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Nota do editor
Último post da série de 27 de junho de 2024 >Guiné 61/74 - P25648: Parabéns a você (2281): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS / BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quarta-feira, 19 de junho de 2024
segunda-feira, 19 de junho de 2023
Guiné 61/74 - P24412: Parabéns a você (2180): Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 /BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68) e Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726 (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72)
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24404: Parabéns a você (2179): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CCS / BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)
Nota do editor
Último poste da série de 17 de Junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24404: Parabéns a você (2179): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CCS / BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)
domingo, 28 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23563: Camaradas, referidos no blogue, que estiveram em (ou passaram por) Bedanda, na 4ª CCAÇ (1961/66) e CCAÇ 6 (1967/74)
Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > Reabastecimento do aquartelamento e povoação através do Nordatlas e do lançamento de géneros por paraquedas, durante a época das chuvas. Fotos do Álbum de Amaral Bernardo, ex-alf mil médico, CCS / BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72)... Esteve em 1971 em Bedanda, onde foi rendido em Dezembro de 1971 pelo Mário Bravo.
(...) "Estive em Bedanda, durante 13 meses, sob o comando do capitão de cavalaria Ayala Botto [, CCAÇ 6]. Um grande comandante, um verdadeiro oficial de cavalaria... que nos derretia com mimos: ovos liofilizados e outras delícias, que vinham de Lisboa, de uma fábrica da família...
"Estive primeiro em Cacine, que era deslumbrante... Percorri todo o sul, acabando em Bolama, depois de passar por Bedanda, Gadamael, Guileje, Tite... A CÇAÇ 6 tinha fulas e um pelotão de balantas... Em Bedanda, os tipos do PAIGC apareciam nas minhas consultas, nas calmas, disfarçados com a população...
"Bedanda, no tempo das chuvas, era inacessível por terra, transformava-se numa ilha. Ficava entre dois rios, o Cumbijã, a oeste e o seu afluente, o Ungariol, a leste e a norte... Era abasteciada pelos fuzileiros e pela força aérea...
"Em 2005 falei com o Nino sobre os ataques a Bedanda, quando ele era o comandante da região sul... Havia malta na tabanca que lhe fazia sinais de luz (com uma lanterna) para orientação do tiro... À terceira, eles acertavam todas...
"Os melhores abrigos, à prova do 120, eram os de Guileje... Mas o Spínola proibiu a construção de mais bunkers, queria que o pessoal fosse todo para as valas... Foram tempos muitos duros, tive uma [grande] actividade como médico... e eu próprio cheguei a desejar secretamente ser ferido para poder ser evacuado dali" (...) (Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande, desde Fevereiro de 2007; poste P7802).
"Estive primeiro em Cacine, que era deslumbrante... Percorri todo o sul, acabando em Bolama, depois de passar por Bedanda, Gadamael, Guileje, Tite... A CÇAÇ 6 tinha fulas e um pelotão de balantas... Em Bedanda, os tipos do PAIGC apareciam nas minhas consultas, nas calmas, disfarçados com a população...
"Bedanda, no tempo das chuvas, era inacessível por terra, transformava-se numa ilha. Ficava entre dois rios, o Cumbijã, a oeste e o seu afluente, o Ungariol, a leste e a norte... Era abasteciada pelos fuzileiros e pela força aérea...
"Em 2005 falei com o Nino sobre os ataques a Bedanda, quando ele era o comandante da região sul... Havia malta na tabanca que lhe fazia sinais de luz (com uma lanterna) para orientação do tiro... À terceira, eles acertavam todas...
"Os melhores abrigos, à prova do 120, eram os de Guileje... Mas o Spínola proibiu a construção de mais bunkers, queria que o pessoal fosse todo para as valas... Foram tempos muitos duros, tive uma [grande] actividade como médico... e eu próprio cheguei a desejar secretamente ser ferido para poder ser evacuado dali" (...) (Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande, desde Fevereiro de 2007; poste P7802).
Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 135/199 > O temível obus 14... mais um elemento da guarnição africana do Pel Art, que dependia da BAC 1 (Bissau).
Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 127/199 > Invólucros de munições deixadas em anteriores ataques do IN ao aquartelamento.
Escreveu o João Martins no poste P9947: (...) Terminada a instrução que fui dar ao BAC [Bateria de Artilharia de Campanha, nº 1], em Bissau, fui colocado em Bedanda onde já se encontrava um pelotão com três obuses 14 cm.
Tive que fazer novamente as malas e apanhar uma aviioneta Dornier [DO 27] que, passando por Catió onde tirei algumas fotografias que já não sei identificar, acabou por aterrar em Bedanda. Sem dúvida um dos locais da Guiné que me deixou mais saudades.
Fazia a sua defesa a Companhia de Caçadores 6, do recrutamento da Província, um pelotão de milícia, e o pelotão de artilharia. A população era particularmente simpática e notava-se que tinha tido muito contacto com portugueses da metrópole. Aliás, a casa colonial existente, a do chefe de posto, era imponente.
Tive que fazer novamente as malas e apanhar uma aviioneta Dornier [DO 27] que, passando por Catió onde tirei algumas fotografias que já não sei identificar, acabou por aterrar em Bedanda. Sem dúvida um dos locais da Guiné que me deixou mais saudades.
Fazia a sua defesa a Companhia de Caçadores 6, do recrutamento da Província, um pelotão de milícia, e o pelotão de artilharia. A população era particularmente simpática e notava-se que tinha tido muito contacto com portugueses da metrópole. Aliás, a casa colonial existente, a do chefe de posto, era imponente.
