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segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21644: Notas de leitura (1329): "Madrinhas de guerra, A correspondência dos soldados portugueses durante a Guerra do Ultramar", de Marta Martins Silva, prefácio de Carlos de Matos Gomes; Edições Desassossego, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos, 

A jornalista Marta Martins Silva está de parabéns, dá-nos de forma tocante a missão das madrinhas de guerra, tanto na I Guerra Mundial como nos teatros de guerra em África, nos tempos da luta de libertação das colónias. É uma obra que qualquer combatente pode e deve mostrar aos filhos e netos, seguramente alheios a este fenómeno de mulheres completamente esquecidas e que tiveram um papel exemplar no suporte moral de inúmeros militares. 

Já sabíamos muito sobre a história dos aerogramas e do Movimento Nacional Feminino, mas a autora, que recorre a uma investigação cuidada e apela ao testemunho lembra-nos fenómenos ímpares como o de Maria Estefânia Anacoreta que gravava as vozes das mães, mulheres e noivas e que se deslocava a África até encontrar os fiéis destinatários. Recolhe uma dimensão triunfal deste tumulto de aerogramas e outra epistolografia, quando tudo acaba no altar ou na conservatória. E com sinceridade diz a autora: 

"Cada vez que segurei no aerograma ou numa carta trocada entre um soldado e uma madrinha de guerra foi-me inevitável pensar na viagem que aqueles pedaços de papel tinham feito até chegar às minhas mãos, tantas décadas depois de terem sido lidos pela primeira vez pelos seus destinatários. Senti-me a espreitar, pelo buraco de uma pesada fechadura, a história daquelas pessoas que tinha à minha frente - e com a maior generosidade me permitiram fazê-lo - mas também a história de um país. "

Um abraço do
Mário



Madrinhas de guerra, a correspondência que ajudava a suprir a solidão

Mário Beja Santos

"Madrinhas de guerra, A correspondência dos soldados portugueses durante a Guerra do Ultramar", de Marta Martins Silva, prefácio de Carlos de Matos Gomes, Edições Desassossego, 2020, é um livro surpreendente, pela inovação da pesquisa, pela abrangência do tratamento da temática, pelas questões sociológicas que ousa levantar. 

E Carlos de Matos Gomes abre as hostilidades com um magnífico prefácio: 

“É uma obra sobre as estratégias pessoais dos jovens portugueses feitos soldados para preservarem a corrente que os liga à origem, para resistirem às várias mortes, a física e a emocional. As madrinhas de guerra constituíram uma das amarras que permitiram ao mobilizado continuar a fazer parte da sua comunidade, enquanto ser social (…) 

A correspondência trocada entre os militares portugueses e as suas madrinhas de guerra revela que aquela não era uma guerra que pudesse ser ganha por aqueles soldados. As primeiras cartas falam do cumprimento de um dever, de um tributo a pagar, mas, logo de seguida, do regresso, do vazio da missão que cumprem. Não se vislumbra nenhum sentimento de orgulho por estarem os militares mobilizados a contribuir para uma vitória ou para uma grande causa. As cartas manifestam, isso sim, preocupações com a sobrevivência, com o desejo que o tempo passe sem deixar grandes marcas (…) 

Da leitura das cartas subentendemos que a guerra também foi o pretexto para procurar uma companhia, um destino, um futuro. Umas vezes o resultado foi feliz, noutras nem tanto. Em muitos casos, os correspondentes e as madrinhas perderam o rasto um dos outros. Quando as promessas trocadas nos aerogramas não se concretizavam na chegada dos militares à metrópole, muitas madrinhas e muitos dos mobilizados acabaram por queimá-los e a outras recordações da guerra, como um adeus ao passado. Marta Martins Silva reconstrói com emoção parte dele”.

A primeira surpresa que a autora nos proporciona é falar-nos de um livro de um pioneiro da arqueologia, Coronel Afonso do Paço que escreveu o livro "Cartas às madrinhas de guerra", com data de 1929, e nos fala da guerra das trincheiras. E temos a história de um grupo de mulheres que incentivou esta forma de comunicação, os extratos que a autora nos oferece dão conta da evolução do estado de espírito do combatente Afonso do Paço, basta o extrato de uma carta de fevereiro de 1918:

“Se a madrinha soubesse o quanto nós sofremos nesta vida de trincheira!? Se pudesse imaginá-lo!? Diria que era uma vida inteira votada à dor e ao sofrimento, porque só de dor e sofrimento é feita a nossa vida na trincha. Sofre-se de metralha que nos corta as carnes em paroxismo de dor. Sofre-se de gases que nos queimam o corpo, que secam as goelas, fazem espirrar como cabritos ou chorar como Madalenas. Sofre-se de frio, os pés na lama, a roupa pegada ao corpo, as articulações emperradas de reumatismo. Sofre-se de piolhos que nos roem a pele. Sofre-se na terra de ninguém rastejando sobre a lama ou cadáveres em putrefação”.

E daqui partimos para os aerogramas, em Jumbembém Manuel Sousa vai contando o seu fadário, e vem logo a propósito conhecer a popularidade do chamado bate estradas, grátis para um militar, a preço insignificante para as famílias, envolveu o Movimento Nacional Feminino (MNF), o serviço postal militar, a TAP, os transportes marítimos. 

A dirigente do MNF, Cecília Supico Pinto, define a competência da madrinha: escreve ao afilhado pelo menos todas as semanas, procura ser sempre agradável, versando os assuntos que mais possam interessá-lo, escreve para o distrair. Porque, como nos recordou Carlos Matos Gomes, quem partiu para aqueles teatros de guerra a tudo quer resistir quando sentiu que quebrava uma ligação ao que lhe era matricial à sua terra, à sua família, à sua comunidade, aos seus projetos de vida. 

E a autora desenvolve habilmente a origem e o sucesso deste meio de comunicação, dá-nos o essencial do que foi o papel do MNF, como se chegava à madrinha de guerra, muitas vezes era graças às revistas mais populares da época, caso da Crónica Feminina, talvez o maior sucesso de todos os tempos em Portugal de uma revista de entretenimento. Um meio que permitiu enredos, aproximações que levaram à descoberta do amor ou que respeitaram à mera formalidade da ajuda que era pedida para distrair um militar. 

