Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS / BCAÇ 2845 (1968/70) > Equipa dos serviços de saúde no dia de abertura da enfermaria > Destaque para os alferes médicos Fernando António Maymone Martins e Maxinino Cunha, ambos irão também trabalhar na 2ª parte da comissão no HM 241, em Bissau.
Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS / BCAÇ 2845 (1968/70) > Equipa dos serviços de saúde: da esquerda para a direita, de pé: Maymone Martins (alferes), Garrido (furriel), Albino e Garcia; em primeiro plano, Tónio, Borges e Constantino (1º cabo)
Fotos do álbum do Albino Silva, ex-sold maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) (*).
Fotos (e legendas): © Albino Silva (2011) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Não temos, infelizmente, falado aqui o suficiente dos nossos serviços de saúde militares, dos nossos médicos, dos nossos enfermeiros, dos nossos maqueiros...
É minha intenção fazer, proximamente, uma nota de leitura de um capítulo de um livro em que também participei (Veloso, A.J., Mora, L.D.,
Leitão, H., eds. – Médicos e sociedade: para uma história da
medicina em Portugal no século XX. Lisboa: By The Book, 2017, 863 pp.).
O capítulo a que me refiro, sobre saúde militar, é o "34. A Guerra Colonial", da autoria de Carlos Vieira Reis, pp. 492-505. O autor é coronel médico.
Continuamos sem saber, em rigor, quantos médicos, oficiais milicianos ou do quadro, passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974. O autor escreve que "os médicos recém-formados não bastavam para preencher as necessidades". E teve mesmo que se recorrer à mobilização, para certas especialidades, de médicos com mais de 45 anos. Um dado estatístico muito importante é o número de evacuações dos três TO para a metrópole e que foi de cerca de 30 mil, estando a maioria dos processos clínicos no Arquivo Geral do Exército.
Continuamos sem saber, em rigor, quantos médicos, oficiais milicianos ou do quadro, passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974. O autor escreve que "os médicos recém-formados não bastavam para preencher as necessidades". E teve mesmo que se recorrer à mobilização, para certas especialidades, de médicos com mais de 45 anos. Um dado estatístico muito importante é o número de evacuações dos três TO para a metrópole e que foi de cerca de 30 mil, estando a maioria dos processos clínicos no Arquivo Geral do Exército.
Dalguns dos nossos médicos temos aqui falado. O descritor "Os nossos médicos" tem, apesar de tudo, 235 referências.
Um desses profissionais que foi mobilizado para o CTIG, e que queremos hoje homenagear, foi o dr. Fernando António Maymone Martins: passou pela CCS/BCAÇ 2845, mas também pelo HM 241, Bissau, nos anos de 1968/70.
Sobre este nosso camarada, que tem participado nalguns convívios do seu batalhão, recolhemos mais os seguintes elementos, a partir da Net, e nomeadamente da rede Linkedin:
• Especialista Sénior em Cardiologia Pediátrica e Cardiologia das Cardiopatias Congénitas
• Director do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital de Santa Cruz, 1987 - 2010
• Director Clínico, Hospital de Santa Cruz (2003-2004).
• Presidente do Conselho de Administração da Fundação Mater Timor
• Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Ajuda de Berço
• Fellow do American College of Cardiology
• Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia
• Presidente da Associação Europeia de Cardiologia Pediátrica (AEPC, 1995-1998)
• Presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (2000- 2004).
Está reformado do SNS mas mantém consultório privado em Carnaxide. Sabemos que em 1974/76 beneficiou de uma bolsa Fulbright, na categoria de estudante, na área de Cardiologia Pediátrica, realizada no Cook County Hospital, Chicago, Illinois, EUA.
NA RTP Arquivos pode ser visto um vídeo, de 2 de junho de 1990, em entrevista do jornallista José Eduardo Moniz, em estúdio, ao dr. Maymone Martins, "cirurgião, responsável pela nova técnica de intervenção para a correção de deficiências cardíacas, o cateterismo".
É uma homem de causas, que incluem, por exemplo, a cooperação com Timor Leste na área da saúde materno-infantil.
Naturalmente que gostaríamos que ele aceitasse o convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Dessas diligências encarregamos o Albino Silva para levar a carta a Garcia...
2. Memória do serviço de saúde comandado pelo alf mil médico Maymone Martins, CCS/BCAÇ 2845 2845(Teixeira Pinto, 1968/70)
por Albino Silva (**)
(...) Comecei meu trabalho na Enfermaria e todos os dias estava de serviço pois ficava sempre na vez de outros camaradas porque gostava daquele serviço ao lado do Médico do Batalhão, Dr. Fernando António Maymone Martins, Alferes, que dava consultas à tropa até às 13h00 e depois ia para o Hospital Civil dar consultas e outros serviços com pequenas cirurgias, aos civis.