Bedanda fica numa colina bastante elevada, atendendo aos padrões de altitude que normalmente se encontram na Guiné. Não sendo uma fortificação inexpugnável, não oferecia quaisquer vantagens ao inimigo que se colocaría sempre numa cota inferior. Por isso, os ataques eram pouco frequentes o que nos permitia respirar…
Atendendo ao “clima” relativamente ameno que se fazia, visitava com muita frequência a tabanca e cheguei mesmo a ir à pesca e a tomar banho no rio Ungariol, afluente do rio Cumbijã, na esperança de não me tornar um isco para os jacarés. (...)
Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto B113
Foto B117
Fotos (e legendas): © António Teixeira (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Lista, por ordem alfabética (e não exaustiva), dos "bedandenses", referidos no nosso blogue (e em geral, membros da Tabanca Grande), ex-combatentes que estiveram em (ou passaram por) Bedanda, na maior parte dos casos integrando a 4ª CCAÇ (1961/66) ou a CCAÇ 6 (1967/74). É pena que não haja nenhum dos camaradas do recrutamento local.
- Amaral Bernardo, ex-alf mil médico, CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), esteve na CCAÇ 2726, uma companhia independente, açoriana, que guarneceu Cacine (1970/72); passou também cerca de um ano (1971) em Bedanda (CCAÇ 6); tem cerca de meia centena de referências no blogue;
- António Teixeira, "Tony" (1948-2013), ex-alf mil, CCAÇ 3459/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 6, Bedanda (1971/73);António Henriques Campos Teixeira, nascido em 21/6/1948, falecido em 25/11/2013); era professor de educação física, reformado; vivi ame Espinho; tem mais de meia centenas de referências no blogue.
- Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, cmdt, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, julho 1965/julho 1967), hoje ten gen ref, autor de (sob o pseudónimo Manduel Andrezo) " Panteras à Solta! (ed. autor, c. 2020, 447 pp.;
- Artur José (Miranda) Ferreira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 6, Bedanda, 1968/70;
- Belmiro da Silva Pereira (1946-2022) ex-alf mil, CCAÇ 6, Bedanda (1969/71); , natural de Peniche, era médico reformado; tem 4 referências no blogue;
- Carlos (Pinto) Azevedo, ex-1º cabo, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72); contemporâneo do Fernando Sousa e do Dr. Amaral Bernardo; "tive dois Capitães na Companhia em Bedanda, o Sr. Capitão Carlos Ayala Botto e o Sr. Capitão Gastão Silva, dois Homens com um H Grande";
- Carlos Ayala Botto, ex-cap cav, cmdt, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72), ajudante de campo do General Spínola, hoje cor cav ref; "Soube do seu blogue e aqui estou a apresentar-me: Carlos Ayala Botto, estive na Guiné entre 1970 e 1973 e actualmente sou Coronel na Reforma. Na altura era capitão de Cavalaria mas mesmo assim fui nomeado Cmdt da CCAÇ 6 em Bedanda onde estive cerca de 20 meses." (Poste P1407);
- Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º cabo, CCAÇ 6, Bedanda (1970/71); DFA, autor
autor de "Quatro Rios e um Destino” (Chiado Editora, 2014); tem 30 referências no blogue; - Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil, CCAÇ 1621 (Cufar) e CCAÇ 6 (Bedanda) (Novembro de 1966 / novembro de 1968); tem 60 referências no blogue;
- João Martins, ex-alf mil art, Pel Art / BAC1 (Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69); tem mais de 60 referências no blogue:
- Joaquim Pinto Carvalho, ex-alf mil, CCAÇ 3398 (Buba, 1971/72) e CCAÇ 6, Onças Negras (Bedanda, 1972/73); foi redator-coordenador do jornal de caserna "O Seis do Cantanhez", criado e dirigido pelo Cap Gastão e Silva, cmdt da CCAÇ 6, tendo entre outros membros da redação, o saudoso alf mil António Teixeira , "Tony"(1948-2013); natiual do Cadaval, é advogado, e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã; tem 60 referências no blogue:
- Jorge Freire, ex-cap inf, CCaç 153, e 4ª CCaç, Bissau, Gabu, Bedanda, 1961/63); vive nos EUA, tem cerca de 20 referências no blogue, onde é conhecido como George Freire; nome completo, Renato Jorge Cardoso Matias Freire;
- Jorge Zacarias Rodrigues da Rocha, 2ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Jugudul (1972/74); engenheiro técnico civil na REFER-EP, esteve em Bedanda entre junho e setembro de 1974; presumimos que foisse alf ou fur mil:
- José (Conde) Figueiral, ex-alf mil, CCÇ 6, Bedanda (1970/72);tem 10 referências no blogue;
- José Vermelho, ex-fur mil, CCAÇ 3520, Cacine, CCAÇ 6, Bedanda, e CIM Bolama (1971/73); tem 8 referências no blogue;
- Manuel Mendes, ex-sold. CCAÇ 728 (Catió, Cachil, Bedanda e Bissau, 1964/66); conhecido como o "Lisboa", era o "soldado 29", do 3º pelotão;
- Mário Silva Bravo, ex-alf mil médico, CCAÇ 6, Bedanda, e HM 241, Bissau (1971/72); O Mário Bravo, ortopedista reformado, tem 55 referências no blogue;
- Mário (José Lopes) de Azevedo, ex-fur mil art, Pel Art, CCAÇ 6, Bedanda (1970/72); tem um dezena de referências no blogue;
- Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda e Bolama (1963/65); tem mais de 3 dezenas de referências no blogue;
- Tibério Borges, ex-alf mil inf MA, CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda (1970/72); tem 10 referências no blogue; sobre Bedanda escreveu: "Em Bedanda a companhia era de africanos com excepção da maioria dos graduados. Fui encontrar, imaginem, o Zé Cavaco, que é meu conterrâneo. O mundo é pequeno. Apenas fui tapar um buraco durante um mês. Alguém que foi de férias ou que chegou ao fim da comissão. Quem sabe se doente! Pode ser que um dia saiba mais coisas através do Zeca. Sei que o Comandante era o Capitão Ayala Boto. Nesta unidade havia um padre."(Poste P15059);
- Vasco Santos, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 6, Bedanda (1972/73); tem 38 referências no blogue; foi, com o Hugo Moura Ferreira, o organizador do 4º encontr0 dos bedandenses (Mealhada, 2014); nome completo: Vasco David de Sousa Santos.