E temos uma correspondência que permite conhecer o perfil de quem escreve, como vive, do que gosta, como ocupa o tempo, como trabalha. O militar responde, começa então respeitoso e vai-se desprendendo, pergunta se há namorado na costa, pede fotografia, umas vezes é comedido a descrever os horrores da guerra, outras vezes não tanto, trabalha na padaria, na manutenção de viaturas ou na secretaria, e não quer dar parte de fraco. 

Essa riqueza epistolar é-nos dada pela autora através de uma transcrição muito bem escolhida que intitula “Amor em tempo de guerra”, no fundo o triunfo dos aerogramas, tudo vai acabar bem, no altar ou na conservatória, com o copo-de-água possível.

O primeiro contato é sempre tocante, caso de Mário Silva para a menina Rosa Maria: 

“Menina, você dizia-me que gostava de saber de onde eu era, pois eu sou de aí de perto, tão perto que pertenço à mesma freguesia. Sou natural de Vilarinho mas já vivo fora da terra natal há 10 anos, estando os últimos anos como padeiro em Lisboa. Menina, quando me escrever, não se importava de me mandar dizer se é natural de Cacia e ao mesmo tempo agradecia que me trates por tu. Se por acaso a menina não se importasse podíamos escrever como madrinha e afilhado? Agradeço uma vez mais a atenção dispensada". 

Nem todos os casamentos irão ocorrer pouco depois da chegada do jovem, a autora deixa-nos para o fim um amor de longa espera entre Maria do Céu Cadima e Fernando Paredes. A Maria do Céu nunca deu ao Fernando qualquer sinal de que queria ser mais do que a sua madrinha de guerra, nunca se ultrapassava a linha da amizade, o Fernando queria mais. A vida trocou-lhes as voltas, Fernando casou com Maria Olinda, sem nunca deixar de pensar na sua Céu. A mulher de Fernando adoeceu e morrer em 2010, pouco depois Fernando também adoeceu com linfoma nos ossos, chegou a ir viver para um lar, onde contava a sua antiga história de amor, os moradores, comovidos, encorajaram-no a encontrar-se com a amada. E como no romance de Gabriel García Márquez, "O Amor nos Tempos de Cólera", cinquenta anos depois, Fernando plantou-se à porta da Céu, ela disse que não mas aceitou reatar a amizade. O resto merece ser transcrito: 

“Casaram a 13 de maio de 2015 pelo civil e a 1 de agosto passaram a morar os dois em Alfarelos, a terra do noivo. O casamento pela igreja fez-se a 7 de novembro, na Igreja de S. Martinho, em Montemor-O-Velho, a terra da noiva. A cerimónia teve guarda de honra dos Bombeiros Voluntários. Mas a felicidade que tardou a chegar para o casal não ficou durante muito tempo e por isso Céu não pôde ajudar Fernando a contar esta história, a história de um amor que venceu passado 50 anos com uma guerra pelo meio e muitas adversidades. ‘Só estivemos juntos um ano e meio, a Céu teve uma pneumonia e como tinha as defesas em baixo não resistiu a uma bactéria hospitalar. Foi um golpe duro depois de tanto lutarmos por este amor’, conta Fernando comovido. Céu, a fininha de voz doce que lhe disse naquele primeiro baile que não sabia dançar, morreu no dia 8 de janeiro de 2016. ‘Céu, eu nunca te vou esquecer’

E com este ponto culminante finda um itinerário que é mar ignoto para as novas gerações, tudo parece inacreditável ter havido mulheres que escreviam a um desconhecido, por sugestão do Movimento Nacional Feminino, dando alento e por vezes lugar a declarações apaixonadas, algumas que chegaram ao altar.

É uma dádiva maravilhosa, a de Marta Martins Silva, pôr estas mulheres esquecidas em cena pela voz das próprias, acabaram por ser protagonistas de uma guerra que seguramente nada lhes dizia, cumpriram o seu dever e até por vezes encontraram amor para toda a vida.

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21619: Notas de leitura (1328): “Socialismo na Guiné-Bissau: problemas e contradições no PAIGC desde a independência”, na Revista Internacional de Estudos Africanos, N.º 1, Janeiro-Junho 1984 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15015: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (21): Esta Europa vai definhar por anemia, implosão e autofagia (Francisco Baptista)

1. No seu bate-estradas do dia 9 de Agosto de 2015, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), fala-nos da nossa velha Europa.

A minha mulher pediu-me para fazer algumas compras num super-mercado próximo. Antes de ir lá decidi passar pela minha amiga Lurdinhas, dona da tasca Badalhoca, a comprar dois tocos de presunto que podem ser bons para cozer e descarnar o bom presunto que têm, como para comer cru. O presunto junto do osso é o mais seco e o melhor.

Depois duma conversa amigável e apimentada, pois a Lurdinhas conforme o tom da conversa tanto pode chamar-me meu grande amigo como outros nomes que na gíria do Porto antigo e popular serão aceitáveis ou não, para isso tem que se pedir aos clientes que tenham olhos e ouvidos sensíveis, pois para além da audição conta muito expressão.

Depois fui ao banco onde uma funcionária simpática me disse que as minhas fracas poupanças depois de terem acabado o depósito a prazo só poderiam ter um juro de 1 por cento ao ano. Chegámos a tal ponto que para termos bancos como os países ricos, vamos ter que pagar a essa corja de ladrões, banqueiros, políticos e associados, que vão à falência mas quem fica na miséria somos nós.

Saí do banco, pouco confortado, mas sem vontade de descarregar a minha raiva sobre uma simples funcionária, a quem não podia imputar responsabilidades e para mais uma senhora, entre os 30 e 40 anos tão simpática e que nem será muito bem paga.

Depois fui ao supermercado fazer as compras. Dirigi-me a uma caixa. À minha frente estava somente uma cliente com bastante compras, na caixa ao lado estava uma jovem senhora africana, de aspecto urbano e delicado, com cerca de vinte cinco anos, que empurrava uma bebé num carrinho. O jovem de serviço da caixa contabilizou os artigos da senhora que somavam 24 euros e pouco. A cliente meteu um cartão multibanco que me pareceu tanto a mim como ao jovem da caixa ela não sabia utilizar muito bem. Depois de algumas tentativas e ensinamentos o "caixa" chegou à conclusão que o cartão não teria dinheiro de saldo. A jovem senhora em face disto, puxou da carteira e deu vinte euros, procurou outros trocos que não encontrou. Como tal começou a retirar artigos, talvez os menos necessários, o primeiro não recordo, sei que o segundo era massa italiana, o terceiro que o rapaz da caixa ia retirar-lhe do saco, não sei se eram batatas, ela não deixou, protege-o até como se do pão da vida se tratasse.

