Mostrar mensagens com a etiqueta Sinchã Queuto. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sinchã Queuto. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 27 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11322: Memória dos lugares (228): O enigma de Sinchã Queuto, no setor de Paunca (Abílio Duarte, CART 2479/CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Mapa de Paunca (1957) (Escala 1/50 mil) > Detalhes: posição relativa de Paunca, Paiama, Sinchã Abdulai e Guiro Iero Bocari, junto à fronteira co0m o Senegal. Há inúmeras tabancas começadas por Sinchã...mas não localiza Sinchã Queuto (LG).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



1. Pergunta do editor ao  Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*)

Tenho dúvidas sobre a localização de Sinchã Queuto. Tenho que confirmar com o António Baldé. Se bem me lembro, ele disse-me que era "a seguir a Paunca, não longe de Paima, em direção à fronteira com o Senegal"...

A única Sinchã Queuto que eu encontro, através dos mapas, é a norte de Bafatá e a sul de Contuboel, longe dos sítios por onde a CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca)... Vou pedir ao Abílio Duarte para me esclarecer esta dúvida. E se chegou conhecer o alferes Matos, que é de Ovar. Esse Matos, da CART 11, esteve destacado em Sinchã Queuto com o António Baldé.

2. Resposta do Abílio Duarte, com data de ontem:

Em resposta ás tuas questões, tenho a informar o seguinte:

(i) Vim embora de Paunca em 20.12.70, e embarquei para Lisboa no Avião TAP em 22.12.70;

(ii) Até aquela data penso que nenhum alferes ainda tinha sido rendido; portanto não conheci o
Alf Matos,  que referes;

(iii) Não me recordo do António Baldé [, 1º cabo da CART 11, 1970/71];

(iv) Enquanto estive na Zona de Paunca, conforme confirmei na História da Companhia,  nunca estivemos naquela tabanca [, Sinchã Queuto];

(v) Estavamos em quadricula, e além de Paunca, estavamos também em Paiama, Guiro Iero Bocari e Sinchã Abdulai;

(vi) Naqueles tempos parece-me que as tabancas tinham mais de um nome e, pela situação que referes, ser a norte de Paunca penso,  que poderá ser Guiro Iero Bocari, que por acaso também não aparece no meu Mapa.

Sempre à tua disposição, um grande abraço
Abílio Duarte
_________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 25 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11310: Memória dos lugares (227): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Parte II)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11312: Tabanca Grande (391): António Baldé, fula, natural de Contuboel, português, apicultor, pai do Umaro e da Alicinha, ex-1º cabo, CIM, Bolama (1966/69), Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71), grã-tabanqueiro nº 610

1. António Baldé, fula, nasceu em Contuboel em 1944.  [Foto à esquerda, Alfragide, 27/7/2012]

Foi educado, até aos 12 anos, pelo chefe de posto local, o português José Pereira da Silva, ainda hoje vivo (.Mora em Oeiras, é vizinho da decana do nosso blogue, a dra. Clara Schwarz, mãe do nosso amigo Pepito). 

Fez a 4ª classe e isso abriu-lhe outras portas que outros miúdos da sua tabanca não puderam abrir. Lembra-se bem da serração do Albano, que ainda existia no meu tempo (junho/julho de 1969, quando Contuboel foi Centro de Instrução Militar, donde saíram, de entre outras, as futuras CCAÇ 11 e 12).

Em 1966, foi chamado para a tropa. Fez a recruta e a especialidade no CIM de Bolama. Ficou lá dois anos. Promovido a 1º cabo, de artilharia, foi instrutor. Lá se formaram diversos Pel Caç Nat. Em 1969 é transferido para o Pel Caç Nat 56, sediado em S. João, frente a Bolama.

Em 1969 casou-se. Será o primeiro de quatro casamentos. Teve ou tem 15 filhos, o último dos quais a Alicinha do Cantanhez, filha da nalu Cadi Indjai (1985-2013).

Desse tempo, e do tempo do Pel Caç Nat 56 e 67, lembra-se com saudade dos furriéis Gil e Nuno, que gostaria de voltar a encontrar. Não faz ideia do seu paradeiro. Em São João esteve em 1969/70. Será depois transferido para a CART 11, que estava em Paunca. Esteve por lá em 1970/71. O comandante do seu pelotão era o alf mil Matos, que é de Ovar, e com quem ainda hoje convive e fala ao telefone. Já foi a um (ou mais) dos convívios da companhia. Esteve no destacamento de Sinchã Queuto ], que eu só localizo a norte de Bafatá, ea sul de Contuboel, no mapa de Bafatá].

