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quinta-feira, 11 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19968: (In)citações (135): Achega II - E o PAIGC exaltou o Comandante Guerra Mendes a substituto de Salazar, na toponímia de Bissau (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) datada de 10 de Julho de 2019, com mais uma "achega":

ACHEGA II*

Protesto o meu respeito à laboriosa pesquisa histórica da Guerra da Guiné pelo Beja Santos, Jorge Araújo, José Matos, José Martins e de outros “camarigos”. Os seus actores não precisam de reescrever a sua história; mas, às vezes, sentimos a pulsão de chamar a “verdade dos factos” à colação das meias-verdades de muitos comunicadores.

O PAIGC foi fundado em 19 de Setembro de 1956, não por Amílcar Cabral (estava em Angola), mas por Rafael Barbosa, escriturário da construção civil, e por Fernando Fortes, chefe da Estação Postal Provincial, em Bissau, sob o acrónimo de PAI (Partido Africano da Independência), homónimo do Partido Comunista do Senegal, ambos militantes do Partido Comunista Português, no contexto do alinhamento deste com as conclusões anticoloniais da Conferência de Bandung, de Abril de 1955, e da proclamação do “direito das colónias à autodeterminação”, do XX congresso do PCUS, em Fevereiro de 1956.

Amílcar Cabral aderiu-lhe como militante e, em 1959, por negociação com os seus poucos pares e sem outra formalidade, Rafael Barbosa passou a presidente, ele a secretário-geral, Aristides Pereira a secretário-geral adjunto, objectivou-o também a Cabo Verde e mudou o seu acrónimo para PAIGC. O presidente manteve-se em Bissau, enquanto os dois secretários-gerais se expatriavam, avisadamente, – a PIDE instalara-se em Bissau no ano anterior. O PAI, o PAIGC, em Bissau, e o PAICV seu sucedâneo, na Praia, tiveram génese comunista e cabo-verdiana.

O PAIGC desencadeou a sua Guerra da Guiné nos princípio de 1963, com dois ataques à guarnição militar de Tite; mas, a Guerra da Guiné foi iniciada pelo MLG (Movimento da Libertação da Guiné), fundado em 1959, em Bissau, o primeiro partido emancipalista a desencadear ataques e emboscadas, nas áreas de S. Domingos, onde vitimou o Capitão de Cavalaria António Lopo Machado do Carmo, o primeiro oficial profissional a morrer em combate na Guiné, pilhagens a Susana e Varela e também atacou o aquartelamento de Bigene, iniciados em Julho de 1962 e activos até Fevereiro de 1964, até a manobra de Amílcar Cabral e o seu “charme” diplomático conseguir o desapoio da Organização da Unidade Africana e a perda da simpatia pela ONU.

O MLG expatriara-se para Dandula-Turene, Senegal, na sequência da agitação dos marinheiros de cabotagem, – a famigerada greve e o “massacre” do Pidjiquiti -, em Agosto de 1959, de sua inspiração e com o contributo do seu militante Luís Cabral, que virá a ser o presidente do PAIGC e primeiro PR da Guiné-Bissau, então guarda-livros da Casa Gouveia (Grupo CUF), empregadora da sua maioria. Esses ataques foram organizados e comandados por Pierre Mendy, um manjaco senegalês, já licenciado do exército francês e que combatera na Guerra da Argélia, e neles participou o guineense Momo Turé, que virá a ser um dos assassinos de Amílcar Cabral.

Os comandantes do PAIGC, que mais infernizaram a vida aos soldados portugueses e às populações, foram os 30 tirocinados na China, na “geração” de Mao-Tse-Tung.

O Rui Demba Djassi, era um jovem activo e turbulento duma família de funcionários públicos, residente na então rua de S. Luzia, entre o estaleiro da Tecnil e o Quartel-General do CTIG, desertara do EP para o PAIGC com o posto de furriel miliciano, e, antes de assentar praça, fora cobrador da Farmácia Moderna, muito dedicado à Dr.ª Sofia Pombo Guerra, comunista portuguesa e uma das mães da independência da Guiné (os guineenses não deixaram de ser polígamos na política…).