Logo atrás dela estavam três cavalheiros, com cerca de sessenta e tal, setenta anos. O que estava mais próximo começou a olhar para a senhora e para a menina no carrinho, com algum mal-estar patente na sua expressão facial. De repente vi-o tirar uma nota de dez euros da carteira que deu à senhora e dizer ao caixa: Por favor volte a meter tudo no saco. A jovem, muito agradecida, pagou e devolveu-lhe os 5 euros e tal do troco, apesar da insistência dele para que que ficasse com eles.

A seguir reparei que este homem depois de fazer essa dádiva, como quem se liberta de um pesadelo, ficou mais calmo. Reparando melhor eu reconheci o homem como sendo um camarada, ex-furriel que me disse uma tarde escura, sem sol, sem pássaros, com chuva, que tinha estado no norte de Moçambique. Era o camarada que encontrei, no Inverno, à saída de uma churrasqueira onde fui lanchar com três amigos para alegrar um pouco esse dia. Esse camarada com a pele já bastante curtida e engelhada pelo vento, pelo tabaco ou pelas agruras da vida, que me pareceu mais velho do que os anos que contava. Era o mesmo camarada que me tinha dito com tristeza que tinha conhecido e sentido a guerra em Moçambique, enquanto fumava um cigarro à porta do restaurante.

Muitas vezes, aos que por lá andámos, com pouca ou muita guerra, sobra-nos guerra para toda a vida. Uns digerem melhor do que outros as situações fáceis ou difíceis. Uns falam muito dela, outros não dizem nada, outros falam dela mas evitam falar das situações mais dolorosas. Alguns procuram guiar-se através duma memória muitos anos adormecida para trazer à tona essa realidade esquecida e só recordada em pesadelos.

Recordo-me dum cadete em Mafra que na carreira de tiro quando chegava a vez dele não conseguia disparar e punha-se a chorar, porque dizia ele que no alvo via um homem. Não é difícil entendê-lo, não há qualquer premonição nessa visão, afinal nas guerras os homens matam-se uns aos outros. Em Mafra como em tantos quartéis de Portugal estávamos a ser treinados para matar. Muitos perderam a guerra antes de chegarem à Guiné, uns por não acreditarem na vitória, outros por não acreditarem nas razões da luta. Entre eles estavam sobretudo oficiais e sargentos que por serem mais instruídos, tinham mais capacidade e informação, para pôr em dúvida a politica ultramarina do governo da ditadura.

Em Buba dei-me conta que a maioria dos militares do meu pelotão não punham em causa a defesa das colónias e a politica ultramarina do governo. Nesse tempo o atraso politico cultural e educacional em sentido lato era muito grande. Não minto se disser que pelo menos metade dos soldados do meu pelotão fizeram a quarta classe em Buba. Poucas fotografias trouxe da Guiné, na aldeia do interior norte do país onde me criei, os meninos e garotos como eu não tinham direito a fotografias, não havia máquinas nem fotógrafos, já na juventude não lhe senti a falta, não faziam parte da minha cultura que se alimentava mais da palavra escrita, a literatura sempre me fez sentir uma grande emoção estética. Só mais tarde me apercebi que a fotografia pode contar grandes histórias humanas, sociais e naturais.

Eis o meu pelotão da CCac 2616, desarmado, confesso que com armas se sabiam bater como leões, a opção da fotografia sem armas terá sido minha. 

Esta fotografia foi-me amavelmente remetida pelo António Granja, soldado do pelotão. Tenho pena de não ter uma foto semelhante do pelotão da CArt 2732, de Mansabá, onde estive sete meses. Tanto num pelotão como noutro conheci homens solidários e corajosos, a maioria deles, quase todos. Os nossos soldados eram os descendentes iletrados dos nossos marinheiros dos séculos quinze e dezasseis, que guardavam ainda a autenticidade e a bravura dos antigos lusitanos. Nas suas veias corria ainda o sangue duma Pátria milenar e vibravam ainda com a glória duma bandeira desfraldada orgulhosamente por todos os mares e continentes da Terra. A ditadura que lhes garantiu uma existência esfomeada deu-lhes também uma educação escassa, perseverando-os de ambições materiais para lá da alimentação necessária à vida. No seu espírito, imune às diferentes ideologias dum século em conflito, desprovido de ideais, cultivou com êxito o patriotismo e os valores da tradição gloriosa da Pátria.

Por vezes penso que atendendo ao espírito de sacrifício e à coragem dos nossos soldados, se eles tivessem comandantes que os motivassem e os soubessem orientar na arte da guerra, venderiam bem cara a derrota ou o abandono dos territórios ultramarinos, que dadas as circunstâncias adversas da politica internacional, com a conjugação do bloco comunista e capitalista, apostados na descolonização, tornaria muito difícil ou impossível a vitória.

Quando saí do super mercado, vi que a jovem africana tinha outra filha, que tinha ficado a brincar fora, com 5 ou 6 anos e a quem falou em francês. Deduzi, não sei se apressadamente, que seriam naturais do Senegal, da Guiné Conakri ou de outro país francófono africano. A sociedade de consumo é uma sociedade canibal já que tem sempre que andar à procura de recursos e matérias primas que irão empobrecer e matar povos menos desenvolvidos politica, social e tecnologicamente. Quando se fala nos pedidos de perdão dos grandes erros do passado, da Inquisição por parte da Igreja, de alguns povos pelos morticínios que fizeram noutros, era já tempo da Europa inteira indemnizar toda a África pela exploração dos recursos humanos e naturais que fez nos últimos séculos e que continua a fazer através de muitos políticos africanos corruptos, que tal como tantos ocidentais, somente vêem o bem deles, esquecendo o bem comum.

Li ontem um poste, P14985, muito elucidativo, de um nosso camarada que lutou em África, trabalhou em África, percorreu parte dela. Passo a citar um parágrafo dele: "A Europa vai pagar tudo com juros suportando as reclamações dos jovens africanos, pois é apenas a reclamar, aquilo que os africanos estão a fazer em Calais e no Mediterrâneo e em Ceuta. António Rosinha".

