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sexta-feira, 3 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21132: Os nossos médicos (88): Fernando António Maymone Martins, especialista de cardiologia pediátrica, ex-alf mil, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1968/70


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS / BCAÇ 2845 (1968/70) >  Equipa dos serviços de saúde no dia de abertura da enfermaria > Destaque para os alferes médicos Fernando António Maymone Martins e Maxinino Cunha, ambos irão também trabalhar na 2ª parte da comissão no HM 241, em Bissau.



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS / BCAÇ 2845 (1968/70) > Equipa dos serviços de saúde: da esquerda para a direita, de pé: Maymone Martins (alferes), Garrido (furriel), Albino e Garcia; em primeiro plano, Tónio, Borges e Constantino (1º cabo)

Fotos do álbum do Albino Silva, ex-sold maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) (*).


Fotos (e legendas): © Albino Silva (2011) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não temos,  infelizmente, falado aqui o suficiente dos nossos serviços de saúde militares, dos nossos médicos, dos nossos enfermeiros, dos nossos maqueiros... 

É minha intenção fazer, proximamente, uma nota de leitura de um capítulo de um livro em que também participei (Veloso, A.J., Mora,  L.D., Leitão,  H., eds. –  Médicos e sociedade: para uma história da medicina em Portugal no século XX. Lisboa: By The Book, 2017, 863 pp.). 

O capítulo a que me refiro, sobre saúde militar,  é o "34. A Guerra Colonial", da autoria de Carlos Vieira Reis, pp. 492-505.  O autor é coronel médico.

Continuamos sem saber, em rigor, quantos médicos, oficiais milicianos ou do quadro, passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974. O autor escreve que "os médicos recém-formados não bastavam para preencher as necessidades". E teve mesmo que se recorrer à mobilização, para certas especialidades, de médicos com mais de 45 anos. Um dado estatístico muito importante é o número de evacuações  dos três TO para a metrópole e que foi de cerca de 30 mil, estando a maioria dos processos clínicos no Arquivo Geral do Exército. 

Dalguns dos nossos médicos temos aqui falado. O descritor "Os nossos médicos" tem, apesar de tudo, 235 referências.

Um desses profissionais que foi mobilizado para o CTIG, e que queremos hoje homenagear, foi o dr. Fernando António Maymone Martins: passou pela CCS/BCAÇ 2845, mas também pelo HM 241, Bissau, nos anos de 1968/70.

Sobre este nosso camarada, que tem participado nalguns convívios do seu batalhão, recolhemos mais os seguintes elementos, a partir da Net, e nomeadamente da rede Linkedin:

• Especialista Sénior em Cardiologia Pediátrica e Cardiologia das Cardiopatias Congénitas
• Director do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital de Santa Cruz, 1987 - 2010
• Director Clínico, Hospital de Santa Cruz (2003-2004).
• Presidente do Conselho de Administração da Fundação Mater Timor
• Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Ajuda de Berço
• Fellow do American College of Cardiology
• Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia
• Presidente da Associação Europeia de Cardiologia Pediátrica (AEPC, 1995-1998)
• Presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (2000- 2004).

Está reformado do SNS mas mantém consultório privado em Carnaxide. Sabemos que em 1974/76 beneficiou de uma bolsa Fulbright, na categoria de estudante, na área de Cardiologia Pediátrica, realizada no Cook County Hospital, Chicago, Illinois, EUA.

NA RTP Arquivos pode ser visto um vídeo, de 2 de junho de 1990, em  entrevista do jornallista José Eduardo Moniz, em estúdio, ao dr. Maymone Martins, "cirurgião, responsável pela nova técnica de intervenção para a correção de deficiências cardíacas, o cateterismo".

É uma homem de causas, que incluem, por exemplo, a cooperação com Timor Leste na área da saúde materno-infantil.

Naturalmente que gostaríamos que ele aceitasse o convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Dessas diligências encarregamos o Albino Silva para levar a carta a Garcia...

2. Memória do serviço de saúde comandado pelo alf mil médico Maymone Martins, CCS/BCAÇ 2845 2845(Teixeira Pinto, 1968/70)

por Albino Silva (**)


(...) Comecei meu trabalho na Enfermaria e todos os dias estava de serviço pois ficava sempre na vez de outros camaradas porque gostava daquele serviço ao lado do Médico do Batalhão, Dr. Fernando António Maymone Martins, Alferes, que dava consultas à tropa até às 13h00 e depois ia para o Hospital Civil dar consultas e outros serviços com pequenas cirurgias, aos civis.

