1. Mensagem do nosso camarada Leão Varela, ex-Alf Mil da CCAÇ 1566 (Jabadá, Pelundo, Fulacunda e S. João, 1966/68):
A todos os amigos "tabanqueiros" e camaradas da Guiné desejo um FELIZ NATAL e um ÓPTIMO NOVO ANO ,
Para ti amigo Carlos Vinhal um forte abraço
José Inácio Leão Varela
2. Mensagem da nossa amiga Arminda Castro, filha do nosso camarada, já
falecido, Manuel Moreira de Castro (ex-Soldado Atirador de Infantaria da CCAÇ
2315/BCAÇ 2835, Bula, Binar, Mansoa, Bissorã e Mansabá, 1968/69):
O meu pai já não está entre nós mas, quero em meu nome e em nome dele desejar-lhes um Feliz Natal, e um óptimo ano 2017 com saúde acima de tudo!
Arminda Castro
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16877: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (18): Mensagem de Natal e anúncio do XXXIII Convívio do pessoal da CART 3494 (Sousa de Castro)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 24 de dezembro de 2016
Guiné 63/74 - P16877: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (18): Mensagem de Natal e anúncio do XXXIII Convívio do pessoal da CART 3494 (Sousa de Castro)
1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), com data de 22 de Dezembro de 2016:
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de dezembro de 2016 Guiné 63/74 - P16876: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (17): Cartão de boas festas do nosso veteraníssimo Alberto Nascimento (ex-sold cond auto, CCAÇ 84, Piche, Buruntuma e Bambadinca, 1961/63)
Guiné 63/74 - P16876: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (17): Cartão de boas festas do nosso veteraníssimo Alberto Nascimento (ex-sold cond auto, CCAÇ 84, Piche, Buruntuma e Bambadinca, 1961/63)
Cartão de Boas Festas (*) do nosos veteraníssimo Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 84, Piche, Buruntuma e Bambadinca, 1961/63). Recorde-se por one andou o nosso caramara, que tem 25 referências no nosso blogue (**):.
(ii) a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca (, não veio portanto de barco), foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão, o 1º, tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá;
(iii) o primeiro destacamento, ainda em Julho de 1961, foi para Farim, após os primeiros e ainda pouco violentos ataques a Bigene e Guidaje;
(iv) seguiu-se o destacamento de Nova Lamego (...) onde o pelotão foi dividido por Buruntuma, Piche e Canquelifá;
(v) à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões, o Nascimento só voltou a a vê-los nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.
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(v) à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões, o Nascimento só voltou a a vê-los nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 22 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16870: "O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017" (16): BOAS FESTAS (Jorge Araújo)
(**) Vd. aqui alguns dos postes de Alberto Nascimento:
11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63)
10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3044: Estórias avulsas (16): Os cães de Bambadinca (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)
14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)
7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (17): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)
16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)
21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nascimento)
2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)
18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4049: As abelhinhas, nossas amigas (5): As abelhas e a NEP (Alberto Nascimento)
8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4796: Estórias avulsas (47): O enfermeiro Lomelino (Alberto Nascimento)
Guiné 63/74 - P16875: Parabéns a você (1182): Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71) e João Rebola, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2444 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16871: Parabéns a você (1181): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS dos STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa , Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
Guiné 63/74 - P16874: Camaradas da diáspora (13): O ativista João Crisóstomo (EUA) visitou a nossa Tabanca Grande... e já tem causas para o ano de 2017... Um delas é a continuação das celebrações dos 225 anos do Consulado Geral de Portugal em Nova Iorque... Para ele e a Vilma, desejamos "Merry Christmas and Happy New Year".. Mas também para o Eduardo Jorge e a São que desta vez foram consoar para Londres...(O que os pais fazem pelos filhos, camaradas!)
Torres Vedras > Praia de Santa Rita > 15 de dezembro de 2016 > Eduardo Jorge e João Crisóstomo
Torres Vedras > Praia de Santa Rita > 15 de dezembro de 2016 > Luís Graça e João Crisóstomo
Torres Vedras > Praia de Santa Rita > 15 de dezembro de 2016 > Alice Carneiro e João Crisóstomo
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados
1. Na véspera de Natal, o João Crisóstomo, nosso grã-tabanqueiro da diáspora, deu um saltinho à sua terra, vindo de Nova Iorque, onde vive, e onde esteve com o seu amigo e conterrâneo Padre Melícias, bem como outras personalidades que acompanharam o eng António Gueteres, no dia da tomada de posse como secretário geral das Nações Unidos...
(Refira-se, a propósito, que a SIC e a TVI que fizeram a cobertura deste histórico acontecimento, estiveram depois, no dia seguinte, de manhã, na casa do João e da Vilma, fazendo um reportagem, paralela, sobre este nosso camarada e amigo a viver em Nova Iorque desde 1975, e que, apesar da dupla nacionalidade, continua a fazer o melhor que sabe e pode pela sua Pátria, tendo-se tornado um conhecido ativista de causas sociais como a defesa das gravuras rupestres de Foz Coa, a independência de Timor e a reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes).
Como quase sempre que cá vem, dá uma apitadela aos amigos. Dez vez, foi possível reunimo-nos ao fim da tarde do dia 15 de dezembro, para dar dedos de conversas e matarmos saudades. O Eduardo Jorge Ferreira foi o anfitrião (, sempre generoso e solidário, apesar de partir no sábado para Londres para poder passar o Natal com filhos e netos). Eu e a Alice viemos de Alfragide. O João, da casa da irmã em Santa Cruz. O dia era de inverno, mas o Eduardo já nos tinha marcado encontro num barzinho da praia de Santa Rita, mesmo em cima do areal.
O João deu-nos notícias, boas e más, da sua segunda terra, falámos ao telefone com a Vilma e naturalmente partilhámos os desejos de "Merry Christmas and Happy New Year".
E falámos de outros projetos em curso: o João tem, já de há algum tempo, a ideia de juntar os camaradas do Oeste (Estremadura) que passaram pelo TO da Guiné. A questão é a oportunidade da realização de um convívio, em 2017 ou 2018, num dos concelhos mais centrais (Lourinhã ou Torres Vedras) dos ex-combatentes do Oeste. Em 29 de abril de 2017 o João estará presente no encontro anual da sua CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67). Gostaria também de poder ir ao XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, mas que em princípio já está marcado para esse mesmo dia em Monte Real... (Não tendo ele o dom da ubiquidade, vai estar com os camaradas da CCAÇ 1439, na Foz da Arelho, Caldas da Raínha,)
Õutro dos seus projetos, que quis compartilhar connosco é a comemoração dos 225 anos do Consulado Geral de Portugal Nova Iorque (cuja origem histórica remonmta a 1791). A ideia é continuar a celebrar esta efeméride, em 2017, para mais num ano em que há mudança de inquilino da Casa Branca.
Recorde-se que "em 15 de Fevereiro de 1783, o Governo de D.Maria I reconheceu a independência dos EUA, figurando Portugal, juntamente com a França e Holanda, entre os 3 únicos países que reconheceram a independência dos EUA antes do Tratado final de Paris." (Fonte: Portugal, Instituto Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros).
Por outro lado, oss pais fundadores da América celebraram a indepência do seu país com vinho... da Madeira!,,,
O João, em, articulação com a cônsul, açoriana de origem e sua amiga, tem ideias originais para comemorar condignamente, e com o devido mediatismo, este evento... a que o nosso blogue se associa,ndesde já, com todo o entusiasmo.