A velha Europa que se cuide pois os africanos já provaram tanto no Novo Mundo, como no Mundo Antigo que sabem resistir a todas as guerras e calamidades. Pelos seus conhecimentos, pelas suas vivências, pela sua seriedade, pela sua lucidez, o António Rosinha para mim é, o africanista, o analista político deste blogue, que melhor sabe interpretar a desgraça desses pobres do mundo que vindos do sul tentam atravessar o mar Mediterrâneo, onde muitos encontram a sepultura, quando tentam entrar na Europa, essa terra de promessas e ilusões. Por todas as regiões da Terra para onde se deslocaram ou para onde foram vendidos como escravos, os africanos estão em crescimento. Não se deixaram abater por doenças ou por guerras e morticínios como milhões de índios da América do Sul e do Norte. Os africanos continuam em expansão e os povos guardam por séculos a memória do bem ou do mal que lhes fizerem.

O meu pensamento dispara e divaga pela história antiga e pelo futuro que não é história e a mim parece-me que a Europa será submergida por vagas e vagas de povos africanos e orientais. Os povos demograficamente mais produtivos e menos decadentes, tomarão conta da Europa, tal como os Vândalos, Suevos, Visigodos, Francos, os Iberos e Celtiberos, os Germânicos e outros, tomaram conta do Império Romano do Ocidente no século quinto da nossa era. A Europa de tantas guerras, entre dois povos ou entre várias povos em aliança, uns contra outros, no último milénio foram guerras sem fim, guerras intermináveis, até houve uma guerra dos 100 anos, guerras cruéis e execráveis, piores em selvajaria e desumanidade do que as piores guerras de qualquer continente. Esta Europa que já não pode fazer a guerra, (as bombas nucleares só intimidam, não são para utilizar) para resolver ódios antigos e conflitos nunca resolvidos e para se revitalizar, vai definhar por anemia, implosão, autofagia.

A todos até breve.
Nove de Agosto de 2015, num dia de calor, aqui neste ponto do extremo ocidental da Europa.
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14999: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (20): Recordações "non gratas" da guerra da Guiné Operação Tridente (José Colaço)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14999: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (20): Recordações "non gratas" da guerra da Guiné Operação Tridente (José Colaço)

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 4 de Março de 2015:

Recordações da CCAÇ 557, cinquenta e cinco dias a ração de combate, cerca sessenta dias sem mudar de roupa e banho idem. Se a água era racionada para beber pensem bem no que seria em termos de higiene, excepção à secção que fazia escolta à lancha de reabastecimento de agua e géneros, que aproveitavam a ida a Catió para fazerem um pouco de higiene pessoal "e outras necessidades fisiológicas".

Mas o subsector do Cachil era de facto um mundo à parte, nunca o comandante, Tenente-Coronel Matias ou os seus oficiais, fizeram qualquer chamada de atenção para a apresentação dos militares como alguém lhe chamou "a esquálida e esgroviada" Companhia de Caçadores 557.
Outras estórias há para contar mas fico por estas duas que considero mais dignas de registo.

Abrigo "Cova do Comando" da CCAÇ 557 no Cachil. A começar da esquerda: o 1.º Cabo Enfermeiro Leiria; 1.º Cabo Rádiotelegrafista Joaquim Robalo Dias; Dr. Rogério Leitão, que já partiu; atrás o 1.º Cabo Enfermeiro António Salvador, e por último, de quico, a sair do buraco, eu, Soldado de Transmissões José Colaço. 

As barbas com cerca de 90 dias. Os cabelos já tinham levado um corte para melhor se aguentar o calor. Aquela "divisória" entre o 1.º Cabo Dias e Dr. Rogério, é uma cobra que durante a noite se lembrou de nos assaltar o abrigo e que só de manhã com a luz do dia foi detectada a um canto da cova. Foi condenada à morte pela catana de um milícia. 
 
Foto tirada antes da nossa retirada do Cachil, na saída do aquartelamento para o cais. A partir da esquerda: 1.º Cabo Mecânico Burrica, que também já nos deixou, o tal Cabo que deu lixa de água ao Furriel Santos Oliveira para recuperar o tubo do morteiro 81 danificado por uma granada que ficou encravada na noite de 16/11/1964; segue-se o Condutor Russo (por ser louro); eu, José Colaço, e o 1.º Cabo Operador Cripto Bernardino Lourenço Valadas.

Um abraço
Colaço
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Último poste da série de 12 de Agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14994: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (19): Festa de Ferrel, 2015 - a burricada... Afinal, o que é faz correr o/a burro/a, a cenoura ou o chicote?... E hoje há sardinhada na nova tabanca de Ferrel, organização do régulo Joaquim Jorge, coadjuvado pelo régulo da tabanca de Porto Dinheiro, Eduardo Jorge Ferreira... De Lisboa vem expressamente o João Sacôto (Luís Graça)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14994: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (19): Festa de Ferrel, 2015 - a burricada... Afinal, o que é faz correr o/a burro/a, a cenoura ou o chicote?... E hoje há sardinhada na nova tabanca de Ferrel, organização do régulo Joaquim Jorge, coadjuvado pelo régulo da tabanca de Porto Dinheiro, Eduardo Jorge Ferreira... De Lisboa vem expressamente o João Sacôto (Luís Graça)


Vídeo (1' 09''). Alojado em You Tube > Luís Graça



Foto nº 1 


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Peniche > Freguesia e Vila de Ferrel > Festas 2015 > 8 de agosto > A tradicional burricada na terra de Portugal que já teve mais burros por habitante...  A corrida de burros nas festas de Ferrel é uma tradição com quase meio século, atraindo largas centenas, se não milhares,  de visitantes...

Ferrel é também a terra do nosso novo grã-tabanqueiro, Joaquim Jorge,  que se vai estrear hoje como  régulo da tabanca local... Há uma sardinhada à  espera de 24 bocas... Na organização do evento participa também o régulo da tabanca de Porto Dinheiro, Lourinhã, o Eduardo Jorge Ferreira (, o tal que na outra encarnação se cobriu de glória na batalha do Vimeiro, em 21 de agosto de 1808)...

E de Lisboa vem o João Sacôto, que foi camarada do Joaquim Jorge no BCAÇ 619 (Catió, 1964/66)... Mais uma prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Não se veem há 50 anos...

