais Silva andava a "rearrumar" fotos do seu álbum da Guiné. Mas tinha umas tantas, sem legendas... E pediu-nos "ajuda"...

São vistas aéreas, tiradas de avioneta quando um dia, em finais de 1971, foi fazer uma visita de cortesia, camaradagem e amizade ao Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), cmdt da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (precocemente falecido, com o posto de maj gen ref).

Na altura, ele comandava, desde janeiro de 1971, a CCAÇ 2796, os "Gaviões", em Gafamael. Deixou ao cuidado dos seus homens o aquartelamento de Gadamael. A caminho de Catió tirou umas tantas fotos ("slides"), incluindo umas quatro ou cinco do quartel e reordenamento de Gadamael.

Reconstituindo o seu percurso de avioneta (DO 27 da FAP ou Cessna dos TAGP), já vimos que:

  • ele seguiu para sul, ao longo do rio Cacine;
  • sobrevoou Cacine (foto nº 30);
  • atravessou a península de Cubucaré (que é delimitada pelos rios Cacine e Cumbijã);
  •  tirou uma foto ao destacamento de Cabedu (nº 29);
  • e chegou finalmente a Catió (fotos nºs 23 e 25).

Recorde-se que, na altura, em finais de 1971, o PAIGC ainda estava fortemente implantado no Cantanhez. A reocupação da península de Cubucaré começa só em finais de 1972 (Op Grande Empresa), não havendo aqui, até então, reordenamentos feitos pela NT.

Onde terá sido, pois, tirada esta última foto (nº 20) ? Catió, Príame, ilhéu de Infandre, Mato Farroba, Cufar, na margem direita do rio Cumbijã ?

________________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 20 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26171: Fotos à procura de... uma legenda (187): O fotógrafo, o então cmdt da CCAÇ 2796, "Gaviões" (Gadamael, 1970/72), Morais Silva (hoje cor art ref) pergunta se seria Cabedu... Vejam se o podem ajudar, que ele quer arrumar os "slides"...

Vd. postes anteriores:

18 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26163: Fotos à procura de... uma legenda (186): O "gavião" que perdeu, não a "pena", mas... as legendas das fotos nº 23 e 25 do seu álbum... Ele pergunta se será Catió (...falamos do cor art ref Morais Silva)

17 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26161: Fotos à procura de... uma legenda (185): O fotógrafo, o então cmdt da CCAÇ 2796, "Os Gaviões" (Gadamael, 1970/72), Morais Silva (hoje cor art ref) pergunta se seria Cacine... Vejam se o podem ajudar, que ele quer arrumar os "slides"...

16 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26159: Fotos à procura de... uma legenda (184): Vistas aéreas de guarnições militares, povoações, tabancas e reordenamentos da Região de Tombali (Morais Silva, cor art ref, ex-cmdt, CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24871: Excertos dos melhores escritos de António Eduardo Ferreira (1950-2023), ex-1º cabo cond auto, CART 3493 / BART 3873 (Mansambo, Cobumba e Bissau, 1972/74) - Parte VI: Cobumba... onde é que isso fica?


Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956)  > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bedanda,  Cobumba, Cufar e rio Cumbijã.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Série com pequenos excertos dos melhores postes do António Eduardo Jerónimo Ferreira (1950-2023) (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 / BART 3873, Mansambo, Cobumba e Bissau, 1972/74) (*).

O nosso camarada era natural de Moleanos, Alcobaça. Na tropa e na guerra era mais conhecido por Jerónimo. Lutou quase 20 anos, desde 2004, contra um cancro. Criou o blogue Molianos, viajando no tempo, em data difícil de precisar (c. 2013/2014).


Parte VI - Cobumba? Onde fica isso?

(...) O pior da nossa comissão estava para vir.  No fim de março de 1973, a nossa Companhia foi informada que íamos ser transferidos para Cobumba, nome para nós desconhecido, mas logo nos disseram que ficava na zona sul,  próximo do Cantanhez, e estava tudo dito, uma das piores zonas de guerra na Guiné. (*)

Deixámos Mansambo, e depois de cerca de uma semana em Fá Mandinga e mais três ou quatro dias em Bissau, era chegado o dia de rumarmos ao Sul na LDG que nos haveria de levar até Cobumba. 

Iniciámos a viagem ao começo da tarde do dia 7 de abril de 1973, sábado, acompanhados daquilo que era indispensável para início da nossa instalação no terreno. Ao anoitecer chegámos algures à foz do rio Cumbijã e ali tivemos de ficar o resto da noite. 