Foi o primeiro operacional dos primeiros 30 formandos militares e ideológicos na China, o primeiro instrutor da base de Koundara, vila da República da Guiné, a primeira base do PAIGC, à distância rodoviária de cerca de 30 quilómetros da fronteira com Buruntuma, foi nela que instruiu e foi dela que partiu o grupo de combate, o seu comando dividido com o Bobo Quetá, ex-futebolista de “Os Balantas” de Mansoa, para desencadear a sua guerra da Guiné, com esses dois ataques a Tite, no coração da Guiné - o de 6 de Janeiro, lançado sobre o edifício que encarcerava cerca de 100 “subvertidos” e o de 27 de Fevereiro de 1963, sobre a messe dos sargentos, ambos repelidos, no segundo foi decisiva a prestação da malta da “Maria Albertina”, autometralhadora Fox, do Pelotão de Reconhecimento enviado de Aldeia Formosa (Quebo), em reforço da guarnição.

Osvaldo Vieira, um dos principais formandos ideológico-militar na China, fora também empregado da Dr.ª Sofia Pombo Guerra, em Bissau, outro furriel miliciano desertor do EP, pontificava na Frente norte, Oio, Morés, etc., e, o seu primo Nino Vieira (terá sido cabo na guarnição da Guiné?), o principal formando na China, pontificava na Frente sul, há dois anos "enfeudado" com 300 combatentes, “pacificamente”, nas ilhas do Como, Caiar e Catunco - a sua “república independente” do Como, enquanto não foi extinta pelas NT, com a Operação Tridente, no primeiro trimestre de 1964.

Rui Djassi havia sido transferido para o posto de Vitorino Costa, irmão do Manuel Saturnino, morto no assalto das NT à tabanca de S. João, que tiveram a infeliz (no mínimo) ideia de passear a sua cabeça como troféu, transferido por Amílcar Cabral do seu posto do Gabú, quando falhava clamorosamente a sua subversão – os fulas eram refractários ao PAIGC e à sua mensagem.

Considerado o momento fundacional da nacionalidade bissau-guineense, iniciado em 12 e fechado em 16 de Fevereiro de 1964, no auge da Batalha do Como/Operação Tridente, o famigerado Congresso de Cassacá aprovou a sua “Lei constitucional” e o seu “Código de Justiça”, explicitadas pelo advogado José Araújo, ex-jogador da Académica de Coimbra. Invocando essa legalidade, no dia 17, Amílcar Cabral presidiu ao julgamento dum grupo de correligionários “criminosos”, entre os quais Rui Djassi, condenou três à morte por fuzilamento, o Nino Vieira e o Francisco Té providenciaram a execução, mas perdoou o Rui e deu-lhe a oportunidade de reabilitação no lugar do Vitorino Costa – expondo-o à maldição legada pela malta da CCaç 153, do RI 13 de Vila Real, e do seu capitão Carreto Curto, cuja morte havia decretado, como responsável da morte e da decapitação do Vitorino Costa.

Em 24 de Abril de 1964, dois meses depois, o Rui Djassi também foi eliminado pelas NT e Aristides Pereira mandou o Guerra Mendes para o seu posto, que lhe desobedeceu e que as mesmas eliminarão, um ano depois, em 14 de Fevereiro de 1965.

Quando o MLG e o PAIGC desencadearam a sua “guerra de libertação”, a Guiné-Bissau era uma criação territorial, administrativa e diplomática dos portugueses, mas apenas nominalmente portuguesa, sempre pertencera a guineenses e a cabo-verdianos – aqueles por direito próprio, como seus naturais, e estes como seu destino de emprego, nos serviços da administração pública, no comércio e serviços. Em 1961, havia menos de 1000 portugueses da Metrópole e ilhas adjacentes residentes na Guiné, contando os colonos, patentes militares e quadros públicos.

Os bissau-guineenses não se têm furtado ao reconhecimento que o continuado falhanço do seu Estado advirá do ADN ideológico do PAIGC, quando partido único e totalitário. A sua nacionalidade foi fundada por Amílcar Cabral, foi o PAIGC que a formatou em Estado, a matéria-prima era portuguesa, mas o seu modelo e metodologias eram fantasias, estranhas ao povo guineense.

Amílcar Cabral era português de Bafatá e a sua mulher Maria Helena era portuguesa de Chaves, ele acedeu e formou-se como bolseiro do Estado Português, a Casa dos Estudantes do Império, a cultura e a língua portuguesa foram a matéria-prima com que fundou a nacionalidade bissau-guineense, o seu conhecimento consolidado, como altos funcionários do Estado português, em Lisboa, Luanda e Bissau, iniciou os preparativos internacionais da sua luta com passaporte português, custeou as primeiras despesas da sua luta com escudos$ do seu ordenado e com escudos$ dos recursos da esposa, ter-se-á motivado ao tirocínio na China, para chefe militar, por ter sido oficial miliciano português e foi recrutar a primeira geração dos seus quadros combatentes ao Exército Português – sargentos e praças guineenses e oficiais cabo-verdianos.