- Lassana Jaló (ferido em combate e a viver em Portugal);
- Gualdino José da Silva (ex-fur mil, de 1967/69);
- João António Carapau (que foi alf mil médico em 1967/68, hoje conceituado pediatra, reformado do Hospital da Estefânia, vivendo na Portela);
- Renato Vieira de Sousa (ex-cap inf, cmdt, 1967/68, hoje cor inf ref, vivendo em Lisboa);
- Victor Luz (fur mil, 1967/68);
- Eduardo Cesário Rodrigues (de alcunha, "Salazar") (ex-alf mil, 1967/68);
- Aníbal Magalhães Marques (1972/74);
- Amadeu M. Rodrigues Pinho (ex-alf mil, 1967/68);
- António Rodrigues (O Capitão do Estandarte: o último Alferes / Capitão, fiel depositário do estandarte e da Cruz de Guerra da CCÇ 6);
- Carlos Nuno Carronda Rodrigues (ex-alf mil, hoje cor 'comandpo' ref; membro da Magnífica Tabanca da Linha)
- e outros... Ver lista dos inscritos e dos participantes no encontro de Peniche em 2013 (Poste P12109).
domingo, 19 de junho de 2022
Guiné 61/74 - P23365: Parabéns a você (2076): Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726 (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72)
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23358: Parabéns a você (2075): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)
Nota do editor
Último poste da série de 17 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23358: Parabéns a você (2075): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)
sexta-feira, 24 de dezembro de 2021
Guiné 61/74 - P22837: O meu sapatinho de Natal (18): Boas festas 2022: Patrício Ribeiro (Grupo de Bijagós com as suas tradições, Bubaque); Hélder Valério de Sousa; Tibério Borges; José Barros Rocha
Grupo de Bijagós, com as suas tradições, na Casa do Ambiente de Bubaque.
Cartão de boas festas enviado em 23/12/2021, 16:45.
Patrício Ribeiro
Impar Lda, Bissau
Há mais de 30 anos na Guiné-Bissau
impar_bissau@hotmail.com
https://www.imparenergia.com/
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Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72:
Meus caros e estimados Amigosbr > Desta vez não vos vou incomodar com as minhas evocações de recordações menos boas.
Escrevo, apenas e só, para formular os desejos de que, na medida do possível, tenham umas "Festas Felizes" e que o Novo Ano, que se avizinha, nos possa trazer a esperança de que se consiga viver estes tempos de vida que nos restam (sim, cada dia que passa estamos mais próximos da "partida") com a alegria dos nossos convívios, pois através deles revivemos e vivemos os tempos de juventude e que ajudaram a cimentar as nossas amizades.
Como uma "família", que também somos, temos os nossos períodos de harmonia, as nossas zangas, tal como nas famílias de sangue, mas temos o dever de valorizar o que é bom e ultrapassar o que pode ser incómodo, sempre, mas sempre, no respeito pelas opiniões e pontos de vista "dos outros".
Assim nos saibamos comportar.
Boas Festas
Abraços
Hélder Sousa
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Mensagem deixada no Formulário de Contacto do Blogger pelo nosso camarada Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72:
A toda a equipa deste Blogue, votos de Boas Festas de Feliz Natal e para que o ano que se aproxima venha com muita saúde.
Um abraço para todos
Cumprimentos,
Tibério Borges
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Mensagem deixada no Formulário de Contacto do Blogger pelo nosso camarada José Barros Rocha, ex-Alf Mil da CART 2410 - Os Dráculas, Guileje e Gadamael, 1968/70:
Aos Caríssimos Editores do Blogue (Luís Graça, Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro e Jorge Araújo), bem como a todos os Membros da Tabanca GRANDE:
Votos de um Feliz Natal - com muita saúde ! - e que o próximo ano nos permita o Reencontro.
A todos um grande Abraço de camaradagem e Amizade!
Cumprimentos,
José Rocha
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Nota do editor
Último poste da série > 23 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22834: O meu sapatinho de Natal (17): O meu Natal no mato em 1966 (José António Viegas, ex-Fur Mil)
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Guiné 63/74 - P15059: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (7): Bedanda
1. Parte VII de "3 anos nas Forças Armadas", série do nosso camarada Tibério Borges (ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72).
3 anos nas Forças Armadas (7)
Bedanda
Em Bedanda a companhia era de africanos com excepção da maioria dos graduados. Fui encontrar, imaginem, o Zé Cavaco que é meu conterrâneo. O mundo é pequeno. Apenas fui tapar um buraco durante um mês. Alguém que foi de férias ou que chegou ao fim da comissão. Quem sabe se doente! Pode ser que um dia saiba mais coisas através do Zeca. Sei que o Comandante era o Capitão Ayala Boto. Nesta unidade havia um padre.