Ao mesmo tempo que a LDG parava, levantou-se uma trovoada violentíssima ao ponto de ficarmos todos assustados com a agitação do mar que até aí tinha sido de calma absoluta, depois dos marinheiros terem descido as âncoras e a trovoada acalmar, passámos uma noite com a normalidade possível.

No dia seguinte fizemos o resto da viagem rio acima acompanhados por um navio patrulha da Armada até Cobumba, sítio onde nunca tinha estado aquartelada tropa portuguesa. Chegámos ao início da tarde, estava na região muita tropa especial (paraquedistas, do BCP 12) mantendo segurança ao nosso desembarque. 

À medida que as quatro viaturas que levávamos (duas Berliet e dois Unimog 404) iam saindo da LDG, eram carregadas e seguiam fazendo uma pequena viagem de cerca de quatrocentos metros onde eram descarregadas.

As viaturas tinham sido dias antes levantadas em Bissau por quatro condutores que para esse efeito tinham saído mais cedo da Companhia. Durante a descarga foram esses condutores a manobrar as viaturas (eu, não indo a conduzir,  fui um dos que foram nas primeiras quatro carradas), à medida que descarregavam voltariam ao rio para novo carregamento.

Sendo eu o condutor que naquele momento estava mais próximo da primeira que descarregou, o capitão, comandante da Companhia, disse-me para eu seguir com ela para o cais, tendo eu perguntado ao condutor que fizera o primeiro trajecto se ele queria que eu fosse ao rio, respondendo-me que não, que ia ele. Com toda aquela confusão nem sequer pensávamos em minas, pois a estrada teria sido supostamente bem picada e já tinham passado as quatro viaturas uma vez.

O condutor Cabral, e o Varela.  das transmissões,  eram os únicos ocupantes que seguiam na viatura de regresso ao rio, percorreram cerca de trinta ou quarenta metros e a viatura acionou uma mina que,  pelo estrago feito,  talvez fosse antipessoal, mas mesmo assim ficou alguns dias inutilizada, tendo o Cabral e o Varela ficado feridos, e voltado logo para Bissau, rumo ao Hospital Militar num helicóptero que passados poucos momentos chegou ao local. 

O Varela,  não tendo nada de grave, no dia seguinte voltou para a Companhia; o Cabral não mais voltou, foi ferido com gravidade numa vista tendo sido enviado para o Hospital Militar Principal de Lisboa.
 
O desembarque do resto do pessoal e de carga continuou, mas com atenção redobrada dado as coisas começarem a correr mal logo de início; o resto da operação de desembarque decorreu sem sobressaltos de maior. 

Na primeira noite a Companhia ficou toda no mesmo sítio. Na manhã do dia seguinte quase toda a formação (criptos,  radiotelegrafistas, condutores, padeiros, mecânicos, enfermeiros, alguns elementos de transmissões, uma secção de artilharia tendo a seu cargo o morteiro de 107 milímetros, o comando da Companhia e mais dois pelotões de atiradores) foram instalar-se a cerca de quatrocentos metros. 

Os outros dois pelotões ficaram no mesmo sítio, assim como uma secção de especialistas de armas pesadas tendo como função ocupar-se de um canhão sem recuo, a precisar de reforma.

A cerca de trezentos metros do pessoal da nossa companhia estavam mais dois pelotões que, estando connosco,  pertenciam a outra companhia, ou seja, estávamos distribuídos em três sítios,  formando um triângulo separados por poucas centenas de metros, um desses três era como que o equivalente à CCS do Batalhão,  já que aí se situava o comando da Companhia, e quase toda a formação.

Depois foi instalarmo-nos o melhor possível,  o que não foi fácil, estávamos habituados a ter luz, abrigos com alguma segurança e menos guerra, ali tudo era diferente, houve que fazer valas apressadamente, montar tendas, fazer um forno para cozer o pão, tendo sempre como companhia a inseparável G3. 

No primeiro mês o PAIGC não nos incomodou… durante esse tempo foram feitos outros trabalhos, mas aquela calma… deixava antever qualquer coisa que nós não sabíamos muito bem o que seria!

Entretanto,  conforme estava previsto, vim a segunda vez de férias à Metrópole; numa zona sem vias de comunicações viárias, isolada com guerra por todos os lados, restava-nos fazer o trajecto pelo rio ou via aérea("mas pelo ar só em casos especiais"), e lá fui numa coluna de pequenos barcos de fibra,  os “sintex”, até ao aquartelamento de Cufar, onde existia uma pista de aviação (creio ser a melhor do sul da Guiné). 