O meu obrigado ao Joaquim pela hospitalidade e generosidade. As festas de 2015 acabaram na segunda-feira, dia 10, e o Joaquim e a Esmeralda estão a precisar de mudar de ares e de descansar...  Mesmo assim não viraram a cara à nossa sugestão, minha e do Jaime, de juntar a malta numa sardinhada, na sua terra, em pleno mês de agosto...

Obrigado também ao  Eduardo, pela cumplicidade e participação na organização. Obrigado ao Jaime Bonifácio Marques da Silva e ao João Sacôto, dois nossos grã-tabanqueiros, por terem alinhado desde a primeira hora...

Até mais logo, camaradas e amigos, por volta do meio dia...
Marcamos encontro em Ferrel.
LG

Fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados 
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sábado, 8 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14984: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (18): Há festa em Ferrel e nasceu mais uma tabanca, de que será régulo o Joaquim Jorge, ex-alf mil, CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Empada, 1964/66)


Peniche > Ferrel > 5 de agosto de 2015 > Cartaz anunciando as festas (sempre grandiosas e muito concorridas) da vila (e freguesia) de Ferrel, que estão a decorrer entre 5 e 10 de agosto... Hoje, sábado, por volta das 16h, haverá a tradicional "burricada"... em homenagem aos tempos em que os ferralejos eram valentes almocreves, e o burro era um importante meio de trabalho...



Peniche > Ferrel > 5 de agosto de 2015 > Início das festas da vila e freguesai de Ferrel cuja origem (documentada) remonta a 1639... A padroeirta da terra é a Nossa Sra da Guia, tradicionalmente padroeira dos pescadores.


Peniche > Ferrel > 5 de agosto de 2015 > Início das festas da vila e freguesai de Ferrel  
>  Tradicional procissão com a imagem da padroeira, em que participaram diversas associações de ex-combatentes (caso, por ex,,  do Núcleo de Peniche  da Liga dos Combatentes, da AVECO - Associação dos Vetersanos Combatenets do Oeste, com sede ma Lourinhã).


Peniche > Ferrel > 5 de agosto de 2015 > Início das festas da vila e freguesai de Ferrel  
>  Tradicional procissão com a imagem da padroeira, em que participaram diversas associações de ex-combatentes... Do lado direito, de direito, de perfil, óculos e camisola azul, o "régulo da tabanca de Ferrel", o nosso movo grã-tabanqueiro Joaquim Jorge.



Peniche > Ferrel > 5 de agosto de 2015 > Início das festas da vila e freguesai de Ferrel  
>  Tradicional procissão com a imagem da padroeira > A capela local, seiscentista.




Peniche > Ferrel > 5 de agosto de 2015 > Placa. no adro da igreja, evocativa da luta do povo de Ferrel, os ferralejos, contra a tentativa de construção de um central nuclear no pós.25 de abril de 1974, e de que o Joaquim Jorge foi um dos líderes.


Lourinhã > Praia da Areia Branca > 5 de agosto de 2015 >  A Ilha das Berlengas, ao pôr do sol... Vista  á distância de 26 km, depois do regresso de Ferrel.


Lourinhã > Praia da Areia Branca > 5 de agostod e 2015 > Pôr do sol (1)


Lourinhã > Praia da Areia Branca > 5 de agostod e 2015 > Pôr do sol (2)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. O nosso camarada Joaquim da Silva Jorge, ex-alf mil,  CCAÇ 616 (Empada, 1965/66), 1.  já me prometeu, por boca e por escrito, que vai as fotos da praxe para poder integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande...  


Ainda recentemente, a 3 do corrente, me mandou o seguinte mai


Amigo Luís Graça: Antes de mais quero pedir-te desculpa de ainda não te ter enviado a foto e os dados para a minha inscrição. Fá-lo-ei depois do dia dez porque até lá ando envolvido
com as festas de Ferrel.


Este ano o convívio da minha companhia, a CCAÇ 616, foi no passado fim de semana, dia 25 e 26 de Julho, no hotel Pax em Fátima. No sábado a partir das 14h00 começou a chegada da "malta". Às 19h00 na capela do seminário dos Missionários da Consolata foi celebrada a nossa Missa.
Seguiu-se o jantar com uma bacalhauzada bem regada que terminou com a partilha do bolo da Companhia.

Depois, no anfiteatro do Hotel, fizemos um serão bem divertido, com notícias dos companheiros que não  puderam estar presentes, com a organização do convívio do próximo ano [, 2016,] em que comemoramos os 50 anos do nosso regresso e com algumas oportunas intervenções, destacando-se a de um camarada que esteve recentemente em Empada e a de outro que tem uma neta missionária em Empada. 

O domingo de manhã foi ocupado com a continuação do convívio e visita ao Santuário. Seguiu-se o almoço com mais alguns companheiros que não puderem vir no sábado. Por volta das 16h00 começou a debandada para o regresso a casa.
Agradeço que me envies o email do [João] Sacôto, da CCAÇ 617.
Até breve! Um abraço do Joaquim Jorge

2. Comentário de LG:

No passado dia 5, 4ª feir, fui ter com o Joaquim Jorge, "régulo da tabanca de Ferrel"... A terra está em festa, toda esta semana, até 2ª feira, dia 10... Devo dizer vos, camaradas,  que fiquei impressionado com a grandeza dos festejos locais, que superam já as festas de Peniche, sede de concelho...

Há 50 anos Ferrel era uma terra de gente pobre, esquecida e até discriminada... Hoje a vila de Ferrel orgulha-se de estar na lista da frente das terras do concelho, graças ao emigração dos seus filhops e ao desenvolvimento da sua agricultura.

Assisti à procissão, ao fim da tarde, que teve também a participação do núcleo de Peniche da Liga dos Combatentes (LC), bem como da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, entre outras... O Joaquim esteve á frente do núcleo de Peniche da LC durante uns anos...

A coordenação da parte religiosa da festa está a cargo do Joaquim que é um homem muito querido e estimado na sua terra, pela sua generosididade e trabalho feito no campo da acção social e apostólica, da solidariedade, do voluntariado, do desenvolvimento comunitário...

Não deu, desta vez, para eu visitar as instituições locais a cuja história ele está ligado (associação cultural e recreativa, creche, centro de dia, lar de idosos). Além disso, é uma pessoa simples, hospitaleira e excelente conversador... É um regalo ouvi-lo contar histórias da Guiné. Fomos beber um copo com ele, depois da procissão... É, em todos os aspetos, um camarada que nos orgulha a todos, amigo do seu amigo, camarada do seu camarada...