Bedanda era um lugar onde os ataques se davam. Num dia de trovoada precisamente no momento do estalar do primeiro trovão sofremos um ataque ao arame. Nas férias antes de vir para este aquartelamento adquiri um gravador de bobines com muita música gravada em casa dos meus amigos Marino Lemos e Maria Teves e estávamos a ouvir boa música clássica quando esse ataque se deu.
Ficamos hesitantes uma fracção de segundo sem saber se era a guerra ou se era trovoada. Mas eram as duas coisas ao mesmo tempo. Larga pés para que vos quero a caminho das valas. Porém as fotos não passam dum momento de boa disposição, treinando, imaginando um ataque.
Mas a guerra tem muitas facetas sendo uma delas a Marinha que pela Guiné andava a desminar rios. E aconteceu enquanto lá estive. O rio Cumbijã que banhava aquela zona foi minado e tivemos sorte porque foi na altura da maré vazia que alguém deu por isso. Era por ele que as LDG’s ou LDM’s abasteciam, via marítima e fluvial, o aquartelamento. Assim vieram os peritos tratar do assunto.
Nesse mesmo rio fui uma vez com o sintex fazer uma caçada ao crocodilo pois disseram-me que esses hidrossáurios apareciam por ali. Apanhei um. Alguém da milícia prontificou-se para tirar a pele e prepará-la para um colega do Porto a levar para ser tratada e que depois ma enviaria de retorno. Até hoje. A carne de crocodilo acho que foi o preço de preparar a pele. A pele de crocodilo dava para fazer malas e sapatos, na altura, e que custavam muito dinheiro. Na altura o exército estava com falta de capitães e arranjou maneiras de cativar civis para esta tarefa.
Que era perigoso andar por ali, era, mas quando somos novos não medimos bem as consequências. A guerra apresentava-nos muitas surpresas e tudo podia ter acontecido. Apanhar material de guerra ao inimigo também aconteceu.
Os nossos obuses não eram rebuçados nenhuns e cada bujarda levava 45kg. E lembro-me uma vez que fui fazer um patrulhamento para uma zona de aldeamento onde andavam pessoas não controladas por nós, combinando com o artilheiro o lançamento destes rebuçados para pontificar a pontaria do obus. Sei que vi do lado de lá do rio pessoas a andarem de canoa e outras pessoas que ali viviam.
Por vezes o abastecimento dos alimentos nem sempre eram feitos por LDG’s e em alternância os aviões deixavam esse precioso bem cair de paraquedas.
Ir de férias era muito bom, nem que fosse o tal artigo do RDM que nos dava 5 dias. Sair do mato e no meu caso estar em Bissau era fugir do inferno e chegar ao paraíso. Chegava a Bissau completamente descontrolado, desnorteado mas sabia que estava melhor do que no mato. Já não me lembro como sabíamos que era num dia marcado mas o certo é que íamos de avioneta para Bissau. Sei que nos instalávamos no hotel e depois era passear por Bissau. Comprar uma bebida, normalmente cerveja, era o ritual normal e que vinha acompanhado sempre dum pratinho de camarão. Os serões eram passados no QG onde se jogava bingo e saíam bons prémios, como frigoríficos. Estes no mato trabalhavam a petróleo. Foi no QG que encontrei o Capitão Albergaria que conheci em casa do Marino Lemos. Muito isolado e retirado. Lembro-me de ter conversado com ele. Aqui em Bissau ouviam-se todas as histórias passadas em todos os aquartelamentos. O hospital era o centro de todas as notícias más que aconteciam no mato. Soube que muita tropa dos comandos morreram e muitos dos que tiraram a especialidade comigo em Lamego. Era tropa de intervenção juntamente com outra como fuzileiros, rangers, etc. Lembro-me vagamente de ter estado em casa dum militar cuja mulher estava em Bissau.
No mato o tempo era difícil de passar e para distrair um pouco íamos até à tabanca. Éramos rodeados de muito miúdos pois entrar em diálogo com a população não era fácil pois existia sempre uma desconfiança. Outra maneira de viver e estar ocupados por outro povo que não os deixava estar livres e a fazer a sua vida não era fácil.
Outra distracção era o futebol que nos abstraía de tudo o que era guerra. Fazíamos boas partidas deste desporto.
Dentro do quartel as mais diversas situações proporcionavam as mais diversas conversas cavaqueiras ora amenas ora tristes mas tínhamos um médico, o Bravo, com o qual passávamos horas de boa disposição pois ele tinha jeito para as anedotas ou histórias.
Outras vezes vestia-me à civil para fazer crer que não estava no mato.
Por vezes dava uma voltinha fora do arame farpado, também, para distrair.
O General Spínola visitava as suas tropas sem prévio aviso. Metia-se num helicóptero e foi o que nos aconteceu por altura do Natal.
Um certo dia tive uma surpresa. O meu colega Silva que me enviou para Bedanda veio fazer-me uma visita.
Em Bedanda passei por um mau momento em que o meu estado psicológico não foi dos melhores.
Publicado por Tibério Borges
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Nota do editor
Postes da série de:
8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14850: Tabanca Grande (469): Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726 (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72)
15 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14879: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (2): Passagem pelo BII 18 de Ponta Delgada, IAO no RI 11 de Setúbal e embarque em Lisboa no Ana Mafalda
23 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14921: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (3): De Bissau para Cacine
5 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14974: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (4): Cacine
15 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15006: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (5): Invasão a Conakry e, Entre Cacine e Cameconde
e
23 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15031: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (6): Gadamael Porto
domingo, 23 de agosto de 2015
Guiné 63/74 - P15031: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (6): Gadamael Porto
1. Parte VI de "3 anos nas Forças Armadas", série do nosso camarada Tibério Borges (ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72).