O meu serviço diário era logo de manhã tomar apontamentos daqueles que iam às consultas, depois chamar pelos mesmos ao gabinete do médico e ajudar na Enfermaria a atender o pessoal, pois além da tropa, que era muita, também os civis lá iam receber tratamento, e por isso era muito o trabalho para quem estava de serviço. Basta que em média por dia davam-se 300 injeções e havia feridas para serem tratadas , e ainda o pessoal lá internado e uns à espera de evacuação para Bissau.

Era muito o trabalho e ainda a pedido do Furriel Enfermeiro Garrido, fazia a requisição de Material para Bissau, que depois de recebido o ia conferir, mas eu gostava bem do serviço que ia fazendo e assim foi durante 13 meses.

Depois comecei a alinhar com um Pelotão da Companhia de Caçadores 2313, que era comandado pelo Capitão Penim, em saídas para o mato, em escoltas e para a Ação Psicológica, em picagem de estradas com um Pelotão da Companhia 2368, do meu Batalhão, e também em operações com este pelotão.

Para substituir o 1.º Cabo Enfermeiro Vitorino da 2368, que havia sido evacuado para Bissau, fui um mês para o destacamento de Caió, regressando depois a Teixeira Pinto à minha Enfermaria para de imediato sair com uma Secção da 2313 para uma Ação Psicológica lá para as Tabancas de Calequisse e Caió. (...)

3. Natal debaixo de fogo na Guiné. A memória do médico Fernando Maymone Martins
Rádio Renascença, 23 dez 2011 • Sofia Vieira (Reproduzido com a devia vénia...)

 O médico Fernando Maymone Martins fecha a semana que a Renascença dedicou a testemunhos de quem viveu o Natal em situações difíceis, mas com lugar para a esperança.

O Natal vivido no essencial, no meio do mato, durante a guerra colonial na Guiné, em 1968 é o testemunho deixado por Fernando Maymone Martins. Na altura, era um jovem médico militar, delegado de saúde, numa povoação que julgava segura.

Poucos meses antes, decidiu vir a Lisboa, em Outubro, e casou com Madalena. Em Novembro, levou-a para a Guiné, para viverem numa povoação que se chamava Teixeira Pinto.

Só que, em vésperas de Natal, foram alvo de ataque. Fernando Maymone Martins teve de deixar a mulher sozinha, porque teve de ir fazer uma revista de saúde a militares portugueses. “Durante essa semana, Teixeira Pinto foi alvo de ataque e a Madalena passou uma noite inteira debaixo de fogo”.

“A coluna em que eu fui também foi atacada, portanto, tivemos muito vivamente, e isto nas vésperas do Natal de 68, a percepção da vulnerabilidade da situação em que nos encontrávamos e do risco de nos acontecer alguma coisa, inclusive, de morrermos!”, recorda.

Fernando Maymone Martins lembra ainda que nessa época os sogros tinham enviado para a Guiné um pequeno presépio, com “figuras muito bonitas” que ainda hoje guardam “e que foi verdadeiramente o que nos ajudou a criar o ambiente de Natal na Guiné. Sem dúvida, com a percepção de que no meio do mato na Guiné, com a vulnerabilidade inerente aos ataques, estávamos verdadeiramente a ser reconduzidos àquilo que o Natal tem de mais importante – comemorar o nascimento de Jesus”.

O médico recorda também que, um ano depois, já com um filho, comemoraram o segundo Natal na Guiné. Dois momentos que o marcaram e à sua mulher Madalena para o resto da vida.

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)

(**) Vd. poste de 14 de abril de  2020 > Guiné 61/74 - P20856: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (1): Mobilizado para a Guiné, destino: Teixeira Pinto

Vd. também poste de 11 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11930: Os nossos médicos (67): Maximino [José Vaz da] Cunha, natural de Chaves, ex-alf mil médico, BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto) e HM 241 (Bissau, 1968/70)

terça-feira, 30 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21122: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (13): Álbum fotográfico - Parte VI

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 29 de Junho de 2020:

Bom dia Carlos Vinhal
Aqui dou início a mais uma semana, enviando para a Tabanca, o meu Álbum de Fotos n.º 6.
Desejo a todos os Tertulianos uma excelente semana, em especial para os Chefes de Tabanca.
Obrigado pela atenção e trabalho que tens e por me aturares.
Um Abraço,
Albino Silva