Dos seus 60 primeiros quadros operacionais e ideológicos, construtores da nacionalidade e do Estado bissau-guineense, 30 foram mandados para a China, a tirocinar a luta de guerrilha, 25 para a Checoslováquia, a tirocinar para as polícias de segurança e para o controle político de partido único, e 8 para a União Soviética, a tirocinar Economia planificada. A ideologia de partido único, imposta nesses países, terá sido a sua má companhia.

O seu mais alto magistrado da Nação, o primeiro independente, ignorou a ética castrense da obediência ao poder instituído, e mandou fuzilar, alguns já julgados e absolvidos, cerca de 10.000 mil guineenses militares e militarizados, formados técnica e civicamente pelas FA portuguesas, em vez de os reconverter em FA nacionais da Guiné-Bissau.

Os quadros militares formados na China e noutros países de partido único, em vez de servirem o país, viraram as suas armas “libertadoras” contra o seu povo, usaram-nas para se servirem dele. Os quadros policiais, formados na Checoslováquia, em vez de servirem as populações e a administração interna, espiavam-nas e faziam desaparecer os que ousavam tecer qualquer crítica. E os quadros políticos formados na União Soviética não estilhaçaram a economia como delapidaram a generosidade financeira da comunidade internacional. E o tráfico de cooperantes pouco lhe valeu…

O destino foi muito cruel com Amílcar Cabral e menos com a sua ex-mulher. Morreu como como português emigrado, conselheiro Técnico contratado pelo ministério do Desenvolvimento Rural da República da Guiné, e, diplomaticamente, como Mohamed Benali, cidadão marroquino, e é cidadão bissau-guineense póstumo. A Maria Helena, divorciada desde 1966, foi sempre portuguesa, fará carreira como docente da Universidade do Minho e acabará os seus dias em Braga, em 2005.

E o PAIGC exaltou o Comandante Guerra Mendes a substituto de Salazar, na toponímia de Bissau.
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OBS: - Subtítulo da responsabilidade do editor
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Notas do editor

(*) - Vd. poste de 3 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)

Último poste da série de 11 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19883: (In)citações (134): Os Coirões de Mampatá, CART 2519 (1969/71) (Mário Pinto, 1945-2019)

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19944: (D)o outro lado combate (51): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - II (e última) Parte (Jorge Araújo)



Guiné-Bissau > Bissau > A antiga rua dr. Oliveira Salazar,  hoje Rua Guerra Mendes, 60 anos depois... Fotograma de um vídeo publicitário, da empresa Revita - Estética e Massagem , disponível no portal www.dailymotion.com (com a devida vénia...)


Guiné > Bissau > s/d [ c. 1960] > Rua Dr. Oliveira Salazar [, hoje Rua Guerra Mendes]. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).




Mapa da região de Antuane (Quinara), com indicação dos nomes das tabancas referidas nos documentos consultados. Sinaliza-se, ainda, o local onde o Cmdt Guerra Mendes morreu [Bulel Samba].




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue; 


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > A MORTE DE 'GUERRA MENDES' EM BULEL SAMBA [S2-BUBA], A 14FEV1965, NA OPERAÇÃO "GIRA", UM ANO DEPOIS DE TER SUBSTITUÍDO RUI DJASSI (FAINCAM) NO COMANDO DA "ZONA 8" (QUINARA) POR DECISÃO DO I CONGRESSO DO PAIGC:  "HERÓI DA PÁTRIA", TEM HOJE NOME DE RUA EM BISSAU

II (e Última) Parte





1. INTRODUÇÃO

Com este segundo fragmento, damos por concluída a resenha sócio-histórica sobre o contexto
operacional que esteve na origem da morte do Cmdt da "Zona 8", 'Guerra Mendes' [nome de guerra de Jaime Silva], verificada em 14 de Fevereiro de 1965, em Bulel Samba [mapa acima]. Esta ocorrência, da qual fizemos referência em narrativa anterior – P19917 – verificou-se dois anos após o início do conflito e um ano depois de ter sido nomeado substituto do Cmdt Rui Demba Djassi «Faincam», em decisão tomada durante o I Congresso do PAIGC, por desconhecimento do paradeiro deste último.