Para o João e a Vilma um feliz Natal em Nova Iorque, Para o nosso Eduardo Jorge Ferreira, esposa São e filhos, desta vez em Londres, idem aspas... Que os nossos bons encontros se continuem a realizar para o ano. (LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 29 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16032: Camaradas da diáspora (12): Notícias da América: "Luso-Americanos que morreram ao serviço das Forças Armadas dos USA", último livro do jornalista e escritor Fernando Santos (João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Portogole, Missirá, 1965/67)
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Guiné 63/74 - P16873: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (7): o destacamento de Mato Cão - Parte III: a construção da tabanca
Foto nº 1 > Psico 1> Crianças balantas
Fopto nº 2 > O fur mil João Santos na psico > Crianças balantas
Foto nº 3 > Construção da tabanca (1)
Foto nº 4 > Construção da tabanca (2)
Foto nº 5 > Construção da tabanca (3)
Foto nº 6 > Construção da tabanca (4)
Foto nº 7 > Construção da tabanca (5)
Foto nº 8 > Construção da tabanca (6)
Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luis Mourato Oliveira, nosso grãtabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)
O lisboeta Luís Mourato Oliveira, com família materna na Lourinhã, era de rendição individual... Veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, por volta de julho de 1973, para fazer formação antes de ir comandanr o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá.
O lisboeta Luís Mourato Oliveira, com família materna na Lourinhã, era de rendição individual... Veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, por volta de julho de 1973, para fazer formação antes de ir comandanr o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá.
Eis algumas fotos do tempo em que o alf mil Luís Mourato Oliveira passou no destacamento de Mato Cão, cuja principal missão era proteger as embarcações que circulavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca.
Nestas fotos (3 a 8), regista-se a construção da tabamcva de Mato Cão. Além das famílias do pessoal do Pel Caç Nat 52, também havia uma família (ou mais) de balantas (fotos 1 e 2).
Sobre o Mato Cão, que era um lugar mítico, temos já mais de 70 referências... Pertencia ao subsetor do Xime. Por lá passaram diversos camaradas nossos, membros da Tabanca Grande...
_________________
Nota do editor:
(*) Vd. último poste da série > 12 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16828: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (6): o destacamento de Mato Cão - Parte II
Guiné 63/74 - P16872: Notas de leitura (913): “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016 (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2016:
Queridos amigos,
Luís Barbosa Vicente é um gestor e um associativista que, mesmo vivendo em Portugal, acompanha dia-a-dia as questões matriciais do seu país. Recomendo a todos esta análise sobre o Estado, o modo de fazer política, o viver de costas voltadas entre os órgãos de poder e as sociedades civis guineenses. O autor adianta propostas da reforma do Estado e modernização da administração pública e abona dados para um paradigma de desenvolvimento que exige uma clara reformulação dos órgãos do poder, está convicto da mensagem certeira de Cabral de que o reconhecimento da luta de libertação não seria ganha pela sua geração mas sim pela geração seguinte, ele confia que há uma geração seguinte que recolocará a cidadania guineense no mapa de África e do mundo.
Um abraço do
Mário
Olhares sobre a Guiné-Bissau depois das eleições de 2014, até hoje (1)
Beja Santos
A obra intitula-se “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016. O autor é guineense e desenvolve ampla atividade como gestor de projetos e desenvolvimento e, igualmente, como formador e consultor da União Europeia.
As eleições de 2014 trouxeram uma vaga de esperança num país desolado que saía de uma ditadura militar encabeçada por narcotraficantes. Em pouco tempo, surgiram contradições, questiúnculas e tensões insanáveis nos diferentes órgãos do poder. A Procuradoria-Geral da República emite logo nesse ano um parecer sobre a inconstitucionalidade de um decreto presidencial, o Supremo Tribunal de Justiça delibera no mesmo sentido, o Tribunal de Contas aprecia o primeiro Relatório de Contas do Estado referente ao ano de 2010. O Procurador-Geral e o Presidente do Tribunal de Contas foram prontamente demitidos, era o princípio da confusão.
Observa o autor que “A garantia de desempenhar cargos altamente remunerados associados aos privilégios da função é a mistura explosiva para as disputas intestinas pelo poder. É importante realçar que o exercício desses cargos, nomeadamente de ministros, secretários de Estado, assessores, conselheiros e até de presidentes ou vogais de conselhos de administração de empresas públicas garantem um salário líquido mensal de 2,5 milhões de francos CFA, que corresponde a cerca de 3700 euros, num país onde o salário mínimo é de cerca de 46 euros”. E há um pano de fundo que não se pode descurar: o miserabilismo da função pública, a existência de um número muito elevado de serviços e imprecisão relativamente às atribuições dos mesmos, a não oficialização de leis orgânicas, desarticulação entre as estruturas e os postos de trabalho – a máquina da administração pública vive emperrada, os técnicos esmifram-se por fazer serviço externo e obter ajudas de custo, vão em missões que na maioria dos casos nada traz de tangível ou de palpável, já que os serviços públicos continuam ineficientes e inacessíveis à generalidade da população.
E há a existência de um governo que produz legislação em circuito fechado, a reforma do Estado é sistematicamente adiada. Dentro dessa confusão e inércia, depois das eleições de 2014, no período de um ano assistiu-se à formação de quatro governos, com situações caricaturais, veneno mortal para o descrédito dos órgãos de soberania. Refere igualmente o autor que em Junho de 2015 foi nomeado um governo liderado por Baciro Djá, um dos 15 dissidentes expulsos do PAIGC, com o apoio parlamentar do Partido da Renovação Social. Como numa obra cómica, o recém-governo teve que se reunir no Ministério da Administração Interna, uma vez que o Palácio do Governo continuava ocupado e sitiado, o PAIGC recusara a nomeação de um novo primeiro-ministro.
Luís Vicente debruça-se sobre os custos da política sem regra, mostra os indicadores económicos e recorda que em cada ciclo de crescimento há uma rutura que deita por terra o trabalho antecedente. Os políticos permanecem indiferentes à turbulência: “De 1984 e posterior abertura democrática até à presente data, nenhum governo conseguiu concluir o seu mandato, o que só por si inviabiliza o cumprimento de qualquer programa de desenvolvimento económico ou orçamento de Estado".
Há que ponderar o que está subjacente à crise encetada em 2014: os principais protagonistas provêm do PAIGC, parecem atuar em grupos, ignoram a solidariedade política, as fragilidades institucionais, descuram as consultas públicas e o contacto estreito com os eleitores das diferentes regiões de onde provêm. O Presidente da República devia ser o garante da concertação estratégica, o símbolo da unidade, o rosto da independência nacional, árbitro e defensor da coesão nacional. Pela Constituição, tem o poder de presidir ao Conselho de Ministros e solicitar informações sobre atos de governação e matéria do debate político na Assembleia da República. Tudo emperrou logo com o governo de Domingos Simões Pereira, o autor detalha as principais peças de tragicomédia. Numa fase crucial de negociações com a comunidade de dadores para se obter apoios fundamentais, consubstanciadas na Mesa Redonda de Bruxelas, agravou-se a crise política, José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira davam a imagem pública da desavença e incompatibilidade com o relacionamento institucional. O Presidente da República discursou em Agosto de 2015 e lembrou a incapacidade do Primeiro-Ministro para a coabitação institucional, faltavam informações básicas, faziam-se nomeações sem ouvir o Presidente da República e este lembrava um estado de dissolução em que o governo se mostrava impotente: exploração desenfreada dos recursos naturais, em particular as areias pesadas de Varela; corte abusivo de árvores; delapidação dos recursos pesqueiros; corrupção, peculato e outros crimes económicos no exercício das funções públicas; falta de transparência na adjudicação de contratos públicos. O Primeiro-Ministro demitido procurou justificar-se, e contra-atacou dizendo que podia provar objetivamente as informações inverídicas do Presidente da República. De acordo com a constituição, o partido vencedor das eleições, o PAIGC foi convidado a apresentar um nome para o cargo de chefe do Governo, tendo o mesmo recaído no presidente do partido, o mesmo Domingos Simões Pereira, houve pronta rejeição com o Presidente da República. O PAIGC entendeu publicamente criticar o Presidente José Mário Vaz, acusando-o de querer chamar a si todas as competências do governo, que estava a desencadear uma crise que levava as receitas fiscais a cair a pique, alegando que a evolução da situação económica do país era bastante encorajadora e que toda esta crise política podia levar ao cancelamento de apoios prometidos na mesa redonda de Bruxelas.
