Foto: © José Câmara
1. Em mensagem do dia 20 de Dezembro de 2016, o nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), enviou-nos esta história de Natal que poderia ter um fim bem diferente se a perigosa carga apreendida no aeroporto de Lisboa tivesse passado dissimulada.
Uma estória de Natal
No Destacamento de São João os serviços primários de assistência na saúde às nossas tropas e civis eram assegurados por dois maqueiros militares. Eles faziam o melhor que podiam.
Um deles, o Mota, do Pel Caç Nat 66, foi de férias ao continente. Nos serviços aduaneiros perguntaram-lhe se tinha algo a declarar. O nosso militar, fazendo jus aos melhores princípios de sinceridade respondeu que sim, tinha algumas granadas de mão.
Para quem transitou pelos aeroportos portugueses na altura pode imaginar a reação do agente aduaneiro, dito Guarda-Fiscal, perante aquela resposta.
Sem alertar as pessoas por perto, pediu ao nosso militar que as colocasse com muito cuidado em cima do balcão, no que foi obedecido de imediato. Nem queria acreditar no que estava a ver. Aqueles despojos de guerra não podiam seguir viagem e foi assim que o nosso maqueiro se viu livre do perigo que aqueles artefactos de guerra representavam para ele e para os seus contactos.
No seu regresso de férias ao Destacamento de São João, desolado pelo acontecido, o nosso maqueiro lá ia contando a sua desventura no Aeroporto de Lisboa. Era evidente que estava psicologicamente muito afectado. Mais que compreensível!
Perante a sua inocência, o Mota também não conseguia compreender como é que aquelas granadas, loiras e inofensivas, um produto da Escócia, devidamente encavilhadas e acondicionadas, podiam representar um perigo para ele e para os familiares e amigos. E rematava que já não havia respeito nenhum para quem dava o coiro na Guiné.
Respeito, ou a falta dele, que mudou desde então?
O Menino Jesus continua a nascer todos os anos no dia 25 de Dezembro.
Com ele o renovar das nossas esperanças em melhores dias.
Do amor, da amizade, da paz, saúde e até material. É humano que assim seja. Mas o que tenho eu, que temos nós, para Lhe oferecer?
Tenham um Feliz e Santo Natal na companhia dos vossos familiares.
Abraço transatlântico.
José Câmara
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Nota do editor
Último poste da série de 22 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14174: Humor de caserna (39): A minha primeira viagem no Batelão Anita (José Brás)
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