O meu serviço diário era logo de manhã tomar apontamentos daqueles que iam às consultas, depois chamar pelos mesmos ao gabinete do médico e ajudar na Enfermaria a atender o pessoal, pois além da tropa, que era muita, também os civis lá iam receber tratamento, e por isso era muito o trabalho para quem estava de serviço. Basta que em média por dia davam-se 300 injeções e havia feridas para serem tratadas , e ainda o pessoal lá internado e uns à espera de evacuação para Bissau.
Era muito o trabalho e ainda a pedido do Furriel Enfermeiro Garrido, fazia a requisição de Material para Bissau, que depois de recebido o ia conferir, mas eu gostava bem do serviço que ia fazendo e assim foi durante 13 meses.
Depois comecei a alinhar com um Pelotão da Companhia de Caçadores 2313, que era comandado pelo Capitão Penim, em saídas para o mato, em escoltas e para a Ação Psicológica, em picagem de estradas com um Pelotão da Companhia 2368, do meu Batalhão, e também em operações com este pelotão.
Para substituir o 1.º Cabo Enfermeiro Vitorino da 2368, que havia sido evacuado para Bissau, fui um mês para o destacamento de Caió, regressando depois a Teixeira Pinto à minha Enfermaria para de imediato sair com uma Secção da 2313 para uma Ação Psicológica lá para as Tabancas de Calequisse e Caió. (...)
3. Natal debaixo de fogo na Guiné. A memória do médico Fernando Maymone Martins
Rádio Renascença, 23 dez 2011 • Sofia Vieira (Reproduzido com a devia vénia...)
O Natal vivido no essencial, no meio do mato, durante a guerra colonial na Guiné, em 1968 é o testemunho deixado por Fernando Maymone Martins. Na altura, era um jovem médico militar, delegado de saúde, numa povoação que julgava segura.
Poucos meses antes, decidiu vir a Lisboa, em Outubro, e casou com Madalena. Em Novembro, levou-a para a Guiné, para viverem numa povoação que se chamava Teixeira Pinto.
Só que, em vésperas de Natal, foram alvo de ataque. Fernando Maymone Martins teve de deixar a mulher sozinha, porque teve de ir fazer uma revista de saúde a militares portugueses. “Durante essa semana, Teixeira Pinto foi alvo de ataque e a Madalena passou uma noite inteira debaixo de fogo”.
“A coluna em que eu fui também foi atacada, portanto, tivemos muito vivamente, e isto nas vésperas do Natal de 68, a percepção da vulnerabilidade da situação em que nos encontrávamos e do risco de nos acontecer alguma coisa, inclusive, de morrermos!”, recorda.
Fernando Maymone Martins lembra ainda que nessa época os sogros tinham enviado para a Guiné um pequeno presépio, com “figuras muito bonitas” que ainda hoje guardam “e que foi verdadeiramente o que nos ajudou a criar o ambiente de Natal na Guiné. Sem dúvida, com a percepção de que no meio do mato na Guiné, com a vulnerabilidade inerente aos ataques, estávamos verdadeiramente a ser reconduzidos àquilo que o Natal tem de mais importante – comemorar o nascimento de Jesus”.
O médico recorda também que, um ano depois, já com um filho, comemoraram o segundo Natal na Guiné. Dois momentos que o marcaram e à sua mulher Madalena para o resto da vida.
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)
(**) Vd. poste de 14 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20856: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (1): Mobilizado para a Guiné, destino: Teixeira Pinto
Vd. também poste de 11 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11930: Os nossos médicos (67): Maximino [José Vaz da] Cunha, natural de Chaves, ex-alf mil médico, BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto) e HM 241 (Bissau, 1968/70)
Um desses profissionais que foi mobilizado para o CTIG, e que queremos hoje homenagear, foi o dr. Fernando António Maymone Martins: passou pela CCS/BCAÇ 2845, mas também pelo HM 241, Bissau, nos anos de 1968/70.
Sobre este nosso camarada, que tem participado nalguns convívios do seu batalhão, recolhemos mais os seguintes elementos, a partir da Net, e nomeadamente da rede Linkedin:
• Especialista Sénior em Cardiologia Pediátrica e Cardiologia das Cardiopatias Congénitas
• Director do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital de Santa Cruz, 1987 - 2010
• Director Clínico, Hospital de Santa Cruz (2003-2004).
• Presidente do Conselho de Administração da Fundação Mater Timor
• Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Ajuda de Berço
• Fellow do American College of Cardiology
• Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia
• Presidente da Associação Europeia de Cardiologia Pediátrica (AEPC, 1995-1998)
• Presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (2000- 2004).
Está reformado do SNS mas mantém consultório privado em Carnaxide. Sabemos que em 1974/76 beneficiou de uma bolsa Fulbright, na categoria de estudante, na área de Cardiologia Pediátrica, realizada no Cook County Hospital, Chicago, Illinois, EUA.
NA RTP Arquivos pode ser visto um vídeo, de 2 de junho de 1990, em entrevista do jornallista José Eduardo Moniz, em estúdio, ao dr. Maymone Martins, "cirurgião, responsável pela nova técnica de intervenção para a correção de deficiências cardíacas, o cateterismo".