No mesmo dia embarquei num avião Nordatlas até Bissau, foi a aeronave mais barulhenta das sete em que viajei durante o meu tempo de guerra que foram: o DC 6, o Dakota, a avioneta DO 27, o Boeing 727, o Nordatlas, o Helicóptero, e o Boeing 707, que nos trouxe de regresso à metrópole no final da comissão.

Passados dois dias em Bissau, embarquei em Bissalanca rumo a Lisboa onde cheguei ao cair da noite: se da primeira vez que vim de férias,  o meu pensamento estava quase sempre no dia em que teria de regressar a África, agora a confusão era ainda maior; mesmo junto da minha esposa e do meu filho muitas vezes a minha ausência era quase total, foi um tempo de tal confusão que quase nada me lembro daquilo que por essa altura terá acontecido.

Se da primeira vez conhecia bem o sítio para onde iria voltar; da segunda apenas sabia ir para uma das zonas de maior actividade operacional do IN. Ainda bem que durante as férias não tive qualquer notícia daquilo que por lá se passava, pois se tal tivesse acontecido a partida teria sido ainda mais dolorosa.

Terminadas as férias lá fui uma vez mais rumo a Bissau onde cheguei ao fim da manhã, no mesmo dia tive transporte para Cufar e de novo no barulhento Nordatlas, como os homens por mais que fossem eram sempre poucos naquela zona, à tardinha arranjaram-me boleia para Cobumba, desta vez de helicóptero com uma breve passagem por Bedanda, onde o heli que me levava se manteve no ar enquanto o helicanhão foi a terra, cheguei a Cobumba ao fim do dia.  (...) (**)

(Seleção / revisão / fixação de texto /negritos: LG)
____________

Notas do editor:

(*) Excerto de 21 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9635: O tempo que ninguém queria (António Eduardo Ferreira) (3): De Mansambo para Cobumba

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24487: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte IV: Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: colocada nas ZA de Catió e Cabedu: descrição do terreno (aglomerados populacionais e comunicações)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço  (1943-2010)> Um aspeto parcial do quartel.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Vila > Álbum fotográfico do Victor Condeço (1943-2'010)  > "Lagoa com nenúfares,  à esquerda na estrada de Catió-Príame"


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto Interior > Álbum fotográfico do Victor Condeço  (1943-2010)> "O porto interior de Catió, no rio Cadime, fazia parte dos nossos passeios de Domingo". (O Victor é o primeiro da direita: era camarada discreto, amável, afável, prestável, generoso que a morte levou cedo: foi fur mil mec armamento.)

Fotos (e legendas): © Victor Condeço  (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > A lancha do Cachil, que vinha de Catió... A ligação de Cachil (na margem esquerda do Rio Cobade) a Catió fazia-se de barco, pelo Rio Cobade e depois pelo seu afluente, o Rio Cagopére (em cuja margem direita se situava o porto exterior de Catió)

Foto do álbum do ex-fur mil Victor Neto, da CCAÇ 557, enviada pelo incansável José Colaço, nosso grã-tabanqueiro.

Foto (e legenda): © Victor Neto / José Colaço (2014). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]´


Guiné > Região de Tombali > Carta de Catió (1956)  (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Catió e alguns rios envolventes: Tombali, Cobade, Umboenque, Ganjola, etc.


Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960)    (Escala 1/50 mil)  > Posição relativa de Cabedú, e dos rios Cumbijã e Cacine.

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Continuação da publicação de alguns  alguns excertos da história da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72). É mais uma das subunidades, que estiveram no CTIG, e que não têm até à data nenhum representante (formal) na Tabanca Grande.

Recorde-se que embarcou, no T/T Carvalho Araújo, em 19 de setembro de 1970, desfalcada de 3 dos seus oficiais subalternos. Acabou a IAO, em 31 de outubro de 1970, no CIM de Bolama, sem qualquer alferes, sendo os pelotões comandados provisoriamente por furriéis, uam situação anómala e talvez inédita no CTIG. O comandante de companhia era o cap inf op esp Augusto José  Monteiro Valente (1944-2012) (*)

Com base nos elementos de que dispomos (cópia parcial da história da unidade), vamos hoje fazer uma breve caracterização do terreno correspondente à sua Zona de Acção (ZA), na realidade duas zonas, e distintas: Catió e Cabedú, na região de Tombali , Sector S3(*)


História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte IV:

Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: colocada nas  ZA de Catió e Cabedu: descrição do terreno   (aglomerados populacionais e comunicações)


(22) Caracterização das ZA de Catió e Cabedú:

(222) D
escrição do Terreno:

6. Aglomerados populacio0nais

61. Sob o controlo efetivo das NT:
  • Catió: sede  da administração do concelho, nesta vila encontram-se representantes das várias etnias, predominando contudo os balantas;
  • As tabancas à volta de Catió também são balantas:  Catió Balanta, Nova Comedú, Areia Branca, Suá, Quintafine, Areia...
  • Só fula é Catió Fula;
  • Camitendem é nalu e biafada;
  • Príame é fula e maninga;
  • As tabancas mais afastadas são do Ilhéu de Infanda,  de população balanta.
62. Sob o controlo IN:
  • Na ZA de Catió: Ilhéu de  Cote,  Canturé, Catissame,Dimbissile, Cachanga,b Gansona, Quire e Musna;
  • Na ZA de Cabedú, a Ilha de Melo, com população das etnias balanta, nalu e sosso.
7, Comunicações

71. Itinerários
  • Na ZA de Catió,  Estradas de Catió-Cufar | Catió- Ilhéu de Infanda | Tombali (Cantona - Tombo) | De Catió parte um troço que através do R Ganjola vai entroncar na estrada de Tombali;
  • Na ZA de Cabedú, estrada de Cabedú-Cabanta.
72. Portos
  • Na ZA de Catió: 

(i) Rio Ganjola e afluentes:  Portos interior e exterior de Catió (nos rios Cadime e Gagopere, respetivamente) | Porto de Ganjola | Porto de Comedú | Porto de Cubaque;

(ii) Rio Cumbijã e aflientes: Porto do Ilhéu de Infanda,

  • Na ZA de Cabedú: 
No rio de Cumbijã e afluentes: Porto de Cabedú (no rio Lade).

Estes portos podem ser utilizados por  barcos a motor na praia-mar. Muitos outr0s são frequentad0s apenas por canoas nativas.

73. Pistas de aterragem

(i) Pista de Catió

Ccom um comprimento de 1200 metros, permite no tempo seco a aterragem de avióes do tipo DC.3 (Dakota), T-6 e DO-27. Na estação das chuvas, só as DO-27 fazem serviço com normalidade.

(ii) Pista de Cabedú: 

Com um comprimento de 500 metr0s, só pode ser utilizada, durante todo o ano, por avionetas de tipo DO-27.

74. Meios de ligação:

As características especiais do terreno das ZA (em especial de Catió) (plano, baixo, facilmente alagadiço e muito recortado por braços de rios) conduzem a que as poucas estradas existentes sejam muito sensíveis às chuvas , tornando-se impraticáveis por largos períod0s do ano.

Tal circunstància aconselha a utilização da via fluvial: por ser  bastante densa, torna fácil o acesso por barco a qualquer parte da ZA. A única limitação a este procedimento reside na necessidade de subordinar os movimentos ao período das marés.

Excertos das pp.  3/II - 6/II, História da Unidade)

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24455: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte II: Período de 1 de novembro a 31 de dezembro de 1970: colocada nas zonas de acção de Catió e Cabedu

Guiné > Região de Tombali > Carta de Catió (1956)  (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Catió e alguns rios envolventes: Tombali, Cobade, Umboenque, Ganjola, etc.

Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960)    (Escala 1/50 mil)  > Posição relativa de Cabedú, e dos rios Cumbijã e Cacine.

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Começámos a publicar alguns excertos da história da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72), por ser também mais uma das subunidades, que estiveram no CTIG, e que não têm até à data nenhum representante (formal) na Tabanca Grande.   

Por outro lado, chamou-nos a atenção a situação, anómala (e até, se calhar,  inédita) de ser um subunidade que embarcou, no T/T Carvalho Araújo, em 19 de setembro de 1970, desfalcada de 3 dos seus oficiais subalternos. Mas não só: acabou a IAO, em 31 de outubro de 1970, em Bolama, sem qualquer alferes, sendo os pelotões comandados provisoriamente por furriéis (*)

Com base nos elementos de que dispomos (cópia parcial da história da unidade), vamos continuar a destacar aqui alguns dos pontos do seu historial, que nos parecem mais interessantes, para os nossos leitores. Em princípio são resumos feitos por um dos nossos editores. No caso de excertos, virão publicados com aspas ou itálicos.

Guiné > Região de Tombali  >  Catió > CCAÇ 617  (1964/66) >   O quartel

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço (1943-2010) > Catió > Quartel > Legenda do autor: "Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [Jul 1967]. Vista parcial da parte nova do quartel. A parada com o cepo (raiz) do Poilão, à esquerda as casernas nº 1 e nº 2, ao centro o edifício do comando, por detrás deste as camaratas de sargentos e depois destas as novas messes ainda em construção, tal como a camarata de oficiais à direita. O telhado vermelho era a messe e bar de sargentos".


Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço (1943 - 2010) > Catió - Quartel > O Fur Mil Vitor Condeço sentado na raiz do Poilão, tendo por fundo o edifício do comando". [O Vitor, 63 anos, reformado, residente no Entroncamento, foi furriel miliciano mecânico de armamento, CCS do BART 1913, Catió, 1967/69].


Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Cabedú - CCAÇ 1427 (1965-1967) >  Vista aérea do Aquartelamento e pista de aviação. Foto do álbum de Manuel José Janes,  "O Violas" - (Vd.  poste P17336) (Com a devida vénia...)

Foto (e legenda): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte II: 

Período de 1 de novebro a 31 de dezembro de 1970: colocada nas zonas de acção (ZA) de Catió e Cabedu

Depois de mês e meio em Bolama, a CCAÇ 2792, comandanda pelo cap inf op esp Augosto Manuel Monteiro Valente (1944-2012),  marchou em 16 de novembro de 1970 para Bissau a bordo das LDM 310 e 311, devendo seguir posteriormente para Catió e Cabedú, as zonas de acção que lhe foram atribuídos, em 6 de dezembro, no sul da Guiné, região de  Tombali.

A 18 seguiram para Catió, em avião Nord Atlas, o comando e os 1.º e 2.º  Gr Comb. O transporte para Cabedú, dos restantes Gr Comb (3.º e 4.º) só se realizou a 4 de dezembro em LDM. 

Até 17 de dezembro, a CCAÇ 2792 ficou na dependência operacional do BART 2865, data em que o BCAÇ 2930 assumiu a responsabiliddae da ZA do Sector S3 (Sul 3).

"A  divisão dos efetivos da Companhia pelas ZA de Catiõ e Cabedú foi o primeiro golpe para o seu moral.  O espírito de corpo que, apesar das dificuldades de enquadramento, se conseguiu criar, manter  e desenvolver, foi afetado substancialmente,.

Catió e Cabedú são duas regiões distintas,  sem possibilidades de contacto pelo que as forças se separaram sem qualquer dúvida  de que se não voltariam a reagrupar  antes  do final da comissão.  Esta divisão tirou imediatamente à subunidade a sua capacidade ofensiva, pois que os efetivos nas ZA tornaram-se insuficientes para fazer frente ao Inimigo que se encontra instalado  imediatamenmet para lá dos limites das ZA." (pág. 18/II)

(21) Milícias

Dependentes do comando da CCAÇ 2792, estavam as seguintes forças de milícias, constituídas por "voluntários nativos", utilizados  (i) "na defesa local das populações onde não esteja estabelecida autodefesa"; e (ii) em reforço das NT em operações:

- Em Catió (dependência operacional): 

  • Comp Mil  13 (fula), a 3 pelotões; 
  • Pel Mil  272 / Comp Mil 25 (balanta);

- Em Cabedú (dependência total):

  • Pel Mil 274  / Comp Mil 25 (várias etnias).
(22) Caracterização das ZA de Catió e Cabedú:

(221) Terreno:

As duas ZA estavam separadas por um obstáculo natural chamado Rio Cumbijã. Os seus limites são definidos por:

(i) No caso do Catió (Comando, 1.º e 2.º Gr Com da CCAÇ 2792 mais 4 pelotões de milícias)

R Cumbijã |  R Cobade | Foz R Umboenque | R Umboenque | Nascente R Binde | Estrada de Tombali | Catió 8 F0-30 | Nascente R Cantolom |  Catió 8 I5-25 | Bedanda 2 A0-42 | R Carangaque |  R Ganjola | R Catafaque | Canchumane 15 (Bedanda  1 E5 - 66) | Rio contornando a Este os ilhéus  de Cuducó e Infanda até à sua foz. 

(Vd. infografia acima, Carta de Catió)

(ii) No caso do destacamento de Cabedu (3.º e 4.º Gr Comb da CCAÇ 2792 mais 1 pelotão de milícia):  

R Cumbijã desde a foz até Cacine Z 63-81 | Foz R Ualche | R Ualche | Cabanta | R Pachira |  R Cacine até à sua foz. 

(Vd. infografia acima, carta de Cacine).