3 anos nas Forças Armadas (6)
Gadamael Porto
Gadamael Porto ficava mais no interior do rio Cacine e mais perto da fronteira, tendo a norte Guileje onde o corredor da morte era o espaço para a passagem de material de guerra dos turras. Eles dominavam a floresta desde a Guiné Konakry passando por Guileje, Bedanda e chegando a Catió depois de atravessarem o rio Cubijam. Toda a zona do Catanhez, a floresta que marginava os rios Cacine e Cumbijã, englobava Cabedú, a Sul, e Bedanda, a Norte.
Este território era fechado tendo apenas carreiros ao logo de toda a floresta e banhado por pântanos onde as sanguessugas se agarravam às nossas pernas sugando-nos o sangue. Para além dos quartéis ficavam as emboscadas, a morte assombrada de terror e as minas. Os quartéis ficavam sujeitos a bombardeamentos às mais diversas horas mas sobretudo ao anoitecer. Aqui em Gadamael fui apanhar uma Companhia no fim da comissão, e como tal tinha o terreno na sua mão, não tendo apanhado neste mês que ali estive acontecimentos de maior. Os bombardeamentos eram o prato do dia e como tal eram-nos muito comuns. Na maioria dos casos não chegavam aos nossos quartéis porque eles bem temiam os nossos obuses. Estes eram direccionados rapidamente para a direcção de onde vinham os clarões e varria-se aquela zona quer em longitude quer em latitude.
Fui parar a Gadamael por ordem do meu capitão que certamente recebeu ordens de Bissau. No caso de haver outra substituição noutro quartel que tivesse de ir alguém da nossa Companhia, certamente já não seria eu. Os nossos serões eram preenchidos com o jogo do bingo. Cada quartel tem o seu cariz próprio dependendo, evidentemente, das pessoas que o criam.
Certo dia alguém se lembrou de se vestir à muçulmano e foi logo à maneira da entidade religiosa. Mal sabíamos nós que ao irmos ter com ele, o mal estar iria fazer parte desse encontro. Por nossa parte nunca foi colocar nesta brincadeira qualquer intenção de crítica ou algo que pudesse nascer um mal entendido. Foi um espaço de tempo sem pensarmos nas consequências. O que é certo é que ele nos disse que apenas se vestiam daquela maneira eles, os dignitários religiosos.
Nota: no meu álbum estas fotos têm a data de 10Out1970
Gadamael não possuía obus 14 mas 10,5 - armas mais maneáveis e adequadas às circunstâncias ou por falta de capital para os obter. Possuía um jipão onde transportava uma metralhadora.
Nota: no meu álbum esta foto tem a data de 11Nov1970
Estando o capitão de férias, ficou a comandar as tropas o Alferes Silva. Neste espaço de tempo, Bissau, certamente, dá ordens a que se faça outra substituição, desta vez em Bedanda, dum alferes. Em Cacine era regulamentar estarem dois pelotões e os outros dois em Cameconde. Nesta situação não me lembro se estava ou num ou noutro lugar. O que sei é que o Silva veio ter comigo para eu ir preencher a falta dum alferes em Bedanda. Fui contra esta situação uma vez que já tinha sido incumbido de o fazer e como tal outro estaria na vez. Não sei o que o levou a vir ter comigo mas o que pensei foi que ele não teve coragem de indicar um dos outros dois, uma vez que ele próprio não poderia ser. Pensei que por os outros três serem continentais e eu açoriano ou eles ofereceram resistência a tal ponto que ele optou por me manejar. Apesar de recusar ele insistiu comigo. Fiquei revoltado com esta situação e não estava na disposição de a aceitar. Por outro lado sabia que uma desobediência traria algo de grave.
Como o material de guerra estava por minha conta planeei uma fuga a partir de Portugal para França. Nessa altura e antes de ir para Bedanda tinha as minhas férias planeadas para as passar nos Açores. No regresso de férias do Capitão e na minha ida para férias encontramo-nos em Bissau.
Na minha mala coloquei umas quantas granadas de mão pois falava-se que passar a fronteira de Portugal não era fácil. Contei ao capitão o que estava planeando.
Ele aconselhou-me primeiro ir a Bedanda ver o ambiente, falar com o capitão e tirar informações do que por lá se passava.
Não me lembro bem a sequência dos acontecimentos mas devo ter ido a Bedanda antes de ir de férias porque devolvi de regresso todas as granadas que levava ao Capitão.
A Companhia ali aquartelada era de nativos exceptuando a maioria dos graduados. Não gostei desta situação mas no cômputo geral mudei de ideias.
(Continua)
Texto e fotos: © Tibério Borges
____________
Nota do editor
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sábado, 15 de agosto de 2015
Guiné 63/74 - P15006: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (5): Invasão a Conakry e, Entre Cacine e Cameconde
1. Parte V de "3 anos nas Forças Armadas", série do nosso camarada Tibério Borges (ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72).
3 anos nas Forças Armadas (5)
Invasão à Guiné Konakry
Estava eu de férias em S. Miguel quando ao ler os jornais comecei a ver toda a literatura Salazarista. Histórias rocambolescas. Eu que estava despolitizado, achei ridículo. Eu que estava na Guiné e nada daquilo condizia com a realidade.
Ao regressar a Cacine estava o grupo de comandos africanos que tinha tomado parte na operação. Segundo diziam eles, esperava-se retaliação por parte de Konakry. O que é certo é que o tempo se foi passando e nada aconteceu. Segundo contaram, a operação foi nocturna, em barcos. Não destruíram os Migs, libertaram os militares prisioneiros portugueses mas deixaram lá um pelotão que fugiu para se aliar as tropas de Sekou, e não apanharam Amílcar Cabral. As informações que o General Spínola possuía saíram algumas incertas mas na generalidade foram bem sucedidos.