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21104: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (12): Álbum fotográfico - Parte V

domingo, 11 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11930: Os nossos médicos (67): Maximino [José Vaz da] Cunha, natural de Chaves, ex-alf mil médico, BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto) e HM 241 (Bissau, 1968/70)






Infografia: Albino Silva (2011)

1. E
stava eu, hoje de manhã, a dar o meu passeio matinal à beira mar, entre a Praia da Areia Branca e a Praia de Vale de Frades, quando recebi uma chamada telefónica de um velho amigo, Manuel José Matos Almeida, médico dermatologista, aposentado do Serviço Nacional de Saúde (pertenceu ao quadro do Hospital de Santa Maria mas foi também foi médico do mundo, tendo trabalhado em, Angola, na Endiama, e em Macau, a partir de 1993, no hospital de São Januário).

Há largos anos que,  devido aos desencontros da vida, deixámos de nos ver e de conviver mas não de saber notícias um do outro,..  E o que pretendia de mim o Manel Zé, após estes anos todos? Tinha encontrado no nosso blogue uma referência a um colega de curso e amigo, o dr. Maximino Cunha, de seu nome completo, Maximino José Vaz da Cunha, natural de Chaves... E mais concretamente o Manuel Zé perguntou-me se eu tinha o telefone dele, presumindo que eu o conhecia, da Guiné... Como se vê, o Mundo é Pequeno e a nossaTabanca...é Grande!


A resposta que lhe dei, ao telefone, foi a seguinte: tinha ideia de se ter falado no nome desse médico, enquanto militar no TO da Guiné, mas não podia dar a certeza de que ele figurava no nosso blogue como membro da nossa Tabana Grande... Em todo o caso, prometi de imediato ajudá-lo a reencontrar o seu amigo e nosso camarada.

Ao fim da tarde, abri o computador e pus-me a fazer pesquisas no nosso blogue e na Net. Eis o que descobri:

(i) Há uma referência ao Dr. Maximino Cunha, num poste do nosso camarada António Paivaex-Soldado Condutor do HM 241 (Bissau, 1968/70)

20 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8580: Ordem de Serviço de 1970 do HM 241 de Bissau, uma relíquia com 41 anos (António Paiva)

 (...) A Ordem de Serviço, de 02 de Abril de 70, diz assim: Dr. Maximino Cunha saiu do HM 241 ontem,  dia 1,  para o BCAÇ 2845,  sua Unidade,  para aguardar regresso à Metrópole, no  T/T Niassa (...).

Ficamos a saber que o nosso camarada, alferes miliciano médico, Maximino Cunha,  trabalhou no HM 241, em Bissau, onde estava no  final da sua comissão, em 1 de abril de 1970, e que pertencia  ao BCAÇ 2845 [Teixeira Pinto, 1968/70)...  Aliás, o Paiva e o Maximino Cun ha são da mesma altura, e seguramente que se conheceream, no HM 241.

(ii) Albino Silva, ex-soldado maqueiro, é um dos nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande ... Já tem (com outros camaradas) organizado o convívio anual do pessoal da CCS do batalhão, como aconteceu o ano passado, 2012... Além disso, é o poeta do batalhão...  Contactos de telemóvel: Albino Silva: 963 297 804 / Álvaro Catarino: 962 952 087 / Emídio Saraiva: 969 669 046.

O Albino Silva é seguramente a o camarada que está em melhores condições para nops dar o contacto  do Dr. Maximino Cunha, a viver e a trabalhar em Chaves.

Dos médicos do seu batalhão, já ele aqui nos deu notícia, incluindo o Dr. Maximimo Cunha, que em 2011 ainda trabalhava no Hospital de Chaves:

(...) De novo a dar trabalho ao Carlos Vinhal, desta vez com mais umas fotos de médicos [vd. imagens supra] que foram meus camaradas em Teixeira Pinto. Deste dois que apresento nas fotos, apenas com o Prof. Dr. Maymone Martins mantenho contacto, e de longe a longe nos encontramos em Convívios da CCS. Com o Dr. Maximino [Cunha] nunca nos encontramos, mas sei que trabalha no Hospital em Chaves, pois recentemente estive em contacto com ele.