(Continua)

(Seleção / resumo / negritos / itálicos: LG)

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

4 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24450: História da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72) - Parte I: Mobilização, composição e deslocamento para o CTIG em 19 de setembro de 1970

3 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24447: Casos: a verdade sobre... (34): A CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72), comandada pelo cap inf Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), e depois maj gen ref, que embarcou para o CTIG sem três alferes (que terão desertado) e durante a IAO ficou sem o último, por motivos disciplinares...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23917: Notas de leitura (1536): "Noites de Mejo", por Luís Cadete, comandante da CCAÇ 1591; edição de autor, com produção da Âncora Editora, 2022 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Ficarei imensamente grato a quem me puder ajudar com informações sobre a CCAÇ 1591 e Mejo. Quando li "Vindimas no Capim", escrito pelo nosso confrade José Brás, encontrei algumas referências a Mejo, mas fiquei-me por aqui. É uma grande surpresas, esta literatura memorial do Coronel Luís Cadete, chegou à Guiné ainda tenente, aqui foi promovida a capitão, vê-se à vista desarmada que aquela terra vermelha se tornou inesquecível, como aliás ele escreve na introdução:
"Mejo foi, no fim de contas, o nosso primeiro amor na Guiné e ainda hoje temos saudades dele, pois puxou por tudo quanto tínhamos de melhor para ultrapassarmos as dificuldades inerentes a uma situação de campanha."
É um livro que não merece ficar confinado a uma pequena edição, não é justo. Há por vezes ressaibos, ajusta contas com a sua própria instituição militar, maldiz a incompetência, mas até apetece recordar a frase icónica de Álvaro Guerra de que aquela terra foi um permanente avolumar de dores e inquietações, mas foi ali que se selou a nossa têmpera pelos anos vindouros.

Um abraço do
Mário



Muita atenção, há aqui páginas que passarão à posteridade, temos Mejo na literatura! (1)

Mário Beja Santos

Coronel Luís Carlos Loureiro Cadete, ontem e hoje

A obra intitula-se "Noites de Mejo", o autor assina Luís Cadete, viremos a saber que de seu nome completo é Luís Carlos Loureiro Cadete, foi comandante da CCAÇ 1591, a quem também dedicou o livro, conjuntamente com os seus soldados guineenses. Escreveu estas histórias em 2016 e publicou-as em 2022, edição de autor com produção da Âncora Editora. Deu algum trabalho chegar ao livro, que não está no circuito comercial, o que é profundamente de lamentar, há aqui páginas admiráveis, não faltam tiradas bem urdidas de tragicomédia, revelando ternuras da aculturação, a vida dura num dos pontos mais ásperos que a guerra da Guiné ofereceu aos militares portugueses. Nunca li uma introdução a um ambiente tão poderosa e tão viva como Luís Cadete faz de Mejo, a ninguém pode deixar indiferente prosa tão precisa, uma demonstração de um olhar tão fecundo, lembra um geógrafo, um antropólogo, um etnólogo:
“A tabanca que dava pelo nome de Mejo situava-se, sensivelmente, a 9 quilómetros de Guileje, na estrada para Bedanda, na bifurcação para Salancaur Fula, colina com cerca de 110 metros de altitude com o cume em forma de tampo de mesa ligeiramente inclinado para Nascente, com o ponto mais elevado a Poente.
Esta colina, restos de formação rochosa de maior vulto dissolvida pelas chuvas diluvianas e ácidas do Pluvial, há vários milhões de anos, domina vasta extensão do rio Cumbijã que lhe corre a Norte. Com as encostas cobertas de grandes poilões e mato rasteiro, é um ponto de referência importante num território predominantemente plano. A vastíssima bolanha do Cumbijã dava arroz em quantidade que, antes da guerra, quer a Casa Gouveia, representante da CUF no território, quer a Sociedade Comercial Ultramarina, vinham comprar, na época própria, ao cais existente na margem direita, isto é, fronteiro a Salancaur e do outro lado do rio.”


Manifesta o autor a preocupação de que o leitor se insira naquele espaço e até naquele tempo, é um observador cuidado, quer manifestamente que o leitor ponhas os pés naquela terra de combate e em voo picado estamos em Mejo:
“Do ponto de vista militar, Mejo era um retângulo de 100 por 110 metros de lado que dependia da companhia de Guileje que aqui tinha um pelotão para garantir um mínimo de proteção à população regressada. A CCAÇ 1591 foi a primeira a estanciar por lá por 8 meses e meio. Sem instalações para alojar o efetivo da companhia mais os do pelotão destacado de Guileje, os primeiros meses foram vividos em tendas cónicas carcomidas pelo sol e pelas chuvas da Guiné. Os buracos eram tapados por rolhões de capim enquanto se trabalhava no fabrico artesanal de tijolos para a construção de casernas. Quando a CCAÇ 1591 arribou a Mejo, cuja má fama corria infrene por todos os cantos da Guiné, só se via capim verde e alto como um homem de pé, não só no exterior, mas também no interior da posição. Embora pareça inconcebível, aqui andava-se por trilhos ladeados de capim!”.