2.  ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E MILITAR SOBRE A MANOBRA EXECUTADA PELAS NT NA REGIÃO DE QUINARA EM 1964/1965

A execução da actividade operacional desenvolvida pelas NT na região em análise foi determinada pelo Comandante Militar do CTIG, à data o Brigadeiro Fernando Louro de Sousa, incluída na Directiva de Operações n.º 1/64, de 7 de Fevereiro, atribuindo essa missão ao BCAÇ 619 [unidade mobilizada pelo RI 1, da Amadora, tendo desembarcado em Bissau a 15 de Janeiro de 1964], sob o comando do TCor Inf Narsélio Fernandes Matias. De referir que após render o BCAÇ 356, em 17Jan64, aquele passou a assumir a responsabilidade pelo Sector F designado, a partir de 11Jan65, por Sector «S3», com sede em Catió, o qual abrangia os subsectores de Empada, Bedanda e Cabedú.

Os objectivos gerais da manobra eram:

1 - Intensificar a actividade de todos os Sectores por acções de patrulhamentos, nomadizações, golpes de mão e emboscadas em vista a:

(i) - Manter o controlo dos principais itinerários necessários aos reabastecimentos e à ligação entre os comandos das unidades vizinhas.

(ii) - Limitar ou impedir a liberdade de movimentos dos grupos IN.

(iii) - Detectar e aniquilar os grupos IN que se revelem nos sectores.

2 - Em ligação com o BCAÇ 513 [unidade mobilizada pelo RI 7, de Leiria, tendo desembarcado em Bissau a 22 de Julho de 1963, sendo apenas constituído por Comando e CCS], sob a liderança do TCor Inf Luís Gonçalves Carneiro, assegurar o controlo da região de Antuane - Chacoal - Bantael Sila - Queuel Lei. [Recorda-se que esta Unidade tinha assumido, anteriormente, a responsabilidade plena pelo Sector E, designado, a partir de 11Jan65, por Sector «S2», com sede em Buba, o qual abrangia os subsectores de Buba, Cacine, Aldeia Formosa e, mais tarde, os novos subsectores de Gadamael, criado em 19Dez63; Sangonhá, criado em 06Jun64 e Guileje, criado em 25Nov64].

3 - Manter o controlo dos principais itinerários do sector em especial os de:

(i) - Catió - Batambali Beafada;

(ii) - Empada - Batambali Beafada - Buba (limite do sector);

(iii) - Bedanda - Guileje (limite do sector);

(iv) - Cabedú - Bedanda.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Moranças Balantas. Foto do álbum do camarada João Martins, ex-alf mil art, BAC1 (1967/1969), com a devida vénia [P9947].



2.1.  SUBSÍDIO HISTÓRICO SOBRE A MANOBRA DAS NT NA REGIÃO DE ANTUANE DE 21 DE JANEIRO A 15 DE FEVEREIRO DE 1965


Na sequência da reformulação de responsabilidades determinada pela nova "geografia de intervenção", iniciada em 11 de Janeiro de 1965, com a criação dos Sectores «S3-Catió» e «S2-Buba», houve a necessidade de recorrer à mobilização de mais efectivos operacionais de reforço da Unidade de quadrícula, no caso o BCAÇ 513, de modo a cumprirem-se os objectivos definidos na execução da manobra referida no ponto anterior, já que contemplavam diferentes acções: prolongadas e dispersas.

Para a execução da presente manobra, as principais escolhas recaíram nos efectivos da CCAÇ 594 e CCAV 702, já com antecedentes operacionais na região, como provam os exemplos que seleccionámos da historiografia de cada uma delas, desde a sua chegada ao CTIG até à execução desta missão.

1 – Companhia de Caçadores 594 [CCAÇ 594]

Esta Unidade foi mobilizada pelo RI 15, de Tomar, tendo desembarcado em Bissau a 03 de Dezembro de 1963, sob o comando do Cap Inf Mário Jaime Calderon Cerqueira Rocha.

Seguiu, depois, para Mansabá, onde assumiu a responsabilidade pelo subsector a 23Dez63, substituindo a CCAÇ 461.

Realizou operações, entre outras, nas regiões de Uália e Mamboncó.

Em 12Set64, foi rendida no subsector de Mansabá pela CCAÇ 642, sendo deslocada para Bissau, e integrada no dispositivo do BCAÇ 600.

Em 09Jan65, foi substituída pela CCAÇ 557 e deslocada para Buba, para intervenção e reserva do BCAÇ 513 e, posteriormente do BCAÇ 600 e, mais tarde, do BCAÇ 1861, com intervenção nas áreas de Bantael Silá e Chinchim Dárin, entre outras.