Dos doutores Bessa de Melo e Cruz Maurício, nunca mais se soube nada deles. É caso para lhes apelar a que compareçam no próximo Encontro marcado para o dia 5 de Maio de 2012 na Quinta dos Três Pinheiros na Mealhada, pois nos lembramos sempre de vós, e todos os queremos abraçar. (...).


(iii) No nosso blogue fui ainda encontrar o seguinte poste do Jorge Teixeira (Portojo)

1 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10747: Blogues da nossa blogosfera (60): Memórias de Outros Tempos - A Estadia no HM 241, no Blogue Coisas da Vida (Jorge Teixeira - Portojo) 

O nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo) conta como, em Bissau, no HM 241, conheceu o Dr. Maximino Cunha... Aí vão alguns excertos:

(...) Como andava a sentir-me mal do estômago e aproveitando a estadia, pedi uma consulta médica. Não demorou muito tempo a ser atendido pelo Dr. Maximino Cunha (agradeço ao Albino Silva ter-me informado do nome do médico) que era do meu tempo, incorporado no Batalhão de Chaves. Não sei qual era, mas sei que era também o dos meus amigos Cancela e Mano Velho Carvalho. Só há pouco mais de quatro anos conheci estes bronqueiros.

Disse-me o médico para esquecer o estômago e irmos ver os pulmões. Mas isso só com internamento. Imaginem como fiquei. 

 (…) Finalmente consegui uma vaga na primeira enfermaria do lado esquerdo, com varanda e tudo.

A próxima consulta foi ainda com o Doutor Maximino - que acabou por ser o meu médico até ao fim - para além dos RX, receitou-me comprimidos e uma injecção diária que era de ir aos arames. O líquido, mais ou menos da cor de jeropiga, quando entrava pareciam vidros. Ainda por cima o bruto do cabo enfermeiro, lá porque era pegador de touros, não fazia carinhos nenhuns. Fiquei com tanta raiva ao homem que só não veio da varanda abaixo porque não tinha cabedal para ele. Consegui ao fim de poucos dias que as injecções fossem substituídas por comprimidos. Passei a tomar 16 diários, aumentados às quintas-feiras com o quinino e as vitaminas. (…)


(...) A enfermaria estava localizada num ponto estratégico. Permitia-nos ver o heliporto e a chegada de evacuados. Certo dia lá chegou mais um heli e descarregou um barbudo. Dissemos para nós mais um fuza que se f..d... Mais tarde viemos a saber que era um cubano mercenário, o Capitão Peralta. O Hospital ficou cheio de comandos e o homem ficou num quarto com sentinelas à porta. Esta foto correu mundo e já foi identificada. (...)

(…)Voltando às minhas doenças, os pulmões estavam um pouco estragados por uma bronquite crónica e não só por causa do clima. O Dr. Maximino recomendou-me deixar de fumar, ou no pior dos casos fumar charuto. Não havia charutos mas as célebres Tiparillos, que passei a fumar. Depois novamente no mato não me estava a ver a andar com a cigarrilha na boca à Fidel, embora as comprasse no Bar de Catió e abusei delas uns bons tempos ainda. 
Estava por resolver o caso do meu estômago, que depois de tomar a horrível papa, foi-me diagnosticada uma gastrite aguda.

(…) Lembrava-me do meu pessoal de quem estava afastado há 3 meses. Como era o único sargento e responsável pelo pelotão (o Oliveira aos 16 meses foi fazer um curso de artilharia em troca comigo e só o voltei a ver próximo do dia do embarque em Abril) tinha a obrigação de tratar das burocracias. Sempre eram mais de 30 homens e tinha um mês para isso. Os meus palpites não bateram certo, mas isso são outras estórias. O médico, contrariado, notei, deu-me alta e muitos conselhos. Não me chamou burro mas subentendi. Enfim, médicos... Aguardei no hospital que houvesse transporte aéreo para Catió, o que aconteceu no dia 4 de Dezembro, dia de Santa Bárbara e da Artilharia. A minha rapaziada recebeu-me com carinho e à espera de matar a sede, que a água da bolanha andava muito salgada. Mas vamos à vida que o próximo barco é o nosso. (...)