Segue-se a descrição da população civil e do armamento rudimentar da unidade dependente do comando de batalhão de Buba, ficamos a saber que a população de Mejo era da subetnia Futa-fula, mas não faltavam Fulas-forros.
Não se compadece, tem comprovadamente a memória bem acerada, com as jigajogas do decisor militar e muito menos com as manhosices burocráticas. Qual a importância de Mejo? Fazia parte de um plano de operações que tinha como objetivo principal a ocupação da colina de Salancaur, plano que se iniciara alguns meses antes da chegada de Schultz, concebido pelo comandante militar, pois a primeira medida de Schultz foi cancelar toda a atividade operacional determinada por este comandante. “A ordem alcançou a tropa quando esta já marchava rumo a Salancaur com o Pelotão de Reconhecimento Fox de Guileje a abrir a progressão, nunca mais se pensando em acabar algo que fora bem pensado.”

Mesmo a descrição da chegada da CCAÇ 1591 tem toques de originalidade, houve para ali umas trocas a baldrocas no quartel-general, estavam à espera de outra unidade, o Tenente Luís Cadete é mal recebido por aquela burocracia que tinha a inteligência de uma porta ondulada, lá vão para Brá, metidos numa caverna devoluta sem camas, andaram a fazer carreira de tiro em Prábis e depois metidos na LDG Montante, rumo a Fulacunda. Vão agora começar histórias galhardas, pícaras, de entremeio com lembranças afetuosas, algumas delas, garanto a pés juntos, merecia ser reproduzidas aqui por inteiro. Convém que o leitor não se esqueça que estamos em 1966, o corredor de Guileje ainda não assumira a dimensão infernal com que hoje é por muitos lembrado.

No pórtico das lembranças temos a paixão de Mariama, a bajuda mais bela da tabanca, Luís Cadete burila a quintessência da beleza:
“O corpo era escultural, de fazer inveja à estatuária da Antiguidade Clássica. Tinha um par de pernas deslumbrante, bem torneadas e esguias e a mama alta, firme, delicadamente cheia, como eu nunca vira nem voltei a ver outra e que, conforme à tradição, trazia em liberdade franca; a pele escura de tom avermelhado era acetinada, quente e glabra sem imperfeições. Quando ela passava no seu passo elástico e elegante a caminho da Fonte das Mocinhas – nome pelo qual era conhecida a nascente permanente situada a Sul da estrada para Buba e à entrada da tabanca –, sorrindo de olhos baixos aos piropos do pessoal, ninguém havia na Companhia que se não virasse para a ver passar.”

Mariama apaixonou-se pelo soldado D, rapaz sossegado, disciplinado e respeitador, nado e criado lá para as bandas da Lousã. E era correspondida. E não falta uma pitada forte de romantismo para adubar o romance:
“A Mariama e o D namoravam ao arame farpado e era um regalo vê-los conversando horas a fio sem que se descortinasse o que tanto tinham para segredar um ao outro. Dos olhos da Mariama, a ternura daqueles momentos via-se escorrer ao acariciar o rosto do D. E eu, romântico contumaz, nunca fui capaz de proibir aquelas manifestações de um amor impossível, dadas as circunstâncias.
E, durante cerca de quatro meses, aquele amor entre os dois encheu de ternura quantos viam o D e a Mariama no seu enlevo casto e puro ao arame farpado.”

Vieram os comentários libidinosos, nosso capitão não estava ali para os ajustes, lembrou a Mariama aquela evidência de que qualquer dia o D se ia embora sem consequências, era melhor que ela se protegesse para o futuro, e o final deste episódio é mesmo inesquecível:
“Olhou-me com um certo ar de desafio como quem sabe muito bem o que fazer e enquanto uma lágrima teimosa lhe corria pela cara abaixo respondeu-me, fitando-me nos olhos com o seu quê de desafio:
- Hora di D bai, nó na dita i n’bai faziu sabi toc i D cá esquíci Mariama (quando o D se for embora, vamo-nos deitar e fá-lo-emos e o D nunca esquecerá a Mariama).
Foi assim?
Só eles o saberão.”


Prepare-se o leitor para muito mais.