2 – Companhia de Cavalaria 702 [CCAV 702]

Esta Unidade, a primeira do BCAV 705, que era comandada pelo TCor Cav Manuel Maria Pereira Coutinho Correia de Freitas, foi mobilizada pelo RC 7, de Lisboa, tendo desembarcado em Bissau a 24 de Julho de 1964, sob o comando do Cap Cav Fernando Luís Franco da Silva Ataíde.

Em função da intervenção como reserva do Comando-Chefe, com a sua base em Bissau, as três Unidades do BCAV 705 [CCAV 702, 703 e 704], cumpriram o seu treino operacional no sector de Buba, sob a orientação do BCAÇ 507, sendo utilizadas em diversas operações, nomeadamente nas regiões do Cantanhez e do Morés-Óio.

A CCAV 702, para além das operações referidas acima, foi atribuída como reforço do BCAÇ 513, para intervenção na sua área de acção, entre 15 a 17Dez64, na região de Injassane e de 21 a 28Dez64, na região de Unal, após o que recolheu a Bolama.

Entretanto, de 16Jan a 19Fev65, foi novamente atribuída em reforço do BCAÇ 513, para operações na região de Buba, de que é exemplo a presente manobra, recolhendo, de novo, a Bolama.


2.2. FACTOS MAIS RELEVANTES SOBRE A MANOBRA DAS NT NA REGIÃO DE ANTUANE DE 21 DE JANEIRO A 15 DE FEVEREIRO DE 1965

O início da manobra em análise teve lugar em 21 de Janeiro de 1965, 5.ª feira, com a «Operação Garrote», na qual participaram as forças da CCAÇ 594, CCAV 702 e PRecFox 888. No decurso desta missão as NT detectaram duas emboscadas em Galo Bolola, das quais resultaram a morte de uma sentinela e o ferimento em outra, sendo capturada uma carabina, cartuchos e material diverso. As NT assinalaram e destruíram um acampamento com capacidade para quarenta elementos, tendo sido apreendidas duas granadas de mão, restos de medicamentos e algumas munições.

Em 29 e 30 de Janeiro de 1965, 6.ª e sábado, realizou-se a «Operação Papaia», em que intervieram as mesmas forças da operação anterior, reforçadas com a CART 494, do Cap Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima. No primeiro dia da missão foi destruída parte da tabanca de Unal e derrubado um acampamento a norte de Bricama com 5 casas.

As NT foram flageladas pelos guerrilheiros, tendo-lhes causado dois mortos. Foi, ainda, levantada uma macar "TMH-46" na estrada Nhacobá - Cumbijã, junto a Galo Cumbijã. No segundo dia, forças da CCAÇ 594 destruíram um acampamento entre Teque e Bricama, próximo de Sambasó. O IN flagelou as NT, causando três feridos. Foi destruído um acampamento em Unal, tendo as NT surpreendido três elementos, dos quais um morreu.

Em 5 de Fevereiro de 1965, 6.ª feira, teve lugar a «Operação Toupeira» em que estiveram envolvidas as forças da CCAÇ 594, CCAV 702 e do Pel Rec Fox 888. O IN emboscou as NT na estrada Galo Bolola - Bantael Silá, causando-lhes 1 ferido. Foram capturadas uma granada de mão e diversas munições. Os guerrilheiros lançaram fogo ao capim, retardando a progressão das NT para Darsalame.

O IN voltou a flagelar na área de Cancasso, tendo causado um ferido e sofrido um morto. As NT destruíram a tabanca de Cancasso e grande quantidade de arroz e apreenderam cartuchos de diversos calibres, granadas de não defensivas, medicamentos e outro material diverso. (p313)


Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44096 (2019-5), com a devida vénia.



2.2.1. FACTOS MAIS RELEVANTES DA «OPERAÇÃO GIRA», NA REGIÃO DE ANTUANE EM 13 E 14FEV65, DATA DA MORTE DE GUERRA MENDES

A última missão prevista na manobra em análise decorreu em 13 e 14 de Fevereiro de 1965, sábado e domingo, com a participação da CCAÇ 594, CCAV 702, Pel RecFox 888, ou seja, as mesmas da acção anterior, reforçadas com a CCS/BCAÇ 513 e Pel Mort 979, instalado em Buba, a qual foi baptizada de «Operação Gira».