A Operação Mar Verde é uma acção singular entre todas as realizadas durante a guerra, nos três teatros de operações. Na clássica divisão dos manuais militares, que consideram três grandes grupos de operações - convencionais, especiais e irregulares -, ela pertence ao grupo das irregulares, e foi neste âmbito a de maior envergadura, complexidade e impacte internacional.
Foi realizada para obter efeitos políticos directos através da execução de um golpe de Estado em país estrangeiro, a Guiné-Conacri, por militares portugueses a actuarem com uniformes e equipamentos das forças desse país e em conjunto com elementos estrangeiros oposicionistas ao Governo, prevendo a eliminação de um chefe de Estado, Sekou Touré.
Como escreve o comandante da operação, o capitão-tenente da Marinha Portuguesa Alpoim Calvão, no seu livro "De Conacri ao MDLP", que constitui a base de informações que sobre ela se conhece, a proposta que fez ao Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné tinha por objectivo principal a execução de um golpe de Estado na Guiné-Conacri, sendo os objectivos secundários a captura do líder do PAIGC, Amílcar Cabral, e a libertação dos militares portugueses prisioneiros que se encontravam em Conacry.
A operação, que nunca foi assumida por Portugal, aproveitou a existência de oposicionistas ao regime de Sekou Touré, disponíveis para participarem numa acção deste género, e visou a instalação, em Conacri, de um regime mais favorável às posições portuguesas. Para atingir este fim, foram equacionadas duas alternativas, uma prevendo a instalação no território da Guiné-Bissau de bases a partir das quais esses oposicionistas pudessem realizar acções de guerrilha no seu país, e a outra considerando o lançamento de uma operação rápida e decisiva. A análise de vantagens e inconvenientes levou os autores da proposta a optar pela segunda alternativa.
Seguiu-se um período de preparação essencialmente de âmbito político e das informações estratégicas, que envolveu o Governo de Lisboa, o Governo da Guiné e os serviços de informações de vários países, com a participação decisiva da DGS.
Por fim, realizou-se a operação militar propriamente dita, com o planeamento, a reunião dos meios, o gizar da manobra e a execução.
Entre Cacine e Cameconde
O patrulhamento diário entre Cacine e Cameconde, passando pela Tabanca Nova, era uma tarefa diária de um dos dois pelotões sediados em Cacine. Esta tarefa abrangia todos os quatro pelotões ao dar-se a rotação mensal de Cacine para Cameconde. O maior perigo era transformar esta obrigação em rotina. Normalmente o perigo aparece durante a rotina e como tal era preciso estar sempre alerta.
O pelotão de milícias era o primeiro neste trajecto pois a picagem da rota estava à sua responsabilidade. Saíam da aldeia, onde moravam, mais cedo do que o pelotão de soldados que depois da formatura tomavam os seus lugares quer nos Unimogs ou Daimlers, quer na GMC que ia com lastro de sacos de areia, não fosse alguma mina rebentar.
A situação estratégica de Cacine era favorável a não acontecer algo de grave a não ser por flagelações e mesmo assim ficava fora do alcance das armas da altura. Aquela zona mais aberta no terreno estreitava para além da Tabanca nova, predominando uma floresta densa e intransponível. No meio duma floresta densa abria-se um círculo no qual residia o destacamento de Cameconde. Este era a defesa da retaguarda de Cacine que virada para o rio tinha como defesa natural as águas. Para entrar em Cacine pela retaguarda teria que se passar por Cameconde que numa hipótese de ataque a Cacine as hostes inimigas ficariam encurraladas. Esta deve ter sido a razão mais forte de Cacine nunca ter sido atacado.
Tabanca Nova ou Aldeia Nova
Entre Cacine e Cameconde existia um pequeno aldeamento que foi denominado Aldeia Nova em virtude da política do General Spínola albergar toda a população em novos modelos de tabancas. Estas eram feitas de blocos, palha misturada com barro ou terra, cobertas com chapas de zinco. Muitos nativos depois cobriram o zinco com a cobertura das suas tão naturais palhotas pois o calor em chapa de zinco dava para esturrar.
Nesta localidade fazíamos sempre uma breve paragem. Aconteceu numa dessas paragens que o soldado que ia na GMC tendo por responsabilidade a metralhadora Browning disparou uma rajada que por sorte não apanhou ninguém.
Cameconde
Cameconde era o último reduto do Sul da Guiné. Para além de Cameconde ficavam uns trilhos que iam dar a terras fora do nosso controlo (Cacoca ou Quitafine). Este destacamento já ficava ao alcance dos morteiros dos turras e como tal ao anoitecer chegava a hora “sexual”. Banho tomado, ouvido à escuta e todos os dias era esta tensão do ser ou não atacado à morteirada. Este destacamento possuía bons abrigos, feitos de betão ou cimento armado, uma boa camada de areia por cima e com troncos de árvores o que de certa forma dava para proteger de granadas que viessem a cair em cima.
Este destacamento ficava no meio do mato numa clareira aberta mesmo para implantar tropas neste ponto estratégico. Num ângulo do trilho que vinha da aldeia nova e que se desviava para o interior, Cameconde era uma autêntica prisão no meio da floresta. A guerra morava nesta zona.
Os patrulhamentos faziam-se no trilho que dava para além de Cameconde. Tudo era verde, um verde bonito, com as mais diversas aves a chilrear, bonitas, com os bandos de macacos que repentinamente nos assustavam e que ao longe pareciam cães a ladrar.