É uma homem de causas, que incluem, por exemplo, a cooperação com Timor Leste na área da saúde materno-infantil.
Naturalmente que gostaríamos que ele aceitasse o convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Dessas diligências encarregamos o Albino Silva para levar a carta a Garcia...
2. Memória do serviço de saúde comandado pelo alf mil médico Maymone Martins, CCS/BCAÇ 2845 2845(Teixeira Pinto, 1968/70)
por Albino Silva (**)
(...) Comecei meu trabalho na Enfermaria e todos os dias estava de serviço pois ficava sempre na vez de outros camaradas porque gostava daquele serviço ao lado do Médico do Batalhão, Dr. Fernando António Maymone Martins, Alferes, que dava consultas à tropa até às 13h00 e depois ia para o Hospital Civil dar consultas e outros serviços com pequenas cirurgias, aos civis.
O meu serviço diário era logo de manhã tomar apontamentos daqueles que iam às consultas, depois chamar pelos mesmos ao gabinete do médico e ajudar na Enfermaria a atender o pessoal, pois além da tropa, que era muita, também os civis lá iam receber tratamento, e por isso era muito o trabalho para quem estava de serviço. Basta que em média por dia davam-se 300 injeções e havia feridas para serem tratadas , e ainda o pessoal lá internado e uns à espera de evacuação para Bissau.
Era muito o trabalho e ainda a pedido do Furriel Enfermeiro Garrido, fazia a requisição de Material para Bissau, que depois de recebido o ia conferir, mas eu gostava bem do serviço que ia fazendo e assim foi durante 13 meses.
Depois comecei a alinhar com um Pelotão da Companhia de Caçadores 2313, que era comandado pelo Capitão Penim, em saídas para o mato, em escoltas e para a Ação Psicológica, em picagem de estradas com um Pelotão da Companhia 2368, do meu Batalhão, e também em operações com este pelotão.
Para substituir o 1.º Cabo Enfermeiro Vitorino da 2368, que havia sido evacuado para Bissau, fui um mês para o destacamento de Caió, regressando depois a Teixeira Pinto à minha Enfermaria para de imediato sair com uma Secção da 2313 para uma Ação Psicológica lá para as Tabancas de Calequisse e Caió. (...)
3. Natal debaixo de fogo na Guiné. A memória do médico Fernando Maymone Martins
Rádio Renascença, 23 dez 2011 • Sofia Vieira (Reproduzido com a devia vénia...)
O médico Fernando Maymone Martins fecha a semana que a Renascença dedicou a testemunhos de quem viveu o Natal em situações difíceis, mas com lugar para a esperança.
O Natal vivido no essencial, no meio do mato, durante a guerra colonial na Guiné, em 1968 é o testemunho deixado por Fernando Maymone Martins. Na altura, era um jovem médico militar, delegado de saúde, numa povoação que julgava segura.
Poucos meses antes, decidiu vir a Lisboa, em Outubro, e casou com Madalena. Em Novembro, levou-a para a Guiné, para viverem numa povoação que se chamava Teixeira Pinto.
Só que, em vésperas de Natal, foram alvo de ataque. Fernando Maymone Martins teve de deixar a mulher sozinha, porque teve de ir fazer uma revista de saúde a militares portugueses. “Durante essa semana, Teixeira Pinto foi alvo de ataque e a Madalena passou uma noite inteira debaixo de fogo”.
“A coluna em que eu fui também foi atacada, portanto, tivemos muito vivamente, e isto nas vésperas do Natal de 68, a percepção da vulnerabilidade da situação em que nos encontrávamos e do risco de nos acontecer alguma coisa, inclusive, de morrermos!”, recorda.
Fernando Maymone Martins lembra ainda que nessa época os sogros tinham enviado para a Guiné um pequeno presépio, com “figuras muito bonitas” que ainda hoje guardam “e que foi verdadeiramente o que nos ajudou a criar o ambiente de Natal na Guiné. Sem dúvida, com a percepção de que no meio do mato na Guiné, com a vulnerabilidade inerente aos ataques, estávamos verdadeiramente a ser reconduzidos àquilo que o Natal tem de mais importante – comemorar o nascimento de Jesus”.
O médico recorda também que, um ano depois, já com um filho, comemoraram o segundo Natal na Guiné. Dois momentos que o marcaram e à sua mulher Madalena para o resto da vida.
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)
(**) Vd. poste de 14 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20856: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (1): Mobilizado para a Guiné, destino: Teixeira Pinto
(***) Último poste da série > 11 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19574: Os nossos médicos (87): José Luís Champalimaud (Nova Lisboa / Huambo, Angola, 1939 - Lisboa, 1996): foi médico do meu BCAÇ 3880, em Zemba, por um mês, em abril de 1973, e um dos autores da descoberta do VIH 2 em 1986 (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-al mil at inf, CCCAÇ 3535, Zemba e Ponte de Rádi, 1972/74)