No decurso desta acção, foram destruídos acampamentos em Umbaná, Bulel Samba e três tabancas situadas para leste desta. O IN ofereceu resistência causando um morto às NT [o soldado radiotelegrafista Albino António Tavares, do PMort 979, solteiro, natural de Cardigos - Mação. Foi sepultado em Bissau; campa 1402], tendo sofrido três mortos confirmados. Foi-lhe capturado material diverso, entre o qual granadas de mão defensivas, carregadores e munições.

Sobre os factos acima narrados, em particular as três baixas no seio do PAIGC, onde se inclui a do Cmdt 'Guerra Mendes', é 'Nino' Vieira (1939-2009) que o confirma em carta por si dirigida a Aristides Pereira (1923-2011), datada de 16Fev65, ou seja, dois dias após a ocorrência, conforme se dá conta no texto abaixo colocado no interior da caixa a vermelho.





Entretanto, no decurso desta acção, o IN emboscou as NT a sul de Darsalame, fazendo um ferido e consentindo mais cinco baixas. As NT destruíram um acampamento de grandes dimensões a norte de Darsalame e as tabancas de Dalael Balanta e Bantael Silá. Aqui as NT foram flageladas pelo fogo IN, que teve mais uma baixa, tendo sido capturado material diverso e munições. Também abriu fogo durante a travessia do rio Insane pelas NT.

Na reacção desencadeada pelas NT, com apoio aéreo, o IN retirou com mais dez baixas confirmadas, sendo-lhe capturada uma metralhadora ligeira, um espingarda, uma pistola-metralhadora, uma pistola, quatro "longas" e diverso material de guerra. Nesta operação foi, ainda, destruída grande quantidade de arroz e abatido gado. (p. 314)

3. AINDA A CARTA ENVIADA DE SALANCAUR EM 16FEV1965 - DE NINO VIEIRA PARA ARISTIDES PEREIRA, DANDO CONTA DE UMA OFENSIVA DAS NT [OPERAÇÃO GIRA]

Caro camarada Aristides Pereira

[…] Por infelicidade n/ [nossa] perdemos o n/ [nosso] camarada Guerra Mendes, Infaly e Isnaba Naberiaguebandé. Estes camaradas foram mortos pelas tropas que avançavam por Bulel Samba. [H]ouve também 3 dos n/ [nossos] camaradas que ficaram feridos: Imbaná Sambú, Bien Naína e Beínha Natchandi.

Nestas três tabancas, as tropas destruíram uma grande quantidade de arroz e casas do povo. Espero no entanto que me dessem a vossa opinião no que respeita à pessoa capaz de seguir imediatamente para Quinara, a fim de ocupar o lugar do Guerra Mendes. Quanto a mim proponho "Saco" [nome de guerra de Mário Camará] ou Arafam [Mané?]. Se estes não servem é favor de arranjarem um responsável vindo do Norte. [Recorda-se, neste contexto, que foram estes dois elementos do PAIGC que elaboraram e assinaram o comunicado relacionado com a «Operação Alvor», levada a efeito na península de Gampará e referida em postes anteriores, a propósito da morte do Cmdt Rui Djassi «Faincam», em 24 de Abril de 1964].

Claro que proponho estes 2 camaradas porque não tenho cá alguém capaz de tomar essa responsabilidade sem serem eles. […]


3.1 - A RESPOSTA DE ARISTIDES PEREIRA RELACIONADA COM A MORTE DE GUERRA MENDES E A SUA SUBSTITUIÇÃO


Conacri, 28 de Fevereiro de 1965

Caro camarada Nino,

Recebemos a tua carta de 16 do corrente [Fev1965], tendo que lamentar a perda dos camaradas, nomeadamente do responsável Guerra Mendes [Jaime Silva]. Infelizmente a nossa luta tem de ser assim, mas lamentamos ainda mais quando temos perdas desse género devido a erros nossos. Por exemplo, há quanto tempo vimos dizendo ao camarada Guerra para deixar Antuane e seguir para o seu posto – Quinara!... Sugerimos mesmo suprimir a base de Antuane, mas tudo debalde, até chegar a esse puro azar, visto ter sido resultado de bombardeamento. Enfim, importa é que tiremos sempre lições, amargas sim, de casos como este e que suportemos as responsabilidades que sempre aumentam quando faltam-nos um elemento como este infeliz camarada responsável.

Em relação a um camarada a enviar para Quinara, achamos que dos nomes que propões, qualquer dos camaradas parecem capazes de dar conta do recado. Assim, tu é que podes melhor ver o que mais convém. No entanto, se o Secretário-Geral tiver qualquer modificação a fazer, dir-to-emos depois. Assim, talvez mandares um dos camaradas Seco ou Arafan, mas a título provisório, para confirmar depois. […]

Saúde e bom trabalho. Saudações, as melhores do camarada de sempre, Aristides.