No início todos os ruídos eram estranhos mas aos poucos fomo-nos habituando ao mundo que nos rodeava. Lembro-me uma vez que ao ver um bando de macacos empoleirados nas árvores atirei um tiro acertando na mão dum deles. Toda a gente se atirou para o chão. E como gostava de desvendar fomos sempre em frente até uma zona em que ouvimos gente a falar. Segundo o comandante das milícias era uma aldeia que ficava ali.
Acordando depois de uma noite protegido com o mosquiteiro e a ventoinha ao fundo da cama e por dentro do mosquiteiro, tal era o calor. Muitas vezes acordava repentinamente com a ventoinha a bater-me nos pés. Outras vezes acordava com os pés fora do mosquiteiro e cheios de mosquitos. Sei que tomava os meus comprimidos e nunca apanhei doenças tropicais.
O corte do cabelo era obrigatório e para isso havia barbeiro na companhia. Cercados, sem nada para fazer, as brincadeiras faziam parte do dia a dia. Imitar o barbeiro era uma delas.
Como nem sempre a cerveja sabia bem, dependia do momento, antes de sair para um patrulhamento colocava no congelador do frigorífico, que trabalhava a petróleo, umas três latas de leite, vindos da Holanda.
Em Cameconde havia a artilharia pesada, o obus 14, um meio essencial na nossa defesa e que segundo informações que tínhamos metia muito respeito ao outro lado da barricada. Atingia uma distância muito boa e para bater zonas mais perto dispúnhamos do morteiro 80 e 60, cujas granadas varriam a zona periférica do destacamento. Para colocar a granada no obus 14 eram normalmente dois homens que o faziam. Era um rebuçado com 45 kg. Estas armas de artilharia estavam protegidas com bidões cheios de terra ou areia.
Na nossa companhia os diversos sectores, artilharia, Daimler e companhia que englobava comunicações, mecânica e pelotões, eram independentes na rendição. Evidentemente todos sob o comando do capitão.
Como tinha a especialidade de minas e armadilhas, o paiol estava por minha conta. A requisição de munições era feita na medida das necessidades, com antecedência. Ao chegar a Cacine havia muitas munições fora de prazo e já com ferrugem pelo que adquiri novo material. Com o material velho comecei a minar Cameconde, um nada dentro da floresta.
E chegou a nossa vez de sermos rendidos.
(Continua)
Texto e fotos: © Tibério Borges
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Nota do editor
Poste anterior da série de 5 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14974: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (4): Cacine
3 anos nas Forças Armadas (5)
Invasão à Guiné Konakry
Estava eu de férias em S. Miguel quando ao ler os jornais comecei a ver toda a literatura Salazarista. Histórias rocambolescas. Eu que estava despolitizado, achei ridículo. Eu que estava na Guiné e nada daquilo condizia com a realidade.
Ao regressar a Cacine estava o grupo de comandos africanos que tinha tomado parte na operação. Segundo diziam eles, esperava-se retaliação por parte de Konakry. O que é certo é que o tempo se foi passando e nada aconteceu. Segundo contaram, a operação foi nocturna, em barcos. Não destruíram os Migs, libertaram os militares prisioneiros portugueses mas deixaram lá um pelotão que fugiu para se aliar as tropas de Sekou, e não apanharam Amílcar Cabral. As informações que o General Spínola possuía saíram algumas incertas mas na generalidade foram bem sucedidos.
A Operação Mar Verde é uma acção singular entre todas as realizadas durante a guerra, nos três teatros de operações. Na clássica divisão dos manuais militares, que consideram três grandes grupos de operações - convencionais, especiais e irregulares -, ela pertence ao grupo das irregulares, e foi neste âmbito a de maior envergadura, complexidade e impacte internacional.
Foi realizada para obter efeitos políticos directos através da execução de um golpe de Estado em país estrangeiro, a Guiné-Conacri, por militares portugueses a actuarem com uniformes e equipamentos das forças desse país e em conjunto com elementos estrangeiros oposicionistas ao Governo, prevendo a eliminação de um chefe de Estado, Sekou Touré.
Como escreve o comandante da operação, o capitão-tenente da Marinha Portuguesa Alpoim Calvão, no seu livro "De Conacri ao MDLP", que constitui a base de informações que sobre ela se conhece, a proposta que fez ao Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné tinha por objectivo principal a execução de um golpe de Estado na Guiné-Conacri, sendo os objectivos secundários a captura do líder do PAIGC, Amílcar Cabral, e a libertação dos militares portugueses prisioneiros que se encontravam em Conacry.
A operação, que nunca foi assumida por Portugal, aproveitou a existência de oposicionistas ao regime de Sekou Touré, disponíveis para participarem numa acção deste género, e visou a instalação, em Conacri, de um regime mais favorável às posições portuguesas. Para atingir este fim, foram equacionadas duas alternativas, uma prevendo a instalação no território da Guiné-Bissau de bases a partir das quais esses oposicionistas pudessem realizar acções de guerrilha no seu país, e a outra considerando o lançamento de uma operação rápida e decisiva. A análise de vantagens e inconvenientes levou os autores da proposta a optar pela segunda alternativa.
Seguiu-se um período de preparação essencialmente de âmbito político e das informações estratégicas, que envolveu o Governo de Lisboa, o Governo da Guiné e os serviços de informações de vários países, com a participação decisiva da DGS.
Por fim, realizou-se a operação militar propriamente dita, com o planeamento, a reunião dos meios, o gizar da manobra e a execução.
Este Comando às refeições comia um peixe grande inteiro e uma terrina de arroz.