Combinámos, depois do dia 10, fazer uma sardinhada, na nova "tabanca de Ferrel".. Estamos a montar a operação, e já temos data: 4ª feira, dia 12... O João Sacôto virá, de propósito, de Lisboa.  Outros camaradas, aqui do oeste (Louirnhã e Peniche) estarão também presentes... Do meu lado, já arregimentei o Eduardo Jorge Ferreira,  régulo da Tabanca de Porto Dinheiro, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, o Pinto Carvalho...

Como diz o Joaquim, Jorge, recordar é viver e temos que aproveitar bem o tempo que nos sobra (ou resta)  para viver e recordar. Aqui ficam algumas fotos do dia 5, incluindo um magnífico pôr do sol que apanhei no regresso a casa. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14980: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (17): Como leitura de férias, depois de "O Corredor da Morte" de Mário Gaspar, este ano, "Cabra Cega", de João Carrasqueira, pseudónimo de António Marques Lopes (Hélder V. Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de hoje 31 de Julho de 2015:

Caros camaradas
Dando seguimento ao apelo do Luís Graça para que se alimentasse o Blogue, durante as férias, dando até como sugestão que se 'enviasse um postalinho' ou 'aerograma', aqui vai a segunda contribuição.
Como já disse, tive direito a uns "dias de licença" e entre descansar e apanhar sol e água, aproveitei também para me dedicar a colocar algumas leituras em dia.
Conforme se pode comprovar pela foto anexa, para além da 'barriguinha', e do 'bronze de camionista', ressalta que estou a ler a "Cabra Cega" dum tal João Carrasqueira.
Já o ano passado também aproveitei para, nesta mesma ocasião, ler "O Corredor da Morte" do meu "quase conterrâneo" Mário Gaspar.

E pronto, para 'postalinho' já chega!
Abraços
Hélder Sousa

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14967: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (16): O rio que mais me impressionou na Guiné foi o Corubal (Abel Santos, ex-Soldado Atirador da CART 1742)

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14967: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (16): O rio que mais me impressionou na Guiné foi o Corubal (Abel Santos, ex-Soldado Atirador da CART 1742)

1. Em mensagem do dia 27 de Julho de 2015, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), fala-nos do rio que mais o impressionou na Guiné, o Corubal:


Rio Corubal 

O rio que mais me impressionou foi o Corubal na zona do Che-Che, junto à estrada, ou picada, de Nova Lamego para Madina de Boé e Béli, passando por Dara e Canjadude.

Impressionou-me quando pela primeira vez o vi e fiquei apreciando toda aquela quietude, as suas águas límpidas e refrescantes, mas ao mesmo tempo incutindo em mim um certo respeito perante tão misterioso silêncio.

Na zona em que o atravessei, através da célebre jangada de má recordação para o Exército Português, aquando das colunas de reabastecimento aos camaradas de Madina de Boé e Béli, pude apreciá-lo melhor da outra margem, lado de Madina, na extensão até onde os meus olhos alcançavam, ouvindo o chilrear dos pássaros, o murmúrio das suas águas correndo no seu leito até encontrar a foz.

Hoje recordo com alguma nostalgia aquele imponente curso de água que tanto me impressionou.

Junto algumas fotos que são reveladoras da época, em que me cruzei com a majestade do Rio Corubal


O Rio Corubal a preto e branco

 Uma Daimler a banhos no Rio Corubal

Nas margens do Rio Corubal

Texto e fotos: © Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14966: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (15): Aguardente doc Lourinhã, 15 anos, a 150 aéreos num supermercado dos Algarves... Em homenagem à terra do nosso editor LG (Hélder Sousa)

Guiné 63/74 - P14966: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (15): Aguardente doc Lourinhã, 15 anos, a 150 aéreos num supermercado dos Algarves... Em homenagem à terra do nosso editor LG (Hélder Sousa)




Magistra, passe a publicidade,  é uma aguardente doc Lourinhã,  de 15 anos... A foto é do Hélder Sousa.

"Uma das marcas mais emblemáticas da região ], Região Demarcada da Aguardente Vínica de Qualidade com Denominação de Origem Controlada “Lourinhã”] é a Magistra, uma aguardente produzida pelo Esporão em parceria com a Quinta do Rol. Esta aguardente é o resultado da junção das melhores aguardentes vínicas velhas de 1989, 90, 95 e 96, que foram seleccionadas em conjunto pelo enólogo [australiano] David Baverstock  [, do Esporã0] e a equipa da Quinta do Rol. Este lote único permaneceu, posteriormente, em balseiro de madeira até 2008 e não sofreu qualquer alteração, nem através de tratamentos ou filtrações, nem por meio de adição de produtos. Para produzir a Magistra foram seleccionadas uvas de vinhas velhas da Quinta do Rol em que estão presentes as castas Tális (Uniblanc), Malvasia, Boal e Alicante Branco." (Fonte: Shopping Spirit)

"Durante mais de duzentos anos, as casas produtoras dos melhores Vinhos do Porto beneficiaram da Aguardente da Lourinhã para produzir os seus afamados vinhos licorosos. Nos últimos trinta anos com o apoio científico da Estação Vitivinícola Nacional, sediada em Dois Portos [, Torres Vedras,]  foi testada e confirmada a sua superior qualidade, a qual apenas encontra paralelo, a nível europeu nas aguardentes francesas das regiões do Cognac  e do Armagnac." (Fonte:  Adega Cooperativa da Lourinhã)....

"Os mais velhos da terra lembram-se dos tempos em que havia 0uma destilaria em cada esquina' - eram 32 quando se constituiu a Adega Cooperativa, em 1957." (Fonte; Público, 7/3/2010)

1. Mensagem de Hélder Sousa, nosso colaborador permanente,  régulo da Tabanca de Setúbal, ex-fur mil trms TSF (PicheBissau, 1970/72):

Data: 30 de julho de 2015 às 23:55
Assunto: Postalinho de férias..... Aguardente da Lourinhã.

Caros camaradas

Em tempos tenho ideia do Luís ter referido que a "sua Lourinhã" era detentora não só de uma aguardente 'de estalo' como também se orgulhava de possuir estatuto de 'região demarcada'.