Citação: (1965), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35310 (2019-5), com a devida vénia.

Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares. Pasta: 04618.082.032. Assunto: Lamenta a perda dos camaradas, nomeadamente do responsável Guerra Mendes. Remetente: Aristides Pereira. Destinatário: Nino Vieira. Data: Domingo, 28 de Fevereiro de 1965. Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência dactilografada (de Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral para os Responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.

4. 'GUERRA MENDES' [JAIME SILVA] – HERÓI DA PÁTRIA

Hoje, o nome de Guerra Mendes [Jaime Silva], enquanto Herói da Pátria Guineense, faz parte da toponímia de "Bissau-Antigo", cuja localização se indica nos dois mapas abaixo.



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Fontes consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); pp 313-314.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); p 113.


Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

28Jun2019
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Nota do editor:

Último poste da série >  25 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19918: (D)o outro lado do combate (51): a morte de Jaime Silva ("Guerra Mendes"), na versão de Bobo Keita

Vd. também:

25 de Junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 1 de Julho de 2019, com uma achega à circunstância da morte de Guerra Mendes:

Citação: (1963-1973), "Jaime Silva (Guerra Mendes)", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43473 (2019-4), com a devida vénia.


Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC

Os ventos semeados pela História transformaram a Guiné em filial do inferno, os combatentes (dos dois campos) em seus diabos, mas as suas tempestades sobraram para o Povo bissau-guineense… 

A carta de Nino Vieira à sua hierarquia contém a evidência que levou o Jorge Araújo, no seu labor, a comunicar que o Comandante Guerra Mendes morreu em 14 de Fevereiro de 1965, na região de Buba/Antuane, no decurso da “Operação Gira”, manobrada pela CCav 702, o Pel Rec Fox 888, o Pel Mort 979 e a CCS do BCaç 513.

Naquele tempo e durante um ano, o BCav 705, aquartelado no Forte da Amura, esteve de reserva às ordens do Comando-Chefe, que investiu a valente malta da sua CCav 702 nessa operação, enquanto investia a sua CCav 703 a nomadizar em Cufar e, durante 65 dias, dormimos no chão, alimentámo-nos de rações de combate e andámos aos tiros com o Saturnino Costa, o Nino Vieira e a sua malta.

Se a memória não me engana (já lá vão mais de 50 anos!), em 10 e 11 de Abril desse ano, nós, a CCav 703 andámos de intervenção naquela região, na “Operação Faena”, em interacção com os Comandos "Os Fantasmas", o Destacamento de Fuzileiros 7, a CCaç 594, o Pel Rec Fox 888 e o Grupo de Milícia do João Bacar, com o apoio duma parelha de aviões de combate T6.

Nesta operação passámos 48 horas, “non stop” ou H24, como diz a malta da Força Aérea, num inferno de tiros e rebentamentos com os endiabrados Nino Vieira, Quebo Mané e a sua malta.

O Pelotão de Reconhecimento Fox 888 operava com a auto-metralhadora Fox “Simone” (de Oliveira) e com o granadeiro Whait e, em conversa com a sua malta, tenho a ideia que tinham abatido o Guerra Mendes (filho) e, duas horas depois, o Guerra Mendes (pai), que tentou vingar a morte do filho com uma granada em cada mão. Ou foi nessa operação ou na anterior.

Bobo Quetá diz que ele(s) eram de Bissau e como ele e o Nino Vieira não cultivavam o rigor pela verdade dos factos, perfilho a versão daquela malta, fã da “Simone”…
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Notas do editor

Vd. poste de 25 de Junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)

Último poste da série de2 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19736: (Ex)citações (352): In illo tempore, o Alferes José Cravidão, no CISMI de Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

terça-feira, 25 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19918: (D)o outro lado do combate (51): a morte de Jaime Silva ("Guerra Mendes"), na versão de Bobo Keita


Jaime Silva (ou "Guerra Mendes", nome de guerra), morto em 14 de fevereiro de 1965. Tem hoje nome de rua na Bissau Velha: Rua Guerra Mendes, antiga Rua Dr. Oliveira Salazar... Foto do Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum / Fundação Mário Soares. Com a devida vénia...



1. Guerrilheiros caídos no campo da honra

por Bobo Keita (*)

O Jaime Silva, mais conhecido por "Guerra Mendes", era o nosso rapazinho ali de Bissau. Ele era do Gã Geba. Foi tirar o seu curso na China e atribuiram-lhe a zona do Ntugal onde devia desenvolver as suas atividades de guerrilha.

Um dia, levantaram-se cedo para atravessar a bolanha do Ntugal, nos diversos patrulhamentos que faziam na região. Foram nesse dia detetados pela aviação portuguesa. Surpreendidos em campo aberto, ainda tentaram disparar contra o avião de caça que mergulhava na direção onde estavam. "Guerra Mendes" foi mortalmente atingido pelas rajadas do avião e caiu ali mesmo, sem vida. 

Isto deve ter acontecido em 1965 ou 1966, lembro-me que foi muito depois do Congresso de Cassacá. "Guerra Mendes" estava previsto para ficar como comandante daquela área do Ntugal.

(*) Fonte: Excerto de Norberto Tavares de Carvalho - De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011, pp. 237 e 240-241.


2. Nota do editor:

O topónimo "Ntugal" não me parece que exista, muito menos na Guiné-Bissau. Seria N'Tuane [ou Antuane?), povoação que existia, em 1961, entre Empada, a oeste, Buba, a nordeste ? (Vd. carta de Empada).

É possível que haja aqui um "lapsus linguae" do entrevistado ou do entrevistador. De qualquer modo, o mais importante é registar aqui a versão de Bobo Keita (ou Queita) (Bissau, 1939- Lisboa, 2009)sobre as circunstâncias da morte de "Guerra Mendes". O antigo comandante do PAIGC, Bobo Keita, foi entrevistado por Norberto Tavares de Carvalho, entre 2006 e 2008.

Segundo a versão oficiosa do PAIGC (carta de 'Nino' Vieira para Aristides Pereira, com data de 16/2/1965, e reproduzida pelo Jorge Araújo (*), o "Guerra Mendes" terá morrido em Bulel Sambá, a nordeste de Bedanda (Vd. carta de Bedanda, 1955), na sequência da Op Giro.

Ficamos, em todo o caso a saber algo mais sobre o Jaime Silva: (i) era mais novo (um "rapazinho") do que o Bobo Keita; (ii) era natural de Bissau, de Gã Geba;  e (iii) passou também pela China, onde fez a sua formação político-militar. 

Por  carta de janeiro de 1965,endereçada a Luís Cabral, e reproduzida pelo Jorge Araújo (*), verifica-se que era um jovem quadro com escolaridade.

Na altura em que morreu deveria estar na região de Quínara, como comandante, mas não chegou a "tomar posse" do lugar, por óbvias razões de disciplina... Não foi caso único, a liderança político-militar efetuada a partir do exterior (Conacri) levantava não poucos problemas disciplinares...Este terá sido um deles... Veja-se o raspanete que lhe passa o Aristides Pereira, dias antes de morrer:

(...) "Recebemos a tua carta [Jan65], mas continuamos a estranhar saber-te em Antuane, quando há tanto tempo contamos contigo em Quínara. Palavra que não compreendemos. Temos como indispensável a tua presença e o teu trabalho em Quínara. Esperamos que arrumes tudo aí, e que sigas o mais urgentemente para a tua área, a fim de efectuares o trabalho que te está determinado, e com o que contamos absolutamente." (...) 


A versão de Bobo Keita, sobre as circunstâncias da morte de "Guerra Mendes", é mais "heróica" do que a versão de 'Nino' Vieira: em campo aberto, em plena bolanha, completamente indefeso, o Jaime Silva enfrenta, de arma em punho, um caça-bombardeiro T-6 (ainda não havia o Fiat F-91, no TO da Guiné)...

Hoje tem nome de rua na Bissau velha, junto à zona portuária: Rua Guerra Mendes (, a antiga rua Dr. Oliveira Salazar). 


Mas será que os jovens guineenses de hoje conhecem a história deste "combatente da liberdade da Pátria" ? Não conhecem, nem a deste nem de outros, nem muito menos dos que combateram ao lado dos "tugas", têm necessidades mais prementes no presente do que conhecer o passado...embora não haja futuro nem conhecimento do passado. 

Hoje, passa-se fome em Bissau, ainda há dias recebi um pedido de ajuda pungente do António Baldé, nosso grã-tabanqueiro, que tinha um sonho, ser apicultor. [Pertenceu ao Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e à CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71). Era 1º cabo art. ]




Guiné > Bissau > s/d [ c. 1960] > Rua Dr. Oliveira Salazar [, hoje Rua Guerra Mendes]. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL).
Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

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