Aquartelamento de Mejo, imagem de Alberto Pires, com a devida vénia
Outra imagem de Mejo, também de Alberto Pires

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23909: Notas de leitura (1535): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (9) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23669: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (17): Uma emboscada junto ao cais do rio Cumbijã

1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga, Bissau, 1972/74) com data de 21 de Julho de 2021:

Amigo Carlos

Tinha pensado não voltar a falar de Cobumba, mas hoje, talvez por me lembrar de um funeral que lá aconteceu, levou-me a voltar a falar daquele sítio. Embora gostasse de esquecer, mas por tudo aquilo que nós lá vivemos não me é possível.


Certo dia um grupo de elementos da nossa companhia foi a Cufar, como acontecia algumas vezes, tendo usado o nosso sintex. Nesse dia eu estava de serviço de condutor, ao fim da tarde fui com a viatura e mais três ou quatro camaradas para o cais, junto ao rio Cumbijã, onde estivemos durante algum tempo à espera que eles chegassem para os trazer de volta ao destacamento.

Enquanto esperávamos, os Fiat iam bombardeando não muito longe de nós. Naquele tempo, ao contrário do que acontecia antes dos strela por lá terem chegado, altura a que eles faziam os bombardeamentos era bastante mais afastada do solo o que nos permitia vê-los. Durante o tempo que lá estivemos à espera, a conversa não parou, durante a qual alguém afirmou que a Maria Turra tinha dito que breve nos iam atacar. Era coisa tão normal ela dizer que nós não demos importância, dizia muitas coisas que não eram verdade. “Quando em Mansambo fomos atacados, a primeira e única vez enquanto lá estivemos, no outro dia ela apareceu na rádio a dizer que nos tinham feito grandes estragos, entre os quais a destruição de um abrigo, o que era mentira, dentro do destacamento, nesse dia, apenas caíram duas granadas.”
Entretanto os Fiat terminaram o seu trabalho e foram embora. Passados poucos minutos de terem partido começamos a ouvir alguns rebentamentos, e a nossa primeira reação foi pensar que eles tivessem voltado, pensamento que durou apenas breves instantes, rapidamente nos apercebemos que afinal éramos nós que estávamos a ser atacados. Ataque continuado e diversificado no armamento por eles utilizado, tendo sido o que demorou mais tempo dos vários com que fomos flagelados enquanto por lá permanecemos. A sorte naquele dia esteve do nosso lado, mas o susto motivado pela impotência com que nós fomos confrontados junto ao rio, foi terrível, nada podíamos fazer. Com uma das armas utilizada, o morteiro 82, eles conseguiram colocar uma granada de cada lado da picada com uma distância de cerca de quarenta ou cinquenta metros, uma da outra, desde o início das primeiras tabancas até a poucas dezenas de metros do local onde nós nos encontrávamos, que era a uma distância de cerca de quinhentos metros. Restava-nos ir para dentro do rio, naquela altura com a maré muito baixa. Foi o que fizemos, recordo-me de com as mãos tirar o lodo para os lados e me ter deitado nesse espaço, um disparate mas naquele momento tudo nos ocorria ao pensamento.

O armamento por eles utilizado estava distribuído por quatro locais: os RPG 7, um do lado de Pericuto, outro do lado oposto, início da mata de Cablolo; o canhão s/r deles, era daqueles que quando se ouvia a saída, a granada já estava a cair; o morteiro 82, dada a precisão com que eles colocaram as granadas junto à picada, só podia estar na direção da mesma, penso eu. Porque a sorte esteve do nosso lado, apenas tivemos um ferido leve, o apontador de um dos nossos canhões sem recúo, o que fez com que ele tivesse feito apenas um disparo.

Passados largos minutos passamos a contar com a ajuda dos obuses de Catió. Se os camaradas que tinham ido a Cufar, têm chegado alguns minutos antes, tudo nos podia ter acontecido, dado o trajeto que nós tínhamos de fazer para regressar ao destacamento, atendendo à precisão com que eles colocaram as granadas junto à picada.

Entre a população houve uma vítima mortal, uma senhora. No outro dia efetuaram o seu funeral, tendo sido enterrada junto à tabanca onde morava. Nesse dia apareceram por ali algumas pessoas vindas de outros locais. Ao fim do dia havia alguns com pedaços daquilo que nos parecia ser carne de porco, não chamuscado, gostava de saber se seria alguma tradição Havrá alguém que saiba?

António Eduardo Ferreira

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22395: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (16): A caminho de Mansambo com o pensamento na Nazaré