Entre Cacine e Cameconde
O patrulhamento diário entre Cacine e Cameconde, passando pela Tabanca Nova, era uma tarefa diária de um dos dois pelotões sediados em Cacine. Esta tarefa abrangia todos os quatro pelotões ao dar-se a rotação mensal de Cacine para Cameconde. O maior perigo era transformar esta obrigação em rotina. Normalmente o perigo aparece durante a rotina e como tal era preciso estar sempre alerta.
O pelotão de milícias era o primeiro neste trajecto pois a picagem da rota estava à sua responsabilidade. Saíam da aldeia, onde moravam, mais cedo do que o pelotão de soldados que depois da formatura tomavam os seus lugares quer nos Unimogs ou Daimlers, quer na GMC que ia com lastro de sacos de areia, não fosse alguma mina rebentar.
A situação estratégica de Cacine era favorável a não acontecer algo de grave a não ser por flagelações e mesmo assim ficava fora do alcance das armas da altura. Aquela zona mais aberta no terreno estreitava para além da Tabanca nova, predominando uma floresta densa e intransponível. No meio duma floresta densa abria-se um círculo no qual residia o destacamento de Cameconde. Este era a defesa da retaguarda de Cacine que virada para o rio tinha como defesa natural as águas. Para entrar em Cacine pela retaguarda teria que se passar por Cameconde que numa hipótese de ataque a Cacine as hostes inimigas ficariam encurraladas. Esta deve ter sido a razão mais forte de Cacine nunca ter sido atacado.
Tabanca Nova ou Aldeia Nova
Entre Cacine e Cameconde existia um pequeno aldeamento que foi denominado Aldeia Nova em virtude da política do General Spínola albergar toda a população em novos modelos de tabancas. Estas eram feitas de blocos, palha misturada com barro ou terra, cobertas com chapas de zinco. Muitos nativos depois cobriram o zinco com a cobertura das suas tão naturais palhotas pois o calor em chapa de zinco dava para esturrar.
Nesta localidade fazíamos sempre uma breve paragem. Aconteceu numa dessas paragens que o soldado que ia na GMC tendo por responsabilidade a metralhadora Browning disparou uma rajada que por sorte não apanhou ninguém.
Cameconde
Cameconde era o último reduto do Sul da Guiné. Para além de Cameconde ficavam uns trilhos que iam dar a terras fora do nosso controlo (Cacoca ou Quitafine). Este destacamento já ficava ao alcance dos morteiros dos turras e como tal ao anoitecer chegava a hora “sexual”. Banho tomado, ouvido à escuta e todos os dias era esta tensão do ser ou não atacado à morteirada. Este destacamento possuía bons abrigos, feitos de betão ou cimento armado, uma boa camada de areia por cima e com troncos de árvores o que de certa forma dava para proteger de granadas que viessem a cair em cima.
Este destacamento ficava no meio do mato numa clareira aberta mesmo para implantar tropas neste ponto estratégico. Num ângulo do trilho que vinha da aldeia nova e que se desviava para o interior, Cameconde era uma autêntica prisão no meio da floresta. A guerra morava nesta zona.
Os patrulhamentos faziam-se no trilho que dava para além de Cameconde. Tudo era verde, um verde bonito, com as mais diversas aves a chilrear, bonitas, com os bandos de macacos que repentinamente nos assustavam e que ao longe pareciam cães a ladrar.
No início todos os ruídos eram estranhos mas aos poucos fomo-nos habituando ao mundo que nos rodeava. Lembro-me uma vez que ao ver um bando de macacos empoleirados nas árvores atirei um tiro acertando na mão dum deles. Toda a gente se atirou para o chão. E como gostava de desvendar fomos sempre em frente até uma zona em que ouvimos gente a falar. Segundo o comandante das milícias era uma aldeia que ficava ali.
Acordando depois de uma noite protegido com o mosquiteiro e a ventoinha ao fundo da cama e por dentro do mosquiteiro, tal era o calor. Muitas vezes acordava repentinamente com a ventoinha a bater-me nos pés. Outras vezes acordava com os pés fora do mosquiteiro e cheios de mosquitos. Sei que tomava os meus comprimidos e nunca apanhei doenças tropicais.
O corte do cabelo era obrigatório e para isso havia barbeiro na companhia. Cercados, sem nada para fazer, as brincadeiras faziam parte do dia a dia. Imitar o barbeiro era uma delas.
Como nem sempre a cerveja sabia bem, dependia do momento, antes de sair para um patrulhamento colocava no congelador do frigorífico, que trabalhava a petróleo, umas três latas de leite, vindos da Holanda.
Em Cameconde havia a artilharia pesada, o obus 14, um meio essencial na nossa defesa e que segundo informações que tínhamos metia muito respeito ao outro lado da barricada. Atingia uma distância muito boa e para bater zonas mais perto dispúnhamos do morteiro 80 e 60, cujas granadas varriam a zona periférica do destacamento. Para colocar a granada no obus 14 eram normalmente dois homens que o faziam. Era um rebuçado com 45 kg. Estas armas de artilharia estavam protegidas com bidões cheios de terra ou areia.
Na nossa companhia os diversos sectores, artilharia, Daimler e companhia que englobava comunicações, mecânica e pelotões, eram independentes na rendição. Evidentemente todos sob o comando do capitão.
Como tinha a especialidade de minas e armadilhas, o paiol estava por minha conta. A requisição de munições era feita na medida das necessidades, com antecedência. Ao chegar a Cacine havia muitas munições fora de prazo e já com ferrugem pelo que adquiri novo material. Com o material velho comecei a minar Cameconde, um nada dentro da floresta.
E chegou a nossa vez de sermos rendidos.
(Continua)
Texto e fotos: © Tibério Borges
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Nota do editor
Poste anterior da série de 5 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14974: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (4): Cacine
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