Saiu da tropa em finais de 1970 ou princípios de 1971. A mulher tinha ficado em Bolama. Assistiu depois à independência. Não tem boas memórias de Bambadinca desse tempo. Também não teve quaisquer problemas com os novos senhores da Guiné-Bissau. Ainda antes da independência tinha começado a trabalhar nos serviços agrícolas da província. Fez formação em floricultura, se não me engano. Foi ele e outros estagiários quem fez o jardim do Bairro da Ajuda, em Bissau, no tempo do administrador Guerra Ribeiro. Depois da independência começou a trabalhar com o engº agr Carlos Scwharz, no DEPA, na região de Tombali. Tem uma grande admiração pelo Pepito e pelo trabalho dele em prol do desenvolvimento da sua terra.

No princípio deste século, veio a Portugal fazer um curso de apicultura, que é hoje a sua grande paixão. Acabou por ficar. Trabalhou como segurança numa empresa de construção, no concelho de Cascais. Entretanto, obteve a nacionalidade portuguesa. Tem um filho, de 13 anos, o Umaro Baldé, que vive com ele e que está a frequentar o 7º ano de escolaridade obrigatória, em Alfragide, e que ser informático.

De momento está desempregado. O seu sonho é voltar a Caboxanque onde tem casa, junto ao rio Cumbijã,  e desenvolver o seu projeto de apicultura no Cantanhez. Mas tem dois filhos pequenos para criar. Muçulmano, vai todas as sextas feiras à mesquita de Lisboa. É um bom crente. É uma homem afável, conhece meio mundo, e pediu-me para ingressar na Tabanca Grande. Está interessado sobretudo em partilhar os seus conhecimentos e a sua paixão como apicultor.


2. Comentário de L.G.:

[Foto à direita: Luís Graça e António Baldé, Alfragide, 27/7/2012]

Conheci o António Baldé, o verão passado, através da Alice Carneiro, minha mulher e nossa grã-tabanqueiro. Na altura escrevi o seguinte, em comentário ao poste P10213:

"A Alice, minha mulher, e nossa grã-tabanqueira, tem uma "afilhada" nalu, a Alicinha do Cantanhez. Aliás, temos. Assumo o meu papel de "padrinho". É amorosa, a filha da Cadi, que ela conheceu no sul da Guiné, em março de 2008. A Cadi é uma rapariga linda, um torrão de açúcar. Já teve um filho que lhe morreu, de paludismo, aos 4 meses. O Nuninho. Escrevi-lhe um poema. Era afilhado da Júlio e do Nunio Rubim.

[[Foto à esquerda: António Baldé e Alice Carneiro, Alfragide, 27/7/2012]

"A Alicinha tem sobrevivido. Conheci há dias o pai, António Baldé, fula, e nosso antigo camarada. Fez a tropa na CCAÇ 11, em Paunca. É natural de Contuboel. Tem 67 anos. Só conhece a filha de fotografia e vídeo. É um pai babado. Vive em Portugal há cerca de 10 anos. Somos nós que lhe damos notícias da mãe e da filha. Tem casa em Caboxanque na margem esquerda do Rio Cumbijã. Um dia prometo ir lá passar umas férias. É apicultor, e quer votar à sua terra. Espantoso, como o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Ele vivia na zona de Cascais, onde era segurança. A empresa fechou, o Baldé está no desemprego. Um advogado, seu amigo, arranjou-lhe casa em Alfragide. Somos, pois, vizinhos de 'tabanca'. Vou vê-lo mais vezes. Só há dias é que o conhecemos. Um homem tranquilo e sábio, que trabalhou com o Pepito muitos anos em projetos agrícolas. Foi assim que esse foi parar ao sul.

"Ajudou-nos agora a fazer sumos com os frutos secos que a Cadi nos mandou, através do nosso amigo Pepito: veludo, cabaceira, alfarroba... Os sumos são uma delícia... Mãe e filha estiveram muito doentes, no princípio do ano. Valeu-lhes a ajuda dos nossos amigos Pepito, Zé Teixeira e Tiago Teixeira a quem deixamos aqui a manifestação pública do nosso agradecimento. Muito em particular, ao Dr. Tiago Teixeira, que tem uma relação especial com o hospital de Cumura, gerido pelos franciscanos. (...)"

Este fim de semana o António Baldé veio cá casa, com o filho,  almoçar. (O Umaro está com o pai desde os 6 anos.) Conversámos longamente. O seu sonho é poder legalizar os papéis do seu casamento (tradicional) com a Cadi e trazer para Portugal a sua filhota, a Alicinha, de 3 anos, agora órfã de mãe.  Não é fácil,  quando se está longe e é preciso vencer uma dupla barreira burocrática, a do seu  país de origem (a Guiné-Bissau) e a do seu país de adoção (Portugal).

Pois, bem, António, passas a ser o grã-tabanqueiro (quer dizer,  membro da nossa Tabanca Grande) nº 610. Vais ter oportunidade de me contar mais histórias o teu tempo de Guiné e de tropa. Espero que Alá te ajude a concretizar os teus sonhos, de pai e de apicultor. Da nossa parte, já sabes, tens aqui uma Tabanca Grande, cheia de amigos e camaradas... Sê bem vindo!
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11249: Tabanca Grande (390): Ismael Augusto (ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), novo grã-tabanqueiro, nº 609