É neste ponto expositivo que o autor entende retomar o legado político do PAIGC, porventura para encontrar os porquês desta crónica falta de lealdade política, de ética no exercício das funções político-partidárias, do amiguismo. Recorda o entendimento de Amílcar Cabral quanto ao sentido de unidade: “quaisquer que sejam as diferenças que existem, é preciso ser um só, um conjunto, para realizar um dado objetivo”. Só que tal mote foi sempre objeto de grandes contradições internas. Como suporte básico para essa unidade, Cabral delineou dois programas de ação: um programa maior, que passava pelo desenvolvimento socioeconómico do país; e um programa menor que tinha por objetivo a libertação do país do jugo colonial. Na arrancada da independência, com ajuda internacional formaram-se guineenses com cursos superiores, com curso técnico médio, com cursos profissionalizantes e quadros políticos e sindicais. O PAIGC perdeu a linha revolucionária, desligou-se das sociedades rurais, concentrou-se na mera gestão da continuidade do poder, houve a crise de 1980, a unidade Guiné-Cabo Verde volatizou-se e os problemas da cidadania, do desenvolvimento e da educação entraram em refluxo, tudo se agravou com o chamado plano de ajustamento estrutural, aos poucos os homens da luta foram dando lugar a uma nova classe de profissionais na obtenção de financiamento para projetos, ponteiros, importadores, tudo dentro de um vasto círculo de oligarcas amigos, com contas bancárias no estrangeiro.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16849: Notas de leitura (912): Reflexão sobre os 30 anos de independência da Guiné-Bissau, por Leopoldo Amado, na revista Africana Studia, n.º 8, 2005, publicação do Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Luís Barbosa Vicente é um gestor e um associativista que, mesmo vivendo em Portugal, acompanha dia-a-dia as questões matriciais do seu país. Recomendo a todos esta análise sobre o Estado, o modo de fazer política, o viver de costas voltadas entre os órgãos de poder e as sociedades civis guineenses. O autor adianta propostas da reforma do Estado e modernização da administração pública e abona dados para um paradigma de desenvolvimento que exige uma clara reformulação dos órgãos do poder, está convicto da mensagem certeira de Cabral de que o reconhecimento da luta de libertação não seria ganha pela sua geração mas sim pela geração seguinte, ele confia que há uma geração seguinte que recolocará a cidadania guineense no mapa de África e do mundo.
Um abraço do
Mário
Olhares sobre a Guiné-Bissau depois das eleições de 2014, até hoje (1)
Beja Santos
A obra intitula-se “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016. O autor é guineense e desenvolve ampla atividade como gestor de projetos e desenvolvimento e, igualmente, como formador e consultor da União Europeia.
As eleições de 2014 trouxeram uma vaga de esperança num país desolado que saía de uma ditadura militar encabeçada por narcotraficantes. Em pouco tempo, surgiram contradições, questiúnculas e tensões insanáveis nos diferentes órgãos do poder. A Procuradoria-Geral da República emite logo nesse ano um parecer sobre a inconstitucionalidade de um decreto presidencial, o Supremo Tribunal de Justiça delibera no mesmo sentido, o Tribunal de Contas aprecia o primeiro Relatório de Contas do Estado referente ao ano de 2010. O Procurador-Geral e o Presidente do Tribunal de Contas foram prontamente demitidos, era o princípio da confusão.
Observa o autor que “A garantia de desempenhar cargos altamente remunerados associados aos privilégios da função é a mistura explosiva para as disputas intestinas pelo poder. É importante realçar que o exercício desses cargos, nomeadamente de ministros, secretários de Estado, assessores, conselheiros e até de presidentes ou vogais de conselhos de administração de empresas públicas garantem um salário líquido mensal de 2,5 milhões de francos CFA, que corresponde a cerca de 3700 euros, num país onde o salário mínimo é de cerca de 46 euros”. E há um pano de fundo que não se pode descurar: o miserabilismo da função pública, a existência de um número muito elevado de serviços e imprecisão relativamente às atribuições dos mesmos, a não oficialização de leis orgânicas, desarticulação entre as estruturas e os postos de trabalho – a máquina da administração pública vive emperrada, os técnicos esmifram-se por fazer serviço externo e obter ajudas de custo, vão em missões que na maioria dos casos nada traz de tangível ou de palpável, já que os serviços públicos continuam ineficientes e inacessíveis à generalidade da população.
E há a existência de um governo que produz legislação em circuito fechado, a reforma do Estado é sistematicamente adiada. Dentro dessa confusão e inércia, depois das eleições de 2014, no período de um ano assistiu-se à formação de quatro governos, com situações caricaturais, veneno mortal para o descrédito dos órgãos de soberania. Refere igualmente o autor que em Junho de 2015 foi nomeado um governo liderado por Baciro Djá, um dos 15 dissidentes expulsos do PAIGC, com o apoio parlamentar do Partido da Renovação Social. Como numa obra cómica, o recém-governo teve que se reunir no Ministério da Administração Interna, uma vez que o Palácio do Governo continuava ocupado e sitiado, o PAIGC recusara a nomeação de um novo primeiro-ministro.
Luís Vicente debruça-se sobre os custos da política sem regra, mostra os indicadores económicos e recorda que em cada ciclo de crescimento há uma rutura que deita por terra o trabalho antecedente. Os políticos permanecem indiferentes à turbulência: “De 1984 e posterior abertura democrática até à presente data, nenhum governo conseguiu concluir o seu mandato, o que só por si inviabiliza o cumprimento de qualquer programa de desenvolvimento económico ou orçamento de Estado".
Há que ponderar o que está subjacente à crise encetada em 2014: os principais protagonistas provêm do PAIGC, parecem atuar em grupos, ignoram a solidariedade política, as fragilidades institucionais, descuram as consultas públicas e o contacto estreito com os eleitores das diferentes regiões de onde provêm. O Presidente da República devia ser o garante da concertação estratégica, o símbolo da unidade, o rosto da independência nacional, árbitro e defensor da coesão nacional. Pela Constituição, tem o poder de presidir ao Conselho de Ministros e solicitar informações sobre atos de governação e matéria do debate político na Assembleia da República. Tudo emperrou logo com o governo de Domingos Simões Pereira, o autor detalha as principais peças de tragicomédia. Numa fase crucial de negociações com a comunidade de dadores para se obter apoios fundamentais, consubstanciadas na Mesa Redonda de Bruxelas, agravou-se a crise política, José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira davam a imagem pública da desavença e incompatibilidade com o relacionamento institucional. O Presidente da República discursou em Agosto de 2015 e lembrou a incapacidade do Primeiro-Ministro para a coabitação institucional, faltavam informações básicas, faziam-se nomeações sem ouvir o Presidente da República e este lembrava um estado de dissolução em que o governo se mostrava impotente: exploração desenfreada dos recursos naturais, em particular as areias pesadas de Varela; corte abusivo de árvores; delapidação dos recursos pesqueiros; corrupção, peculato e outros crimes económicos no exercício das funções públicas; falta de transparência na adjudicação de contratos públicos. O Primeiro-Ministro demitido procurou justificar-se, e contra-atacou dizendo que podia provar objetivamente as informações inverídicas do Presidente da República. De acordo com a constituição, o partido vencedor das eleições, o PAIGC foi convidado a apresentar um nome para o cargo de chefe do Governo, tendo o mesmo recaído no presidente do partido, o mesmo Domingos Simões Pereira, houve pronta rejeição com o Presidente da República. O PAIGC entendeu publicamente criticar o Presidente José Mário Vaz, acusando-o de querer chamar a si todas as competências do governo, que estava a desencadear uma crise que levava as receitas fiscais a cair a pique, alegando que a evolução da situação económica do país era bastante encorajadora e que toda esta crise política podia levar ao cancelamento de apoios prometidos na mesa redonda de Bruxelas.
É neste ponto expositivo que o autor entende retomar o legado político do PAIGC, porventura para encontrar os porquês desta crónica falta de lealdade política, de ética no exercício das funções político-partidárias, do amiguismo. Recorda o entendimento de Amílcar Cabral quanto ao sentido de unidade: “quaisquer que sejam as diferenças que existem, é preciso ser um só, um conjunto, para realizar um dado objetivo”. Só que tal mote foi sempre objeto de grandes contradições internas. Como suporte básico para essa unidade, Cabral delineou dois programas de ação: um programa maior, que passava pelo desenvolvimento socioeconómico do país; e um programa menor que tinha por objetivo a libertação do país do jugo colonial. Na arrancada da independência, com ajuda internacional formaram-se guineenses com cursos superiores, com curso técnico médio, com cursos profissionalizantes e quadros políticos e sindicais. O PAIGC perdeu a linha revolucionária, desligou-se das sociedades rurais, concentrou-se na mera gestão da continuidade do poder, houve a crise de 1980, a unidade Guiné-Cabo Verde volatizou-se e os problemas da cidadania, do desenvolvimento e da educação entraram em refluxo, tudo se agravou com o chamado plano de ajustamento estrutural, aos poucos os homens da luta foram dando lugar a uma nova classe de profissionais na obtenção de financiamento para projetos, ponteiros, importadores, tudo dentro de um vasto círculo de oligarcas amigos, com contas bancárias no estrangeiro.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16849: Notas de leitura (912): Reflexão sobre os 30 anos de independência da Guiné-Bissau, por Leopoldo Amado, na revista Africana Studia, n.º 8, 2005, publicação do Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P16871: Parabéns a você (1181): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS dos STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa , Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 22 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16866: Parabéns a você (1180): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CComandos (Guiné, 1972/74)
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Guiné 63/74 - P16870: "O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017" (16): BOAS FESTAS (Jorge Araújo)
1. O nosso Camarada Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, (Xime-Mansambo, 1972/1974), enviou-nos a seguinte mensagem.
BOAS FESTAS
AO COLECTIVO TERTULIANO DA «TABANCA GRANDE»
- BOM NATAL E UM ANO DE 2017 COM MUITA SAÚDE -
BOAS FESTAS
1 – INTRODUÇÃO
- Uma viagem; duas efemérides
Camaradas; estamos numa quadra em que a grande maioria do colectivo da CART 3494 comemora duas efemérides. A primeira, relacionada com o início da sua experiência africana. A segunda, com a consoada de 1971 a ter lugar num contexto atípico, no Alto-Mar, rodeado de água por todos os lados - o nosso Oceano Atlântico.
Esses dois episódios ocorreram faz quarenta e cinco anos [inacreditável… como o tempo passa!] quando cerca de um milhar de jovens milicianos se encontraram em Lisboa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, para darem início a uma viagem muito especial nas suas vidas, após se constituírem em contingente militar para cumprirem a sua missão ultramarina no CTIGuiné [Comando Territorial Independente da Guiné]. Esse contingente era o do Batalhão de Artilharia 3873, mobilizado pelo Regimento de Artilharia Pesada 2 [RAP 2], organizado e preparado nas instalações do Quartel da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, e constituído pelas CART’s: 3492, 3493, 3494 e CCS, e ainda pela CART 3521 [Independente].
Estávamos, então, a 22 de dezembro de 1971, uma 4.ª feira, e no Cais da Rocha, num ambiente carregado de emoção e na presença de uma moldura humana de familiares e amigos acenando com lenços brancos, que serviam também para secar as suas lágrimas, a tripulação do N/M NIASSA aguardava que todos os actos de embarque ficassem concluídos para que o Navio pudesse zarpar até ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau. Esta viagem era só de ida, pois o regresso não tinha data marcada. Era uma incógnita, e a acontecer só lá para o ano de 1974.
Ainda que estas duas efemérides se reportem a um contexto restrito de ex-combatentes, entendemos que as poderíamos partilhar com todos aqueles que durante treze anos viveram situações semelhantes. Unindo as memórias de tempos idos e a presente quadra natalícia tomei e iniciativa de vos enviar o meu cartão [desejo] de BOAS FESTAS, recorrendo a imagens da minha/nossa presença no Xime [Ponta Coli - 1972] e no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma [1973].
Na oportunidade, aproveito também para enviar a todos os leitores assíduos deste blogue uma MENSAGEM DE BOAS FESTAS. Para os que se encontrem com alguma maleita envio votos de rápidas melhoras.
Para os camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro [os nossos Editores permanentes] ficaram reservadas as últimas palavras que são de gratidão pelos seus empenhos e desempenhos em trazer-nos informados, ordenando as diferentes memórias que lhe chegam… e não são poucas!
QUE TENHAM UM BOM NATAL
E UM ANO DE 2017 COM MUITA SAÚDE E SEM STRESS
Com um forte abraço e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Guiné 63/74 - P16869: "O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017" (15): Um Dia da Minha Infância (Mário Vitorino Gaspar)
1. O nosso Camarada Mário Vitorino Gaspar, enviou-nos a seguinte mensagem.
Um Dia da Minha Infância
“Mundo para todos, com searas e pão.
É esse o Natal que trago no coração”.
Mário Vitorino Gaspar
(Baseia-se em factos reais, é da minha autoria)
A História passa-se na primeira rua
Rua Direita – Rua Salvador Marques
Natal Estamos em 1954 tinha 11 anos.
Na minha chaminé, numa casa muito velha, mas limpa, estava o meu presente do dito Pai Natal. Até assistira à ida do “Pai Natal, até era a Mãe-Natal” à chaminé. Um lindo cavalo de plástico. Dá-se o caso de ser um grande amigo do animal cavalo. É, na minha opinião, um símbolo da Liberdade.
A velha Fábrica Cimento Tejo
As pernas articuladas, movimentavam-se. Para a época era mais uma inovação para a “era do plástico”. O brinquedo – de péssimo fabrico - colocado sobre uma tábua, andava. Fui à rua apresentar o meu brinquedo.
Um deserto.
Vi o meu amigo Atilano, neto de um homem e velhote, com semelhanças ao Pai Natal, sem barbas, conhecido pelo nome de “Sete Bigodes”. Bigode branco enorme, talvez a razão do seu nome. Este homem – a pessoa mais conhecida da terra, até mais que o prior – era só o encarregado da recolha diária do lixo da vila de Alhandra. Fazia o seu dia-a-dia com uma carroça. Não recordo se puxado por um burro ou mais.
O Atilano trazia na mão esquerda um quarto de pão de dezassete tostões. Na direita um pedacito de “queijo da ilha”. Mostrei-lhe o meu cavalo. Amarelo e vermelho. O meu amigo disse:
– O teu Pai Natal deu-te esse cavalo? Pois a mim não. Pus lá o sapato… Olha não sei…
Levava o queijo ao nariz… Cheirava-o. Comia um naco de pão. Perguntou-me antes de levar o minúsculo queijo à boca:
– Queres queijo? – Esticou a mão com o queijo. Acenei com a cabeça.
– O teu cavalo é lindo!
Rapidamente coloquei a minha prenda na sua mão. Recusou…
– Tens Pai Natal… Rancho melhorado! … Vou pelo beco acima. Meu avô e minha mãe devem estar a espreitar para o beco, é mais torto que eu. A minha família é esta. Dizem que hoje é Natal! Estive no Largo da Praça, quase de braço dado com a estátua do Doutor Sousa Martins. O povo é pobre. Via-se um aqui… Outro ali com um embrulho. Eram tipos com “guita”. E as montras?
Nem sequer lhe respondia. Em casa esperava-me cabrito assado no forno, com batatinhas. A minha mãe escolhera-as uma a uma.
Atilano mirou-me silenciosamente. A buza tocava. O relógio da Igreja dava uma badalada. Sorriu:
– Amanhã jogamos à bola. Meu avô escolheu meias velhas no lixo. São muitas. Também os trapos são velhos. Temos brinquedos? Tens tu e outros rapazes. Raparigas com bonecas? Só as filhas de empregados de escritório da fábrica do cimento. Tu Marinho brincas connosco. Muitos pobres… Aquilo que temos é uma mão cheia de nada de nada… Espera lá… Nada?
Nadamos nus no nosso Tejo. Mesmo assim o cabo da GNR rouba-nos a roupa. O Atilano ria:
– O que as mulheres disseram. Envergonhados todos. Os dedos eram poucos. Tapar o quê?
Ó pá, descansa que há montes de brinquedos para os pobres. Para além daquilo que o meu avô me traz, encontro bugigangas para inventar um brinquedo. Um pau é uma espada. Um saco uma túnica de cavaleiro. Com canas e paus de vassouras se fazem cavalos. Caixas de graxa são automóveis. Os vimes que crescem perto da Igreja são arcos para as setas. E as tábuas besuntadas com sabão amarelo que roubas à tua mãe? Montamos nelas. Lá vamos pelas escadas da Igreja para baixo. Caímos os dois. E o sangue. Ricos e pobres, sangue igual. Olha gosto muito de fazer aviões de papel de jornal. Melhor! E pôr uma cana numa lata com sabão e água. Soprar. Os balões que saem da cana são livres. Desaparecem. Estrelas. Sonho que voo. Livre. Operários, avieiros. Que esperas desta terra? A minha casa é um ferro-velho. O Sete Bigodes leva tudo para casa, aliás é mesmo um caixote de lixo. Vou fazer a mais bonita das bolas! Maior que a lua que nos espreita por detrás do Mouchão. Dizem que na lezíria os cavalos correm mais que a bola de trapos. Pudera, estão em liberdade. Cheirou o naco de queijo. Comeu o restante pão e, pela primeira, única e última vez, comeu queijo. Saboreou finalmente:
– É dos melhores petiscos. Tão bem que cheira!
É raro o dia que não me lembre Sempre me do meu amigo Atilano. Juntos frequentámos a Escola do Castelo. Após cumprir a Recruta, como trabalhava nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), logo que teve oportunidade emigrou. Passaram anos. Nunca mais o vi.
Todos os Natais para mim são iguais. Generoso seria o mundo para todos se os dias fossem iguais.
Os últimos Natais passei-os no Hospital. O de 2015 fui para a Clínica João de Deus e logo transferido de ambulância para o Hospital de Santa Maria. Daqui para o Hospital Pulido Valente. Diagnóstico: Pneumonia… Cuidados Intensivos.
Passei o Ano-Novo, tive alta a 6 ou 7 de Janeiro.
“Um mundo para todos, carregado de searas e pão. É esse o Natal que trago no coração”.
Com um forte abraço e votos de muita saúde.
Mário Vitorino Gaspar
Guiné 63/74 - P16868: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (50): Mandela não mentiu
1. Comentário de Antº Rosinha ao poste P16851 (*)
Foto à esquerda Antº Rosinha
(i) é beirão;
(ii) é um dos nossos 'mais velhos';
(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;
(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;
(v) diz que foi 'colon' até 1974;
(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';
(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;
(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';
(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir;
(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo".
Cada um tem o seu ponto de vista, mas se toda a gente for fazer o seu comentário, sem ideologias nem facciosismos, dificilmente apareceriam dois comentários iguais, quer a contradizer quer a concordar.
Mas, como eu tenho aqui colocado sempre os meus comentários requentados alguns, novidades outros, venho aqui apresentar um requentadíssimo e que não me canso de repetir:
Toda a guerra do PAIGC, ou seja, quando Amílcar resolve a sério entrar na guerra contra a colonização portuguesa, foi feito um ensaio em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961.
Amilcar, todos já estamos carecas de saber que, foi co-fundador do MPLA e Luanda era a verdadeira "capital", ou "símbolo" do império Português.
E a ideia original e lógica dos "civilizadíssimos" estudantes do império era fazer a guerra urbana, tal como Mandela e o ANC e o Doutor Kenniata e outros faziam, e seria em Luanda que dava o verdadeiro escândalo.
Andar no mato como o tarzan, como diz o Arafan, descalços e de panos, não condizia com Amílcar, Agostinho Neto, Lúcio Lara, irmãos Pinto de Andrade etc.
Mas como em Março de 1961 apareceu em Angola um inimigo mais perigoso do que o "Colon" "tuga", os turras da UPA, que matavam tudo o que não fosse bacongo, e na Guiné já havia escaramuças e movimentos muito estranhos (MLGC, UPG, RDAG, UNGP, MLG, FLING), resolveram o MPLA e o PAIGC usar as mesmas armas, ir para o mato e ocupar o espaço desse "estranho inimigo".
Esse tal ataque a Tite, usado como data de início da guerra do PAIGC, não seria apenas um pequeno episódio e já teria havido outros mais marcantes, cuja data não interessava a Amílcar e ao historial do PAIGC?
Hoje já podemos analisar sem complexos o que estava por traz das motivações dos dirigentes caboverdeanos, e angolanos e guineenses que conscientemente e com espírito nacionalista dirigiam a luta anti-colonial.
Faltou muita sinceridade na luta "anti-colonial" dos dirigentes africanos, e nunca falavam a verdade ao povo, apenas o básico, o "branco vai embora" e ficavam felizes, não precisavam de trabalhar mais para o branco nem ser explorados pelo "branco", e como diz o Arafan, agora temos engenheiros e já não andamos de tanga...simples e tudo explicadinho!
Por causa das mentiras aos povos, hoje a fuga de milhões de africanos novamente para "o colinho" do ex-colon europeu neste conflito actual no mediterraâneo em Lampedusa e em Calais.
Vamos perder o complexo e denunciar o logro que provocou o actual conflito euro-africano em que uns de cá e outros de lá tiveram culpa, e nós aqui andámos a lutar e dar murros em ponta de faca, enquanto fomos capazes.
Mandela não mentiu (**)
_______________
Notas do editor:
(*) Vd, poste de 19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16851: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...
(**) Último poste da série > 9 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16701: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (49): quatro apontamenmtos: (i) Angola, as boas famílias e os seus desertores; (ii) o nosso presidente em Havana; (iii) o desertor guineense da Força Aérea; e (iv) o ministro das obras públicas de Luís Cabral, Tino Lima Gomes, a camarada Milanka e o meu velho patrão Ramiro Sobral, que não precisava de subir ao alto do poilão para ver ao longe...
Foto à esquerda Antº Rosinha
(i) é beirão;
(ii) é um dos nossos 'mais velhos';
(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;
(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;
(v) diz que foi 'colon' até 1974;
(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';
(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;
(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';
(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir;
(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo".
Cada um tem o seu ponto de vista, mas se toda a gente for fazer o seu comentário, sem ideologias nem facciosismos, dificilmente apareceriam dois comentários iguais, quer a contradizer quer a concordar.
Mas, como eu tenho aqui colocado sempre os meus comentários requentados alguns, novidades outros, venho aqui apresentar um requentadíssimo e que não me canso de repetir:
Toda a guerra do PAIGC, ou seja, quando Amílcar resolve a sério entrar na guerra contra a colonização portuguesa, foi feito um ensaio em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961.
Amilcar, todos já estamos carecas de saber que, foi co-fundador do MPLA e Luanda era a verdadeira "capital", ou "símbolo" do império Português.
E a ideia original e lógica dos "civilizadíssimos" estudantes do império era fazer a guerra urbana, tal como Mandela e o ANC e o Doutor Kenniata e outros faziam, e seria em Luanda que dava o verdadeiro escândalo.
Andar no mato como o tarzan, como diz o Arafan, descalços e de panos, não condizia com Amílcar, Agostinho Neto, Lúcio Lara, irmãos Pinto de Andrade etc.
Mas como em Março de 1961 apareceu em Angola um inimigo mais perigoso do que o "Colon" "tuga", os turras da UPA, que matavam tudo o que não fosse bacongo, e na Guiné já havia escaramuças e movimentos muito estranhos (MLGC, UPG, RDAG, UNGP, MLG, FLING), resolveram o MPLA e o PAIGC usar as mesmas armas, ir para o mato e ocupar o espaço desse "estranho inimigo".
Esse tal ataque a Tite, usado como data de início da guerra do PAIGC, não seria apenas um pequeno episódio e já teria havido outros mais marcantes, cuja data não interessava a Amílcar e ao historial do PAIGC?
Hoje já podemos analisar sem complexos o que estava por traz das motivações dos dirigentes caboverdeanos, e angolanos e guineenses que conscientemente e com espírito nacionalista dirigiam a luta anti-colonial.
Faltou muita sinceridade na luta "anti-colonial" dos dirigentes africanos, e nunca falavam a verdade ao povo, apenas o básico, o "branco vai embora" e ficavam felizes, não precisavam de trabalhar mais para o branco nem ser explorados pelo "branco", e como diz o Arafan, agora temos engenheiros e já não andamos de tanga...simples e tudo explicadinho!
Por causa das mentiras aos povos, hoje a fuga de milhões de africanos novamente para "o colinho" do ex-colon europeu neste conflito actual no mediterraâneo em Lampedusa e em Calais.
Vamos perder o complexo e denunciar o logro que provocou o actual conflito euro-africano em que uns de cá e outros de lá tiveram culpa, e nós aqui andámos a lutar e dar murros em ponta de faca, enquanto fomos capazes.
Mandela não mentiu (**)
_______________
Notas do editor:
(*) Vd, poste de 19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16851: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...
(**) Último poste da série > 9 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16701: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (49): quatro apontamenmtos: (i) Angola, as boas famílias e os seus desertores; (ii) o nosso presidente em Havana; (iii) o desertor guineense da Força Aérea; e (iv) o ministro das obras públicas de Luís Cabral, Tino Lima Gomes, a camarada Milanka e o meu velho patrão Ramiro Sobral, que não precisava de subir ao alto do poilão para ver ao longe...
Guiné 63/74 - P16867: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (14): Mensagem de Fernando Sousa (DFA), ex-1.º Cabo da CCAÇ 6
1. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (DFA), ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, autor do livro de poemas "Sussurros Meus", com data de 20 de Dezembro de 2016, com um poema de sua autoria alusivo ao Natal.
Para ti!
Que me fazes o favor de ser meu amigo, envio este poema de Natal de minha autoria.
Tenho também um pedido a fazer-te. Faz tudo e dá-te por inteiro, a todos de quem gostas, para que sejas feliz, não só nesse dia porque é Natal, cultiva em ti um Natal todos os dias...
Boas festas...
Fernando Sousa
É Natal
Dezembro! A ambiência vai-se instalando
Vem a chuva e o frio, o nevoeiro sobe a serra.
As árvores ficam nuas e tristes, contrastando,
Com a neve que pinta de branco, a verde terra!
Chegou o inverno, que nos traz o Natal,
Começa a ansiedade da festa desejada.
É bem notório como a alegria já paira no ar,
Prepara-se o cepo para a noite de consoada!
Na capelinha, embora fria mas mais iluminada,
Com as cores e figuras do Natal tão esperado.
No presépio, a imagem mais acarinhada,
É o menino Jesus, numas palhinhas deitado!
É Natal. É Natal! Nesta noite, ninguém dorme!
Tantas prendas, para admirar e repartir!
Tantas coisas boas, para matar a fome!
É Natal. É Natal! Não há tempo para dormir!...
Traz-nos à memoria, recordações do bem e do mal,
Orações cantantes e bebemos vinho novo!
Partilhamos desejos de novo Natal!
Porque o Natal! É a verdadeira festa do povo!...
Trocamos presentes em fraternidade!
Regressamos ao passado em lembranças!
Partilhamos sorrisos, amor e felicidade!
É Natal. Natal! É o sonho, é a magia das crianças!...
4/12/2016
Jesus
____________
Nota do editor
Último poste da série de 21 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16863: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (13): Mensagem de José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf.ª da CCAÇ 2381
Para ti!
Que me fazes o favor de ser meu amigo, envio este poema de Natal de minha autoria.
Tenho também um pedido a fazer-te. Faz tudo e dá-te por inteiro, a todos de quem gostas, para que sejas feliz, não só nesse dia porque é Natal, cultiva em ti um Natal todos os dias...
Boas festas...
Fernando Sousa
É Natal
Dezembro! A ambiência vai-se instalando
Vem a chuva e o frio, o nevoeiro sobe a serra.
As árvores ficam nuas e tristes, contrastando,
Com a neve que pinta de branco, a verde terra!
Chegou o inverno, que nos traz o Natal,
Começa a ansiedade da festa desejada.
É bem notório como a alegria já paira no ar,
Prepara-se o cepo para a noite de consoada!
Na capelinha, embora fria mas mais iluminada,
Com as cores e figuras do Natal tão esperado.
No presépio, a imagem mais acarinhada,
É o menino Jesus, numas palhinhas deitado!
É Natal. É Natal! Nesta noite, ninguém dorme!
Tantas prendas, para admirar e repartir!
Tantas coisas boas, para matar a fome!
É Natal. É Natal! Não há tempo para dormir!...
Traz-nos à memoria, recordações do bem e do mal,
Orações cantantes e bebemos vinho novo!
Partilhamos desejos de novo Natal!
Porque o Natal! É a verdadeira festa do povo!...
Trocamos presentes em fraternidade!
Regressamos ao passado em lembranças!
Partilhamos sorrisos, amor e felicidade!
É Natal. Natal! É o sonho, é a magia das crianças!...
4/12/2016
Jesus
____________
Nota do editor
Último poste da série de 21 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16863: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (13): Mensagem de José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf.ª da CCAÇ 2381
Guiné 63/74 - P16866: Parabéns a você (1180): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CComandos (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16855: Parabéns a você (1179): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8351 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 20 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16855: Parabéns a você (1179): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8351 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Guiné 63/74 - P16865: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (3): Mário Mendes (1943-1972): o último cmdt do PAIGC a morrer no Xime... Elementos para a sociodemografia do seu bigrupo em 1972: tinha 27.9 anos de idade e 8.9 anos de experiência de conflito...
[O nosso colaborador assíduo do blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74): tem já mais de 105 referência no nosso blogue; ainda está no ativo, é professor universitário.]
MÁRIO MENDES (1943-1972):
O ÚLTIMO CMDT DO PAIGC A MORRER NO XIME
I. INTRODUÇÃO
Durante os últimos anos, particularmente nos momentos que antecedem os actos de passar a escrito as memórias historiográficas do CTIG (1972/74), surgem-nos no pensamento, ao vivo e a cores, algumas das principais imagens daquele palco onde a 22 de abril de 1972, sábado, iniciámos o «jogo da sobrevivência e da superação permanentes», com a sensação de ainda cheirar a pó e a terra vermelha.
Na guerra, a esse episódio chamam-lhe “baptismo de fogo”, e no nosso caso ele teve lugar na Ponta Coli [imagens abaixo], local escolhido superiormente para concentrar os efectivos das NT. Nesse dia a missão estava atribuída ao 4.º Gr Comb, constituído por 20 operacionais, mais 2 condutores e o picador Malan Quité. Após a “conquista diária” desse espaço, cada grupo era dividido em dois subgrupos, um instalado de manhã e o outro de tarde, situação modelo que vinha já da “velhice”, cuja missão era garantir a segurança a pessoas e bens que circulavam na estrada Xime-Bambadinca.
Pelo histórico das Unidades de quadrícula que nos antecederam, e que estiveram aquarteladas no Xime em diferentes períodos, nomeadamente a CART 1746 (1968/69), CART 2520 (1969/70) e CART 2715 (1970/72), sempre considerámos que num futuro mais ou menos próximo teríamos de passar por essa primeira experiência… não estivéssemos nós num contexto de guerra.
E aconteceu mesmo, ainda não tínhamos concluído o terceiro mês.
Em relação a este episódio, a História do Batalhão 3873, a que pertencia a CART 3494, refere na sua p. 59: “em 220600ABR72 grupo IN emboscou a segurança da PTA COLI (01 GRCOMB da CART 3494). As NT e Artilharia do XIME pôs o IN em fuga. Sofremos 01 morto (Furriel), 07 feridos graves e 12 feridos ligeiros”.
Xime (Ponta Coli, maio de 1972) – local do combate com o bigrupo do PAIGC, comandado por Mário Mendes (1943-1972).
A linha vermelha, ligando o Xime (aquartelamento) e a Ponta Coli (local da segurança), na estrada Xime-Bambadinca, era o itinerário diário utilizado pelas NT.
Os desenvolvimentos dos combates travados pela CART 3494 [curiosamente pelo mesmo Gr Comb – o 4.º] e respectivos resultados, quer na primeira emboscada, a 22 de abril de 1972, quer na segunda, a 01 de dezembro do mesmo ano, podem ser consultados nas narrativas: P9698, P9802, P12232 e P14495.
No presente texto, o que nos propomos abordar emerge desse contexto a partir de uma interrogação que há muito formulámos [e certamente o mesmo aconteceu com muitos de vós, ex-combatentes, em relação a experiências semelhantes], e que só agora encontrámos a competente resposta, ainda que parcelar.
E a questão era esta: em cada uma das emboscadas supra [e em todas as outras milhares que aconteceram em diferentes locais do CTIG ao longo dos treze anos do conflito], existia uma nuvem entre quem era atacado e quem atacava, ou seja, estávamos perante uma situação desigual, o que se entende/compreende, pois estas eram as regras do “jogo”, a camuflagem e a surpresa e a consequente aniquilação do opositor no menor espaço de tempo.
Não se sabia quem e quantos estavam do outro lado; os seus rostos, as suas alturas, as suas vestimentas, os seus equipamentos/armamentos, os seus nomes, as suas idades, as suas origens, em suma, nada se sabia no início de cada acção, e só com o desenrolar desta, eventualmente, poderíamos ter alguma resposta a esta curiosidade.
Partindo dessa premissa, seguimos em frente com mais uma investigação tendo por fonte privilegiada a Casa Comum – Fundação Mário Soares, a quem agradecemos.
Ainda que a informação recolhida seja reduzida, considerámo-la suficiente para produzir algum conhecimento que, como é hábito, decidimos partilhá-la(o) convosco.
E a pergunta de partida era: «quem foi Mário Mendes, Cmdt do bigrupo do PAIGC que nos emboscou a 22 de abril de 1972, na Ponta Coli?», da qual resultou a única baixa em combate da CART 3494 durante os cerca de vinte e oito meses da comissão ultramarina, para além de mais dezassete feridos, entre graves e menos graves, em que apenas cinco elementos saíram ilesos, um dos quais fomos nós. Estes são os números fidedignos que tive a oportunidade de os escrutinar naquela ocasião.
II. MÁRIO MENDES – CMDT DO BIGRUPO EM ACÇÃO NO XIME
Soube que Mário Mendes era Cmdt de bigrupo do PAIGC e que actuava no então Sector 2, da Frente Xitole-Bafatá, em particular no triângulo Xitole-Bambadinca-Xime.
A acção mais antiga que se conhece foi comunicada a Amílcar Cabral (1924-1973) pelo Cmdt da Frente Leste, Mamadu Indjai, a 29 de abril de 1969, referindo a esse propósito o seguinte [de acordo com a nota manuscrita apresentada]:
.
Comando Sul
MSG – No dia 20/4/69 os combatentes do Partido realizaram na estrada Bambadinca/Xime [Ponta Coli] onde os inimigos sofreram muitas baixas humanas de feridos e mortos. Por nosso lado não houve nada mal. Foi dirigido por Mário Mendes e Sampui Na Sa – Sector dois – Mamadu Indjai – 29/4/69.
Citação:
(1969), "Mensagem - Comando Sul", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40645 (2016-12-8)
No entanto, a História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) refere que esta emboscada aconteceu em 18[4]0700 [P15154], não indicando quais as consequências da mesma.
Soube, também, que Mário Mendes nasceu em 1943, na Vila de Bissorã, na Região do Oio. Era casado. Em 1962 aderiu ao PAIGC, com 18/19 anos [desconhece-se o mês de nascimento], a exemplo do Arafam Mané [1945-2004] [P16823], desde quando deu início à sua actividade na guerrilha. Era Cmdt de bigrupo, pelo menos desde 1966, ano que foram elaborados pelo organismo de Inspecção e Coordenação do Conselho de Guerra, as listas [mapas] das FARP referentes à constituição dos bigrupos existentes em cada Frente, conforme demonstra o exemplo abaixo, onde consta o nome de Mário Mendes e de mais trinta e sete elementos.
Citação:
(1966), "FARP - Frente Xitole-Bafatá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40466 (2016-12-8)
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07068.099.051
Título: FARP - Frente Xitole-Bafatá
Assunto: Listas das FARP emitidas pelo organismo de Inspecção e Coordenação do Conselho de Guerra do PAIGC – Frente de Xitole-Bafatá.
Data: c. 1966
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Militar
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
A partir dos dados contidos nessa lista [mapa], que consideramos como os casos da investigação ou a “amostra de conveniência”, procura-se compreender melhor quem estava do outro lado do combate, particularmente na primeira emboscada na Ponta Coli [Xime], a 22 de abril de 1972, dando indicadores de tendência para outros casos e outras épocas. Com este propósito, procedemos à organização de alguns desses dados referentes a cada um dos sujeitos constituintes do “bigrupo de Mário Mendes”, sobre os quais pretendemos retirar conclusões.
Para o efeito, esses dados foram agrupados quantitativamente e apresentados em quadros estatísticos de frequências (caracterização da amostra por idade: a de nascimento e a de adesão ao Partido) e de quadros de variáveis categóricas em relação aos restantes elementos (ano de adesão ao PAIGC e idade e anos de experiência cumulativas ao longo do conflito).
Quadro 1 – distribuição de frequências em relação ao ano de nascimento dos elementos do bigrupo de Mário Mendes (n-38)
Da análise ao quadro 1, verifica-se que o ano de nascimento com maior percentagem (maioria relativa) é 1945 (21.1%) com 8 casos (moda), seguido de 1947 (15.8%), com 6 casos, e 1942 e 1943 (13.2%), em terceiro, com 5 casos cada.
Quando analisado por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-16) estão entre os nascidos em 1943 e 1945 (42.2%) (grupo central), enquanto entre 1937 e 1942 e entre 1946 e 1950, os valores são iguais (n-11 = 28.9%).
Quadro 2 – distribuição de frequências em relação à idade de adesão ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Mário Mendes (n-38)´
Quando analisada a adesão ao Partido por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-16) estão entre as idades de 18 e 20 anos (42.2%), seguido pelo grupo de idade superior, entre 21 e 26 anos, com 12 casos (31.5%), e o grupo de menor idade, entre 13 e 17 anos, com 10 casos (26.3%).
Analisada a adesão ao Partido entre os 18 e 21 anos, idades semelhantes ao período normativo da incorporação militar na legislação portuguesa, à época, os valores apontam para uma maioria absoluta com 23 casos (60.5%), seguida por 10 casos nas idades inferiores (26.3%) e, somente, cinco casos nas idades superiores (13.2%).
Quadro 3 – distribuição de frequências em relação ao ano de adesão ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Mário Mendes (n-38)
Da análise ao quadro 3, verifica-se que o ano onde se registou maior adesão ao PAIGC, com maioria absoluta, foi 1963, com 21 casos (55.3%), seguido de 1962, com 10 casos (um dos quais Mário Mendes) (26.3%). Os anos de 1964 e 1965 registaram 7 casos cada (7.9%).
Quando analisada a partir da soma dos dois primeiros anos (1962 + 1963), anos de preparação e início do conflito, a percentagem sobe para 81.6% (n-31).
Quadro 4 – distribuição de frequências em relação à idade verificada ao longo do conflito, contados após a adesão individual ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Mário Mendes (n-38)
Da análise ao quadro 4, e partindo da hipótese meramente académica de que o bigrupo se tinha mantido constante ao longo do conflito, pelo menos até 22 de abril de 1972, data da emboscada sofrida pela CART 3494 (algo que não se pode garantir ou confirmar), Mário Mendes teria, então, vinte e nove anos [sombreado castanho]. Os restantes elementos teriam a idade referida na linha [sombreado verde] do ano de 1972.
Quadro 5 – distribuição de frequências em relação ao número de anos de experiência na guerrilha ao longo do conflito, contados após a adesão ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Mário Mendes (n-38)
Da análise ao quadro 5, e partindo da hipótese meramente académica apresentada no quadro anterior, Mário Mendes teria, então, dez anos de experiência na guerrilha [sombreado castanho], bem como de outros nove combatentes. Os restantes elementos teriam os anos de experiência referidos na linha [sombreado verde] do ano de 1972.
III. MÁRIO MENDES – 25 de maio de 1972, o dia da sua morte
Quatro semanas depois de ter organizado e comandado a emboscada à CART 3494 [4º Gr Comb] na Ponta Coli, viria a morrer na acção «GASPAR 5», realizada no dia 25 de maio de 1972, 5.ª feira, por seis Gr Comb [três da CART 3494 e três da CCAÇ 12].
Recupero o que escrevi no P12232, por nela ter participado.
O “encontro” com Mário Mendes aconteceu na Ponta Varela [Xime – mapa acima], tendo-lhe sido capturada a sua Kalashnicov, bem como três carregadores da mesma e documentos que davam conta do calendário das “acções” a desenvolver naquela zona pelo seu bigrupo.
Depois de alguns elementos (5/6) do seu grupo terem sido detectados pelas NT na referida acção, e que não se sabia, naturalmente, de quem se tratava, um daqueles elementos [Mário Mendes] liderou uma estratégia de fuga que não lhe foi, desta vez, favorável, por via de lhe(s) ter sido movida perseguição, obrigando-nos a serpentear várias vezes os mesmos trilhos, entre itinerários de vegetação e clareiras.
Por isso, estou crente que Mário Mendes, a partir do momento em que ficou sem rumo certo e sem portas de saída, movimentando-se em várias direcções, sem sucesso, tomou consciência de que aquele dia seria o último da sua vida. E foi … por intervenção de elementos da CCAÇ 12.
IV. CONCLUSÕES
Chegado a este ponto, e partindo da análise aos resultados apurados e apresentados nos quadros acima, é possível concluir que durante o combate travado entre os elementos do bigrupo de Mário Mendes e do 4.º Gr Comb da CART 3494, na Ponta Coli, existiram diferenças significativas nas seguintes três variáveis.
1. – Idade: [bigrupo – 27.9] ≠ [4.º Gr Comb – 21.6]
2. – Quantidade de elementos: [bigrupo – ⅔ ] ≠ [4.º Gr Comb – ⅓]
3. – Anos de experiência no conflito: [bigrupo – 8.9] ≠ [4.º Gr Comb – 0.25].
Porque se sabia pouco sobre o Cmdt Mário Mendes, e dos elementos que liderava, este é o meu pequeno contributo para o seu aprofundamento.
O que se pode dizer mais…? Deixo este estudo à vossa consideração.
Obrigado pela atenção.
Um forte abraço de amizade com votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
12DEC2016.
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Nota do editor:
Último popset da série > 9 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16815: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (2): As más notícias de Amílcar Cabral, no início de 1969: o caso das baixas do PAIGC no ataque a Ganturé, no dia 6 de janeiro
Último popset da série > 9 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16815: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (2): As más notícias de Amílcar Cabral, no início de 1969: o caso das baixas do PAIGC no ataque a Ganturé, no dia 6 de janeiro
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