Como que a comprovar isso, envio esta foto que consegui num supermercado no Algarve onde, pela módica quantia de 150 Euros, se pode adquirir esta garrafa.

Se conseguirem ler o rótulo lá se diz que "a Lourinhã é uma das três regiões exclusivas e demarcadas de aguardente do mundo, embora menos conhecida que Cognac e Armagnac".

Esta "Magistra" será realmente boa, mas cá para mim, terá o seu preço empolado por ser comercializada pelo "Esporão", do conhecido José Roquete....

Espero que tenham possibilidade de usufruir de dias de descanso que os meus "dias de licença" estão no fim.

Abraços, Hélder Sousa


2. Comentário de LG:

Obrigado, Hélder, por puxares por um dos "pergaminhos" da minha terra... A aguardente doc Lourinhã é um deles, os dinossauros são outro... Os lourinhanenses aindam não sabem muito bem  o que fazer com estes dois produtos de excelência... Falta-lhes o rasgo de génio dos grandes estrategas, com visão global e de futuro...

Essa tal "Magistra" é  luxo demais para um pobre tuga como eu... Nunca me passou pelo estreito... Conheço a XO  da Adega Cooperativa de Lourinhã, que é um dos dois produtores de "Lourinhac"... O outro produtor, imagina, é o Carlos Melo Ribeiro, o "patrão" da Siemens em Portugal, que tem aqui uma quinta, a quinta do Rol, em Ribeira de Palheiros, Miragaia,  Lourinhã... A "Magistra" é dele, uma aguardente de 15 anos, feita em parceria com a Quinta do Esporão, do Roquete... As garrafas da Adega Cooperativa da Lourinhã, essas, andam entre os 35 e os 50 euros... Um dia hei de levar uma para a Tabanca de Setúbal... Ab. Luis
Fonte: Adega Cooperativa da Lourinhã  (Com a devida vénia...)


A criação da  Região Demarcada da Aguardente Vínica de Qualidade com Denominação de Origem Controlada “Lourinhã” remonta a 1992, ano em que viu o seu mérito reconhecido com a publicação do Decreto-Lei nº34/92 de 7 de Março. É a primeira e única região demarcada do país somente para produção de aguardentes, e uma das três regiões no espaço europeu, em posição de igualdade com as célebres aguardentes francesas, Cognac e Armagnac. Em provas cegas, o "Lourinhac" (designação popular, mas não consensual)  não fica atrás dos seus concorrentes, franceses, mais antigos e afamados... Viver aqui artigo do Público.

Para saber mais:

(i) Características da Aguardente Lourinhã;  (ii) Região Demarcada de Aguardente Vínica de Qualidade com Denominação de  Origem Controlada "Lourinhã";
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14965: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (14): Contos da Guiné: Ansumane, o caçador de crocodilos (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

Guiné 63/74 - P14965: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (14): Contos da Guiné: Ansumane, o caçador de crocodilos (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

1. Publicamos hoje o conto "Ansumane, o caçador de crocodilos", enviada, a nosso pedido ao Blogue, pelo camarada Virgínio Briote (ex-Alf Mil da CCAV 489, Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67), em mensagem do dia 28 de Julho de 2015:

Contos da Guiné

Ansumane, o caçador de crocodilos*

A inquietação que sentia contrastava com a calma daquela noite de lua cheia nas margens do rio. Boa noite, patrão, o Braima, camisa a arrastar pelo chão, gorro de lã na cabeça, cachimbo há que tempos nos dentes. Braima Dáfé, pés grandes, seco, resistência incomum, dia a dia a remar a canoa entre as margens, levando a mancarra que os nativos tinham para vender aos comerciantes. Patrão, tem canoa ali na margem, quer passar?


Rio acima, a brisa fresca e mansa a dar-lhes, o chlap chlap do remo, a agitação a dissipar-se, pouco e pouco a vida a ficar para trás até desaparecer, dobrada a curva do rio. E logo ali, entre os tufos das palmeiras, duas árvores despidas, encostadas uma à outra, ramos entrelaçados de tal forma que àquela distância, lhe pareciam duas pessoas abraçadas uma à outra, uma delas com um braço erguido como se pedisse auxílio ao céu. O que é aquilo, Braima? Eh, patrão, aquelas árvores são pessoas! Sim, patrão, há muito tempo.

Nem tinha ainda nascido o avô do meu avô. Quando as mulheres adúlteras eram castigadas com o desprezo, às vezes até com a morte. No tempo em que havia respeito pela honra, não era como agora. Pois nesse tempo, uma bajuda chamada Kadi foi prometida ainda menina ao poderoso Bacar Seidi, um velho rabugento já com oito mulheres.

Kadi a crescer, o coração fraco a palpitar começou a inclinar-se para Ansumane, caçador de crocodilos, o mais famoso da região. Ansumane correspondia, queria mesmo casar com ela, mas o pai já a tinha prometido a outro, mais dotado que o caçador, a coragem como único dote. Olhavam-se com aqueles olhos que toda a tabanca via, nos batuques Kadi a dançar, seios para cima e para baixo, as ancas fartas, os olhos de Ansumane. Ele bem gostava de satisfazer o seu corpo, ela de casar com ele, ai dela, tinha que cumprir a palavra de seu pai, casar com Bacar Seidi.

Passaram tempos, muitos mesmo até que um dia, com grande desgosto de Ansumane, Kadi foi entregue a Bacar Seidi, e outras luas passaram. Ansumane sem conseguir desviar-se para outra, rodeava a morança, procurava nem que fosse só vê-la, os dias a passarem-se, ele sempre a magicar como a havia de convencer a ser dele, a vontade de caçar crocodilos a passar. O homem dela, conhecedor da amizade que os unia, vigiava as redondezas, nunca se sabe. Até que um dia as febres tomaram conta de Bacar Seidi. Ansumane, na sua ronda nocturna como era costume, viu a adorada Kadi, ao ar fresco da noite na varanda. Kadi, como um assobio baixo, ela a correr, o impulso do coração mais forte que o chamamento dele, para os braços do amado. Tens que ser minha, não posso Ansumane, eu sou do Bacar, ele é o homem a quem Alá me entregou! Mas ele é velho e tu não gostas dele, tu gostas de mim, eu sei! É verdade, Ansumane, mas ele é o meu homem e eu a sua mulher, Ansumane a apertá-la mais contra o seu peito, mãos nervosas nos redondos de Kadi, aquele corpo jovem, ela a estremecer, um delírio, ele a insistir Kadi, vem comigo, fujamos, tenho a canoa na margem, se atravessarmos pela bolanha depressa chegamos! Vamos Kadi, para um lugar que ninguém nos conheça, onde o teu homem nunca nos alcance. Kadi mesmo junto ao coração dele, a tentação mais forte, o corpo a palpitar, Ansumane sim, é um homem jovem, viçoso, meu homem é velho.