(iv) Em comentário ao supracitado poste, P10747, o Manuel Carvalho escreveu:

Amigo Jorge: Em Catió tinhas dor de dentes mas não tinhas nenhuma doença. Foste para junto dos médicos, eram só doenças. O Dr. Maximino [Cunha] era do meu Batalhão,  o [BCAÇ] 2845,  e muita boa pessoa, mas eu,  graças a Deus e que me lembre, nunca o vi. Temos muita conversa mas quando elas mordem lá vamos ter com eles. Estamos quase a chegar aos 67. Um abraço. Manuel Carvalho

(v) Finalmente, e pesquisando na Net, encontrei no JN - Jornal de Notícas, de 7/2/2010,  uma referência ao Dr. Maximino Cunha, no artigo "Solidários em nome da saúde", com o subtítulo: "Os beneméritos da Medicina dos tempos modernos são cada vez menos, mas a crise e o desemprego podem fazer renascer o trabalho voluntário".

O trabalho é assinado por Margarida Lúzio, Glória Lopes, Teixeira Correia e Carlos Rui Abreu. Aqui vão alguns excertos (com a devida vénia...):

(...) A avó materna, galega e católica da cabeça aos pés, queria que fosse padre. Ele queria emigrar. Para os Estados Unidos. No fim, nem uma coisa, nem outra. O pai, bancário, começaria a ganhar melhor e Maximino Cunha haveria de rumar de Chaves para Coimbra e, depois, para Lisboa. E assim se faria médico. E comunista.

A opção política condicionou-lhe a progressão na carreira. "Antes do 25 de Abril, nunca pude aceder a nenhum lugar do Estado", recorda. Mas haveria também de marcar a forma de exercer a profissão. Já doutor, regressou a Chaves por castigo (político). "Julgo que não sabiam que me estavam a mandar para a minha terra natal".

Nessa altura, depois do serviço clínico no quartel, Maximino Cunha exercia Medicina privada. Muitas vezes sem cobrar. "Sabia perfeitamente que não tinham dinheiro para me pagar. Ah, quantas vezes!", lembra. E justifica: "Se não fosse sensível à pobreza não seria comunista". Hoje, garante que este tipo de casos são cada vez mais raros, mas teme que a crise os possa fazer renascer. "Provavelmente vão aparecer por causa do desemprego e da crise ".

O consultório, em casa, não está identificado. "A publicidade são os doentes que a fazem". Não tem computador. Olha para os doentes. A tabela de preços, no corredor, está em euros e escudos. 40 (8 contos) na primeira consulta e 30 na segunda e seguintes. João Semana puro, talvez não, mas com uma costela, certamente. (...)


2. Comentário de L.G.:

Peço a todos os camaradas que tenham conhecido ou conheçam o Dr. Maximino Cunha, muito em particlar ao Albino Silva, que me contactem, através do endereço do email do blogue [  luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com ] para que me forneçam os contactos necessários. Sei que o nosso  camarada Maximino Cunha continua a viver em Chaves. A todos muito obrigado pela eventual ajuda. Um grande abraço para o meu amigo Manel Zé.
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11849: Os nossos médicos (66): Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, incluindo um Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, oriundo de Moçambique, com militares quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de 'fósforo' (J. Pardete Ferreira)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11849: Os nossos médicos (66): Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, incluindo um Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, oriundo de Moçambique, com militares quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de 'fósforo' (J. Pardete Ferreira)


1. Com data de 15 de junho último, aqui vai uma mensagem do J. Pardete Ferreira, em complemento de uma outra já  aqui publicada,  na véspera (*):

Obrigado,  caro Luís Graça,

Provavelmente o erro foi meu mas a instrução no HMP era de 6 semanas e não de 6 meses [, como por lapso informei,], englobando ainda algumas idas ao HMDIC (Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas), perto da Ajuda.

Ao que eu informei,  devo acrescentar sobre os "reinspeccionados", médicos que estavam isentos de Serviço Militar ou que já tinham uma certa idade: a sua  recruta era mais "soft" e era feita na EPC [, Escola Prática de Cavalaria,] em Santarém;  iam preferencialmente para os Hospitais, havendo, igualmente, quem integrasse os Batalhões.
Respondo agora ao teu questionário:

1 - Já me pronunciei e hoje mandei um Post-Scriptum.

2 - a) No meu Batalhão, três médicos. No barco (2 Batalhões) 6 médicos + dois de rendição individual, para o HM 241.

b) Eu saí logo do meu Batalhão e segui para o CAOP1, outro foi para Aldeia Formosa e mais tarde para o HM 241 e foi substituído por outro colega.

c) No meu Batalhão, Madureira, Morais Sarmento e Pardete Ferreira. O substituto foi o Bigote e eu fui substituir o Bessa, juntando-me ao Fernando Maymone Martins. Quem me substitui no CAOP1 foi o Gouveia.

d) Eu precisei de Consultas de ORL, por causa do meu Clesteatoma, de Medicina Interna e de Fisioterapia, porque me "lembrei" de fazer uma neuropraxia do radial direito. Estando em Bissau e não podendo operar, andei a prestar assistência às Unidades do exército sediadas em Bissau.

e) Nunca estive internado, mas na sede do CAOP1  havia enfermaria.

f) Respondida em e).

g) Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, um Militar e uma civil atropelada por um Jeep Militar e um avião Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, vindo de Moçambique, que já tinha tido duas ou três avarias. As camas e os lugares eram de lona, e eram quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de "fósforo". Duas Enfermeiras Pára-quedistas vieram também: a Maria Arminda, que já vinha de Moçambique, e a Aura Teles que entrou em Bissau.

Acrescento que em Cacheu, detectei uma cardiopatia num Cabo Maqueiro que evacuei para Bissau e depois foi evacuado pela Metrópole e que a Junta considerou inapto para o Serviço Militar... e os colegas dele diziam que não podia estar doente porque era o mais "operacional" de todos...

f) Em Teixeira Pinto havia um Hospital Civil e uma Maternidade à nossa guarda. No Cacheu os civis eram vistos pelo  médico militar mas num Posto separado. Em Csió, no Bachile e em Jeta e em plena picada na desmatação, era tudo junto. Era o médico militar quem tratava de praticamente toda a População Civil.

Sempre pronto a recordar embora já com 42 a 44 anos passados sobre os acontecimentos.... envio-te um grande abraço, extensivo a todos os Combatentes e, particularmente aos Tabanqueiros (*).

Pardete Ferreira

PS - A 1 de Julho, tivemos, aqui em Setúbal o 16º emncontro da Malta do HM 241 (63 presentes, alguns acompanhados de familiares. A 30 de Julho estarei nas Comemorações do 26º Aniversário da Associação de Pára-quedistas de Setúbal, que vai ser Condecorada pela Câmara Municipal. E já que estamos a falar em Condecorações, a semana passada a minha mulher foi Condecorada pelo Governo Francês com o grau de "Chevalier de l'Ordre des Palmes Académiques".

2. Outra mensagem do J. OPardete Ferreira, com data de 18 de junho último:

É natural que no início da Guerra houvesse um Médico por Companhia mas os recursos em médicos foram-se esgotando. Assim, no meu tempo, iam três por Batalhão e já se recorria aos "reinspeccionados". 

Os médicos chegaram a ser mobilizados com 53 anos de idade, como o Falecido Dr. Rui de Brito, Cardiologista no Porto e o Dr. Botelho e Melo, Oftalmologista em Ponta Delgada. 

É verdade, igualmente, que, não existindo especialistas em número suficiente, fossem chamados para o desempenho destas, médicos com grau mais avançado na carreira médica ou até por conhecimento ou prémio no final da comissão. Naturalmente estes factos implicavam rotação e distribuição pois havia a pretensão de não existirem zonas muito desprotegidas. O Antero da Palma Nunes, Oftalmologista em Faro, por exemplo, foi Médico de Batalhão, foi Médico da equipa itinerante de Estomatologia e Oftalmologista do HM 241.

Alfa Bravo
José Pardete Ferreira
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11704: Os nossos médicos (47): Qual era a dotação médica de um batalhão ? Três médicos por batalhão, diz-nos o ex-alf mil méd J. Pardete Ferreira (CAOP1, Teixeira Pinto; HM 241, Bissau, 1969/71)


(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8552: Os nossos médicos (38): O Prof Pereira Coelho, o pai do bebé-proveta em Portugal... e que esteve em Galomaro... Recordando ainda os Dr. Pinheiro Azevedo, Dr. Moreira Figueiredo e o Prof Maymone Martins (Joaquim Mexia Alves / Paulo Santiago / Luís Dias)

1. Comentário de Joaquim Mexia Alves [ foto à esquerda,] ao poste P8495 (*) e outros relacionados:

Repito aqui o comentário que coloquei noutro lado sobre os nossos médicos.

(i) Ora bem, o Prof Doutor Pereira Coelho, para os amigos Mané Pereira Coelho, é um homem de eleição. um grande homem e um grande médico. [ Já foi aqui evocado pelo nosso camarigo Luís Dias (*)...Aliás, conheci-o no Galomaro numa "aventura" que me "obrigaram" a fazer e que um dia contarei.]


O seu trato de uma simpatia extrema, a sua dedicação á medicina e àqueles que tratava, grangearam-lhe um capital de simpatia que prevaleceu para além da tropa.


É conhecido por ser o pai do bébe-proveta em Portugal. Conheço-o bem embora já alguns anos o não veja, com grande pena minha.


(ii) O  António Alfredo [Viana Pinheiro] Azevedo não lhe fica atrás em grandeza de alma e dignidade, como homem e como médico, como aliás eu já tinha afirmado.

[E a propósito, escreveu o Paulo Santiago, foto à esquerda,  quando comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72, em comentário ao poste P8485 **]:

O Dr. Azevedo é um camarada que  eu gostaria de encontrar. Foi ele que, definitivamente, conseguiu curar-me das otites que, ciclamente, me apoquentavam,e aquilo eram dores do c... Também ele me tratou do primeiro,  e único, "ataque" de paludismo. Aquela vala da foto, utilizei-a ao ínicio da noite de 3 de Agosto de 1972...O Mexia estava lá, e o Dr. Azevedo,penso que também estava... Uma vala com uma profundidade pouco adequada ao tamanho do Joaquim]...

Também sobre estes dois médicos, escreve o Luís Dias [, foto a seguir à direita,, quando jovem Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74]  (***):

Segundo informações colhidas junto do Professor Doutor Pereira Coelho, o Médico Pinheiro Azevedo pertencia ao BART 3873 (Bambadinca) e não ao BCAÇ 3872 (Galomaro). Ambos seguiram para a Guiné no mesmo barco (onde ia o BART3873, mas com destinos diferentes). Devido ao facto de ele se encontrar no Xitole, à data da emboscada do Saltinho [, ou melhor, Quirafo], foi ele que avançou para o terreno. A seguir chegou o Dr. Pereira Coelho por determinação do Comandante, que conversou com o colega que chegara em primeiro lugar, pois já não havia nada a fazer. Era sua convicção que quem passou as certidões de óbito foi o Dr. Pinheiro Azevedo.


(iii) E continua o Joaquim Mexia Alves:

Já agora e porque noutros postes se fala dele, o Dr. Moreira Figueiredo [, António Lebre Moreira de Figueiredo, estomatologista,] assentou a sua vida em Leiria, tendo-o eu conhecido muito bem. (****)


Para além da sua carreira médica, dedicou-se muito às artes e cultura na cidade do Liz.


(iv) Acrescento então que o Prof. Maymone Martins está, (estava?), no Hospital de Santa Cruz. Julgo que está mais dedicado à cardiologia pediátrica, pois foi quem tratou o meu filho André, quando era ainda criança, e tinha um "sopro cardiaco".


É um homem que apenas conheci nessa altura, mas de uma simpatia e competência extremas, pelo que lhe estou muito agradecido.


Foi-me indicado por um primo meu, Dr. Francisco Machado, (naquela altura chefe da hemodinâmica no Hospital de Santa Cruz, salvo o erro), e que curiosamente foi Comando em Angola. Entramos para Mafra no mesmo dia, tendo-nos separado em Lamego, pois ele foi para os Comandos e eu para os Rangers. (*****)


Um abraço a todos,
J. Mexia Alves

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2011 >
Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)



(**) 30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5732: Os nossos médicos (15): Professor Doutor Pereira Coelho (ex-Alf Mil Méd do BCAÇ 3872 e Director do Hospital Civil Bafatá, 71/74

(***) Vd. poste de 29 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8485: Os nossos médicos (29): O arraial minhoto do Alf Mil Med Pinheiro Azevedo no Xitole, em 4 de Abril de 1972 (Joaquim Mexia Alves, CART 3492 / BART 3873, 1971/74)

(****) Vd. poste de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8491: Os nossos médicos (31): HM241: Pessoal médico do meu tempo por especialidades (J. Pardete Ferreira)

(*****) Último poste da série > 11 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8540: Os nossos médicos (37): Dr. Fernando Garcia, chefe da equipa cirúrgica do HM241, Bissau, 1966/68 (J. Pardete Ferreira)