Mão na mão, a passos largos na estreita vereda, a serpentear pelas palhotas, a bolanha, a seguir a margem do rio. Junto à sebe da purgueira, o sussurrar da brisa agitou as ramagens do arbusto. Não contavam, estremeceram, abraçaram-se como se estivessem mais protegidos. Acharam que não podiam esperar mais. E no silêncio da noite, deram-se um ao outro, as estrelas a brilharem como testemunhas. Ficaram esquecidos, a onda de loucura passara, Kadi em si, o erro agora sem remédio, não podia voltar para o seu homem, tinha mesmo que fugir com Ansumane. Vamos depressa antes que Bacar dê pela minha falta, vamos.

Na morança, Bacar há muito que despertara a arder em febres, se tomasse um chá de buco talvez ficasse melhor, diria a Kadi que lho preparasse. Kadi, Kadi, a voz dele a voltar para trás. Ergueu-se um pouco para ver a esteira de Kadi, devia estar a repousar, não a viu, Kadi, outra e outra vez, o eco sem resposta. Onde estaria Kadi a esta hora que ninguém está fora das moranças, obra de Ansumane, seria? A cólera deu-lhe forças, levantou-se, a espada de gume curto na mão enrugada, correu para o rio, o que as pernas deixavam, um pressentimento estranho.

Não queria acreditar, as febres, Kadi mão na mão de Ansumane a caminho do rio a dois passos. Não conseguindo alcançá-los, Kadiii, um grito áspero de gelar a chegar até eles. Estacaram, tolhidos sem poder mexer-se! Que Alá os livrasse da vingança no fio da espada, tão cortante como a voz que os fizera deter, incapazes de mais um passo que fosse! Morrer! Não, ela não queria morrer às mãos de Bacar, os braços a rodear o corpo forte de Ansumane, mais protegida da fúria de Bacar. Morrer! Não, ele não queria, nem a morte de Kadi que agora mais que nunca era sua. E erguendo-se para o céu pediu a Alá que os protegesse.

A prece foi ouvida. Quando Bacar já a curta distância, a espada no ar prestes a abater-se sobre as cabeças, Alá livrou-os da morte, transformou-os em árvores! Foi assim que um pedaço de pau encontrou a espada de Bacar! Dizem que hoje, tantas luas passadas, em noites de tempestade ainda escorrem gotas de sangue daquele lanho já seco pelos tempos!

Quando Braima acabou a história, fixou melhor as estranhas árvores, a ver se via nelas a infeliz história de Ansumane, o caçador de crocodilos, a fantasia das palavras de Braima ainda no ar. O silêncio daquela noite brilhante foi subitamente quebrado por um uivo, sinistro de um cão. Braima respondeu com um prolongado eh! eeeeh! E estalou repetidamente com a língua… Quando os cães uivam é sinal que algum mal está para acontecer! Vamos embora, patrão, é melhor! Duas remadas fundas viraram a canoa em direcção à vida.

Uma lenda que ouvi lá.

VB
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Notas do editor

(*) Este conto havia já sido publicado, na I Série do nosso Blogue, em 17 de Outubro de 2005 no poste > Guiné 63/74 - P223: Tabanca Grande: Virgínio Briote (ex-Alf Mil Comando, Cuntima e Brá, 1965/67) e a história de Ansumane, caçador de crocodilhos (conto tradicional)

Último poste da série de 1 de Agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14957: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (13): O meu amigo e camarada Joaquim Jorge, da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Empada, 1964/66), que vive hoje em Ferrel, Peniche, e que eu não vejo há 50 anos (João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)

sábado, 1 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14957: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (13): O meu amigo e camarada Joaquim Jorge, da CCAÇ 616 / BCAÇ 619 (Empada, 1964/66), que vive hoje em Ferrel, Peniche, e que eu não vejo há 50 anos (João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)


Foto nº 1

Foto nº 2


Fotos: © João Sacôto (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Mensagem,  com data de 15 de julho último, do João Sacôto, ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66): 


Luís, lembro-me muito bem do Joaquim Jorge. 

Se o vires e já que é teu amigo e vizinho, ai do oeste (Lourinhã / Peniche), dá-lhe o meu endereço de email. Ficámos amigos mas há cinquenta anos que não nos vemos.



 Envio-te duas fotografias em que ele está:

(i) Luís, estes são alguns dos, ainda aspirantes, do Batalhão de Caçadores 619 , poucos dias antes do embarque para a Guiné (Foto nº 1): o  1º. da esquerda, sou eu, da CCaç 617; o 6º. é o médico da CCaç 617, Folhadela de Oliveira, o 7º. é o Montes, da CCaç 618 , o 8º. é o Joaquim da Silva Jorge, da CCaç 616;

(ii) na foto nº 2, já em Bissau, em janeiro de 1964, alguns oficiais do BCAÇ 619:  o 2º. sou eu e o 3º. é o Joaquim Jorge. 

Abraço, Sacôto.



Leiria > Monte Real  > Palace Hotel Monte Real > IX Encontro Nacional da Tabanca Grande >  14 de junho de 2014 > O Joaquim da Silva Jorge e a esposa Esmeralda, que residem em Ferrel, Peniche... Garantiu-me que ia mandar as fotos da praxe para poder integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande... o que até agora ainda não fez, certamente por lapso. A sua companhia,a  CCAÇ 616,  reune-se anualmente em Fátima.

É "velhinho" na guerra (ex-alf mil, CCAÇ 616, Empada, 1964/66, companhia que também comandou) e "pira" em Monte Real... Foi em Empada que a guerra começou, não foi em Tite... Estivemos a falar de episódios, ainda mal conhecidos e pior esclarecidos,  desses tempos e lugares... A CCAÇ 616 foi substituir malta açoriana.  

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]

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Nota do editor:

Último poste de 30 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14947: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (12): Há festa na aldeia!...O Grupo de Bombos do Grilo, Baião, na Tabanca de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses